Happiness, a escravidão moderna
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Vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=S30CWvBDXSI
Vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=S30CWvBDXSI
- Ricardo Barbosa
O
historiador Theodore Zeldin, em seu livro “Uma História Íntima da
Humanidade”, vê a história como meio para interpretar as experiências
pessoais e emocionais. Um de seus personagens é uma mulher frustrada com
a vida e com sua incapacidade de mudar sua realidade. Ela se vê presa
num sistema. Zeldin mostra que a escravidão, no passado, foi sustentada
por três razões principais. A primeira foi o medo. As pessoas aceitavam
os sofrimentos e humilhações impostos por reis e senhores porque tinham
medo da morte e das consequências de uma liberdade sem segurança. Para
ele “o medo sempre foi mais poderoso que o desejo de liberdade”.
A
segunda razão é que os seres humanos tornaram-se escravos
voluntariamente. A forma de se escapar da responsabilidade que a
realidade impõe é sujeitar-se a algum tipo de dominação. A terceira é
que o escravo do passado é, surpreendentemente, o ancestral do executivo
e burocrata de hoje. No passado, os homens livres, que eram parte de
uma pequena elite, não trabalhavam, consideravam indigno trabalhar para
os outros. Somente os escravos trabalhavam.
De
certa forma, a escravidão continua. No passado, famintos vendiam seus
corpos como escravos; hoje o corpo continua sendo oferecido como
mercadoria para pagar aluguel e colocar comida na mesa. No passado, os
escravos trabalhavam em troca de comida, roupa e moradia; hoje uma
grande massa de operários trabalha e mal consegue pagar pela comida,
roupa e moradia. Executivos trabalham doze horas por dia, às vezes sete
dias por semana, para manter algum acionista milionário em seu iate no
Mediterrâneo. É claro que recebem um bom salário pelo trabalho, mas no
passado os escravos mais sofisticados também eram pagos. Segundo Zeldin,
no passado muitos escravos se faziam eunucos e abriam mão de ter uma
família para se dedicarem aos seus senhores. Hoje muitos profissionais
não querem ter filhos e sacrificam suas famílias em nome da carreira.
A
liberdade não consiste num conjunto de leis que garantem algum direito,
nem na ilusão de que ser livre é fazer o que deseja. Mesmo sabendo que
tenho o direito de ir e vir, pesa sobre mim a escolha do lugar para onde
quero ir e quando devo voltar. Mesmo sendo livre para fazer o que
desejar, pesarão sobre mim as consequências do meu desejo.
Não
somos livres, pelo menos não no sentido que muitos apregoam. Os adultos
trabalham -- e trabalham para alguém, mesmo quando são donos do seu
negócio. Qualquer escolha livre implica a renúncia de outras
possibilidades. E isso limita a liberdade. Talvez a nossa única
liberdade seja a de escolher a quem servir.
A
condição de escravos traz sempre algum tipo de frustração. Numa cultura
narcisista, o fracasso é inaceitável e a realidade, insuportável. No
entanto, todos nós fracassamos, e a realidade, quase sempre, é dolorosa.
As frustrações são fruto de nossas limitações -- limitações que
insistimos em não aceitar.
“Negar a morte, não
visitar os cemitérios, não vestir luto, tudo isto parecia uma afirmação
da vida, e de fato o foi em certa medida. Mas, paradoxalmente, acabou se
transformando numa armadilha, mais uma das muitas que a sociedade
moderna fabricou para que o homem não sinta as situações limite, aquelas
em que nosso mundo desaba, as únicas capazes de nos despertar desta
inércia que nos move” -- observou o escritor argentino Ernesto Sábato
(1911-2011).
A consciência de quem somos e quem
Deus é nos ajuda a lidar com o dilema da escravidão e das frustrações.
Reconhecer que somos pecadores e que vivemos num mundo marcado pela
queda nos ajuda a aceitar os espinhos da vida e o lugar do suor para ter
o pão de cada dia. Reconhecer Deus, em seu Filho Jesus Cristo, nos
ajuda a perceber que somente um ser totalmente livre pode oferecer
liberdade. Seguir a Cristo é colocar-se sob a autoridade do único que
pode nos conduzir no caminho da liberdade. É por isso que Jesus afirma:
“Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”.
A
escravidão moderna não pode ser simplesmente abolida. A solução estaria
em se ter a coragem de escolher a quem servir. Jesus disse: “Não podeis
servir a Deus e às riquezas”. É impossível agradar a ambos.
Somente as
escolhas feitas por amor refletem a liberdade humana.
Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/338/escravos-modernos
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