May 18, 2011

Decidida a não decidir

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- Barbara Gancia

Minha cabeça roda e meu estômago treme quando relembro a sensação de entrar pela porta da Harrods em Londres. O andar térreo onde estão perfumes e cosméticos é tão amplo, as escolhas são tantas que você fica perdido e simplesmente não consegue enfrentar. Saí sem comprar nada, passei pelas vitrines que comemoravam William e Kate e segui sem rumo por Knightsbridge como quem tivesse tomado um caldo na piscina.

Sinto que minha carreira de consumidora está com os dias contados, não consigo mais enfrentar maratonas. Trocaria as compras de mês no Extra por um mês em Guantánamo. Dá para perceber que o problema não é só da Harrods, mas do tipo de escolha que somos intimados a fazer todo o tempo.

No livro "O Paradoxo da Escolha", o psicólogo americano Barry Schwartz oferece explicação para esse comportamento: "Uma vasta gama de opções pode desencorajar o consumidor, que é obrigado a se empenhar mais na hora de escolher. Assim, consumidores decidem não decidir e vão para casa sem produto". Devo ter trombado no sr. Schwartz antes da fase "teetotaler". Como me conhece tão bem, sem que eu me lembre dele?

Outro que está ficando meu íntimo é o economista Fred Hirsch, que usa a expressão "tirania das pequenas decisões" para descrever o comportamento que nos faz andar de loja em loja comparando preços. Outro dia tentei comprar um capacete. Acabei descobrindo tantos que deu nó na cuca. Fiquei sem. "Nossa cultura santifica a liberdade de escolha", diz Schwartz. "Mas alternativas demais podem causar problemas."

É mais fácil a gente marcar para se encontrar na Tate Gallery ou em algum café da King's Road, pode ser?

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/915406-decidida-a-nao-decidir.shtml
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