July 03, 2012

Ideias são como sementes

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- Eduardo Pedreira Rosa

Ideias são como sementes. Se lançadas no solo da nossa mente, são acolhidas, desenvolvem-se, criam raízes. Há ideias frágeis; sementes sem força, tocam nossa superfície mental, mas não se aprofundam. Com estas, não precisamos nos ocupar, uma vez que não nos afetam. Existe, porém, outra classe de ideias. São aquelas cuja força de penetração é maravilhosamente assustadora. Alojam-se dentro de nós de maneira tão forte e se enraízam em regiões tão profundas do nosso ser que nada parece ter o poder de removê-las. Os anos passam, as experiências se multiplicam, os cenários mudam – mas, aquelas ideias parecem permanecer para sempre.

Ideias são como sementes. Existem as de boa qualidade e as essencialmente danificadas. Não podemos evitar que nossa mente seja exposta a ideias-sementes ruins, mas somos potencialmente capazes de selecionar aquelas que valem a pena serem acolhidas. É verdade que nem sempre nosso discernimento está afiado o suficiente para fazer este juízo; daí, pensamos que acolhemos em nós uma boa ideia que, com o passar do tempo, descobrimos se tratar de ervas daninhas. E vice-versa.

Ideias são como sementes. Elas modelam o nosso comportamento. Assim como uma árvore é o resultado de uma semente, nossa maneira de agir é a consequência natural do conjunto de ideias que formam nosso pensamento e nossa visão de mundo. Alterações na nossa maneira de agir podem decorrer das circunstâncias e de adaptações para sobrevivermos a determinados ambientes. Contudo, este não é um caminho sobremodo excelente. As melhores mudanças de comportamento não são as acontecidas sob a pressão do meio, mas as resultantes de pensamentos a partir de um novo ângulo, de uma inusitada percepção, de uma nova descoberta.

Ideias são como sementes. Seu poder está na invisibilidade. Debaixo da terra, elas germinam para produzir plantas e flores que mudarão toda uma paisagem. Assim são as ideias. Nós pensamos e nos comportamos através delas, mas não as vemos; são invisíveis, e por isso mesmo, poderosíssimas em nossa vida.

Ideias são como sementes. Não podem ser apenas de um tipo. É a pluralidade das sementes que garante a variedade dos frutos. Suas diferenças são a garantia de uma colheita capaz de alimentar muitos. Mentes presas a um só tipo de ideia são como campos de uma só semente. Semeadores limitados e pensadores incapazes de se abrir à pluralidade têm como resultado fundamentalismo, obscurantismo, conservadorismo, radicalismo, fanatismo. Não é sem razão que existem hoje críticos vorazes de tudo quanto se pareça novo (ainda que o considerado “novo” seja apenas a busca por resgatar heranças do passado). Há nos dias de hoje, por exemplo, rica literatura de espiritualidade publicada no Brasil, fruto da maravilhosa pluralidade da nossa tradição espiritual cristã. São livros e autores compartilhando novas-antigas sementes que já começam a receber o veneno de “teólogos” comprometidos em ter apenas um só campo, com uma só semente, excluindo pela via da análise de gabinete quaisquer outras que lhes pareçam uma ameaça à “sã doutrina”.

Ainda bem que ideias são como sementes – elas não morrem simplesmente pela ação tóxica daqueles que esquecem que somos todos semeadores, e não donos do campo! Gostaria de fazer um convite a todos os leitores deste espaço a que, neste ano, nos acompanhem numa fascinante história de oito ideias que foram capazes de influenciar a visão, modelar comportamentos e marcar durante séculos homens e mulheres de Deus. Ao longo das próximas colunas, vamos nos deter em cada uma delas.

Nosso objetivo é tentar resgatar e atualizar preciosas ideias capazes de nos ajudar em nossa busca por Deus. Não, elas não são em nada novas. Sua força não está na inovação, mas sim, no seu poder de penetração, na sua boa qualidade, na invisibilidade, na variedade. Sementes do passado produziram maravilhosos frutos e fartas colheitas – e podem fazer o mesmo por nós hoje. Quero, pois, compartilhar ideias que têm me ajudado a chegar mais perto do Senhor, de mim mesmo e do meu próximo. Faço isso apenas por trazer comigo nos últimos anos a voz de Jesus, que um dia disse, ao contar uma de suas, no dizer de Eugene Petterson, subversivas parábolas: “E o semeador saiu a semear.”

Desejo semear algumas ideias na esperança de que sejam acolhidas em solo fértil, a fim de produzir vistosos frutos para a glória daquele que é o Senhor de todos os campos e autor de toda boa semente. Aguardo por você na próxima coluna para um encontro com a primeira dessas ideias.

Fonte: http://cristianismohoje.com.br/interna.php?subcanal=53&id_conteudo=737
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