August 22, 2021

Visões da realidade

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- Ricardo Barbosa
 
O apóstolo Paulo, em sua carta à igreja de Éfeso, oferece um conselho tão atual para nós como foi para os cristãos do primeiro século daquela cidade: “portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus” (Efésios 5:15-16). 

Nós, como eles, vivemos dias maus, dias muito difíceis. Medo, ansiedade e incerteza são sentimentos que todos nós temos experimentado nestes dias. 

O conselho de Paulo para viver sabiamente e não como insensatos nestes dias maus é “remir o tempo”. Talvez, para muitos, influenciados pela cultura pragmática, remir o tempo significa torná-lo mais produtivo, aproveitá-lo da melhor forma possível, otimizar seu uso para garantir resultados melhores.
 
Mas quando olhamos o texto com cuidado, a preocupação de Paulo não é fazer um melhor uso do tempo, mas aprender a viver com sabedoria em meio aos dias maus. 

Remir significa adquirir, comprar de volta. É uma linguagem teológica. Da mesma forma como o pecado nos aprisiona e precisamos ser redimidos, os dias maus têm o poder de nos dominar e aprisionar, fazendo com que a vida seja determinada por eles e não pelo Espírito Santo.
 
Os dias maus nos levam a perder, facilmente, a perspectiva. As tensões provocadas pelos dias difíceis que vivemos definem nossas conversas, preocupações, interesses, relacionamentos, emoções, inclusive nossa compreensão de Deus, fé, comunhão e comunidade. Os dias maus nos levam a viver como néscios. O medo e a ansiedade nunca contribuíram para uma vida sábia, sensata, sóbria, mas alimentam a ignorância e nos tornam pessoas tolas, prisioneiras de uma visão limitada e distorcida da realidade.
 
Visões da realidade
 
Nos dias maus e difíceis não é fácil interpretar a realidade, para isso, precisamos de discernimento que, muitas vezes, nos é dado por Deus através de visões - que chamarei neste artigo de visões da realidade.

É importante considerar que as coisas nem sempre são aquilo que aparentam ser. Por isso, as visões são um recurso fundamental para o discernimento da realidade. A mais conhecida de todas é a visão que João teve na ilha de Patmos registrada no livro do Apocalipse. Nesta visão, João percebe que as coisas não eram como pareciam ser. Parecia que Domiciano e o Império Romano governavam grande parte do mundo e detinham todo o poder, mas João percebe que a realidade não era bem assim. O único digno de abrir o livro e desatar-lhe os selos, era o cordeiro de Deus que havia sido morto, mas ressuscitou.
 
Neste artigo, vamos olhar para uma visão registrada no livro de Daniel. Ele também viveu dias maus. Sua cidade, Jerusalém, foi completamente destruída pelo exército de Nabucodonosor, não só a cidade, como também seus habitantes foram mortos, outros escravizados, e os que sobreviveram enfrentaram fome, miséria e sofrimento. O templo, lugar sagrado para Daniel e seu povo, foi profanado e Daniel, com muitos outros jovens fortes e inteligentes, foram levados para o exílio na Babilônia. Os dias eram maus, muito difíceis. Ele mesmo teve visões da realidade, mas quero olhar para a visão de um outro personagem, o rei Nabucodonosor. 
 
A visão de Nabucodonosor
 
O rei teve um sonho, um terrível sonho que o deixou muito perturbado a ponto de não conseguir mais dormir. Convocou todos os sábios, magos encantadores e feiticeiros do reino para interpretar o sonho. Porém, a perturbação do rei era tão grande que ele decidiu mudar as regras do jogo. Ao invés de contar o sonho para os sábios interpretarem, ele decidiu que os sábios teriam, não apenas que interpretar o sonho, mas dizer qual foi o sonho do rei, e os ameaçou de morte se não dissessem qual foi o sonho e sua interpretação. 
 
Daniel e alguns amigos foram recrutados pelo rei Nabucodonosor para trabalharem no palácio. O rei reconhecia que Daniel e seus amigos eram muito mais inteligentes e sábios que todos os magos e encantadores que havia na Babilônia (1:19-20). 

Os sábios disseram ao rei que era impossível revelar o sonho. Nabucodonosor se enfureceu e ordenou ao chefe da guarda que prendesse e executasse todos os sábios, isso incluía Daniel e seus amigos.

Quando Daniel tomou conhecimento da decisão do rei, pediu ao chefe da guarda que o levasse à presença de Nabucodonosor. Daniel pediu ao rei um prazo para apresentar ao rei o sonho e sua interpretação.
 
Daniel voltou para casa e orou com seus amigos. Sua oração começa com uma doxologia: “Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder; é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz.”
 
E continua com uma súplica: “A ti, ó Deus de meus pais, eu te rendo graças e te louvo, porque me deste sabedoria e poder; e, agora, me fizeste saber o que te pedimos, porque nos fizeste saber este caso do rei” (Daniel 2:20-23).
 
Daniel procurou o chefe da guarda, intercedeu em favor da vida dos sábios da Babilônia, e disse que estava pronto para revelar o sonho e interpretá-lo para o rei. No entanto, antes de revelar o sonho dar a interpretação, Daniel disse ao rei que o mistério que ele exigia dos sábios, ninguém, nem mesmo Daniel poderia solucionar, nem magos, feiticeiros, encantadores ou astrólogos, ninguém poderia ajudar o rei, mas que há um Deus no céu que conhece todos os mistérios e só Ele pode revelar
 
“Respondeu Daniel na presença do rei e disse: O mistério que o rei exige, nem encantadores, nem magos nem astrólogos o podem revelar ao rei; mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios, pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias. O teu sonho e as visões da tua cabeça, quando estavas no teu leito, são estes:” (Daniel 2:27-28).
 
Daniel revela ao rei Nabucodonosor o sonho e sua interpretação. Eis o sonho: uma grande estátua, magnífica e impressionante pelo tamanho, mas sua aparência era terrível, tão assustadora que não deixou o rei dormir por vários dias. A cabeça era de ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e os quadris de bronze; as pernas de ferro e os pés de ferro e barro. Enquanto o rei olhava para a estátua, uma pedra foi cortada sem auxílio das mãos, foi lançada e feriu a estátua nos pés de ferro e barro, ela desabou e tudo se esmiuçou, o ouro, a prata, o bronze e o ferro viraram pó, o vento soprou e varreu tudo e não sobrou nada. Mas a pedra que feriu a estátua se tornou numa grande montanha que encheu toda a terra. Este foi o sonho. À esta altura, o rei estava impressionado com Daniel.
 
A interpretação da visão de Nabucodonosor
 
A interpretação do sonho que Daniel apresentou ao rei foi a seguinte: Nabucodonosor é a cabeça de ouro, o reino mais poderoso da terra. Depois dele, levantará outro reino, inferior, de prata, e depois um terceiro, menos poderoso ainda, de bronze, e por último, um reino de ferro, também poderoso como os outros três, mas inferior. Este último reino será dividido, parte de barro e parte de ferro, terá a firmeza do ferro e a fragilidade do barro. Nos dias deste reino, Deus suscitará um reino que jamais será destruído e consumirá todos os outros reinos.
 
Daniel era um jovem judeu, brilhante, que assumiu um papel importante num reino pagão, governado pelo assassino do seu povo. Os dias que Daniel viveu foram dias maus, muito difíceis, mas Daniel manteve a perspectiva e não se deixou dominar pela realidade visível dos dias maus, mas sim pela realidade não visível do tempo remido.
 
Gostaria de destacar três observações e depois três implicações.
 
Três observações:

1. Qual a origem do sonho de Nabucodonosor? Os especialistas em sonhos poderiam dizer que o rei era uma pessoa insegura e que o sonho era uma projeção de suas ambições; poderiam também dizer que o rei sofreu bullying e rejeição na adolescência e o sonho era uma forma de superar suas feridas. Porém, o sonho foi uma revelação, uma revelação divina. Uma profecia. Uma visão da história dada por Deus. O pavor de Nabucodonosor tinha razão de ser. Ele sabia que, apesar de ser o homem mais poderoso da terra, à frente do Império e do exército mais temidos, o poder é frágil, a glória é passageira, e isso o atormentava. Foi Deus quem deu uma revelação sobre a realidade ilusória do poder e dos reinos deste mundo a um homem iníquo. Isso nos ajuda a colocar as coisas em perspectiva.
 
O governo de Deus não se restringe àqueles que creem em Deus, mas à toda criação. O Senhor reina. Esta é a verdade que coloca tudo na perspectiva correta. Deus revelou os eventos da história para um homem que não só não cria em Deus, como também castigava o povo eleito de Deus.
 
Da mesma forma que o sonho de Nabucodonosor tem sua origem em Deus, a revelação do sonho e sua interpretação tem também sua origem em Deus. 
 
“E a mim me foi revelado este mistério, não porque haja em mim mais sabedoria do que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses as cogitações da tua mente” (Daniel 2:30).
 
Toda a ação de Deus tem uma finalidade pública. Diz respeito ao que Deus está fazendo na história, e não apenas dentro das quatro paredes da igreja.
 
2. Mesmo sendo Nabucodonosor um rei cruel, violento e inimigo do seu povo, Daniel se dirige a ele como “rei de reis, a quem o Deus do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória” (Daniel 2:37). Esta declaração de Daniel não é um mero protocolo político, é um conceito, um princípio, que também nos ajuda a colocar as coisas em perspectiva. 
 
Depois que Pedro e João - libertados da prisão (Atos 4) - foram ao encontro dos irmãos que permaneciam em oração por eles. Depois de relatarem o que aconteceu, oraram reconhecendo Deus como Soberano Senhor e aquilo que o Espírito Santo estava realizando no meio deles, e disseram na oração: 
 
“Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram” (Atos 4:26-28).
 
Herodes era o governador da Judéia, indicado pelo Imperador Romano e Pilatos o representante de Roma. O primeiro administrava a província, e o segundo cuidava dos interesses do império. Herodes colocou nas mãos de Pilatos o julgamento de Jesus porque ele era acusado de conspiração contra o imperador, por ser aclamado rei de Israel. Nenhum dos dois tinha interesse no reino de Deus, mas os cristãos reconheciam que Deus era o Senhor soberano e Herodes e Pilatos estavam ali para cumprirem o que a mão e o propósito de Deus haviam determinado. A força que move a história não são os reinos, governos, impérios ou ideologias, é o Senhor que fez o céu e a terra

Isso coloca as coisas em perspectiva.
 
3. A terceira observação é a mais impressionante de todas. O que coloca a grande e assustadora estátua no chão a ponto de tudo virar pó e ser varrido pelo vento, não é uma guerra, uma nova estratégia ou uma nova política, é uma pedra, uma pequena pedra, que foi cortada sem o auxílio de ninguém. Uma pedra, como a que Davi usou para derrubar o grande Golias. Quatro reinos poderosos – alguns historiadores acreditam que são, respectivamente: a Babilônia (isto está no texto); prata seria o império Medo-Persa; bronze o império grego e, por fim, o ferro que seria o império romano. Não há evidência de que isto esteja correto, porém, o que importa é que aquilo que derrubou estes grandes impérios não foram articulações políticas e econômicas, crises éticas e morais. O que colocou estes reinos no chão e os esmiuçou foi um outro reino. Um reino governado pelo Cordeiro que foi morto e ressuscitou, foi levado aos céus, assumiu seu lugar no trono, de onde governa o universo. Este reino, um dia, será como uma grande montanha que encherá toda a terra. Isso coloca tudo sob a perspectiva correta.
 
Três implicações:

1. Não precisamos temer estes impérios, reinos ou governos. Eles sempre existiram e continuarão existindo. Não temos como impedi-los. Porém, todos eles, em algum momento, virarão pó, e no final, uma grande montanha encherá toda a terra de sua glória. Os dias maus sempre existiram e continuarão até o dia em que finalmente os reinos deste mundo se curvarão diante do único e verdadeiro Rei, Jesus Cristo. Devemos, como Daniel, servir fielmente a Deus em qualquer contexto, mas nossa lealdade é dedicada ao único e soberano Senhor da história. Esta visão da realidade, coloca as coisas em perspectiva.
 
2. A razão principal dos dias maus não é econômica, política, social, mas a rejeição ao governo do único soberano Senhor. Perdemos tempo e energia lutando contra estes poderes e reinos com nossos recursos. A estátua caiu não por causa da fragilidade dos pés, mas por causa de uma pedra que foi atirada sem o auxílio de ninguém. A estátua caiu por causa da chegada de um outro reino. A Babilônia caiu não por causa dos seus pecados, sua crise moral, ética, econômica, mas por causa de uma pedra, uma pequena pedra. O que coloca estes impérios no chão é a chegada do novo reino. Esta visão da realidade coloca as coisas em perspectiva.
 
3. Viver sabiamente, remindo o tempo nestes dias maus, é viver a partir da única realidade que permanecerá. As últimas palavras de nosso Senhor aos seus discípulos foram: preguem o evangelho, anunciem o reino de Deus, façam discípulos de todas as nações, anunciem ao mundo que o reino de Deus chegou, o Rei Jesus foi entronizado, o governo está sobre os seus ombros. Esta é a verdade que coloca tudo em perspectiva.

Fonte: https://www.ultimato.com.br/conteudo/visoes-da-realidade-a-ironia-dos-poderes

PS- Para ouvir a trilha do dia: https://www.youtube.com/watch?v=ptqPgzAbpGc
                                                https://www.youtube.com/watch?v=stKPXkcW5v8

August 21, 2021

Por uma agenda de oração pela família

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- Ricardo Barbosa

As orações de Paulo nos ajudam a compreender o propósito da intercessão que fazemos pela família. Nem sempre sabemos como orar pelos filhos e cônjuges. Paulo nos oferece uma agenda para a oração na família.


Quero considerar uma oração de Paulo que se encontra registrada em Efésios 1:15-23. Antes de seguir com essa leitura, leia tal passagem bíblica duas vezes. Paulo começa sua oração com ações de graça pela fé e pelo amor que demonstravam uns para com os outros. Estas pessoas eram crentes como qualquer um de nós, no entanto, Paulo reconhece a fé e o amor que o Espírito Santo derramou sobre eles e foi grato pelo crescimento da fé e do amor neles.


Você reconhece a fé e o amor de Cristo nos seus filhos e cônjuge? Você ora agradecendo a Deus pelo crescimento espiritual deles, pelos gestos, muitas vezes simples de demonstrações de amor e fé?

No verso 17, ele pede a Deus que lhes conceda “espírito de sabedoria e revelação no pleno conhecimento dele”. Quase sempre nossas orações têm a ver com os problemas do dia a dia. Paulo vai mais além. Para ele é importante que cresçamos na compreensão dos mistérios da fé, que sejamos sábios para a salvação, que tenhamos discernimento daquilo que Deus tem feito por nós na pessoa de seu Filho Jesus Cristo. Você tem orado por sua família assim?

Ele continua orando para que os olhos se abram e compreendam a esperança da vocação e a herança que os santos gozam. Sua família possui uma convicção clara e madura do chamado de Cristo? Reconhece a riqueza da glória que herdamos em Cristo? A natureza da filiação e o significado da adoção?


Muitas vezes os problemas que enfrentamos se arrastam por longos anos porque ao invés de buscarmos o amadurecimento naquilo que é essencial, nos debatemos com o que é periférico. Ao invés de compreendermos quem somos em Cristo e o que ele realizou por nós na cruz, lutamos para dar algum sentido à vida no meio do caos que vivemos. Paulo não ora apenas por aquilo que é visível, sua oração penetra o mundo invisível das realidades de Cristo.


Por fim, ele ora para que experimentemos a grandeza e a eficácia do poder de Deus, o mesmo poder que ressuscitou Cristo dentre os mortos. Gastamos muito mais tempo buscando driblar as contradições e conflitos da vida, do que orando para compreender a natureza do poder de Deus em nossa experiência diária. Paulo ora para que o poder de Deus seja compreendido, o mesmo poder que ressuscitou a Cristo, destituiu os principados e potestades e colocou todas as coisas debaixo do senhorio glorioso de Cristo.


Quantos de nós temos orado para que filhos e cônjuges vejam a glória do poder de Deus? Como você tem orado pela sua família?


Fonte: https://www.ippdf.com.br/artigos/publicacao/871559/uma-agenda-de-oracao-para-a-familia-por-rev-ricardo-barbosa

August 20, 2021

Por uma vida de santidade

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- John Stott

Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, (1 Pedro 1:15)

Os 10 mandamentos estabelecem para nós padrões muito elevados. Eles nos desafiam a dar a Deus nossa adoração exclusiva, espiritual, coerente, regular e obediente, como também a preocupar-nos com a integridade da vida, do lar, da propriedade e do bom nome de nosso próximo. Compreender as implicações radicais dessas exigências reveladas por Jesus no Sermão do Monte percebendo nelas uma convocação a amarmos a Deus com todo o nosso ser e a amarmos o nosso próximo como a nós mesmos é capaz de levar-nos a um profundo desespero. De fato, foi este o propósito inicial de Deus ao nos dar a lei – expor e condenar nossos pecados, tirando assim de nós toda e qualquer esperança de salvar a nós mesmos. Pois desse modo pode-se dizer que a lei nos aponta para Cristo como o único, exclusivo e indispensável Salvador. Mas, uma vez que a lei nos conduziu a Cristo a fim de sermos justificados, Cristo nos manda de volta à lei para sermos santificados, contanto que nos lembremos de que somente o Espírito Santo pode escrever a lei em nossos corações e nos permitir obedecê-la.

Precisamos valorizar cada vez mais o inestimável dom do Espírito que habita em nós. Então iremos a Cristo cada dia, e a cada novo dia reabriremos nossa personalidade diante dele para que o Espírito Santo possa nos encher e transformar. Lembremos também que o próprio Deus estabeleceu certos canais por meio dos quais a sua graça santificadora pode nos alcançar. Esses “meios da graça” compreendem a leitura bíblica, a oração, a adoração, a comunhão e o culto da Santa Ceia. Precisamos fazer aquilo que os puritanos chamavam de “um uso diligente dos meios da graça”. Pois, como dizia J. C. Ryle, aplicando o ditado à vida cristã, “não há recompensa sem esforço”.

A nossa saúde física nos dá uma boa ilustração. A melhor forma de garantirmos a saúde e combatermos as infecções não é recorrendo aos medicamentos certos quando surge uma epidemia e somos expostos aos micróbios (embora isso possa ser necessário), mas sim criando resistência durante o restante do ano por cultivarmos regularmente bons hábitos alimentares, sono e exercícios disciplinados. Assim também o verdadeiro segredo para se lutar contra o mal e desenvolver uma vida de santidade não é o que fazemos no momento da tentação (embora de fato precisemos clamar a Jesus Cristo por libertação), mas antes o que fazemos no restante do tempo, acumulando força espiritual por meio de uma vida disciplinada no Espírito.


Fonte: https://ultimato.com.br/sites/john-stott/2019/02/12/por-uma-vida-de-santidade/

August 19, 2021

Senhor dos céus e da terra, defensor do órfão e da viúva

1Esperei com paciência pela ajuda de Deus, o SenhorEle me escutou e ouviu o meu pedido de socorro.
2Tirou-me de uma cova perigosa, de um poço de lama. Ele me pôs seguro em cima de uma rocha e firmou os meus passos.
3Ele me ensinou a cantar uma nova canção, um hino de louvor ao nosso Deus. Quando virem isso, muitos temerão o Senhor e nele porão a sua confiança.
4Feliz aquele que confia em Deus, o Senhorque não vai atrás dos ídolos, nem se junta com os que adoram falsos deuses!
5Ó Senhor, nosso Deus, tu tens feito grandes coisas por nós. Não há ninguém igual a ti. Tu tens feito muitos planos maravilhosos para o nosso bem. Ainda que eu quisesse, não poderia falar de todos eles, pois são tantos, que não podem ser contados.
6Tu não queres animais oferecidos em sacrifícionem ofertas de cereais. Não pediste que animais fossem queimados inteiros no altar, nem exigiste sacrifícios oferecidos para tirar pecados. Pelo contrário, tu me deste ouvidos para ouvir,
7e por isso respondi: “Aqui estou; as tuas instruções para mim estão no Livro da Lei.
8Eu tenho prazer em fazer a tua vontade, ó meu Deus! Guardo a tua lei no meu coração.”
9Ó Senhor Deus, na reunião de todo o teu povo, eu contei a boa notícia de que tu nos salvas. Tu sabes que nunca vou parar de anunciá-la.
10Não tenho guardado para mim mesmo a notícia da tua salvação. Tenho sempre falado da tua fidelidade e do teu poder salvador. Nas reuniões de todo o teu povo, não fiquei calado a respeito do teu amor e da tua fidelidade.
11Ó Senhor Deus, eu sei que nunca deixarás de ser bom para mim. O teu amor e a tua fidelidade sempre me guardarão seguro.

PS- Para ouvir a trilha do dia: https://www.youtube.com/watch?v=_5TWsL4_e1s
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August 18, 2021

Ao sentir medo, recorra a Deus

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- Elben César

Em certas ocasiões, o medo é razoável. Mas recomenda-se muito cuidado com a reação ao medo.

Quando soube que grande multidão vinha contra ele, o rei Josafá teve medo. Por isso, “se pôs a buscar ao Senhor” (2 Cr 20.3). Essa é a reação correta frente ao medo. Caso contrário, ele leva à fraqueza, ao desespero, ao pânico.

Adão teve medo de Deus porque estava nu, depois de haver comido o fruto proibido (Gn 3.10). Jacó teve medo de seu irmão Esaú quando ele veio ao seu encontro com 400 homens armados (Gn 32.7).

Davi teve muito medo de Aquis, rei de Gate (1 Sm 21.12). Saul teve grande medo das complicações que ele mesmo cultivou no final de sua vida (1 Sm 28.5, 20). Pedro teve medo quando se viu andando sobre as águas e reparou na força do vento (Mt 14.30).

Ao sentir medo, recorra ao Senhor em suas orações, exercite sua fé, deixe de olhar para a fonte do medo e olhe para o Autor e Consumador da fé (Hb 12.2).

O medo adoece, maltrata, atravanca, paralisa, humilha, apavora e faz sofrer. Não contorne o medo, não se acostume com ele. Enfrente-o, faça-o afastar-se e desaparecer.

Um dos mandamentos dados a Josué, aquele que deveria introduzir o povo na terra prometida, é a lei da coragem: “Sê forte e corajoso, não temas, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares” (Js 1.9). 

O mesmo conselho deu Davi ao jovem Salomão: “Sê forte e corajoso e faze a obra; não temas nem te desanimes, porque o Senhor Deus, meu Deus, há de ser contigo; não te deixará, nem te desamparará, até que acabes todas as obras para o serviço da Casa do Senhor” (1 Cr 28.20). 

A mesma ordem é dada a você: “Sê forte e corajoso!”

Fonte: https://ultimato.com.br/sites/elbencesar/2020/04/17/ao-sentir-medo-recorra-a-deus/

PS1- Para refletir um pouco mais: https://www.youtube.com/watch?v=C1M0zb812UA

PS2- Para ouvir a trilha do dia: 
https://www.youtube.com/watch?v=eOpRtYo2Nc4
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August 17, 2021

Apaixonado por Deus

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- J.I.Packer
Barnabé,] ali chegando e vendo a graça de Deus, ficou alegre e os animou a permanecerem fiéis ao Senhor, de todo o coração. (Atos 11.23)
O aspecto emocional de conhecer a Deus é frequentemente depreciado por receio de dar lugar a um sentimentalismo egocêntrico. É verdade que não há nada mais irreligioso do que religião ensimesmada.
Nunca é demais enfatizar que Deus não existe para nosso conforto, para nossa felicidade e satisfação ou para nos proporcionar “experiências religio­sas”. Mas, não obstante, não se deve perder de vista o fato de que conhecer a Deus é uma relação emocional, bem como intelectual e volitiva, e, de fato, se não for assim, é impossível haver relacionamento profundo entre duas pessoas.
Os cristãos se alegram quando Deus é honrado e reco­nhecido e se entristecem profundamente quando veem Deus ser desonrado. Ficam extasiados de alegria quando Deus lhes permite provar a glória do amor eterno com que ele os amou. Mas, por outro lado, o salmista diz: “Rios de lágrimas correm dos meus olhos, porque a tua lei não é obedecida” (Sl 119.136). Este é o aspecto emocional e experiencial da amizade com Deus.
Para refletir: Como está seu envolvimento emocional com Deus?
Fonte: https://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2021/08/19/autor/j-i-packer/apaixonado-por-deus

August 16, 2021

As qualidades do amor

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- J. I. Packer

Cristo amou a igreja e se entregou por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. Efésios 5.25-27

O amor de Cristo é espontâneo, não despertado por bondade alguma que houvesse em nós (Ef 2.1-5). 

É eterno e plenamente afinado com a decisão tomada pelo Pai de salvar os pecadores “antes da criação do mundo” (1.4). 

É sem reservas, porque levou o Senhor às profundezas da humilhação e, realmente, ao próprio inferno no Calvário. 

E é soberano, pois alcançou seu objetivo – a glorificação final dos redimidos, porque agora a perfeita santidade e felicidade no gozo do amor de Deus (5.26-27) está garantida e assegurada (4.30).

Permaneçam nestas coisas, Paulo recomenda, se quiserem ter uma visão, embora obscura, da grandeza e da glória do amor de Deus.

Para escrever: Efésios mostra o amor de Deus como sendo espontâneo, eterno, sem reservas e soberano. Escreva como cada uma dessas características do amor de Deus influencia sua condição espiritual aqui e agora.
Fonte: https://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2021/07/26/autor/j-i-packer/as-qualidades-do-amor/


August 15, 2021

Impossível ser o mesmo depois de ser surpreendido pelo Amor

Justiça, misericórdia e felicidade

- Luiz Felipe Pondé

Todos precisamos de alguém que um dia tenha piedade de nós.

A ideia, presente em orações na tradição abraâmica, fala de uma necessidade profunda de encontramos o perdão como forma de libertação. A misericórdia é um pilar essencial, apesar de menosprezada pelas modas do mundo, para a experiência possível da beleza na vida. É justamente esta a beleza da qual nos fala Dostoiévski (1823-1881) quando ele diz que a beleza salvará o mundo.

Sei bem que ideias como essa estão longe do ethos do coaching, que assola nosso mundo, típico da assertividade boçal como modo de estar diante dos outros. Uma forma sutil de felicidade nasce ali, onde nos reconhecemos como seres assolados pela infelicidade e pelo fracasso, seja ele moral, econômico ou mesmo fisiológico, parada final da condição humana.

É longa a linhagem de autores que transitam por esse vale de sombras. Entre eles, um dos maiores na descrição dessa travessia, foi o francês Victor Hugo (1802-1885), na sua famosa obra “Os Miseráveis”.

O título, preciso, encontra sustentação seja na fenomenologia da miséria do capitalismo selvagem —aquele mesmo que agora se traveste de ovelha pelas mãos da publicidade — ao longo do século 19 europeu, seja na experiência individual de alguém que se reconhece mergulhado nessa miséria exterior e interior.

A história narra a saga de Jean Valjean, miserável, ladrão, embrutecido, que encontra, inesperadamente, o perdão pelas mãos de um bispo.

Mesmo tendo sido tratado bem pelo bispo — janta e dorme em sua casa —, Valjean rouba uma prataria da sua casa na manhã seguinte e foge. Na sequência, policiais o prendem na rua, por desconfiar que um miserável como ele não poderia portar objetos de tal valor. Valjean mente dizendo que o bispo havia dado a ele, de presente, aquela prataria. Os policiais, então, o levam a casa do bispo para verificar sua história improvável. A cena seguinte se constituirá no início da grande transformação moral pela qual passará o personagem Valjean.

O padre confirmará a narrativa mentirosa de Valjean, dizendo que, sim, havia dado aquela prataria de presente para o ladrão. Além disso, antes de sua partida, como homem livre, o bispo “lembra” a Valjean que ele havia esquecido os castiçais que ele também lhe tinha dado de presente.

Com aqueles castiçais, como diz o próprio bispo, Valjean recupera sua liberdade diante do mal que o assolava. Não só diante da possibilidade, de novo, de ir para prisão, mas também da sua vida sem esperança. O personagem central de “Os Miseráveis” se transformará, assim, numa luz no mundo, assim como as velas que são sustentadas por castiçais.

O outro protagonista da história, o obsessivo policial Javert, que persegue Valjean, desconfiando dele o tempo todo — Valjean assume uma nova vida e se transforma num homem rico e honesto — fará o contraponto, representando a diferença entre a justiça e o perdão, essencial para a economia moral do drama.

Javert não entende o que é a misericórdia porque está preso na noção de simetria, típica da justiça: criminosos como Valjean não merecem o perdão.

Entretanto, a misericórdia nada tem a ver a ideia de justiça, pois está acima dela.

Não que a justiça não seja necessária ao mundo. Mas, enquanto a justiça, na sua concepção original grega, significa “dar aquilo que cada um merece”, o perdão está distante da ideia de merecimento enquanto tal. É, justamente, o não merecimento que encanta na misericórdia. Este traço de caráter está no centro da personalidade do personagem histórico conhecido como Jesus Cristo.

Dito de uma forma contemporânea e banal, a misericórdia, o perdão ou a piedade, nada tem a ver com a ordem meritocrática. Não transita pela economia dos méritos, como diria Santo Agostinho (354-430).

A felicidade que nasce do encontro com a piedade é de uma ordem estranha à lógica dos resultados e das métricas. Ela pertence à família dos milagres.

O vínculo entre misericórdia e felicidade é uma das maiores ausências hoje na literatura de baixa qualidade sobre felicidade a disposição dos infelizes.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2021/08/a-misericordia-e-essencial-ainda-que-desprezada-pelo-ethos-do-coaching.shtml

PS1- Para entender um pouco (ou confundir mais) e vestir a carapuça, vai lá: https://www.bible.com/pt/bible/211/DEU.9.NTLH

PS2- Para ouvir a trilha do dia: https://www.youtube.com/watch?v=OxF-hgGdBIc

August 11, 2021

A verdadeira felicidade


3 Felizes as pessoas que sabem que são espiritualmente pobrespois o Reino do Céu é delas.
4 Felizes as pessoas que chorampois Deus as consolará. 
5 Felizes as pessoas humildespois receberão o que Deus tem prometido. 
6 Felizes as pessoas que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois ele as deixará completamente satisfeitas. 
7 Felizes as pessoas que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia delas.
8 Felizes as pessoas que têm o coração puropois elas verão a Deus. 
9 Felizes as pessoas que trabalham pela pazpois Deus as tratará como seus filhos.
10 Felizes as pessoas que sofrem perseguições por fazerem a vontade de Deus, pois o Reino do Céu é delas. 
11 Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores.  12Fiquem alegres e felizes, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês. Porque foi assim mesmo que perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.

August 08, 2021

Carta aos que optaram por não se vacinar

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Decidir não se vacinar é, além de falta de informação, demonstração plena de falta de compromisso social. Não é um mero exercício da sua suposta liberdade. É uma afronta à saúde dos demais.

- Ruth Manus

Prezada pessoa que optou por não tomar vacina (não, não escrevo a quem, por alguma razão, não PODE tomar vacina, escrevo aos que podem e mesmo assim decidem não tomar), não sei se você é um anti-vaxxer ou se você é alguém que simplesmente decidiu não se vacinar agora. Talvez você nem saiba o que é um anti-vaxxer, talvez nem saiba que há muita coisa por trás dessa sua decisão. Não sei se a decisão de não se vacinar foi realmente sua ou foi inspirada por um político, um religioso, um vizinho ou um influenciador irresponsável qualquer que você segue nas redes sociais.

De qualquer forma, imagino que quase nenhum de vocês tenha se dado ao trabalho de ler livros como Stuck – How vaccine rumors started – and why they don’t go away (como os rumores sobre as vacinas começaram – e por que eles não vão embora), de Heidi J. Larson, ou qualquer outra obra séria que trate sobre o assunto. Em geral, quem se informa com boas fontes chega à fácil conclusão de que vacinar-se é a coisa certa a fazer.

Enfim. Pergunto se você, que não quer se vacinar, conhece alguém que morreu de sarampo recentemente. Acredito que não. Isso acontece porque foi possível conter a propagação da doença através da imunização coletiva – ou seja, através da vacinação. Por outro lado, pergunto se você conhece alguém que morreu por conta da Covid-19. Imagino que sim. E isso acontece exatamente porque ainda não é possível conter a propagação do vírus.

O problema é que essa contenção seria possível se pessoas como você não se negassem a tomar a vacina. O ator brasileiro Tarcísio Meira faleceu essa semana, aos 85 anos, por conta de complicações derivadas da Covid-19. Ele já tinha tomado duas doses da vacina e muita gente desinformada disse que isso era prova de que a vacina não funciona. Pelo contrário, isso é a prova de que gente que não toma vacina acaba, mesmo que indiretamente, por gerar mortes como essa, de alguém que tentou se cuidar. Se a imunização coletiva já tivesse acontecido, o vírus não continuaria se propagando dessa forma e contaminando pessoas, vacinadas ou não.

A vacina reduz a probabilidade de contaminação e reduz drasticamente o número de casos graves. Pessoas completamente vacinadas representam menos de 4% dos mortos por Covid. Mas, sim, há um risco, especialmente naquilo que diz respeito aos idosos. Risco esse que poderia ser reduzido – e muito – se todos se vacinassem, compreendendo que esse é um pacto coletivo. Ou seja, não se vacinar não é apenas a decisão de se colocar em risco, mas a decisão de colocar todos os demais em risco.

É a velha história: sua liberdade vai até o ponto em que se inicia a liberdade do outro. Decidir não se vacinar é algo que invade a esfera da segurança do outro. Decidir não se vacinar é, além de falta de informação, demonstração plena de falta de civilidade e de falta de compromisso social. Não, não é um mero exercício da sua suposta liberdade. É uma afronta à saúde dos demais – tenham consciência disso.

Fonte: https://observador.pt/opiniao/carta-a-uma-pessoa-que-optou-por-nao-se-vacinar/