January 21, 2005

Coração, o canteiro de obras

Date: Fri, 21 Jan 2005

Chérie!

Quanto tempo! Quantas saudades! Tudo bem com vc?

Eu estou correndo feito uma louca, aproveitando os últimos dias das minhas férias (noturnas) para colocar a leitura em dia porque depois já viu, né (rs)?!

No começo desta semana aconteceu uma coisa super-esquisita, não estava conseguindo orar, ficava com sono e dormia (que papelão)! Parecia que tinha uma barreira invisível me impedindo de chegar ao Pai. Por causa disto estava bem ansiosa, inquieta, me sentindo ameaçada aí comecei a pedir para Jesus ficar comigo, para Ele sentar do meu ladinho e me ajudar (Isaías 41: 13). Na quarta não agüentei, orei, clamei, chorei, li a Palavra e foi muito bom. A primeira coisa que veio foi Efésios 6: 10 a 20 - a gente é fortalecido no poder de Deus quando estamos coladinhas no Pai! Outra coisa linda foi descobrir em 2 Coríntios 5 que Deus ama tanto, mas ama tanto que deu o Seu único filho para morrer pela gente. E este amor nos constrange (eu pelo menos tenho me sentido assim, incomodada, em dívida para com Ele). Vc sabia que Jesus em nós transforma a gente em nova criatura? O que passou passou, Deus não quer saber de passado, Ele se volta para o presente e o futuro que Ele nos põe à frente, uma nova chance de fazer tudo diferente. E convida a gente a fazer parte de uma embaixada, um ministério. Esta embaixada se chama Ministério da Reconciliação: devemos levar amor aos outros lembrando que o Amor que é o próprio Pai (1 João). E olha que lindo, o amor de Deus é tão grande que não tem altura, nem largura, nem extensão, nem profundidade de tão infinito que é (Romanos 8)!!!

Ah, acabei de ler o Coração Ardente (benção pura), lá fala sobre o fogo purificar o nosso coração. Devemos buscar o Pai ardentemente, a nossa vida precisa estar firmada na nossa identidade e relacionamento com Ele. A coisa mais tocante foi a parte que falou sobre o processo de refinação do ouro. O ouro puro é transparente e maleável (= quando o nosso coração fica submisso à vontade do Pai) e no processo de purificação, com a altíssima temperatura (os testes e desafios que Deus põe à nossa frente), o ouro desce para o fundo enquanto que as impurezas sobem à superfície. É o Pai quem deve conduzir este processo de purificação da nossa vida em direção à santidade (por nós não temos capacidade). Outra coisa que mexeu demais comigo foi sobre a profecia de Apocalipse (cartas às igrejas). A de Laodicéia foi a que mais me incomodou (sempre tinha achado que a de Sardes era para mim) porque fala do orgulho; muitas vezes a gente acha que está vestido quando na verdade está nu. O pr. Ricardo Agreste fala que a gente só tem a real dimensão da graça e do amor de Deus quando a gente se vê como a gente é de verdade e não como a gente acha que é. O amor de Jesus Cristo na cruz só faz sentido quando a gente percebe o quanto precisa dEle. E a carta de Laodicéia é bem isto; da gente ver a real situação em que está para pedir que o Senhor Jesus tenha misericórdia da gente, nos purifique e nos dê uma nova chance (de sermos nova criatura porque as coisas antigas se passaram, eis que tudo se fez novo).

Engraçado que o processo começa dentro da gente. Normalmente a gente só presta atenção nos pecados aparentes, mas em minha opinião, os pecados ocultos são os piores porque a gente nem se dá conta que tem (orgulho, sede de poder, inveja, mentira). Uma coisa muito linda que descobri é que não é a gente que tem o poder, mas é Deus que dentro de nós nos capacita e nos ajuda. Um livro que está me ajudando demais a entender isto é o clássico A Cruz, de Wachtman Nee; lá ele explica que o sangue de Jesus nos lava de todo pecado, mas o velho homem precisa morrer na cruz e esta decisão sim cabe a nós (porque Deus nos ama tanto que nos deixa livres para escolher). Quando Jesus foi crucificado, demorou horas para ele morrer. Ele poderia ter descido da cruz e o mesmo acontece com a gente. A gente tem de deixar a velha natureza morrer na cruz e isto leva tempo. Quantas vezes a gente não desce da cruz e o velho homem ´ressuscita´? É preciso todo dia se humilhar perante o Pai, se submeter a Ele e pedir a Sua ajuda (eu pelo menos tenho feito isto, mas nem sempre consigo superar). O processo de santidade é fazer isto a vida inteira (vigiai e orai para que não entreis em tentação; a carne é fraca...) porque o pecado começa no coração (o livro Coração Ardente explica bem isto; às vezes a gente não consegue se desvencilhar do pecado porque no fundo a gente não quer abrir mão, é como se fosse um pecado de estimação) rs!

Às vezes me pego dando meia-volta, esquecendo o perdão que já concedi a algumas pessoas; descubro mágoas, rancores escondidos... e percebo que isto faz mais mal para mim do que para estas pessoas. Que Deus me ajude neste processo que só termina quando Ele voltar (por mim percebi que não tem jeito, não tenho condições de fazer sozinha sem ajuda dEle). Tenho uma natureza que não perdoa por isto todo dia é uma batalha, sempre é muito dolorido e difícil. Eu sei que preciso me desfazer de algumas coisas; já dei uma limpa na papelada do escritório, no meu guarda-roupa, mas tb tenho uns sentimentos ruins, muitas vezes eu entrego algumas coisas para Deus e depois pego de volta. Resumo: a plaquinha "em obras" é permanente (rs)!!! Uma coisa linda que aprendi sobre o perdão é que ele começa no nosso coração. Porque às vezes a gente mesma não se perdoa e se cobra demais, por isto não consegue estender perdão aos outros. Mas Deus não faz isto com a gente, muito pelo contrário (ainda bem); Ele é um Deus que está preocupado com o que a gente pensa, Ele nos escuta e nos acolhe (= o Filho Pródigo). E tb nos convida a sermos como Ele, a crescermos em graça, sabedoria e misericórdia e ficarmos parecidos como Ele, Pai de Amor. Só que, para isto acontecer, primeiro a gente precisa sentir o Seu grande amor por nós. Muitas vezes a gente diminui a grandeza deste amor e fala: - morreu na cruz por mim? Por quê? Eu não matei ninguém, não roubo, não adultero, dou o dízimo... Quando a gente percebe a nossa real situação, a gente sente vontade de chorar porque percebe que somos tão miseráveis e mendigos. A gente não é melhor que ninguém. E foi por nossas faltas, por nosso orgulho besta, por nossas picuinhas que Jesus morreu naquela cruz e sofreu os açoites que sofreu (vc viu o filme Paixão de Cristo?). Quando a gente sente tudo isto, o amor de Deus nos constrange. Ou seja, é um processo de dentro para fora. Deus nunca pede holocaustos, sacrifícios. O que Ele sempre nos pede é um coração contrito, humilde, obediente. Não é muito lindo?

Lá na PIBJI descobri a diferença entre submissão x aquiescência. Submissão é uma postura bíblica, é a gente entrar na retaguarda de uma missão que confia e serve com alegria. Aquiescência é vc doar por sentimento de culpa, medo ou por obrigação (e isto Deus nunca pediu da gente).

Acho que o exercício da vida (e o grande segredo) é a gente se deixar inundar pelo amor do Pai. Dias atrás ouvi uma mensagem linda que até chorei. Dizia que muita gente quer ser canal de Deus, mas o anseio deveria ser represa de amor... Porque um canal tem período de seca, mas uma represa transborda. A gente precisa ter este amor dentro da gente inundando a própria vida para então transbordar para os outros, olha que lindo!

Engraçado que quando Deus quer falar com a gente, não tem jeito: Ele fala mesmo (rs)! Está tudo casando: o livro que li sobre Graça do pr. Shedd, a mensagem do pr. Ricardo Agreste e agora o livro Coração Ardente.

Ah, no final acabei lendo aquele livro que não queria ler (que lôca), o Alma Sobrevivente. Uma coisa que me incomodou pacas é que em todos os 13 exemplos citados pelo autor, ele dá uma "cotovelada no estômago do outro". Em minha opinião, esta postura mostra o quanto o autor deve ter sido machucado pela vida. Imagino que um monte de gente deve ter se identificado coisa-e-tal, mas para mim particularmente não caiu legal porque vai contra os meus valores pessoais. Primeiro, porque estou aprendendo que os outros erram porque são humanos (ninguém é melhor que ninguém; não é porque pisaram na bola contigo que isto te dá o direito de ser revoltado e pisar na bola dos outros). Às vezes as pessoas falam e fazem barbaridades porque foram criadas desta forma; cada um sabe da sua própria história, por isto não temos direito de julgar ninguém porque não passamos pelo que os outros passaram. E a realidade é que a gente não pode mudar o passado, não pode querer tomar o lugar que é de Deus (entender tudo). Na verdade a gente não sabe de nada e, claro que não somos responsáveis pelo que os outros fizeram. Mas somos responsáveis pelo que vamos fazer daqui para frente, ou seja, está na nossa mão decidir qual postura iremos tomar. Como diria Shakespeare, um problema nunca é o problema, mas sim como o problema será resolvido.

Outra coisa muito linda que me veio à mente foi sobre as 3 peneiras; tudo o que a gente fala deveria passar por elas:

- Verdade: vc tem certeza de que isto de fato aconteceu?
- Necessário: é importante vc contar isto?
- Misericórdia: vc gostaria que contassem isto de vc?

O autor por ser jornalista deve ter feito uma excelente pesquisa para o livro, ou seja, tudo que disse deve ser verdade. Mas, será que era necessário levantar os defeitos das pessoas? O que ele escreveu edificou os leitores? Ele gostaria que fizessem isto com ele? Sei lá... é a minha opinião. Mas deixa prá lá.

Eu amo biografias, acho que não gostei deste livro porque tinha acabado de ler outro maravilhoso que me surpreendeu demais (não sei se vc leu o “Heróis da Vida Cristã, benção pura, recomendo) e criei uma expectativa de ser surpreendida novamente. Fala de pessoas que eu conhecia apenas de citações, mas não fazia idéia de quem eram (muitas das citações estão no livro Mananciais do Deserto) como Madame Guyon, Moody, Oswald Chambers e outros. Fiquei tocada com as perseguições que sofreram, açoites físicos e psicológicos, e mesmo assim eles perseveraram. O que mais me tocou foi descobrir que talvez não seja o sofrimento que nos separe de Deus - muito pelo contrário, é nesta hora que vemos o quanto somos pequenos e dependemos do Pai - mas sim a prosperidade. Porque quando as coisas estão bem, a gente tende a ser auto-suficiente, acha que dá conta do recado e esquece de que quem dá todas as coisas é Deus.

Estes dias estava falando com uma pessoa sobre a diferença entre os cristãos x não-cristãos e lembrei daquela passagem em Números que fala sobre uma jumenta que conversa com Balaão (lembrou?). Então, a gente acha que Deus só vai falar com a gente de uma maneira tremenda porque a gente quer grandes milagres, quer viver uma vida extraordinária (olha que engraçado, sem querer, este e-mail está enveredando sobre as 3 tentações de Cristo: primeiro falei sobre auto-suficiência e agora estou falando sobre vida extraordinária), mas Deus fala com a gente de maneira ordinária, ou seja, no nosso dia-a-dia. Racione comigo, se Ele usou até uma jumentinha, por que não pode usar os não-cristãos para falar com a gente? É preciso sermos humildes o suficiente para ouvirmos e vermos Deus agindo (para isto temos de pedir discernimento do Pai porque assim como falou com Elias em 1 Reis 19, Ele não aparece num trovão ou num terremoto, mas numa brisa tão doce e suave que se a gente estiver correndo de um lado para outro, corre o risco de não ouvi-Lo).

A gente não deve se medir pela vida dos outros (Deus não gosta que a gente se compare com os outros), mas ver aquilo que Ele pede diretamente a vc. Ele nunca vai pedir coisas que a gente não pode dar. E antes de sair por aí (falou a “ativista-de-plantão” aqui), Ele quer primeiro ministrar em vc. Deixe Ele entrar no teu coração e restaurar a tua alma que, buscando o Seu Reino e a Sua justiça, TODAS as outras coisas serão acrescentadas, é promessa (Mateus 6: 33)! E o mais importante: nunca se esqueça de que somos apenas vaso - o tesouro está dentro de nós - é Jesus e é Ele quem faz toda a diferença (2 Coríntios 4: 7), viu?

Outra coisa que aprendi recentemente (e que antes não entendia) era sobre a diferença entre caráter x dons (vá lá: http://ichtus.com.br/publix/ichtus/vida/carater.html). O inimigo é o pai da mentira (distorção), a gente fica meio que com os olhos fechados e os ouvidos surdos e não consegue discernir direito a natureza das coisas. Muitas vezes vemos cristãos sendo cruéis e não-cristãos sendo benção. Mas como diria o pr. Vandeir, a gente precisa avaliar o caráter. E o que é caráter? É ser coerente com aquilo que vc diz, com o que vc faz e o mais importante, com o que vc pensa. A gente só consegue avaliar o que as pessoas falam e fazem, mas Deus vê o coração e conhece as intenções. E é em cima de tudo isto que Ele avalia cada um. Uma coisa importante é saber que não é porque a pessoa não-cristã tem mais caráter que uma cristã, que ela se torna filha de Deus. A salvação vem por crer em Jesus Cristo (gratuito), não por obras (tudo o que a gente fizer nunca vai ser suficiente para pagar o amor de Cristo demonstrado na cruz). Podemos - e devemos - fazer diferença mas é a nossa submissão ao Pai que Ele em nós faz a diferença (leia João 15). Muitos não-cristãos podem impactar o mundo, mas Jesus quer impactar a vida deles primeiro! Olha, recomendo muito a leitura do livro "Lei, Graça e Santidade" do pr. Shedd que fala sobre isto (é benção pura tb)!!!

Noooossa, quanta coisa! Obrigada por me ouvir tanto!

Espero que o Senhor Jesus continue concedendo a vc cada vez mais graça e sabedoria perante Deus e os homens. Para mim a sua vida tem feito diferença! Muito obrigada por me dar carona nas tuas bênçãos!

Beijão e bom finde!

KT