January 29, 2020

Quando a vida não vem embalada como a gente imagina

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Uma das lendas ancestrais da Guiné-Bisnau conta a história do pássaro que, no princípio dos tempos, reinava nos céus do mundo. 

Seu nome: pássaro-rei.
Seu vôo, elegante e competente, encantava todos os animais.
Era um mundo onde não existiam fêmeas. Caminhavam sobre a Terra leões, gorilas, jacarés e tubarões.
Os animais viviam em guerra. Não podiam se encontrar na floresta que começavam uma briga.
Nenhuma espécie gostava da outra. Nenhuma raça gostava da outra.
Sobrevoando o mundo dos machos em guerra, o pássaro-rei dava rasantes em pradarias, exibia-se executando manobras impossíveis. Os animais paravam suas brigas e olhavam para o céu e admiravam o pássaro-rei. Até as diferenças de raça eram esquecidas quando ele estava por perto.
Mas o pássaro-rei não podia estar em todos os lugares. Então sua tristeza com todas aquelas brigas foi aumentando até que uma lágrima caiu de seu olho. Ao bater no chão, essa lágrima transformou-se em uma pequena pássara fêmea.
Ela voou até seu pai e pediu para que não se assustasse. A passarinha explicou que era uma fêmea. E que veio ao mundo para ensinar a ele uma lição.
Voando com o pai, a passarinha explicava que os bichos brigavam porque tinham medo. Porque eram inseguros. Porque não sabiam de onde vinham. E, voando ainda mais alto que o pássaro-rei, a pequena revelou a ele a origem de todas as coisas. Tudo havia nascido das fêmeas. Das leoas, das gorilas, das jacarés, das tubarões-fêmeas.
O pássaro-rei, famoso no mundo inteiro, então perguntou para a filha onde estariam as fêmeas.
A passarinha respondeu dizendo que o mundo não estava preparado para elas. Que havia muita evolução pela frente para que o mundo merecesse ter fêmeas. Afinal, nem as raças se entendiam. Então as fêmeas estavam em um outro mundo, igual àquele, mas também diferente: porque do outro lado todas as espécies e raças conviviam em harmonia com suas diferenças.
O pássaro-rei, então, pediu para ir com a filha para este outro lugar. Ela adorou o pedido, porque estava já entediada com aquela terra de brigas.
Seguiram os dois, então, voando cada vez mais alto até que sumiram no céu para nunca mais voltarem.
Mas, antes de partirem para o outro mundo, a passarinha, olhando para trás, deixou verter uma lágrima de piedade pelo mundo de cá. Lágrima que, ao cair no chão, transformou-se em uma tigresa, que ao nascer e ver aquele mundo triste, também chorou, fazendo nascer uma raposa. A raposa chorou e gerou a águia, que gerou a formiga, que gerou a girafa, borboletas e mulheres.
E, de cada lágrima de uma fêmea humana, nascia uma mulher de uma raça para fazer companhia para as outras, tornando esse mundo mau e arbitrário menos mau e arbitrário.
Até hoje, algumas as tribos da Guiné acreditam que, quando se morre, deixamos este mundo mau e arbitrário e vamos para o mundo onde o pássaro-rei se foi.
Onde quem reina é sua filha.
Lá, ela não chora. 
E é conhecida como a pássara-rainha.    
Lendas são um jeito de eternizar verdades.
As africanas ensinam que tudo, afinal, é reexistência e ancestralidade.
Lágrimas que se tornam outra coisa.
Fonte: https://quadronegro.blogfolha.uol.com.br/2020/01/28/lenda-ancestral-de-guine-bissau-lembra-historia-de-kobe-bryant-e-filha/

January 28, 2020

Encontrando seu lugar na grande história

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- Ricardo Barbosa

O livro de Ester nos conta uma história na qual Deus age através de uma jovem judia cuja vida é tão comum como a da maioria de nós. Ela acontece no século V a.C. em Susã, uma das duas capitais do Império Persa, governado pelo rei Assuero, aclamado como rei dos reis, porém um homem fraco, inseguro, dedicado apenas aos prazeres da corte.

Ester era órfã e foi criada por seu primo Mordecai. O rei Assuero buscava uma nova esposa e, como todo rei daquele tempo, possuía um harém cheio de concubinas, mas precisava de uma rainha e a única exigência é que fosse jovem e extremamente bonita.

Ester foi levada junto com outras candidatas para o palácio real a fim de ser preparada. Depois de um ano, ela foi apresentada ao rei e ele se encantou com a sua beleza e a amou mais do que a todas as outras, e a escolheu para ser a rainha. Aconselhada por seu primo, não revelou sua identidade judaica.

Até aqui, a história de Ester é bem parecida com um conto de fadas. Sua vida segue de banquete em banquete, numa rotina sem nenhuma importância, sempre submissa, seja ao primo, seja ao rei. Até este ponto, não há nada que justifique que seu nome figure como um livro da Bíblia.

Entra em cena Hamã e o conto de fadas se transforma num pesadelo. Hamã é o conselheiro real, homem ambicioso e manipulador. Ele convence o rei que ordene a todos os súditos que se curvem diante dele, reconhecendo seu poder, mas Mordecai se recusa e isso deixa Hamã furioso. Hamã descobre que Mordecai era judeu e elabora um plano para aniquilar todos os judeus que viviam no Império Persa (3:6-9); isso envolvia praticamente todos os judeus daquela época. O rei, mais preocupado com suas festas, deu carta branca a Hamã e nem se preocupou em saber que povo era aquele. 

Chegamos ao clímax da história. Mordecai, sabendo do plano de Hamã, pediu para Ester falar com o rei a fim de evitar uma tragédia. Ela responde dizendo que seria impossível. Mordecai envia o seguinte recado para Ester: “Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” (4:14). A jovem Ester, que até este momento nunca havia tomado uma decisão, se vê diante de um conflito onde apenas ela se encontra numa posição capaz de evitar um genocídio.  Ela assume seu papel de rainha e a responsabilidade de mudar a decisão do rei arriscando a sua própria vida.

A história de Ester, sob vários aspectos, tem muita semelhança com a história de Moisés, com a diferença de que ela não viu a sarça ardente, nem as pragas, o mar se abrindo ou a coluna de fogo. A libertação dos judeus do Egito é comemorada na festa da Páscoa, e a festa de Purim celebra os feitos da rainha Ester salvando os judeus do massacre. 

Somos, como Ester, pessoas comuns vivendo vidas ordinárias

As demandas e oportunidades estão à nossa volta o tempo todo, precisamos apenas compreender a conjuntura do dia a dia e responder com coragem e obediência à sua demanda. 

Achamos que é preciso encontrar um propósito para a vida, quando na verdade é Deus que nos encontra e realiza o seu propósito através das circunstâncias em que nos encontramos. 

Cada um precisa, de fato, encontrar o seu lugar na grande história.

Fonte: https://www.ultimato.com.br/conteudo/encontrando-o-seu-lugar-na-grande-historia

January 06, 2020

Pensamento para toda a vida

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"When you put this in someone's hands you're acknowledging the choices they make as an actor. Moment by moment, scene by scene, day by day. But you're also acknowledging the choices they make as a person. The education they pursued, the training they sought, the hours they put in. 
I'm grateful for the acknowledgement of the choices I've made and I'm also grateful to have lived in a moment in our society where choice exists, because as women and as girls, things can happen to our bodies that are not our choice.
I've tried my very best to live a life of my own making, and not just a series of events that happened to me. But one that I could stand back and look at and recognize my handwriting all over. Sometimes messy and scrawling, sometimes careful and precise. But one that I had carved with my own hand. 
And I wouldn't have been able to do this without employing a woman's right to choose. To choose when to have my children and with whom, when I felt supported and able to balance our lives as all mothers know that the scales must and will tip towards our children. 
Now I know my choices might look different than yours, but thank God or whoever you pray to that we live in a country founded on the principles that I am free to live by my faith and you are free to live by yours. 
So, women 18 to 118, when it is time to vote please do so in your self-interest. It's what men have been doing for years, which is why the world looks so much like them but don't forget we are the largest voting body in this country. 
Let's make it look more like us".
Michelle Williams

Fonte: https://edition.cnn.com/2020/01/05/entertainment/michelle-williams-golden-globes-2020-speech/index.html

January 02, 2020

É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre ; )

.RECEITA DE ANO NOVO
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- Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação
com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber
champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

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January 01, 2020

Um só desejo

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Chérie,

que esta canção seja - a sua, a minha, a nossa - oração em 2020 ; )


Bjs com carinho,

KT
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