June 23, 2021

Dias dificeis

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Quem não tem dias difíceis, de aflição, angústia, desolação, decepção ou pecado? Nessa pandemia então! Parentes e amigos nem sempre sabem como ajudar. E quem está sofrendo, geralmente, prefere o isolamento. Conforta-nos saber que admirados personagens bíblicos e homens e mulheres tementes a Deus, de todos os tempos, vivenciaram dias assim. Davi, segundo rei de Israel, Asafe e outros, compartilharam, em salmos, sentimentos, temores, lutas e vitórias vivenciados em seus dias mais difíceis. 

Davi, depois daquele ato corajoso quando enfrentou e matou o gigante Golias, ainda jovem virou herói nacional e amigo de Saul, rei de Israel. “Saul lhe deu uma posição de comando no exército, o que agradou tanto ao povo como aos oficiais de Saul”. Sempre vitorioso, Davi acabou sendo mais elogiado e exaltado do que Saul. Este, muito enciumado, tornou-se inimigo de Davi a ponto de tentar matá-lo, mais de uma vez. Davi fugiu para outras cidades e para o deserto, e fugitivo viveu por cerca de dez anos (I Samuel 17-23).

Um dia, Davi e um grupo de amigos estavam escondidos no fundo de uma caverna. Saul, sem saber que Davi estava ali, entrou na caverna para uma necessidade pessoal. Que perigo para ambos! Os amigos de Davi o encorajaram a aproximar-se, sorrateiro, e matar Saul. Mas Davi não quis fazê-lo, considerando que Saul, de qualquer modo, era “o ungido do Senhor” (I Samuel 24).

Para muitos, aquela caverna, assim como a presença de inimigo tão poderoso e mortal, teria sido o cenário perfeito para uma crise de pânico e desespero. Para Davi, entretanto, foi o lugar ideal para compor um hino de vitória, o Salmo 57.

Cônscio do perigo, Davi não confiou nos seus próprios recursos. Certamente, lembrou-se do dia em que, sozinho, matou um leão e um urso; mais ainda do dia em que enfrentou e matou o gigante Golias, o mais temido inimigo de Israel. Porém, ele tudo atribuía à bênção de Deus. 

Por isso, em face desse novo desafio, não confiou em suas próprias forças e habilidades, mas orou: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia! Em ti me refugio. À sombra das tuas asas me esconderei, até que passe o perigo” (v.1). Poeta, ele referiu-se às paredes úmidas e escuras daquela caverna como sendo as asas protetoras de Deus! Aos homens ímpios que estavam com ele, testemunhou: “Clamo ao Deus Altíssimo, ao Deus que cumpre seus propósitos para mim. Dos céus ele enviará socorro para me salvar […]” (vs.2-3). Assim reage todo aquele que confia no Senhor, não em seus próprios recursos: ele ora e confia em Deus!

E tem mais. No fundo daquela caverna, com Saul ali à entrada, Davi orou outra vez, com ênfase: “Meu coração está firme em ti, ó Deus, meu coração está firme; por isso canto louvores a ti!” (v.7). Ao que parece, orou e cantarolou, bem baixinho para Saul não escutar. Na adversidade, podemos permanecer firmes, emocionalmente estáveis, confiantes em Deus.

Orar e confiar em Deus é o segredo da vitória, em todas as circunstâncias. Como disse a poetisa Michele Dumont: “Quando se confia em Deus, no final tudo dá certo.”

Fonte: https://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2021/06/21/autor/eber-lenz-cesar/dia-de-aflicao/

PS- Para ouvir a trilha do dia: https://www.youtube.com/watch?v=TS0q_2Om_ng
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June 11, 2021

Erga os olhos

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- Daniel Martins Barros

Em março de 2020, tive a sensação de que o calendário tinha caído numa espécie de lodaçal distorcendo nossa percepção do tempo. Meses, dias, semanas se sucediam de uma forma embolada, eu não sabia se ainda estávamos em março ou se o ano já tinha acabado. E o que estava estranho ficou pior agora quando, novamente em março, parece que voltamos ao início da pandemia. A sensação de falta de controle sobre as coisas, a disparada dos casos, os hospitais carecendo de estrutura, incertezas sobre o que abre e o que fecha. Será que entramos num looping temporal? Estaríamos condenados a viver num eterno retorno a março?

ico abismado quando penso que esta coluna começou há um ano com o objetivo de nos ajudar a refletir sobre a situação e encontrar caminhos para ficarmos bem ao longo das poucas semanas que imaginávamos que duraria a pandemia. Um ano.

Mas se por um lado a situação vem se arrastando por muito mais tempo do que prevíramos, com todos os desgastes emocionais que isso implica, por outro lado eu nunca havia pesquisado tanto sobre o manejo do estresse, as práticas associadas à resiliência, estratégias de regulação emocional – tudo o que a nossa geração precisou com inéditas urgência e intensidade.

Atividade física, higiene do sono, jogos de tabuleiro, suporte social, meditação, respiração – a lista de refúgios cresceu conforme as colunas se sucederam. A mais surpreendente descoberta para mim foi a observação de pássaros, como comentei na coluna Mente avoada, publicada em agosto. Por uma série de coincidências, aderi quase sem querer ao hobby de observar, classificar e fotografar aves, notando que aquela atividade me ajudava a relaxar em meio a tudo o que estava acontecendo.

E qual não foi minha surpresa ao descobrir que não era o único. Não apenas que não era o único birdwatcher – esse é um dos hobbies mais populares no mundo e vem crescendo no Brasil. Mais do que isso, eu não era o único psiquiatra recebendo conforto ao olhar para o alto.

No meio do ano passado foi publicada uma pesquisa feita com colegas psiquiatras da Polônia, perguntando em questionários anônimos se eles vinham usando o contato com a natureza, particularmente a observação de pássaros, como uma estratégia para lidar com o estresse em meio à pandemia de covid-19. Os resultados mostraram que essa atividade vinha sendo praticada pelos profissionais e sim, lhes trazia tranquilidade, por vários motivos. A rotina das aves mostrava que nem tudo estava bagunçado pela pandemia, ainda havia alguma ordem no caos. Os pássaros também transmitiam a sensação de liberdade. Transportavam os médicos para um lugar seguro, livre do vírus. A prática aliviava ainda a pressão de estar em combate constante com a doença. E além de ser uma experiência estética prazerosa (visual e sonora, acrescento eu), também promovia a conexão com a natureza – que sabemos ser relaxante por si só.

Fica a prescrição. Experimente. Há pássaros perto de você por mais urbana que seja sua vizinhança. Olhe em volta e procure por eles. Pode parecer bobagem, mas, bem, é o que diversos psiquiatras vêm fazendo para lidar com o estresse. Não custa tentar.

Fonte: https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,erga-os-olhos,70003635140

PS- Para ouvir a trilha do dia: https://www.youtube.com/watch?v=fknvJTbmNZw
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June 03, 2021

No cativeiro não há alegria

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Muitas vezes vivemos na Babilônia por nossa própria escolha

- José Arnaldo


No Salmo 137, lemos o relato de quando o povo israelita estava cativo na Babilônia. Ali os seus opressores, os babilônios, pediam para que o povo de Deus cantasse e tocasse suas harpas com louvores, como entoavam em Jerusalém. Porém as suas harpas estavam penduradas nos salgueiros, caladas e em silêncio, à beira dos rios que banhavam aquelas cidades.


O povo israelita passou setenta anos cativo naquela terra. Escravo de um povo pagão e dominador.


Embora as praias dos rios da Babilônia fossem muito bonitas e os salgueiros que ficavam às suas margens fossem árvores ornamentais de grande beleza, que ofereciam frescor e sobra, o povo de Deus sentia muita saudade do seu país, das suas cidades, do Templo, de Jerusalém, do culto ao seu Deus. Estavam ali prisioneiros e o que lhes restava, era somente o lamento.


Muitas vezes vivemos na Babilônia por nossa própria escolha.


Somos atraímos pelas belas margens dos seus rios e pelas sombras trazidas pelos salgueiros e esquecemos dos cânticos e das harpas. Os rios e os salgueiros, conforme o texto do Salmo, não alegravam os corações dos israelitas, só lhes traziam saudade e lamento. No caso daqueles que se deixam ser levados à Babilônia, tudo pode parecer agradável e aprazível.


O viver na Babilônia é uma festa. Mas o grande problema é que na Babilônia é impossível ter alegria.


A escravidão não traz e nunca trouxe alegria a alguém. Viver uma Babilônia, às margem de suas belas praias é ilusão. O pecado nos ilude, nos apresenta as suas praias e seus salgueiros como se fossem o melhor. É certo, não resta nenhuma dúvida quanto a beleza da Babilônia, mas ali não era local de alegria para o povo de Deus.


Alegria real e constante, onde flui o louvor, é no pátio do templo do Senhor.


É à sombra das suas mãos. Sim, é ali, onde podemos tomar as nossas harpas e com os corações cheio da sua presença e longe da escravidão do pecado, cantar e louvá-lo.


Como lemos no Salmo 137, o povo de Deus era prisioneiro de uma Babilônia encantadora, mas trágica, que lhes sufocavam o peito, impedindo-lhes o louvar ao seu Deus verdadeiro.


É necessário que enxerguemos que não temos condições de viver às margens desses rios enganadores sem as nossas harpas.


É importante que saibamos que no cativeiro não há alegria.


Fonte: https://www.ippdf.com.br/artigos/publicacao/760059/no-cativeiro-n-o-h-alegria-por-jos-arnaldo