July 28, 2014

Vivendo o que fala

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- Robert Tamasy

Trabalhar com uma pessoa que tem a desconcertante tendência de instruí-lo a fazer algo de uma maneira e em seguida agir de maneira totalmente contrária é frustrante. Faz lembrar o ditado: “Faça o que eu digo e não o que eu faço”. Isto se aplica a práticas profissionais, hábitos pessoais e até mesmo valores. Quando alguém diz uma coisa e faz o oposto, algo se perde na interpretação. Seria bom se fôssemos capazes de dizer: “Faça o que eu digo, assim como eu faço o que eu digo”.  

No livro “Lições de Liderança de Jesus”, Bob Briner e Ray Pritchard afirmam: “Lideres são sempre professores... Você precisa ensinar com autoridade. Você precisa estar preparado. Você precisa conhecer aquilo sobre o que está falando.”  E acrescentam: “As palavras de um líder, vitalmente importantes como são, somente se propagarão e impactarão as pessoas se verdadeiramente representarem a realidade da sua vida. Lideranças eficientes e duradouras exigem tanto prescrição quanto exemplo”.

A intersecção entre ensinamento e ação foi objeto do poema “Prefiro Ver um Sermão”, de Edgar Guest:

Prefiro ver um sermão a ouvir um algum dia.
Prefiro que alguém caminhe comigo e não meramente me mostre o caminho.
Os olhos são um aluno melhor e mais disposto que o ouvido,
O conselho excelente confunde, mas o exemplo é sempre claro.
E o sermão que você faz pode ser muito sábio e verdadeiro,
Mas prefiro aprender a lição observando o que você faz.
Porque posso compreendê-lo mal no aviso elevado que você dá,
Mas não há como compreender mal a forma como você age e como vive.
E todos os viajantes podem testemunhar que o melhor dos guias hoje,
Não é o que fala, mas aquele que mostra o caminho.

Alinhar crença com ação é tema recorrente na Bíblia, o maior livro já compilado para o mundo empresarial e profissional. Vejamos algumas passagens:  

Vivendo o que cremos. Expressar elevados princípios e valores e não vivê-los é hipocrisia. “De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras?... Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: ‘Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se’, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso?  Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta” (Tiago 2.14-17).  

Aplicando os princípios. Não apenas ensinamos e demonstramos, mas também esperamos que aqueles que nos seguem como líderes ponham em prática o que aprendem. “Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim...” (Filipenses 4.9).  

Passando adiante verdades e valores. Devemos não apenas dar suporte ao que dizemos com nossas ações, mas também passá-las adiante para que outros as apliquem em suas vidas. “E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros”  (II Timóteo 2.2).


Questões Para Reflexão ou Discussão
  1. Você já trabalhou com alguém que parecia personificar a atitude “Faça o que eu digo e não o que eu faço? Como foi sua experiência com isso?
  2. Com você foi afetado ao trabalhar para ou com alguém que realmente vivia os princípios e valores que defendia? Isso o motivava de forma positiva?
  3. Que achou do poema de Edgar Guest?
  4. Qual dos princípios citados da Bíblia falou mais profundamente a você?  
Desejando considerar outras passagens da Bíblia relacionadas ao tema, sugerimos: Provérbios 18.24; 20.14; 20.25; 25.13,19; 28.2; Mateus 5.17-20,33-37; Tiago 4.17; 5.12.

July 17, 2014

Para viver um grande amor

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Quem  não quer viver um grande amor?

Eu sei... mas poucos estão dispostos a enfrentar uma avalanche de sacrifícios, não é?

Contornar desencontros, regar desentendimentos com lágrimas, fortalecer a paciência e se entregar de corpo e alma.

Pergunta que não quer calar: - você sabe identificar um grande amor?

Vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=LiFkipyBxQc

E viver um grande amor?

Dica duca: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marilizpereirajorge/2014/07/1487197-para-viver-um-grande-amor.shtml
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July 14, 2014

Novidade de vida

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“Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio?”

Gálatas 3:3 

- pr. Mário Fernandez

Li recentemente a estatística apavorante de que para um cristão confesso dentro da igreja temos cerca de 1,5 afastados. Isso no Brasil e em 2013. Vejo igrejas mega lotadas e estranhamente o fenômeno dessa geração que aí está parece ser meramente logístico, ou seja, se movimenta de um lugar para outro sem se vincular ou pertencer a nada. Converso com pessoas que vão em 3 ou 4 igrejas regularmente e não se enlaçam com nenhuma, o que me leva a crer que, provavelmente, são contadas 3 vezes como membros.

Por quê? O que gera isso?

A explicação pode variar mas para mim (opinião pessoal) é falta de compromisso com o Deus a quem eu sirvo. Uma pessoa que de fato e realmente nasceu de novo não pode ficar pensando em retroceder, voltar para a velha vida, para as velhas práticas.

A nova vida é melhor, por que voltar?

A resposta mais evidente está neste versículo: pois embora começando no Espírito as pessoas querem prosseguir na carne, ou como Paulo disse, pelo esforço próprio. Insensatos, disse Paulo. É de se esperar que uma nova vida em Cristo seja aperfeiçoada por Cristo através da atuação do Seu Santo Espírito.

Apavorante pensar que alguém pode querer trocar o Santo pelo comum, mas é verdade e não é novidade, pois Paulo escreveu isso faz um tempão…

Prosseguimos pelo esforço quando negligenciamos nosso tempo de oração a sós com Deus, nossa meditação na Palavra de Deus, nosso empenho para servir aos irmãos, nosso esforço para congregar, nossa fidelidade. Quando deixamos isso para depois, deixamos o espiritual para depois e naturalmente o natural (esforço próprio) domina.

Por outro lado quando fazemos e priorizamos tudo isso estamos diretamente na contramão da carne e com isso o resultado é crescimento espiritual.

Mas afinal para que serve isso?

Simples: para crescer para Deus e não para nós mesmos. Veja que Paulo enfatizou a necessidade de sermos espirituais e mostrou os benefícios, durante todo esse capítulo.

Inegavelmente podemos ser mais do que somos e podemos fazer mais do que imaginamos, se formos capacitados ou aperfeiçoados pelo Espírito Santo de Deus. Eu me sinto na obrigação de lutar contra mim mesmo para me tornar o que Deus quer de mim e ao mesmo tempo para deixar de ser o que Ele não quer de mim.

Não há outro motivo para meu esforço na oração, na Palavra, no serviço (ministério) e na fidelidade. Eu nasci de novo, não tem outro caminho para minha nova natureza.

“Senhor, me perdoa por ficar andando onde não devo e me dedicando ao que não interessa. Me fortalece Pai, para que eu atinja o teu objetivo para mim e nada menos.”

Fonte: http://www.ichtus.com.br/dev/2014/03/09/novidade-de-vida-esforco/

July 13, 2014

Aprendendo a envelhecer

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Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; eu disse no meu coração: Deus julgará o justo e o ímpio; porque há um tempo para todo propósito e para toda obra

Ec 3.1-2, 17

- Joel Tibúrcio de Sousa

Uma das manifestações de sabedoria é a compreensão do tempo próprio para cada coisa. A condição humana faz com que cada pessoa construa sua vida, em várias etapas, da maneira que elege. E a passagem de cada um por este mundo vai mostrar o que ele fez com as oportunidades, os recursos, e os "talentos" que Deus distribuiu a todos, por sua soberana determinação.

Paul Tournier, em sua obra Apprende à veillir (Aprendendo a envelhecer) examina o tema, com seu estilo cativante, agradável e, ao mesmo tempo, erudito e comprometido com a Palavra de Deus, em narrativa recheada de exemplos de sua rica experiência profissional e pessoal.

A idade madura é aquela em que florescem todas as capacidades; aquela em que as pessoas em geral se sentem poderosas, constróem pelo menos parte daquilo com que sonharam durante longos anos. É o tempo da realização profissional, com o reconhecimento natural, tanto internamente quanto do ambiente em que se vive — líderes, liderados, colegas de trabalho, amigos — todos concordam em identificar a importância da pessoa, como homo faber, como pai/mãe, como marido/ esposa. O ego infla, e o tempo é gasto, ou na contemplação do próprio umbigo (como é belo!) ou na fruição dos prazeres da vida social, inclusive na Igreja, nas viagens, nas badalações.

Tomás de Kempis, em Imitação de Cristo, citado por Augusto Gotardelo em Ceifa tardia, escreveu: "Lembra-te sempre do fim, e que o tempo perdido não volta." É difícil estabelecer exatamente o que significa usar o tempo com sabedoria, viver cada momento de maneira ponderada e sábia. Mas certo cuidado com a próxima etapa certamente será útil para prevenir sofrimentos insuportáveis.

O afastamento do trabalho quando o outono da vida chegar, pode ser brusco e difícil. Certo homem que, ao aposentar-se, passou a beber imoderadamente, veio consultar-me, trazido pela família. A expressão que ele usou foi dramática: "tiraram o chão debaixo dos meus pés". Contou que acordava cedo, no mesmo horário de sempre, mas não se levantava. Ouvia o tropel e as conversas dos ex-colegas, que passavam em direção ao trabalho. Ele não estava no meio dos amigos de ontem, e à medida que o tempo passava, ia perdendo o ambiente, a cultura do grupo a que pertenceu durante tanto tempo; já não falava a mesma língua nem conseguia manter diálogo. Não tinha histórias do trabalho para contar, e durante os dias de atividade jamais se preocupara em preparar-se para o ócio. E agora, José?

Ao viver a atividade plena, a idéia que temos é que o dia é hoje. Hedonistas, vivemos o presente como se ele fosse eterno.

A verdade é que a vida é toda feita de momentos, cada qual com seu encanto, sorrisos e lágrimas se alternando, a experiência de cada instante formando todo um complexo que, arquivado, em seguida será objeto de reflexão, análise, aperfeiçoamento. Israel vive no deserto, do Egito a Canaã, tanto o perigo dos exércitos do Faraó e a inclemência do sol escaldante quanto as delícias da providência de Deus, nem sempre consciente de que a travessia, mesmo que dure quarenta anos, é efêmera. Há que vivenciar o maná no deserto de Sim, a água que brota da rocha em Meribá, sem esquecer que o melhor virá depois, além do Jordão, na terra que "mana leite e mel".

Ao contrário do que acontece no Oriente, nossa sociedade, em geral, despreza os velhos. Talvez pelo aumento do número de anciãos, por meio dos progressos da medicina, porém mais provavelmente pela cultura materialista, que valoriza a produção, a mais-valia verberada desde Marx, em que o capital subordina o trabalho e o produto vale mais do que a pessoa que produz. Uma vez diminuída a capacidade de produzir e até mesmo de consumir, o indivíduo passa a ser considerado um peso que a sociedade tem de suportar. Uma sociedade que despreza os velhos é desumana e também imprevidente: o velho já foi jovem, e este será velho amanhã, se tiver a felicidade de não morrer antes.

Outra característica cultural ainda mais patente em nossos dias, é o culto da técnica. A tecnologia se multiplica e aperfeiçoa a uma velocidade cada vez mais difícil de se acompanhar. As aquisições incontáveis sem dúvida facilitam, aumentam o conforto, encurtam distâncias, incrementam a expectativa de vida. Mas quem não acompanha a tecnologia perde espaço, não compete no mercado. A publicidade cobra, o deus Mamom estabelece seu preço em ansiedade agora e em melancolia no futuro, quando vier o afastamento da atividade. "Tiraram o chão de debaixo de meus pés".

Há que restabelecer o primado do ser sobre o ter. A prioridade é das pessoas, nunca das coisas. O Senhor Jesus, no Sermão da Montanha, ensinou que as pessoas valem mais do que as aves do céu, mais do que os lírios do campo. "Se Deus veste a erva do campo, quanto mais a vós...?"

Toda a obra de Tournier se insere dentro do que ele chamou Medicina da Pessoa. E o livro de que tratamos aqui pretende colocar o ancião no lugar que lhe pertence na sociedade. Cada pessoa tem um espaço neste mundo, independentemente da idade. "Há tempo para todo propósito debaixo do céu" (Ec 3-1). E o autor do Eclesiastes (talvez o rei Salomão) acrescenta que Deus "pôs a eternidade no coração do homem" (Ec 3.11).

A harmonia entre o vigor e a ousadia, de um lado, e a experiência e a ponderação, de outro, estabelecem um ponto de equilíbrio imprescindível, não só à convivência interpessoal, mas à conquista de um nível de civilidade compatível com os propósitos de Deus para a humanidade. De forma nostálgica, o provérbio francês pondera: "Se a juventude soubesse, se a velhice pudesse..."

Em síntese, nossa vida tem um fio condutor a ligar cada etapa uma à outra; cada fase deriva das anteriores. "Homem algum é uma ilha", disse Thomas Merton. Assim, cada qual precisa compreender o outro, encorajá-lo, amá-lo como a si mesmo, perdoá-lo, refletindo sobre suas próprias imperfeições. E quanto às rugas, os sinais dos anos, quanta beleza encerram! Que os velhos se respeitem e sejam respeitados, e que os jovens saibam viver hoje de maneira a construir um futuro digno e belo, como uma antecipação, nesta vida, das bênçãos que nos esperam na presença eterna de Deus.

Senhor, "ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos corações sábios!" (Sl 90.12.)

Notas
1. TOURNIER, Paul. Aprendiendo a envejecer. Buenos Aires; Ed. La Aurora, 1973.
2. GOTARDELO, Augusto. Ceifa tardia. Juiz de Fora: Ed. Lar Católico, 1953.
3. TOURNIER, Paul. Médecine de Ia personne. 11. ed, Neuchatel: Ed. Delachaux & Niestlé, 1963.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/297/aprendendo-a-envelhecer

July 12, 2014

Você será na velhice o que é hoje

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Abraçar uma segunda carreira ou ocupação pode nascer de uma motivação diferente e fixar-se numa missão que leva o indivíduo a se organizar, a ser fiel e a manter uma prioridade frente aos prazeres egoístas. Tudo fará por amor e não por dever, porque já não se trata de atividade profissional - é uma maneira de estar no mundo e não de se evadir dele.

Outra reação típica da velhice é se desinteressar do mundo, retirar-se para dentro de si mesmo, o que, muitas vezes, recebe o nome de serenidade. Mas todos nós sabemos que há dois tipos de serenidade: a boa e a má.

A primeira é fruto de uma grande maturidade pessoal, de uma vitória sobre a ambição, de um desligar-se de si próprio e das impaciências egoístas da juventude. Neste caso o homem se abre a um grande amor, à benevolência, a um interesse profundo por compreender o próximo, por ajudar de um modo desinteressado e não autoritário.

A segunda, a serenidade ruim, é na verdade, uma indiferença profunda.

Geralmente, a pessoa é na velhice como sempre foi antes, só que com traços mais acentuados. O generoso aumenta a sua generosidade, o autoritário torna-se tirano e o passivo o é ainda mais.

Simone de Beauvoir afirma com agudeza: “Os que desde sempre elegeram a mediocridade não terão dificuldade para as compor, minimizar. Eu conheci um ancião totalmente adaptado à sua idade: meu avô paterno. Egoísta, superficial; entre as atividades ocas de sua maturidade e a inatividade de seus últimos anos não havia muita distância. Jamais se sobressaltava, não havia inquietude que o afetasse de verdade; sua saúde era excelente. Pouco a pouco seus passeios encurtaram; frequentemente dormia sobre o seu jornal, Le Courrier du Centre [O correio do centro]. Até a sua morte teve aquilo que se costuma chamar de “uma bela velhice”. Sem dúvida, Simone de Beauvoir tinha razão em sua ironia.

A expressão “uma bela velhice” não representa o quadro que ela nos pinta, mas que esta tem de ser uma época fértil, aberta ao mundo e aos homens, um tempo ardente, mas sereno, com capacidade para ainda lutar, e lutar apaixonadamente. Essa luta será diferente da luta da juventude, mas no final das contas será uma luta, porque toda a vida é luta.

Muitas vezes chamamos de sabedoria a uma atitude de indiferença e de abandono, para não dizer de despeito. Com frequência os prazeres solitários podem implicar esta situação: “Não querem saber de nada comigo? Tudo bem; vou pescar”. E a pesca já não é espairecimento, mas amargo ruminar.

Fala-se geralmente na velhice como uma idade isenta de paixão. Mas a ausência de paixão é a morte antecipada. Se não há raiva, não há sorrisos; se não há indignação, não há perdão; se não há angústia, não há esperança. Desgraçadamente isto pode vir a ocorrer nos anos finais, quando já não há problemas futuros, mas, antes de ser uma vitória da sabedoria, é caduquice. Então o indivíduo é só um doente a quem o médico poupa sofrimento e prolonga a vida, porque não sabe o que ocorre em seu interior, por detrás da aparência. O verdadeiro problema se coloca muito antes, quando o aposentado, são e forte ainda, têm de enfrentar a sua retirada da vida ativa. As forças diminuem e podem aparecer doenças, mas o coração, a capacidade de amar e a necessidade de dar sentido à própria vida estão intactos.

Poderá preencher o seu tempo com intermináveis entretenimentos? Afundará no despeito? Evitará aposentar-se, prolongando enquanto possa a sua carreira profissional?

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/voce-sera-na-velhice-o-que-e-hoje

July 11, 2014

Envelhecer. E esta não é a noticia ruim.

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“A aposentadoria? Nem me fale dela! Pensarei nisso mais adiante!”

“A velhice? Espero morrer antes de ficar velha!”

Para muitos, o tempo é um duro inimigo: a idade avança, e o sentimento de inadequação também. Não aceitam a perda das forças físicas, o desgaste da beleza jovial, o cansaço que ganha força, surge um sentimento de vazio quando paramos de trabalhar. Para os mais melancólicos, trata-se de um caminho inevitável a caminho da morte.

Mas para psiquiatra suíço cristão Paul Tournier (1898-1987), o avanço inexorável da idade é uma boa oportunidade de crescimento e de compreensão sobre o valor de quem somos, do que fazemos e do que amamos. É a idade ideal para produzirmos “cultura” no sentido amplo e espontâneo da palavra.

“Há, sem dúvida alguma, dois momentos fundamentais na vida: a passagem da infância para a idade adulta e a passagem da idade adulta para a velhice. (...) A segunda etapa da vida não é, em absoluto, uma regressão, mas uma promoção, como a primeira”, dizia.

É Preciso Saber Envelhecer, de Paul Tournier, é o lançamento de julho da editora Ultimato. Não foi escrito apenas para os que já chegaram à velhice, mas também para todos que encaram a vida como uma trajetória importante, do começo ao fim. Como diz, Tournier:

Para ter uma boa velhice é preciso começar a prepará-la cedo, e não retardá-la o mais possível. Na metade da vida se terá de começar a refletir e a organizar a existência com vistas a um futuro ainda distante, em vez de se deixar levar integralmente pelo torvelinho profissional e social. Ou seja, nesse momento será preciso dar importância gradativa a ocupações cada vez menos exteriores, menos técnicas, e mais culturais, que perdurarão depois da aposentadoria”.

É Preciso Saber Envelhecer não é um mero livro de conselhos. “Pessoas ativas não precisam de conselhos para aproveitar com inteligência o tempo livre de sua aposentadoria; e nenhuma espécie de conselho tirará da passividade aquelas que não são ativas”, disse Tournier. No entanto, É Preciso Saber Envelhecer ajuda-nos a olhar e encarar a própria vida como uma forma fascinante de sermos tudo que fomos chamados a ser.

Os crentes aceitam a velhice com mais facilidade do que os não crentes? Aceitam melhor a perspectiva da morte próxima? Deveriam, já que “o Cristianismo é muito mais realista; Cristo conheceu a angústia da morte até o suor de sangue e o grito da cruz”.

No primeiro capítulo de É Preciso Saber Envelhecer, Tournier relata o seguinte diálogo com um amigo:

"Encontro-me num café com um antigo companheiro de serviço militar; sempre tivemos simpatia um pelo outro e voltar a nos encontrar nos enche de alegria; estamos unidos por lindas recordações! 'Como vai você?' – pergunto-lhe.

'É terrível' – responde –, 'estou aposentado há três meses! Nunca pensei que fosse tão duro.' E acrescentou uma reflexão que me tocou profundamente, porque eu estava escrevendo este livro: “Nada é pior para o homem do que perder a possibilidade de brilhar” E conversamos um pouco sobre a condição humana.

Algumas semanas depois eu o encontrei no mesmo lugar: 'E então, como vão as coisas?'. Vivaz, resplandecente, respondeu-me: 'Muito bem! O banco onde eu trabalhava precisa organizar um trabalhinho de classificação, então me pediram para ir algumas horas por dia. É uma grande sorte'. Cumprimentei-o, naturalmente, e alegrei-me por ele. Também experimentei admiração por esse homem, capaz de encontrar tão facilmente novo impulso para um trabalho que, há pouco, deixara para outro mais jovem; na verdade, contentava-se com uma modesta possibilidade de brilho; pouca coisa bastava para transfigurá-lo.

Mas, por quanto tempo? O problema estava adiado, é verdade, mas sem verdadeira solução."

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/envelhecemos-e-essa-nao-e-uma-noticia-tao-ruim

July 10, 2014

Olhos que não enxergam

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"Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer: ‘Mostra-nos o Pai?”
Jo 14: 9 

- pr. Russell Shedd

É de conhecimento comum que os descrentes sofrem de uma cegueira espiritual induzida pelo “deus deste mundo” (2Co 4.4). Mas essas palavras de Jesus revelam a possibilidade de estar com Cristo sem conhecê-lo. Deve ser comparável ao galho na Videira (Cristo) que não produz fruto; conseqüentemente, sofre a desgraça da remoção e ser lançado no fogo.

Os deficientes visuais sabem que são distintos dos outros que gozam da visão boa. Os tristes seres humanos, aflitos com cegueira física, reconhecem seu isolamento num mundo escuro.

Podem tentar imaginar este belíssimo mundo, invisível para eles, exuberante e com vivas cores, vistas empolgantes de montanhas, rios, oceanos e rostos expressivos. Temos pena dos que nunca tiveram a oportunidade de se deliciar com a vista perfeita.

Mas deficiência física é muito menos sério do que a cegueira espiritual. A escuridão condena todos os que não têm fé a concluir que o mundo físico é tudo que há. A glória do Criador se percebe pela fé, de modo que todos os sinais da glória e da majestade do seu poder e inteligência inseridos neste mundo se perdem na cegueira do materialista.

C.S. Lewis comparou a tentativa de comunicar a existência do mundo espiritual a um incrédulo a uma criatura que em toda sua vida experimentou apenas duas dimensões. Alguém que tenta explicar as três dimensões do mundo real por uma fotografia acha que o triângulo é um caminho e outro triângulo, uma montanha. O indivíduo limitado às duas dimensões fracassa completamente ao tentar compreender a realidade que a fotografia representa. Como um cão que fareja o dedo da pessoa apontando um suculento pedaço de carne, em vez de virar a cabeça, o homem preso à compreensão materialista do mundo acha que toda essa realidade de Deus, salvação e Céu não passam de imaginação fértil do crente.

Mais complexo é o caso do cristão com olhos abertos, mas incapaz de ver. Paulo ora pelos efésios, rogando a Deus pela iluminação dos olhos a fim de que eles “conheçam a esperança à qual ele os chamou”.

 Escreveu John H. Newman: “Abençoados aqueles que finalmente verão aquilo que olho mortal não tem visto e somente a fé goza. Aquelas coisas maravilhosas do novo mundo já existem agora como serão então. São imortais e eternos; e as almas que então serão feitos conscientes delas, as verão em sua tranqüilidade e majestade aonde nunca chegaram. Mas quem é capaz de expressar a surpresa e o arrebatamento que descerão sobre aqueles que finalmente os conhecerão pela primeira vez? Quem pode imaginar, por uma extensão da imaginação, os sentimentos daqueles que, tendo morrido na fé, acordam para júbilo?

A vida, então iniciada, durará para sempre; porém, se a memória for para nós então o que é para nós agora, aquele dia será um dia para ser muito celebrado para o Senhor durante todas as eras da eternidade” (Dia 153, Diary of Readings , ed. J.Ballie, 1955).

A falta de ver essa gloriosa realidade escatológica torna esta vida uma cena de competição, ambição e desespero. Crentes se desviam por falta de visão do futuro que não vêem e nem imaginam. Faltando iluminação nos olhos espirituais, ficam presos ao mundo material temporário.

Transferem os valores do Céu para a Terra e interpretam a prosperidade em termos financeiros e passageiros. Seguir a recomendação de Jesus parece loucura. “Não acumulem para vocês tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam”, em vez de acumular tesouros nos céus. Isto faz sentido somente para quem tem uma visão clara da realidade além deste mundo material.

A Deus toda a glória!

Fonte: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=52

July 09, 2014

A árvore da vida

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- Guilherme de Carvalho

“Árvore da Vida” (The Tree of Life, 2011) não é uma unanimidade. Em Cannes foi criticado por metade da plateia e aplaudido pela outra metade. Levou a Palme D’Or em Cannes (2011) e não levou nada no Oscar (2012), a despeito das indicações. Foi assistido quatro, cinco, seis vezes pelos fãs, e abandonado na metade ou antes por quase a metade do publico (ao menos na sala de cinema aonde eu estava). Pelo que ouvi, quase sempre no mesmo ponto (a parte do “dinossauro”).

Pessoalmente, considero este filme como uma das grandes obras-primas da história do cinema, e como uma das maiores peças de arte religiosa desde que a sétima arte foi inventada. E muita gente diria amém, seja pela sua qualidade técnica e artística, seja por sua profundidade espiritual.

Que tipo de filme poderia levar cristãos e não cristãos a “cuspir” sobre ele e ao mesmo tempo em que um ateu professo como o apresentador da Globo Zeca Camargo chega a reconhecer publicamente que seu ateísmo foi abalado pela película? (Veja o seu artigo, “O Cômico e o Cósmico”).

PORQUE MUITA GENTE NÃO ENTENDEU MALICK

Com a licença dos leitores, vou agora ferir nervos sensíveis: exceto, talvez, por uma estreita faixa da assistência que não gostou do filme por razões genuinamente técnicas ou ideológicas, suspeito que a maior parte dos cristãos e não cristãos que viram e não gostaram não souberam ver o filme, devido aos longos anos de condicionamento televisivo e hollywoodiano.

Ou melhor: não sabemos ver cinema como arte. Uma das observações mais duras do cineasta russo Andrei Tarkovski sobre o cinema é exatamente essa: que o cinema deixou de ser uma arte relacionada à imagem e à imagem no tempo e se tornou teatro filmado.

"… os filmes de Lumière foram os primeiros a conter a semente de um novo princípio estético. Logo a seguir, porém, o cinema distanciou-se da arte e empenhou-se em seguir o caminho mais seguro dos interesses medíocres e lucrativos. Nas duas décadas seguintes, filmou-se praticamente toda a literatura mundial, além de um grande número de obras teatrais. O cinema foi explorado com o objetivo direto e sedutor de registrar o desempenho teatral; tomou o caminho errado…”


Andrei Tarkovski, Esculpir o Tempo, Martins Fontes, p. 71.
 
Não é preciso ser purista nem gostar dos filmes de Tarkovski (o que, na verdade, é difícil) para reconhecer que há algo verdadeiro aí. Se o cinema for apenas teatro filmado, não é uma forma de arte distinta. Se for apenas tecnologia de efeitos especiais, o cinema e o game poderiam ser a mesma coisa.

Não há pecado em assistir a um filme por pura diversão – é para isso que serve o filme “pipoca” – e ninguém tem a obrigação de gostar e de aprender a gozar de cada forma de arte criada pelo homem. Mas não é inteligente utilizar o entretenimento como critério final de julgamento da arte.

Mais do que isso, talvez possamos até dizer que se Blaise Pascal estiver certo, e o entretenimento for uma forma do homem evitar a consciência de sua ruína espiritual e de sua necessidade de Deus, é subecristão considerar o poder de entretenimento um critério final para qualquer coisa, e muito menos para a arte.

A questão é que o último filme de Malick não é, definitivamente, uma peça de entretenimento. Vou aqui tentar interpretá-la como uma obra de arte no sentido Tarkovskiano, que gira em torno do princípio estético próprio do cinema, da criação de “esculturas” temporais; e que evita perder-se no teatro, ou no recurso tecnológico.

Não se pode assistir The Tree of Life como se assiste “O Homem Aranha”. Não é que não se possa assistir “O Homem Aranha”, mas que não se pode assistir aos dois filmes com o mesmo espírito.

Assistir “A Árvore da Vida” é mais como ir a um museu de arte, para ter a chance de ver um Rembrandt: prende-se a respiração e gastam se pensamentos e emoções na busca de uma experiência estética intencional.

Não se trata de uma “distração”, de buscar algo para “rir um pouco”, nem do estímulo de uma história aventuresca. Se alguém nunca foi a um museu de arte e jamais quis ir a um; se a única música que ele escuta é a do rádio (para não se sentir sozinho em casa) ou aquela música que evoca as sensações da última balada, é evidente que tal pessoa não está preparada para avaliar o cinema de Malick.

Repito: se você sabe ver um filme como arte e não gostou de Tree of Life, isso não se aplica a você. É perfeitamente adequado desaprovar de forma inteligente uma obra de arte. Mas infelizmente isso não se aplica à maioria do público brasileiro; de modo que uma leve e saudável suspeita de si mesmo pode ajudar bastante ao cinéfilo.

Mas há algo mais em jogo. Segundo minha percepção, o filme de Malick não é apenas uma obra de arte, mas uma obra de arte religiosa. E isso acrescenta uma segunda complexidade: é que assistir “A Árvore da Vida” é um pouco como ir à Igreja; ou, para aqueles com uma espiritualidade mais ampla, ter uma visão espiritual de uma paisagem natural grandiosa.

De fato “Terry” chega à ousadia de transformar a sala de cinema em uma igreja ao botar o público para ouvir o sermão de um padre, dentro de uma capela, baseado no livro de Jó; e um sermão de arrancar o couro (veja o texto AQUI). Quem, hoje, teria a coragem, a capacidade, e a autoridade para fazer uma coisa dessas? Uns poucos… e Terrence Malick.

E daí a dúvida: a igreja estava em Cannes? Ou será que Cannes foi à igreja? Uma coisa é certa: se você não sentiu essa fusão religiosa ao ver o filme, então você ainda não viu o filme.

E essa é a outra razão, creio, porque muita gente não entendeu Malick: é que lhes faltavam categorias espirituais e até mesmo teológicas para assistir ao filme.

Posso citar uma: A Árvore da Vida é inacessível sem uma categoria teológica básica, um teosofema que é enunciado explicitamente por Malick no princípio do filme como sua subestrutura fundamental: a distinção de Natureza e Graça, que tem uma longa história no ocidente desde suas raízes bíblicas, passando por Agostinho, Tomás de Aquino, Calvino, Pascal, até o pensamento cristão do século XX (Tillich, Barth, Dooyeweerd, de Lubac, entre outros).

A completa ignorância sobre a profundidade e a importância dessas categorias bloquearam a compreensão do filme para uma miríade de críticos de cinema – alguns até experientes – que tentaram reduzi-lo a uma leitura psicológica edipiana, ou a uma crítica da sociedade americana dos anos 50, ou a um experimento surrealista, ou uma imitação de Kubrick em “2001″ (absurdo dos absurdos), ou a mais ridícula de todas: uma coleção sem propósito de imagens e sons na esteira dos documentários da NatGeo.

E quando esse secularismo raso se misturava com a falta de educação artística, os resultados só poderiam ser catastróficos.

Ao que parece esses críticos simplesmente assumem que as categorias teológicas cristãs (que, a propósito, foram essenciais para a própria constituição das categorias filosóficas modernas) “não podem” ser essenciais para compreender uma obra-prima contemporânea.

Não podem porque isso seria anacrônico, porque seria kitsch, porque “ninguém usa isso mais”, porque isso não é coisa de gente “inteligente”, porque seria “propaganda religiosa”… E assim eles prosseguem, arrancando os próprios olhos bem diante da evidência.

De novo, preciso observar que alguns espectadores e críticos realmente entenderam a carga religiosa e existencial do filme, e não gostaram exatamente disso.

Ao que se sabe essa foi a motivação de parte das vaias em Cannes; mas não deveríamos esperar algo diferente de um filme que pretende atingir o espectador em sua raiz espiritual. Isso dói tanto quanto tocar na raiz de um dente.

Assim, sugiro àqueles que viram o filme e não o entenderam, ou não gostaram dele, que tentem de novo.

Tentem diferente, com outra atitude. Mais do que isso: orem (ou meditem, se não forem cristãos) antes e depois de ver o filme.

Não dá pra assistir A Árvore da Vida só com os olhos.

Tem que ser com a alma.

MALICK E O FILME

Não temos espaço para uma sinopse aqui, então recomendo a sinopse da Wikipédia, onde há detalhes sobre o enredo.

Quanto ao diretor, também não faltam websites com informações, embora faltem, efetivamente, informações! Terrence Malick é uma das figuras mais enigmáticas do cinema contemporâneo. Avesso a fotografias, a entrevistas, ausentou-se até mesmo de Cannes para evitar publicidade.

Malick nasceu em Waco, Texas, em 30 de Novembro de 1943, cresceu num contexto rural, estudou filosofia em Harvard (aluno de Stanley Cavell, importante estudioso de Heidegger, Kierkegaard e Wittgenstein, e filósofo do cinema) e no Madgalen College de Oxford (sem completar sua tese). Entre seus maiores interesses, a filosofia de Martin Heidegger, o qual ele conheceu pessoalmente. Tornou-se jornalista freelance e chegou a ensinar filosofia no M.I.T. quando se voltou para estudos de cinema, já em 1969.

Desde então realizou poucos filmes que o projetaram como um dos maiores diretores americanos contemporâneos (Lanton Mills, 1969; Badlands, 1973; Dias do Paraíso, 1978; Além da Linha Vermelha, 1988; Novo Mundo, 2005; A Árvore da Vida, 2011).

Vale mencionar que suas origens espirituais são cristãs; o pai era cristão maronita de origem assíria-libanesa, e o próprio Malick foi educado em uma escola episcopal em Austin, Texas. Atualmente ele frequenta uma Igreja Episcopal em Austin (especula-se que seria a Igreja Episcopal “Good Shepherd”) com sua esposa Ecky Wallace, que é filha de um pastor episcopal, estudou teologia e é descrita como “muito devota” (mais do que o marido, talvez!). Até onde vai a fé pessoal de Malick, no entanto, é difícil dizer já que ele não parece interessado em anuncia-la publicamente. No momento o melhor que temos é, provavelmente, a própria obra de Malick.

TEMA E MÉTODO

O tema do filme é a “árvore da vida”, uma imagem bíblica que representa a Vida Eterna no Éden. Malick associa essa imagem a outro tema bíblico tradicional: a dos “dois caminhos” (de fato o endereço oficial do filme na internet é “dois caminhos através da vida”, http://www.twowaysthroughlife.com).

Há dois caminhos possíveis para responder à árvore, segundo se anuncia logo nas primeiras cenas do filme: um é o caminho da Natureza, que rejeita desapegar-se de si e alimentar-se da árvore, que insiste em sua rigidez e por isso se quebra, e o caminho da Graça, que aceita a dor com esperança e que vê na Árvore tanto a fonte última da Natureza como a única capaz de leva-la à Vida Eterna.

O símbolo da árvore aparece do início ao fim do filme, e em todos os seus momentos cruciais. Às vezes como uma pequena planta, às vezes como uma árvore frondosa.

O filme é aparentemente irregular, descontínuo, ignorando a demanda intuitiva que todos nós temos pela linearidade temporal e por conexões lógicas de causalidade. Mas não é que elas sejam negadas no filme; é que sua apresentação é organizada em uma estrutura poética.

Na poesia as relações entre as coisas são captadas de forma estética, por meio de associações imagéticas, rítmicas, sonoras, e conceituais, mas sem afirmações diretas e rigores silogísticos. Isso é possível em um filme porque poesia não é apenas um gênero, mas “uma consciência do mundo, uma forma específica de relacionamento com a realidade” (Tarkovski, 18) e assim o artista “… é capaz de perceber as características que regem a organização poética da existência. Ele é capaz de ir além dos limites da lógica linear, para poder exprimir a verdade e a complexidade profundas das ligações imponderáveis e dos fenômenos ocultos da vida.” (Tarkovski, 19).

Para superar o incômodo da ausência de linearidade o espectador precisa saltar da atitude naturalista para uma atitude poética, e explorar as analogias e conexões estéticas entre as partes aparentemente “soltas” do filme, exatamente como na poesia escrita. A diferença é que a poesia agora é feita de imagens e narrativas.

E na verdade a vida é muito mais poética do que “naturalista” (Tarkovski, 20); a mesma intuição necessária para ver o sentido das nossas vidas concretas é a atitude necessária para ver esse sentido no filme de Malick; quando ela está ausente em um, estará ausente no outro e vice versa.

Nesse sentido o filme se torna uma pedagogia do significado da vida; a imaginação poética que vê o sentido espiritual da vida no universo do filme ganha a capacidade de imaginá-lo em sua própria existência.

Outro ponto importante é que o filme é completamente autoral. Quase sempre, quando vemos um filme, ficamos impressionados (ou não) com a atuação dos atores. Mas em nosso filme a experiência é completamente diferente. Apesar das grandes atuações e dos grandes nomes, o que vem à mente é o diretor, não os atores. Nisso Malick é fiel ao programa Tarkovskiano de “cinema de autor”. O filme não pretende pôr à frente o ator, a atuação, nem ser fiel a uma narrativa escrita anterior, mas exprime a interioridade do diretor, sua experiência do mundo e sua percepção poética das coisas. “Só em presença de sua visão pessoal, quando ele se torna uma espécie de filósofo, é que o diretor emerge como artista – e o cinema como arte” (Tarkovski, 68).

Quem acompanhou as notícias sobre o filme deve ter topado com a crítica de Sean Penn – o “subjecto” principal do filme, embora não o papel principal – a Malick numa entrevista do jornal francês Le Figaro: “eu não encontrei na tela a emoção do roteiro, que é o mais magnificente que jamais li. Uma narrativa mais clara e convencional teria ajudado o filme sem, na minha opinião, reduzir sua beleza e seu impacto … Francamente, ainda estou tentando descobrir o que é que estou fazendo ali e o que eu deveria adicionar naquele contexto … Terry nunca conseguiu me explicar isso claramente”. O filme foi por outro lado defendido incondicionalmente por Brad Pitt, que faz outro papel central.

Na verdade tudo faz sentido quando o filme é visto como um filme completa e radicalmente autoral. Mas além disso, Jack (representado a vida adulta por Penn) tem uma presença múltipla no filme, como criança, adulto, e mente auto-reflexiva; ele claramente não poderia estar contido na atuação de Penn. É claro que pode ter havido uma falha de Malick em relação ao seu próprio roteiro (ainda mais grandioso que o filme?), mas o resultado final não diz respeito à atuação de Penn, e sim à poesia de Malick, e é sobre ele que nos perguntamos assim que pisamos fora da sala de cinema: quem é esse poeta, filósofo e – segundo vou alegar ao final do artigo – esse teólogo?

ORGANIZAÇÃO NARRATIVA

Quero sugerir, sem nenhuma prova incontestável (exceto a intuição do próprio espectador, quando assistir ao filme munido dos meus palpites) que temos quatro níveis poéticos/narrativos/temporais no filme, e é de grande ajuda identificar os quatro níveis e o que é contado em cada um deles, pois Malick salta repetidamente de um nível ao outro sem aviso, mas sempre para estabelecer conexões poéticas entre esses diferentes níveis narrativos.

E a mesma história é contada em todos os níveis, embora com recursos distintos, de forma que é preciso interpretar um nível temporal a partir do outro, discernindo como a mesma noção é apresentada de um jeito em nível, e de outro em outro nível.

Meus alegados “níveis narrativos” são os seguintes:

(1) O tempo interno, que acontece dentro de Jack O’Brian (Sean Penn). É o tempo da autorreflexão de Jack, um homem adulto e “bem sucedido” do ponto de vista secular, trabalhando em Nova Iorque. Toda a história do filme acontece dentro da autorreflexão de Jack, iniciada com a notícia da morte do irmão. No encontro com a família O’Brian (mais para o fim do filme) ele se pergunta como é que a mãe, a senhora O’Brian (Jessica Chastain) suportou a perda do irmão. Essa pergunta reflete o que deixa Jack intrigado: o mistério da graça na vida de sua mãe. Ele encontrará a resposta no final do filme.

(2) O tempo histórico é repassado na memória de Jack, mas é contado de uma forma mais completa, de um ponto de vista narrativamente privilegiado, como um diálogo entre a mãe e Deus. Esse tempo é também iniciado com a perda do filho pela mãe, e pelas perguntas que a mãe faz a Deus (ou seja, a resposta à pergunta de Jack depende da relação entre a mãe e Deus). Essas perguntas introduzem a apresentação do terceiro e do quarto nível temporal, de que falaremos mais adiante.

A perda do filho leva a mãe a uma crise profunda, que a faz perguntar a Deus “por que”. A sogra, numa conversa particular, sugere a ela que não devemos nos prender a nada temporal, e que ela deveria esquecer o filho para evitar a dor. A mãe é submetida à mais terrível tentação quando a sogra diz que o Senhor “envia moscas às feridas que deveria curar” (e a sogra desaparece na cena final do filme). Enquanto ela e Jack fazem essas perguntas, somos levados ao terceiro nível temporal. Mas o fato é que a mãe supera essa tentação; mais ao final do filme ela é representada entre muitas árvores, caminhando e confessando a sua fé em Deus.

Mas voltemos ao segundo nível: o tempo histórico é o tempo da família, no interior da qual o problema da relação entre Natureza e Graça se desdobra. Esse problema é anunciado verbalmente na abertura do filme pela senhora O’Brien, a mãe, ao mesmo tempo em que as imagens revelam como ela foi ensinada sobre isso por seu próprio pai, cuja face não aparece. Com ele ela aprende a recorrer à graça diante da dor na natureza (na cena do contato com uma vaca).

A dualidade de natureza e graça é mostrada no conflito progressivamente revelado entre o patriarca da família O’Brian (Brad Pitt), que existe de forma contraditória e cega, negando a Graça, mas dependendo dela em todos os momentos, e a mãe, que escolheu viver pela Graça e, por assim dizer, “dançar em torno da árvore da vida” (a “dança no ar”, quando a mãe flutua em torno da árvore, é a propósito um tema característico de Andrei Tarkovski). O Pai ensina aos filhos o caminho da Natureza, e a Mãe o da Graça. Por isso eles entram em conflito constante.[2]

Um interessante exemplo da tolice espiritual do pai é o momento do sermão, quando o Padre explica na igreja a mensagem de Jó, de que não existe ponto de estabilidade e garantias de felicidade dentro do tempo, e que ninguém pode impor condições a Deus, nem negar sua presença em razão do sofrimento. Logo depois o pai tenta ensinar aos filhos que a mãe é ingênua, e que o caminho da natureza, em sua busca egoísta por segurança, é o melhor caminho. Mas a mãe também ensina. Ela comunica a necessidade do amor para alcançar a felicidade.[3]

Dentro de si mesmo Jack (representado na infância pela atuação esplêndida de Hunter McCracken) incorpora esse conflito, tendo dificuldades para ser consistente, e sofrendo com grandes dúvidas sobre a existência e a bondade de Deus. Ele passa por momentos de graça e também por momentos de “Queda”, quando se torna perverso e pensa até em matar o pai (na cena em que ele está debaixo do carro consertando-o). Mas ele é “resgatado” através de sua mãe e principalmente de seu irmão, reconciliando-se por causa deles com seu pai[4].

Ao final da narrativa da família o pai, depois de perder o emprego e ver o fracasso de seus projetos temporais, confessa que a glória já estava em torno dele sem que ele o soubesse. E eles precisam deixar a casa onde cresceram num processo de grande luto, encerrando-se assim o relato do tempo histórico.

(3) O tempo cósmico é o tempo do universo natural, de sua origem até o seu fim. Após a pergunta da mãe sobre o porquê da perda de seu filho, Malick nos leva para uma viagem até a origem de todas as coisas, quando Deus criou o universo, desde o Big Bang, passando pela origem das galáxias, do sistema solar, da terra, dos continentes, a evolução biológica, incluindo tanto o sofrimento como a graça como estando presentes desde o princípio. Tudo sendo contextualizado pelas orações da mãe, inspiradas no livro de Jó.

Depois que a narrativa da história da família é encerrada, com a perda da casa, o luto profundo dos irmãos, e a cena da casa se afastando a partir do interior do carro, o tempo cósmico é retomado, contando a história do fim do mundo.

O fim do mundo é representado com categorias científicas, como o crescimento do Sol para se tornar uma estrela gigante-vermelha (previsto para alguns bilhões de anos no futuro), o que levará à destruição total da vida na terra, seguido pelo colapso do sol, que se tornará uma estrela anã-branca.

Essa parte do filme representa a mortalidade e efetivamente a morte de tudo o que é Natural. Com isso Malick quer dizer que a Natureza, por si só, não tem um futuro. É vaidade.

(4) O quarto nível é o tempo escatológico, ou seja, o tempo da ação redentiva de Deus, que se consumará no futuro. É o tempo da Fé. Depois do luto da família e do luto do universo, Malick viaja para a realidade além do tempo cósmico atual, e faz Jack imaginar sua própria passagem pela morte (uma pequena porta), enquanto segue uma mulher (um símbolo da Graça?) por um caminho deserto (que possivelmente representa a incerteza e a necessidade de esperança).

Segue-se uma série de metáforas da ressurreição, com corpos mortos no campo, e em seguida com a mulher (a graça?) aproximando-se com a vela acesa e acendendo a vela de outra pessoa (ou seja, ressuscitando-a), uma noiva morta que de repente é vista viva novamente, alguém dentro de um buraco que olha para cima e vê a mão (da graça) estendendo-se para tirá-lo de lá, uma escada para cima, que convida à subida.

Mais à frente, a direção da morte e esfriamento do cosmo (com a terra devastada ocultando a luz azul do sol-anã-branca) é revertida com um reaparecimento e um súbito resplandecer do sol – cena que aparece de forma muito rápida e de relance.

Então Jack chega a um lugar na beira do mar (signo do infinito?), onde os seres humanos se encontram, reconciliados. Ali ele vê seus familiares, e vê a sua Mãe (mas os pais de seu pai, o Sr. O’Brian, não aparecem ali, o que possivelmente significa o seu desaparecimento). A própria árvore da vida aparece ali, como a única árvore restante, mas surge como um pequenino arbusto na beira d’agua, plantado na areia.

Acompanhando sua mãe Jack é levado ao passado novamente, embora de forma simbólica, e vê o momento em que ela entrega o irmão que morreu, quando ele ainda era criança, nas mãos de Deus, deixando-o passar por uma porta onde se vê apenas a planície e o Sol atrás dele.

Nessa hora a entrega que a mãe faz é representada como uma dança em que a mãe abre suas mãos, enquanto é ajudada por duas outras figuras femininas[5].

A escolha da mãe é a resposta para a pergunta de Jack, sobre como a mãe foi capaz de superar a perda do filho – muito embora a própria mãe não tenha recebido uma resposta clara sobre a razão do seu sofrimento (o que é indicado, inclusive, pela citação de Jó na abertura do filme: “Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? … Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam?”).

O “milagre” do filme é, portanto, mostrar como a fé e a vida na Graça tornam-se elas mesmas sinais divinos no mundo; a mãe e o irmão levam Jack de volta para Deus.

Depois disso o filme retorna para o nível 1, com Jack refletindo e sorrindo levemente com a compreensão da Graça, enquanto ao fundo a imagem da árvore se contrapõe à dos edifícios e aparentemente poderosos projetos humanos.

Sutilmente se sugere que a árvore pequena e os edifícios enormes não reflete a proporção verdadeira das coisas. É preciso intuição poética e insight religioso para descobrir a verdade sobre o mundo.
 
(5) Acima de todos os níveis narrativos está o eterno. Ele é representado pela chama. A chama de onde o mundo veio é apresentada no início do filme e no final, e também aparece durante o filme duas vezes, em momentos de mudança de nível narrativo (como Vanessa Belmonte do L’Abri observou).

O eterno aparece dentro do temporal principalmente representado pelo Sol, que surge atrás da mãe ou dominando sutilmente a cena em momentos importantes.

No Quarto nível temporal (o “escatológico”) há uma espécie de encontro do eterno com o temporal, de modo que o papel do Sol fica bem claro. Ele representa Deus como a fonte da Graça, que existe antes da Natureza, na Natureza, e depois da Natureza. Por isso no final do filme a chama não apaga progressivamente; o filme termina subitamente com a chama ainda acesa, para indicar sua eternidade.

ESTRUTURAS METAFÓRICAS

É preciso dar muita atenção aos símbolos visuais. Tenho algumas sugestões sobre os principais e seus possíveis significados: a árvore (vida eterna); as danças/brincadeiras (a pericorese trinitária[6], amor, alegria); a violência e possessividade do pai; a mediação da graça (por exemplo, quando a mãe enrola o filho em uma cortina e o beija através dela, indicando que Deus está presente, embora de forma misteriosamente oculta); a luz do sol e das velas; o vôo da mãe em torno da árvore; o movimento em direção à janela do sótão (em um momento Jack, cheio de dúvidas, para de andar e fica brincando de bicicleta no meio do caminho), o vitral com a imagem de Cristo, num momento crítico do sermão do padre, e as mãos, que se repetem ad infinitum como expressões não apenas afetivas e espirituais.

Particularmente bela é a representação simbólica da fecundação e do nascimento de Jack.

Entre todas as metáforas visuais, a que representa mais diretamente o tema do diretor, e minha opinião, são os girassóis. Eles aparecem no início do filme, quando a mãe compreende o caminho da Graça, e no final da narrativa do tempo da Fé, que é encerrada com o campo de girassóis. Os girassóis representam de forma indireta a visão de Deus (pois eles estão sempre virados para o Sol), e o campo de Girassóis simboliza a “Visio Dei”, ou visão beatífica, a visão final da face de Deus profetizada em Apocalipse (o que é exatamente o tema da música de fundo, nessa cena).

A mãe, possivelmente, representa também Maria (o que é bem plausível, considerando as origens espirituais de Malick); ela é o paradigma de como o ser humano deve viver em relação à natureza e à graça, e ao tornar-se paradigma torna-se também veículo de graça e iluminação para os que a observam.

Descontando o uso idólatra potencial dessa figuração, é preciso dizer que considerar Maria um paradigma de santidade cristã e incorporação da graça, capaz de desafiar e desmascarar a escolha do caminho da natureza é algo perfeitamente compatível com a fé protestante.
 
RECURSOS DE CINEMATOGRAFIA E FUNDAMENTAÇÃO CIENTÍFICA

O filme usa a não-linearidade para criar uma instabilidade, forçando uma transcendência em relação ao tempo. Não porque Malick queira desestabilizar num sentido pós-moderno (negar que exista sentido), mas porque deseja sugerir a relatividade do tempo em relação ao eterno. e sua presença não-linear dentro da consciência humana (e não é nesse vai-e-vem que cada um de nós vivencia o tempo?).

Essa quebra da linearidade é assim um recurso poético, um modo de comunicação estética que vai além da lógica (embora não esteja em contradição com ela) para nos atingir diretamente na alma.

Malick evita a computação gráfica sempre que possível. Assim, por exemplo, toda a representação inicial da criação do universo é feita usando filmagens em alta definição e reproduções em slow-motion de manipulação de líquidos e substâncias químicas.

Aqui ocorreu uma óbvia semelhança com Stanley Kubrick em 2001: A Space Odyssey (1968), até porque Malick recorreu ao amigo Douglas Trumbull, que trabalhou nos efeitos especiais de 2001.

Além disso, houve recurso até mesmo a experts da NASA para realizar as simulações sobre a origem do cosmo. A teoria da evolução bem como os estudos mais recentes sobre as origens do altruísmo animal são empregados nas polêmicas sequências com os “dinossauros”. O filme é assim simultaneamente artesanal e cientificamente up-to-date.

Isso é, por sinal, uma das muitas evidências contra as interpretações surrealistas ou puramente psicanalíticas: essa figuração precisa e informada da história natural não é meramente simbólica ou para produzir uma impressão visual, mas para colocar a sentido da graça contra o fundo realístico da ciência moderna e vice versa. Que outra razão haveria para introduzir dinossauros no meio do filme?

Cada imagem com seus detalhes é uma obra intencional; o filme é menos produto de acasos interessantes enquanto a captura de imagens era feita[7], e mais uma sequência de pinturas.

O cinema de Malick é completamente “autoral”, como observamos antes: cada sequência é quadro, e o diretor aparece mais do que os atores.

A imagem é sempre metafórica – não só as coisas que aparecem, mas os diálogos, os eventos, etc.

Um exemplo disso é o movimento ascendente da câmera, que se repete insistentemente. A câmera sobe até mostrar o céu, quase sempre em conexão com a árvore. Com isso Malick quer reproduzir a experiência que a Catedral Gótica pretendia produzir no passado, oferecendo ao fiel uma experiência de grandeza, transcendência e ascensão, apontando para Deus. Isso fica evidente quando a própria mãe diz que Deus mora lá em cima, “no céu”.

Outro exemplo é o insistente posicionamento da câmera contra o Sol, que é mostrado atrás da árvore (como que apontando para ela), ou quando Jack retorna à sua mãe, após o roubo do lingerie da vizinha, é mostrado sempre atrás da cabeça da mãe, emulando o halo de santidade que vemos na pintura medieval.

O realismo fantástico de Tarkovski aparece no voo da mãe, na representação metafórica do ato sexual e do nascimento de Jack, e assim por diante. Nisso ele lembra a arte medieval que usava a fantasia para falar da realidade.
TRILHA SONORA

Por último, atenção para a trilha sonora organizada por Alexandre Desplat (pode ser adquirida AQUI).

Além de outras peças clássicas, há um emprego intencional do minimalismo sacro (Arvo Part, Gorecki, Tavener, e outros) que talvez revele a paridade entre o projeto de Malick e o desses compositores sacros contemporâneos, de representar o eterno na arte. (Veja um exemplo de Gorecki que aparece no filme AQUI e uma entrevista de Björk com Arvo Part AQUI).

Particularmente significativo é o recurso ao “Requiem”, a missa fúnebre. O texto do Requiem é sempre o mesmo (com origens Medievais), mas cada compositor cria uma música diferente para ele (o mais famoso de todos é, naturalmente, o de Mozart, mas muita gente não sabe que há vários Requiems).

De forma absolutamente reveladora, a criação da Natureza já é iniciada com a “Lacrimosa 2” de Zbigniew Preisner (dedicada ao grande cineasta Krzysztof Kieślowski), que é um lamento pela perdição do homem e uma oração pedindo misericórdia.

Como isso se sugere que a Natureza está desde o princípio limitada e que o homem que nela se fia está condenado.

E no final de tudo, quando chegamos ao tempo da fé e a sequência da “praia”, são executadas as últimas duas peças do Requiem, a primeira (Agnus Dei de Berlioz) dizendo “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, dê a eles descanso” (Agnus Dei qui tollis peccata mundi, dona eis requiem) e a segunda (Communion) sobre o descanso final do servos de Deus, quando eles verão a luz eterna brilhando sobre eles e encontrarão o descanso eterno (Lux aeterna, luceat eis, Domine, cum sanctis tuis in aeternum, quia pius es. Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis).

A composição da imagem do campo de girassóis com o tema da Communion representa a Visão Beatífica final.

MINHA INTERPRETAÇÃO…

Quem teve a paciência de ler todo o artigo pode estar pensando agora sobre a fonte dessa interpretação. Plágio? Informação privilegiada? Nonsense absoluto? Nesse ponto preciso lembrar a todos que a despeito da tonalidade de convicção do meu texto, trata-se apenas da minha hipótese sobre o filme. Pode estar certa, meio-certa, ou errada – muito embora eu, naturalmente, defenda que ela está em algum lugar entre “certa” e “meio-certa”!

Mas realmente penso que o centro do filme é a escolha da mãe pela Graça, mesmo diante da confusão do sofrimento, e o impacto revelador que isso tem sobre o sentido do mundo, como evidência divina, como sinal e caminho da Vida Eterna. Isso é a Árvore da Vida.

E Jack, o personagem principal, representa o homem moderno, esquecido de suas origens (cristãs), que mergulhou na “Natureza” e que já não compreende o caminho da Graça.

O itinerário autorreflexivo de Jack é o ponto de identificação e de contato pedagógico com o expectador secularizado contemporâneo, para que sua imaginação poética seja reaberta e ele próprio reconsidere o seu caminho.

Certamente Terrence Malick emerge da obra como poeta e filósofo; mas minha hipótese pessoal é que ele emerge também como teólogo natural.

Para mim, “A Árvore da Vida” é uma peça de teologia natural, que aponta o sentido divino do mundo para o homem moderno (de fato, ele pergunta e discursa sobre o problema do mal, sobre o bem, sobre a Graça e sobre o destino do mundo), mas o faz transformando a experiência visual-temporal em algo quase sacramental.

Deus é incessantemente revelado diante do espectador, de forma consistentemente indireta e sutil; mas você reconhecerá a sua presença, se já tiver escolhido o caminho da Graça.




[1] guilherme.religion@gmail.com.

[2] Curiosamente, a mãe aprendeu o caminho da Graça com seu o seu Pai, no princípio do filme; mas os pais da mãe não tem identidade temporal definida, ao contrário dos avós paternos de Jack, que aparecem com identidades humanas, desaparecem na narrativa e nunca mais reaparecem – nem mesmo na cena final da praia. Creio que eles representam a vaidade da natureza e também a perdição de todo o que nela se fixa.

[3] Quando a mãe ensina as primeiras lições a Jack, temos uma interessantíssima sequência na brincadeira com o cavalo de brinquedo em que ela diz três vezes a Jack “jump, jump, jump”, sendo que na terceira vez a palavra é pronunciada no escuro – e no momento seguinte, passamos à cena em que pela primeira vez Jack vê seu irmão, no colo.

[4] Por isso o filme abre com Jack dizendo “mother, brother” e reconhecendo que eles lhe mostraram o caminho.

[5] Talvez Malick tenha se referido à tradição mitológica antiga das “três graças”, sendo a graça central a deusa “charitas” (termo latino, do grego “Charis”, “Graça”). Essa imagem surge na tradição literária e iconográfica medieval, renascentista e barroca das com vários exemplos interessantes. Uma busca de imagens na internet revelará exemplos emblemáticos como as “três graças” de Botticelli. No fundo mitológico, a graça tem a ver com a beleza humana, a criatividade e a fertilidade. Mas Malick as transforma em símbolos teológicos com Mãe tornando-se o novo paradigma do verdadeiro significado e “graça”, relacionando-o com a fé e o amor cristão.

[6] O termo “pericorese” foi empregado pelos pais da igreja para se referir à mútua habitação das pessoas da trindade, unindo-as no que foi descrito por Santo Atanásio como uma “dança”.

[7] Com notáveis exceções como a cena da borboleta pousando nas mãos da senhora O’Brien, que foi não intencional e certamente uma dádiva providencial – eu diria

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/guilhermedecarvalho/2012/03/30/como-assistir-a-arvore-da-vida-de-terrence-malick-3/

July 08, 2014

A festa de Babette

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- Carlos Caldas

Ítalo Calvino, escritor italiano, defendeu com maestria que devemos ler os clássicos. A tese deste Calvino – que não deve ser confundido com o outro, o grave reformador francês do século XVI – aplica-se perfeitamente bem aos filmes.

Clássicos são perenes.

É o caso de “A festa de Babette”, do cineasta dinamarquês Gabriel Axel (falecido no início deste ano, aos 95 anos). Esta produção dinamarquesa ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano de seu lançamento, 1987, além de também ter sido contemplado com o BAFTA (a versão britânica do Oscar) igualmente na categoria de melhor filme estrangeiro em 1988.

O filme é baseado em um conto do mesmo título que faz parte de “Anedotas do destino”, coletânea da escritora dinamarquesa Karen Blixen. Trata-se de um drama, muitíssimo bem escrito. Eu diria que a adaptação de Axel é 95% fiel ao texto de Blixen.

Babette é uma francesa católica que chega a uma vilazinha perdida em uma ilhota do litoral da Dinamarca em 1871, fugindo da Comuna de Paris. Seu marido e seus filhos foram mortos nas confusões que aconteceram naquele conturbado momento histórico da França.

Ela é acolhida por duas irmãs solteironas, Martina e Filipa, filhas do pastor daquela comunidade (todos na ilha são luteranos). Como o pastor não teve filhos homens, o recurso que teve para homenagear os reformadores alemães foi adaptar seus nomes aos de suas filhas: Martina, em homenagem a Martim Lutero, e Felipa, em homenagem a Felipe Melanchton.

Durante anos Babette trabalha como criada na casa das irmãs, e não apenas as ajuda, bem como aos mais velhos e doentes da vila. O filme mostra com rara sensibilidade como os ilhéus viviam uma rotina que jamais era alterada. Há flashbacks nos quais se recorda a juventude das irmãs, quando ambas foram cortejadas, uma por Lorens Lowenhielm, um oficial do exército dinamarquês, e a outra por Achiles Papin, um professor de canto francês. Mas o rigoroso pai não permite que suas filhas se casem.

Anos mais tarde Babette recebe a notícia que fora contemplada com o prêmio máximo de uma loteria na França. Ela recebe um prêmio fabuloso, dez mil francos.

E aí o que ninguém sabia do passado de Babette aos poucos começa a ser revelado: ela fora a “chef” do Cafe Anglais, um dos mais requintados restaurantes de Paris, onde as cabeças coroadas da Europa se reuniam para os mais sofisticados jantares.

Babette resolve gastar o prêmio que ganhou oferecendo um jantar, que seria para comemorar o centenário do nascimento do pastor. E assim ela faz.

Os aldeões com medo do que poderão encontrar resolvem não expressar prazer nem satisfação com o jantar. Só que lá pelas tantas, algo extraordinário acontece: uma catarse, e eles publicamente começam a confessar seus pecados uns aos outros.

Esta cena no filme não é tão forte como no conto, o que é uma pena. A meu ver este é o único ponto fraco que consigo detectar na direção de Axel. Mas voltando à narrativa, eles confessam seus pecados uns aos outros, pedem perdão uns aos outros, concedem o perdão uns aos outros, e voltam para suas casas felizes como crianças.

Babette, por meio da alquimia e da magia dos prazeres da mesa e do vinho, como diria o Rubem Alves, abençoa a todos.

Há muitas possibilidades de leitura deste filme. Uma delas é interpretá-lo a partir da categoria dos estágios da vida, do filósofo também dinamarquês e luterano Sǿren Kierkegaard: o estágio ético ocupa a maior parte da narrativa, quando mostra uma comunidade onde todos são sérios, não há diversão, não há lazer, não há alegria, todos apenas trabalham e vão aos cultos aos domingos e mais nada; o estágio estético é o momento do banquete, da festa, mesmo eles fazendo um esforço enorme para negar a alegria e o prazer; e, finalmente, o estágio espiritual, a superação do ético e do estético, quando acontece a catarse coletiva, as máscaras caem, a hipocrisia e a falsidade de todos são deixadas de lado, e acontece um momento de quebrantamento, cura e redenção.

Outra possibilidade de leitura é entender “A festa de Babette” como uma metáfora da salvação pela graça, mas não conforme algumas metáforas paulinas, sendo a mais conhecida a da justificação, que aparece nos primeiros capítulos de Romanos, mas conforme alguns textos na Bíblia Hebraica – Isaías – e especialmente, textos do terceiro evangelho, onde se apresenta a salvação como festa, como banquete.

A Bíblia fala da realidade da salvação por meio de metáforas.

“Justificação pela fé”, a preferida dos protestantes clássicos, é apenas uma delas. Mas não estamos acostumados a pensar na salvação a partir da metáfora da festa.

O conto de Karen Blixen e o filme de Gabriel Axel nos convidam a pensar na história como uma ilustração do que Deus faz conosco em Cristo: assim como Babette se sacrificou para dar uma festa para quem não merecia, Deus em Cristo nos salva e nos convida sem merecimento nosso para uma festa. Os aldeões daquela ilhota são amargos, falsos, fofoqueiros, estão cheios de maldade. Mas são transformados quando criam coragem para abrir mão de seus pecados há muito escondidos.

Isaías 25.6 fala da festa que Javé oferecerá, “um banquete com coisas gordurosas, uma festa com vinhos velhos”. O tema da salvação como festa era conhecido dos judeus da época de Jesus, conforme atestado por Lucas 14.1ss e, ainda mais eloquente, Lucas 15.11,11-32. Estes textos (e outros ainda, como Apocalipse 19.7, 9) nos convidam a repensar a salvação.

O que Deus nos oferece em Cristo, sem merecimento nosso, é festa, é alegria, é banquete, é riso, é júbilo, é canto, é dança, é prazer.

Em uma única palavra: graça! 

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-festa-de-babette?__akacao=1987017&__akcnt=649ec17b&__akvkey=45d4&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Newsletter+%DAltimas+209+-+08%2F07%2F2014
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July 07, 2014

O deserto e a liberdade

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- pr. Ricardo Barbosa

Não é sem motivo que Deus, logo após libertar o povo da escravidão no Egito, os conduziu para o deserto. A passagem pelo deserto era necessária para ajudá-los a deixar para trás a mentalidade da escravidão e a compreender a nova liberdade que Deus lhes estava oferecendo. Quando damos o nosso sim a Deus, ele sempre nos conduz ao deserto.

O nosso deserto não é igual ao das areias do Neguev ou do Saara. Nosso deserto é o lugar onde somos levados a refletir sobre nossas ilusões, as expectativas infantis que nos mantêm alienados, inclusive de pessoas que amamos; os medos que mascaramos ou sublimamos em nossa busca frenética por realização e entretenimento. No deserto, não temos um caminho claro e seguro, nenhuma distração, nada que nos excite. Nele, o futuro é incerto, nos vemos vulneráveis e fragilizados, e experimentamos a força das trevas interiores do medo.

Por outro lado, o deserto é o lugar do encontro com Deus, da rendição do orgulho e da ilusão de sermos senhores do nosso destino. É o lugar da companhia divina, do silêncio diante de Deus, onde a quietude nos ajuda a reconhecer a presença dele. O silêncio que nos torna mais atenciosos à voz de Deus. Para sermos livres, precisamos nos afastar, por um tempo, do mundo dos homens para entrarmos, a sós, no mundo de Deus. Um tempo no qual as paixões, tensões, pressa, vão, lentamente, cedendo espaço para percebermos a realidade à luz da eternidade e restabelecermos o valor correto das coisas.

No deserto, reduzimos nossas necessidades àquilo que é essencial.

A enfermeira americana Bronnie Ware escreveu um livro sobre os “cinco maiores arrependimentos ou lamentos de pacientes terminais”. Depois de acompanhar por vários anos estes pacientes, ela listou aquilo que eles gostariam de ter feito e não fizeram, como: ter mais tempo para os amigos e não ter trabalhado tanto. O deserto deles trouxe uma outra dimensão de suas reais necessidades.

Na solidão do deserto, descobrimos a suficiência da graça de Deus. Teresa de Ávila (1515-1582) descreveu num poema sua experiência no deserto:

Nada te perturbe,
Nada te espante.
Tudo passa.
Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem tem a Deus,
Nada lhe falta.
Só Deus basta.


Nossa necessidade primeira é Deus. De tudo o que aprendemos no deserto, a lição mais importante é que aquilo de que mais necessitamos encontramos na comunhão com Deus. A experiência do deserto nos conduz ao auto-esvaziamento, ao desapego dos ídolos que nos oferecem a falsa segurança, e à completa submissão a Deus e aos seus caminhos. Aprendemos a ver a vida desde a perspectiva da eternidade, o que nos ajuda a colocar em ordem nossos valores.

A verdadeira liberdade nasce do deserto. Foi no deserto que Jesus reafirmou a identidade dele e seguiu livre para realizar a missão dele em obediência ao Pai. Não precisou usar nenhum artifício para se autopromover. Foi livre para fazer o que tinha de fazer, assumir a cruz e, no fim, morrer.

O deserto nos liberta dos falsos deuses, das mentiras e ilusões que nos fazem pessoas controladoras e manipuladoras. Rompe com a falsa sensação de que temos controle sobre o nosso destino. O deserto nos torna pessoas mais verdadeiras, livres, e mais conscientes de nossa total dependência de Deus.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-deserto-e-a-liberdade.

July 06, 2014

Manual de instrução para analfa

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Chérie,

você já percebeu que uma das coisas mais difíceis para uma pessoa estruturada é viver sem controle?

Só que a cada dia percebo que a vida cristã é uma das coisas mais desestruturadas que existem!

Dureza que um dos erros mais comuns para quem acredita que a Bíblia é o manual do Arquiteto é encarcerar a Palavra aos nossos tacanhos conceitos (é mais seguro e cômodo seguir regras, classificar o-que-pode-e-o-que-não-pode).

Mas para Deus reinar soberano em nossas vidas é preciso estar atento, quieto, humilde, aberto para receber e obedecer o que Ele quer dizer, e não o que achamos (ou queremos) ouvir.

O humilhante é que, conforme a gente cresce, mais se dá conta de que o Espírito Santo trabalha com liberdade (lembre-se: Ele é como o vento; ninguém sabe de onde, nem para onde vai).

Só taleban simplifica e acha que tudo deve ser seguido ao pé da letra (ninguém consegue, claro).

A verdade é que quanto mais conscientes estamos da presença e santidade de Deus, mais percebemos o quão distantes estamos do Seu padrão (e as leis mostram exatamente isto: são impossíveis de serem cumpridas por nossa livre e espontânea vontade).

O que nos resta é a plena, pura e total dependência dEle.

Por isto, meu amigo, minha amiga, se você acha que sabe alguma coisa, sinto dizer que você não sabe nada.

Não tem ideia do que estou falando?

Vai lá e depois a gente conversa: 1 Coríntios 1: 27-29.

Bjs,

KT

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=40_QRjjAvTA
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July 05, 2014

Quando o amor nos escolhe

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-  Raul Drewnick

Se o amor optar por você, prepare-se. Jamais você será o mesmo. Nem sua mãe, nem seus irmãos, nem seus amigos de infância o reconhecerão. Se lhe disseram que o amor é aquele sentimento que nos realiza e nos perfaz, ouso dizer que mentiram para você. O amor nos divide, nos retalha, para melhor nos dominar.

Eu nunca vi direito os olhos do amor. Você viu? Ninguém os viu, nem verá. Ninguém sabe qual é a cor deles. Eles não nos olham depois da primeira vez, quando sorrateiramente nos escolhem. Desde o momento em que somos escolhidos, pertencer ao amor é a nossa ventura. Tão docemente ele nos aflige, tão docemente ele nos atormenta, que nós nos afligimos e atormentamos ao menor receio de um dia nos faltarem essa aflição e esse tormento.

Se lhe disseram que o amor é diferente disso, que ele é um lago de águas tranquilas, jamais visitadas pelo vento, e você acreditou, pode continuar com seu cineminha das quartas, seu teatrinho mensal, suas leituras de folhetos para programar as férias, seus beijinhos protocolarmente estalados depois do café da manhã e seus carinhos contados, aqueles exatos que servem como aquecimento para o exercício noturno depois do qual vem o sono tranquilo dos corpos satisfeitos.

Se lhe disseram que o amor é essa rotina, essa ginástica, e você acreditou, pode continuar com elas. Mas se o amor, o verdadeiro, aquele único, pelo qual vale fazer tudo e a tudo renunciar, optar por você, prepare-se para a angústia da carne e o flagelo da alma, para a solidão, para a cama revirada pela insônia, para as lágrimas que os outros, aqueles pelos quais o amor não optou, chamam de ridículas.

Fonte: http://blogs.estadao.com.br/escreviver/quando-o-amor-nos-escolhe/
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July 04, 2014

Chacoalhão de amor

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Chérie, como está?

No clima do jogo da Copa rsrsrsr?

Bom, sei que apesar da pausa, a vida tá corrida, que em momentos punks tudo o que a gente mais quer é colo; só que nem sempre o que a gente precisa é de uma passada de mão na cabeça mas de um chacoalhão de amor.

Assustou?

Eu também...

Mas amigo é para isto. Para falar a verdade.

Porque quer o seu bem. Porque se importa.

Porque quer o melhor para vc.

Por isto compartilho com vc uma mensagem do Paul Washer que acabei de ouvir e que vale muuuito a pena: https://www.youtube.com/watch?v=8Ax7b-B24Ow

Para refletir, avaliar e fazer diferença.

Bom finde ; )!

Com amor,

KT
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July 03, 2014

O animal que nos tornamos

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- José Miranda Filho

Em um livro (“That Hideuos Strength”, de C. S. Lewis) encontrei um debate entre um homem e uma mulher sobre uma cena onde um gatinho dormia tranquilamente no colo de um urso. A mulher dizia que eles tinham carinho um com o outro enquanto o homem dizia que isso era apenas uma questão de interesse mútuo, que não havia essa questão de afetos entre animais. Consultado sobre o assunto, o mestre deles falou:

“Você tem que se tornar humano antes dos desejos físicos serem diferenciados de afeição, da mesma forma que você tem que ser tornar espiritual antes das afeições serem diferenciadas de amor”.

A beleza que vi na observação é que o autor ressalta a distinção entre animal, homem animal e homem espiritual. No animal, ele coloca o atendimento das necessidades básicas como objetivo principal da vida, deixando de lado questões morais e afetivas. O ser humano animal (químico e biológico) também teria essas necessidades, acrescidas da afetividade que, em alguns casos poderiam ser mais importantes que as carências físicas. O homem espiritual estaria noutro patamar. Ele seria capaz de amar, se dar, deixar de lado suas carências em função de outro ser.

Num outro livro (“The Princess and Curdie”, de George MacDonald) encontrei um trecho onde uma velha princesa manda um menino colocar as mãos em um fogo especial. Após muita dor, o menino adquiriu a capacidade de, apenas pegando na mão de alguém, identificar se a pessoa seria realmente humana ou apenas algum tipo de animal com corpo e linguagem humana.

Nesse texto a princesa diz que há pessoas que estão caminhando para serem animais (cada vez menos amor e cada vez mais desejos físicos), enquanto que outras estão sendo cada dia mais gente e menos animal. Perguntada se não seria bom avisarmos aos que estão se animalizando sobre o que estava acontecendo, ela respondeu que pessoas que caminham para serem animais não percebem isso e se ofendem ao serem informadas.

Meditando nesses textos e olhando ao meu redor (e para dentro de mim), vi que concordo com os autores. O parâmetro comparativo entre animal e homem, nessas questões, não é de inteligência ou sofisticação. O homem tem ficado cada vez mais elaborado na arte de convencer (marketing), de inventar e de embalar o que quer vender. Na outra ponta, os alvos dessa propaganda estão cada vez mais sendo influenciados e mais sujeitos a agirem conforme a imagens que lhes são vendidas (cada vez mais manipulados ou “adestrados”). Em minha opinião, as intenções das pessoas estão cada vez mais dirigidas para seus próprios interesses. Nesse sentido acho que estamos nos tornando como os gatos: sagazes, espertos, “carinhosos” às vezes, mas em boa parte voltados para nós mesmos. Ou seja, muitos caminhando para serem “animais”, educados, politicamente corretos, atenciosos, mas centrados em seus próprios interesses.

Quanto à questão do “homem espiritual”, queria aqui distinguir o ter rituais espirituais (prática externa com intenções predominantes de buscar solução para nossos problemas e desejos) do ser espiritual (internamente, com disposição mental voltada para o próximo, capazes de se compadecer e sacrificar-se em prol de alguém). Nesse sentido tenho a sensação de que não são muitas as pessoas espirituais. “Poucas pessoas espirituais” significa dizer que há poucas pessoas com capacidade de abnegação e serviço desinteressado. A consequência é desagregação, fraqueza no tecido comunitário, alta exposição às rupturas relacionais.

Diante dessas percepções (pessoais) acho que estamos cada vez mais coletivos (unidos em torno de objetivos comuns e circunstanciais, mas sem relacionamentos comprometidos com a pessoalidade) e menos comunitários (compartilhadores, comprometidos com o próximo, altruístas).

Observando as campanhas eleitorais e as diferentes manifestações de setores da sociedade, posso perceber que, quanto à escolha do voto, predomina a agenda pessoal de cada um enquanto que os interesses da nação são destacados pela minoria.

Os lares hoje, ao que me parece, também estão sendo formados por agendas pessoais, sem muita disposição de sacrifício do indivíduo pelo relacionamento. Talvez por isso o índice de separação esteja aumentando.

Peço a Deus que nos ajude a não termos uma nação de “pessoas adestradas”, que fazem qualquer coisa que o sistema pede para ganhar sua recompensa de “bom garoto”. Anseio ver muitas pessoas movidas por convicções internas, por valores e pela compaixão, não atraídas pelas iscas que são o dinheiro, o sucesso, a beleza física, o sexo, o poder.

Quanto a isso, porém, só me resta esforçar-me para fazer minha parte e esperar o milagre.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-animal-que-nos-tornamos

July 01, 2014

Socorro

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“Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade.”
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Hebreus 4:16

- Mario Fernandez

Quando os momentos se tornam duros, enfrentamos tempestades, nos falta amparo, a angústia parece interminável, o desespero bate à porta do coração… Esses são os momentos de necessidade, de tribulação e de apuro. 

Nestes momentos, que podem ser muito curtos ou dolorosamente longos, as pessoas demonstram quem são diante de Deus de diferentes formas. 

Existem aqueles que forçosamente buscam em si mesmos o socorro, ignorando que é Deus quem governa sentado no Trono do Universo, às vezes de forma inconsciente, menosprezando o Seu socorro. São as pessoas que se esforçam mais e oram menos quando a situação se torna pesada. Eu não gosto de julgar ninguém, mas isso me parece atitude de uma vida velha, não da Nova Vida em Cristo que é marcada por atitudes espirituais mais do que por esforço. Não que devamos nos jogar no tapete e chorar, mas esforço humano nenhum derruba ou segura um fio de cabelo sem a mão do Altíssimo intervindo. Não é a melhor conduta, certamente. 

Já outros, de outra forma, lembram-se que Deus existe depois de tanto tempo de um relacionamento formal e religiosos. Agem como se Deus fosse apenas seu provedor de soluções para situações de emergência e provavelmente, na maioria dos casos, vão acabar se esquecendo dele novamente quando a situação se acalmar. É de grande mérito orar mais, mas é demérito diminuir depois. Não sou especialista no assunto, mas invariavelmente quem conheço com este perfil não tem a mesma intensidade para agradecer depois, como teve o vigor para buscar e pedir. Sinceramente não quero ser contado com estes. 

Outros, contudo, são os que praticamente não mudam de atitude pois seu estilo de vida já é marcado por estar continuamente aos pés do trono do Todo Poderoso. Muda sua forma de buscar socorro? Muda sua confiança ou sua fé? Muda seu tempo de oração? A resposta é “não” ou “muito pouco”. Estes são os que demonstram Novidade de Vida para dar e vender. Tenho certeza de que são os que mais agradam ao Pai com seu estilo de vida, ainda que não sejam perfeitos e vacilem de vez em quando. Mas nunca esperam ficar doentes para clamar por saúde nem oram menos para agradecer do que oraram para pedir. Estes são a minha inspiração e meu referencial. 

Seja como for o nosso cotidiano, devemos retomar o senso de sagrado com nosso tempo devocional, pois do contrário não teremos justamente o que o versículo fala: “confiança”. Vamos nos aproximar do Trono como estranhos buscando ajuda de um governante que nos é estranho. Por Altíssimo que Ele seja, é nosso Pai. Se não desenvolvermos essa intimidade no dia a dia, não vai ser no dia da angústia que seremos atendidos. Novidade de Vida, irmãos, com total certeza, é uma caminhada que já começou. Quando a tempestade vier, pode mudar o pedido mas não muda a intensidade.

“Senhor, o que eu mais quero é ser Teu conhecido íntimo, pois o tempo de necessidade certamente virá sobre mim. Quero ser encontrado pela tempestade ao pé do Teu trono.” 

Fonte: http://www.ichtus.com.br/dev/2014/06/30/novidade-de-vida-socorro/
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