May 31, 2015

As tentações de Cristo

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Chérie,

Jesus não foi tentado dentro do templo ou em seu batismo, mas no deserto onde se sentia cansado, só e faminto - quando estava mais vulnerável. O diabo frequentemente nos tenta nessas condições quando estamos sob forte tensão física ou emocional (solitários, cansados, ponderando grandes decisões ou em dúvida). Mas ele também nos tenta em nossos pontos fortes. 

As tentações tiveram como foco três áreas cruciais: (1) física representada pela necessidade de comer, satisfazer o desejo de saciar a fome. (2) emocional representada pela necessidade de segurança e (3) psicológica representada pelo orgulho – Satanás estava tentando encobrir a visão de Jesus para que apenas enxergasse o poder terreno e não o plano de Deus. 

Jesus estava fraco e com fome após jejuar por 40 dias. Ele escolheu não usar seu poder divino para satisfazer seu desejo natural por comida. 

Comer quando está faminto é bom, mas era no momento errado porque Ele estava no deserto para jejuar, não para fazer uma refeição. Nós também podemos ser tentados a satisfazer um desejo perfeitamente normal de maneira errada ou no momento errado. Muitos desejos foram dados por Deus, mas Ele quer que satisfaçamos de modo correto e no momento certo. 

Satanás havia memorizado as Escrituras, mas falhara em obedecê-las. Conhecer e obedecer a Palavra nos ajuda a fazer a vontade de Deus e, quando entendemos a Palavra como um todo, conseguimos reconhecer os erros de interpretação nas situações quando alguém usa fora do contexto torcendo o significado. 

Segue outro ponto de vista sobre a mesma passagem. 

Abs, 

KT
  1. A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.
  2. E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome.
  3. Então, o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.
  4. Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.
  5. Então, o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo
  6. e lhe disse: Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.
  7. Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.
  8. Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles
  9. e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.
  10. Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto.
  11. Com isto, o deixou o diabo, e eis que vieram anjos e o serviram.
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A primeira tentação de Jesus era ser independente: “transformar pedras em pão”. Sentir-se irrelevante é uma realidade muito comum na experiência de muitos indivíduos de nossa sociedade, embora aparentem autoconfiança. A preparação seja moral, intelectual ou para dar respostas às questões polêmicas de nosso tempo não subsistirá sem obediência e relacionamento íntimo com Deus. E a disciplina da oração e a leitura da Palavra são instrumentos para ouvir Sua voz de amor e encontrar sabedoria e coragem para tratar quaisquer questões que apareçam.

A segunda tentação à qual Jesus foi exposto foi a tentação de fazer algo espetacular, algo que pudesse render elogios, aplausos e reconhecimento. A predominância do individualismo e o desejo de ser uma estrela ou um herói individual tão comum à nossa sociedade não é estranho também ao ambiente da igreja. A vida de Jesus não foi uma missão heroica, mas um ministério de humildade. E ministrar, ao contrário do que se pensa, é uma experiência coletiva e mútua. Jesus não espera especialistas que conheçam os problemas de seus clientes para ‘resolver’, mas líderes que se abram para um profundo relacionamento pessoal, confessando a própria fragilidade e sendo humildes para pedir perdão.

A terceira tentação de Jesus foi a “tentação do poder”. O diabo promete “todos os reinos do mundo e a sua glória”. A tentação do poder é umas das maiores ironias da história porque Jesus, não se apegando aos seus direitos divinos, se esvaziou e morreu por nós em amor. O poder é atraente, pois é um substituto fácil para a difícil tarefa de amar. É mais “ser Deus” do que amar a Deus. Muitos na história foram tentados a escolher o poder em lugar do amor, a tornar-se líder ao invés de ser liderado, e a controlar ao invés de aceitar a cruz e seguir a Cristo.

Ser relevante, ser popular e ter poder são tentações e não parte de nossa vocação, e Jesus nos convida com Seu próprio exemplo a trocar a relevância por uma vida de oração e dependência do Pai; a nossa empolgação com a popularidade por um ministério humilde e recíproco; e a busca pelo poder por uma consciência dos rumos para os quais Deus está guiando tanto a nós quanto o seu povo.

Fonte: NOUWEN, Henri J. M. O Perfil do Líder Cristão do Século XXI. São Paulo: Atos, 2002. (resenha: http://pastores.wordpress.com/para-voce-baixar)

May 29, 2015

Como reciclar o lixo da alma?

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- Marcos Botelho

Onde você recicla seu lixo?

Não, não estou falando do físico, e sim o da alma.

A agitação da grande cidade, a rotina exaustiva, as pequenas brigas com pessoas que amamos, o sistema religioso impiedoso, a mídia que ganha audiência com desgraças e o seus pecados geram muito lixo na sua alma.

Você pode criar um lixão lá e tentar esquecer que todo esse lixo existe, mas sempre o cheiro vai incomodar.
Precisamos ter amigos e mentores que ajudem a reciclar esse lixo da alma. Pessoas especiais que ouvem seu desabafo, acolhem com amor e te ajudam a reciclar com conselhos de sabedoria.

O reciclar nunca acontece naturalmente, começa com a conscientização e depois com a intenção clara de encontrar esse mentor. Não espere um mentor cair do céu!

Se o sábio der ouvidos, aumentará seu conhecimento, e quem tem discernimento obterá orientação. Pv 1:5 (NVI)

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/marcosbotelho/2015/07/10/reciclando-o-lixo-da-alma/

May 24, 2015

Paulo e a liberdade cristã

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- pr. Dionatan Cardoso 

Texto básico: Romanos 14.1-15.13
Texto devocional: 1Coríntios 10.23-33
Versículo-chave: 1Coríntios 10.23

“Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam”

Objetivo
 
Ao estudar esta lição, você se conscientizará da existência dos fortes e dos fracos na fé e será desafiado a viver em harmonia com todos os irmãos.


Leia a Bíblia diariamente

Seg    Jo 8.36
Ter    1Co 6.12-20 
Qua   1Co 8.1-13  
Qui    1Co 9.1-27  
Sex    2Co 5.14-15  
Sáb    Gl 5.1  
Dom  Gl 5.13-15

Objetivo 
  • Saber: conscientizar-se da existência de fortes e fracos pertencentes à mesma fé;
  • Sentir: amar quem, apesar de ter a mesma fé, percebe de maneiras diferentes algumas questões não fundamentais;
  • Agir: conviver em harmonia com o irmão que pensa diferente, mas que também foi lavado pelo sangue de Cristo.
Apóstolo Paulo desfrutou com autoridade a liberdade cristã. Sua maturidade espiritual revela completa emancipação de inibições e tabus religiosos sem ferir nenhum princípio bíblico. Não sendo conivente com qualquer padrão antibíblico, Paulo se adaptava aos mais diversos ambientes com a finalidade de apresentar Cristo (1Co 9.22), porém, sabia que muitos cristãos não eram completamente emancipados como ele. Por isso, na carta aos Romanos, exigiu que os “fracos” fossem tratados com cuidado, paciência e sabedoria pelos mais “fortes”.

I. Os fracos e os fortes

Romanos 14.1-15.13 tem seu foco voltado para dois grupos da comunidade cristã em Roma, identificados por Paulo como “os fracos” e “os fortes”.

1. Os fracos

A palavra grega para “fraco” é astheneo que indica “fraqueza, indigência, impotência, falta de força por variados motivos”. No NT, a palavra foi usada cerca de quarenta vezes para designar doentes físicos. 

Dessa forma, não é exagero dizer que Paulo apontava para um tipo de “fé enferma”. Em paralelo com a ideia da liberdade cristã, John Stott afirma: “o que falta ao fraco não é força de vontade, mas liberdade de consciência” (A Mensagem de Romanos, p.429).

Quem eram os fracos? 

John Stott propõe quatro possibilidades:


  1. Ex-idólatras. Eram recém-convertidos do paganismo; grupo semelhante ao mencionado por Paulo em 1Coríntios 8; indivíduos que mesmo resgatados da idolatria, por escrúpulo (hesitação da consciência), sentiam-se impedidos de comer carne que, antes de ser vendida em açougue local, era dedicada a ídolos.
  2. Ascetas. Pessoas que exercitavam a disciplina do autocontrole do corpo considerando que isso era algo imprescindível para chegar a Deus. Havia ascetas presentes na igreja em Roma, o que explica por que se abstinham do vinho e da carne (Rm 14.21).
  3. Legalistas. Consideravam as abstenções como boas obras necessárias para a salvação. Não entendiam a suficiência da fé em Cristo para a justificação do homem.
  4. Cristãos judeus. A possibilidade mais satisfatória entre os estudiosos. Eram os que permaneciam com a consciência voltada para as regras do judaísmo, especialmente referente a dietas (comer apenas alimentos considerados limpos – Rm 14.14,20) e dias religiosos (guarda dos sábados e festivais judaicos).

 2. Os fortes

A palavra grega para “forte” é dynatos, e significa “alma forte, capaz de suportar calamidades com coragem e paciência, firmes nas virtudes cristãs”. Indica um cristão maduro na fé e no trato com o próximo. Qualifica a pessoa de natureza contrária à dos fracos.

Romanos para hoje
 
O cenário da igreja de nossos dias revela certa similaridade com a igreja em Roma. Existem fracos e fortes na fé. Precisamos orar constantemente pedindo que Deus dê sabedoria aos líderes locais a fim de que saibam lidar com essas pessoas.


II. Sete princípios de liberdade cristã (Rm 14.1-23)


1. Nem todos possuem a mesma fé (Rm 14.1-2)

A Bíblia registra pelo menos quatro graus de fé: nenhuma fé (Mc 4.35-41), pequena fé (Mt 14.22-33), grande fé (Mt 15.21-28) e inigualável fé (Mt 8.5-15). Há pessoas que se encaixam nesses grupos, portanto, nem todas possuem a mesma fé. A unidade da igreja em Roma estava ameaçada porque os cristãos maduros conflitavam com os cristãos imaturos. Enquanto um grupo entendia bem a amplitude da liberdade cristã pela fé em Jesus, o outro estava com a consciência perturbada e não sabia exatamente o que fazer e o que não fazer.

Sabendo que os cristãos maduros entenderiam melhor esse conflito, Paulo direciona a eles dois conselhos práticos em relação aos mais imaturos: 
  1. "Acolhei ao que é débil [fraco] na fé”. Aceitem genuinamente e de boa vontade os imaturos na fé. Recebam-nos amorosamente em seu círculo de amigos íntimos.
  2. "… não, porém, para discutir opiniões”. Não discutam assuntos controvertidos. Não entrem em conflitos de consciência pessoal.

2. O cristão não deve ser juiz de seu irmão (Rm 14.3-4,7-12)

Não foi a única vez que Paulo escreveu condenando formas de julgamento humano. 

Em 1Coríntios, ele diz: “A mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano; nem eu tampouco julgo a mim mesmo… quem me julga é o Senhor. Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor” (1Co 4.3-5). O texto parece ecoar as palavras de Jesus: “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7.1).

O apelo fundamental do apóstolo é que não devemos julgar irmãos que discordam de nós. O fraco deve ser aceito entre os cristãos como parte da igreja. Ao explicar esse apelo, Paulo mostra que a razão da aceitação mútua é que Deus aceitou os dois grupos (Rm 14.2-3). A questão não está entre crer ou não crer, mas entre ter ou não maturidade na fé. 

John MacArthur resume esse pensamento ao dizer: “O cristão forte come o que lhe agrada e agradece ao Senhor. O irmão fraco come de acordo com a sua dieta cerimonial e agradece ao Senhor por ele ter feito um sacrifício em seu favor. Em ambos os casos, o cristão agradece ao Senhor, assim a motivação é a mesma para o Senhor. 

Seja fraco ou forte, a motivação por trás das decisões de um cristão sobre os assuntos referentes à consciência deve ser agradar ao Senhor” (Bíblia de Estudo MacArthur, p.1519).

3. Cada pessoa tem as próprias convicções (Rm 14.5-6)

Se antes o apóstolo usou o alimento para exemplificar a liberdade cristã, agora ele reforça o ensino usando o exemplo da diferença entre dias: “um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias” (Rm 14.5). 

O cristão judeu fraco na fé ainda se preocupava em guardar o sábado, e dias especiais associados à lei e aos costumes judaicos (Gl 4.8-10). O cristão gentio fraco na fé buscava completo distanciamento de qualquer dia ou festividade associada ao paganismo. Já o cristão maduro não era afetado por nenhuma dessas preocupações.

Na sequência, Paulo argumenta: “cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente” (Rm 14.5). “Paulo não está incentivando um comportamento irresponsável. Tampouco está se mostrando favorável a tradições irrefletidas. Mas, partindo do pressuposto de que cada um deles (o fraco e o forte) tenha refletido na questão e chegado a uma firme conclusão, ele os faz ver que a sua prática deve ser parte integrante do discipulado cristão.

‘Aquele que considera um dia como especial, assim o faz para o Senhor’ (Rm 14.6). Ou seja, ‘para honrar o Senhor’ (BLH), com a intenção de agradar a Ele e honrá-lo (‘para adorar ao Senhor’, NTV)” (A Mensagem aos Romanos, p.437).

4. O cristão não deve ser tropeço para ninguém (Rm 14.13,15-16,21)

Nesses versos, o apóstolo exorta o fraco a não criticar o forte, e chama a atenção do forte para deixar de apontar defeitos no fraco. 

Os dois grupos não deveriam colocar qualquer tipo de obstáculo para causar tropeço no caminho de seus irmãos. Paulo ensina que a liberdade cristã não pode ser usada para prejudicar o irmão.

É necessário aplicar o amor no exercício da liberdade. Por exemplo: o esposo tem direito e liberdade de dormir com a janela do quarto aberta, para passar a noite sentindo a brisa da madrugada. Mas se isso importuna a esposa ou lhe faz mal, ele deve abrir mão do privilégio em benefício do conforto e da segurança dela. 

Nem uma de nossas ações pessoais vale mais do que o bem-estar do povo de Deus. Dessa forma, devemos procurar o que realmente contribui para a edificação dos irmãos em vez de permanecer obstinados em nossos direitos.

5. Que é o reino de Deus? (Rm 14.17-20)

“Se a primeira verdade teológica que suporta o apelo de Paulo para que os fortes se controlem é a cruz de Cristo, a segunda é o reino de Deus, isto é, o domínio gracioso de Deus através de Cristo e pelo Espírito na vida do seu povo, proporcionando-lhes uma livre salvação e exigindo uma obediência radical” (A Mensagem aos Romanos, p.443).

Assim, vamos contribuir para a paz e a edificação mútua. A igreja não deve ser edificada isoladamente, mas sua construção precisa acontecer em conjunto. Igreja é um edifício espiritual que necessita ser bem planejado, em que cada um tenha seu lugar e desenvolva seu dom (Ef 4; 1Co 12). 

Não podemos permitir que questões pessoais afetem a obra de Deus. Algo que é bom para nós pode ser um obstáculo aos outros. O reino de Deus exige unidade.

6. A pureza ou a impureza estão na consciência (Rm 14.14,22)

Paulo não está levando em consideração o padrão absoluto de Deus em relação à postura do crente. Nesse caso, a consciência não seria levada em conta, e sim a própria conduta. No texto, o apóstolo deixa claro que o fazer, por si só, e o não fazer é a mesma coisa perante Deus. 

O apóstolo tinha convicção de que todas as coisas foram criadas por Deus, e tudo que foi criado é bom. Assim, os alimentos e as bebidas que estão sendo discutidos na igreja de Roma são bons porque foi Deus quem os fez. No entanto, nem todos interpretavam a questão, ou ainda o fazem, sob essa perspectiva. Para a pessoa que considera algum alimento ou bebida algo impuro, sua consciência aponta um pecado do qual não quer participar, por isso Paulo diz que ela não deve comer ou beber tal coisa.

Devemos ter certeza de que nossa consciência está limpa diante de Deus. Também precisamos lembrar que não podemos fazer nada que cause a queda de um irmão. Nesse caso, o que é bom para nós pode levar outros ao pecado. Então, o nosso bem se torna mal para ele (1Co 8.10-11). Tal alternativa motivou Paulo a concluir que não devemos fazer nada que sirva de tropeço ao nosso irmão (Rm 14.21;1Co 8.13).

7. A fé é algo pessoal (Rm 14.23)

O apóstolo conclui o capítulo 14 fazendo distinção entre crer e agir, entre falar uma coisa e fazer outra. Warren Wiersbe, citado por Hernandes D. Lopes, diz que “nenhum cristão pode ‘tomar emprestadas’ as convicções de outro para ter uma vida cristã honesta” (Romanos – o evangelho segundo Paulo, p.457). 

O crente que não tem certeza de que está fazendo a coisa certa, mas o faz, se condena em seu ato. Isso porque sua ação não está em harmonia com sua convicção interior, ou seja, com sua fé. Tudo o que não é feito em harmonia com a convicção de que está de acordo com a Bíblia é pecado, embora, por si só, possa ser uma ação correta.

Romanos para hoje
 
Ao mesmo tempo em que a igreja é uma unidade, ela também se reveste da diversidade. Isso implica necessidade de relacionamento maduro entre pessoas com ideias e convicções distintas. Como você tem tratado o irmão fraco da sua igreja? Como tem se relacionado com o irmão mais forte de sua igreja?


III. Cristo é o supremo exemplo de respeito ao próximo (Rm 15.1-13)


1. Cristo não agradou a Si mesmo (Rm 15.3-4)

Cristo não Se entregou para ser crucificado com a finalidade de agradar a Si mesmo, mas de agradar ao Pai. Submeteu-Se à vontade de Deus suportando toda humilhação e dor na cruz em favor dos homens (Sl 69.9).

“É como dizer que, para simbolizar sua recusa de agradar a si mesmo, Cristo identificou-se tão completamente com o nome, a vontade, a causa e a glória do Pai que os insultos que seriam dirigidos a Deus caíram sobre ele” (A Mensagem aos Romanos, p.449). 

Se Cristo é o exemplo, a Bíblia é o manual. Precisamos viver segundo o exemplo de Jesus, buscando conhecimento nas Escrituras.

2. Cristo acolheu também os gentios (Rm 15.7-12)

As diferenças entre irmãos são resolvidas quando agimos como Cristo, ou seja, não agradando a nós mesmos, mas acolhendo o próximo. “Paulo dá uma ordem, apresenta um modelo e estabelece uma motivação: devemos acolher uns aos outros, da mesma forma que Cristo nos acolheu, fazendo isso para glória de Deus. 

Se o exemplo de Cristo é nosso modelo, a glória de Deus é a nossa motivação” (Romanos – o evangelho segundo Paulo, p.460).

3. Suportem os fracos e vivam em paz (Rm 15.1-2,5-6,13)

Paulo impõe mais uma obrigação sobre os fortes em relação aos fracos, incluindo ele, Paulo, como um forte. O apóstolo exorta os fortes a participarem das lutas dos fracos; viver a experiência de identificação com o sofrimento do irmão (Gl 6.2;1Ts 5.14). 

Suportar e carregar os fardos de nossos irmãos é produto de uma profunda intimidade com Cristo, que fez o mesmo em nosso favor (Mt 11.28-30). 

Dessa forma, Deus nos encherá de gozo e paz, assim seremos “ricos de esperança no poder do Espírito Santo” (Rm 15.13).

Romanos para hoje
 
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2.5).


Conclusão

Concluímos citando mais uma vez John Stott: “Quando se trata de questões fundamentais, portanto, a fé é primordial, e ninguém pode apelar para o amor como uma desculpa para negar a essência da fé. 

Quanto às questões fundamentais, contudo, o amor é que é primordial, e não se pode apelar para o zelo pela fé como uma desculpa para fracassar no amor. 

A fé instrui a nossa própria consciência; o amor limita o exercício dessa liberdade” (A Mensagem aos Romanos, p. 454).

Estudo publicado originalmente pela Editora Cristã Evangélica
Usado com permissão.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/paulo-e-a-liberdade-crista-2/

May 20, 2015

Uma comunidade de pecadores transformados por Jesus

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Não importa se é homem ou mulher; não importa se é branco, negro ou amarelo; não importa se é criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso; não importa se é rico, pobre ou miserável; não importa se é pós-doutor ou um analfabeto; não importa se foi desigrejado ou desviado; não importa se é de origem judaica, muçulmana, budista, espírita ou cristã; não importa se é um notável santo ou um notável pecador; não importa se foi um ateu confesso ou um ferrenho agnóstico.

O que importa mesmo é que o congregado seja um pecador de fato convertido pela adesão a Jesus, como Salvador e Senhor.

Os três Evangelhos Sinóticos registram a palavra explícita de Jesus dirigida aos que desejam ser seus seguidores: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24; Mc 8.34; Lc 9.23).

Eugene Peterson traduz assim: “Quem quiser seguir-me tem de aceitar minha liderança. Quem está na garupa não pega na rédea. Eu estou no comando”.

O pecador que abraça o evangelho é um pecador convertido e é transportado das trevas para a luz, da inconsistência da areia para a solidez da rocha, da mentira para a verdade, da dúvida para a certeza, do nariz empinado para os joelhos dobrados, da morte para a vida.

1. A igreja congrega pecadores convertidos antes do Pentecostes, graças às pregações de João Batista e de Jesus. O precursor de Jesus e o próprio pregavam a mesma mensagem: “Arrependam-se dos seus pecados porque o Reino de Deus está perto” (Mt 3.2; 4.17). Entre esses estão pessoas que eram de bom comportamento, como Nicodemos, e pessoas que eram de péssimo comportamento, como a mulher pecadora e o ladrão que se converteu no último instante de vida. O fato é que, às vésperas do Pentecostes, no dia da eleição do substituto de Judas, “estavam presentes mais ou menos cento e vinte seguidores de Jesus” (At 1.15), além daqueles que não residiam em Jerusalém.

2. A igreja congrega pecadores convertidos no dia da descida do Espírito Santo, graças aos estranhos fenômenos ocorridos (At 2.1-13) e à pregação de Pedro (At 2.14-40). O apóstolo repetiu a fórmula exortativa e precisa de João Batista e Jesus: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para que os seus pecados sejam perdoados, e vocês receberão de Deus o Espírito Santo” (At 2.38). Lucas registra que “naquele dia quase três mil se juntaram ao grupo dos seguidores de Jesus” (At 2.41). Entre os que creram, havia judeus de nascimento e não judeus convertidos ao judaísmo, “vindos de todas as nações do mundo”, de três continentes (África, Ásia e Europa).

3. A igreja congrega pecadores convertidos depois do Pentecostes, graças às pregações dos apóstolos e dos missionários, como Filipe, Paulo, Barnabé, João Marcos, Timóteo e Silas. Eles continuaram a enfatizar o arrependimento (At 3.19; 17.30; 20.21; 26.20). Em trinta anos de missões, milhares e milhares de pecadores se converteram e foram agregados à igreja. Muitas dezenas de igrejas locais foram organizadas. 

E o evangelho alcançou os mais importantes centros urbanos do mundo de então e neles se estabeleceu:

- Em Jerusalém, capital do judaísmo, com 80 mil habitantes;
- Em Éfeso, capital da magia, com 300 mil habitantes;
- Em Corinto, capital do gozo, com meio milhão de habitantes;
- Em Atenas, capital do helenismo, com 25 mil habitantes;
- Em Roma, capital do Império, com 1 milhão de habitantes.
- Em todas as igrejas para as quais Paulo escreveu havia pecadores convertidos.

4. A igreja congrega pecadores convertidos ao redor de todo o mundo depois da morte da primeira leva de missionários e até hoje. Em 2010, havia mais de 2,2 bilhões de religiosos que se diziam cristãos (32,8% da população mundial). Mas, é claro, nem todos os cristãos são pecadores convertidos. Uma das razões é porque deixamos de anunciar o arrependimento e a conversão.

5. A igreja congrega pecadores convertidos que deixaram para trás sua conduta anterior. Entre esses estão a mulher adúltera, a mulher pecadora (talvez prostituta), o ladrão da cruz (ele parou de insultar Jesus e começou a repreender o outro ladrão), o escravo Onésimo (antes inútil e depois útil) e alguns irmãos de Corinto, anteriormente imorais, idólatras, adúlteros, homossexuais, efeminados, ladrões, avarentos, alcoólicos, caluniadores e assaltantes (1Co 6.9-11).

6. A igreja congrega pecadores convertidos que deixaram para trás seus fundamentos religiosos anteriores. Alguns deles eram politeístas (como alguns irmãos de Éfeso) e outros eram comprometidos com a feitiçaria (At 19.19). O livro de Atos registra que “era grande o número de sacerdotes judeus que aceitavam a fé cristã” (At 6.7). Registra também que, em Tessalônica, um grande número de pessoas passou pela experiência de duas conversões: do paganismo passaram para o judaísmo e do judaísmo passaram para o cristianismo (At 17.4). No mesmo capítulo, lê-se que “muitos judeus naquela cidade [Bereia] creram” (At 17.12). A princípio, a maior parte dos pecadores convertidos eram “os de perto”, isto é, os judeus e os prosélitos do judaísmo (como o alto funcionário etíope, da corte de Candace, e o centurião romano Cornélio). Depois, bom número eram “os de longe” (Ef 2.17), isto é, os não judeus, também chamados de gentios ou pagãos. De todos os que, digamos, tiveram de mudar de religião, o mais notável é aquele que era membro do mais rigoroso partido do judaísmo (At 26.5), que perseguiu ferozmente a igreja de Deus (1Co 15.9) e que mais fez pela evangelização do mundo. O nome dele é Paulo. Antes da conversão, ele punha a sua confiança na lei e nas cerimônias religiosas. Depois, somente em Jesus (Fp 3.1-11).

Chega-se à conclusão de que a igreja deixa de ser igreja se não for uma comunidade de pecadores convertidos pela adesão a Jesus, como Salvador e Senhor.

Quando isso acontece, a “igreja” vira um clube.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/353/igreja-comunidade-de-pecadores-transformados-por-jesus

May 19, 2015

A graça não abre mão de estar entre os altos e baixos


- Robson Santos Sarmento

‘’Se a vida fosse um sistema previsível, a obra da Cruz não passaria de um enfeite na mesa da história da humanidade.’’

A parábola do semeador narrada por Jesus se constitui numa exposição pra lá de comentada e abordada, seja por cristãos ou por pregadores. Até parece haver a concordância de atentar para os perigos de a palavra ser desperdiçada, quando observamos os versículos 04 a 08 de Mateus 13. Por fim, no versículo 09, encontramos o resultado promissor de as sementes terem sido cultivadas em uma terra boa.

Agora, se pararmos, com certo cuidado, para as pontuações desses versículos, longe de qualquer absurdo, chego a conclusão de que a nossa trajetória, aqui neste mundo, envolve altos e baixo, envolve momentos de frustrações, de perdas não esperadas, de mudanças não projetadas, de alterações repentinas a serem feitas. Em outras palavras, estamos sujeitos a experiências de terras secas, de acidentes no percurso, de pessoas difíceis e de incertezas.

Ah, como seria mais convidativo, fazer os enredos de uma existência sem tensões, sem ambiguidades, sem ambivalências, sem o gosto de amargura, com todas respostas respondidas, sem tantos acidentes pelo caminho. Mesmo assim, a Graça não veio para atender os discursos de uma espiritualidade bela e distante da realidade crua e nua.

Deixo ser mais claro, a realidade com os cenários de gente esquecida nas cisternas da injustiça, como José; de gente estigmatizada pelos preconceitos e pelas discriminações, como a mulher adultera, a mulher sírio – fenícia; de gente sem a oportunidade de recomeçar, segundo a ótica de muitos pela aplicabilidade da justiça punitiva e não restauradora e reconciliadora, caso de Zaqueu; de gente que para muitos não poderia ser merecedora de um perdão que aponta para um futuro de recomeços, como Pedro e tantos outros exemplos.

Ora, porque digo tais palavras?

Simplesmente, a nossa vida terá períodos de terra improdutiva, de superficialidade, de pressão e aflição. Mais do que nunca, aspiramos ser a terra apropriada para frutificar tudo e a todo momento, mas isso nem sempre ocorrerá.

Mesmo assim, a Graça prossegue a estender as mãos para os ajustes e acertos, para o alento, para o animo, para ainda ter a coragem de abrir os olhos, olhar para vida, de ser inundado com a bondade e beleza do Deus que veio para gente, como eu você, se encarnou nas ruas, nas vielas, nos vilarejos, nos centros do poder político, social, econômico e religioso, que ouviu, o quanto pode, a homens e mulheres, a judeus e gentios, a doutos e simples, a incluídos e marginalizados, mostrou e demonstrou o quanto as falanges demoníacas também se encontram nos abismos da vida.

É bem verdade, ultimamente, torna – se difícil creditar em respectivos enfoques, principalmente, porque a ufania triunfalista de uma vida voltada ao bem – estar do meu eu tem sido a tônica, em muitos arraiais evangélicos.

Tristemente, multidões buscam resolver seus problemas e seguem a um Cristo mais parecido com um quebra galho, com um amuleto da sorte, como um escudo diante das potestades e em contrapartida, em meio a tantos testemunhos, tudo ao nosso ao redor segue a rotina do cada um por si e Deus por todos.

Sem sombra de dúvida, vamos enfrentar situações de pedregulhos, de sequidão e a Graça do Senhor continuara a nos oferecer a inovação e a vida.

Eis aqui algo a ser melhor ruminado, no silêncio e estribado na liberdade das boas novas.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/a-graca-nao-abre-mao-de-estar-entre-altos-e-baixos

May 18, 2015

Corrupção

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O dicionário Michaelis nos diz que corrupção é: “Ação ou efeito de corromper; decomposição, putrefação; Depravação, desmoralização, devassidão; Sedução; Suborno”.

Há quem pense que a corrupção seja um fenômeno recente na sociedade ou na Igreja. Cabe lembrar que a corrupção na Igreja existe desde os seus primórdios.

Os evangelistas não tiveram receio de registrar alguns episódios de corrupção no grupo de Jesus. Os evangelhos sinóticos lembram o episódio dos irmãos Zebedeu que pretendiam ocupar os primeiros lugares no grupo dos apóstolos e chegaram até a envolver a mãe na tentativa de corromper Jesus (Mt 20,20-28).

Também os sinóticos registram o caso de Pedro que tenta corromper o Mestre para que ele desista de enfrentar o poder religioso e tente fazer um pacto que não levasse à cruz e à morte (Mc 8,31-33). O próprio Pedro, logo no início da missão de Jesus, tenta corrompê-lo, instigando-o a aproveitar-se bem de sua popularidade para fazer muito sucesso, ganhar fama e, lógico, muito dinheiro (Mc 1,36-39).

O evangelista João deixou registrado o fato de que o "tesoureiro” do grupo de Jesus desviava o dinheiro destinado aos pobres (Jo 12,1-11), "colocando-o na cueca”. E os evangelistas registram que este mesmo tesoureiro deixou-se subornar pelo Sinédrio e recebeu dinheiro para trair Jesus.

Nas primeiras comunidades cristãs também aconteceram casos de corrupção. Conhecemos o famoso episódio de Ananias e Safira que tentaram enganar os apóstolos (At 5,1-12).

Na Samaria, Simão oferece dinheiro aos apóstolos, tentando obter com isso certos poderes (At 8,18-24). Foi desse episódio que nasceu o termo "simonia”, usado depois para indicar a compra de cargos e títulos por parte de eclesiásticos.

Paulo denuncia com veemência o comportamento de lideranças religiosas que pregam "outro evangelho” para "agradar aos homens” (Gl 1,6-10).

Porém, foi na Idade Média que a corrupção na Igreja conheceu o seu auge. Historiadores sérios registram episódios escabrosos como o caso de papas totalmente corruptos, amantes do dinheiro, que viviam em concubinato, tinham filhos e nomeavam seus filhos e parentes adolescentes como cardeais.

A corrupção atravessou os séculos e chegou até nós. Hoje ela está mais disfarçada e só em algumas ocasiões estoura em forma de escândalos.

Há corrupção quando o pastor privilegia as pessoas do seu círculo íntimo e trata com indiferença os demais membros da comunidade. Há corrupção quando o pastor permite que em sua comunidade somente algumas pessoas tenham determinados privilégios. Há corrupção quando o tesoureiro ou diretoria não prestam contas ao povo do dinheiro da comunidade. Há corrupção quando o dinheiro da comunidade é desviado para pagar as contas de familiares do pastor. E os exemplos podem ser multiplicados.

Como posso protestar contra a corrupção, se sou capaz de realizar pequenas infrações diariamente?

Se a corrupção é pequena ou maior, me parece que depende fundamentalmente da oportunidade que se apresenta. Se sou capaz de encontrar uma justificativa para “pequenas corrupções cotidianas”, serei mesmo capaz das grandes corrupções se tiver oportunidade.

Temos, portanto, que combater a corrupção em todos os aspectos sejam eles na sociedade ou na Igreja.

Embora exista a obrigação de analisar cada caso e de cuidar para que não se cometam injustiças e não se alimente as fofocas, não podemos silenciar diante de certas situações.

Estou convencido da atualidade da afirmação de Jesus que disse: "conhecereis a verdade e a verdade fará de vós homens livres” (Jo 8,32).

Não se evangeliza mentindo ou camuflando a realidade, mas admitindo com humildade os erros e os pecados.

A dissimulação e o fingimento são os piores inimigos do anúncio do Evangelho.

O viver fazendo de conta que tudo está bem, que estamos seguindo fielmente a mensagem de Jesus, tentando esconder o óbvio, contradiz o próprio cristianismo (Gl 2,11-15).

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/por-todo-lado

May 17, 2015

Os pães asmos e a importância do autoexame

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- Dario de Araújo Cardoso 

Texto Básico: Êxodo 12.14-20

Leitura Diária
 
D Êx 20.1-17 – O padrão da santidade
S 2Rs 17.7-23 – Corrupção em Israel
T Mc 4.1-20 – As sementes e a boa terra
Q Mt 15.1-20 – O que nos contamina
Q 1Co 5.1-13 – Massa nova e sem fermento
S Ef 4.17–5.21 – A nova vida descrita
S 1Co 15.50-58 – Seremos todos transformados

Introdução

A celebração da Páscoa dava início a outra celebração muito significativa em Israel, a Festa dos Pães Asmos. Nela, por sete dias, o israelita deveria comer pães sem fermento (asmos) e estar preocupado com a presença do fermento em sua casa. 

Aquilo que parece ser uma simples restrição dietética temporária é na verdade uma profunda demonstração do processo de santificação que acompanha a obra da redenção. 

Estudaremos hoje como essa festa ensina acerca dos aspectos divinos e humanos envolvidos em nossa santificação em Cristo.

I. A descrição da festa

A festa começava com a seguinte ordem: “Ao primeiro dia, tirareis o fermento das vossas casas” (Êx 12.15). 

Concomitantemente ao período de separação do cordeiro para o sacrifício pascal, o israelita deveria fazer uma rigorosa inspeção em sua casa, limpando-a e vasculhando-a para eliminar todo o resquício de fermento. Como acontecia com a Páscoa, a Festa dos Pães Asmos começava alguns dias antes do dia indicado para seu início. No fim do dia 14 de abibe (o dia da Páscoa), tudo deveria estar preparado.

Naquela época o fermento era algo bem diferente daquele que temos hoje em nossas casas. O fermento era produzido por meio da mistura de água à farinha de trigo que era deixada ao ar livre, o que, depois de alguns dias, provocava a fermentação. Para acelerar o processo, essa massa levedada era guardada em casa e misturada à massa nova, quando se fosse fazer pão.

Curiosamente, o fermento, ou pelo menos o seu uso para fazer pão, foi uma descoberta dos egípcios. 

Assim, podemos entender que essa festa foi instituída para marcar claramente a saída de Israel do Egito. Israel deveria ser uma nova massa, o fermento do Egito deveria ser deixado para trás.

Ao sair do Egito, Israel precisava preparar pão para viagem, mas não tinha tempo para esperar a fermentação. Vem daí a ordem divina de assar as massas antes que estivessem fermentadas.

A festa durava sete dias, começava e terminava em um sábado, e em cada um deles ocorria uma santa convocação. Ela era constituída de duas ordens, uma positiva e uma negativa. Além de retirar todo o fermento da casa, durante toda a semana Israel deveria comer pães sem fermento.

Há apenas uma menção da realização dessa festa no Antigo Testamento, mas é muito significativa. Quarenta anos depois de sair do Egito, quando Israel atravessou o Jordão e entrou na terra prometida para celebrar a nova vida que estavam iniciando, Josué e o povo celebraram a Festa dos Pães Asmos (Js 5.11).

Nos dias de Jesus, essa festa continuava a ser realizada e se confundia com a celebração da Páscoa, como lemos em Lucas 22.1: “Estava próxima a Festa dos Pães Asmos, chamada Páscoa”. E em Marcos 14.12 encontramos uma descrição de seu primeiro dia.

Os judeus haviam criado uma tradição para marcar a festa, uma espécie de jogo que se chamava Bedikat Ha Metz, a remoção do levedo da casa. 

“Depois da limpeza normal da casa, a mãe deixava de propósito vários pedaços de pão com fermento espalhados pela casa, alguns grandes em lugares óbvios, para as crianças pequenas, e outros em lugares mais difíceis, para os filhos mais velhos. O pai liderava a aventura. Usando uma vela, uma colher de pau, uma pena e um pedaço de linho, a família procurava diligentemente até encontrar todos os pedaços” (Encontrei Jesus numa festa de Israel, J. Sittema, Cultura Cristã).

A dramatização ensinava uma importante lição. O fermento representava a idolatria e a influência do Egito, que deviam ser deixadas para trás, mas ainda estavam presentes na vida dos israelitas e deviam ser cuidadosamente localizadas e eliminadas.

Em Êxodo 19.4-6, o Senhor declarou que tirou Israel do Egito para fazer dele uma nação santa (cf. Sl 114.1-2). Nos Dez Mandamentos vemos como a saída do Egito está ligada a uma vida de compromisso exclusivo com Deus. Por essa mesma razão, Josué teve como missão destruir todos os ídolos que havia em Canaã e todos os seus adoradores (Js 10.40-42). 

Também por ela, os profetas combateram bravamente a idolatria praticada pelos filhos de Israel, até que o povo fosse castigado por sua infidelidade a Deus (2Rs 17.7-23).

II. Acautelai-vos do fermento

A advertência contra o fermento foi renovada por Jesus Cristo a seus discípulos. No entanto, o fermento a que ele se referia era o ensino dos fariseus, dos saduceus e de Herodes (Mc 8.14-15; Mt 16.12). 

Respectivamente, eles eram as pessoas que controlavam o culto, a aplicação da lei e o governo em Israel. Sua autoridade estava corrompida e, assim, eles voltavam a escravizar o povo de Deus.

É fácil perceber as inúmeras formas como a falsa religião e os poderes deste mundo corrompem o verdadeiro relacionamento com Deus. Na parábola do semeador, a terceira semente caiu entre os espinhos que, representando os cuidados deste mundo, a fascinação das riquezas e as demais ambições, sufocam e tornam infrutífera a Palavra de Deus (Mc 4.19).

Devemos estar atentos a tudo o que nesse mundo procura preencher e conduzir a nossa mente, afastando-nos de Cristo. Paulo descreve assim o seu ministério: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofisma se toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co 10.4-5).

São inúmeras as fontes de corrupção dentro de nossas casas. Podemos citar a presença de maus hábitos de família, bem como a ausência de bons hábitos, o que assistimos na televisão, o que vemos no computador, as músicas que ouvimos. 

Somam-se a isso más companhias e amizades que nos corrompem com más conversações (1Co 15.33). Paulo, por exemplo, adverte-nos contra a conversação torpe, as palavras vãs, as chocarrices (as bem conhecidas piadinhas), a linguagem obscena do falar (Ef 5.2-3). Infelizmente, essas coisas têm sido vistas em abundância nas famílias e nas igrejas. 

O fermento da influência do mundo não só está presente, mas também está tomando a direção de muitas vidas.

Além disso, devemos considerar que o fermento corruptor não vem apenas das coisas que nos cercam. Na verdade, seu maior poder está muito mais perto, está dentro de nós, naquilo que a Bíblia chama de coração. Jeremias escreveu: 

“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). Essa descrição foi confirmada por Jesus quando disse: “Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina” (Mt 15.18-20).

Vemos com isso que a purificação pretendida por Deus vai além dos aspectos exteriores. Uma verdadeira limpeza espiritual terá de ir além da limpeza da casa, além do controle de nossos relacionamentos e das influências que nos cercam. 

Uma verdadeira limpeza terá de incluir o nosso coração.

Segundo Sittema: “A instrução para vasculhar nossa ‘casa’, quer inclua os pensamentos, os comportamentos morais, as famílias ou as igrejas, parece uma maneira apropriada de honrar essa festa. Quando fazemos isso, buscamos a santidade e, ao mesmo tempo, salvaguardamos a liberdade da redenção em Cristo, uma redenção caracterizada de modo claro pela ausência de fermento” (J. Sittema).

III. O exame de Cristo

No entanto, é justamente aqui que encontramos nossa maior dificuldade. Logo que começamos a realizar essa faxina espiritual percebemos que não conseguimos identificar todo o pecado que temos em nosso coração (Sl 19.12). E, pior que isso, não conseguimos sequer eliminar o pecado que conseguimos reconhecer (Rm 7.14-24). 

Nosso esforço em busca da purificação, por mais necessário e recomendável que seja, sempre se mostra insuficiente.

Para cumprir os propósitos da Festa dos Pães Asmos precisamos de mais do que nossa boa vontade e esforço. 

Precisamos de Jesus Cristo.

A. Jesus conhece o nosso coração

Nos dias que antecederam sua crucificação, os evangelhos registram Jesus purificando o templo, a casa de Deus, demonstrando sua prerrogativa de vasculhar Jerusalém em busca do velho fermento (cf. Sf 1.12). Marcos nos conta que após entrar triunfalmente em Jerusalém, Jesus foi ao templo e observou tudo (Mc 11.11). No dia seguinte, voltou para o templo e expulsou todos os que ali compravam e vendiam, corrompendo a casa de Deus, tornando-a um covil de salteadores (Mc 11.15-17). Mas além de identificar o fermento no templo, Jesus identificou a corrupção presente no coração dos fariseus (Mt 23.25-28).

No verso seguinte àquele de Jeremias, que fala da corrupção do nosso coração, lemos as seguintes palavras do Senhor: “Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações” (Jr 17.10). Deus é o único que pode sondar e conhecer o coração (Sl 139.23). 

Nada pode se esconder dos olhos de Deus. Sua Palavra é a única capaz de penetrar profundamente o nosso interior e discernir os pensamentos e propósitos do coração (Hb 4.12-13).

Esse atributo divino foi plenamente exercido por Cristo. Ele conhecia o pensamento dos seus inimigos (Mt 9.4; 12.25), os corações dos seus discípulos (Lc 9.47) e a natureza daqueles que estavam ao seu redor (Jo 2.24-25).

Assim, quando buscamos a purificação de nosso coração, encontramos em Jesus alguém absolutamente capaz de identificar todo o pecado que está presente em nosso coração. Então oramos como Davi, pedindo a sondagem de nosso Senhor (Sl 139.23).

B. Jesus se tornou pecado em nosso lugar

No entanto, se Jesus se limitasse a conhecer perfeitamente o nosso coração, só nos causaria o desespero de saber que estamos irremediavelmente condenados pelo nosso pecado. Por isso, Jesus faz mais do que apontar a presença do fermento do pecado em nosso coração. Ele se fez pecado por nós e morreu para nos tornar justos. De modo altamente significativo ele foi sepultado e retirado de entre os homens no início da Festa dos Pães Asmos. Ele se tornou o fermento a ser eliminado. Por isso, Paulo escreveu aos coríntios: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.21). Da mesma forma, Pedro confirma que “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1Pe 3.18).

A morte de Jesus é o único meio pelo qual podemos experimentar a santificação. 

Jesus faz muito mais do que validar nossos esforços para uma vida santa. Com o seu sangue ele nos resgatou do fútil procedimento que nossos pais nos legaram, purificou a nossa alma e nos torna santos em todo o nosso procedimento (1Pe 1.15,18-19, 22).

Desde então, o Novo Testamento associa a morte de Jesus com a nossa santificação, como podemos ver, por exemplo, em Romanos 6.1-14.

IV. A nova massa

Diante da obra purificadora de Jesus Cristo, o chamado bíblico para a nossa santificação adquire um significado muito mais profundo. Sittema escreve que “Jesus não permitirá que inimizemos a profundidade de nossa depravação nem que neguemos a influência fermentadora do pecado sobre nossos relacionamentos. Antes, ele nos conclama a examinar nossa vida de modo minucioso e profundo”.

1Coríntios 5.7-8, tomando por base a Festa dos Pães Asmos, expõe muito claramente nosso desafio como igreja e como crentes: “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade”.

Aqui somos chamados a romper com todos os sinais da velha vida que ainda estão presentes em nós, sejam eles pessoas que vivem de forma impura (1Co 7.9-11), sejam práticas próprias do velho homem (Ef 4.22; Cl 3.9). Hebreus 12.1-2 nos exorta a despojar de todo peso do pecado e a correr olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé. Por isso, o fermento da malícia e da maldade não devem mais contaminar a nossa vida e estragar a festa espiritual que começou com a nossa redenção na cruz de Cristo.

Esse despojamento não é algo que vem de nós. Vem do fato de sermos uma nova massa, sem fermento, em Cristo. Só é possível porque Cristo identificou todo o fermento em nós, tornou-se ele mesmo o fermento a ser eliminado e tornou real o propósito divino de santificar um povo para si.

Há, portanto, três aspectos da santificação. Um que foi realizado por Cristo ao morrer em nosso lugar. Nesse aspecto, somos santos porque fomos purificados pelo único que pode examinar e limpar com perfeição. O outro é o imperativo de vivermos de acordo com os padrões dessa vida santa para a qual fomos chamados em Cristo.

Um último aspecto a observar é a duração da festa. Assim como a Festa dos Pães Asmos, em Israel, que começava e terminava com uma santa convocação e durava uma semana inteira, a Festa dos Pães Asmos, em Cristo, começa com sua obra santificadora na cruz e dura até que sua obra seja completada com a nossa santificação no último dia (1Co 15.50-57).

Conclusão

A Festa dos Pães Asmos tem ensinos necessários a todo o percurso de nossa vida neste mundo corrompido. Ela nos ensina a tomar atitudes claras contra a influência de todas as formas de corrupção dentro e fora de nós e a compreender que a santidade é a principal característica da nova vida. 

Mas também nos lembra de que uma vida de santidade só é possível àqueles que foram examinados e purificados pelo sacrifício de Jesus na cruz. Para estes, o compromisso da santificação é um dever que se aperfeiçoará até nossa transformação final no retorno de Jesus.

Aplicação

Você tem experimentado os efeitos santificadores da redenção? 

Tem assumido o compromisso de uma vida sincera e verdadeira com base na obra de Jesus em seu favor? 

Tem lutado contra as influências malignas do mundo e da carne e as eliminado tanto quanto possível? 

Essa é a descrição de uma vida sem fermento.

Uma vida restaurada para a glória de Deus e seu serviço.

Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã.
Usado com permissão.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/vida-crista/paes-asmos-a-importancia-do-autoexame/

May 16, 2015

Em busca do que se perdeu


- pr. Amauri Munguba Cardoso

Uma mulher possuía dez moedas. Atenta ao andamento de sua casa, um dia deu pela falta de uma das suas preciosas moedas. Determinada, iniciou imediatamente a exploração de todos os cantos e recônditos domésticos. Acendeu a lamparina, afastou os móveis, varreu toda a casa, empreendendo cuidadosa procura. Só sossegou depois de encontrar o que havia perdido. Feliz com o resultado de sua busca, reuniu amigas e vizinhas, dividindo com elas sua imensa alegria. (Cf. Lc 15.8-10.)

Ao ler a parábola da dracma perdida, além de sermos postos diante de um simples acontecimento doméstico, somos discretamente convidados à reflexão sobre aspectos ainda mais importantes da vivência e “com-vivência” familiar.

Uma louvável atitude feminina

Não podemos negar. Realmente há fartas provas de que existe uma qualidade que é mais presente no feminino que no masculino. São as mulheres que percebem primeiro a falta de algo na família. Demonstram mais atenção ao andamento da casa e à qualidade da vida familiar. Por isso são elas que se movem primeiro em busca de soluções para os problemas e do suprimento das necessidades. A maioria das mulheres se antecipa aos maridos no acompanhamento da vida e das necessidades dos filhos. Igualmente, não hesitam em procurar ajuda de pastores e conselheiros. Parecem estar sempre interessadas em ampliar o bem-estar da família.

O que pode ser perdido dentro de casa

Na parábola de Jesus, a moeda perdida era uma dracma, antiga moeda de prata. Embora pequenina, era de grande valor para uma família de poucos recursos. Talvez representasse o suficiente para alimentar uma família por um ou dois dias. Seu desaparecimento faria muita falta. Isto torna compreensível o esforço empreendido pela mulher que a procurava.

Naturalmente, há recursos de ordem física que são essenciais, como moradia, alimentação e saúde, que, quando não existentes, comprometem tanto a dignidade como a sobrevivência da família. Existem, contudo, recursos de outras categorias, que, quando desaparecem, mesmo em famílias socialmente bem supridas, provocam carências profundas. Algumas perdas podem afetar substancialmente a qualidade de vida de uma família.

Por exemplo, a perda do interesse e da atenção pelo outro, que tornam a convivência familiar agradável e nutritiva para seus integrantes, é sempre comprometedora. A perda do carinho e do toque, capazes de transmitir acolhimento e de confirmar o valor de cada um, abala a autoestima pessoal, especialmente dos mais frágeis.

Quando se perde o prazer pela presença e companhia do outro, a convivência familiar deixa de ser uma agradável possibilidade para tornar-se um peso. Perdidos a lembrança e o temor de Deus, a mais preciosa fonte de recursos para a vida dos indivíduos e da família é obstruída.

Quando, por falta de cuidado, perde-se o companheirismo, vai-se o que poderia estreitar os vínculos e consolar a alma. O diálogo, que misteriosamente transforma as divergências em novos e mais plenos entendimentos, quando perdido, deixa distâncias e barreiras intransponíveis no caminho da compreensão.

Até mesmo o respeito pode ser perdido. Quando isto acontece, a dignidade do outro é posta em risco, degenerando a relação em abusos, geralmente seguidos de um triste acúmulo de sofrimentos.

Mas o que se deve fazer diante da perda de algo precioso na vida familiar? As providências tomadas pela mulher da parábola são exemplos bastante úteis.

Procurar o que foi perdido

As pessoas têm uma capacidade surpreendente de se acomodar de forma gradativa a situações desfavoráveis na vida. Alguns perdem completamente a noção do prejuízo que estão amargando, aceitando com resignação amargas condições de existência. As perdas diluídas em suaves prestações diárias podem ser contabilizadas em proporções inimagináveis, depois de alguns anos. Há aqueles que minimizam suas perdas, dizendo: “é assim mesmo, isto acontece com todas as famílias”. Com esta atitude, rebaixam suas expectativas e não se dispõem a lutar para transformar sua condição.

Mas a personagem da parábola não se conformou com a perda de sua moeda. Embora tivesse outras nove, queria preservar tudo o que possuía. É preciso que nós também não nos acomodemos ao que é menor, mais pobre e mais vazio do que aquilo que pede o coração. Fomos destinados a “comer o melhor desta terra”, e não as migalhas. O tempo de busca começa imediatamente depois dos primeiros sinais da falta, senão os riscos da acomodação se ampliam.

Empreender uma busca diligente

Não basta olhar por cima e apressadamente. Só uma atenção detida e interessada pode ajudar a localizar o que se perdeu, que muitas vezes está escondido onde menos se espera. A protagonista de nossa parábola revirou a casa, varreu todos os seus cantos, ciente de que ali era o lugar onde deveria empreender sua busca.

Muitos dos recursos que se perdem podem ser localizados, se a busca for minuciosa e corajosa. Isto implica, por exemplo, consultar e ouvir todos os membros da família. Um cônjuge deve se dispor a ouvir e acolher humildemente as observações do outro. Os filhos devem ser convocados a dizer exatamente o que vêem, percebem e sentem, do lugar em que estão. A soma das contribuições individuais torna a empreitada coletiva mais próxima do sucesso.

Há pessoas que se apressam a buscar fora o que perderam dentro de casa. É preciso resistir à tentação de partir à procura de alternativas compensatórias no mundo de fora, quando a vida no ambiente familiar torna-se difícil. Muitos que por esta via se enveredam prendem-se em armadilhas que mais roubam do que dão satisfação.

Entretanto, esgotados os recursos internos, é sábio pedir ajuda a um conselheiro familiar experiente, leigo ou profissional, a fim de entender melhor a situação e atuar de maneira mais eficiente no complexo universo das relações familiares.

Acender a candeia

A mulher da parábola cuidou de acender uma candeia para aprimorar sua busca. Sem luz ficaria difícil localizar a pequena moeda. De modo semelhante, a localização dos conteúdos perdidos na convivência familiar requer esclarecimento.

Há fatos relacionais que permanecem velados, até serem iluminados com as informações e conhecimentos necessários. O acender a candeia pode ser a utilização de um novo recurso para a compreensão, como literatura específica ou a experiência de outros. Reconhecer os limites e partir em busca de novos recursos é sinal de grandeza. O crescimento resulta desse interesse e é alcançado pelos humildes como uma recompensa. É para os que admitem a falta de algo e, quando se vêem doentes, não se envergonham de buscar a cura.

A chama esclarecedora pode vir também de dentro, mediante a iluminação espiritual, aquecida pela oração. O Espírito Santo é, além de fiel companheiro Parákletos), incansável guia dos que o buscam para encontrar novas verdades. Algumas questões decisivas da vida familiar só podem ser vistas, reconhecidas e transformadas sob a luz da submissão à Palavra de Deus e aos propósitos divinos.

Celebrar

Nossa parábola termina em festa. Depois da aflição pela perda e do trabalho de busca é chegado o momento de celebração. A mulher reúne as amigas e vizinhas para dividir sua alegria e expressar a gratidão pelo sucesso de sua tarefa, pois o que estava perdido foi encontrado e a dor da falta foi substituída pela satisfação da conquista.

Celebrar é uma atitude que fortalece a experiência e sela a conquista, mas que ainda tem permanecido como um desafio para as famílias. Freqüentemente o negativo — na forma de queixas e críticas — ocupa mais espaço que o positivo. Facilmente as conquistas podem desaparecer diante das faltas e as lamentações são contabilizadas com muito mais rigor. Isso nos lembra o que aconteceu com o primeiro casal, no Éden, quando a única árvore que lhe era proibida tornou-se mais importante e atraente que milhares de outras, inteiramente permitidas.

Sem o olhar de gratidão, as imperfeições do outro serão sempre maiores que suas conquistas e o que ainda falta será sempre mais importante do que tudo que já se tem.

Há muito o que celebrar no cotidiano familiar, basta ter olhos para ver. Pequenas e grandes conquistas enfileiram-se diariamente diante da família. É importante voltar a atenção para esta dimensão esquecida em meio a tantos empreendimentos ao mesmo tempo exigentes e desafiadores.

A celebração pode trazer refrigério e tornar menos árida e mais encantadora a convivência que já pode ser experimentada.

O conselho de Jesus é: “Buscai e achareis”.

Vale a pena empreender uma busca quando se tem a promessa do resultado positivo. A Palavra de Deus assegura que Ele mantém seus olhos atentos sobre todas as famílias da terra (Gn 12,3; Ef 3.14).

Deus se interessa inegavelmente pelo sucesso daquilo que planejou e quer preservar, por isso continua torcendo e agindo em favor disso. Considerando essa garantia, importa buscar o que porventura tenha se perdido ao longo do caminho e permanecer aberto aos novos e preciosos recursos que ainda não foram experimentados.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/265/em-busca-do-que-se-perdeu

May 15, 2015

O séquito do homem secularizado


Solidão, vazio, temor, culpa, falta de paz, de amor, de felicidade e 
de sentido na vida

O secularismo não é um problema recente. Na época de Paulo já circulava o ditado: “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos” (1Co 15.32).

Em outras palavras, se Cristo não ressuscitou e não há nenhum alicerce confiável, deixemos de lado o espiritualismo e ingressemos no secularismo (não dediquemos tempo para Deus) e no materialismo (não dediquemos espaço para Deus).

Porém, não há como negar que no mundo pós-guerra e, principalmente, na Europa, o secularismo tomou asas e voou mais alto.

Esse problema de ordem religiosa foi cuidadosamente estudado no 1o. Congresso Internacional de Evangelização Mundial, realizado exatamente na Europa, menos de 30 anos depois do final da 2a. Grande Guerra, de 16 a 25 de julho de 1974.

Por ter se reunido em Lausanne, na Suíça Francesa, não muito longe de Genebra, o congresso é mais conhecido como Lausanne I. Desse encontro que reuniu 2.700 líderes evangélicos de 150 países, saíram alguns documentos.

Um deles chama-se “O Evangelho e o Homem Secularizado”, lançado no Brasil pela ABU Editora.

É desse livro que transcrevemos algumas ideias a respeito do tema.

“A cultura moderna substituiu Deus como base do comportamento, das decisões e dos valores morais. Deus e seu povo passam a ser irrelevantes para a vida moderna”.

O secularista clássico quer comer, beber e alegrar-se. Para ele “a vida há de ser gozada aqui e agora, pois isso é tudo que há, tudo o que existe. Talvez ele vá um pouco além e dispense Deus e a religião, procurando zelosamente provar a irrelevância de Deus na vida humana e moral”.

“As pessoas secularizadas podem parecer ‘religiosas’ em muitas coisas que fazem, mas elas têm seus próprios deuses como o dinheiro, o sexo, o materialismo, o sucesso, o poder, o ser aceito socialmente ou sua própria filosofia. 

Considerando que tais deuses são de fabricação humana e não passam de símbolos externos, sua fidelidade ou dependência a eles pode mudar, ao passo que, o tempo todo, permanece a sua fidelidade fundamental a si próprio. 

Mudando seus símbolos ou revisando seus objetivos, ele tenta evitar a confrontação com a impotência de seus deuses e com sua própria falência pessoal sem Deus”.

Secularismo é “um sistema que rejeita todas as formas de fé ou culto religioso e só aceita os fatos e influências derivados da vida presente”. Secularização, por outro lado, “é essencialmente um processo que ocorreu e se acha hoje largamente difundido no mundo ocidental”.

“As necessidades que o homem secularizado sente (solidão, vazio, temor, culpa, falta de sentido na vida e busca de paz, amor e felicidade) só serão satisfeitas quando ele tiver seu encontro com Jesus Cristo e comprometer-se pessoalmente com ele”.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/337/o-sequito-do-homem-secularizado

May 14, 2015

Não quero perder a paciência, nem com os outros nem comigo mesmo

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A partir de hoje, com a ajuda de Deus, não quero perder a paciência facilmente. Farei um esforço enorme para comportar-me dessa maneira. Sei que, por causa de mim mesmo e dos outros, não será fácil. Devido à falta de amor, autocontrole, respeito, tempo, misericórdia e até mesmo educação, tenho cometido a asneira de perder a paciência, tratando mal os outros e prejudicando a minha saúde, o meu humor, a minha consciência e o meu relacionamento com Deus.

De fato, há pessoas com as quais é difícil ter paciência. São pessoas incômodas, insistentes, incorrigíveis, intransigentes, maçantes, aborrecíveis. Lidar com elas pode ser uma tarefa árdua, um sacrifício. Porém, é meu dever como cristão. A falta de paciência custa mais caro do que a paciência em si. Não há como escapar da paciência. O servo do Senhor, diz a Bíblia, não deve andar brigando, mas deve tratar a todos com educação, bondade e paciência (2Tm 2.24). Não há virtude alguma em não perder a paciência com pessoas que não nos induzem à impaciência. Está registrado no mais bem escrito poema de amor que “quem ama é paciente e bondoso” (1Co 13.4, NTLH).

Não posso perder a paciência nem com as pessoas, nem com outras situações. É preciso tê-la diante do infortúnio, do imprevisto, do sofrimento, da doença, das limitações, da terminalidade, do período de espera de algum acontecimento etc. Nesse sentido e nessa área ninguém foi mais paciente do que Jó: o homem que perdeu tudo de uma só vez -- riqueza, filhos, saúde e status (Tg 5.11).

O que deve me encorajar na prática da paciência é a paciência que uma boa parte dos meus familiares e amigos têm comigo. Eles também gastam energia para me tratar com paciência. A paciência é uma bem-aventurada troca entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre colegas de trabalho, entre irmãos na fé e entre amigos. Só assim será mantida a paz doméstica, a paz na igreja, a paz no trabalho, a paz na sociedade.

Tomarei, também, todo cuidado para não perder a paciência comigo mesmo. Não vai adiantar eu perder a paciência quando voltar a errar, quando me parecer intragável, quando me sentir hipócrita, quando enxergar todo o meu histórico negativo ou quando tomar conhecimento do meu déficit moral. Eu me perdoarei em Cristo e me darei outra oportunidade. Se eu não me portar assim, posso acabar dando um tiro no ouvido.

Jamais devo me esquecer da paciência de Deus para com os pecadores e para comigo. Ele sempre é “compassivo e misericordioso, muito paciente, rico em amor e em fidelidade” (Sl 86.15). É por isso que eu posso chegar diante dele e fazer a oração do publicano: “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador” (Lc 18.13). Porém, depois de ser beneficiado pela paciência de Deus, obrigo-me a ser paciente com todos os meus credores, de acordo com a parábola do servo impiedoso (Mt 18.21-35).

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/329/nao-quero-perder-a-paciencia-nem-com-os-outros-nem-comigo-mesmo

May 13, 2015

"Nunca se esqueçam de Deus"

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- Ricardo Barbosa de Sousa

O romancista e historiador russo Alexandr Solzhenitsyn (1918-2008), Nobel de Literatura em 1970, recebeu em 1983 o prêmio da Fundação Templeton em Londres. Seu discurso, para um público ilustre da sociedade britânica, teve como título: “Nunca se esqueçam de Deus”. Na introdução ele afirma: “Mais de meio século atrás, quando eu ainda era uma criança, lembro-me de ouvir vários idosos dando a seguinte explicação para o grande desastre que caiu sobre a Rússia: o homem se esqueceu de Deus; foi por isso que tudo aconteceu”.

Por mais de 50 anos, ele estudou a história da Revolução Russa, leu centenas de livros, ouviu inúmeros testemunhos pessoais e escreveu oito volumes no esforço de compreender o que aconteceu e afirmou no seu discurso: “Se me fosse pedido hoje para formular, o mais precisamente possível, a causa principal desta trágica revolução que solapou a vida de 60 milhões de pessoas, não poderia colocar de forma mais precisa do que repetir: o homem esqueceu-se de Deus. Esta é a razão por que tudo aconteceu”.

A religião sempre foi reconhecida como o meio que preserva e mantém uma sociedade ou nação mais coesa. Quando a fé diminui e a religião desaparece -- é isso que chamamos de secularização --, os modelos de associação humana tornam-se fragilizados. Quando as convicções pessoais se perdem e começamos a agir conforme nossos instintos ou de acordo com aquilo que julgamos natural, fica impossível sustentar uma sociedade sem o uso de outras forças. No final, temos a violência ou algum tipo de totalitarismo.

O salmista levanta uma pergunta crucial para nós, hoje: “Destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?”. Sem os fundamentos espirituais, a justiça se perde, rapidamente. Sem o temor de Deus, tudo é possível. Política, negócios, prazer, riqueza, trabalho, ciência e a religião, sem o temor de Deus, perdem seus princípios e, quando se perde a consciência de Deus, quando já não existe mais o respeito pelo divino, o ser humano perde sua identidade básica de criatura.

Solzhenitsyn conclui seu discurso dizendo: “Nossa vida não consiste na busca do sucesso material, mas na busca de crescimento espiritual. Toda a nossa existência terrena é uma transição em direção a algo maior, e não podemos tropeçar e cair, nem devemos ficar inutilmente parados em um degrau da escada. As leis materiais não explicam a vida nem podem dar-lhe algum sentido. As leis da física e da fisiologia nunca irão revelar a forma misteriosa como o Criador, constantemente, dia após dia, participa da vida de cada um de nós, nos concedendo a energia da existência; quando esta assistência nos deixa, nós morremos. E na vida de todo o nosso planeta, o Divino Espírito certamente se move com não menos força. É isto que precisamos entender nessa hora escura e terrível”.

O que é verdadeiro para a pessoa o é também para a nação. A intensificação do secularismo penetra, de forma cada vez mais profunda, a consciência humana a ponto de negar a realidade divina ou, na melhor hipótese, mantê-la restrita no mundo privado de cada um. O ser humano sem Deus e sem o temor de Deus perde sua identidade, esquece seus fundamentos e vive como um barco à deriva.

Não podemos nos esquecer de Deus. O apóstolo Paulo afirma que nele (Cristo) nos movemos e existimos. Não há vida real sem Deus e essa verdade se aplica à pessoa e à sociedade. A advertência de Moisés para o povo de Deus foi: “Se te esqueceres do Senhor, teu Deus, e andares após outros deuses, e os servires, e os adorares, protesto, hoje, contra vós outros que perecereis” (Dt 8.19).

Nunca se esqueçam de Deus.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/353/nunca-se-esquecam-de-deus 

PS- Para levar um chacoalhão de amor, vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=upGCMl_b0n4 
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