As expectativas
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- Clarissa Correa
- Clarissa Correa
Teve
um dia que eu decidi não esperar mais nada de ninguém. É que uma hora
cansa, entende? Chega um ponto em que a gente simplesmente para de
acreditar. Nas pessoas e nas coisas.
Não é uma visão
pessimista ou uma postura derrotista. É que os choques de realidade nos
sacodem feito vento forte. As coisas são como são (tem coisa mais lógica
que essa?). O problema é que a gente esquece como as coisas são de
verdade. A memória traiçoeira e sem vergonha nos mostra só o lado bom.
A gente esquece os tropeços, percalços, defeitos, lágrimas em vão
madrugada afora. Fica com a parte boa, quase adocicada.
É que nem uma relação: você namora um cara que não te valoriza, só te puxa pra baixo, te destrata, não te dá o que você merece. Você sofre, chora, quase sufoca. Um dia resolve dar um chega pra lá, um sai fora nele. Passa uma semana e você pensa nossa, que saudade daquele cheiro. Que saudade dele e de tudo que ele me fazia sentir. A parte ruim você nem lembra. A memória nos engana a toda hora. A memória é a nossa parte mais louca.
Só que tem uma hora que cansa acordar com o rímel borrado e olheiras sambando no meio da cara. Chega um ponto em que a gente simplesmente entende que esperar muito faz doer muito.
Bom seria não esperar nada de ninguém. Contar apenas com a gente mesmo. Com nossa força e fraqueza. Com nosso poder e nossas limitações. Mas somos gente. Sentimos, ora bolas. Sentimos muito (!!!). E automaticamente pensamos: se eu posso o outro também pode. Se eu consigo me colocar no lugar dele é claro que ele também consegue se colocar no meu.
A gente esquece que talvez o outro não queira (por falta de tempo, noção, vontade ou até mesmo humildade) se colocar no nosso lugar. A gente esquece que ele pode ser mais individualista (e não há nada de errado nisso) ou um pouco egoísta demais (vejo muito de errado nisso). É claro que é importante a preocupação com o eu. Mas é fundamental pensar no nós. Ninguém vive sozinho. A gente precisa de amigos, familiares, colegas, amores.
Teve um dia em que eu
decidi não pensar em mais nada. Sou da tribo que gosta de se doar. Mesmo
que doa. E tenho sim, expectativas (quem não tem?). Não posso
lutar contra isso. Não posso lutar contra um lado meu. Resolvi me
aceitar. É claro que sei que não adianta pensar que o outro devia tomar
as atitudes que eu tomaria. É frustração na certa. E, confesso, me
frustro um pouco com isso. Por esperar do outro.
Mas sou assim. Não quero mudar meu jeito de olhar o mundo, de sentir as coisas. Não, eu não quero sofrer. Mas também não quero ficar me protegendo o tempo inteiro e, com isso, acabar não vivendo.
Mas sou assim. Não quero mudar meu jeito de olhar o mundo, de sentir as coisas. Não, eu não quero sofrer. Mas também não quero ficar me protegendo o tempo inteiro e, com isso, acabar não vivendo.
Não adianta viver com um mapa na mão. A melhor coisa é se perder e ir tentando encontrar o caminho certo. Pode dar mais trabalho, mas com certeza é muito mais divertido e rende uma quantidade absurda de histórias para contar.
Fonte: http://revistatpm.uol.com.br/blogs/confusoeseconfissoes/2011/08/24/as-expectativas.html
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