November 21, 2020

O preço das coisas e o valor das coisas

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Estamos atravessando tempos difíceis. 

Colapso financeiro, recessão econômica e incertezas infindáveis estão diante de nós. Muitas pessoas perderam suas economias, empregos e até mesmo seus lares.  O que fazer em tempos como estes? 

A melhor resposta é de um político americano: “nunca desperdice uma crise.” Porque você aprende mais enfrentando tempos difíceis do que navegando em dias tranquilos.

O ideograma chinês para “crise” também significa “oportunidade” e talvez seja por esta razão que os chineses mantêm até hoje a continuidade de sua história. Para mim, somente o hebraico vai além deste conceito: "mashber" também significa “assento ou leito sobre o qual a mulher dá a luz”. 

Em hebraico, crises são mais do que oportunidades e representam “as dores do parto”. Alguma coisa nova está nascendo e isso explica porque os judeus sobreviveram a cada crise ao longo de quatro mil anos, emergindo cada vez mais fortes do que antes.

O colapso financeiro deveria nos ensinar que estávamos nos tornando obcecados pelo dinheiro: salários, prêmios, bônus, preços de casas e mais uma série de artigos de luxo dispendiosos e desnecessários. Quando o que mais importa é o dinheiro e o preço das coisas, esquecemos dos valores, e isto é um grave erro. 

O colapso ocorre quando pessoas pedem empréstimos para os quais não tem cobertura e, com o dinheiro, compram coisas que não precisam para alcançar uma felicidade que não dura.

A sociedade de consumo tem como base o estímulo à demanda que gera gastos e produz crescimento econômico. Isto mexe de tal forma com os valores genuínos que eles chegam a ficar invertidos. A publicidade atrai nossa mente para focar em coisas que não temos enquanto que a felicidade (como relata o Pirkê Avot) consiste em nos contentar com o que temos.

De certa forma, a sociedade de consumo é um mecanismo que cria e distribui infelicidade. Isto explica porque uma era de abundância sem precedentes transformou-se numa era de síndromes relacionadas a estresse e doenças depressivas como nunca houve antes.

O mais importante que cada um de nós pode aprender com a atual crise econômica é "pense menos no preço das coisas e mais no seu valor".

Segundo a Torá, houve um momento em que o povo começou a adorar o ouro e fizeram até um bezerro de ouro. No entanto, uma leitura mais atenta da Torá mostra que, antes do episódio do bezerro de ouro, Moisés havia dado um mandamento ao povo: o Shabat.  Por que naquela ocasião? 

Porque o Shabat é o dia em que paramos de pensar no preço das coisas para focar o valor das coisas. No Shabat não podemos vender ou comprar. Não podemos trabalhar ou pagar a outros para que trabalhem por nós. 

Ao invés disso, passamos o dia com nossa família e amigos em volta da mesa. Na sinagoga, renovamos nosso contato com a comunidade. Escutamos a leitura da Torá, lembramos da historia de nosso povo. E oramos agradecendo pelas bênçãos que o Eterno nos concedeu. 

A família, os amigos, a comunidade, o sentimento de fazer parte de um povo e de sua história e, acima de tudo, agradecer a Deus são coisas que têm imenso valor, mas não têm preço. 

Para colocar de outra forma: um princípio fundamental da administração do tempo é aprender a distinguir entre coisas que são importantes e coisas que são urgentes. 

Durante a semana tendemos a responder a pressões imediatas, ou seja, focamos o que é urgente, mas não necessariamente no que é importante. 

O melhor antídoto inventado é o Shabat. Nele celebramos as coisas que, embora importantes, não são urgentes: o amor entre marido e mulher, entre pais e filhos, os laços de pertinência, a historia da qual fazemos parte, a comunidade que apoiamos e que nos apoia, em tempos de alegria e de tristeza. 

Estes são os ingredientes da felicidade. Porque os últimos pensamentos de qualquer pessoa antes de morrer nunca são “eu deveria ter passado mais tempo no escritório”.

Tempos difíceis nos fazem refletir naquilo que os bons tempos esquecem: de onde viemos, quem somos e por que estamos aqui. 

Eis porque tempos difíceis são a melhor época para plantar as sementes de uma felicidade futura.

Fonte: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1301037/jewish/O-Preco-das-Coisas-e-o-Valor-das-Coisas.htm
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