Monstros

.
- Ed René Kivitz

A Bíblia Sagrada relata o adultério do rei Davi com Bate-Seba, mulher de Urias, um dos homens de seu exército. Após engravidá-la e tentar, sem conseguir, fazer com que Urias acreditasse que o filho era dele, Davi manda seu súdito fiel ao campo de batalha para ser morto. Depois disso, Davi tomou Bate-Seba para si, como esposa.

Davi estava tão alienado que não conseguiu reconhecer os próprios erros. E só depois de ser confrontado pelo profeta enviado por Deus, é que ficou angustiado. Daí nasceu o Salmo 51, uma oração do rei Davi a Deus, pedindo perdão por seus erros e crimes, pois além do adultério tinha cometido até um assassinato, e suas mãos estavam sujas de sangue.

Davi era um homem “segundo o coração de Deus”, íntimo de Deus, piedoso, mas mesmo assim foi capaz de cometer tais atrocidades.

Eu me pergunto por que um homem de Deus, um homem íntimo de Deus, piedoso, faz um mal nessas proporções?

A resposta é que temos forças monstruosas dentro de nós. A palavra de Deus me informa que existem em nós forças, que nos vêm de nossos antepassados. Forças atávicas que, se não forem mantidas sob controle, despertam monstros. E nos levam a fazer coisas que só podem ser explicadas porque fomos arrebatados de nosso juízo, da nossa razoabilidade, do nosso senso.

Os monstros tomaram conta de nós. É isso que a Bíblia chama de tentação, quando a nossa carne assume o controle. Essas forças e esses monstros estão dentro de nós, mas também estão em nossas sociedades. E os fenômenos sociais fazem com que esses monstros apareçam. E de repente, uma sociedade se torna monstruosa. Essas forças estão dentro das igrejas também. A violência, a intolerância, os extremismos, os monstros de todos os lados, que são acordados, eles despertam.

E esses monstros tomam conta da sociedade e inclusive da igreja. Nós já vimos a igreja, por exemplo, comprometida com a Ku Klux Klan. Diáconos e pastores batistas membros de uma seita racista e do movimento de segregação racial nos Estados Unidos. Nós já vimos o Apartheid na África do Sul, e a igreja estava presente sustentando o regime racista. A igreja protestante na Alemanha sustentou o nazismo.

Os monstros estão soltos. E estão soltos também entre nós. O discurso racista, homofóbico, classista, machista, está presente dentro de nossas comunidades.

Qualquer homem é capaz de qualquer coisa assim, como Davi foi capaz de assassinar um súdito seu, para ter sua esposa.

A santidade não é um comportamento, não é prática rotineira de atividade religiosa. A santidade é um tipo de coração, é uma postura diante de Deus, um coração quebrantado, que Deus não despreza.

É colocar nossos monstros diante de Deus e pedir misericórdia, que apague nossas transgressões, para que Ele não nos abandone.

Fonte: https://jornalistaslivres.org/ed-rene-repudia-apoio-de-evangelicos-a-bolsonaro-monstros-sociais/