June 30, 2017

Machado de Assis, o profeta Oseias e o amor

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- Jénerson Alves

Se estivesse vivo, o maior escritor brasileiro completaria 178 anos em junho. Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839, na cidade do Rio de Janeiro – que, na época, contava com cerca de 300 mil habitantes. Mais do que um hábil autor, Machado de Assis é exemplo de uma pessoa que deu a volta por cima. Filho de um pintor mulato e de uma lavadeira portuguesa, não realizou seus estudos regulares. Além das condições sociais, ele precisou enfrentar adversidades de ordem fisiológica, tendo em vista que era mulato, gago e epilético.
Porém, um dos fatos que mais chama a atenção em sua biografia é o amor vivenciado em seu matrimônio. Em 1869, casou-se com Carolina Xavier de Novais, com quem passou quase a vida inteira. Ela era portuguesa e quatro anos mais velha do que ele. O casal não teve filhos. Carolina faleceu em 1904, com 69 anos de idade. Devido à morte da esposa, Machado foi tomado por uma grande tristeza e saudade. Conta-se que ele manteve a casa do mesmo jeito que era quando ela estava viva. E fazia as refeições sempre com dois pratos à mesa. O escritor morreu em 1908, curiosamente também com 69 anos.
Do ponto de vista literário, Machado de Assis é a mais proeminente figura do Realismo – escola literária caracterizada pelo racionalismo e por uma análise descritiva dos problemas da vida. Uma das marcas do estilo de Machado é a ironia, entrecortada por um humor velado, como pode ser conferido em ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, publicado inicialmente em 1881. Ele consegue perscrutar a hipocrisia da elite carioca e, assim, adentra nos porões da existência humana, abordando assuntos intrínsecos a todos os homens.
Observando a vida e o legado do escritor, é possível fazer uma relação com um dos profetas menores do Antigo Testamento. No oitavo século antes de Cristo, o profeta Oseias apontava a hipocrisia do povo de Israel, que estava em declínio moral e espiritual. Ao contrário da sutileza dos textos machadianos, o livro bíblico apresenta um tom objetivo, em consonância com o fator profético da obra.
Assim como Machado de Assis amou Carolina intensamente, o profeta Oseias amou sua esposa, Gômer, de forma extraordinária. Tanto é que teólogos como Eugene Peterson chamam-no de “profeta do amor”. Como é de amplo conhecimento, Oseias tomou sua esposa de um ambiente de imoralidade e tornou-a a mãe de seus filhos. A relação de ambos é considerada uma metáfora da relação de Deus com Israel. Da mesma forma que Gômer traiu o profeta, o povo de Deus traiu o Senhor.
É impressionante, ainda, como esta situação pode ser aplicada aos dias atuais, sobretudo no contexto brasileiro. A máscara da hipocrisia esconde a face machucada de uma sociedade doente. As chagas de um povo massacrado pelo pecado – manifestado em suas mais variadas vertentes – gera nódoas irreversíveis, mas ocultadas por falsas liberdades. Envolvida em uma redoma de aparente prosperidade, a Igreja envereda pela infidelidade.
Diferentemente do que houve nos tempos do Velho Testamento, carecemos de vozes proféticas que se levantem, denunciando o pecado pelo seu nome, mas também ressaltando que o anseio do Senhor é salvar, não condenar. Afinal de contas, como Oseias não se envergonhou de mostrar seu amor pela esposa, não podemos esquecer que Deus amou o mundo e deu Seu único filho para que, ao crer nEle, todos tenham vida plena e eterna.
Para que aconteça uma verdadeira transformação no Brasil atual, talvez seja necessário que surjam “Oseias modernos”, emoldurando com amor divino a narrativa do tempo presente. Convém, então, orarmos com o mesmo sentimento de Machado de Assis, ao escrever o poema ‘Fé’:
No turvo mar da vida,
Onde aos parcéis do crime a alma naufraga,
A derradeira bússola nos seja,
Senhor, tua palavra.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/paralelo10/2017/06/machado-de-assis-o-profeta-oseias-e-o-amor/

June 28, 2017

Como não orar

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- Carlos Queiroz

E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem. [Mateus 6.7-8]

Vimos que os hipócritas se expressam com arrogância e buscam publicidade pessoal. Eles oram em pé nas esquinas das praças e nas sinagogas para serem percebidos pelas pessoas. Os gentios, por sua vez, apelam para a crença em seus métodos e artifícios de manipulação e controle de suas divindades – “… pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos…”.

Estamos considerando gentio os religiosos que se relacionam com o mundo sagrado com a concepção de que são capazes de dobrar as divindades para atenderem seus interesses e expectativas.

O primeiro aspecto – Nesta parte, falamos sobre os agentes da religião, aqueles que tomam as decisões e controlam o espaço religioso. No espaço religioso idolátrico, como os devotos serão ouvidos se o ídolo não tem audição nem inteligência?

O segundo aspecto – Aqui, explicamos algo sobre as crenças ou técnicas de manipulação que os devotos ou os empreendedores mágicos das religiões presumem possuir nos monólogos de oração às suas divindades. Neste caso, estamos considerando a oração um monólogo, porque o ídolo tem boca, mas não fala.

OS AGENTES DA RELIGIÃO E O ESPAÇO RELIGIOSO IDOLÁTRICO

Toda religião depende de três agentes principais para o seu funcionamento: a) divindade(s), b) sacerdote(s) ou especialistas da religião e, c) devotos. Os demais elementos são desdobramentos da criatividade dos especialistas e dos devotos da religião. Eles vão criando lugares e elementos ou símbolos de poder, utilizados exclusivamente pelos empreendedores do negócio religioso.

A religião, como uma expressão social, possui outros aspectos – desde sua representatividade pública, estrutura organizacional, hierarquias, conjunto de ensinamentos referentes à doutrina religiosa até questões morais e éticas. Aqui, refletiremos somente sobre os três agentes referidos acima: a divindade, o sacerdote e os devotos.

O ídolo não tem inteligência nem vontade; consequentemente, os sacerdotes ou agentes mágicos da religião e seus clientes dominam e controlam os seus interesses e propósitos. Os devotos ou clientes oram entendendo que possuem poder suficiente para dominar suas divindades. Fazemos aqui um pequeno resumo sobre religião e idolatria para que se entenda melhor qual o esquema de oração dos gentios ou idólatras.

A divindade inanimada nada controla

A divindade é indispensável no campo religioso. Ela é um elemento fundante, mesmo que não seja fundadora da religião. Quem dá origem à religião e a organiza é o especialista religioso (sacerdote, agente mágico) na interação com os devotos.

Sem a crença no sobrenatural não acontece o fenômeno religioso. Estou denominando de sobrenatural a crença posta em coisas, doutrinas ou construções imaginárias, como se elas tivessem poder para realização de fenômenos paranormais. Ou a tentativa de transformar em objetos concretos percepções subjetivas anteriores aos objetos ou símbolos representativos de tais percepções, de modo que a idolatria é anterior ao ídolo.

O ídolo é apenas a materialização da imaginação construída. No campo religioso, o ídolo é uma espécie de simulacro de divindade, ou melhor, é uma tentativa de tornar concretas as percepções imaginárias das pessoas a respeito da divindade.

Assim, a divindade representada em coisas palpáveis, visíveis – mesmo que inanimadas –, passa a ser o objeto de veneração dos devotos, sob o controle e manipulação do sacerdote ou agente mágico do ambiente religioso.

Como na idolatria as divindades são uma criação ou projeção das experiências e desejos humanos, as pessoas existem antes de seus deuses, razão pela qual, na Bíblia, os ídolos são identificados como seres inanimados. Não veem, não cheiram, não andam, não se comunicam etc., e tanto o sacerdote quanto o devoto têm controle e domínio sobre eles.

 Fruto da invenção imaginativa das pessoas e elaborados a partir de realidades objetivas anteriormente conhecidas, podemos identificar os ídolos visíveis ou primitivos, representados por objetos, figuras humanas, animais, elementos da natureza etc.. – “objetos sagrados”; e os ídolos modernos, representados pelas ideologias, esquemas religiosos, pela “mão invisível do mercado”, por um poder político etc.

Ídolo visível – divindade materializada em objetos sagrados

Não é a sacralidade do objeto religioso que define a idolatria e sim a forma como os seres humanos se relacionam com tais representações. Quando se dá ao objeto o reconhecimento de poder sobrenatural, está estabelecido aí o DNA para a idolatria visível. Diante dessa crença, se fazem oferendas, sacrifícios, preces, trocas de favores, na expectativa de que a divindade escute e reaja aos apelos dos devotos.

Veremos mais adiante que, na prática, essa é uma relação entre os clientes e os empreendedores da religião e não entre o ídolo (objeto inanimado) e as pessoas.

O modelo de idolatria visível é denunciado por Moisés, Isaías e outros profetas:

Portanto, tenham muito cuidado, para que não se corrompam fazendo para si um ídolo, uma imagem de alguma forma semelhante a homem ou mulher, ou a qualquer animal da terra, a qualquer ave que voa no céu, a qualquer criatura…  [Deuteronômio 4.15b-18]

O ferreiro apanha uma ferramenta e trabalha com ela nas brasas; modela um ídolo com martelos, forja-o com a força do braço. Ele sente fome e perde a força; passa sede e desfalece. O carpinteiro mede a madeira com uma linha e faz um esboço com um traçador; ele o modela toscamente com formões e o marca com compassos. Ele o faz na forma de homem, de um homem em toda a sua beleza, para que habite num santuário. [Isaías 44.12-13]

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato/2017/06/30/como-nao-orar-oracao-e-idolatria/

June 24, 2017

Respirar fundo acalma o cérebro

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- Suzana Herculano Houzel

Nervoso? Ansioso? Respire fundo e devagar. A respiração lenta e controlada, integral à prática do yoga e da meditação e tão presente na psicologia popular, às vezes é menosprezada por quem recebe o conselho para ajudar a se acalmar. Mas um estudo mostra que existe de fato um circuito que liga a frequência da respiração ao nível de alerta do cérebro.

Respirar não é opcional: manter-se vivo requer inspirar e expirar, ciclicamente, do nascimento até a morte, cerca de 550 milhões de vezes em uma vida de 70 anos -sem precisar pensar no assunto. É ao mesmo tempo perturbador e libertador pensar que a função é desempenhada dia sim e dia também, esteja você acordado ou dormindo, por apenas alguns milhares de neurônios no bulbo cerebral, na base da sua cabeça.
No camundongo, uns três mil desses neurônios formam um núcleo chamado jocosamente de complexo pré-Bötzinger (o nome não é homenagem a ninguém, mas uma brincadeira com o fato de tantos outros serem), ou CpB para os íntimos. Da atividade auto-organizada por esses poucos milhares de neurônios surge o ritmo da inspiração, como crianças de mãos dadas brincando de senta-levanta seguindo ordens de ninguém em particular, mas de todos ao mesmo tempo (eu falei que era perturbador).

Dos 3 mil neurônios, 175 têm um papel particular, segundo um estudo americano: ativam o locus coeruleus, nome chique em latim para o "lugar azul" do cérebro devido à abundância de noradrenalina produzida ali, de coloração azulada, e despejada cérebro e medula afora.

É o locus coeruleus que nos deixa atentos e com músculos tensos, prontos para a ação. Quanto mais noradrenalina libera, mais ficamos alertas e crispados. Com atividade demais, o alerta é tanto que começa a ser contraproducente, chegando à angústia e dor muscular. Não é surpresa, a esta altura, descobrir que só adormecemos quando o locus coeruleus é completamente silenciado.

Esses 175 neurônios, portanto, atrelam o nível de alerta cerebral à respiração: qualquer acontecimento que acelere a respiração nos deixa automaticamente mais atentos e alertas, do exercício ao estresse. Ficou ofegante, ficou alerta também.

E é que o inverso também é verdade: respirar lentamente, reduzindo de 12 a 20 para talvez apenas entre cinco e seis o número de inspirações por minuto, é capaz de reduzir ao menos pela metade o estímulo que o locus coeruleus recebe do CpB, e assim acalmar corpo e mente.

Não é mágica: é neurociência.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/suzanaherculanohouzel/2017/04/1878209-respirar-fundo-acalma-o-cerebro.shtml

June 23, 2017

O vício é fácil e a virtude, dificil; destruir é mais facil que construir

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- Francisco Daudt

Corrupção não é apenas roubo, suborno, propina, trapaça, compra e venda de autoridades, enfim, todo esse desfile de horrores a que temos assistido ultimamente. Corrupção também significa apodrecimento, deterioração, decadência, desagregação, aquilo que acontece com os cadáveres e com as casas que não recebem manutenção. 

Há um interessante documentário, "O Mundo Sem Ninguém" ("Life After People"), que mostra o que aconteceria ao planeta se os humanos desaparecessem de uma hora para outra: em poucas décadas as construções e outros vestígios de nossa passagem estariam corrompidos pela água e pelas plantas, seguindo a lei física da entropia que tudo conduz à geleia geral.

Da mesma maneira que acontece com a corrupção, o principal significado de vício não é a adição a substâncias psicoativas, mas sim a tendência a praticar atos nocivos ou indecorosos. A tendência a corromper, a danificar, a destruir. A tendência ao mal. Em termos estéticos, o ato vicioso é deforme, decadente, feio, repugnante.

Por contraposição, a virtude é a conformidade com o bem, com a excelência moral ou de conduta, é dignidade, é construção, pois o ato virtuoso é edificante, estruturante. Em termos estéticos, o ato virtuoso é belo, admirável, inspirador.

Agora vem a pior parte: o vício é fácil e a virtude é difícil. A inércia é viciosa; a virtude é trabalhosa. 

Largados, enfeiamos, engordamos, amolecemos, deterioramos. E todos sabemos o investimento que significa estar em forma, cuidar-se. Destruir é infinitamente mais fácil que construir. Qualquer idiota quebra os vitrais de uma catedral e a deixa emporcalhada com pichações em dois minutos, enquanto ela levou séculos de trabalho árduo, de inteligência e de arte aplicadas para ser erguida.

Não há dor maior do que a perda de um filho jovem por acidente ou crime: em um segundo esvanecem-se anos de dedicação, noites insones, amor, zelo, carinho, milhares de pequenos atos virtuosos que investimos naquele ser.

Ou seja, o vício sempre sai em vantagem sobre a virtude, pois ele conta com a tendência natural ao menor esforço, ao enriquecimento rápido, à euforia instantânea, ao imediatismo, ao princípio do prazer barato e raso.

É como se a virtude fosse sempre resultado de uma decisão consciente e de um empenho esforçado, enquanto o vício precisa de muito pouco para prosperar. Ele é como a gravidade no castigo de Sísifo: está sempre à espreita, esperando o momento em que paramos de empurrar a pedra ladeira acima para entrar em ação.

E a virtude? Conta-se que um frade perguntou a dois pedreiros o que faziam durante a construção da Notre Dame de Paris. O primeiro disse que assentava uma fileira de tijolos. O segundo olhou em êxtase para o céu e respondeu: "Construo uma catedral!"

Para que a virtude prospere precisamos ser os dois pedreiros ao mesmo tempo: persistentes em nossos pequenos atos virtuosos de cada dia, assentando tijolo por tijolo, dente escovado e banho tomado, sabendo que amanhã tudo recomeça. E precisamos ter em mente a beleza de nossa catedral, a felicidade de nossos filhos, a integridade de nosso país.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/franciscodaudt/2017/05/1886816-o-vicio-e-facil-e-a-virtude-dificil-destruir-e-mais-facil-que-construir.shtml

June 22, 2017

Como não ser guiado pelo presente

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- Suzana Herculano Houzel

Os livros escolares ainda apresentam o cérebro como uma estrutura que detecta estímulos e produz respostas a eles. Se fosse só isso, não passaríamos de uma versão vitaminada de bactérias – que, mesmo sem um sistema nervoso, ou sequer neurônios, já que são seres unicelulares, são perfeitamente capazes de detectar e responder a estímulos. Bactérias também têm comportamento. O cérebro, quem diria, é dispensável neste sentido.

Isso não quer dizer que o cérebro é inútil –muito pelo contrário. Enquanto bactérias e outros seres, até mesmo os dotados de um sistema nervoso simples, são fadados a viver no presente, seguindo rumos ditados pelo ambiente e seus acontecimentos, nós que temos um cérebro desfrutamos de uma propriedade libertadora: formamos nossos próprios pensamentos, capazes de guiar nossas ações e torná-las independentes do que se passa ao nosso redor.

É claro que pensar sobre a realidade ofertada pelos sentidos, e ajustar nossas ações a ela, é importante. Mas ao menos igualmente importante é poder divagar, passear por pensamentos desconexos, puramente internos. Tais ações puramente mentais são, como as ações musculares, também produto do funcionamento do cérebro. Elas têm origem, contudo, em partes do cérebro que não respondem a estímulos externos – na verdade, são partes do cérebro que se tornam menos ativas quando voltamos nossos pensamentos para o mundo exterior. Por isso, essas regiões do cérebro levaram mais tempo a ser descobertas, mas hoje têm nome: elas formam, em conjunto, a rede de "funcionamento padrão" do cérebro – default functions, no original.

O nome foi dado por seu descobridor, o neurocientista Marcus Raichle, da Universidade Washington em Saint Louis, EUA. Felizmente, o que no começo foi controverso – afinal, media-se até então o aumento da atividade de partes do cérebro durante tarefas, e não se esperava que nada diminuísse – logo se tornou um campo de pesquisa intensa.

Hoje se sabe que a atividade das partes do córtex cerebral que compõem a tal rede padrão, um circuito altamente interconectado entre seus próprios membros e outras partes do córtex, envolvidas com representações do estado e posição do corpo bem como nossas memórias, confere integridade e continuidade à atividade do cérebro, e portanto à mente. Graças a essa rede, sempre ativa enquanto estamos acordados, podemos nos retirar mentalmente do mundo e pensar em nós mesmos: refletir sobre nosso passado e fazer planos para o futuro, não importa o que esteja acontecendo ao nosso redor.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/suzanaherculanohouzel/2017/04/1874403-como-nao-ser-guiado-pelo-presente.shtml 

June 20, 2017

Quanto maior for a insegurança, melhor

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Chérie,

quanto maior for a sensação de segurança e autoconfiança, pior é.

Sinal de que provavelmente você ligou a vida no piloto automático e as chances de errar são maiores (sim, a soberba precede a queda).

Enquanto houver receio e frio na barriga, que bom ; ).

Significa que você depende do Pai e está no caminho certo.

Bora,

KT

PS- Óia: http://emais.estadao.com.br/blogs/querido-leitor/autoconfianca-e-como-sal-tem-que-acertar-a-mao-pra-nao-desandar/
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June 19, 2017

A beleza do amanhã

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Chérie,

acabei de voltar de uma palestra no MAM e confesso que fiquei desapontada pois o tema era tão bacana e rico, e infelizmente não souberam explorar (ou eu que não estava na vibe, vai saber) hahah.

Para mim sustentabilidade é mais do que reciclar embalagem ou cuidar do meio ambiente (coisas físicas e tangíveis), mas viver de maneira holística integrando corpo, alma e coração.

Ou seja, tem de abarcar pensamento, sentimento e emoção (sim, é preciso aprender a perdoar e a reciclar ressentimentos).

Porque beleza é mais que cosmo (maquiagem) - é bondade; é caráter.

E mais: a beleza não é para amanhã, mas começa aqui e agora.

Como Vinícius de Moraes já dizia (e a Palavra de Deus mais antes ainda), ela é infinita: precisa ser a mesma hoje, ontem e para sempre.

Bom, agora a bela adormecida vai capotar hahah.

Bjs e oyassumi zzz...

KT
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June 18, 2017

O medo do futuro é um prato cheio para o diabo

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- Gabrielle Greggersen

Screwtape, personagem de C. S. Lewis em Cartas de um diabo a seu aprendiz, como a obra foi traduzida para o português, gosta de previsões de futuro. Ele é uma espécie de representação do Diabo, para o qual Lewis criou um neologismo da combinação de screw (parafuso, torcer, parafusar, distorcer) e tape (fita adesiva).

O livro é uma coleção de cartas desse diabo-mor a um demônio-aprendiz, que é seu sobrinho e está infernizando a vida de um rapaz — que se converte no meio do caminho — com instruções de como levá-lo ao mau caminho. (Estou atualmente no projeto da Thomas Nelson do Brasil de nova tradução do livro que sairá ainda esse ano.)

O diabo até admite, em uma de suas cartas para o seu sobrinho, Wormwood (worm-verme; wood-madeira, uma espécie de cupim – outro neologismo, bem como todos os demônios que aparecem na obra), que é muito interessante fazer o paciente viver no passado também. Mas o passado tem a desvantagem de fazer o paciente revisitar coisas que já viveu e assim, levá-lo à reflexão e quem sabe até mesmo a uma coisa muito trágica para o inferno, que é o arrependimento, pois aproxima o paciente do Inimigo, que é Deus. Boas lembranças também são um perigo.

Então, se não é possível fazê-lo viver no passado puramente no sentido da amargura e do ressentimento, então é melhor projetar e focar sua atenção no futuro, quer seja o positivo, quer o negativo.


Vejam como a tradução da Martins Fontes o coloca: Nós, no entanto, queremos um homem atormentado pelo Futuro – assombrado por visões de um céu ou de um inferno iminentes sobre a Terra (e pronto a desobedecer às ordens do Inimigo no presente, se ao fazê-lo ele acreditar que poderá obter o céu ou evitar o inferno) – e dependente por sua fé no sucesso ou no fracasso de planos cujo objetivo ele não viverá o suficiente para presenciar. (LEWIS, 2009, p.76)


Realidade versus fantasia

Ou seja, quer sejam idealistas ao extremo, quer sejam alarmistas, as projeções de futuro são interessantes para o diabo, pois elas nos fazem “chocar ovos que ainda não foram postos”, como diz um velho provérbio alemão. Em outras palavras, é viver mais da fantasia do que da realidade dos fatos.

Por mais que eu defenda a imaginação em minhas palestras e artigos, é aí precisamente que se encontra o seu limite: quando ela é usada como “substituto” (como sugere o termo técnico em filosofia “Ersatz” do alemão) da realidade. Quando a imaginação é usada para substituir a realidade, ela passa a ser fantasia, ou seja, uma manipulação da realidade. Não é para menos que uma das maiores diversões de Screwtape é nos fazer desviar da realidade, que está encharcada de pegadas do Inimigo.


O medo das más notícias 

Hoje esse tipo de desvio é realizado principalmente através da mídia, tanto a de entretenimento, quanto a de notícias, mas também, pasmem, por meio das igrejas, principalmente no que diz respeito a alertas de fim-de-mundo. Mas não só nas igrejas, as notícias que temos ouvido ultimamente, não importa de que lado venham, principalmente a respeito da situação atual do Brasil, mas também do mundo, são tão “apocalípticas” e manipuladas, que mal sabemos distinguir realidade de ficção. 

As informações que recebemos de todos os lados parece que foram feitas para nos confundir e meter cada vez mais medo. Pois não são só os fatos que metem medo, que, por sinal, são cada vez mais terríveis, mas a própria insegurança a respeito deles.

Temos insegurança com relação aos meios que nos trazem os fatos, ou pretendem trazê-los, que são cada vez mais diversificados e sofisticados. 


Não sabemos mais, se damos mais atenção às informações trazidas pelos jornais ou pelas rede sociais e ficamos atônitos, principalmente no Brasil, com a diversidade de versões e interpretações existentes daquilo que acontece a cada dia, sendo muitas delas sofisticadamente forjadas. 

E assim, a bola de neve vai se agigantando, de modo que temos cada vez mais casos de ansiedades, depressões e suicídios, os quais são todos primos do medo, até nos meios cristãos.

Por isso é que a contra estratégia para enfrentar Screwtape é a concentração, o foco, não se deixar distrair pelas muitas vozes e apelos, por mais sofisticadas as técnicas de marketing e publicidade empregadas. E concentrar-se em quê?

Primeiro, noutro palavrão para Screwtape, com o qual ele não consegue se conformar e que não consegue entender de jeito nenhum: o amor.


Não é para menos que 1 João 4.18 diz: “No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor.” (NVI)


Depois, no próprio presente, do qual o Screwtape foge “como o diabo foge da cruz”. “Desvie o paciente para o passado ou para o futuro, de preferência para o futuro,” diz Screwtape, “mas afaste-o a todo custo do presente, onde Deus atua”.


Pois é aí, no presente, que o amor de Deus se manifesta e a partir de onde teremos uma visão clara, tanto do passado, quanto do futuro, mas não de forma saudosista e fantasiosa, mas realista. (Confundir o ser humano quanto à palavra “realidade” e “real” é outra estratégia importante do inimigo, muito associada a essa, que merece outro artigo).


Aí eu me lembro de Paulo, que diz em Filipenses 3.14b-15, passagem essa que Deus esteve e está usando para tocar e transformar minha vida profundamente nos últimos meses e no presente: “esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” (NVI)


Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-medo-do-futuro-e-um-prato-cheio-para-o-diabo

June 16, 2017

Não furtarás

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O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios. (Os 4.2.)

- William Lane

Pessoas que vão a uma delegacia dizer que seu carro foi roubado podem ser surpreendidas ao ouvir o oficial dizer: "não, seu carro não foi roubado, foi furtado". 

É que roubo é o ato de levar algo de alguém mediante ameaça, e furto é o ato de apoderar-se de algo às escondidas. Essa sutil diferença de significado entre as duas palavras na linguagem policial faz pouca diferença para a vítima. 

Ser roubado ou furtado gera a mesma sensação de insegurança nas pessoas. 

Mas quando lemos o oitavo mandamento — "Não furtarás" —, precisamos nos perguntar: - Qual o significado deste mandamento? Será que ele proíbe apenas o furto, e não o roubo? 

Ao considerarmos o uso da palavra hebraica ganav, traduzida por furtar, percebemos que o oitavo mandamento não proíbe apenas o furto. Na verdade, a expressão envolve muito mais do que apenas o furto e o roubo de objetos pessoais. 

O alvo mais comum do furto são objetos materiais, como a prata e o ouro (Gn 44.8), e animais, como bois, ovelhas etc (Ex 22.1). Também se fala de dinheiro e outros objetos (Êx 22.7, 12). 

A primeira vez que a palavra ganav aparece no Antigo Testamento é no acordo entre Jacó e Labão sobre as ovelhas salpicadas e negras (Gn 30.33). Mas além desse uso comum, o Antigo Testamento usa a expressão hebraica em vários outros contextos. Em Gênesis 31, o verbo ganav é usado várias vezes e com signficados diferentes. Ao sair de casa, Raquel "furtou os ídolos do lar que pertenciam a seu pai" (Gn 31.19, 30, 31). Esses objetos tinham valor não apenas pelo aspecto sagrado, mas representavam também a transmissão da herança. Ao tomar posse desses ídolos, Raquel estava praticamente garantindo o seu direito à herança. 

Nos versículos 20, 26 e 27 deste capítulo, a palavra ganav é usada com outro sentido. A Edição Revista e Atualizada (RA) a traduz por lograr e a Bíblia na Linguagem de Hoje (BLH), por enganar. A expressão literal é "furtar o coração". O versículo diz: "E Jacó logrou a Labão [= furtou o coração de Labão], o arameu, não lhe dando a saber que fugia" (Gn 31.20). Portanto, furtar o coração é enganar. Este é também, sem dúvida, o sentido de furtar neste versículo: "Não furtareis [= não enganareis), nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo" (Lv 19.11).

Há também pelo menos um caso em que esse engano diz respeito ao anúncio da mensagem de Deus. Por intermédio de Jeremias, Deus condena aqueles profetas que proclamavam seus próprios sonhos e visões como sendo Palavra de Deus: "Portanto, eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu companheiro" (Jr 23.30). Então, furtar no sentido de enganar envolve tanto a falta de honestidade em um negócio como a deturpação da mensagem de Deus. Este último, a propósito, é um dos grandes males da igreja evangélica hoje. Muitos estão dizendo: "Deus disse" ou "Deus me revelou" para controlar a vida de outras pessoas e manipular as massas, sem saber que tudo não passa de um engano ou furto da Palavra de Deus. 

Outra ocorrência do verbo ganav na Bíblia está relacionada à história de José. José foi vendido por seus irmãos a mercadores midianitas a caminho do Egito (Gn 37.27, 28). Quando preso no Egito, ele diz ao seu companheiro de cela que havia sido "roubado da terra dos hebreus..." (Gn 40.15). Aqui o que se quer dizer é que José havia sido raptado. Aliás, é exatamente isso que está expresso neste versículo: "O que raptar (= furtar) alguém e o vender, ou for achado na sua mão, será morto" (Êx 21.16). Pela Lei Mosaica (posterior a José), os irmãos de José seriam merecedores de morte por terem-no raptado e vendido. 

Esse é também o sentido da palavra usada em 2 Reis 11.2, quando Jeoseba sequestra Joás, filho de Acazias. Então, a mesma palavra furtar, do oitavo mandamento, é usada para se referir a roubo de pessoas, isto é, seqüestro e rapto.

Assim, a palavra traduzida por "furtar" (ganav) tem, no Antigo Testamento, o sentido de 1) furto de objetos inanimados (prata, ouro, dinheiro) e animados (boi, ovelha, etc); 2) engano; 3) rapto de pessoas. A questão é: qual ou quais desses sentidos deve ser aplicado ao oitavo mandamento? Ou, em outros termos: o que exatamente está sendo proibido no oitavo mandamento? 

Se entendemos que os Dez Mandamentos é o resumo da Lei no Pentateuco e que em outras partes desta Lei o verbo furtar (ganav) se refere explicitamente a furto de objetos (Êx 22.1, 7, 12), engano e falsidade (Lv 19.11) e rapto de pessoas (Dt 24.7), supõe-se que o oitavo mandamento abranja todos esses sentidos. 

Portanto, o oitavo mandamento proíbe não apenas o furto no sentido mais comum em nossa linguagem, mas também a mentira, a falsidade, o engano, a desonestidade e o seqüestro.

O que percebemos é que roubo, furto, sequestro e engano não são problemas da sociedade moderna, tampouco da violência urbana. Milhares de anos atrás já havia leis específicas para várias situações, inclusive no contexto agrário e rural. A violência que ameaça os direitos individuais de um cidadão urbano moderno não é diferente daquela que ameaçava uma família nômade ou pastoril milhares de anos atrás. 

Naquela época as pessoas precisavam ouvir e atentar para o mandamento: "Não furtarás". Hoje, nós também precisamos ouvir e atentar para este mandamento.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/267/nao-furtaras

June 15, 2017

Capazes

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“Mas escolha dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e inimigos de ganho desonesto. Estabeleça-os como chefes de mil, de cem, de cinqüenta e de dez.” (Êxodo 18:21)

- Mario Fernandez

Uma pessoa pode ser entendida como “capaz” quando ela dá conta de fazer aquilo para o qual seja incumbida, ou se ofereça para fazer, ou assuma como responsabilidade. Capacidade tem relação com preparo, com vontade, com habilidade - mas muito mais do que tudo isso, é uma relação direta com dar resultado para algo ou alguém. Ser capaz, portanto não precisa ser sinônimo de ser preparado, estudado, formado, experimentado - mas precisa ser sinônimo de dizer que faz, e fazer.

Eu tenho conhecido líderes eclesiásticos extremamente bem preparados. Formados por boas escolas, muito carismáticos, extremamente letrados, com mestrado, com doutorado, grandes leitores, bons escritores. Todas coisas boas, sem sombra de dúvida. Mas não demonstram resultado algum, são apenas enciclopédias com duas pernas. Será que são capazes? Devem ser, mas não se dispõe a tal. Não produzem nada além de palavras, palavras e mais palavras. Um dia perguntei a um destes famosos “doutor, a quanto tempo o irmão não ganha uma alma para Jesus pessoalmente, no um a um?” Imagine a resposta: “Veja bem…”

Líderes capazes são aqueles que usam o que tem, produzem o que der, dão conta do que sabem. Alguns sim, talvez até mesmo a maioria para eu ser justo, são bem preparados. Outros, menos preparados, produzem igual ou até mais. São igualmente capazes, portanto. Se nossa ótica for míope, só conseguiremos ver como capazes aqueles que poderiam fazer e não os que de fato fazem.

O maior dilema é saber o que deve ser considerado como produzir ou fazer, para que possamos entender alguém como capaz. A palavra aqui fala de separar homens capazes para liderar o povo, portanto não podemos nos esconder atrás do pretexto de “não quero ser juiz de ninguém”. Temos de analisar e decidir, de uma ou de outra forma, pois não participar também é uma decisão.

Quem de nós não pode produzir algo ou não seja capaz de fazê-lo? Mas quem de nós é capaz o suficiente para liderar o povo de Deus? Não se trata, neste contexto, de ser capaz de qualquer coisas mas de ser capaz de liderar. O evangelho simples e autêntico, que vai além de um mero conjunto de regras, permite que sejamos usados por Deus além de nossas capacidades. Mas temos de ter capacidade para ir além, não é mesmo?

“Senhor, eu quero me preparar e me capacitar para que um dia possa liderar Teu povo de maneira que Te agrade e Te sirva aos propósitos.“

Fonte: http://www.ichtus.com.br/dev/?p=2498?utm_medium=email&utm_source=devocional&utm_campaign=dev-2498#.WUnKgbgprng
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June 14, 2017

Amor a todo tempo

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- Marcelo Levites

O dia dos namorados é uma data criada para os casais apaixonados trocarem presentes e juras de amor. Embora seja um dia comercial, pode ser uma boa oportunidade para refletirmos sobre o amor e a idade.

Vou utilizar aqui um clichê. O amor não tem idade. Temos provas disso. Li recentemente uma reportagem da Paraíba que muito me emocionou: um casal de namorados que começou o relacionamento há 10 anos. Ela com 78 e ele com 86. Imaginem? Se conheceram no caixa do supermercado e nunca mais se desgrudaram. O que para muitos parece algo impensável, para eles foi amor à primeira vista.

Há alguns dias, a escritora chilena Isabel Allende deu uma entrevista falando que se apaixonou novamente aos 75 anos, após terminar um relacionamento de 28 anos.

O que chama atenção nestas duas histórias é que todos estavam abertos ao amor. A escritora disse aqui mesmo a este jornal que o “eleito” lhe enviou mensagens todas as manhãs e todas as noites durante cinco meses. E como a idade não a permitia perder tempo foi direta: “Te interessa algo mais do que uma amizade?”.

Esta é uma história linda de amor, mas também de coragem. Coragem para abraçar o novo e fazer uma nova história. Você só precisa estar disposto a correr riscos e se abrir para novas oportunidades, pode ser este apenas um lance inicial.

Estudos científicos mostram que pessoas que possuem um relacionamento têm uma vida com mais qualidade. Já falamos sobre isso aqui no blog. Isso vale também para quem está aberto a um novo amor.

Ficar sozinho, só mesmo se esta for realmente sua opção. Mas não deixe a vergonha e o medo impedirem você de viver um novo romance e, quiçá, uma história de amor.

Se o cupido te atingir com uma flecha, vá em frente. Se abra para o novo. Esteja pronto para o amor.

E viva mais e melhor.

Fonte: http://emais.estadao.com.br/blogs/viva-mais-e-melhor/amor-a-todo-tempo/

June 13, 2017

Uma história de amor maior

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Yuri Fernandes

Sempre considerei o livro de Rute como um dos mais impressionantes da Bíblia. Impossível ler e não se impressionar com o modo como Rute se compromete com Noemi e com o Deus desta. De certa forma Rute é o tipo de mulher com quem nós homens deveríamos almejar casar: ela é a verdadeira personificação da mulher virtuosa. E não foi justamente esta disposição de Rute para a fidelidade ao Deus “em cujas as asas te vieste abrigar” (Rt 2.12) que chamou a atenção de Boaz?
Por outro lado, Boaz é justamente o tipo de homem que nós deveríamos nos esmerar para ser: Justo, generoso, bondoso para com Rute. Inclusive, a ação de Boaz ao resgatar Rute já é um anuncio do generoso resgate que temos em Cristo. Assim, Boaz e Rute refletem uma história de pessoas virtuosas em Deus e de cujo caráter deveria ser imitado por nós.
Só que o livro de Rute é mais do que isso. É mais do que uma história sobre o modo como deveríamos nos relacionar com nossos futuros cônjuges ou escolhe-los. É uma história sobre Deus usando a vida ordinária dessas pessoas extraordinárias – seus sofrimentos, alegrias, virtudes e defeitos – para dar vida à grande narrativa de redenção!
Pense um pouco no contexto do livro: Em Juízes vemos a infidelidade do povo de Deus que estava flertando com deuses estrangeiros. E é neste lugar nos aparece Rute, uma estrangeira que abandona os deuses de sua terra e se torna fiel ao Deus Altíssimo. É a partir desta fidelidade que Deus enxerta Rute ao drama da redenção, a colocando num lugar importante da linhagem do nosso grande Salvador!
E pense no modo sutil como Deus age nesta história. Ele traz Rute e Noemí de volta para Israel depois de terríveis sofrimentos – e a própria Noemí reconhece a mão de Deus em seu sofrimento. Ele arquiteta um encontro providencial entre Rute e Boaz nos campos deste. Ele concede sabedoria a Noemí, que orienta Rute. Ele dá coragem à Boaz para fazer aquilo que deveria ser feito e resgatar Rute. Deus, em sua infinita sabedoria, utiliza sua providência e nos ensina aquilo que veremos em Romanos 8.28 “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”. É a mão providencial de Deus escrevendo a história!
A narrativa de Boaz e Rute não é sobre eles. É sobre algo maior do que eles!  E creio que esse deve ser o desejo do nosso coração em todas as coisas da nossa vida: Casamento, amizades, profissão, hobbies… Compreender que Deus nos chama a cumprir seus Eternos e gloriosos propósitos a partir das coisas simples da vida deveria ser o maior anseio no nosso coração. Por que Ele é um Deus gracioso que chama pecadores como nós ao arrependimento para cumprir um propósito maior. Que o Eterno use as coisas ordinárias de nossas vidas para cumprir o seu extraordinário propósito!
E para pensarmos nisso, um pequeno poema:
Em terra distante um drama acomete
Dor e luto chegam naquele lugar
Amargua preenche e a esperança derrete
Mas existe um lugar para voltar
Sogra e noras sozinhas no mundo
Uma vai e outra fica, um novo futuro
Teu povo é meu povo, um porto seguro
Retorno certeiro ao Senhor de tudo
O amor que brota nos campos de trigo
Além do sustento, traz também um amigo
Providência de Deus que resolve o embate
Bondade infinita que traz socorre e resgate
Para além de si mesmos, uma nova família
E dos filhos dos filhos, uma nova alegria
E na linhagem se cumpre uma antiga promessa
D’Aquele que salva quem a ele confessa.
Fonte:http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/06/08/rute-boaz-e-uma-historia-de-amor-maior/#comment-5541

June 12, 2017

Você está apaixonado?

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Alguns acreditam que o amor não é nada mais que uma atração, um desejo, um sentimento irresistível. Outros pensam que o amor é um compromisso que implica em renúncia e esforço. E você, qual é sua ideia sobre o amor? Que tipo de amante você é?
Além do teste para entender qual é sua forma de amar, no portal “Soy Amante” é possível encontrar indicações de livros (em sua maioria católicos) sobre o tema, dados de pesquisas científicas e respostas a perguntas como: Qual a diferença entre a paixão e o amor? Quais as principais marcas e características do amor? Por que as relações sexuais são tão especiais? É realístico esperar até o casamento para mantê-las?
A iniciativa é da produtora audiovisual Dos Cincuenta y Nueve Films, que começou a campanha em 2014 para conscientizar os jovens sobre a importância de construir seus relacionamentos sentimentais tendo como base um amor autêntico. O conteúdo do portal está disponível em espanhol e em inglês. Nesse ano, uma das ações da produtora foi a publicação do vídeo ”Se você está apaixonado, não se case!”, que você confere, legendado, aqui embaixo.
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/03/13/se-voce-esta-apaixonado-nao-se-case/

June 11, 2017

Para colocar coesão e beleza no caos é preciso ouvir a Deus

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A falta ou excesso de informação gera o caos

- Phelipe Reis

Job, background, case e clipping. Deadline, raf, briefing e engajamento. Approach, pauta, layout e brainstorming. Palavras desconhecidas e que não dizem nada para muitos. Mas fazem todo sentido para fotógrafos, jornalistas, youtubers, videomakers, publicitários, webmasters, designers, blogueiros, cineastas, produtores, social medias e tantos outros profissionais que escolheram a comunicação como sua tarefa prioritária.

Tudo o que você lê, ouve e assiste - seja na TV, rádio, livros, revistas, flyers, folders, e-books, slides, web, etc - passa pela mente, mãos, telas e lentes desses profissionais. Eles estão no seu dia-a-dia, entretendo, informando, orientando, twittando, divulgando, interagindo, compartilhando, curtindo, enquadrando, selecionando, edificando, comunicando, influenciando.

Diferente de vinte anos atrás quando a internet não era acessível e as grandes empresas tradicionais de comunicação monopolizavam o ramo, hoje, qualquer pessoa, em qualquer canto do mundo pode comunicar em algum canal de mídia. Basta ter uma conexão com a rede mundial de computadores e com um toque na tela do smartphone ou um clique no touchpad do notebook você comunica a uma audiência sem fronteiras. 

Isso é bom, mas também é ruim. Muita gente falando pode confundir mais que esclarecer. Muita informação pode deformar ao invés de formar. É tanto texto, fotos, vídeos e sons, que o cérebro não consegue digerir nem o mínimo de tudo que está ao alcance de todos. A falta ou excesso de informação gera o caos.

Deus colocou ordem no caos pelo poder da Palavra

Mas em meio ao barulho de uma sociedade hiperconectada, as pessoas precisam de melodia, harmonia, música, rima, coerência, sentido, convicções, verdade. Imagina uma galera de jovens cristãos que sente chamada por Deus para fazer isso como vocação. Fazer como Deus fez no princípio de tudo: por ordem no caos pelo poder da palavra. Gente que quer usar toda sua criatividade em articular cores, linhas, rabiscos, ângulos, letras, enquadramentos, sons, texturas, imagens, recortes, palavras para comunicar a Verdade.

E foi com esse desejo no coração que cerca de 40 jovens se reuniram durante o Vocare 2017 em um bate-papo com o jornalista Lissânder Dias, coordenador de comunicação do Vocare, e com Paulinho e Adriana Degaspari, do site irmaos.com. Entre os que participaram da conversa, há os que estão começando a dar os primeiros passos na área, mas a maioria já desenvolve alguma atividade, dentro ou fora da igreja: fazendo boletins informativos, vídeos para youtube, gerenciando redes sociais, etc.

Durante o bate-papo, uma preocupação apresentada por um dos jovens foi quanto ao uso de software e hardware falsificados. “Como fazer a igreja investir financeiramente em programas originais para um departamento de comunicação, já que as ferramentas essenciais não são tão baratas?”, questionou o rapaz. Baseado em sua experiência, Paulinho Degaspari, que é missionário da Sepal e desenvolve diversas atividades na área da comunicação, foi direto ao ponto: “Comece com o material que você tem. Fazendo um trabalho sério e de qualidade com o que você tiver, aos poucos a coisa vai ganhar forma e as pessoas vão acreditar no que você faz”.

O mais importante é ouvir o que Deus está falando

A partir da troca de experiências e ideias, foi possível perceber que a turma quer, de fato, assumir e desenvolver todo o potencial de suas vocações no desafio de comunicar a Verdade, com inteligência, coerência e criatividade. E que desafio fazer isso numa época em que a sociedade secularizada e relativista coloca em xeque o conceito de verdade e se assume como a geração da mentira, ou da pós-verdade, como dizem os especialistas.

Mas como encarar este desafio de fazer uma comunicação relevante entre tantas vozes e barulho? Como usar a comunicação para sinalizar o reino de Deus, servindo e transformando a sociedade? O que também ficou claro no bate-papo é que não há um tutorial com cinco passos ou uma receita pronta, tão pouco um mapa ou uma fórmula. 

Há uma pista: o “Grande Editor” tem uma pauta e é fundamental se alinhar com ela, como sugeriu o jornalista Lissânder Dias: “O mais importante é ouvir o que Deus está falando”. E enquanto essa turma vai buscando ouvir a Deus, também já colocam a mão na massa. 

Exemplo disso foi durante o próprio Vocare, que teve uma equipe de comunicação com quase 30 voluntários, entre jornalistas, fotógrafos, designers e videomakers. Eles contaram um pouco de como foi essa experiência de integrar profissão e vocação:

“Sempre tive medo de escolher uma profissão que não fosse ‘contribuir’ com o reino. Por muito tempo achei que pessoas que serviam com suas profissões tinham que ser da área da saúde, professores e teólogos. Recentemente me desvinculei dessa ideia e passei a procurar ambientes em que pudesse servir com minha profissão. Sou fotógrafa e achava que fazer cobertura de eventos evangélicos seria um bom começo, fui então para o vocare. Lá conheci outras inúmeras possibilidades de servir, mas fui confrontada a exalar um caráter cristão no meu ambiente de trabalho mesmo que este não atenda crentes, pelo contrário, a oportunidade que eu tenho de ser alguém moral e eticamente irrepreensível para o mundo é tão única nesse meio quanto necessária. O Vocare me trouxe diversos aprendizados e oportunidades. Estar engajada na equipe e com o privilégio de servir na área que atuo profissionalmente me mostrou que é exatamente com esses dons e talentos que devo, posso e quero servir no reino. Estar próxima de pessoas que já são atuantes nesta área confirmou algo que Deus já havia colocado em meu coração. Aprendi muitas coisas práticas e técnicas, mas nada foi tão gratificante quanto saber que Deus tem me capacitado e dado a oportunidade de servi-lo fazendo o que amo.”
Angélica Agostini, fotógrafa.

"Assim como há lugar para todos no campo missionário, também há lugar para todos que queiram usar seus talentos, e paixões, também como voluntários em um evento como o Vocare. Isso se traduz em trabalho bem feito. Toda a equipe estava fazendo o que gosta, com seu olhar e toque pessoais, e poder usar sua forma particular de expressão para servir é tremendamente compensador. E, claro, estimulante. O Vocare ajudou a entender e experimentar na prática integração entre profissão e vocação. Citando como exemplo meu próprio caso, foi gratificante poder escrever em forma de crônica o que, a princípio, seria um "relatório" do que aconteceu. Quando é assim, o que poderia ser apenas trabalho torna-se, também, prazer. Afinal, o amor pela arte, pela criação, nos foi dada por aquele que é o mais Criativo de todos, e usá-la ao Seu serviço é a resposta para a grande questão: como empregar o talento que recebemos.”
Renato Alt, ator e publicitário.

“Comecei a aprender a produzir conteúdo em um curto espaço de tempo, como realmente é em uma redação. Na faculdade aprendo a fazer isso, mas sem a pressão de um deadline mais apertado. O Vocare foi mais uma oportunidade de conciliar vocação e profissão. Acho que, mesmo sem saber meu chamado específico, tenho de usar os meus dons, mesmo profissionais, para servir a Deus.”
Pedro Fernandes, estudante de Jornalismo.

“Aprendi que devo estar sensível a tudo que está acontecendo a minha volta para conseguir escrever bem e escrever com alma e sentimento. Para mim, foi uma confirmação de Deus que devo insistir na comunicação e trabalhar com ela não somente no ambiente eclesiástico, mas fora, pois foi algo que Deus me deu e não vejo fazendo outra coisa fora dela. E se for da vontade dele trabalhar com isso em prol do Reino sendo dentro ou fora da igreja.”
Carla Ribeiro, jornalista.

"Foi uma experiência única servir pessoas em um projeto tão bacana e com uma visão tão inovadora. Ser voluntário me fez entender que tenho uma vocação e preciso usá-la para participar da missão de Deus”.
Paulo Ferreira, fotógrafo e youtuber.

“Ser voluntária do Vocare mais uma vez me ensinou mais um pouco sobre a importância da equipe, do corpo que trabalha junto. É muito legal ver isso: atividades que poderiam ser realizadas por uma empresa, sendo feitas (e com muito empenho) por pessoas que não ganharam nada pra isso e que nem se conhecem, mas que por estarem dispostas a entregar seu melhor a Deus, acabam fazendo um ótimo trabalho. Quando participei em 2016, não estava esperando ouvir tanta gente falar isso: "Missão não é só a missão transcultural. Você pode ser um missionário com a sua profissão, no seu emprego atual". Isso me impactou... Mudou mesmo minha maneira de ver as coisas. É muito gratificante saber que apesar da nossa pequenez, apesar de não merecermos nada, Deus permite que nós sejamos usados com nossas profissões.”
Camila Nogueira, estudante de jornalismo.

“Aprendi a olhar com mais paciência para as minhas dúvidas quanto a ‘como usar minhas habilidades para o Reino’. Através da troca de experiências com os outros voluntários, entendi que todos passaram pelo tempo necessário de amadurecimento, mas que, no momento certo, descobriram, em Deus, como fazer de suas habilidades Vocação. Acredito que encontrei o equilíbrio entre o ser eu e ser útil nessa vida aqui. Entender que minha Vocação não é peso, mas presente, facilita muito o ‘desenrolar’ de vários dilemas que tenho sobre área profissional. O Vocare foi uma ‘luz’ pra isso”.
Brenda Reis, Social Media.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/para-colocar-coesao-e-beleza-no-caos-e-preciso-ouvir-a-deus

June 10, 2017

Qual o tamanho da sua força? Como a tem usado?

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"Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma". Eclesiastes 9:10 

- Enoque Caló

A Palavra de Deus nos propõe a seguinte pergunta: Qual é o nosso equilíbrio?


Pois a partir deste conhecimento, saberemos usar a força que recebemos, e isto é um ato de sabedoria. 


Sempre que usamos além das forças teremos que administrar grandes problemas:


- Já usou além da força nos relacionamentos?
- Já usou além da força física e percebeu o quanto doeu em seu corpo?
- Já usou além da força financeira que você tem e quanto isto lhe custou? 


Sempre que usarmos além da força em qualquer área da nossa vida, sofreremos as consequências.


Também o inverso é verdadeiro quando usamos menos , bem menos que a força.


- Sabe quando deveríamos amar e não amamos?
- Quando deveríamos doar de nós mesmos e não doamos? 
- Quando deveríamos partilhar, pois recebemos a força econômica, mas podemos ignorar este princípio?


Por isto que devemos pedir a Deus, que por sua graça, nos dê a condição necessária para usarmos corretamente a força, recebida dele, em todas as áreas da nossa vida.


Use a sua força, pois ela foi dada pelo próprio Deus para um propósito específico de Louvor e Honra ao seu Nome. Tudo nasce nele e termina Nele. O Criador e doador de todas as coisas.

A força que está nele é algo inesgotável. 


Você e eu seremos confrontados por desafios onde teremos que aplicar a força que recebemos, por isto conheça bem o limite de sua força e a utilize proporcionalmente, nem mais e nem menos.

Afina, tudo quanto existe convergem em Cristo

"E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo com o seu bom propósito que Ele estabeleceu em Cristo,Isto é, de fazer convergir em Cristo tudo quanto existe, todos os elementos que estão no céu como os que estão na terra, na dispensação da plenitude dos tempos" Efésios 1.10


Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/qual-o-tamanho-da-sua-forca-como-a-tem-usado


PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=6HcMEtbb5mQ
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June 09, 2017

Quem delira evita constatar sua própria insignificância

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- Contardo Calligaris

Entre 1798 e 1799, exilado em Hamburgo, o abade Augustin Barruel publicou os cinco volumes de suas memórias para servir à história do jacobinismo.

Pelo título, o leitor espera uma história dos conflitos entre as facções jacobinas durante a Revolução Francesa e o Terror, mas não é isso o que importa a Barruel. O abade quer nos explicar que a Revolução Francesa não teve nada a ver com o preço do pão ou do brioche; de fato, segundo ele, não foi revolução popular nenhuma, mas o resultado de uma grande conspiração anticristã.

Os illuminati, grupo diabólico, teriam se infiltrado na maçonaria para acabar com a monarquia e com a religião. E eles tinham, como aliados, os filósofos do século 18, os rosacrucianistas, os cavaleiros templários etc. As memórias de Barruel parecem um romance de Dan Brown (os illuminati, no começo de "Anjos e Demônios", são os culpados pela morte do papa e por várias outras atrocidades).

É provável que Barruel fosse clinicamente paranoico. A Revolução Francesa e a grande mudança do fim do século 18 são eventos mais do que complexos: para explicá-los e narrá-los como efeitos de um complô de intenções humanas definidas é preciso delirar.

Quem delira tem duas vantagens: pode acreditar cegamente no seu delírio e também evita constatar sua própria insignificância (é preferível se ver como vítima de uma conspiração do que como folha agitada pelos turbilhões insensatos da história).

Barruel, além de ser o santo patrono das teorias conspiratórias, é também considerado como um grande conservador porque ele nunca se resignou ao fim do Antigo Regime.

Você vai achar que é coisa do passado. Será que alguém hoje não aceita o fim da monarquia absoluta? Ou o fim da separação das três ordens (clero, nobreza e plebe), com direitos diferentes?

Numa noite dos anos 60, eu levei para sua casa um amigo de uma antiga família da Itália central, o qual, recentemente (santo Google me informou agora mesmo), acabou sendo Grão-Prior da Ordem de Malta.
Naquela noite, eu fiz uma barbeiragem, um táxi parou ao nosso lado no farol seguinte e nos mandou às putas que nos pariram. Meu amigo baixou o vidro e respondeu, deixando o taxista atônito: "Meu jovem, se não fosse pelo acidente histórico mal-aventurado que passa pelo nome de Revolução Francesa, você sequer ousaria me endereçar a palavra".

Ridículo, hein? Mas, para muitos, ainda hoje, os tempos do Antigo Regime são a época da verdadeira "dolce vita". Sob um verniz "moderno" de diferenças que seriam "apenas" quantitativas, uma boa parte das "elites" nacionais, aliás, ainda sonha com uma sociedade de "ordens" separadas drasticamente.

No fim do primeiro volume de sua obra, após ter passado em revista as ideias e as figuras do Iluminismo, Barruel escreve: "Existe um Deus? Ou não existe? Tenho ou não uma alma para salvar? () Eis certamente as questões elementares da verdadeira ciência e da filosofia () E o que respondem a essas grandes perguntas todos os nossos pretensos sábios, bem enquanto agitam sua conspiração contra o Cristo?".

O que o leitor espera nessa altura são trovoadas de descrença e de ateísmo pelos "infames" filósofos modernos, mas não é isso que segue. O que indigna Barruel não são crenças diferentes da dele, como, por exemplo, negações da existência ou da presença de Deus no mundo. Barruel continua assim: "Nós colocamos sob os olhos do leitor as próprias expressões deles. E o que o leitor viu? Homens que dizem dominar o universo se fazem entre eles a confissão explícita e repetida de que eles não souberam formar uma única opinião firme sobre nenhuma dessas questões. Voltaire, ele que era consultado por príncipes e burgueses, consulta ele mesmo D'Alembert para saber se ele deve acreditar na sua alma e em Deus.

Todos acabam por confessar que eles são reduzidos a colocar em cada caso o "non liquet" [não está claro, no Direito Romano]; eles não sabem. Mas o que sabem, então, esses filósofos, esse mestres tão estranhos que não podem sequer resolver entre eles essas questões elementares da filosofia?".

Pois é. Eles não sabem. É por isso que não são loucos e é por isso que (junto com seus contemporâneos americanos) promoveram a liberdade das consciências e inventaram a democracia como forma de governo.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2017/04/1873044-quem-delira-evita-constatar-sua-propria-insignificancia.shtml