February 28, 2019

Como orar [ sugestão ]

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- Linda Martindale

Muitos de nós começamos o ano novo com esperanças e sonhos de mudanças, pessoais e comunitárias, interiores e exteriores, locais e globais, realistas e irrealistas. Eu comecei o ano assim! Uma das áreas que eu quero me desenvolver pessoalmente é a área da intercessão.

Sinto que é mais fácil ter comunhão com Deus no meu dia-a-dia na medida que eu amadureci na fé, mas eu tinha o hábito de orar - de realmente orar - por mudança, por cura, por situações específicas, por países, por assuntos globais, e pelos meus vizinhos e familiares.

Com o tempo, você vai se tornando ciente das circunstâncias por trás desses assuntos e eles começam aparentar serem muito mais complexos e, aos poucos vai ficando mais difícil imaginar alternativas, e as orações não-atendidas ao longo dos anos vão juntando poeira em nossa mente.
Mesmo assim, quando entrei em 2019, desejei mais esperança. Orei por uma renovada fé na intervenção de Deus em um mundo quebrantado, que Deus faz vez após vez.

Lembrei das mudanças que eu testemunhei, e pensei na gratidão diária por pequenos e grandes milagres. Algumas coisas que eu quero lembrar a respeito da oração neste novo ano.

Orar com imaginação

Na medida que fui atravessando várias fases na minha jornada de oração e fé, eu descobri que a oração é muito mais divertida quando eu imagino aquilo que eu estou pedindo se tornando realidade, enquanto estou orando por aquilo – uma oração que inclui imaginar aquilo que estamos pedindo e gerando um imagem em nossa mente sobre como isso seria na vida daquela pessoa, daquela comunidade ou daquele país – alinhando isso com o coração de Deus.

O professor e pastor Greg Boyd fala sobre como Thiago usa uma palavra – energeo (grego) tanto para nos mostrar como orar, quanto para explicar o resultado de orar. A oração ‘energizada’ de um justo tem muito poder e resultados energizados. Oração vigorosa traz mudanças. Boyd nos lembra que imaginar a situação pela qual estamos orando como ela pode ser e como desejamos que ela seja, nos ajuda a orar com paixão. Thiago 5:13-18

Orar sem cessar

É muito fácil parar de orar quando você não vê os resultados que sonhava ou esperava. Muitos de nós ficamos cansados de orar. Mas somos lembrados a orar sem cessar, em toda e qualquer circunstância.

Isso nos lembra que isso não se trata de eu estar ou não estar com vontade de orar, ou se eu já testemunhei Deus magicamente realizar o que eu pedi, isso se trata de fidelidade em pedir a Deus o que eu acredito ser o melhor para este mundo, para aqueles que eu amo, para mim, e sem cessar. 1 Tessalonicenses 5:16-18 nos lembra a orar sem cessar.

Orar com os outros

Nós todos temos momentos de oração com Deus, mas tem alguma coisa a respeito de orar com os outros que reacende o meu coração e me revela mais do coração de Deus, pois o que aflige meu coração e as minhas orações são diferentes do que aflige o coração de outras pessoas e suas orações.

E orar com pessoas diferentes de mim amplia a minha visão e aumenta o meu coração por coisas que não estão me afetando diretamente ou coisas a respeito das quais eu não havia pensado, mas que estão extremamente próximas do coração de Deus. Atos 1:14 nos ensina a nos reunir para orar regularmente.

Orar com honestidade

Você já orou por coisas que você acha que deveria estar no seu coração ou fazer parte da sua oração, mas na verdade aquilo que está no seu coração é completamente diferente?

Deus consegue dar conta da nossa honestidade, e aquilo que está realmente em nossos corações nos vai trazer mais próximos do coração de Deus na medida que nos abrimos e compartilhamos nossos fardos com ele e uns com os outros. Deus sabe o que está verdadeiramente em meu coração. Eu amo como o salmista clama a Deus em honestidade e vulnerabilidade.

Orar por coisas que quebrem o seu coração

A realidade do nosso mundo quebrado, e do sofrimento que afeta muitos que vivem nele todos os dias, pode ser insuportável. Quando sabemos que o que está acontecendo não é o melhor que Deus tem planejado para seus filhos, para sua terra, para sua criação, se torna mais fácil clamar a Deus em prol de tudo isso, em vez de carregar esse fardo sozinhos.

 Muitas noites eu já me deitei com o coração quebrantado, pedindo a Deus que cure, restaure e mude as coisas que pesam o meu coração. Isso me dá mais paz. Eu sei que oração é para os outros, mas também é para mim – me ajudando a navegar em um mundo cruel e lindo que sofre, com mais coragem, mais resiliência e com uma paz mais profunda, sabendo que Ele que tudo vê está restaurando todas as coisas, e nós podemos fazer parte disso.

Dito tudo isso, vamos orar.

Fonte: https://www.ultimato.com.br/conteudo/como-orar-em-2019-uma-sugestao

February 27, 2019

Sonhos, planos e realizações

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Conceda-te o desejo do teu coração e leve a efeito todos os teus planos. (Sl 20.4)

- Elben Cesar

Os sonhos são anteriores aos planos. Os planos são os sonhos que sobrevivem, os sonhos que permanecem, os sonhos que elegemos, os sonhos que agarramos, os sonhos que levamos a sério.

Uma vez transformados em planos, os sonhos têm uma chance de sobrevivência muito maior. Um sonho é apenas sonho. Algo bonito, gostoso, distante e de curta duração. Mas, quando ele assume o status de plano, deixa de ser efêmero.

É da vontade de Deus que certos sonhos se transformem em planos e que certos planos se transformem em realizações. Daí o desejo expresso pelo salmista: “Conceda-te [o Senhor] o desejo do teu coração e leve a efeito todos os teus planos” (Sl 20.4).

Mas Deus não aprova planos egocêntricos, que visam apenas o proveito próprio e não o da comunidade ou do reino dos céus como o do rico insensato (Lc 12.16-21). Deus não aprova também planos soberbos, que dispensam a sua direção e a sua bênção, como se vê na exortação de Tiago (Tg 4.13-17). 

Os planos que Deus aprova e também abençoa são aqueles originários de sonhos que Ele mesmo coloca no coração humano e transforma em realizações. 

São planos que visam a glória de Deus, que têm como fim o aprofundamento e a expansão do Seu reino na terra.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2019/02/27/autor/elben-cesar/sonhos-e-planos
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PS- Para ouvir a trilha do dia: https://www.youtube.com/watch?v=1uEvXoG3zA8

February 26, 2019

Teu olhar dá significado à minha vida

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- Maísa H.

Pablo Neruda, poeta chileno, escreveu em um de seus poemas, meu favorito, as seguintes palavras:

" Não quero dormir sem teus olhos
Não quero ser sem que me olhes
Abro mão da primavera para que continues me olhando "
Ao longo da vida passamos por mudanças e reconstruções, alegrias e tristezas, eternidades e finitudes. Deparamo-nos com as sinuosidades do caminho, com declives e subidas da estrada da vida.

E, após longa jornada em dias de viagem, finalmente chegamos ao fim, onde nosso desejo de descanso pode se realizar; mas, em meio a tantos problemas e medos trazidos por um mundo em contínua voracidade e violência, como podemos fechar nossos olhos e descansar? Quem de nós é capaz de relaxar em meio ao caos e à guerra?


Temos passado por dias de extremos: verão ou inverno. A vida, porém, encontra-se na primavera, quando tudo se renova e o tempo é redefinido, quando a terra fertiliza, os campos secos viram jardins e tudo se equilibra. 
Refletindo sobre o passado, percebo que mesmo diante de grandes desafios, pude descansar e dormir, pois tive o Senhor cuidando de mim incessantemente. E, usando das palavras de Neruda, não desejo ser nem existir sem os olhos de Deus postos sobre mim. 

Ainda que todos nós tenhamos desejado a primavera (que para muitos não veio), fomos férteis e renovados, redefinimos o tempo e plantamos jardins com Aquele que nos observou com olhos de Pai e nos trouxe paz e equilíbrio.
Rodeados de extremos, pudemos, então, descobrir que nossa primavera não se configura em uma estação, mas no Deus que, com mãos de agricultor e de jardineiro, é capaz de (re)ofertar vida. 

E com os três versos do poeta declaramos, já para o futuro, que não queremos ser sem os olhos do Senhor e que abrimos mão da primavera para que Ele, com seu especial cuidado e amor, continue nos olhando.
Fonte: https://ultimato.com.br/sites/jovem/2018/12/13/para-relaxar-em-meio-ao-caos/

February 25, 2019

Como ser feliz em tempos tão dramáticos?

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- Miriam Goldenberg

Alguns leitores me perguntaram se é possível ser feliz em tempos tão dramáticos. Resolvi contar o que aprendi com meus pesquisados de mais de 90 anos:
  1. Gratidão

    Eles expressam diariamente gratidão por tudo o que têm: saúde, família, casa, dinheiro, amizade, atividade etc
  2. Medos

    Sabem que não estão sozinhos em seus medos, inseguranças e sofrimentos
  3. Doenças

    Reconhecem que todos têm doenças e dificuldades e que não adianta reclamar, culpar e responsabilizar os outros. Aprenderam a lidar com os problemas com mais equilíbrio e maturidade
  4. Valorização

    Sabem que as pessoas mais felizes são as que valorizam as coisas boas que possuem. Se quase todo mundo tem poucas qualidades e incontáveis faltas, por que sofrer com tudo o que falta em vez de valorizar e investir nas qualidades?
  5. Comparações

    Têm consciência que a comparação só provoca insatisfação e sofrimento. “Ela é mais bonita, mais jovem, mais interessante, mais rica, mais famosa, mais magra...”. Lógico que existem pessoas melhores, mas do que adianta invejá-las?
  6. Carinho

    Procuram ser carinhosos, atenciosos e generosos com os outros, mas também consigo mesmos. Não se culpam, não se cobram, não buscam a perfeição
  7. Obrigações

    Não querem agradar a todos e não se sacrificam para cumprir demandas e obrigações impostas pelos outros
  8. Liberdade

    Sentem-se cada vez mais livres e independentes do olhar, da opinião e da aprovação dos outros
  9. Atividade

    Têm vontade de viver e querem ser úteis, ativos e produtivos. Têm projetos e uma vida com significado
  10. Risadas

    Aprenderam a brincar e a rir de si mesmos. Sabem que rir é uma forma de se distanciar e relativizar os problemas
Como disse David, de 91 anos: Ser feliz é um trabalho duro e um exercício permanente de autoconhecimento e de reflexão sobre os próprios desejos, vontades e verdades.

Por que será que existe tanta gente preguiçosa, que prefere reclamar da vida e culpar os outros pela própria infelicidade?

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/miriangoldenberg/2018/09/como-ser-feliz-em-tempos-tao-dramaticos.shtml

February 24, 2019

Tudo diferente #sqn

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- Jeverton “Magrão” Ledo

Quero te convidar a parar por uns minutos, desligar por vezes o piloto automático do seu corre-corre e voltar um pouco no tempo. Fazer o exercício do “recordar é viver”, do início de uma caminhada que pode ter começado há poucas semanas, meses ou anos. Isso mesmo, os seus primeiros passos. 
O fascínio das primeiras experiências positivas na rua, no supermercado, com amigos locais. Quando algo novo e cheio da viva esperança trouxe transformação àquele cara quieto e tímido ou àquela menina cheia de pré-conceitos e sonhos.
Tudo te parecia fascinante, não é mesmo?
Para alguns, um novo começo ou recomeço… A oportunidade de ser você mesmo, passando a ter uma compreensão melhor de quem você é, de que não estamos sozinhos, à margem do acaso e à espera da morte.
A cada novo amanhecer, aos poucos as coisas passaram a fazer sentido, a vida começava a ter um sentido. O desejo de trocar, compartilhar e aprender impulsionavam você a seguir. Seguir para onde? 

É aqui que surge um dos maiores desafios. Qual é o objetivo, o que devemos buscar alcançar?
Essa pergunta tem sua resposta no servir ao outro. O pano de fundo é a entrega, a alegria de enxergar o meu próximo nascendo de novo

Sem egoísmo, desrespeito, preconceito.
Daqui a pouco, um novo nível te espera. Fique na expectativa, animado e desafiado a seguir sem aquele sentimento de ter de provar que é capaz.
O desejo real é poder mergulhar mais profundamente em novas amizades, compreender melhor tudo que te cerca e viver na plenitude essa fase da caminhada que com certeza ainda proporcionará novos desafios.
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/08/01/qual-e-o-objetivo-dos-seus-desafios/#more-6126

February 23, 2019

Desonestidade e auto-engano

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- Ricardo Barbosa
Integridade, honestidade e transparência são virtudes que exigimos nos outros, mas nem sempre estamos dispostos a oferecê-las. Esperamos que os políticos, colegas de trabalho e cônjuges sejam íntegros, honestos e transparentes, mas nos recusamos a fazer o mesmo. Vivemos como um viciado que aprendeu a negar seu vício; temos nos iludido por tanto tempo a nosso respeito que a desonestidade e o auto-engano se tornaram uma forma necessária de sobrevivência.
Os riscos que se encontram por trás do desejo sincero de ser verdadeiro, transparente, íntegro e autêntico são inúmeros. Talvez o maior deles seja o medo terrível da desaprovação e da rejeição. Por isso, escondemos nossos sentimentos, mascaramos nossas emoções, negamos nossos desejos e optamos pela superficialidade. Como resultado deste longo processo em que aprendemos a representar os papéis adequados à aceitação dos outros, tornamo-nos aquilo que não somos.
Sustentar um falso ser não é tarefa fácil. O falso ser está sempre adorando e servindo àquilo que alimenta seus desejos egoístas e autocentrados por meio da idolatria da possessão, posição e aceitação. Estes ídolos atuam como feitores e nós, mais cedo que imaginamos, tornamo-nos seus escravos. Somos emocionalmente dependentes, aprendemos desde cedo a usar os outros, incluindo Deus. Tornamo-nos manipuladores porque tudo precisa acontecer dentro dos termos que nossas carências determinam.
Jesus disse que “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. 

Nossa cultura entende a liberdade em termos de “liberdade para” e não de “liberdade de”. Queremos ser livres para fazer o que quisermos, ir aonde quisermos, como também falar o que bem quisermos. Por essa razão, é comum confundir honestidade e transparência com dizer o que se pensa e fazer o que se tem vontade, porém não se trata disso. 

Há uma grande diferença entre ser “livre para” e ser “livre de”. A Verdade nos liberta de nós mesmos, de nossos medos e inseguranças, de nossas necessidades de impressionar e agradar. Ela nos liberta da desonestidade, do auto-engano e da ilusão de ser o que não somos. 

Jesus veio para nos salvar de nosso pecado. 

Ele é a Verdade que perdoa, reconcilia e re-cria. 
Descobrir nosso verdadeiro ser requer de nós, antes de tudo, a redescoberta da graça salvadora de Jesus. Por outro lado, requer também a humildade necessária para reconhecermos o engano do falso ser. O processo é lento e, muitas vezes, doloroso. Precisamos orar como Davi: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno”.
Enquanto o orgulho não der lugar à submissão sincera, permaneceremos cheios de nós, usando as pessoas e Deus para obter vantagens e protegendo nosso falso ser daqueles que não dançam de acordo com nossa música. O resultado é um mundo cheio de seres falsos lutando para sobreviver sem a dependência radical de Deus.
Sabemos que isso não funciona. 

Só Deus conhece nosso coração. Só ele pode sondar as profundezas de nossa alma. Só ele nos ama com um amor fiel e eterno. Quando reconhecemos que somos amados por ele, perdoados por sua graça, feitos novas criaturas e participantes de sua natureza divina, abrimo-nos para dar lugar ao verdadeiro ser, redimido e transformado em Cristo. 

Não é fácil, mas é este o caminho. É possível ser honesto, íntegro e transparente, mas isso só em Cristo. “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.”
Fonte: http://www.ippdf.com.br/textos-e-artigos/desonestidade-e-autoengano-por-rev-ricardo-barbosa/

February 22, 2019

A loucura dos sãos

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Machado de Assis foi pioneiro no estudo dos distúrbios mentais camuflados

- João Pereira Coutinho

Hipócrita leitor: não espere nada de mim. Sou bicho preconceituoso e intolerante, mesmo quando não quero. Sobretudo quando não quero.

Os meus preconceitos são vastos, como oceanos de maldade que tudo afogam em cinismo e irrisão. Culturas, povos, sexos, minorias —nada escapa. Antes de a razão calçar as botas, já os meus preconceitos deram a volta ao mundo (obrigado, Mark Twain).

Mas que dizer daqueles que não têm preconceitos e, pior, declaram ufanamente que vivem de cabeça limpa? Devemos invejar esses seres?

Um pouco de calma. É preciso ter em conta os “preconceitos inconscientes”. A ciência, sempre incansável, debruça-se sobre esse abismo. E garante que uma alma pura nunca é tão pura como pensa.

Que o diga a professora Dolly Chugh, psicóloga social, entrevistada pelo Wall Street Journal. Afirma a doutora que todos temos “preconceitos inconscientes”. Eles podem surgir quando vemos uma mulher aos comandos de um avião (e sentimos um arrepio de medo pela espinha abaixo). Ou quando um mendigo nos pede esmola (e escutamos um “vai trabalhar, vagabundo” ecoando na nossa alma).

Para a professora Chugh, esses preconceitos influenciam os nossos comportamentos e não contribuem para um mundo melhor.

É por isso que muitas empresas já obrigam os seus trabalhadores a frequentarem certos seminários. O objetivo é “revelar”, por uma espécie de “auto de fé” científico, os demônios que se escondem por trás da máscara gentil.

Um dos instrumentos para proceder ao exorcismo é o “implicit association test”, inventado em Harvard, corria 1998. Fato: os pais do teste sempre fizeram uma distinção entre ter certas crenças (negativas) sobre pessoas ou minorias e praticar certas ações (negativas também) contra elas. A primeira asserção não conduz à segunda.

Mas se é possível cortar o mal pela raiz, produzindo um ser humano perfeito e limpo até nos seus pensamentos, por que não tentar?

Quando lia sobre o tema, sorri. E então pensei que o Brasil foi pioneiro nessa área quando, em 1882, produziu um dos primeiros documentos sobre distúrbios mentais camuflados. O autor dava pelo nome de Joaquim Maria, embora seja mais conhecido por Machado de Assis. O título do estudo? “O Alienista”.

Para os infelizes que nunca leram Machado (eu disse “infelizes”? Olha aí o preconceito intelectual!), é a história de um homem, Simão Bacamarte, que abandona uma carreira internacional para se dedicar à sua terra.

A terra é Itaguaí e o dr. Bacamarte tem um sonho: curar a loucura. Como tolerar a imagem decadente de loucos vagueando pelas ruas, sem salvação ou consolo? Esses são os “mansos”, explica o narrador. Os “furiosos” são trancados em casa e ali apodrecem até ao último suspiro.

Inconformado, Simão Bacamarte monta o seu hospício —a Casa Verde— e começa a internar os patológicos. Mas se o espírito humano é uma “concha”, como ele afirma, é preciso ir sempre mais fundo na busca da “pérola”, ou seja, da razão.

Rapidamente, o dr. Bacamarte passa dos patológicos para os suspeitos; dos suspeitos para os ambíguos; e dos ambíguos para qualquer um que mostre a mais leve imperfeição aos seus olhos. Até a mulher, santa criatura, lá vai parar ao manicômio: as suas preocupações com vestidos e joias são a revelação fatal de um cabeça arruinada.

A Casa Verde enche-se. Quase toda a terra ali está porque “o equilíbrio perfeito de todas as faculdades” é artigo raro, raríssimo.

Pelo menos, até ao momento em que o dr. Bacamarte questiona a sua própria teoria: será que a razão é mesmo “o equilíbrio perfeito de todas as faculdades”? Ou esse equilíbrio é a verdadeira manifestação de loucura, o que implica libertar os primeiros loucos e internar a população sã que restou?

Lendo “O Alienista”, percebemos como o dr. Bacamarte é um antepassado dos psicólogos modernos que procuram curar o “preconceito inconsciente”. Todos agem por amor ao próximo. Todos desconfiam da constância aparente. E todos gostariam de internar a humanidade em mil Casas Verdes, procurando a “pérola” escondida na “concha” enferma.

Claro que, lendo ou relendo Machado, uma dúvida assalta o leitor — e, por fim, os habitantes da terra e até o médico: e se o verdadeiro alienado for o próprio alienista?

Ou, adaptando a pergunta para os nossos tempos, e se o verdadeiro preconceituoso for aquele que não tolera preconceitos? Terá ele a coerência do dr. Bacamarte para se encerrar na cela em busca de uma cura para si próprio?

Mistério.

É nesses momentos que uma pessoa suspira de alívio por já não ter salvação.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/2018/11/a-loucura-dos-saos.shtml

February 21, 2019

Impactos da confiança (ou falta dela)

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Confiar nos outros é perigoso no Brasil
- Contardo Calligaris

Numa das primeiras aulas do curso de paraquedismo, o instrutor mostrou como se dobra um paraquedas. Se você errar, o paraquedas não abrirá direito.

O instrutor acrescentou que, no primeiro pulo, cada um de nós (éramos 15) usaria um paraquedas dobrado por outro, não por ele mesmo. Era uma pegadinha, mas houve uma longa troca de olhares, tensa e silenciosa, em que tentávamos entender se os outros eram "confiáveis" (e nos perguntávamos: o que eles veem? Será que me acham confiável?).

Nosso instrutor era um sargento paraquedista do Exército suíço. Ele queria instilar na nossa turma de estudantes universitários o nível de cooperação e confiança recíproca que é o padrão de um Exército. Se estamos no mesmo pelotão, eu preciso confiar que meu camarada de sentinela das 2h às 4h não vai dormir. Sem isso, eu não poderei descansar e estar pronto para tomar o lugar dele às 4h, no turno seguinte.

Nas caçadas do domingo, na minha adolescência, sempre eram grupos de três que entravam num campo de milho ainda não cortado, atrás de faisões. Com os cães na frente, os três caçadores avançavam sem poder enxergar onde estavam exatamente os outros. Mas nunca duvidei: ninguém atiraria numa ave antes de ela levantar voo bem alto.

Esses três exemplos apresentam grupos com um coeficiente alto de cooperação e confiança. Qual seria o exemplo oposto?

Francis Fukuyama, cientista político, publicou o famoso (como de costume, mais discutido do que lido) "O Fim da História e o Último Homem", em 1992 (Rocco). Três anos depois, veio "Confiança - As Virtudes Sociais e a Criação da Prosperidade" (Rocco), no qual Fukuyama analisa o impacto dos hábitos morais compartilhados sobre a prosperidade de uma sociedade.

A confiança é um dos fatores cruciais que fazem que uma sociedade seja próspera ou não.

Fukuyama define a confiança assim: uma expectativa compartilhada de que o comportamento dos outros será honesto e cooperativo — e isso, claro, fora do quadro familiar (os hábitos morais só têm interesse se funcionarem fora da família e sem intervenção do governo).

É fácil imaginar porque as sociedades com alto nível de confiança seriam mais prósperas. Assim como é fácil imaginar como a falta de confiança recíproca condena uma sociedade (o que sobrar dela sem confiança recíproca) à estagnação na pobreza.

Veja só. Você mora no último andar. Um dia, chove na sua casa, pelo teto. O síndico, solícito, chama uma empresa, a qual, em tese, faz o necessário. Você confia. Alguns meses depois, num temporal, chove novamente na sua casa. O empreiteiro reaparece, diz que verificou as calhas etc. e vai embora garantindo o resultado. Você confia.Volta a pingar água. O empreiteiro é convocado, comenta que a chuva foi excepcional e garante que, desta vez, está resolvido. Você não confia mais... O serviço acabará, enfim, com outro empreiteiro, que saberá o que fazer e, monitorado, usará os materiais certos, que são levemente mais caros. 

Essa pequena história só é engraçada porque ela não tem vítimas. Mas ela tem custos: seu custo social não é apenas o tempo desperdiçado por todos (zelador, síndico, empreiteiro, mão de obra, funcionários etc.), mas a própria deterioração da confiança (de todos) na competência, na honestidade e na eficiência do trabalho.

Logo antes do Painel da GloboNews de sábado passado, tomei um café com José Adércio Leite Sampaio, o procurador que coordena as forças-tarefas dos desastres do Rio Doce (Mariana) e de BrumadinhoPerguntei se ele atribuía as mortes de Brumadinho à incompetência ou à negligência. 

Ele me respondeu que, no começo, ele tinha dado uma chance à ideia de que fosse um acidente. Rapidamente teve que levantar a hipótese da incompetência, logo a da negligência e, enfim, rendeu-se às provas de que a catástrofe era fruto de uma fraude.

Mariana, Brumadinho, o CT do Flamengo, a boate Kiss, os desmoronamentos da chuva no Rio, para uma amiga, são eventos que anunciam o fim do mundo e provam que, por alguma culpa, somos desafetos de Deus. Para mim, esses eventos só acumulam razões para cultivar a desconfiança social.

Podemos mitigar os riscos pessoais: por exemplo, para quem pode, não viver encostado numa barragem ou no morro do Vidigal. Mas, como comunidade, somos condenados ao atraso porque aqui, no país em que vivemos, confiar nos outros é perigoso.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2019/02/com-ou-sem-confianca.shtml

February 20, 2019

Parem de fazer o que é mal

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Para sair da lama, para sair da baixeza, para sair do chiqueiro de porcos (onde se encontrava o filho pródigo), para sair da sarjeta, para sair do caminho largo, para sair do abismo, para sair do caos, para sair da desgraça, para sair da tormenta -- qualquer um de nós precisa parar de fazer o que está errado. 

Não será muito fácil por causa da nossa índole má, por causa da cultura que nos rodeia, por causa da mídia, por causa do costume, por causa do hábito, por causa do vício, por causa da dependência. Mas não há outro caminho. 

Nada substitui o ato de parar, de frear, de brecar.

Talvez a mais conhecida ordem de parar de pecar encontra-se logo no primeiro capítulo de Isaías: “Parem de fazer o que é mau” (1.16).

Para ficar mais claro, leiamos a mesma passagem em outras versões: “Deixem de agir mal” (BP), “Digam ‘não’ para o mal” (AM), “Cessai imediatamente de praticar o mal” (KJ).

Se usasse a linguagem militar, Isaías gritaria para o povo: “Meia-volta, volver!”. Essa expressão indica “o movimento circular do corpo, que resulta em ficar de costas para o local que estava à nossa frente” (Aurélio).

Se usasse a linguagem bíblica, o profeta teria de proclamar em nome de Deus: “Converta-se!”.

Na linguagem militar dá-se uma ordem enérgica e fria. Na linguagem bíblica é mais um convite choroso do que uma ordem: “Que os maus abandonem a sua forma errada de viver; os perversos, sua forma errada de pensar! Que eles voltem para o Eterno, que é misericordioso, para o nosso Deus, que é generoso em perdoar!” (Is 55.7, AM).

Na Bíblia, a ordem de parar de fazer o que é mau quase sempre vem acompanhada de outras duas: “arrependa-se e volte” para o Senhor: “Povo de Israel, vocês se afastaram para longe de Deus; mas agora arrependam-se e voltem para ele” (Is 31.6, NTLH). 

Parar de fazer o que é mau, arrepender-se do mal praticado e dispor-se a voltar para Deus quer dizer simplesmente mudar de vida, pôr-se no caminho outra vez, colocar outra vez o pescoço debaixo do jugo do Senhor e começar outra vez a negar-se a si mesmo todas as vezes que for necessário.

A verdade é que nós “nos convertemos e somos convertidos”. Só voltamos para Deus quando somos por Ele voltados. Não podemos empurrar tudo para o Senhor nem empurrar tudo para nós. 

Mesmo se tivermos má vontade ou um desânimo atroz para cessar imediatamente de praticar o mal, podemos apelar para a oração que aparece no penúltimo versículo de Lamentações de Jeremias: “Faze com que voltemos a ti, ó Senhor, sim, faze-nos voltar! Faze com que a nossa vida seja outra vez como era antes!”.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/359/isaias-fala-alto-parem-de-fazer-o-que-e-mal

February 19, 2019

É preciso procurar em Nazaré

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- Rafaela Senfft

Deus se manifestou em Nazaré. “Mas pode vir algo bom de Nazaré?”, foi questionado.
Hoje quero trazer uma reflexão simbólica sobre Nazaré, a cidadania terrena do Filho de Deus: A Nazaré da vida, o fractal que reverbera a Estrutura do universo.
Procure tudo em Nazaré, ache tudo em Nazaré, mais importante, se encontre em Nazaré; nas coisas pequenas, simples, naquelas que você acha mais insignificantes, naquelas com menos eloquênciaBuscar na “Nazaré” da vida é olhar na tangente, é abrir a mente, é encontrar o Eterno na mansidão da vida, é andar na contramão dos desejos do coração humano, dos modismos, das identidades consumíveis.
Nazaré é um lugar hostil, é a quebrada que não é modinha, é sem graça e sem glamour. Mas Nazaré também é um lugar de vastas experiências reais, de surpresas, de novidade de vida, aonde não existe tédio.
Por mais informações que tenhamos, por mais que escutemos repetidas vezes sobre a manifestação de Deus na história, sempre criamos uma fórmula viciada e repetida. Mas em Nazaré, tudo é indomesticável.
Gosto de fazer uma relação com filmes iranianos porque não seguem um formato de princípio, meio e fim. Não há final feliz. Aliás, não tem nem um final. O filme acaba do nada e a gente fica naquele vácuo, perplexo, acompanhando os créditos subirem na tela sem a mínima lógica. Só nos resta dar continuidade da história como nos aprouver.
Mas aí comecei a assistir a tantos filmes iranianos que me pegava tentando prever o término do filme, pensando: é agora! Eu tentava detectar aqueles momentos mais aleatórios e percebi que, depois de um tempo assistindo, parecia que eu tinha um único propósito com esse estilo de cinema: pegar o final em flagrante. Mas nunca dava certo, ainda assim o filme terminava nos únicos segundos em que eu não “esperava”.
Comecei a refletir sobre essa experiência e percebi algo interessante. Às vezes eu tinha certeza das possibilidades x ou y, z na vida, mas o real “propósito” nunca vinha desses lugares, sempre de um ponto que eu não havia imaginado antes.
Passei a perceber o Eterno inscrito nas mínimas experiências corriqueiras, costurando tudo de forma harmônica e simples, singular demais, até. Algo muito significativo, instrutivo e transformador começou a mover no meu coração em Nazaré.
No ambiente religioso existe um leque simbólico de como as coisas devem ser, mas Jesus vem e redireciona nosso olhar a um lugar para o qual só olharíamos caso essa fosse a última opção, porque não imaginaríamos algo tão grande em certos lugares tão irrelevantes na vida.
É preciso ter a mente aberta para Jesus entrar, é preciso procurar em Nazaré. Por causa da nossa natureza pecaminosa, no desconforto de Nazaré é o lugar onde menos queremos estar. Mas foi lá que a esperança nasceu, é lá que encontramos nossa identidade.

Fonte: https://ultimato.com.br/sites/jovem/2018/12/27/e-preciso-procurar-em-nazare/

February 18, 2019

Desconstruindo estereótipos do que é felicidade


- João Pereira Coutinho

Tudo aquilo que você imagina saber sobre a felicidade está errado. Pelo menos, Paul Dolan pensa que sim. Quem é Dolan? Desconhecia o personagem. Agora, dificilmente o esquecerei.

Paul Dolan, professor de ciências comportamentais na London School of Economics, leu todos os estudos possíveis sobre a "economia da felicidade".

Depois, com graça (muita) e perversão (muitíssima), começa a demolir as nossas ideias feitas sobre a matéria. O objeto do crime dá pelo nome de "Happy Ever After: Escaping the Myth of the Perfect Life".

Minto. O problema não são as nossas "ideias feitas". São as "narrativas sociais", explica Dolan. Você sabe, aquelas prescrições que abundam por aí, proferidas por familiares e colegas e revistas de lifestyle, sobre o que as pessoas devem querer ("casar e ter filhos"), fazer ("profissões com salários milionários"), pensar ("tudo está nas nossas mãos") ou sentir ("a monogamia é sagrada"). As chances de estarmos constantemente a escutar besteira são elevadíssimas. Quer um exemplo?

"Riqueza é felicidade." Não é, não. Pobreza é infelicidade. Mas, assim que as nossas necessidades básicas estão satisfeitas, o desejo por mais dinheiro gera quantidades cada vez mais diminutas de felicidade.

O objetivo, segundo a evidência empírica, não está em querer a Lua. Mas em habitar o planeta do "just enough" —qualquer coisa como US$ 50 a 75 mil por ano, pelo menos nos Estados Unidos. Quem habita esse planeta reporta um nível de satisfação com a vida muito superior a quem recebe, por exemplo, US$ 100 mil por ano.

O mesmo vale para profissões com "status" social. Não se engane. Sim, o desemprego é uma chaga na nossa felicidade. Pior: é uma chaga que nunca verdadeiramente cicatriza, nem mesmo quando voltamos a ter trabalho.

De igual forma, em países onde o índice de desemprego é elevado, isso atinge até os níveis de satisfação daqueles que têm emprego. ("Nenhum homem é uma ilha", já dizia o poeta.)

Mas, quando investigamos quais as profissões que reportam maior felicidade, encontramos padres, agricultores e instrutores de fitness. Ou então floristas, que em todos os estudos apresentam índices de felicidade muito superiores aos dos advogados.

E, sobre a educação, a utopia de um "país de doutores" ignora o básico: você sabia que, quanto mais educada é uma pessoa, mais infeliz ela será? Ou, inversamente, quem tem o ensino médio é mais feliz que um licenciado; e um licenciado é mais feliz que um doutorado.

Só existe um exceção curricular: quem faz mestrado reporta níveis de felicidade superiores a um licenciado ou doutorado. Dolan não encontra explicação para o fenômeno. Nem eu: passei diretamente da licenciatura para o doutoramento, ou seja, da infelicidade para a miséria.

Mas é nas relações pessoais que o livro de Dolan arrebenta com várias cabeças. "Você tem de casar", diz a mãe para a filha. Depende das expectativas. O "amor passional" desaparece em dois anos, altura em que o "amor companheiro" entra em cena. Casar, só se você estiver disposto a essa troca.

De resto, em termos de satisfação com a vida, solteiros, casados e divorciados ocupam o mesmo patamar de felicidade. Pior: pessoas que nunca casaram são mais felizes do que divorciados ou separados. (Bye-bye clichê sentimental de que "mais vale ter amado e perdido do que nunca ter amado na vida").

Fato: os casados tendem a ser mais saudáveis. Mas há variações importantes: os homens se beneficiam mais desse efeito do que as mulheres.

Aliás, mulheres de meia-idade casadas tendem a ser mais doentes —física e psicologicamente— do que mulheres de meia-idade solteiras. Talvez porque casamentos problemáticos atingem mais profundamente as mulheres do que os homens, embora elas se aguentem melhor ao divórcio do que eles. Moral da história?

Se o casamento fosse um jogo, as mulheres teriam mais a perder do que os homens (engraçado: e são elas, ironicamente, que sofrem maiores pressões para casar). Até a qualidade do sono piora para as donzelas. (Sim, querida, podes marcar consulta no otorrino; não posso ser tão egoísta.)

Tudo isso significa que Paul Dolan aconselha o contrário das "narrativas sociais"? Longe disso. Dolan, casado e pai de dois filhos, admite perfeitamente que é possível ser feliz com uma conta bancária na estratosfera, um pós-doutorado em física quântica e um casamento que rola há 50 anos.

O conselho dele é outro: as vidas felizes não dependem de "narrativas sociais" perfeitas, que muitas vezes são a razão principal de muitas infelicidades. A experiência individual é tudo: como ele escreve, as experiências são mais importantes do que as histórias que contamos sobre elas.

Aliás, eu diria mais: em muitos casos, só contamos histórias da carochinha para iludir os outros — e nos iludirmos a nós. Mas isso já seria assunto para um livro ainda mais perverso.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/2019/02/historias-da-carochinha.shtml

February 17, 2019

Que crise resiste ao contentamento?

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- Ioná Nunes
Um dia você é jovem e faz inúmeros planos, e no outro Cristo entra sua vida e sopra em tudo que você planejou. Cara, que loucura, a gente fica nervoso e isso escancara a porta para a ansiedade. 

Lembro como se fosse ontem: estava eu recém-formada na biblioteca da universidade e uma crise se ansiedade me agarrou. Tremia dos pés à cabeça, a asma que me assombrou quando criança voltou, a visão ficou embaçada como as lentes sujas de um óculos. Se me concentrar, consigo me ver sentada na cadeira verde, rodeada pelos meus amigos e ouvindo o barulho dos meus dentes batendo uns nos outros enquanto chorava incontrolavelmente. Mal sabia eu que essa era minha primeira lição sobre confiança e alegria no Senhor.
Duas semanas antes, bolhas de água nasceram na minha mão esquerda e eu não sabia o porquê. Com algumas reflexões após esse episódio, descobri que elas eram resultado da ansiedade. Pense só, ingressei na universidade aos 19 anos e planejei todo o meu futuro. Assistir o que projetei ser frustrado me deixou louca. Nas minhas contas, era pra eu já ter um emprego, estar prestes a me casar, morando sozinha e publicando de forma independente o meu primeiro livro. Mas nada aconteceu como previ, Deus tinha outros planos para mim e eu não estava bem com isso. Esperneei como uma criança mimada até chegar ao meu limite…
No mesmo dia da crise Deus falou comigo sobre confiança. Ao abrir a Bíblia, a escritura atravessou cada parte do meu ser enquanto me chamava para andar por fé. Não tinha mais forças pra resistir e nunca mais queria experimentar aquele tipo de crise, então me rendi. A cada leitura da palavra, momento de oração e louvor, Deus reafirmava em meu coração que eu podia não ter tudo que queria, mas tinha tudo que precisava. Ele me ensinou que estar no centro da Sua vontade não significa estar confortável, mas que aquele é o melhor lugar para estar. Além disso, me fez compreender que confiança não tem nada a ver com acreditar que vamos obter o que desejamos, mas sim com acreditar na bondade do Pai, não importa o que aconteça.
Aí, pronto, já viu! Minha alma se alegrou de uma forma que jamais achei ser possível! Saber que Ele estava satisfeito ao me ver satisfeita nEle me deixou feliz, sorrindo à toa, como uma mulher com botox implantado nas bochechas! Saber que quem confia nEle não se decepciona fez meu coração festejar! Saber que Deus era a alegria do meu coração e que se tenho a Ele tenho tudo, fez minha alma descansar! Minha primeira reação ainda é chorar de medo, sofrer por antecedência ao me preocupar, mas imediatamente seu Espírito me lembra de quem Deus é e isso me empanturra de contentamento!

Lembrar que a vida na terra é um vislumbre do que está por vir, me fez ansiar pela coisa certa: pelo céu!
C.S. Lewis nos aconselhou a não depositar nossa felicidade em algo que podemos perder. Por que não depositá-la na melhor coisa da vida, que podemos ter mesmo sem merecer? Enquanto Jesus não for nossa alegria, o trono do nosso coração será preenchido por coisas efêmeras que não nos completam. Você pode possuir todas as coisas materiais do mundo, mas sem Cristo você é pobre. 

Feliz é aquele que tem Cristo como tudo, pois uma vez que Ele for seu, você não precisa de mais nada.
Fonte: https://ultimato.com.br/sites/jovem/2019/02/19/que-crise-resiste-ao-contentamento/

February 16, 2019

Intimidade e libertação

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- Ricardo Barbosa

Fala-se muito hoje em dia sobre intimidade. É a palavra da moda. Todos querem ser íntimos de Deus, do cônjuge, da namorada ou do amigo. Os programas de televisão e de rádio de maior audiência são aqueles que expõem a intimidade dos outros. As revistas de maior vendagem são aquelas que fofocam e comentam a intimidade de pessoas famosas. É comum ouvir nas ruas comentários sobre a vida íntima das celebridades, sobre suas casas, plásticas e relacionamentos, como se fossem velhas conhecidas. O sucesso do Big Brother está exatamente em expor a intimidade dos outros. Casais expõem-se na televisão. Todos querem mostrar o que são e o que pensam. Querem mostrar o corpo e a alma. Vivemos a era de Narciso.

Nas igrejas não é diferente. Boa parte das músicas que cantamos buscam promover uma adoração mais intimista. Cantamos essas músicas com um tom de voz bem diferente daquele que marcou os cânticos de guerra com suas melodias marciais. É preciso “sentir” a presença de Deus, repetir estrofes até que provoquem algum tipo de êxtase. Nas orações predominam os pronomes da primeira pessoa: meu, para mim. Tenho a impressão de que o conceito de intimidade vem adquirindo, cada vez mais, uma forte conotação sexual e intimista. Imagino que o “ficar”, no relacionamento avulso dos jovens e adolescentes pós-modernos, seja o comportamento que melhor descreve o significado de intimidade hoje. Algo passageiro, descomprometido, impessoal, intenso, egoísta e prazeroso. Certa vez ouvi alguém dizer que quando louva a Deus é como se estivesse “dançando com o rosto coladinho em Jesus”.

Estou casado há 28 anos e considero que minha esposa e eu conquistamos um razoável nível de intimidade ao longo desse anos. Contudo, não consigo imaginar como seria nossa vida se vivêssemos o tempo todo trancados num quarto, trocando declarações apaixonadas, num êxtase interminável. Certamente não suportaríamos isso por muito tempo. A nossa intimidade envolve nossas diferenças e conflitos, longas conversas seguidas de silêncio. Envolve nossos filhos e amigos, alegrias e tristezas, sofrimentos e esperanças. Envolve responsabilidades e rotinas, trabalho e contas para pagar. É uma intimidade que tem seus momentos reservados, é claro, mas a maior parte do tempo ela é experimentada e vivida publicamente.

Tenho me preocupado com o modelo de espiritualidade intimista que vem sendo proposto que, de certa forma, é uma versão religiosa do individualismo narcisista da cultura pós-moderna, uma versão religiosa do “ficar”. Ficamos com Deus em alguns momentos no culto, mas o que acontece antes ou depois dele não tem nada a ver com a intimidade. Ela só existe naquele momento, com aquelas sensações. É um modelo de intimidade e espiritualidade que não contempla a riqueza dinâmica da vida da fé. Seguir a Cristo no caminho do discipulado nos envolve numa espiritualidade cuja intimidade se dá num processo dinâmico de relacionamento, em que a confissão “Aba-Pai” acontece ao lado da confissão “Kyrios-Cristo”. Ambas dão o equilíbrio necessário a uma espiritualidade que é integral e pessoal, pública e privada, missionária e contemplativa.

A intimidade que Cristo nos propõe acontece num caminho e envolve todas as estações da vida. Ele nos chama para orar, mas também para lavar os pés uns dos outros. Ele nos chama para viver numa comunhão amorosa e segura com o Pai, mas também para confrontar os poderes que aprisionam e oprimem o ser humano. Ele nos chama para o silêncio e solitude, mas também para a proclamação profética e libertadora. É uma espiritualidade que precisa estar presente na economia e na política, na igreja e no quarto. O intimismo intoxica, a intimidade liberta. O intimismo é narcisista e exclusivista, a intimidade é pessoal e comunitária. A imitação de Cristo é o caminho mais seguro para uma intimidade libertadora.

Fonte: https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/300/intimidade-e-libertacao

February 15, 2019

O que realmente importa

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Você consegue desligar o piloto automático?

- Renan Vinícius

Como está a sua rotina?

Acredito que você deve ter uma vida bem corrida, como boa parte das pessoas. Por mais que acordemos mais cedo e dormimos mais tarde, o tempo parece sempre insuficiente para as atividades que temos na universidade, no trabalho, em casa e até mesmo na igreja. Creio que nos últimos anos temos vivenciado, coletivamente, a sensação de que estamos sempre “correndo atrás do vento”, como disse Salomão em Eclesiastes.

Um reflexo direto da nossa “falta de tempo” se reflete nos nossos relacionamentos, que correm o risco de serem superficiais. Assim como eu, você provavelmente deve ter visto alguns memes em redes sociais brincando sobre como a vida adulta se resume a encontrar algum amigo por acaso e a conversa terminar com a clássica frase: “precisamos marcar um café”. No final das contas, esse café nunca sai do campo das ideias. O que parece ser engraçado é, na verdade, uma realidade bem triste.

Este tema é tão importante que tem sido abordado sob diversos aspectos, especialmente fora do contexto cristão. Neste texto, eu gostaria de falar como isso influencia nossa missão de ser igreja. A música “Reina”, cantada por Jeferson Pillar, tem uma frase bastante interessante: “cansei de ser de igreja, eu quero ser a igreja”. Você já parou para pensar na grande diferença que há entre as duas coisas?

É muito fácil ativarmos o piloto automático em diversos aspectos na nossa caminhada cristã.

Podemos frequentar a mesma igreja por anos e servir com pessoas no mesmo ministério sem sequer as conhecermos verdadeiramente. Ficamos anos encontrando o outro aos domingos, nos limitando a perguntar se está tudo bem (muitas vezes, fazemos isso de modo automático, sem realmente nos interessarmos em saber se o outro está realmente bem). Ouvimos a resposta padrão e, quando muito, nos limitamos a falar de coisas aleatórias, como a nova série da Netflix ou sobre como o trânsito estava complicado na Marginal Tietê.

Infelizmente, nas igrejas muitas vezes não falamos de nossas dores, nossas lutas espirituais, nossas angústias, talvez por não termos relacionamentos profundos que propiciem esse lugar seguro. Aqui eu gostaria de deixar claro que não estou falando apenas de fazer um pedido de oração para uma situação específica. Falo de um assunto que abordo em praticamente todos os meus textos: a necessidade de caminharmos juntos, como irmãos em Cristo, compartilhando nossas dores e alegrias.

Quando sentamos em um banco da igreja no domingo, podemos estar ao lado de alguém que está sofrendo silenciosamente, mesmo que as invejáveis postagens do Instagram não indiquem isso. Se não nos colocamos à disposição dos que sofrem ao nosso redor, como temos a ousadia de querer fazê-lo com seres humanos imaginários que nunca vimos e que estão a quilômetros de distância? Como certa vez disse o pastor André Saldiba, os nossos próximos já estão no nosso caminho, só precisamos olhar para eles.

Se você chegou até aqui, certamente deve concordar comigo que há muito a ser feito. Emprestando uma frase clichê, eu entendi que a mudança deveria começar por mim. Decidi que, quando encontrasse alguém que eu conhecesse minimamente a ponto de perceber que a pessoa não estava emocionalmente bem, iria procurá-la para perguntar como ela estava. Ainda há um longo caminho a percorrer pela frente, mas tenho tentado praticar isso.

Para terminar, gostaria de compartilhar que refletir sobre “os desafios de ser igreja em nossos dias” foi um desafio para mim, especialmente porque o significado de “ser igreja” foi algo que busquei entender praticamente durante todo o ano passado. Há um tempo considerável não escrevia para este blog. No entanto, no último domingo, ouvi uma mensagem que veio muito ao meu coração e que inspirou boa parte das palavras que escrevi aqui. Se puder, assista: “A amizade espiritual no dia da angústia“, de Cláudio Manhães.

Finalmente, minha oração é no sentido de que Deus encha nossos corações de empatia e amor, especialmente com aquelas pessoas que estão ao nosso redor. Que não apenas frequentemos uma igreja, mas que sejamos igreja, comunidade.

A começar em mim, a começar em você, a começar em nós.

Fonte: https://ultimato.com.br/sites/jovem/2019/01/25/e-hora-de-sair-do-piloto-automatico-na-igreja/

February 14, 2019

O básico para viver

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- Jonathan Simões Freitas

Palavras de Agur, filho de Jaque, o masaíta, que proferiu este homem a Itiel, a Itiel e a Ucal: Na verdade eu sou o mais bruto dos homens, nem mesmo tenho o conhecimento de homem. Nem aprendi a sabedoria, nem tenho o conhecimento do santo. Quem subiu ao céu e desceu? (Pv 30: 1-9)

Ninguém! Nem Ninrode e os caldeus. Todos pecamos e estamos aquém da glória de Deus. Sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios. Como Nabucodonosor, perdi até mesmo o tino humano; eu me animalizei. Sou o pior dos pecadores.

Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas numa roupa? Quem estabeleceu todas as extremidades da terra? Qual é o seu nome? E qual é o nome de seu filho, se é que o sabes?

“Tu somente”. Cristo, o filho do Deus vivo. Nome sobre todo nome. O que acalma ventos e mares. O herdeiro dos confins da terra.

Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso.

Porém um dos serafins voou para mim, trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; e com a brasa tocou a minha boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e expiado o teu pecado” (Is 6.6–7). 

A palavra que santifica. O movimento da graça. O que desceu do céu e subiu. Cristo, o Verbo que vem, abrigo ao qual nenhum tijolo se acrescenta. A verdadeira torre e o legítimo esconderijo do pecador.

Duas coisas te pedi; não mas negues, antes que morra: Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção de costume; para que, porventura, estando farto não te negue, e venha a dizer: Quem é o Senhor? Ou que, empobrecendo, não venha a furtar, e tome o nome de Deus em vão.

Gratidão. A única resposta apropriada à graça. Nem desuso nem abuso da dádiva. Uso simples e grato, que não ofusque o doador.

Nesses termos, “a quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim” (Is 6.8).

Fonte: https://www.ultimato.com.br/conteudo/o-basico-para-viver 

February 13, 2019

Correndo a corrida cristã

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Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus. (Hebreus 12.1-2)

- John Stott

Os jogos gregos eram bastante populares nos tempos antigos. Como a cultura grega permeava o Império Romano, os jogos eram praticados em todo o Império. Em cada cidade havia um anfiteatro, no qual os atletas exibiam suas proezas diante de multidões imensas e entusiasmadas, disputando corridas, lutas, lançamento de dardos e corridas de carruagens. 

No Novo Testamento, a vida cristã é comparada muitas vezes a uma corrida atlética, não porque estejamos competindo uns com os outros, mas pela demanda de autodisciplina. 

A preocupação do nosso autor é a de que “corramos com perseverança a corrida que nos é proposta” (v. 1). A impressão que temos é de um treinador instruindo os atletas numa competição. 

Para conseguir um bom desempenho, três requisitos são necessários.

Primeiro, lembre-se dos espectadores! “Estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas”, ele escreve (v. 1), referindo-se certamente aos heróis da fé no Antigo Testamento, citados no capítulo 11, e provavelmente aos seus equivalentes no Novo Testamento. Mas em que sentido eles são “testemunhas”? O autor provavelmente está se referindo ao testemunho que eles deram sobre a terra. Poderíamos incluir os cristãos mortos que estão nos assistindo do céu? Teoricamente, penso que sim, porque lemos que estamos “rodeados” por eles, sugerindo inúmeras fileiras repletas de espectadores empolgados no anfiteatro local. Lembrar-se dos espectadores significa inspirar-se neles para buscar um melhor desempenho.

Segundo, treine! Todos os atletas sérios se sujeitam a uma árdua disciplina que inclui o controle de alimentos, bebidas, exercícios e sono. E para obter um bom desempenho durante a corrida é preciso eliminar o excesso de peso e as roupas inadequadas. Na corrida cristã isso significa abandonar o “peso” do pecado e outros “pesos” que podem não ser pecaminosos em si, mas que atrapalham o desempenho na corrida.

Terceiro, mantenha os olhos na linha de chegada! Os atletas cristãos devem evitar todo tipo de distração e manter os olhos fixos em Jesus, imaginando-o em pé ao lado da linha de chegada. 

“Pensem bem naquele que suportou a cruz e a oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês também não desanimem” (12.3), escreve o autor. 

Assim, cercados por testemunhas, desfrutando dos benefícios de uma disciplina rígida e fixando os olhos em Jesus, correremos nossa prova com perseverança, sem nem sequer cogitar da possibilidade de abandoná-la.

Para saber mais: Hebreus 12.1-3

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2018/11/22/autor/john-stott/correndo-a-corrida-crista-4/

February 12, 2019

As más noticias nos perseguem a vida inteira

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Há boas notícias e más notícias.

A mídia dá mais espaço para as más do que para as boas. Estranhamente as más notícias vendem mais do que as boas notícias. Estas ficam num canto qualquer do jornal e aquelas, na primeira página.

A má notícia acaba com a alegria, causa desânimo, abre caminho para o álcool e para a dependência química, adoece o corpo e a alma, provoca revolta contra tudo e contra todos, gera traumas de difícil cura, afasta a criatura do Criador, cria uma espécie de cinismo frente à vida, fomenta o suicídio. Mesmo assim, parece que nos acostumamos de tal modo com as más notícias que não podemos viver sem elas. Somos obrigados a admitir que a vida é um rosário de más notícias. Mal ouvimos uma, outra vem em seguida. Algumas são mais ou menos esperadas. Outras, as mais freqüentes, vêm de surpresa. Elas não param, não dão descanso. Acontecem sempre, ora com menor ora com maior intensidade. As más notícias podem afetar uma pessoa apenas, uma família apenas, uma região apenas, uma nação apenas ou o mundo inteiro.

O mesmo acontecimento pode ser má notícia para uma pessoa e boa notícia para outra. Para a mulher que se descuidou, a gravidez é uma notícia embaraçosa; para a mulher que está ansiosa para ser mãe, a gravidez é motivo de ação de graças. Para o portador de uma doença incurável e sofrida, a morte pode ser uma notícia boa; mas para quase todos, ela é sempre uma má notícia. Para a maioria dos terroristas muçulmanos a derrubada das Torres Gêmeas é uma notícia fantástica. Para a maioria dos americanos a captura e o enforcamento de Saddam Hussein é uma notícia fantástica. A falência de uma empresa pode ser uma péssima notícia para os seus associados e uma ótima notícia para o seu concorrente. Este é o nosso complicado mundo, que manipula inclusive as boas e as más notícias.

O tsunami de dezembro de 2004, um fenômeno da natureza revoltada e revolta que destruiu dezenas de localidades litorâneas da Indonésia e outros países, e provocou milhares de mortes, foi algo aterrador. Não menos trágicos foram os recentes acidentes aéreos em território brasileiro que provocaram a queda do Boeing da Gol (setembro de 2006) e do Airbus da TAM (julho de 2007). Entre os mortos do segundo avião, havia tanto crianças ainda no ventre de suas mães como mulheres idosas acima de 80 anos.

Mas não se deve pensar que as más notícias são apenas aquelas que dizem respeito a grandes catástrofes como terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, enchentes, secas, tornados, conflitos bélicos, fome, desastres atômicos, pestes e epidemias, e acidentes terrestres, marítimos, aéreos e espaciais. São más notícias quando se descobre que os homens que elegemos são corruptos, os filhos que geramos tornaram-se dependentes ou traficantes de drogas, a pessoa com a qual nos casamos mantém um relacionamento extraconjugal, os pastores que convidamos para nos pastorear não vivem aquilo que pregam, as pessoas que chamamos de amigos chegados estão atrás de nossos bens. E assim por diante.

As más notícias são companhia inevitável. Elas acompanham, perseguem e amofinam o ser humano a vida inteira. Praticamente todos os personagens da Bíblia tiveram de lidar com más notícias, principalmente com aquelas que dizem respeito à decepção causada pelo comportamento não-ético.

Quem acumulou o maior número de más notícias no transcurso da vida deve ter sido Jacó. Ele soube, logo de manhã, que a mulher com quem havia passado a sua noite de núpcias não era a amada Raquel, mas Lia, a irmã dela (Gn 29.16-30). Soube que o irmão gêmeo Esaú, vinte anos depois do roubo de seus direitos de primogenitura, vinha ao seu encontro para vingar-se na companhia de quatrocentos homens armados (Gn 32.1-6). Soube que sua filha Diná fora violentada pelo filho do rei de Canaã (Gn 34.1-4). Soube que seus filhos Simeão e Levi haviam se vingado do estuprador da irmã, matando à traição todos os homens daquela cidade, inclusive Siquém (o culpado) e seu pai (Gn 34.13-31). Soube que Rúben, o filho mais velho, havia desonrado o seu leito, deitando-se com Bila, sua terceira esposa (Gn 35.22; 49.3-4). Soube do desaparecimento de José, seu filho predileto, dito como devorado por um animal selvagem (Gn 37.18-35). Soube do escândalo sexual envolvendo Judá, seu quarto filho, e Tamar, duas vezes viúva de dois de seus netos (Gn 38.12-30).

Moisés subiu o monte Sinai e lá permaneceu quarenta dias e quarenta noites (Êx 24.18). Ainda estava lá quando recebeu más notícias: o povo de Israel havia se corrompido ao ponto de construir um bezerro de ouro diante do qual se encurvou e ao qual ofereceu sacrifícios, à semelhança dos povos idólatras (Êx 32.1-8). Pouco depois, outra má notícia chegou ao conhecimento de Moisés: a imoralidade sexual comunitária e pública de milhares de israelitas com mulheres moabitas e midianitas (Nm 25.1-18; 1 Co 10.8).

E assim vai.

A lista daqueles que receberam má notícia parece não ter fim. A cobiça de Acã foi má notícia para Josué e todo o povo (Js 7.1). A violência sexual dos benjamitas contra a mulher do levita, que culminou com a morte dela, foi má notícia para todas as tribos (Jz 19.22-30). A conduta escandalosa de Hofni e Finéias foi má notícia para o pai deles, o sacerdote Eli (1 Sm 2.12-36). O caso de Davi com Bate-Seba e o assassinato do marido dela foram más notícias para toda a cidade de Jerusalém (2 Sm 11.1-27). A loucura sexual cometida por Amnom contra a meia-irmã Tamar e o assassinato cometido por Absalão contra seu meio-irmão Amnom foram más notícias para Davi e toda a sociedade israelita (2 Sm 13.1-39). A traição de Judas foi má notícia para todos os apóstolos e discípulos de Jesus (Jo 13.18-30). A mentira de Ananias e Safira foi má notícia para toda a comunidade cristã primitiva (At 5.1-11). As divisões na igreja em Corinto e muitas outras confusões que ali aconteciam eram más notícias para Paulo (1 Co 3.1-4).

Somente as boas notícias podem contrabalançar e fazer frente às más notícias.

As boas notícias de um Salvador; as boas notícias do perdão, da conversão e da habitação do Espírito em nós; as boas notícias da oração, da consolação e da esperança; as boas notícias de novos céus e nova terra; as boas notícias da ressurreição da carne e da transformação do corpo; as boas notícias da plenitude da salvação. A boa notícia do paraíso recuperado desmonta, desfaz e cancela a má notícia do paraíso perdido.

O crente que não nega as más notícias nem as boas notícias, mas sabe oferecer resistência às más notícias. E, a despeito de tudo, é feliz!

Fonte:  http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/308/as-mas-noticias-nos-perseguem-a-vida-inteira

February 11, 2019

A graça de reaver as coisas perdidas

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Todos nós perdemos alguma coisa de vez em quando. Algumas delas não têm muito valor. Outras têm muito ou imenso valor. Não sabemos onde as deixamos nem onde procurá-las. E elas nos fazem muita falta. Bem que gostaríamos de reavê-las.

Há exemplos dramáticos de perdas significativas na história bíblica. Uma delas é a derrocada do poderoso rei da Babilônia. De uma hora para outra ele zerou. Seu esplendor, seu fausto, sua majestade, sua soberba foram derrubados e lançados na cova, no além, no abismo mais profundo. Todos os que estavam no mundo dos mortos disseram-lhe: “Agora você não é nada, como nós! Sinta-se em casa conosco, os mortos!” (Is 14.10, AM).

Que tal parar um pouco para fazer uma relação de valores ou coisas perdidas em diferentes áreas da vida ao longo dos últimos anos?

Na área física, alguns de nós perdemos a saúde, o vigor, a disposição, a audição, a visão, a memória, algum órgão do corpo (os ovários, a próstata, a vesícula, o rim, o baço) ou parte dele (o seio, a perna, a mão).

Na área emocional, alguns de nós perdemos a vontade e a alegria de viver, a autoestima, a sensação de segurança, a paz interior, o entusiasmo pela vida.

Na área comportamental, alguns de nós perdemos a inocência, o escrúpulo, o juízo, o caráter, a vergonha, a pureza, o bom nome.

Na área profissional, alguns de nós perdemos a promoção, as oportunidades, os ganhos, a capacidade de trabalhar, os prêmios, o emprego.

Na área transcendental - o que é mais sério - alguns de nós perdemos o hábito de ler a Bíblia e orar, o costume de participar do culto, a sensibilidade, o caminho da fé, o discernimento espiritual, a comunhão com Deus, as certezas, as convicções, a esperança da ressurreição, o temor do Senhor, a vontade de andar no Espírito, e não na carne, o ardor missionário, o prazer de contribuir, a comunhão congregacional.

De fato há coisas irremediavelmente perdidas e há coisas que podem ser achadas. Destas, algumas podem ser recuperadas logo, sem perda de tempo. Outras podem ser demoradamente recuperáveis. Ainda há aquelas que, pela soberania de Deus e por sua maravilhosa graça, podem ser surpreendentemente reavidas, sem deixar de lado o querer e a tenacidade daqueles que buscam.

Jesus nos ensina a valorizar e buscar até achar as coisas perdidas, por meio das parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do filho perdido (capítulo 15 de Lucas). Na primeira, um pastor tem cem ovelhas e uma delas se perde (1%); na segunda, uma mulher tem dez moedas e uma se perde (10%); na última, um pai tem dois filhos e um se perde (50%). 

As três coisas perdidas são encontradas depois de uma incansável busca. (O pai não foi atrás do filho porque ele não era coisa nem animal, mas gente que precisa voltar por vontade própria.). Em cada caso, há uma festa de arromba, isto é, um culto de ação de graças, porque os três perdidos foram achados.

Além disso, é preciso levar em conta a orientação dada por Jesus em favor da busca do que se perde. No Sermão do Monte, ele declara: “Procurem [a coisa perdida] e vocês acharão”. Esta recomendação está no meio de duas outras: “Peçam e vocês receberão” e “Batam, e a porta será aberta” (Mt 7.7). 

É tudo muito simples e espiritual. 

Devemos pedir, buscar e bater à porta, “como se tudo dependesse de Deus”. E sair em busca da coisa perdida “como se tudo dependesse de nós”.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/359/a-graca-de-reaver-as-coisas-perdidas