March 10, 2012

À toa na vida

Baseado na Parábola dos Talentos
Mateus 25.14-28

Jesus Cristo era sabatinado por seus discípulos às portas de sua despedida-crucificação-até breve-retorno. O tema era seu retorno. Mas os discípulos queriam chegar ao fim da história e se ocuparam dos tópicos a respeito do Fim do Mundo. Queremos saber quando tudo vai acabar. Como vai acabar? Quando as Nações serão julgadas? Como serão julgadas? Enfim, eles queriam mais saber das realidades que estão sob controle Onipontente de Deus, misteriosas e incognicíveis ao limitado entendimento humano. Eles estavam ocupados do sobrenatural.

Então Jesus chama sua atenção para a vida, para a história de cada um, contando uma metáfora que utilizava recursos de dinheiro investido em banco pelos empregados de um patrão poderoso. Dois deles investiram os valores recebidos que ao final da tarefa haviam multiplicado, enquanto um outro, por medo de arriscar, enterrou o que recebera e devolveu do mesmo jeito. O empregado medroso perdeu o que havia recebido e foi reprovado pelo patrão, enquanto os outros dois foram elogiados e receberam mais.

Partindo do contexto e da conversa, creio que Jesus estava alertando os discípulos de que não era necessário e prudente contar com realidades sobrenaturais e misteriosas na lida com a vida. Esperar pelo imponderável, contar com o que não existe, jogar na responsabilidade de Deus, das cartas, da Lua, de outras vidas a única vida que recebemos, é como enterrar talentos [os valores que cada empregado deveria administrar] e esperar chegar o patrão [a vida que cobrará de cada um o que foi feito com o que recebeu, segundo Salomão em Eclesiastes 12].

Ocupar-se do além, do amanhã, do desconhecido, é ficar deitado em casa esperando o emprego cair do céu, é viver a angústia paranóica das suposições ao invés da conversa madura e franca, é guardar rancor por anos, décadas, é conviver com o silêncio e a “solidão a dois” dos relacionamentos sem liga, é postergar pra daqui a pouco ações e sofrer com as intenções frustradas. Enfim, é ficar esperando que algo sobrenatural aconteça, à toa, vendo a vida passar.

A fé sadia é a que mexe nas águas da existência, é a que levanta uma pessoa de seu ostracismo existencial e a faz viver, com o que recebeu na vida, a fim de multiplicar sua história e chegar ao final da vida tendo vivido tudo o que podia, sem medo.

Fé não é principalmente o que faz operar o sobrenatural em nosso favor, mas é o que opera a nós mesmos em nosso favor, em favor da vida, de tudo.

© 2006 Alexandre Robles

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