August 31, 2017

As narrativas bíblicas nos ajudam a tomar decisões?

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- João Leonel

A maior parte dos textos bíblicos é constituída por narrativas. Textos que contam histórias com personagens complexos, enredos fascinantes, finais surpreendentes.

Esse fato não passou e não passa despercebido dos estudiosos da literatura que tem, cada vez mais, reconhecido a beleza literária da Bíblia. Para citar apenas um exemplo, o professor português da Faculdade de Letras de Coimbra, Frederico Lourenço, que tem desenvolvido um ambicioso projeto de traduzir o Novo Testamento (já publicado em Portugal e com o volume sobre os evangelhos publicado no Brasil) e a Bíblia Grega (conhecida com Septuaginta) para o português comenta:

“[...] a Bíblia pode ser lida como o mais fascinante livro alguma vez escrito; um texto que, no seu melhor, é de riqueza inesgotável, de ímpar magnificência expressiva, e onde encontramos do mais arrebatador e do mais comovente que a mente humana alguma vez terá conseguido imaginar” (O livro aberto: leituras da Bíblia, Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2017, p. 11). 

Por essa razão, podemos nos perguntar como uma leitura que considere e esteja sensível aos aspectos literários das narrativas bíblicas pode ser significativa para nós?

As narrativas e o processo de formação do ser humano

Lembremos que as narrativas da Bíblia têm como objetivo explícito atuar no processo de formação do ser humano. Elas não são escritas para que contemplemos apenas sua refinada estética. Elas não chegam até nós unicamente para que as admiremos. Não. Elas são agudas, certeiras, tocam em nossa vida e querem transformá-la. As narrativas bíblicas exigem serem atualizadas no processo de leitura.

Lembremos a resposta de Caim a Deus, quando perguntado pelo paradeiro de Abel: “Não sei; sou eu o responsável por meu irmão?” (Gn 4.9. Nova Versão Internacional).

Responder à pergunta de Deus com outra pergunta é uma forma de fugir da resposta. Mais do que isso. É responder questionando. Caim havia assassinado o irmão. Agora, diz não saber dele. Com isso, “não ser responsável pelo irmão” implica a liberdade para tratá-lo como bem quiser. Afinal, Caim não responde por Abel. Se não é responsabilidade de Caim cuidar do irmão, de quem é? Essa pergunta implícita contida na pergunta explícita aponta para a resposta. Sim, Deus é o responsável por Abel. Portanto, deixando o papel de acusado, Caim se torna acusador. Onde você, Deus, estava que não viu e não me impediu de matar meu irmão?

Não precisamos ir longe para reconhecer nessa história a história de todos nós. O texto nos questiona se o estado em que o mundo se encontra não é consequência de nossa negativa a respeito do cuidado com o próximo, da falta de exercício de alteridade. E, o que é pior, o texto nos acusa de atribuirmos indiretamente a Deus, que não impede que assassinatos e males sejam perpetrados, a culpa pelo atual estado das coisas.

As narrativas nos ajudam a tomar decisões?

Outra característica da narrativa bíblica é nos chamar a tomar decisões a partir da ação dos personagens. Vejamos o caso de Jairo. Ele vai a Jesus buscando a cura de sua filhinha (Mc 5.22-23). O narrador é objetivo, dizendo que “Jesus foi com ele” (v. 24). Então, tudo certo. Jesus certamente irá curar a filha do religioso.

No entanto, algo interrompe a caminhada em direção à casa de Jairo. Jesus repentinamente para e pergunta: “Quem tocou em meu manto?” (v. 30). Os discípulos, não entendendo que, cercado por pessoas que o empurravam, Jesus fizesse tal pergunta dialogam com ele. Mas Jesus continua imóvel, olhando fixamente ao redor. Ninguém compreende o que está acontecendo. Jairo, certamente desesperado, espera que Jesus retome rapidamente a caminhada.

Então uma mulher sai do meio da multidão, ajoelha-se diante de Jesus iniciando um diálogo. Nesse meio tempo, que para Jairo parecia interminável, alguns amigos chegam e lhe dizem que a filha morrera. Não havia mais necessidade de levar Jesus até sua casa.

Certamente Jairo chorou. Choro profundo e doído. Não conseguira salvar sua querida filha de doze anos.

Ao ouvir o relato, Jesus simplesmente diz ao homem: “Não tenha medo; tão-somente creia” (v. 36).

O que Jairo fará? É necessário reconhecermos uma pausa na história para que o leitor reflita.

Jairo sucumbirá diante do fato incontornável de que não adianta mais continuar a jornada? Afinal, enquanto sua filha estava viva ainda havia esperanças, mas agora... E, além de tudo Jesus foi, de certa forma, culpado pela morte de sua filhinha ao demorar-se para ir com ele.

Ou então Jairo atenderá ao convite de Jesus, crendo quando não havia quase espaço para a fé, e caminhando ao encontro do corpo sem vida da filha? Ele teria coragem de apresentar Jesus como alguém poderoso o suficiente para ressuscitar a menina diante daqueles que já preparavam seu corpo para o funeral? A decisão de Jairo se mostra de forma silenciosa e discreta. Ele simplesmente segue a Jesus no caminho para casa.

A decisão e a ação do personagem Jairo são um convite à nossa ação. Somos convocados pelo texto a assumirmos o lugar daquele pai sofredor. Frente aos problemas, às lutas e dificuldades, quando Jesus parece demorar, como agimos? Atendemos aqueles que nos dizem que não adianta mais continuar clamando, ou ouvimos com o coração a voz de Jesus dizendo: “Não tenha medo; tão-somente creia?”

Não é possível ficar imóvel diante dos apelos da narrativa.

Sim, elas nos movem, nos incomodam, apresentam-nos dimensões outras que aquelas que vemos no cotidiano. É necessário, entretanto, responder a elas. Sempre com a coragem da fé.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/as-narrativas-biblicas-nos-ajudam-a-tomar-decisoes

August 30, 2017

Um exemplo de coragem

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O advogado Álvaro Skiba Júnior, 27, foi o primeiro procurador municipal concursado de Capanema, cidade de 19 mil habitantes no Paraná. Após fazer exigências para que regras em licitações fossem cumpridas, ele diz ter sofrido represálias e uma ameaça de morte da então prefeita, Lindamir Denardin (PSDB).

Demitido após um processo administrativo, ele foi readmitido na gestão seguinte e recebeu uma homenagem da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Paraná, neste mês.

Leia depoimento dele à Folha de S. Paulo:

"Eu fui o primeiro procurador concursado do município. Antes, eram advogados particulares que faziam esse trabalho. Daí já surge o primeiro problema: a cultura na cidade era que o advogado da prefeitura era do prefeito. E eu entrei para atuar como advogado do município.

Assumi em janeiro de 2014. Logo de começo, houve um pouco de desconforto, principalmente no setor de licitações. Porque elas eram feitas de qualquer jeito. Faltava a documentação mínima, como número de concorrentes, projeto básico, discriminação dos serviços. Muitas das licitações eram feitas só para formalizar o pagamento, porque o serviço já era prestado. Era tudo no jeitinho, para dizer depois: "Ah, não tenho conhecimento técnico; ah, o município é pequeno; ah, eu não sabia".

Eu comecei a formalizar, nos pareceres, o que a lei determinava. A maioria deles foi ignorada. Muitos dos processos, inclusive, nem iam para a procuradoria.

A primeira vez em que eu dei um parecer negativo numa licitação, num contrato de transporte de passageiros, a prefeita [Lindamir Denardin] entrou aos gritos na minha sala. Disse que eu queria derrubá-la, que eu era contrário a ela. O serviço já estava sendo prestado; a licitação não tinha discriminação, quilometragem, projeto, nada. Eu falei a ela: prefeita, isso não é a minha opinião. Isso é o mínimo do mínimo do básico, e está na lei. Ela pegou meu parecer, amassou, rasgou e jogou no lixo.

No início de 2015, a prefeita apresentou um projeto de lei, para criar mais um cargo de procurador. A ideia era me escantear. Só que ela caiu do cavalo, porque o segundo colocado no concurso [o advogado Romanti Ezer Barbosa] vinha do Ministério Público. Todas as licitações foram para ele. Eles achavam que eu estava trabalhando politicamente. Mas o meu colega começou a identificar os mesmos problemas. Aí ela [Denardin] começou a ter um problema com a procuradoria.

No segundo semestre, a prefeita fez uma reunião com alguns servidores, inclusive nós. E foi ali que ela nos ameaçou de morte. Mencionou o caso de Chopinzinho [município paranaense onde um procurador foi assassinado, em março de 2015; o ex-prefeito foi preso e é acusado de ser o mandante do crime] e disse: "Vocês viram o que aconteceu. Não adianta tapar o sol com a peneira; uma hora, os ânimos se esquentam e a coisa vai piorando". Nós gravamos isso. Estavam umas dez, 15 pessoas lá.

Meses depois, quando tentamos propor um projeto de lei para regulamentar a procuradoria, ela ligou para o meu colega e disse: "Ou vocês me ajudam e vêm trabalhar comigo ou eu vou tomar outra atitude, doa a quem doer, aconteça o que acontecer". Aí, a gente realmente sentiu uma ameaça concreta. Foi direta e pessoal. Eu coloquei câmera em toda a minha casa, comprei um colete à prova de bala. Nós estávamos nos sentindo tão acuados que chegávamos na prefeitura e já colocávamos o celular para gravar. Porque não sabíamos o que iria acontecer.

Fomos ao Ministério Público e fizemos uma representação, com o que julgávamos que estava errado. Denunciamos desvio de função, cargos irregulares, pagamento de horas extras... Era um estado de coisas inconstitucional. Porque, realmente, não tem fiscalização. O Tribunal de Contas faz de conta que fiscaliza; o Ministério Público não tem estrutura. Se não for por denúncia, nada acontece. Essa é a realidade de municípios pequenos no Brasil.

Nós encaminhamos a denúncia para o Tribunal de Contas. E o tribunal publicou em Diário Oficial, em maio de 2016. Aí todo mundo ficou sabendo. Foi um auê. No dia seguinte, a prefeita me tirou da sala da procuradoria e me colocou no porão da secretaria de Educação. Tirou todas as minhas atribuições, por portaria. Designou-me como assessor da secretaria.

Ela também fez uma denúncia na promotoria contra mim e o meu colega, por improbidade administrativa [acabou arquivada]. Depois, abriu um processo administrativo na prefeitura, para me demitir. Disse que eu tentei agredir uma servidora. Colocou servidores gratificados para avaliar o caso. No final de tudo, eu fui demitido, em setembro de 2016. Dias antes da eleição, que ela acabou perdendo.

Nessa mesma época, eu contatei a OAB. Eles determinaram medidas protetivas em meu favor. Oficiaram o governo do Estado e a secretaria da Segurança, para garantir a minha proteção. Mas a maior segurança que tive foi a simples divulgação da ameaça. Depois que se publica esse tipo de coisa, recuam. Porque, se acontecer algo com você, todo mundo já sabe quem foi.

O ato de desagravo da OAB é o reconhecimento de que temos respaldo. Porque, sozinhos, não fazemos nada. Era para o sistema ter me engolido.

Passada a eleição, eu entrei com uma ação judicial para anular o processo administrativo. A Justiça de Capanema negou a liminar. Aí, fiz um pedido administrativo, defendendo a nulidade desse processo. A gestão do novo prefeito [Américo Bellé, do PDT] deferiu meu pedido e anulou a demissão. Em janeiro, eu fui reintegrado.

As denúncias que fizemos continuam em andamento. Minha vida agora é estudar para concurso, meu sonho é ser promotor de Justiça. Porque minha situação ainda é muito grave. E quando os processos contra ela começarem a pipocar? Eu quero sair daqui, porque não vou viver com medo".

PS- Para ler a matéria na íntegra, vá lá: http://m.folha.uol.com.br/poder/2017/08/1913936-demitido-apos-apontar-fraudes-procurador-reassume-e-e-homenageado.shtml?mobile

August 29, 2017

Cabeça, ombro, joelho e pé: um corpo saudável para uma sociedade doente

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- João Paulo de Assis

É triste observar a situação pela qual nossa sociedade passa. Todos os dias vemos notícias sobre as mais variadas situações, sejam elas na política, economia ou na vida urbana, retratando o que todos que são cristãos sabem (ou deveriam saber): a necessidade que o ser humano tem de Deus.

“Existe um vazio no coração do homem do tamanho de Deus” é uma frase bastante conhecida em nosso meio cristão. O problema é quando a ouvimos, mas ela não nos incomoda. O modo confortável como a maioria de nós, que somos a igreja do Senhor, tem levado a vida cristã deveria ser preocupante. Onde é que está entrando a ação da igreja nessa história? Nós temos deixado de ser uma influência na sociedade e acabamos sendo influenciados por ela.
É fundamental ter uma igreja saudável se queremos ser relevantes no mundo em que vivemos. Paulo, na sua carta aos coríntios, faz uma analogia muito interessante da igreja sendo um corpo, sendo que nós sendo membros desse corpo (1 Coríntios 12). Nesse sentido, podemos analisar quatro partes desse corpo que são vitais para a saúde da igreja atual, para consequentemente sermos sal e luz para nossa sociedade.
Cabeça
Esse é um membro fundamental para o corpo, porque é nele que está o órgão que coordena as respostas para as mais variadas situações. Mas em nossas igrejas, atualmente, podemos estar nos esquecendo de dar atenção a essa parte, nos esquecendo  principalmente de quem é o cabeça da igreja.
A ganância pelo poder e falta de humildade de muitos líderes em reconhecer seu lugar têm levado igrejas à destruição. Mas afinal, quem é o cabeça? Cristo! É Ele quem deve ser o líder das nossas igrejas! Vemos na Bíblia várias referências sobre isso (como em Efésios 1.22; 4.15; 5.23). Por mais que seja a presença de bons líderes nas nossas igrejas seja necessária, Cristo deve estar no centro, pois é Ele quem tem autoridade sobre tudo e todos. Consequentemente, a palavra final deve vir dele.
Ombros
A nossa igreja precisa aprender a sofrer. A carregar nos ombros o custo do discipulado e a sofrer por aquilo em que crê. John Stott, em seu livro A igreja autêntica, diz uma frase extremamente interessante e impactante: “O sofrimento é um teste de nossa autenticidade”.
Será que temos entendido a importância dessa parte do corpo nas nossas igrejas? Ou a temos negligenciado? Se não estamos prontos para isso, talvez nós não tenhamos entendido algumas questões do evangelho. Cristo foi o servo sofredor (Isaías 53). Nesse mundo em que as pessoas não querem sofrer por nada, aprendermos a sofrer pela causa do evangelho é o maior testemunho em que podemos dar.
Joelhos
Existe uma música cristã antiga que diz em um de seus versos: “Eu creio no poder dos joelhos que se dobram; eu creio no poder da oração”. A oração é o que impulsiona a igreja, aquilo que dá respaldo e poder para avançarmos nos nossos objetivos. É incrível como poucas igrejas têm sido reconhecidas por serem igrejas que oram muito. Se nós somos uma igreja que não ora, somos uma igreja que não tem comunhão com Deus.
Pés
Não podemos nos esquecer da importância do evangelismo em nossas igrejas. Nós fomos chamados pra fora, não para dentro. Não podemos ser tão egoístas a ponto de guardamos aquilo que nos trouxe vida apenas pra nós mesmos, enquanto muitas pessoas lá fora morrem. Precisamos ser uma igreja que cumpre o Ide, seja para o nosso vizinho, seja para a pessoa que está do outro lado do mundo. A Bíblia diz que os pés daqueles que anunciam as boas novas são belos (Isaías 52.7). Como estão os nossos pés?
Se a sociedade está se corrompendo cada vez mais, a culpa também é nossa. Como Stott mesmo diz, a sociedade está apenas seguindo seu curso natural. A questão é: onde está o sal? E onde está a luz? Somente sendo uma igreja com uma boa cabeça, que tem ombros largos, joelhos calejados e belos pés é que poderemos influenciar a sociedade ao nosso redor. Avante!
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/08/18/cabeca-ombro-joelho-e-pe-um-corpo-saudavel-para-uma-sociedade-doente/#more-6172

August 28, 2017

Para colocar coesão e beleza no caos é preciso ouvir a Deus

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A falta ou excesso de informação gera o caos

- Phelipe Reis


Job, background, case e clipping. Deadline, raf, briefing e engajamento. Approach, pauta, layout e brainstorming. Palavras desconhecidas e que não dizem nada para muitos. Mas fazem todo sentido para fotógrafos, jornalistas, youtubers, videomakers, publicitários, webmasters, designers, blogueiros, cineastas, produtores, social medias e tantos outros profissionais que escolheram a comunicação como sua tarefa prioritária.


Tudo o que você lê, ouve e assiste - seja na TV, rádio, livros, revistas, flyers, folders, e-books, slides, web, etc - passa pela mente, mãos, telas e lentes desses profissionais. Eles estão no seu dia-a-dia, entretendo, informando, orientando, twittando, divulgando, interagindo, compartilhando, curtindo, enquadrando, selecionando, edificando, comunicando, influenciando.


Diferente de vinte anos atrás quando a internet não era acessível e as grandes empresas tradicionais de comunicação monopolizavam o ramo, hoje, qualquer pessoa, em qualquer canto do mundo pode comunicar em algum canal de mídia. Basta ter uma conexão com a rede mundial de computadores e com um toque na tela do smartphone ou um clique no touchpad do notebook você comunica a uma audiência sem fronteiras.


Isso é bom, mas também é ruim. Muita gente falando pode confundir mais que esclarecer. Muita informação pode deformar ao invés de formar. É tanto texto, fotos, vídeos e sons, que o cérebro não consegue digerir nem o mínimo de tudo que está ao alcance de todos. A falta ou excesso de informação gera o caos.


Deus colocou ordem no caos pelo poder da Palavra

Mas em meio ao barulho de uma sociedade hiperconectada, as pessoas precisam de melodia, harmonia, música, rima, coerência, sentido, convicções, verdade. Imagina uma galera de jovens cristãos que sente chamada por Deus para fazer isso como vocação. Fazer como Deus fez no princípio de tudo: por ordem no caos pelo poder da palavra. Gente que quer usar toda sua criatividade em articular cores, linhas, rabiscos, ângulos, letras, enquadramentos, sons, texturas, imagens, recortes, palavras para comunicar a Verdade.

E foi com esse desejo no coração que cerca de 40 jovens se reuniram durante o Vocare 2017 em um bate-papo com o jornalista Lissânder Dias, coordenador de comunicação do Vocare, e com Paulinho e Adriana Degaspari, do site irmaos.com. Entre os que participaram da conversa, há os que estão começando a dar os primeiros passos na área, mas a maioria já desenvolve alguma atividade, dentro ou fora da igreja: fazendo boletins informativos, vídeos para youtube, gerenciando redes sociais, etc.


Durante o bate-papo, uma preocupação apresentada por um dos jovens foi quanto ao uso de software e hardware falsificados. “Como fazer a igreja investir financeiramente em programas originais para um departamento de comunicação, já que as ferramentas essenciais não são tão baratas?”, questionou o rapaz. Baseado em sua experiência, Paulinho Degaspari, que é missionário da Sepal e desenvolve diversas atividades na área da comunicação, foi direto ao ponto: “Comece com o material que você tem. Fazendo um trabalho sério e de qualidade com o que você tiver, aos poucos a coisa vai ganhar forma e as pessoas vão acreditar no que você faz”.


O mais importante é ouvir o que Deus está falando

A partir da troca de experiências e ideias, foi possível perceber que a turma quer, de fato, assumir e desenvolver todo o potencial de suas vocações no desafio de comunicar a Verdade, com inteligência, coerência e criatividade. E que desafio fazer isso numa época em que a sociedade secularizada e relativista coloca em xeque o conceito de verdade e se assume como a geração da mentira, ou da pós-verdade, como dizem os especialistas.

Mas como encarar este desafio de fazer uma comunicação relevante entre tantas vozes e barulho? Como usar a comunicação para sinalizar o reino de Deus, servindo e transformando a sociedade? O que também ficou claro no bate-papo é que não há um tutorial com cinco passos ou uma receita pronta, tão pouco um mapa ou uma fórmula. Há uma pista: o “grande editor” tem uma pauta e é fundamental se alinhar com ela, como sugeriu o jornalista Lissânder Dias: 
“O mais importante é ouvir o que Deus está falando”.


E enquanto essa turma vai buscando ouvir a Deus, também já colocam a mão na massa. Exemplo disso foi durante o próprio Vocare, que teve uma equipe de comunicação com quase 30 voluntários, entre jornalistas, fotógrafos, designers e videomakers. Eles contaram um pouco de como foi essa experiência de integrar profissão e vocação:


“Sempre tive medo de escolher uma profissão que não fosse ‘contribuir’ com o reino. Por muito tempo achei que pessoas que serviam com suas profissões tinham que ser da área da saúde, professores e teólogos. Recentemente me desvinculei dessa ideia e passei a procurar ambientes em que pudesse servir com minha profissão. Sou fotógrafa e achava que fazer cobertura de eventos evangélicos seria um bom começo, fui então para o vocare. Lá conheci outras inúmeras possibilidades de servir, mas fui confrontada a exalar um caráter cristão no meu ambiente de trabalho mesmo que este não atenda crentes, pelo contrário, a oportunidade que eu tenho de ser alguém moral e eticamente irrepreensível para o mundo é tão única nesse meio quanto necessária. O Vocare me trouxe diversos aprendizados e oportunidades. Estar engajada na equipe e com o privilégio de servir na área que atuo profissionalmente me mostrou que é exatamente com esses dons e talentos que devo, posso e quero servir no reino. Estar próxima de pessoas que já são atuantes nesta área confirmou algo que Deus já havia colocado em meu coração. Aprendi muitas coisas práticas e técnicas, mas nada foi tão gratificante quanto saber que Deus tem me capacitado e dado a oportunidade de servi-lo fazendo o que amo.”

Angélica Agostini, fotógrafa.

“Assim como há lugar para todos no campo missionário, também há lugar para todos que queiram usar seus talentos, e paixões, também como voluntários em um evento como o Vocare. Isso se traduz em trabalho bem feito. Toda a equipe estava fazendo o que gosta, com seu olhar e toque pessoais, e poder usar sua forma particular de expressão para servir é tremendamente compensador. E, claro, estimulante. O Vocare ajudou a entender e experimentar na prática integração entre profissão e vocação. Citando como exemplo meu próprio caso, foi gratificante poder escrever em forma de crônica o que, a princípio, seria um "relatório" do que aconteceu. Quando é assim, o que poderia ser apenas trabalho torna-se, também, prazer. Afinal, o amor pela arte, pela criação, nos foi dada por aquele que é o mais Criativo de todos, e usá-la ao Seu serviço é a resposta para a grande questão: como empregar o talento que recebemos.”

Renato Alt, ator e publicitário.

“Comecei a aprender a produzir conteúdo em um curto espaço de tempo, como realmente é em uma redação. Na faculdade aprendo a fazer isso, mas sem a pressão de um deadline mais apertado. O Vocare foi mais uma oportunidade de conciliar vocação e profissão. Acho que, mesmo sem saber meu chamado específico, tenho de usar os meus dons, mesmo profissionais, para servir a Deus.”

Pedro Fernandes, estudante de Jornalismo.

“Aprendi que devo estar sensível a tudo que está acontecendo a minha volta para conseguir escrever bem e escrever com alma e sentimento. Para mim, foi uma confirmação de Deus que devo insistir na comunicação e trabalhar com ela não somente no ambiente eclesiástico, mas fora, pois foi algo que Deus me deu e não vejo fazendo outra coisa fora dela. E se for da vontade dele trabalhar com isso em prol do Reino sendo dentro ou fora da igreja.”

Carla Ribeiro, jornalista.

“Foi uma experiência única servir pessoas em um projeto tão bacana e com uma visão tão inovadora. Ser voluntário me fez entender que tenho uma vocação e preciso usá-la para participar da missão de Deus”.

Paulo Ferreira, fotógrafo e youtuber.

“Ser voluntária do Vocare mais uma vez me ensinou mais um pouco sobre a importância da equipe, do corpo que trabalha junto. É muito legal ver isso: atividades que poderiam ser realizadas por uma empresa, sendo feitas (e com muito empenho) por pessoas que não ganharam nada pra isso e que nem se conhecem, mas que por estarem dispostas a entregar seu melhor a Deus, acabam fazendo um ótimo trabalho. Quando participei em 2016, não estava esperando ouvir tanta gente falar isso: "Missão não é só a missão transcultural. Você pode ser um missionário com a sua profissão, no seu emprego atual". Isso me impactou... Mudou mesmo minha maneira de ver as coisas. É muito gratificante saber que apesar da nossa pequenez, apesar de não merecermos nada, Deus permite que nós sejamos usados com nossas profissões.”

Camila Nogueira, estudante de jornalismo.

“Aprendi a olhar com mais paciência para as minhas dúvidas quanto a ‘como usar minhas habilidades para o Reino’. Através da troca de experiências com os outros voluntários, entendi que todos passaram pelo tempo necessário de amadurecimento, mas que, no momento certo, descobriram, em Deus, como fazer de suas habilidades Vocação. Acredito que encontrei o equilíbrio entre o ser eu e ser útil nessa vida aqui. Entender que minha Vocação não é peso, mas presente, facilita muito o ‘desenrolar’ de vários dilemas que tenho sobre área profissional. O Vocare foi uma ‘luz’ pra isso”.

Brenda Reis, Social Media.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/para-colocar-coesao-e-beleza-no-caos-e-preciso-ouvir-a-deus?utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Newsletter+%DAltimas+348+-+05%2F06%2F2017

August 27, 2017

Castelo de areia

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Num dia de verão, estava na praia, observando duas crianças brincando na areia. Elas trabalhavam muito, construindo um castelo de areia com torres, passarelas e passagens internas. Quando estavam quase acabando, veio uma onda e destruiu tudo reduzindo o castelo a um monte de areia e espuma.

Depois de tanto esforço e cuidado pensei que as crianças fossem chorar.

Mas tive uma grata surpresa: ao invés de chorar, elas correram pela praia, fugindo da água, rindo, de mãos dadas, e começaram a construir outro castelo.

Nesta hora, aprendi uma grande lição: gastamos muito tempo de nossa vida construindo coisas e, mais cedo ou mais tarde, uma onda chega e destrói tudo o que levamos para construir.

Somente quem tiver as mãos de alguém para segurar, será capaz de sorrir e começar tudo de novo.

August 26, 2017

A fé transforma as pessoas

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Pela fé peregrinou na terra prometida como se estivesse em terra estranha; viveu em tendas, bem como Isaque e Jacó, coerdeiros da mesma promessa.
Hb 11.9
- Martinho Lutero

A fé muda as pessoas. Ela as faz ver tudo sob uma nova luz. Seus ouvidos ouvem, seus olhos veem e seus corações sentem de uma forma completamente diferente do que era antes.
A fé é viva e poderosa. Não é uma ideia simplória. Ela não flutua por aí, no coração, como um ganso flutua na água. Antes, ela é como a água que foi aquecida. Depois de aquecida, a água fica diferente. Ainda é água, mas está morna. A mesma coisa acontece quando o Espírito Santo nos dá fé. A fé transforma a mente e as atitudes. Ela cria uma pessoa totalmente nova.
A fé é ativa, profunda e poderosa. Se a fé fosse descrita corretamente, diriam que ela é o processo, não o resultado. Em outras palavras, a fé muda o coração e a mente.
A razão tende a concentrar no que é presente – o aqui e agora. A fé se interessa pelas coisas que são intangíveis e, ao contrário da razão, considera-as como algo verdadeiramente presente. É por isso que a fé não é tão comum entre as pessoas como os cinco sentidos são. Considerando o número de pessoas no mundo, existem relativamente poucos cristãos. 

A maioria das pessoas se interessa pelo que pode ver, tocar e manusear, em vez de se interessar por ouvir a Palavra de Deus. 

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2017/08/22/autor/martinho-lutero/a-fe-transforma-as-pessoas-2/

August 25, 2017

Das convicções e os caminhos até elas

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- Jeverton “Magrão” Ledo

O oceano e sua imensidão parece tornar tudo tão distante e frio, mas o coração se mantém aquecido. Aquecido graças às boas lembranças. Amizades que deixamos em cada cantinho, mas que estão em nossa memória, retratadas em aventuras, experiências e histórias.
Sim, as boas e velhas histórias que, como um bom livro, nos fazem viajar no tempo e perceber que ainda temos páginas em branco a serem preenchidas, pois a jornada segue.
Sentado frente ao teclado, companheiro das madrugadas em que o sono é interrompido, vem como um rompante o desejo de compartilhar. Compartilhar e, por um instante que seja, encurtar essa distância que me separa de parte de mim.
Me lembro bem das curvas da estrada, da paisagem que ia se modificando a medida em que o carro se distanciava da cidade maravilhosa e se aproximava daquela pequena cidade cercada de belas montanhas. Minas tem seu charme, e Viçosa tem algo que era totalmente desconhecido para mim até aquele momento. As informações eram poucas, e vindas de um querido amigo que já tinha passado pela experiência de respirar daqueles ares.
Curvas intermináveis e eu ali, ansioso e curioso. Curiosidade que aos poucos foi se dissipando. Cheguei! Opa, quase… Ao correr os olhos por aquela única avenida, pensei “então é isso?” Logo meu olhar se deparou com uma entrada imponente e belos jardins, em torno de uma lagoa.
Sim, a Universidade Federal de Viçosa (UFV), um dos campus universitários mais bonitos e peculiares que já conheci, mas ainda não se tratava de meu destino final. O campus faria parte da minha caminhada nesse novo e fascinante lugar. a Universidade me animou. Em seguida, terra de chão batido, e agora sim faltavam poucos minutos para finalmente me encontrar com minha nova moradia.
Lugar quieto, tranquilo, bucólico, e confesso que no primeiro instante pensei em dar meia volta. O dia começava a nascer, uma densa neblina dava uma atmosfera de mistério. Desci, eu e minha mochila. Me despedi, fiquei com o olhar fixo no carro que se distanciava e me deparei sozinho. Pensei em gritar “pare! Pare, vou voltar”.
Quando menos esperava, aponta em minha direção a primeira pessoa que se tornaria uma amiga, conselheira, professora e, tempos depois, madrinha. Fui direcionado ao dormitório masculino, e num primeiro momento fiquei em um quarto com mais duas camas, uma enorme bancada e um armário. Paralisado por uns segundos, abro a porta do armário e o sentimento de vazio se tornou ainda maior. Tentei dormir agarrado à minha mochila. Não conseguia abri-la e arrumar minhas coisas. E assim se passaram uns dias.
Em poucas semanas estava dividindo quarto com um outro rapaz vindo do interior de São Paulo. Aparentemente não tínhamos nada em comum, mas nos tornamos bons amigos. Cuidado, as primeiras impressões nunca retratam realmente o todo.
As aulas eram em dois períodos, manhã e noite. Participávamos de diferentes atividades,  executando diversas funções que proporcionaram desenvolvimento do trabalho em equipe, bem como amadurecimento e crescimento pessoal. Com a vivência e convivência diária, passei a me sentir em casa.
O Centro Evangélico de Missões (CEM)  marcou a minha caminhada pessoal. Aprendizado e mais aprendizado. A cada novo dia , a certeza de que estava trilhando o caminho certo. Trilhar, percorrer, se encontrar, se perceber. Ter convicção, se enxergar fazendo algo pelo resto de seus dias… isso tem um alto preço.
Nem tudo foi uma mar de rosas. Dificuldades, conflitos internos, questionamentos, o avanço de uma doença. Mas estamos aqui para exercitar nossa fé, crer que a vida é mais, e por ser mais deve ser cuidada, aproveitada e vivida em sua mais profunda essência.
A minha convicção se encontrava em formação, o entendimento da integralidade da Missão, o exercitar do eu discípulo, tudo isso se tornou mais e mais claro com o envolvimento, com o desejo de aprender, de servir e de compartilhar disso tudo, independente do lugar para o qual meus passos me conduziriam.
Com convicção adquirida, sigo eu, desbravando novos lugares, enfrentando novos desafios. Nos últimos anos me encontro em um novo momento, mas nunca me esqueço de tudo quanto vivi e aprendi, pois todas as lições têm mantido minha mente aberta, ecoando e fazendo todo sentido.
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/08/25/das-conviccoes-e-os-caminhos-ate-elas/

August 24, 2017

Como você sabe que não é verdade?

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Por que Susana e Pedro ficaram tão surpresos com a opinião do professor? Por que você acha que o primeiro impulso deles foi não acreditar em Lúcia? Quando na sua vida você teve dificuldade de conciliar a fé com a lógica?

Os dois mais velhos começavam a convencer-se de que Lúcia não estava em seu perfeito juízo. Depois que a irmã foi dormir, ficaram os dois durante muito tempo no corredor, falando baixinho sobre o caso.
O resultado foi que resolveram contar tudo ao professor na manhã seguinte. – Ele escreverá ao papai se achar que há realmente algo de errado com a Lu – disse Pedro. – Isso está indo além da nossa alçada.
Então, eles foram e bateram na porta do escritório e o professor disse: – Entrem –, e ofereceu-lhes cadeiras e disse que estava às ordens.
Escutou-os com toda a atenção, dedos cruzados, sem interrompê-los até o fim da história. Depois, ficou calado bastante tempo. Tossiu para limpar a garganta. E disse a coisa que eles menos podiam esperar:
– Como sabem – perguntou ele – que a história que a sua irmã contou não é verdade?
– Oh, mas acontece… – começou Susana; e parou por aí. Via-se pela cara do velho que ele estava mesmo falando sério. Susana tomou coragem e disse:
– Mas Edmundo confessou que eles estavam só fingindo.
– Ora, aí está uma coisa – tornou o professor – que merece ser considerada, e com muitíssima atenção. Por exemplo, se me perdoam a pergunta: qual deles, pela experiência de vocês, é mais digno de crédito, o irmão ou a irmã? Isto é, quem fala sempre a verdade?
– Isto é que é gozado, professor – respondeu Pedro. – Até agora, eu só posso dizer que é a Lúcia.
– E o que acha você, minha querida? – disse, voltando-se para Susana.
– Bem, – disse Susana – de uma maneira geral eu diria o mesmo que Pedro, mas aquela história do bosque e do fauno não pode ser verdade.
– É o que a gente nunca sabe – disse o professor. – Não se deve acusar de mentirosa uma pessoa que sempre falou a verdade. Isso é mesmo uma coisa séria, muito séria.
– Mas o nosso medo não é que seja mentira – replicou Susana. – Pensamos que poderia haver algo de errado com a Lúcia.
– Acham que ela está louca? – perguntou, calmamente, o professor. – Que é isso: basta olhar para ela, ouvi-la um instante para ver que não está louca.
– Mas, então… – disse Susana, e calou-se. Nunca tinha pensado que uma pessoa grande falasse como o professor, e não sabia bem o que havia de pensar de tudo aquilo.
– Lógica! – disse o professor para si mesmo. – Por que não ensinam mais lógica nessas escolas? – E, dirigindo-se aos meninos, declarou: – Só há três possibilidades: ou Lúcia está mentindo; ou está louca; ou está falando a verdade. Ora, vocês sabem que ela não costuma mentir, e é evidente que não está louca. Por isso, enquanto não houver provas em contrário, temos de admitir que está falando a verdade.
– O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato/2017/08/18/como-sabe-que-nao-e-verdade/

August 23, 2017

Eu escolhi trabalhar

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Tiago Mattes

Existe um movimento entre a nova geração chamado “Eu Escolhi Esperar”. Como é legal ver jovens e adolescentes que decidiram se guardar sexualmente no meio de uma cultura imediatista, permeada por sexo e incentivadora da cultura do “matar o desejo”.
Mas infelizmente, quando se trata de casamento, o desafio não é só “esperar”. É preciso também trabalhar e amadurecer! O casamento e tudo que se vive nele, não dependem somente da espera. Tenho aconselhado muitos jovens que se casaram virgens, ou até namoraram com “corte”, mas que no primeiro ou segundo ano de casamento já estão buscando o divórcio.
Os motivos maiores se encontram no coração egoísta de uma geração que vive a tirania da felicidade ou da realização pessoal e na postura de imaturidade em tudo que se refere a trabalho.
A Bíblia diz que casamento é coisa de gente grande, é preciso “deixar pai e mãe” para tornar-se “uma só carne”. Isso significa que é preciso ser minimamente maduro para se assumir um lar. Isso envolve maturidade emocional, espiritual e financeira.
Muitos jovens estão se casando sem cumprir os ciclos antes do casamento. São emocionalmente frágeis, espiritualmente perdidos e financeiramente desestruturados. O sábio disse: “Termine primeiro o seu trabalho a céu aberto; deixe pronta a sua lavoura. Depois constitua família” (Provérbios 24.27).
Isso significa que preciso completar ciclos importantes da vida antes de casar, como pensar e trabalhar pelo sustento antes do casamento. Isso não significa ter muita grana ou ser rico, mas é necessário o mínimo para deixar pai e mãe e assumir um lar.
Muitos falam da “estabilidade” financeira, mas a palavra estabilidade significa firmeza, constância. Você pode ter estabilidade financeira ganhando pouco, isso depende da sua “firmeza” ao lidar com as finanças, impulsos, desejos consumistas e criar um padrão simples e seguro para sua família, esposa e filhos.
O problema é que por serem imediatistas, egoístas e mimados, muitos jovens têm encontrado problemas no que se refere a trabalho. Vivem em busca de fantasias e atalhos, um trabalho que “os realize pessoalmente” e que dê muito dinheiro com o mínimo esforço.
Sua máxima é “faça o que você gosta e então nunca precisará trabalhar”. Isso é ridículo! Deveríamos dizer “gostando ou não do que você faz, faça o melhor, dê o seu melhor”. O segredo do crescimento em qualquer área da vida tem a ver com dedicação, esforço, submissão e busca pela excelência. Não existem atalhos!
Precisamos entender que nenhum trabalho é insignificante e que, como disse Tim Keller, “todo e qualquer trabalho humano não é apenas uma tarefa, mas um serviço que prestamos ao próprio Deus”.
Vocação não é fazer o que nós gostamos, mas fazer aquilo que Deus nos chamou pra fazer! Comece a dar o seu melhor onde você está! Entenda que Deus te colocou aí, e que através desse trabalho duro você está sendo trabalhado: “o trabalhador faz a coisa e a coisa faz o trabalhador”, disse Vinicius de Moraes. Trabalhar é bom e nos faz amadurecer!
Casamento também dá muito trabalho. Na busca pela felicidade, muitas jovens querem se casar, mas não querem ser esposas. Muito meninos querem se casar, mas não querem assumir a responsabilidade de serem maridos e líderes espirituais, pastoreando suas esposas e filhos. Jovens querem viver um grande amor, mas muitos não entendem que a química não basta, é preciso muito trabalho, dedicação e sacrifício.
Esse é o problema, estamos diante de uma geração que tem dificuldade em “construir”, que abre mão de qualquer coisa tão logo comece a doer ou exigir uma renúncia. Trabalhar dá trabalho. Amar também dá trabalho.
É por isso que não basta esperar. É preciso trabalhar, amadurecer, amar e se submeter. É isso que Jesus nos ensina. Portanto, CRESÇA! Se você tem tido dificuldades, procure ajuda, procure um mentor. E entre nessa campanha também: Eu escolhi trabalhar!
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/08/16/eu-escolhi-trabalhar/

August 22, 2017

Investindo tempo para caminhar junto

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- Renan Vinícius
Quando falamos em igreja viva, é grande a tendência de nos lembrarmos daquela igreja em que os irmãos compartilhavam o que tinham livremente e com amor:
“Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham. Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um” (Atos 4:32,34-35 NVI).
Ao lermos este relato, usualmente pensamos no quão distante estamos de compartilharmos aquilo que é nosso com o próximo, com o nosso irmão. É um sentimento pelo qual até ansiamos, mas de que logo esquecemos quando pensamos nos próximos boletos que teremos que pagar.
Ao lermos esta passagem, costumamos refletir sobre o dinheiro, mas eu gostaria de abordar aqui um elemento valioso que costumamos não associar a esse contexto. Este elemento não só parece estar em escassez nos últimos tempos, como também não somos capazes de comprar com nosso dinheiro: o tempo.
Quando converso com amigos e familiares, sempre surgem ideias de coisas que gostaríamos de fazer, mas que não fazemos porque “nos falta tempo”. Certa vez, refletindo sobre isso, escrevi que o tempo é algo muito democrático: seja um índio no meio da floresta, seja um paulistano preso no engarrafamento na volta do trabalho, o dia de todos tem as mesmas 24 horas. Como gastamos esse tempo é, de certa forma, uma escolha e um reflexo do ambiente no qual vivemos.
Não pense que o objetivo deste texto é criticar um ou outro estilo de vida. O ponto aqui é que, em meio aos estudos, ao trabalho e às responsabilidades com as quais nos comprometemos, até mesmo na igreja local, deixamos de lado ou negligenciamos não apenas momentos de oração e de leitura da palavra de Deus, mas também de caminhada com nossos irmãos.
Muitas vezes, em meio às nossas atividades – boa parte delas voltadas a este mundo -, não temos tempo sequer para tomar um café com aquele irmão com quem servimos há anos em nossa igreja local para compartilharmos anseios e caminharmos juntos.
Não temos tempo para procurar aquela pessoa que há tempos não tem frequentado os cultos. Não temos tempo para ouvir as necessidades daqueles que estão ao nosso redor ou para visitar alguém que está no hospital. Pior: até mesmo inconscientemente, temos a tendência de terceirizarmos isso para o pastor, quando na realidade esse também é nosso papel.
Pare para refletir: como igreja (corpo de Cristo), você tem sido parte de uma só mente e um só coração? Você tem dado importância às demais parte deste corpo? Quando estiver com lutas em sua caminhada, há alguém de sua igreja local com quem você possa contar? Você tem sido alguém com quem alguém de sua igreja local pode caminhar?
Creio que um dos sinais de uma igreja viva é uma igreja que caminha junto. Uma igreja viva se preocupa verdadeiramente com os irmãos e não só almeja o crescimento espiritual de seus pares, como também está disposta a fortalecê-los na caminhada quando os passos estiverem fracos. Uma igreja viva é uma igreja que está unida, como um só corpo, e que não se limita às paredes do templo durante os cultos de domingo. Uma igreja viva vai além, muito além.
Que o Senhor, com sua imensa graça, nos aperfeiçoe continuamente.
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/08/21/uma-igreja-viva-investe-tempo-para-caminhar-junta/

August 21, 2017

Perdão x desculpas

domingo
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- C. S. Lewis

Tenho a impressão de que quando acho que estou pedindo que Deus me perdoe, estou muitas vezes (a menos que eu me cuide bastante) pedindo que ele faça algo muito diferente. Não estou pedindo que me perdoe, mas que me desculpe. Porém, existe uma enorme diferença entre perdoar e desculpar. 

Perdoar significa dizer: “Sim, é verdade que você cometeu tal coisa, mas eu aceito o seu pedido de perdão. Eu jamais o cobrarei de você, e tudo entre nós continuará sendo exatamente como era antes”. Porém, quando desculpamos alguém, estamos dizendo: “Vejo que você não teve como evitá-lo ou não quis fazer isso, e não foi realmente culpa sua”. Se não houve culpa real, não há nada a desculpar. 

Nesse sentido, a desculpa e o perdão são quase opostos. É claro que, em dezenas de casos, seja entre Deus e o homem, seja entre uma pessoa e outra, as coisas muitas vezes se sobrepõem. Parte do que parecia ser pecado à primeira vista, revela-se como não sendo culpa de ninguém e é desculpado; o restinho que sobra é perdoado. […] 

Contudo, o que muitas vezes chamamos de “pedir perdão a Deus” não passa, na verdade, de pedir que ele aceite nossas desculpas. O que nos induz a esse erro é o fato de que normalmente existe certo arsenal de desculpas, ou seja, de “circunstâncias atenuantes”. 

Ficamos tão ansiosos em apresentá-las diante de Deus (e de nós mesmos) que somos capazes de esquecer a coisa mais importante, isto é, o que restou: o montante que as desculpas não são capazes de cobrir, o restinho que é indesculpável, mas, graças a Deus, não é imperdoável. 

Quando nos esquecemos disso, vamos embora achando que nos arrependemos e fomos perdoados, quando, na verdade, tudo que fizemos foi dar satisfações a nós mesmos com as nossas próprias desculpas.

É possível até que sejam desculpas bem esfarrapadas; ficamos facilmente satisfeitos com nós mesmos.
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2017/08/20/autor/c-s-lewis/perdao-versus-desculpas-3/

August 20, 2017

Daqui só se leva o Amor


Viver, tudo que a vida tem pra te dar
Saber (saber), em qualquer segundo pode mudar
Fazer, sem esperar nada em troca
Correr, sem se desviar da rota
Acreditar no sorriso, e não se dar por vencido

Querer (querer), mudar o mundo ao seu redor
Saber (saber), que mudar por dentro pode ser o melhor
Fazer, sem esperar nada em troca

Vencer, é recomeçar
Quando o sol chegar
Quando céu se abrir
Saiba que eu estarei aqui

Vamos amar no presente
Vamos cuidar mais da gente
Vamos pensar diferente
Porque, daqui só se leva o amor
Daqui só se leva o amor
Daqui só se leva o amor.

August 19, 2017

O que é livre-arbítrio?

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- André Scordamaglio

Texto básico: Romanos 6.1-14

Leitura diária
Gn 1.31 Deus o criou bom
Gn 2.17 Certamente morrerás
Rm 3.10-18 Nem um só justo
Rm 3.23 Todos pecaram
Ef 2.1-3 Em delitos e pecados
Jo 8.34 Escravos do pecado
Gl 5.17 Espírito vs. carne

Introdução

Quem nunca ouviu falar em livre-arbítrio? A palavra é conhecida, mas seu significado pode ser desconhecido pela maioria das pessoas, que a utilizam assim mesmo. O conceito dessa palavra é tão importante que, quando entendido corretamente, pode causar grande con­fusão. Foi o que ocorreu na época da Reforma Protestante. Depois de ter afixa­do nas portas da catedral de Wittenberg suas 95 teses, Martinho Lutero precisou debater com Erasmo de Roterdã sobre livre-arbítrio. Ele até escreveu um livro muito conhecido intitulado A escravidão da vontade, no qual argumentou contra a Igreja Católica Apostólica Romana e ex­pôs as ideias bíblicas sobre livre-arbítrio.
Para Lutero, era impossível conciliar o verdadeiro evangelho da graça de Deus com a ideia de livre-arbítrio pregada e crida na Igreja Católica. Por causa disso, Lutero foi excomungado e tratado como herege, mas, apesar disso, ele abriu as portas para um movimento de retorno às Escrituras, o que permitiu a compreensão desse tema tão importante, à luz da Pa­lavra de Deus. 

I. O que é livre-arbítrio?

Popularmente, livre-arbítrio é entendido como a possibilidade do homem de fazer escolhas de forma “livre”, ou seja, o homem pode fazer o que quiser, e isso o tornaria livre de qualquer influ­ência, até mesmo de Deus. É como se o Senhor não tivesse nada a ver com as nossas decisões diárias. Porém, o termo livre-arbítrio sob a óptica da teologia e da filosofia é muito técnico e restrito. Nesta lição, o que nos interessa é o livre-arbítrio relacionado à Soberania de Deus na salvação e como deve ser entendido à luz das Escrituras.
Podemos dizer que livre-arbítrio é a capacidade que o homem tem de fazer escolhas que podem ser contrárias ou não à sua natureza. O termo arbítriodiz respeito a julgar, isto é, o homem “teria” a capacidade de avaliar se vai tomar uma decisão contrária à sua natureza ou não, por isso o termo “livre”. Usei o verbo no futuro do pretérito (teria), porque, na realidade, segundo a Escri­tura, nenhum homem tem livre-arbítrio. O único homem que teve livre-arbítrio foi Adão.
É importante entender que o homem foi criado segundo a imagem e seme­lhança de Deus, ou seja, em retidão perfeita santidade. “Eis o que tão so­mente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 7.29; cf. Gn 1.27; 2.7; 3.6; Sl 8.5; Mt 10.28; Rm 2.14-15; Cl 3.10). Quan­do o homem pecou, perdeu a condição de “arbitrar” sobre sua vontade, perdeu a possibilidade de escolher entre estas duas alternativas: praticar a vontade de Deus ou pecar.
Para entender isso o esquema criado por Agostinho de Hipona sobre a condição do homem antes e depois do pecado é de grande ajuda.
Antes da Queda o homem era: 
  • posse non peccare (capaz de não pecar)
  • posse peccare (capaz de pecar)
Depois da Queda o homem é:
  • non posse non peccare (incapaz de não pecar)
Antes de pecar, o homem poderia obedecer à vontade de Deus e lhe ser agradável por meio da sua própria justiça e santidade. Após a Queda, ele tornou-se incapaz de não pecar. A relação entre a liberdade, responsabilidade e soberania será explorada mais à frente, nas lições desta revista. No momento, interessa-nos conhecer a devassidão causada pelo pecado para podermos compreender que, após a Queda, o homem conseguiu o que chamamos de “livre-agência”.

II. O estrago do pecado

A condição espiritual do homem depois do pecado é conhecida como depravação total ou radical.
Primeiro, sobre essa condição, é necessário saber que o pecado de Adão atingiu todos os homens em todas as épocas, incluindo até mesmo a criação inanimada (Rm 8.19-21). “… pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”(Rm 3.23), e “… assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12).
Adão era o representante da criação diante de Deus; quando ele pecou, toda a criação caiu com ele. É importante entender a extensão do pecado para reconhecer que ninguém está alheio aos seus efeitos, nem mesmo as crianças. Diz o rei Davi: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5; cf. Is 48.8). Após a Queda, todos os seres hu­manos nascem na condição de pecadores.
Segundo, o pecado nos tornou inimigos de Deus. Em sua carta aos Efésios, o apóstolo Paulo diz “… andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3).
Tiago registra que “Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4b; cf. Cl 1.21). A ruptura que o pecado causou na comunhão de Deus com o homem tornou esse último não apenas desobediente, mas também um potencial rival da vontade divina.
Terceiro, o pecado matou o homem, afastando-o de Deus. Em Efésios, lemos: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2.1; cf. Gn 2.17). O profeta Isaías disse: “… as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2).
A morte espiritual diz respeito à impos­sibilidade que o homem tem de se voltar para Deus. Há um abismo tão grande en­tre o pecador e o Senhor que é impossível para o homem aproximar-se dele.
Em último lugar, o pecado afetou todas as faculdades do ser humano. Isso signi­fica que não há um pensamento, atitude e palavra que não estejam manchados pelo pecado; e isso é assustador. As Escrituras relatam que “Viu o Senhor que a mal­dade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gn 6.5). Esse retrato não se refere somente à geração do dilúvio. O que o Senhor revela em sua Pa­lavra sobre nossa condição é humilhante:
“… como está escrito: Não há um justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; des­conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante dos seus olhos” (Rm 3.10-18).
Alguns apontamentos são interessantes. Perceba que o apóstolo Paulo faz várias citações do Antigo Testamento, ou seja, essa verdade está presente em toda Es­critura. Note que todos os homens são colocados sob o mesmo patamar, e por duas vezes ele afirma “não há um sequer”. Agora, veja a lista de pecados que ele coloca como nossos, pois todos nós estamos sujeitos a praticá-los.
Isso significa ser depravado de forma total, ou radical. Quando observamos a nossa vida, podemos até pensar que não somos tão maus assim. Mas, de fato, o que a Palavra ensina é que a raiz – por isso usamos o termo radicalmente – está con­taminada e compromete tudo o que dela procede. Essa raiz é o coração. O pecado habita no coração do homem e, como nosso Senhor Jesus ensinou, “do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos tes­temunhos, blasfêmias” (Mt 15.19). Após a Queda, “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9).
Todas as decisões que o ser humano toma estão permeadas de pecado. O ho­mem não consegue agir contra as rédeas que são o legado de sua carne contami­nada. Por isso, dizemos que o homem perdeu o livre-arbítrio, isto é, ele não tem mais a capacidade de arbitrar entre o bem e o mal; mas a condição da sua vontade é de livre-agência. 

III. Do livre-arbítrio para a livre-agência

A livre-agência pode ser definida como a capacidade de o homem fazer escolhas somente de acordo com a sua natureza. Se Adão, que foi criado santo e reto, pôde fazer uma escolha contrária à sua natureza boa, depois do pecado, todos os homens agem somente – por isso livre-agência – de acordo com a sua natureza, agora deca­ída. Podemos definir a livre-agência entre pré-conversão pós-conversão. Não é o nosso objetivo, nesta lição, discutir a respeito da salvação do homem – isso será feito em lições futuras, mas pretendemos estudar como se dá a livre-agência nesses dois modelos possíveis. 

A. Pré-conversão

Antes de crer em Cristo Jesus, como vimos brevemente, o homem está morto em seus delitos e pecados e vive em deso­bediência a Deus (Ef 2.1-3). “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal” (Jr 13.23). Veja a constatação do profeta Jeremias. É importante lembrar que ele fala para um povo e em uma época em que não existiam as cirurgias estéticas tão comuns atualmente. É como se ele estivesse dizen­do que, se fosse possível alguém mudar a cor da pele, só porque quer, então, alguém acostumado a fazer o mal conseguiria fazer o bem. A situação é de escravidão, servidão: “… todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34).
A vontade do homem está condicionada e servilmente sujeita ao pecado que habita nele. Não há nada que o homem caído possa fazer para, sozinho, desvencilhar-se dessa situação, pois ele está morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1). Assim, sua vontade não é de maneira alguma livre; ele não pode arbitrar entre o bem e o mal, e segundo a Palavra todo homem deseja somente pecar. Se Deus não usar de sua graça e misericórdia, o homem continuará fazendo somente a vontade da carne.

B. Pós-conversão

A livre-agência do cristão não é a mes­ma daquele que ainda não conheceu a Cristo e foi salvo por ele. Quando Deus nos salva, ele retira de nós o coração de pedra – lembre-se, a raiz do problema – e coloca em nós um novo coração, dispos­to a servi-lo, obedecê-lo e buscá-lo (Ez 11.19; 36.26; Sl 51.10). Ao mesmo tem­po, ainda estamos presos a nosso estado corruptível; mas, em sua nova vida, o cristão tem condições de lutar contra o pecado e, em Cristo, ser vitorioso sobre os seus inimigos: a carne, o mundo e o diabo (Jo 16.8-11,33; Rm 6.13,18; 8.10, 37; 1Jo 2.13-14; 5.4-5).
Cristo Jesus foi morto “… carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1Pe 2.24).
Contudo, não dizemos que o cristão volta a ter livre-arbítrio de Adão, porque ainda reside nele o pecado, e seu coração precisa ser constantemente fortalecido e preenchi­do pela Palavra e pelo Espírito para que ele obedeça a Deus de modo que o agrade (Gl 5.16; Ef 5.15-20; 2Tm 3.16-17; Hb 4.12).
Adão e Eva, antes de pecarem, não precisavam se esforçar para obedecer a Deus, pois tinham sido criados santos e justos. Quanto ao crente, nascido sob o pecado, mas regenerado pelo Espírito de Deus, ele precisa se esforçar para cumprir a vontade do Senhor (Êx 19.5; Dt 6.17; At 24.16; Ef 4.3; Hb 4.11; 12.15; Jd 3). Assim sendo, mesmo tendo a capacidade de vencer sua natureza maligna, o crente tem também uma natureza transformada, e age de acordo com ela (Gl 5.17). Se­guindo o ensino bíblico, nos novos céus e nova terra, não mais pecaremos (non posse peccare), assim nossa natureza estará cativa somente à vontade de Deus. 

Conclusão

No Éden, o primeiro casal, Adão e Eva, foi criado santo e justo, mas desobedeceu e caiu em pecado. A partir daí, todos os homens nascem sob as correntes do pe­cado, tendo sua vontade sempre cativa pelo mal e por este são influenciados; nessa condição, não conseguem por si mesmos voltar-se para Deus. No entanto, quando, por meio da ação sobrenatural do Espírito, Deus transforma um pecador e o resgata, este passa a ter o privilégio de obedecer e fazer a vontade do Criador. A nossa esperança, que se encontra fortalecida pela promessa de Deus, é que um dia seremos totalmente transformados e nunca mais pecaremos.

Aplicação

Você já tinha considerado que depois de Adão o livre-arbítrio deixou de exis­tir? Você concorda que as pessoas que não conhecem a Cristo agem dominadas pelo pecado, como ensinam as Escrituras? Você tem se esforçado para obedecer a Deus em todos os seus caminhos, numa resposta à ação transformadora de Deus em você?
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/vida-crista/o-que-e-livre-arbitrio/