February 28, 2016

Como lidar com a sexualidade

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- Carlos "Catito" e Dagmar

No dia 9 de setembro de 2015, foi publicado no site de notícias G1 que um pastor norte-americano (John Gibson) suicidou-se após ter seu nome revelado como integrante de um famoso site de encontros para relações extraconjugais, o Ashley Madison, que foi invadido por hackers, os quais expuseram publicamente os nomes de todos os participantes do site.

Ao nos depararmos com esta notícia, vem-nos à mente, de modo rápido, a pergunta que está no título deste artigo. É evidente que a resposta mais objetiva a ela é que somos todos pecadores e destituídos da glória de Deus (Rm 3.23) e, portanto, seres falíveis -- disso não temos dúvida. Porém, creio que é necessária uma reflexão adicional.

A igreja cristã tem sido influenciada, ao longo dos séculos, de muitas formas no que diz respeito ao tema da sexualidade e, na maioria das vezes, negativamente. Nos primeiros séculos da igreja, houve forte influência da filosofia grega, que fazia uma divisão entre matéria e espírito, afirmando que este era bom e aquela era ruim. Logo, a sexualidade era vista como algo que se opunha ao espírito.

No início da Idade Média, outra grave distorção atingiu a teologia cristã, quando se atrelou o pecado original à relação sexual e, outra vez, a sexualidade passou a ter matizes negativos e que atentam contra a espiritualidade. Os movimentos pietistas e fundamentalistas do final do século 19 e início do século 20 também percebiam a sexualidade de forma negativa.

A influência dos pensamentos de Freud, dos movimentos feministas, das duas revoluções químicas da sexualidade (anticoncepcional e Viagra) e da predominância de uma ideologia político-econômica única no Ocidente pós-moderno na virada do século 21 também foram elementos principais em torno dos quais se estruturou uma “nova” sexualidade, cujos eixos principais são a “sensorialidade” e a “relação objetal”.

E a igreja “não” tem conseguido pensar de forma crítica sobre essa nova realidade. A sexualidade foi reduzida ao nível instintual e fisiológico e a finalidade última passou a ser apenas a experiência sensorial. Sendo assim, o outro é apenas um “objeto de consumo” que se “usa” para se tentar atingir uma “sensação fantástica” (o orgasmo ideal) e, dessa forma, não importa de qual gênero é esse outro -- já não é mais uma “pessoa”, portadora da “imago Dei” e, portanto, digna de um tratamento com toda a reverência, pois possui “algo” de Deus. 

A expressão máxima disso é o “ficar”, em que o outro é apenas um estímulo para minhas sensações fisiológicas. E o pior é que se acredita que sempre haverá “algo mais”, o que nunca ocorre e gera a insatisfação e a insaciabilidade, abrindo a porta para toda a perversão e pornografia.

A sexualidade que deveríamos pregar nas igrejas é a “sexualidade relacional”, que vê no outro “mais” que um objeto que vai lhe proporcionar prazer, mas, acima e além disso, uma “pessoa” com quem se compartilhará a “ternura” -- que é a essência do “vínculo”. Junto a essa outra pessoa, com quem estabeleço um “vínculo” ao declarar meu “compromisso” de caminhada companheira e solidária por toda a vida, e sobre esse vínculo sinto a liberdade de entrega e desfruto a aceitação incondicional.

No aprofundamento do “vínculo” emerge cada dia com maior intensidade a “ternura”, que se expressa de várias formas: escuta atenta ao outro, disposição para servir, partilha de sentimentos (positivos e negativos), divisão de tarefas e responsabilidades (domésticas, laborais, financeiras etc.), toques físicos (beijos, abraços, carinhos) e intercurso sexual, sendo esse último a expressão máxima da “ternura” -- “Quero-te tanto que te quero dentro de mim!”.

Enquanto não vivenciarmos e ensinarmos em nossas igrejas a “sexualidade relacional”, propósito de Deus na criação, facilmente deslizaremos para um padrão de “conformidade” com a sociedade e não seremos agentes de “transformação” dela (Rm 12.2).

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/357/por-que-nossos-lideres-nao-sabem-lidar-com-a-sexualidade

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