February 16, 2007

Descalço diante de meus irmãos

Descalço diante dos meus irmãos:
1) Quando a Palavra fala “ame o seu próximo como a si mesmo” (Mt 22: 39) é para deixarmos de usar os outros como objetos. Porque um relacionamento se dá entre pessoas e não entre objetos. Baruch Spinoza afirmava que o amor é o valor que dá medida às pessoas. Se você não ama, o outro não existe porque ele não representa nada.

2) Outro erro comum é o conhecimento dissociado da ação (Pv 3: 27; Tg 4: 17). Saber e não fazer, é o mesmo que não saber. Na Bíblia, a palavra conhecer envolve relacionamento; você sabe tanto da vida do outro que se torna um com ele. O conhecimento precisa gerar compaixão, senão se é estéril.

3) É interessante perceber que muitas pessoas confundem familiaridade com intimidade. Nas redes sociais, as pessoas medem sua popularidade pelo número de amigos que têm. É triste perceber que embora vivamos numa sociedade rica, somos emocionalmente pobres. Pais não se relacionam com os filhos, cônjuges não abrem seus corações, irmãos ferem uns aos outros.

4) O casamento deixou de ser aliança para se tornar contrato. Pessoas só continuam casadas se o outro cumpre aquilo que foi acordado anteriormente. Esquecemos que o casamento é a pequena igreja dentro da igreja. Todo dia você ama, todo dia você perdoa. É um contínuo sacramento de amor e perdão. Quanto maior o amor, maior o sofrimento porque onde está a sua dor, está a sua vida. Casamento não é um caso de amor. Casamento é um compromisso com aquilo que você é.

5) O sexo casual mostra a falta de comprometimento. Buscamos prazer, não enxergamos o outro como parte de nós e negamos construir algo juntos.

Eugene Peterson afirma que sexo e espiritualidade cristã estão intrinsecamente ligados, já que se relacionam com dois elementos básicos: intimidade e êxtase.

Tudo criado por Deus (inclusive a sexualidade) é um meio de nos conduzir a uma troca pessoal de graça. Não devemos ter medo e sim, sermos ousados em nossa relação com Deus.

Este mundo não é um bom amante da graça. Buscar intimidade em qualquer nível, seja com Deus ou com as pessoas, não é uma aventura na qual se pode contar com o apoio de muita gente.

Intimidade não serve para fazer negócios. É ineficiente e não tem glamour. Se o amor a Deus puder ser reduzido a um ritual de uma hora de culto, se o amor ao outro puder se limitar a uma relação sexual, então as rotinas se tornam simples o mundo pode funcionar eficientemente.

A junção de duas pessoas criadas como seres únicos não é instintiva e automática como a cópula de animais. Sexo não é um meio de reproduzir a espécie; é uma face do conhecer. Onde existe o conhecer, existia antes aquilo que não é conhecido, regiões de ignorância e mistério tanto no corpo como no espírito. Atingir a intimidade não é nenhuma conquista fácil. Implica em dor.

A intimidade tanto no amor quanto na fé é cheia de tensões. Quando a realização demora, o desejo se torna amargo. Entre apaixonar-se e consumar este amor, entre a promessa e o cumprimento, é tarefa da perseverança e da oração paciente manter o amor ardente e a fé zelosa.

Na busca, há anseio e procura. O querer não é despropositado e a procura não é errante: existe direção e objetivo. Os momentos difíceis e dolorosos de desejo não satisfeito fazem parte da natureza das relações de intimidade.

Mas se persistirmos em oração, aprenderemos a amar e sermos amados, constantemente e eternamente em Jesus.

Na oração leva-se a sério as relações que mais importam. Na oração não se discute sobre os desejos porque eles são expressados a Deus. Na oração as dificuldades não são analisadas e estudadas, elas são trabalhadas com Deus.

Intimidade não é conquistada com terapia ou relações públicas (embora sejam facilitadoras), mas lidando pessoalmente com aqueles que realmente contam na oração: Criador e criatura.

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