Humildade
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- Ricardo Barbosa
Assisti ao filme "Meu nome não é Johnny", a história da triste trajetória de João Guilherme Estrela, jovem de classe média alta, preso por tráfico de drogas nos anos 90. O filme chega numa hora em que a sociedade acompanha, assustada, o crescimento do tráfico e do consumo de drogas entre jovens que freqüentam boas faculdades, criados em famílias com recursos financeiros e em ambientes sociais aparentemente protegidos do submundo do crime.
A pergunta que todos se fazem, diante de um drama assim, é a mesma: o que leva um jovem que, aparentemente tem tudo, a chegar onde João Estrela chegou?
Bem, certamente existem muitas respostas, teses e opiniões a respeito, mas, fica uma pergunta que tem me levado a refletir nestes últimos dias:
Quão verdadeiros somos?
Parece-me que a sociedade, particularmente a juventude, enfrenta uma enorme resistência a tudo aquilo que é normal. A normalidade que, no passado era o que todos desejavam, não agrada mais ao ser humano.
Uma festa normal em que amigos se encontram para conversar, ouvir boa música e se divertir não satisfaz mais; os jovens precisam de uma rave que comece na sexta à noite e termine no domingo, com música eletrônica ininterrupta e ensurdecedora, muito ecstasy e álcool. Ter um namorado ou namorada para conversar, sair, construir uma boa amizade e crescer afetivamente pensando na família que possivelmente irão formar, também não é o bastante; é preciso ficar com o maior número de parceiros possível, beijar e transar com todos. Ter um emprego com salário no fim do mês para pagar as contas e, quem sabe, sobrar algum trocado para o lazer não é suficiente; é preciso ganhar muito dinheiro, não importa sua origem, para comprar tudo que desejamos.
A lista poderia prosseguir, mas o que tenho observado é que a normalidade não satisfaz mais.
No meio evangélico, o cenário não difere muito. Não basta louvar a Deus com cânticos, leitura bíblica e orações; precisamos de um “louvor extravagante” (esta foi a expressão que ouvi), repetir a mesma música até entrar em algum transe. Não basta ser alegre e grato, é preciso pular e gritar freneticamente. Não basta crer em Deus e em suas promessas, precisamos decretar, reivindicar, exigir. Uma fé normal, ou uma vida cristã normal, não é mais suficiente.
Quando o normal não atende mais às necessidades, a realidade torna-se insuportável. Um culto normal, um casamento normal com família normal e sexo normal, um namoro normal, um lazer normal ou um trabalho normal são insuportáveis.
A própria normalidade da existência humana, com suas fases, emoções, ciclos e estações, acaba tornando-se intolerável.
Um dia de 24 horas ou o envelhecimento são inaceitáveis. Criamos então uma indústria voltada para alimentar a anormalidade: os "sex-shops" com toda a parafernália para “incrementar” sua vida sexual, as diversas “terapias” incentivando a experimentar todas as novidades, plásticas, drogas, propagandas e o estímulo para comprar e fazer tudo o que dá prazer.
Perdemos o contato com a realidade e, para viver esta hiper-realidade, precisamos negar a Deus, nossa humanidade limitada e mortal, o próximo e tudo mais.
O chamado de Cristo para segui-lo é um chamado para ser real, ou um chamado à humildade.
Ser humilde é reconhecer e aceitar a realidade como ela é.
É aceitar Deus como Ele é, aceitar a nós como somos e aceitar o mundo como ele é.
Esta capacidade de reconhecer a realidade nos liberta das armadilhas e artifícios que a ilusão ou a falsa realidade criam.
“Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará” — é assim que Tiago inverte o caminho da humanidade.
A liberdade e dignidade humanas dependem da sua postura humilde diante de Deus, de si mesmo e do próximo.
A humildade é o caminho de volta à realidade e à normalidade.
Como diria meu amigo Carlos Queiroz no título de seu livro sobre o Sermão do Monte, para o humilde de espírito “ser é o bastante”.
Não precisamos de drogas, nem de sexo selvagem, nem de muito dinheiro ou frenesi.
Precisamos apenas ser humildes, que encontraremos a verdadeira alegria.
Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/311/quao-verdadeiros-somos
- Ricardo Barbosa
Assisti ao filme "Meu nome não é Johnny", a história da triste trajetória de João Guilherme Estrela, jovem de classe média alta, preso por tráfico de drogas nos anos 90. O filme chega numa hora em que a sociedade acompanha, assustada, o crescimento do tráfico e do consumo de drogas entre jovens que freqüentam boas faculdades, criados em famílias com recursos financeiros e em ambientes sociais aparentemente protegidos do submundo do crime.
A pergunta que todos se fazem, diante de um drama assim, é a mesma: o que leva um jovem que, aparentemente tem tudo, a chegar onde João Estrela chegou?
Bem, certamente existem muitas respostas, teses e opiniões a respeito, mas, fica uma pergunta que tem me levado a refletir nestes últimos dias:
Quão verdadeiros somos?
Parece-me que a sociedade, particularmente a juventude, enfrenta uma enorme resistência a tudo aquilo que é normal. A normalidade que, no passado era o que todos desejavam, não agrada mais ao ser humano.
Uma festa normal em que amigos se encontram para conversar, ouvir boa música e se divertir não satisfaz mais; os jovens precisam de uma rave que comece na sexta à noite e termine no domingo, com música eletrônica ininterrupta e ensurdecedora, muito ecstasy e álcool. Ter um namorado ou namorada para conversar, sair, construir uma boa amizade e crescer afetivamente pensando na família que possivelmente irão formar, também não é o bastante; é preciso ficar com o maior número de parceiros possível, beijar e transar com todos. Ter um emprego com salário no fim do mês para pagar as contas e, quem sabe, sobrar algum trocado para o lazer não é suficiente; é preciso ganhar muito dinheiro, não importa sua origem, para comprar tudo que desejamos.
A lista poderia prosseguir, mas o que tenho observado é que a normalidade não satisfaz mais.
No meio evangélico, o cenário não difere muito. Não basta louvar a Deus com cânticos, leitura bíblica e orações; precisamos de um “louvor extravagante” (esta foi a expressão que ouvi), repetir a mesma música até entrar em algum transe. Não basta ser alegre e grato, é preciso pular e gritar freneticamente. Não basta crer em Deus e em suas promessas, precisamos decretar, reivindicar, exigir. Uma fé normal, ou uma vida cristã normal, não é mais suficiente.
Quando o normal não atende mais às necessidades, a realidade torna-se insuportável. Um culto normal, um casamento normal com família normal e sexo normal, um namoro normal, um lazer normal ou um trabalho normal são insuportáveis.
A própria normalidade da existência humana, com suas fases, emoções, ciclos e estações, acaba tornando-se intolerável.
Um dia de 24 horas ou o envelhecimento são inaceitáveis. Criamos então uma indústria voltada para alimentar a anormalidade: os "sex-shops" com toda a parafernália para “incrementar” sua vida sexual, as diversas “terapias” incentivando a experimentar todas as novidades, plásticas, drogas, propagandas e o estímulo para comprar e fazer tudo o que dá prazer.
Perdemos o contato com a realidade e, para viver esta hiper-realidade, precisamos negar a Deus, nossa humanidade limitada e mortal, o próximo e tudo mais.
O chamado de Cristo para segui-lo é um chamado para ser real, ou um chamado à humildade.
Ser humilde é reconhecer e aceitar a realidade como ela é.
É aceitar Deus como Ele é, aceitar a nós como somos e aceitar o mundo como ele é.
Esta capacidade de reconhecer a realidade nos liberta das armadilhas e artifícios que a ilusão ou a falsa realidade criam.
“Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará” — é assim que Tiago inverte o caminho da humanidade.
A liberdade e dignidade humanas dependem da sua postura humilde diante de Deus, de si mesmo e do próximo.
A humildade é o caminho de volta à realidade e à normalidade.
Como diria meu amigo Carlos Queiroz no título de seu livro sobre o Sermão do Monte, para o humilde de espírito “ser é o bastante”.
Não precisamos de drogas, nem de sexo selvagem, nem de muito dinheiro ou frenesi.
Precisamos apenas ser humildes, que encontraremos a verdadeira alegria.
Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/311/quao-verdadeiros-somos
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