January 14, 2008

O desenvolvimento da espiritualidade

O DESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE
A espiritualidade cristã é processual. Como na primeira infância, que o objetivo de nossa busca é nossa própria satisfação, tudo desejamos, tudo pensamos ser extensão de nós mesmos e em tudo colocamos nossa alegria de vida. Assim buscamos a Deus como uma ponte para a realização de nossos desejos na terra. Antes, isso era apenas uma percepção velada, hoje é confissão teológica assumida.

Chega um tempo em que vivemos a adolescência da espiritualidade, que é quando lidamos com as frustrações causadas pela excessiva atenção aos nossos próprios desejos. Descobrimos então que não é bem assim como acreditamos e como nos ensinaram, que Deus não faz tudo o que pedimos, mas faz aquilo que é necessário e importante pra nós. Também descobrimos que podemos amá-lo a despeito das circunstâncias. É o “ainda que” de Habacuque. Nossa espiritualidade deu um salto.

Até que nos tornamos amadurecidos e nossa espiritualidade passa a se dedicar de modo abnegado a Deus. Amadurecer, neste caso, não é tornar-se autônomo, como alguém que sabe tudo e de ninguém precisa. Na verdade a maturidade da espiritualidade é justamente saber-se dependente de Deus em tudo, como uma criança, sem, no entanto, pensar como uma criança que tudo quer para si, do seu modo, a seu tempo, para quem tudo e todos servem aos seus propósitos pessoais. Nossa espiritualidade então passa a se desenvolver a partir da ajuda aos outros, do serviço, da entrega, da disponibilidade. Damos do que temos, do que somos, a quem precisa.

A vida então passa a ter significado, tudo em nós e a partir de nós cumpre sua finalidade. Nossos romances, nosso dinheiro, nossa profissão, nosso trabalho, nossas expressões vocacionais, enfim, tudo passa a ser com a finalidade de servir, a Deus e às pessoas.

Um dia dizemos “quando Deus me der”, outro dia dizemos “ainda que não aconteça” até chegarmos a dizer “tudo em mim é seu”.


© 2008 Alexandre Robles

Fonte: http://www.alexandrerobles.com.br/

January 03, 2008

Feliz 2008!

FELIZ ANO NOVO
Feliz Ano Novo

Os gregos usavam pelo menos três palavras para designar tempo: aion, kairós e kronos. Aion indicava o tempo de longo prazo, na verdade, de longuíssimo prazo, que o apóstolo usa quando diz que Jesus é Senhor não apenas neste século, ou era, isto é, aion, como também no vindouro. Kairós indicava um bloco de tempo, uma ocasião adequada ou uma oportunidade: o tempo das “águas de março que fecham o verão”, a estação da sua fruta predileta, o período da adolescência ou a hora certa de pedir a moça em casamento. Kronos é o tempo medido pelo relógio: segundos, minutos e horas.

Enquanto atravessamos o palco da história, somos convocados a responder a cada uma destas dimensões do tempo. O aion reclama nossa entrega e rendição, a admissão de nossa finitude. Diante do aion, a duração de nossas vidas é comparada a um vapor, a uma pequenina flor que pela manhã floresce e ao final da tarde voa no vento. O aion exige humildade: agradecer a Deus a oportunidade de entrar na existência e encarar a aventura de viver um privilégio, como gota que se alegra em participar do mar.

O kairós exige atenção e prontidão, pois tal é a oportunidade como um cometa que passa em velocidade atroz: quem piscou, perdeu o espetáculo. Não há espaço para protelação, procrastinação e displicência. O kairós exige sabedoria. O apóstolo Paulo recomenda remir o tempo, isto é, aproveitar a oportunidade para que não se ouça “não adianta mais, agora é tarde, passou o tempo, deixamos escapar o kairós”.

Kronos é o mais cruel. Na mitologia grega, incitado pela mãe Gaia (a terra), castrou o pai Urano (o céu) e se tornou o primeiro rei dos deuses. Seu reinado foi de prosperidade, mas viveu ameaçado pela profecia de que seria vencido por um dos seus filhos. Para que não se cumprisse este vaticínio, devorava os filhos assim que nasciam. Até que Zeus foi salvo pela mãe Réia e, tendo destronado o pai, o expulsou do Olimpo e libertou todos os irmãos. Talvez por isso Kronos seja visto como o tempo devorador, cruel, que corre sem parar nos empurrando para perto e cada vez mais perto da morte. Kronos é tempo com medida, e cada pessoa terá a sua, no mistério da economia divina. O que não é inesgotável reclama cuidado, recursos finitos implicam boa administração. Cada um tem sua fatia de segundos, minutos e horas, e ninguém sabe ao certo sua porção, ninguém é capaz de saber quando será seu último dia, viverá seu último segundo, consumirá seu último fôlego. E como advertiu Jesus, ninguém pode acrescentar um passo sequer ao seu limite de existência. Mas pode abreviar. Kronos exige responsabilidade. O poeta bíblico recomenda a oração: pedir a Deus que ensine a contar os dias, isto é, ensine a viver, concedendo coração sábio para o bom uso da medida de kairós: usar bem, não desperdiçar, desfrutar.

O ano de 2007 se foi. “O tempo voa”, dizemos, “como passou rápido esse ano, já é Natal”. Gratidão, sabedoria e responsabilidade, eis os desafios para o aproveitamento do tempo. À sombra da eternidade, caminhamos gratos pelo privilégio de existir e viver. Na dança das oportunidades, caminhamos com sabedoria para colher cada fruto em sua estação própria. Enquanto corre o tempo, vivemos. Enquanto nos empurra para o fim de nossa medida, vivemos. Vencemos a morte vivendo. É melhor morrer vivendo que viver morrendo.

Que 2008 seja tempo de Deus. Tempo com Deus. Tempo para Deus. E vida para todos nós. Amém!

© 2007 Ed René Kivitz