May 25, 2013

Da indiferença à intimidade

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Baseado em Ap 3. 14-22
Ziel Machado

Vivemos dias de intensa superficialidade.

A velocidade frenética de nossos dias afeta nossas relações pessoais e nossa percepção da realidade, deixando-nos reféns de uma avalanche de informações que mal temos tempo de processar. Boa parte do que faz sucesso é puramente descartável, ainda assim, o novo, é a grande atração.

Uma das grandes tragédias da superficialidade é que ela é inimiga mortal da intimidade e para nós, os saudosistas (ou teimosos), fica a pergunta: será ainda possível, nos dias atuais, experimentar relações significativas, desenvolver amizades de alma, sentir-se tocado por alguém?

As pressões de nossa sociedade autosuficiente e arrogante estão determinando a agenda de nossas vidas de tal forma que até nossa relação com Deus tem se tornado superficial. Por isso, para uma época como esta, as cartas dirigidas às sete igrejas de Apocalipse têm muito a nos dizer.

A cidade de Laodicéia

Situada na província romana da Ásia, a cidade, foi fundada por Antíoco II no século III a.C, que usou o nome de sua esposa (Laodice), como inspiração para o nome Laodicéia. Esta localização estratégica fez com que se tornasse um importante centro comercial, extraordinariamente próspero. O Evangelho deve ter chegado muito cedo a Laodicéia.

Provavelmente na época em que Paulo esteve em Éfeso (At 19.10) e possivelmente por meio de Epafras (Cl 4.12-13). A igreja foi acusada de ser tão inútil como a cidade, que se considerava autosuficiente. Alguns estudos indicam que os membros da igreja de Laodicéia faziam parte da elite da cidade e que, esta convivência e a atitude diante da riqueza, foram fatais para esta igreja.

A base da autoridade

Um dos problemas básicos é que, alguns pensam que o simples fato de citar a Bíblia torna determinado ensino, bíblico; o que não é verdade. Um pequeno exemplo são as palavras de Satanás que estão registradas na Escritura, mas ainda não vi ninguém (Deus nos livre!), baseado nelas ensinando a doutrina de "Saltos do Templo", etc.

O fato é que, a cada dia, menos tempo é dedicado ao estudo (com a obediência resultante) da Palavra e, em algumas expressões de culto (individual e coletivo), está se perdendo a santa expectativa por ouvir a voz de Deus por meio de Sua Palavra. Que futuro temos como Igreja se perdemos esta expectativa por ouvir o que o Espírito tem a nos dizer?

O diagnóstico

Uma vez aclarada a autoridade de quem fala, o Senhor apresenta um diagnóstico que revela Seu conhecimento da situação. Através de uma metáfora com o sistema de abastecimento de águas da cidade (sua água era morna e os viajantes a rejeitavam, pois essa água só era útil a quem desejasse vomitar, devido ao mal-estar que causava), o Senhor apresenta a situação da igreja local. "Tu és morna e portanto estou a ponto de vomitar-te".

Que enérgica advertência!

O Senhor não discorre sobre as obras da igreja de Laodicéia, mas de uma maneira direta mostra Sua total reprovação às mesmas.

Percepções em conflito

Temos aqui percepções em total conflito. Uma coisa é o que "você diz" e outra é o que a "testemunha fiel e verdadeira" diz.

Essa autoimagem equivocada demonstra outros equívocos como, por exemplo, seus critérios de avaliação, seus planejamentos futuros e sua própria base de segurança.

Você diz:
a) Estou rico: evidência de sucesso
b) Adquiri riqueza: confiança quanto ao caminho trilhado
c) Não preciso de nada: autosuficiência

A igreja, aqui, expressa a mesma atitude de soberba que a cidade possuía. De alguma forma os critérios pelos quais a igreja se auto-avaliava eram semelhantes aos que os cidadãos julgavam sua cidade.

Entretanto o Senhor a mirou com outros olhos e encontrou algo bem diferente, "não reconheces que és: miserável (digno de compaixão), pobre, cego, nu"?

O novo eixo

Jacques Ellul, considera que esta carta tem uma nota distintiva, a saber: a esperança. As palavras dirigidas a ela são muito fortes, e diferentemente das demais cartas, sem nenhuma nota positiva ou elogio.

Entretanto, o sentido de tão dura advertência é produzir restauração. Mesmo para uma igreja como essa o Senhor tem palavra que produz vida.

1. Cristo: o novo ponto de partida ( v. 18 )

Se a forma de se avaliar, anteriormente, baseava-se num padrão de soberba e autosuficiência o Senhor, agora, propõe um novo eixo, um novo critério, que passa pelo arrependimento - como ação concreta capaz de eliminar o eixo antigo - e coloca, no lugar, a relação com o Senhor.

2. Cristo: a verdadeira riqueza (Mt 6. 19-20; Lc 12.21)

Uma vez mais o Senhor utiliza uma metáfora com os produtos mais destacados de Laodicéia para assegurar que, o que provêm dEle, é infinitamente superior ao que aquela igreja conhecia e, portanto, marcado pela qualidade de "verdadeiro".

3. Cristo: fonte de esperança (v. 19)

A indiferença característica da igreja de Laodicéia não encontrava equivalência no Senhor desta igreja. Para uma igreja indiferente, um Senhor que se importa. Ele ama esta igreja e por isso disciplina (Hb 12.6). A uma igreja equivocada e perdida em sua própria cegueira, Ele chama ao arrependimento - o arrependimento que torna possível a relação com Deus.

4. Cristo: o convite para intimidade (v.20)

Segundo Ladd, o contexto deste versículo é de arrependimento enquanto que, nas passagens citadas, o foco está em Cristo reunindo Seu povo em torno das bençãos do Reino messiânico.

5. Cristo: a testemunha fiel e verdadeira que venceu

A carta a igreja de Laodiciéia começa apresentando o Senhor Jesus como alguém fiel e digno de confiança e conclui, como as demais cartas, reforçando a realidade de Sua vitória.

Considerações Finais

Refletindo sobre o momento histórico em que vivemos podemos nos perguntar sobre o quão conscientes estamos deste processo de influência a que estamos sujeitos, e quão permeáveis estamos ao mesmo.

Podemos fazer uma avaliação nos perguntando sobre o tipo de conceito de "sucesso" que temos, ou sobre a origem de onde nossa postura de auto-suficiência.

Conceitos como estes ficam evidentes pela forma como lidamos com a fraqueza de nossos irmãos, que estão ao nosso redor, sofrendo todo tipo de privações.

Para uma sociedade estéril, indiferente e perdida dentro de uma busca desesperada por algo que satisfaça, aqui está o convite do Senhor que oferece o desfrutarmos de Sua intimidade. Para aqueles de nós que ansiamos por algo mais do que "bençãos" o Senhor nos convida a sermos íntimos com Ele.

Existirá algo mais tremendo do que desfrutarmos da intimidade do Senhor? Para sociedades e igrejas indiferentes o Senhor oferece a Si mesmo; Aquele que tem a palavra final e verdadeira.

Fonte: http://www.lideranca.org/cgi-bin/index.cgi?action=viewnews&id=339
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