July 22, 2023

Pérolas

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- Rubem Alves

Uma ostra que não foi ferida, não produz pérolas. 

Pérolas são produtos da dor, resultados da entrada de uma substância estranha ou indesejada no interior da ostra, como um parasita ou um grão de areia. Pérolas são feridas curadas.

Na parte interna da concha é encontrada uma substância lustrosa chamada nácar. Quando um grão de areia penetra, células de nácar começam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resultado, uma linda pérola vai se formando.

Uma ostra que não foi ferida, de algum modo, produz pérolas pois a pérola é uma ferida cicatrizada.

Você já se sentiu ferido pelas palavras rudes de alguém? Já foi acusado de ter dito coisas que não disse? Suas ideias já foram rejeitadas ou mal interpretadas? Você já sofreu os duros golpes do preconceito? Já recebeu o troco da indiferença? Então produza uma pérola.

Cubras suas mágoas com várias camadas de amor.

Infelizmente são poucas as pessoas que se interessam por este tipo de movimento. A maioria aprende apenas a cultivar ressentimentos deixando as feridas abertas, alimentando-as com vários tipos de sentimentos pequenos e portanto, não permitindo que elas cicatrizem.

Assim, na prática o que vemos são muitas ostras vazias, não porque não tenham sido feridas, mas porque não souberam perdoar, compreender e transformar a dor em amor.
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July 20, 2023

O que você estaria disposto a fazer por seus amigos?

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No mundo em que vivemos poucos podem dizer que tem algum amigo. Amizade um sentimento nobre que a maioria das pessoas dariam muito por ela.

Pensando nisto, imaginamos que Jesus usou seus poderes celestes para recrutar seus discípulos, mas esquecemos dessa força humana que é capaz de mover céus e terra, a amizade.

Quem não gostaria de ter um amigo que soubesse ouvir, entender até mesmo os maiores erros?

Assim foi que Jesus escolheu um a um os seus discípulos, até mesmo o que iria traí-lo (só trai quem é amigo. Não há traição sem confiança).

Jesus ofereceu a cada um o que queriam, confiança, respeito, um ideal que extrapolasse os limites dessa existência terrena.

Para entender esse sentimento é necessário conhecer os princípios das Escrituras Sagradas que assim diz:

Provérbios 18
24 O homem que tem muitos amigos pode congratular-se, mas há amigo mais chegado do que um irmão.

Com que poderíamos comparar o sentimento de Rute por sua sogra Noemi, senão a mais profunda amizade?

Rute 1
16 Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me afaste de ti; porque, aonde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.
17 Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei sepultada; me faça assim o Senhor e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.


A amizade é um sentimento tão forte que não escolhemos nossos amigos só pelas virtudes, mas também por um elo espiritual que a razão humana desconhece, veja o exemplo da amizade de Davi e Jonatas filho do rei Saul:

I Samuel 18
1 E Sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou como à sua própria alma.

Estamos vivendo dias difíceis, de muito egoísmo, por essa razão temos poucos amigos. Mas vale à pena termos amigos, ou pelo menos um, com quem podemos ter a coragem de compartilhar nossos sentimentos de alegria, decepção, nossas virtudes, fraquezas e até os piores pecados. Sem esta cumplicidade não existe amizade. Aos amigos são compartilhados os nossos segredos e mistérios:

João 15
15 Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.

Jesus chorou por seu amigo Lázaro, irmão de Marta e Maria (esse choro foi também por todos os seus amigos que igualmente passariam por este mesmo sofrimento).

Nossos amigos nos dão alegria, mas também nos faz sofrer aqui neste mundo, pois sofremos com a dor dos nossos amigos, nem por isso vamos deixar de construir boas amizades.

João 11
35 Jesus chorou.

Não vamos deixar de conquistar amigos por causa da dor e do sofrimento que poderá nos trazer, mas vamos construir verdadeiras amizades que possam funcionar como espelhos, mostrando-nos nossa verdadeira face, a fim de podermos nos sentir queridos sem nenhum interesse, ainda que isso nos faça chorar, sentir dor e até mesmo quando sofrermos pela traição, como Jesus sofreu por seus amigos. 

Nada disso faça desistirmos de termos amigos, pois sempre nos ajudará a nos fazer melhor, compreendermos uns aos outros, consolarmo-nos mutuamente e nos alegrar pelo simples fato de termos um amigo.

Viva a amizade!

Fonte: https://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/o-que-voce-estaria-disposto-a-fazer-por-seus-amigos/2

July 05, 2023

O melhor lugar do mundo

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Problemas, paradoxos e perplexidades

Fecha a porta do teu quarto para orar. Esta orientação de Jesus pode significar a necessidade de um ambiente onde os ruídos na comunicação sejam mínimos: nada de telefones tocando, crianças reclamando atenção, chefes cobrando tarefas, religiosos cochichando, rádios e televisores ligados, sinais anunciando e-mails recebidos, sinais de amigos no celular, gritarias pela casa, ou qualquer coisa que possa competir com a atenção que deve ser exclusivamente dedicada a Deus, que recebe nossa oração.

Fechar a porta do quarto pode também significar outra coisa, a saber, a busca de um estágio profundo de introspecção. Abandonar o barulho das vozes, silenciar os pensamentos e alcançar aquela quietude de alma recomendada pelo Pai Celestial: "Aquietai-vos e sabei que sou Deus". 

Algumas pessoas conseguem apreender apenas aquilo que as palavras traduzem. Estão na camada dos óbvios e naturais da vida. Ficam na cadeia de causas e efeitos e tratam tudo como PROBLEMA: o que dá para montar, dá também para desmontar; o que pode deixar de funcionar, pode também ser consertado; o que pode ser expresso em palavras, pode ser compreendido e controlado. Isso vale para máquinas de lavar, aviões supersônicos, pessoas e relacionamentos, pensam elas.

Mas há pessoas que vão um pouco mais longe e descobrem que a vida não é tão lógica assim. Tratam a realidade na categoria do PARADOXO. Sabem que duas pessoas podem ter razão ao mesmo tempo, que pessoas podem ser capazes de fazer tanto o bem quanto o mal, enfim, que a vida é muito mais um degradê de cinzas do que um quadro em preto e branco.

Finalmente, há pessoas que penetram a dimensão da PERPLEXIDADE. Já não se ocupam tanto em compreender, explicar e controlar. Sabem que algumas coisas simplesmente são, sem qualquer explicação aparente ou apesar de todo o absurdo. Sabem apreciar a música e a poesia. Abraçam crianças, rolam no chão com seus cães e ficam extasiados com um pôr de sol. Não precisam de palavras para trocar segredos de amor, sabem como foi o dia dos filhos pelo bater da porta do quarto e se comunicam com os olhos, mesmo estando nos extremos de um salão de festa. Suas vidas estão além das fronteiras da razão e dos sentidos físicos. São sensíveis ao belo, ao bom, ao justo e ao verdadeiro.

A mente de Deus é, também, lógica e sua sabedoria capaz de oferecer solução às questões mais complexas da existência. Mas a intimidade com Deus se aprofunda no quarto, a portas fechadas, na quietude da alma, onde as palavras funcionam mais para fugas do que aproximações e o silêncio é significativo, como a mais bela das vozes a pronunciar a mais fértil das frases: "Tu és meu filho amado, em quem tenho prazer".

© 2006 Ed René Kivitz

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