Adorando a Deus no deserto
.
- Débora Kornfield
Apesar de ter acontecido em agosto, sempre penso que é uma história de natal porque me ensinou tanto acerca da encarnação de Cristo.
Nossa família estava nos Estados Unidos mais uma vez, por poucos meses, para levantar sustento. Daniel estava morando com seus tios em Nova Jersey , trabalhando e se preparando para iniciar a faculdade. O resto da família viajava para visitar familiares, amigos e igrejas parceiras, e a Karis estava enfrentando mais e mais dificuldades para nos acompanhar.
Raquel voltou para o Brasil no dia 1 de agosto, ficando na casa de amigos para não perder o começo do ano letivo, dia 4. Karis, Valéria e eu continuamos em Wheaton enquanto o David participou duma conferência em Willow Creek. Karis quase desmaiou durante um tour da faculdade Wheaton. Até David retornar a Wheaton, dia quatro à noite, estava convencida que precisávamos procurar ajuda para ela. No próximo dia, havíamos agendado uma viagem a uma cidade em outro estado, onde David seria preletor numa conferência missionária. Nosso amigo, Dr. B, médico de clínica geral, morava a caminho, a mais ou menos duas horas de Wheaton. Ligamos para a casa dele, acordando-o, e ele concordou em marcar uma consulta para a Karis, se chegássemos até 6h30 da manhã, porque ele tinha muitos compromissos. (Descobrimos que 4h30 é um ótimo horário para passar pelo congestionamento de Chicago!).
Depois de examinar a Karis, Dr. B disse que poderíamos interná-la ali mesmo ou viajar mais quatro horas para o hospital de crianças Riley em Indianápolis, onde seria cudada por Dr. F, o médico que a acompanhava à distância a vários meses. Dr. B recomendou que a levássemos a Riley. Dirigimos as quatro horas e David deixou Karis e eu com nossas malas na sala de espera do hospital, esperando ainda chegar a tempo à abertura da conferência. Não conhecíamos ninguém em Indianápolis.
Dr. F inseriu um cateter central e Karis começou a receber NPT. Com o passar dos dias, ela ficou mais forte e começou a visitar outros pacientes no hospital: a menininha com queimaduras severas dum incêndio do lar. . . o menino com meningite da coluna esperando mais uma cirurgia. . . a pequena menina que havia passado por cirurgia de coração e cujos pais não podiam acompanhá-la. . .
Enquanto isso, eu permanecia no quarto da Karis e resmungava. Ou saía e andava em volta do hospital, chorando e suplicando a Deus pela cura da minha filha, pelo bem dela e da família toda. Eu realmente não estava feliz. Valéria, com onze anos, me ligou e disse que estava entediada de estar só com o pai e suas reuniões, e queria voltar ao Brasil. Então, no dia 8 de agosto, ela viajou sozinha, pegando três vôos diferentes para chegar em São Paulo , onde amigos bondosos a receberam em sua casa. A essa altura, nossa família de seis pessoas estava em cinco lugares diferentes. David continuou com suas viagens e reuniões que já havia agendado. Me ligou no dia 16 mas não lembrou que era meu aniversário.
Mencionei que eu não estava feliz?
Na manhã do dia 17, enquanto eu resmungava no quarto da Karis e ela visitava seus amigos, uma mulher apareceu na porta e me convidou para descer e tomar café com ela. Enquanto sentávamos na lojinha de café, ela me contou a seguinte história.
Quando sua filha Annette (não seu nome verdadeiro), de 14 anos, entendeu que estava morrendo, se retraiu inteiramente, assumindo uma posição fetal, e não falava com ninguém. Nem com sua mãe ou avó. Com nenhum enfermeiro, médico ou terapeuta. Nem com a psicóloga ou o capelão. Com nenhum dos amigos que ligaram de sua cidade, a duas horas de distância. Ninguém conseguia alcançar Annette nem penetrar a parede de silêncio que construiu em volta de si.
Desesperada, a mãe da Annette se encontrou orando, pela 1a. vez desde a infância. Ela pediu a Deus que mandasse alguém que pudesse alcançar Annette.
O próximo dia, contou-me a mãe de Annette, um anjo apareceu na porta do quarto de sua filha. Um anjo vestida no mesmo traje “charmoso” do hospital que usava a Annette, empurrando o mesmo suporte com soro, NPT e medicamentos idênticos aos de sua filha. Pedindo licença para entrar, este anjo andou até a cama de Annette e simplesmente sentou do seu lado, fazendo cafuné e cantando para ela.
Aí o anjo foi embora, mas o próximo dia voltou, falando carinhosamente com Annette, cantando para ela e orando por ela. Mais tarde, numa outra visita, Annette abriu seus olhos e viu o sorriso do anjo. Com o passar dos dias, Annette começou a retornar o sorriso.
A mãe da Annette me contou que, encorajada pela primeira resposta de oração, ela começou a orar mais, como fazia sua mãe, avó de Annette. Terminando nosso café, ela me convidou para passar no quarto de Annette. Lá, vi a Karis, sentada na cama com Annette, cabeças loura e ruiva juntinhas, olhando uma Bíblia, da qual Annette estava lendo em voz alta. De cada lado da cama estavam os suportes de medicamentos idênticos, com seus respectivos sacos de NTP e lípidos. A avó de Annette estava sentada perto da cama, escutando com lágrimas nos olhos.
Pedi licença, pois também estava para chorar. Saí correndo e, mais uma vez, andei em volta do hospital, desta vez clamando a Deus em arrependimento por meu egoísmo e minha impaciência. Se Deus escolheu atender ao pedido desesperado de uma mãe, mandando a Karis a Indianápolis, como poderia eu ficar ressentida? “Por favor, não me deixe esquecer disto, Senhor,” orei. “E por favor me ajude a lembrar que pedi que Tu fosses Senhor da minha vida, e isso significa que livremente ofereci a Ti o direito de fazer comigo e com a minha família como quiseres. Te agradeço, de todo o coração, que cumpriste Teu propósito com Annette apesar da minha atitude horrível, porque Karis estava disposta a colocar de lado os próprios problemas para ministrar aos outros.”
“. . . era necessário que ele se tornasse semelhante aos seus irmãos em todos os aspectos” (Hebreus 2:17).
Fonte: http://bencaopura.blogspot.com.br/2006/09/adorando-deus-no-deserto-parte-1.html
0 Comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.
<< Home