August 26, 2023

Buscar Jesus envolve entrega e renovação da mente

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A libertação tira os demônios, mas a renovação da mente é que destroi as fortalezas

O pastor Vlad Savchuk, conhecido por seu ministério de libertação, orientou que as pessoas não devem buscar Jesus para serem libertadas da aflição e continuarem vivendo de maneira leviana.

Em vez disso, ele alertou que é necessário entregar a totalidade de suas vidas a Cristo para que Ele possa libertá-los permanentemente.

Savchuk e sua família migraram da Ucrânia para os Estados Unidos quando ele tinha 13 anos. Ele trabalhou no ministério de jovens aos 16 anos e agora é o pastor principal do ministério internacional “Hungry Generation Church”, com sede no estado de Washington.

O ministério do pastor se tornou conhecido por seus ensinamentos sobre libertação de demônios e fortalezas. Ele também participou do filme “Come Out In Jesus Name” (“Saia, Em Nome De Jesus”), lançado no início deste ano.

No entanto, ele disse que a Bíblia deixa claro que a caminhada com Deus não está centrada na libertação

"Temos que renovar a nossa mente. A Bíblia afirma claramente que somos transformados pela renovação da nossa mente. Israel saiu do Egito, mas o Egito não saiu deles. Eles tiveram que passar pela renovação de sua mente. É por isso que morreram como escravos, embora não fossem mais perseguidos por Faraó", disse Savchuk ao Christian Post. 

E continuou: "A libertação tira os demônios, mas a renovação da mente é o que destrói as fortalezas. Você pode ser uma pessoa libertada, mas sua mente pode estar presa. Eles não têm demônios, eles têm fortalezas”. 

O pastor explicou que essas fortalezas são como pensamentos desenvolvidos ao longo do tempo que se tornam “convicções subconscientes”. Ele ensinou que essas fortalezas precisam ser destruídas camada por camada. 

“É por isso que Jesus diz no mesmo cenário: 'A quem o filho liberta', Ele também diz: 'Conhecereis a verdade'. Significa que Jesus nos liberta, mas sua verdade também traz um nível de liberdade em nossa mente”, disse Savchuk. 

“Essas fortalezas precisam ser destruídas submetendo-se ao estudo bíblico, à oração, memorizando os versículos e tomando a Palavra de Deus como um sabão para lavar sua mente”, acrescentou ele.

O pastor ensina sobre a ‘substituição’

O pastor também aconselhou os cristãos a “submeter-se a viver em comunidade com outros crentes”, pois Deus os incluiu em sua família espiritual:

"Infelizmente, o que acontece com muitos cristãos é que eles são salvos, mas são crentes sem-teto. Eles não estão ligados a um lar. Eles continuam declarando a quebra de maldições, porém, não podem receber bênçãos geracionais se não estiverem ligados ao lar espiritual chamado igreja”.

Savchuk observou que muitas pessoas não estão ligadas a uma igreja porque foram magoadas. Mas, ele afirmou que fazer parte de uma congregação é essencial para os fiéis que desejam permanecer livres em Cristo. 

Ele encorajou as pessoas que buscam a liberdade em Deus a se encherem de Jesus para substituir tudo o que os atormenta. 

“Temos que substituir o inimigo e a ação dele em nossas vidas. Por exemplo, se uma pessoa era viciada em maconha e vem a Cristo, ela não pode apenas orar: 'Senhor, tire meu vício em maconha’. A ideia é: 'Jesus, substitua isso. Quero dedicar o tempo em que eu fumava maconha ao Senhor'". 

O pastor disse que muitas pessoas vêm a Jesus em busca de alívio, mas não para substituição.

O verdadeiro cristianismo

Savchuk desmistificou a ideia de que as pessoas podem vir a Jesus para fazer o que quiserem: “Esse não é o propósito do cristianismo”. 

“O cristianismo se aplica quando eu dou toda a minha vida para que Jesus possa fazer o que Ele quiser”, afirmou o pastor. 

E continuou: “Muitas pessoas obtêm liberdade removendo coisas ruins, mas elas simplesmente não querem que Jesus ocupe o lugar que o inimigo costumava ocupar. Então, eles se encontram em outra prisão chamada egoísmo. Eles vivem a sua vida para si mesmos e não para Jesus”.

“Deus não quer apenas nos libertar do Egito para que possamos correr pelo deserto e adorar os bezerros de ouro. Ele quer que nos tornemos seu povo”, declarou ele.

O pastor relatou que o povo no Egito queria usar Deus como um meio para atingir um objetivo, que pode ser a realização ou sucesso pessoal: “Mas não é esse o propósito da cruz. Jesus não é um meio para um objetivo. Ele é o objetivo".

“O objetivo é Jesus ter mais de mim. A libertação não me dá mais de Deus. A libertação dá ao Senhor mais de mim, para que Ele possa amar e usar para servi-lo", afirmou ele.

Savchuk concluiu a entrevista dizendo: “Se você quer experimentar tudo o que Jesus tem para você, só poderá fazer isso dando 100% a Ele”.

Fonte: https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/pastor-alerta-que-buscar-jesus-sem-entrega-nao-e-cristianismo-temos-que-renovar-mente.html
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August 25, 2023

Mudanças

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METANOIA: basta concordar

- pr. Ariovaldo Ramos

Satanás nos venceu no jardim, que era o nosso ambiente. Por isto agora Jesus vai ao deserto, para vencer o inimigo no ambiente dele. O deserto é o lugar árido da solidão, da desolação. Com Jesus, Deus inaugura um novo mundo, uma nova fase de relacionamento. Não é mais a lei e sim a graça: é o novo mundo!

"Convém que Ele cresça e que eu diminua". Qdo João diz isto, é como se ainda existissem 2 ministérios paralelos. Ele não compreende que falando, Jesus não podia falar. E enquanto João não parou, o novo mundo não pôde começar. João não entendeu que era a última voz e, como não soube fechar a porta (pq Jesus é a porta), Deus teve de levá-lo.

E nós? O que é que temos de parar para Deus começar? O que estou fazendo, pensando, sentindo, sonhando... que deixo Deus em tempo de espera?

Note a paciência de Jesus, Ele fica em tempo de espera (Deus é um ser que aguenta não ser amado).

João não percebeu que o novo mundo só começaria quando ele parasse. O novo mundo começa quando a gente toma consciência. E pela graça, a gente não precisa fazer nada, só concordar que precisa parar. O resto é com Deus, o controle passa a ser dEle.

Uma edição antiga da revista Mensagem da Cruz (editora Bethânia) conta a história de uma tribo africana que capturava macacos com uma cumbuca que tinha uma pedrinha dentro. O macaco era atraído pelo barulho (se ele soltasse a pedra, a armadilha não prenderia mais a sua mão, porque era assim que ele era capturado). Jesus veio para nos libertar da paixão mórbida pela pedrinha e nos fazer agentes do mundo novo.

Qual é o mundo novo em:
  • nossos relacionamentos familiares;
  • nosso trabalho;
  • sociedade;
  • agir/escolher (quais as escolhas que não são mais viáveis)?
João devia estar deprimido: o seu primo nem foi visitá-lo na prisão, por isto pediu que seus discípulos perguntassem se Ele era mesmo o Messias. E Jesus teve de fazer milagres para responder: - Sou eu mesmo, vc é que não é mais vc - vc deixou de ser vc mesmo! Por isto o Altíssimo resolveu intervir, não há nada que eu possa fazer.

Reflexão: - Senhor, o que é que tem de parar na minha vida?

A gente só precisa concordar que precisa parar.

Vamos pedir que Deus liberte-nos da paixão pela pedrinha e nos ajude a concordar com Ele. Para que o novo mundo comece dentro de nós.

Fonte: Mensagem ministrada na IBAB dia 27/11/05 às 10h.
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August 23, 2023

O poder da confissão

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Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se converterão. Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a tua justiça. 
Sl 51.6-14 

- Gabrielle Greggersen 

Por esses dias, lembrei-me de uma lenda: um mestre e seu discípulo faziam uma viagem a pé, quando perceberam que a noite já se aproximava. Estavam cansados, com sede e fome. De repente, perceberam que estavam próximos de uma grande fazenda, rica em plantação e gado. O sábio ordenou que seu discípulo fosse à fazenda e pedisse ao dono um lugar para dormir e água para matar a sede. O discípulo foi e recebeu um “não” do rico fazendeiro.

O discípulo contou ao mestre sobre a recusa do fazendeiro em ajudá-los. Então continuaram andando. Caminharam muito até que encontraram outra fazenda. Ao contrário da primeira, a fazenda era pobre, com uma casinha velha, sem plantação. O mato estava por todos os lados, e de animal, apenas uma vaca. Atendendo à ordem do mestre, o discípulo dirigiu-se até a pequena casa e pediu guarida aos donos. João e Raimundo, moradores do lugar, atenderam ao pedido e, além de cama e pão, ofereceram leite.

À noite, conversaram e contaram aos visitantes que moravam ali desde a morte do pai. Eram pobres e sobreviviam apenas do leite que tiravam da única vaca. Pela manhã, mestre e discípulo levantaram-se cedo, antes mesmo dos donos da casa. Subiram um pequeno morro e viram a vaca magra que alimentava os dois rapazes. 

O mestre disse: — Vá e mate aquela vaca.

O discípulo ficou perplexo. Não entendeu a ordem. Vendo a hesitação do discípulo, o mestre repetiu a ordem. Contrariado e sem entender, o discípulo seguiu em direção ao animal e cumpriu a ordem: matou a vaca e foi embora com o mestre, de volta ao casebre rústico. Naquele dia, o discípulo não mais conversou com seu mestre. Não entendia como um homem que falava tanto de coisas belas podia prejudicar justamente aqueles que os socorreram em hora difícil.

Alguns anos se passaram. Um dia, o mestre e seu discípulo faziam uma longa caminhada. Observando o lugar, o discípulo reconheceu a região onde um dia matou uma vaca. Recordou-se de todo o episódio. Enquanto caminhavam, tentava localizar a fazenda onde dormiram, mas não conseguiu. Viu a fazenda do rico fazendeiro, onde as plantações sumiam de vista, mas não achou as terras pobres de João e Raimundo. 

Dirigiu-se ao mestre: — Senhor, vejo que estamos na região onde há alguns anos fomos acolhidos por dois jovens pobres. Mas não consigo identificar a casa deles.
— Está um pouco adiante, disse o mestre.

Caminharam mais um pouco e quando chegaram ao local, o discípulo ficou surpreso. Onde havia um lugar pobre e abandonado, vislumbrava-se agora uma vasta plantação, com diversas culturas e muito gado. O discípulo não acreditava no que estava vendo. Imaginando que novas pessoas moravam ali, procurou saber quem eram os donos do local. Perguntou a um empregado da fazenda e ficou sabendo que se tratavam dos mesmos rapazes que um dia os abrigaram. 

Confuso, o discípulo procurou seu Mestre: — Mestre, o que aconteceu com aqueles pobres homens? Ficaram ricos? A fazenda abandonada ao mato se transformou uma propriedade rica, cheia de plantação e gado. O que houve?

Com o semblante tranquilo, o mestre continuou sua caminhada e disse: — Quando mandei que matasse aquela vaca foi para que seus donos não se acomodassem em viver apenas do pouco leite que tiravam daquele animal. Sem a vaca, eles foram obrigados a buscar outro meio de sobrevivência e descobriram no trabalho a fonte de suas riquezas. Sábio é o homem que não se acomoda diante da vida.

A história acima nos mostra o quão é importante a busca da verdade e da sabedoria para vivermos uma vida de qualidade e não nos contentarmos com soluções provisórias. Nesse trecho de seu salmo de confissão, Davi certamente nos mostra a importância que dava à sabedoria, tanto que incutia esse respeito e essa consciência no seu filho, Salomão, que virou uma lenda contada até os dias de hoje por sua sabedoria. Vamos atentar mais profundamente ao texto.

No entender de Girard (1992, 24), podemos esquematizar esse trecho da seguinte maneira:

Etapa                                   Breve explicação                                       
Intervenção divina                 Recado profético ou teofania simbólica
Experiência de libertação        Desenlace efetivo do drama
Esperança                             Confiança de que o problema se resolva 
Mas depois do arrependimento verdadeiro, não apenas somos perdoados, mas restituídos à pureza. Nosso pecado é removido, apagado, como as letras anotadas em um livro. Davi usa de metáforas como “mancha” e “neve” para denotar o seu desejo de purificação. O desejo da intervenção divina não é aleatório, pelo contrário, ele se funda numa esperança muito concreta de que Deus irá atender a esse desejo. E essa esperança está pautada, aparentemente, num conhecimento profundo de Deus e em experiências libertadoras anteriores de Davi.
Por maior que seja, entretanto, a convicção que possamos ter da graça divina, isso não nos priva da necessidade de confissão e reiteração do pedido por reconciliação. O fato, diz Calvino, é que somente aquele que tem plena convicção da obtenção do perdão é que saberá pedir adequadamente por perdão. E não há nenhuma contradição entre esses dois lados de uma mesma moeda. Ele destaca ainda que a “lavagem com hissope lembra que devemos ter sempre em foco e mira o ato sacrificial de Cristo e seu derramamento de sangue por nós, como frisado em Hebreus 9.22.
Como se sabe, hissope, como bem lembra Agostinho, é uma planta medicinal, uma espécie de esponja, apta para curar problemas ligados ao pulmão. O inchaço no pulmão é uma analogia à soberba – portanto, trata-se de uma analogia à purga do pecado capital do orgulho. Kidner sugere que essa metáfora possa remeter ao episódio da purificação do leproso com esse recurso (Levítico 14.6-7). Ou então, Davi pode ter lembrado ainda que se usa esse recurso no ritual de purga das pessoas que tiveram contato com mortos. Para o autor, o apelo para que ele aprenda a “ouvir” e a expressão “exultem” ou “gozem os ossos que tu quebraste” representa o clímax do salmo. Como se pode ver em todo o Antigo Testamento e nas parábolas de Jesus, particularmente a do semeador, saber ouvir é uma virtude cristã das mais sublimes.
Nos versículos seguintes, 10 a 12, Calvino nota que há uma mudança de assunto do pecado para a santificação, que Davi busca ansiosamente, dada a sua perda dos dons espirituais que lhe eram tão caros. Quando ele usa o verbo “criar”, está evocando um verdadeiro milagre na sua vida. Ele deseja que Deus aja poderosamente no seu coração no sentido de uma reforma completa, como se fosse algo completamente novo para ele, pelo que não é o seu livre arbítrio, mas somente a graça de Deus entra em foco.
Kidner ressalta que “tanto a história anterior de Davi quanto a linguagem de 11b e 12a mostram que este não é um pedaço de um homem não regenerado: é uma oração em prol da santidade (cf.. 11b). Abrange, por assim dizer, todos os sete dias da Criação, e não apenas o primeiro” (Kidner, 1992, 213).
Kidner comenta que quando Davi associa o seu nascimento ao pecado, ele estava provavelmente lembrando do caso do próprio Saul, de quem a Bíblia diz que o espírito havia se afastado (I Samuel 16.14). De minha parte, prefiro não especular sobre o que Deus pode ou não pode fazer, já que isso será sempre um mistério para nós. Duas coisas são certas e ficam evidentes nessa parte do salmo: por um lado, Deus é soberano e onisciente, o que faz com que possa fazer tudo. Por outro, Davi, na sua condição humana e pecaminosa, humilhada e profundamente arrependida, tem o sagrado direito, senão o dever, de externar os seus sentimentos de forma criativa e artística, até como forma de terapia. É por isso provavelmente que John Stott, quando fala da misericórdia divina, particularmente no verso 17, contrapõe o salmo 51 ao salmo 46, que fala da soberania de Deus.
E Davi é incapaz de imaginar uma situação pior do que a perda do Espírito e seus dons. O horror de imaginar tal situação o faz lembrar de seus inimigos e transgressores, não no sentido de condená-los ou vingar-se deles, mas de ensiná-los e fazê-los retornar a Deus, como ele mesmo estava pronto para fazer naquele momento mesmo – motivo pelo qual pedia restauração da sua alegria da salvação (não necessariamente a própria salvação, portanto), e que conservasse a sua liberdade de espírito. Aqui novamente percebemos a mente brilhante do artista que não quer se ver perturbado por nenhuma ansiedade ou peso na consciência, mas quer voltar a gozar da plenitude da alegria e liberdade no Espírito. Tanto que, se Deus a restaurasse, seu desejo seria de compartilhá-la até mesmo com os seus inimigos.
Nesse sentido, Kidner destaca quanto ao “espírito voluntário” desejado por Davi que “um espírito assim é o antídoto que Deus supre como cura da tentação: é aquele deleite positivo na sua vontade” (40:8). O próprio salmo é a resposta mais rica à oração, sendo que mostrou a gerações de pecadores o caminho para casa muito tempo depois que se acharam além da possibilidade de restauração” (Kidner, 1992, 214).
Para Stott, os versos 14 e 15 são de compromisso, diante de Deus, com a sociedade, particularmente os que, como ele, pecaram, no sentido de educá-los para saírem dessa sua situação e de sacrifícios dignos para com Deus. Resumidamente, embora o Espírito Santo de Deus tenha sido universalizado para todos os crentes no Pentecostes, vemos aqui a sua poderosa atuação na vida de pessoas especiais e em momentos especiais do AT. Na vida de Davi, esses momentos coincidem com os de maior inspiração poética. Daí o pavor do poeta só de imaginar a perda desses dons e o desejo de que Deus volte a tocar a sua língua.
Como cristãos, muitas vezes vivemos como os fazendeiros, do leite de uma vaca, e não percebemos que Deus quer nos cobrir dos mais preciosos dons. Tornamo-nos meros igrejeiros não apenas alienados de toda realidade ao redor, principalmente da arte e cultura, mas também vendo-nos como bravos combatentes de tudo o que não leva o carimbo cristão em favor de um purismo que Jesus certamente dispensaria. Lembremos que Jesus compartilhou da mesa de publicanos e cobradores de impostos, e era amigo de prostitutas. Em Hebreus 5.13, lemos: “Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança.” E o processo de se tornar adulto muitas vezes é bem doloroso.
Nesse sentido, Lenz César comenta muito apropriadamente:
Perdão e purificação são bênçãos indispensáveis, porém acidentais. Elas se tornam necessárias depois de alguma rebelião contra Deus. As outras bênçãos são o pão nosso de cada dia – medidas preventivas para evitar ou tornar mais difíceis outros escorregões. Para não voltar a adulterar, nem a assassinar os maridos traídos, precisamos de alegria interior, de coração puro, de renovação, de sustento e da presença contínua do Espírito dentro de nosso ser! (2003, 123).
Muitos usam esse versículo para fundamentar a depravação total e a nossa completa dependência da graça de Deus. É nesse espírito que o salmista repete a sua petição no versículo seguinte, em que ele pede pela continuidade da graça da adoção na sua vida, pelo que poderá continuar desfrutando da condução pelo Espírito Santo. Quem sabe esse acontecimento na vida de Davi tenha sido um marco da passagem de uma criança, ainda que um rei, para um homem de Deus adulto e amadurecido. Davi certamente já conhecia os dons do espírito e da arte, tanto que ficou desesperado somente em pensar na idéia de perdê-los. Mas agora ele quer que Deus mesmo os coloque sobre a sua língua.
A certa altura de seu comentário, Girard (1992, 40-41) faz as seguintes perguntas interessantes:
  • Quais seriam as condições para que a nossa comunidade cristã ficasse “mais branca do que a neve” (51,9)? 
  • Quais os sinais de que uma comunidade tenha um “espírito firme, santo e generoso” (51, 12-14)? 
  • Sentimos responsabilidade coletiva e ativa para fazer a nossa sociedade tomar consciência do seu estado de pecado (ver 51,15)? 
Fica aqui o desafio para que você se associe à petição de Davi por livramento e restauração, mas principalmente ao grito “de alguém cuja consciência o levou a calar-se, envergonhado” (Kidner, 1992, 215). 
Reúna a família, os irmãos da igreja, de preferência do pequeno grupo, e crie espaços criativos para que os dons do espírito possam ser manifestos de modo edificante e enriquecedor não apenas para as pessoas envolvidas, mas para toda a sociedade.

Referências:

AGOSTINHO, Santo. Comentários aos salmos . São Paulo: Paulus, 1998 (Coleção Patrística).
CALVINO, João. Comentário aos salmos , disponível em www.ccel.org/c/calvin/(20/3/2006).
GIRARD, Marc. Como ler o Livro dos Salmos (2ª ed.) São Paulo: Paulus, 1992.
KIDNER, Derek. Salmos 1-72 (3ª reimpressão). São Paulo: Vida Nova, 1992.
LENZ CÉSAR, Elben M. Refeições diárias com o sabor dos salmos. Viçosa: Ultimato, 2003. 
STOTT, John, Salmos favoritos. São Paulo: Abba Press, 1997.

Fonte: https://teologiabrasileira.com.br/o-poder-da-confissao-parte-2/

August 22, 2023

Consciência da gravidade de nossos erros diante de Deus

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Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.
Sl 51.1-5 

- Gabrielle Greggersen

O salmo 51 sempre teve um impacto muito forte na minha vida em momentos diferentes. Quem sabe isso se deva à prática que temos na minha igreja de origem de confissão pública de pecados, que provavelmente se originou nos movimentos pietistas europeus. Em todos os casos, não temos no português uma palavra que dê conta do sentido de Buße no alemão, que significa mais do que somente reconhecer um pecado, e se aproxima provavelmente do que sentimos já nos primeiros versos desse salmo.
É claro que, para entendê-lo, é preciso ler o contexto da história, relatado em II Samuel 12 e no salmo 32, provavelmente escrito depois do 51. Em todos os casos, os comentaristas concordam que esse é o maior dos sete salmos de penitência ou lamentação da Bíblia e dos mais profundos, que retratam um dos momentos mais sóbrios da vida de Davi. De acordo com Kidner, esse salmo apresenta ricos ensinamentos sobre Deus, o pecado e a salvação. Ele foi composto, em forma de música, depois do episódio com Bate-Seba. Mas isso tudo só aconteceu depois que Natan lhe contou uma história triste, que o fez trair-se e conscientizar-se do mal que havia feito. A história narrada acima mostra o poder da Palavra de Deus para mudar a História.
O pecado cometido por Davi era mais sério do que ele estava disposto a admitir. Depois de casado e com várias concubinas, Davi encantou-se com a moça, esposa de um de seus soldados de maior confiança. Ao avistá-la nua, possuiu-a e decidiu colocar o marido dela na linha de frente da batalha, onde a morte era certa. Além do adultério, Davi cometeu um assassinato hediondo, friamente premeditado. Ele traiu a sua nação, e pior: o seu Deus. Não era para menos que a sua consciência pesava, mas houve necessidade de uma parábola e o “cartão amarelo” de Natan para que ela se manifestasse. Agostinho comenta que, com isso, Natan “tirou o pecado de suas costas e colocou-o diante de seus olhos para que visse que proferia sentença tão severa contra si mesmo” (Agostinho, 1998, 905).
Conforme relato de II Samuel 12.1-13, Natan, ao saber do pecado cometido por Davi, conta uma parábola de um homem rico que não apenas negou ajuda a um esfomeado, como ainda lhe roubou o pouco que tinha. A maldição que Davi inventou para ele acabou se abatendo sobre ele, pois seu filho com Bate-Seba adoeceu e morreu, e suas mulheres passaram a ser infiéis a ele, fazendo-o virar motivo de chacota.
A canção composta por Davi, então, representa um grande desabafo, que segue a estrutura do que Girard (1992, 24) chama “dramática da libertação”:
Etapa               Breve explicação                     Símbolo
Queixa             Exposição do problema            Preto
Súplica             Grito de apelo, prece               Roxo
Nesta primeira de três reflexões sobre esse salmo, nos concentraremos apenas nas duas primeiras etapas do canto, que Girard também considera o “mais popular dos salmos penitenciais” (idem, 40).
Nessa primeira parte do Salmo, Davi reconhece publicamente e confessa o seu pecado com todas as suas consequências, e pede desesperadamente perdão a Deus. Ele se queixa e apela para que Deus apague o seu pecado, como uma mancha na lousa, e o lave como um trapo de roupa suja, pois a sua visão é horrível demais para suportarmos. No prefácio de Cartas de um diabo a seu aprendiz , C.S. Lewis comenta que escrever aquele livro foi a tarefa mais fácil e mais difícil que ele empreendeu: mais fácil, pois bastou olhar para dentro do próprio coração para entender a lógica do diabo; mais difícil, de ter que encarar o horror do resultado.
Calvino também ressalta que a grande força do seu efeito está na honestidade rara com que Davi expressa a gravidade do seu caso, que deixou marcas profundas não apenas nas pessoas ofendidas, mas, em última instância, significou um pecado contra Deus mesmo e a necessidade contrastante de uma remissão por graça superabundante.
Duas passagens nos vêm à mente nesse contexto: Marcos 2.5, quando Jesus diz ao aleijado, para escândalo dos fariseus: “Filho, os teus pecados estão perdoados.” Pois, se desde Davi, pelo menos, os judeus sabem que todo pecado é cometido contra Deus e que só ele pode perdoá-los, então Jesus se coloca, em última instância, na condição de Deus, tornando-se herege e escandaloso aos olhos dos fariseus.
A outra passagem é o salmo 32.3, em que o salmista mostra a mesma convicção do poder da consciência e da confissão: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia.” Neste sentido, o retorno de Davi para o seu Senhor em arrependimento lembra o do filho pródigo e a confissão do ladrão arrependido no dia da crucificação de Jesus, sem falar da mulher adúltera que Jesus absolve de maneira tão sábia.
Calvino destaca ainda a razão para o profundo desejo de Davi de ser lavado e regenerado: ele tinha consciência do pecado que lhe tirava a paz e torturava a mente. Isso mostra a profunda sondagem que ele deveria ter feito no seu coração e a descoberta de que só Deus mesmo seria capaz de redimi-lo, por mais que os seus súditos tentassem consolá-lo ou enfraquecer a gravidade do caso, gerando uma paz falsa.
Calvino lembra ainda Romanos 3.3-4, em que Paulo destaca a justiça, a fidelidade e a verdade de Deus, que jamais pode ser negada pelo homem, por mais que seja santo ou pior que seja o pecado cometido:
E daí? Se alguns não creram, a incredulidade deles virá desfazer a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma! Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem, segundo está escrito: Para seres justificado nas tuas palavras e venhas a vencer quando fores julgado.
Entretanto, embora Davi observasse, no versículo 5, que foi concebido em pecado, não parece querer defender alguma tese de que o pecado seja o sexo mesmo. Agostinho explicita o pressuposto desse versículo: Davi foi concebido em pecado por ser filho de Adão, e não Jessé. “Pecado” aqui, portanto, está no sentido de natureza pecaminosa. Trata-se do sentido ontológico. Com esse recurso de linguagem figurada, Davi dá vazão a todo o horror que olhar para o seu próprio pecado deve lhe ter causado. A ideia central, então, aparentemente é esta: todo pecado é cometido, em última instância, contra Deus, e, portanto, só ele tem o poder de perdoar e curar o pecador.
No comentário de Stott, quanto mais grave o pecado, mais sentimos a necessidade da misericórdia de Deus. À semelhança do salmo 32, Davi usa três palavras diferentes para se referir ao pecado: transgressão, no sentido de limites ultrapassados; pecado, ou erro; e iniquidade, referindo-se ao estado depravado da natureza.
A essência do pecado é a rebeldia contra Deus (…) É verdade que Davi pecou contra Bate-Seba e Urias, contra sua família e nação, mas antes, e ainda mais que tudo, ele ofendeu o amor e a Lei de Deus. Compare Romanos 3.4, onde Paulo cita essas palavras para estabelecer a justiça inabalável de Deus ao lidar com seres humanos. Se a essência do pecado é rebelião, sua origem está na nossa natureza caída (Stott, 1997, 63).
Em seu comentário aos salmos, Agostinho comenta: “Muitos querem cair com Davi, mas não querem se levantar com ele (…) A queda dos grandes não deve dar prazer aos menores, mas sirva a sua queda para incutir temor aos que estão abaixo” (Agostinho, 1998, 899-900).
A partir do exemplo de Davi, pode-se concluir que a consciência ou não dos nossos atos pode vir a ser mais fundamental do que o próprio ato, principalmente quando ele traz o arrependimento sincero, e não a acusação perpétua, que é obra do diabo (Salmos 12.10). Como dizia, se não me engano, Martinho Lutero: “Mente vazia, oficina do diabo”, ou seja, nossa mente ou consciência pode ser usada por Deus ou pelo diabo. A linha de separação é tênue. Os poderes de destruição e libertação da mente estão sendo descobertos somente em dias recentes, mas sempre marcaram a humanidade. A pergunta é: o que fazemos de incrível a pavoroso potencial – entregar-nos à culpa ou partir para a confissão sincera?
Como comenta Élben M. Lenz César:
A pessoa esperta é aquela que rompe o ciclo da cegueira e do orgulho e confessa corajosamente a Deus: “Eu mesmo reconheço as minhas transgressões e o meu pecado sempre me persegue” (Salmos 51.3). É nesse precioso momento que a pessoa esperta rompe com o passado e inaugura uma nova época. Essa é a passagem de um tempo para outro, de uma situação para outra, de um lugar para outro. A pessoa esperta não enrola, não mente, não rodeia, não foge, não comete suicídio moral. Ela arranca a venda que está em seus olhos, usa colírio para enxergar melhor (Apocalipse 3.18), joga fora o telescópio com o qual via à distância o pecado alheio (Mateis 7.3) e dispensa a multidão de advogados de defesa que havia contratado. A pessoa esperta olha para dentro de si mesma e se descobre pecadora desde o dia de seu nascimento, desde o dia de sua concepção. Então admite tranquilamente que Deus tem razão em condená-la (Lenz César, 120).
É claro que as marcas sempre ficarão, tanto que Davi teve que pagar um alto preço. E como bem coloca Lenz César, ele não assume apenas a culpa, mas também o castigo. O fato, entretanto, é que o arrependimento não apenas parece ter aliviado o peso da sua consciência, mas efetivamente redundado em restauração. Como se lê no livro de Lamentações, a confissão traz esperança, restauração e sentido na vida: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim” (Lamentações 3>21-22).
Você já se sentiu miserável por ter cometido algum pecado? Se não, de duas uma: ou você não tem pecado e, portanto, está prontinho para ser canonizado, ou não tem consciência. Davi nos mostra como a consciência, por mais que seja importante para vivermos uma vida realmente humana, para termos uma identidade, para sermos cidadãos, esposas e maridos responsáveis, trabalhadores honestos etc., é algo deveras terrível quando nos acusa. Então, para evitar que ela se volte contra nós, não basta deixar de fazer coisas que nos acusem, pois também existe algo chamado “falsa culpa”. É preciso fazer o que Davi fez: compor um cântico público de arrependimento ou contrição, não porque a graça divina não bastasse, mas para a nossa própria paz de espírito diante de nós mesmos e da sociedade. Somente assim nos daremos conta do poder da confissão, entendida como Buße .
Referências:
CALVINO, João. Comentário aos Salmos, in www.ccel.org/c/calvin , 2006.
GIRARD, Marc. Como ler o livro dos salmos , 2a. ed. São Paulo: Paulus, 1992.
KIDNER, Derek. Salmos 1-72, 3a reimpressão, São Paulo: Vida Nova, 1992.
LENZ CÉSAR, Elben M.. Refeições diárias com o sabor dos salmos . Viçosa: Ultimato, 2003.
LEWIS. C.S. Cartas de um diabo a seu aprendiz . São Martins Fontes, 2005.
STOTT, John, Salmos favoritos , São Paulo: Abba Press, 1997.
AGOSTINHO, Santo. Comentários aos Salmos , São Paulo: Paulus, 1998 (Coleção Patrística).
Fonte: https://teologiabrasileira.com.br/o-poder-da-confissao-parte-1/

August 21, 2023

Quando nossos erros nos impedem de prosperar

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August 20, 2023

Nunca se case com o espírito do seu tempo

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- Ricardo Barbosa
Por Ricardo Barbosa de Sousa
Alguns anos atrás, depois de uma palestra do doutor James Houston sobre cultura, tecnologia e as mudanças por que a civilização ocidental tem passado, saímos para tomar um café e conversar um pouco mais sobre o tema. Falamos sobre a rápida transformação que a revolução tecnológica trouxe e o desafio de a igreja permanecer fiel ao seu chamado. Claro, a conversa foi longa, mas uma frase dele me chamou a atenção: “Quando alguém casa com o espírito da época, a época passa e ele fica viúvo”. Há muita sabedoria nessa afirmação.

Ao longo da história, desde o Novo Testamento, as igrejas são identificadas pela sua localização geográfica – Éfeso, Filipos, Laodiceia, Roma, São Paulo, Brasília – e são formadas por pessoas que vivem nessas cidades e participam de sua dinâmica cultural, social e econômica. É inevitável que tais pessoas levem para dentro da igreja aspectos da sua cultura e expectativas religiosas que nada têm a ver com o evangelho de Cristo. Por isso, o povo de Deus sempre se relacionou com o espírito de sua época de maneira tensa, ora casando-se com ele, ora rejeitando-o. Mas toda vez que o povo de Deus se casa com o espírito do seu tempo, ele perde a sua identidade e compromete a sua vocação. Discernir as épocas, a forma como os poderes atuam e como a igreja reage a eles nem sempre é uma tarefa fácil.

O reverendo John Stott, comentando a carta à igreja de Pérgamo, descreve a tensão daquela comunidade com a cidade como uma luta pela mente. A atmosfera de Pérgamo estava moldando a mente dos cristãos, um casamento cultural estava em andamento. A igreja estava tornando-se mais parecida com o seu contexto do que com o seu Mestre. A cultura é dinâmica, muda constantemente, e a igreja realiza sua missão dentro desse contexto cultural; portanto, precisa, em alguma medida, se contextualizar. Porém, se a cultura é fluida e se somos levados a nos reinventar o tempo todo, precisamos tentar responder à seguinte indagação: quem está ganhando a batalha pela mente?

O princípio da encarnação se aplica à igreja e a sua presença no mundo, e a tensão envolve estar na cidade e ao mesmo tempo não ser parte dela. Em outras palavras, a igreja nunca deve se casar com o espírito do seu tempo, embora tenha de conviver com ele. Ela precisa permanecer crítica ao contexto em que está para não comprometer sua vocação profética. As cartas às igrejas em Apocalipse 2 e 3 nos mostram um profundo conhecimento do que acontece na cidade, cultural e politicamente, e do que acontece na igreja em sua relação com essa cidade. A mensagem às igrejas diz respeito a esse relacionamento tenso, que requer correção sempre que a igreja dá sinais de um “casamento” com o espírito do seu tempo, e afirmação sempre que ela permanece fiel ao seu Senhor e ao seu chamado.

Um casamento cultural que ameaça a identidade da igreja hoje envolve, por um lado, a perda da transcendência e, por outro, a revolução tecnológica. Não é difícil notar a transferência da confiança em Deus para a confiança na ciência, na tecnologia e nas organizações pragmáticas. Não que essas coisas sejam, em si mesmas, erradas, o problema está nos deuses em que colocamos nossa confiança. O espírito do nosso tempo vem promovendo resultados pragmáticos eficientes, mas com um sentido frágil e superficial da realidade da presença de Deus e da obra do Espírito Santo. Temos nos tornado mais autoconfiantes do que dependentes de Deus, buscando a auto-realização e não a glorificação de Deus. Vivemos de forma tão pragmática e racional de segunda a sexta-feira que, quando chegamos à igreja no domingo, nossa estrutura mental torna o culto uma extensão da cultura que vivemos. Talvez uma evidência dessa mudança seja a necessidade crescente de criar igrejas eficientes, em vez de buscar um evangelho vivo e poderoso. Muitas pessoas são atraídas para a igreja mais pela estrutura funcional que ela cria do que pelo poder do evangelho de Jesus Cristo.

No livro do Apocalipse, João tem a visão de um trono e um Rei entronizado. Essa visão constitui o centro da revelação. Ao redor do trono ele vê 24 anciãos. Não são jovens audaciosos, mas idosos que carregam a memória da história. Numa cultura pragmática e tecnológica, é comum ignorar os “anciãos” e perder a memória que nos dá a identidade de povo de Deus. O trono reúne em torno de si aqueles que têm sido guiados por Deus através dos séculos. É uma visão bem apropriada para os nossos dias porque os anciãos preservam a história – são aqueles que sonham – e os jovens são alimentados pela visão do que Deus está fazendo e fará. Isso nos ajuda a discernir a época em que vivemos e como podemos seguir a Cristo sem perder a identidade e a vocação. Os anciãos abrem as portas para os mais novos e estes seguem as pegadas dos que já caminharam e chegaram ao seu destino.

O povo de Deus é enviado para o mundo, participa da dinâmica social e cultural de suas cidades, usa os recursos que a ciência e a tecnologia disponibilizam e procura usar tudo o que é lícito para promover o evangelho de Jesus e a glória de Deus. Porém, embora a igreja faça parte da dinâmica social e cultural de sua cidade, sabemos que é a presença de Cristo, pelo poder do Espírito Santo e da Palavra, que dá identidade à igreja. Ela é estabelecida pela revelação de Jesus Cristo e sustentada por ele. Diante das transformações rápidas e fluidas da civilização, a boa nova para a igreja é que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13.8). Ele é a pedra angular, o princípio e o fim, o alfa e o ômega. Tudo o que a igreja é e será repousa nele, ele é antes de todas as coisas e nele tudo subsiste. 

A segurança e a liberdade que temos para estar no mundo e atuar no contexto de nossas cidades e culturas, usando os recursos de que dispomos para proclamar o evangelho de Cristo, é a certeza de que estamos ancorados naquele que permanece sendo o mesmo ontem, hoje e eternamente.

Fonte: https://www.ultimato.com.br/conteudo/o-mesmo-hoje-o-mesmo-sempre
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