December 31, 2021

Daqui para frente

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A expressão “daqui para frente”, ou “de agora em diante”, ou simplesmente “doravante” tem um poder tremendo. Ela é um divisor de águas. Abre um pequeno espaço entre o passado e o futuro. Marca o fim de um tempo e o início de outro tempo. Cava um profundo fosso entre a velha e a nova vida.

Na perspectiva humana, o que provoca o “daqui para frente” é o vazio insuportável de uma vida sem Deus, a sede da alma, a desilusão com os prazeres transitórios do pecado, o cansaço do correr eternamente atrás do vento, o medo da doença sem cura, a estreita vizinhança da morte, o tamanho da eternidade. 

Esse soleníssimo “de agora em diante” pode emergir de uma hora para outra por força de alguma coisa que se lê ou que se ouve. É o caso daquele africano chamado Agostinho que deixou para trás uma vida de pecado para se tornar o maior teólogo da antiguidade. Aos 33 anos, Agostinho ouviu por acaso alguém ler num jardim a exortação paulina: “Vivamos honestamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedeiras, prostituição e libertinagem, brigas e ciúmes” (Rm 13.13). Essa mesma ruptura com a vida pregressa pode acontecer também por causa do testemunho vibrante de alguém que mudou da água para o vinho ou por causa de um profundo sentimento de incontido galardão.

Sob a perspectiva teológica, o que faz nascer o “daqui para frente” no mais interior da alma humana é a chamada graça irresistível ou aquele misterioso toque do Espírito, que sopra onde quer, quando quer e como quer (Jo 3.8).

Esse “de agora em diante” não está sujeito ao planejamento nem a esquemas humanos. Pode vir de súbito como pode vir progressivamente. Pode suportar avanços e retrocessos. Todos os grandes servos de Deus na história bíblica e na história do cristianismo passaram por esse bem-aventurado “doravante”.

Você também pode ter o seu “daqui para frente” a qualquer momento

À semelhança do filho pródigo, que se levantou e foi a seu pai (Lc 15.20), à semelhança de Mateus, que também se levantou e ouviu o chamado de Jesus, e à semelhança do ladrão que se derreteu frente ao amor de Jesus nas duas ou três derradeiras horas de vida!

Fonte: https://ultimato.com.br/sites/elbencesar/2019/11/29/daqui-para-frente/

December 30, 2021

Olhar só para baixo nunca mais

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É isso mesmo! De hoje em diante, vou olhar primeiro para cima, depois para baixo; primeiro para o Criador, depois para a criatura; primeiro para o Santo, depois para o pecador. Se eu seguir esta ordem, vou me abater menos, vou ter mais coragem, mais esperança, mais amor.

Depois de olhar para baixo, tornarei a olhar para cima, para o Criador, para o Santo. Preciso fazer ambos os exercícios: olhar para cima e olhar para baixo, olhar para baixo e olhar para cima. Um rodízio perfeito e permanente.
Quando eu olho para cima, mato a minha sede, mato a minha fome. Quando eu olho para baixo, mato a sede dos outros, mato a fome dos outros. Se não olhar para cima, não mato nem a minha fome nem a fome alheia. Olhar só para cima é egoísmo; olhar só para baixo é suicídio.
Estou aprendendo com Ezequiel a arte de olhar para cima antes de olhar para baixo. O profeta frequentemente via a glória do Senhor (Ez 1.28; 3.23; 8.4; 9.3; 10.19; 11.22). Depois, ele via coisas diametralmente opostas: o ídolo, que era uma ofensa contra Deus, colocado bem perto do altar; coisas nojentas e vergonhosas que setenta líderes do povo faziam, cada um deles com um queimador de incenso na mão, numa câmara secreta do templo; mulheres chorando a morte de um deus chamado Tamuz no portão norte da Casa de Deus; e 25 homens de costas para o templo e curvados até o chão, prestando culto ao sol nascente (Ez 8.14-16). 
Sem olhar para cima antes e depois de ver tudo isso, não há profeta nem cristão que sobreviva emocionalmente. Para não desmaiar, para não desanimar, para não desistir, Ezequiel precisava compensar aquelas loucuras com a glória de Deus.
Antes de ser obrigado a olhar para baixo, tenho de olhar para cima. Olhar para cima não é algo misterioso ou complexo. É enxergar a Jesus, que está sentado ao lado direito de Deus; é ler a Palavra de Deus (lectio divina) devagar, com humildade e intimidade; é extravasar a alma em oração diante do trono; é olhar para trás e ver quanto Deus já fez e olhar para frente e ver quanto ainda fará; é direcionar a fé para o transcendente.
Olhar para baixo significa enxergar o pecado, a injustiça, o egocentrismo, o consumismo, a corrupção, as guerras, as obras da carne, a hipocrisia, a maldade, o ódio, a loucura, a incredulidade, a violência, o caos, a poluição, a morte, as potestades do ar. Fechar os olhos a essas coisas é fugir da realidade.
Não tenho a menor dúvida. Com a ajuda de Deus, de hoje em diante, não vou deixar de olhar nem para cima nem para baixo. Primeiro para cima, depois para baixo, depois outra vez para cima!
Fonte: https://ultimato.com.br/sites/elbencesar/2017/12/29/olhar-so-para-baixo-nunca-mais/

December 29, 2021

Entregar os intervalos de perfeita paz ou não nas mãos do Senhor

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Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus em quem confio.
Sl 91:2

Com a ajuda do Senhor e a partir deste momento, não vou carregar malas e malas de coisas que me tiram a paz. Algumas vão para o lixo e outras, para os ombros do Senhor. Deus há de ajudar-me a separar umas das outras, como se separa o trigo do joio.
Certamente porei no caminhão de lixo as lembranças desagradáveis, as amarguras que pessoas próximas e distantes me causaram, as injustiças que penso ter recebido, as tristezas passadas que deveriam ter sido esquecidas e, o que é mais fácil, a papelada que documenta tudo o que aconteceu de ruim em tempos remotos e recentes.
Entretanto, nos ombros do Senhor, porei aqueles intervalos da perfeita paz dos quais fala o profeta Isaías: "Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em Ti" (Is 26.3). São intervalos de pequena duração, porém desagradáveis como a diminuição da alegria, a diminuição do ânimo, a diminuição do fervor religioso, a diminuição do amor, a diminuição da fé, a diminuição do desejo de ler a Palavra de Deus e orar, a diminuição da paciência, a diminuição da tranquilidade.
Sei que o problema não é só meu. Se os salmistas não tivessem passado por esses intervalos, o livro mais longo da Bíblia não seria o mais lido. Em muitas ocasiões, eu me vejo ali. 
Não encontro nos Salmos uma pessoa continuamente segura e emocionalmente estável. Ao contrário, deparo-me com alguém que diz: “Estou muito doente”; “Estou me afogando em meus pecados”; “Estou muito abatido e encurvado, e choro o dia todo”; “Sinto-me completamente abatido e desanimado”; “O meu coração está aflito”; “Estou fraco”; “Estou quase caindo e o meu sofrimento não acaba mais” (Sl 38). Acontece que essa mesma pessoa também escreve: “Eu me deito e durmo tranquilo” (3.5); “Por causa de ti eu me alegrarei e ficarei feliz” (9.2); “Ainda que eu ande por um vale escuro como a morte, não terei medo de nada” (23.4); “O meu coração está feliz e eu canto hinos em louvor a Deus” (28.7); “Somente em Deus eu encontro paz; é dele que vem a minha salvação” (62.1).
Se esse poeta, ora está bem, ora está mal; ora dorme a noite toda (Sl 3.5), ora chora a noite toda a ponto de encharcar de lágrimas o travesseiro (Sl 6.6) — que impressão eu devo ter dele? Minha conclusão é que ele sofre dos mesmos intervalos dos quais eu sofro. Intervalos que danificam a perfeita paz por um pequeno período de tempo.
Qual é a razão dos meus intervalos e dos intervalos do salmista? Eu diria que eles são complexos e difíceis de discernir. Certamente são intervalos causados pela minha humanidade e pela humanidade alheia. Podem ser provocados pelo intranquilizador-mor, aquele que fez o que fez com o patriarca Jó. Porém, também creio que, por razões terapêuticas, o Senhor mesmo pode ser o causador dos intervalos, ou aquele que os permite, para tornar a pôr os meus pés no chão e para tornar-me simpático aos outros que passam pelos mesmos intervalos.
O que importa é que, de hoje em diante, colocarei cada um desses intervalos na presença de Deus em oração e, com eles, qualquer outra inquietação, qualquer outra perturbação emocional, qualquer outra confusão mental, qualquer outro desafio. Sempre com a ajuda lá de cima!
Fonte: https://ultimato.com.br/sites/elbencesar/2018/10/26/porei-nas-maos-do-senhor-os-pequenos-intervalos-da-perfeita-paz/

December 28, 2021

Uma pequena oração para o ano todo

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- pr. Ricardo Barbosa

A melhor forma de orar é com as Escrituras. 

O bispo africano do quarto século Atanásio dizia que “a maior parte das Escrituras fala a nós, mas os Salmos falam por nós”. Os Salmos são nossa escola de oração por excelência.


Podemos fazer isso com a oração que Jesus nos ensinou, o Pai-Nosso. 


Podemos usar a oração sacerdotal de Jesus como um precioso guia para nossas orações do fim do dia.


As bem-aventuranças são também um bom roteiro para nossas orações, pois nos colocam diante daquilo que nos define como povo de Deus. 


No entanto, os salmos são, por excelência, nosso livro de oração. Nele aprendemos a expressar nossos desejos, emoções, lamentos, gratidão e louvor.


Gostaria de sugerir uma pequena oração que possa nos acompanhar e orientar durante todo o novo ano. É uma oração curta, fácil de ser memorizada e profunda em seu conteúdo. Uma oração que você pode fazer enquanto trabalha, descansa e se locomove de um lugar para outro. Esta oração está na primeira parte do verso 94 do Salmo 119: “Sou teu; salva-me”.


O Salmo 119 tem 176 versículos, 22 estrofes (uma para cada letra do alfabeto hebraico) e oito versos em cada estrofe. É um salmo que celebra a lei de Deus, a Torah. O salmista entende que a revelação da lei de Deus é a revelação de toda a realidade (sobre Deus, sobre nós e sobre o mundo). Por isso ele celebra. Os 176 versos do capítulo é uma resposta do salmista à revelação de Deus.

“Sou teu; salva-me.” É uma pequena oração que nos ajuda a lembrar daquilo que Deus, por meio de Jesus Cristo, já fez por nós e tudo aquilo que ele ainda fará

Podemos orar assim: Senhor, sou teu porque me criaste à tua imagem e semelhança. Não sou um acidente biológico. O Senhor me fez único e isso é maravilhoso. 

Sou teu porque me escolheste e me chamaste. Sinceramente não sei como isso funciona, mas sei que fui escolhido por ti e não é mais possível viver longe de ti. 

Sou teu porque fui redimido, liberto e salvo por ti. O Senhor veio até mim, entrou em meu mundo quebrado pelo pecado. Pagou um alto preço pela minha redenção. Fui justificado e reconciliado. Nada disso é mérito meu, tudo me foi dado pela sua graça. 

Sou teu porque por meio de teu Santo Filho Jesus Cristo me adotaste como um filho amado. Pelo poder e presença do teu Espírito, posso chamar-te de Pai e ter a certeza de que me amas como amas teu eterno Filho. 

Sou teu porque fizeste em mim a tua habitação. Não existe nenhum momento ou lugar em que não estejas comigo.

“Sou teu; salva-me”. 

Salva-me de mim mesmo. Da minha arrogância e orgulho, da mentira e do engano, do egoísmo e da vaidade. 

Salva-me das armadilhas da sedução e tentação. Dá-me forças para resistir ao maligno e sabedoria para discernir as forças e poderes que atuam no mundo. 

Salva-me das “obras da carne” e de tudo aquilo que promove a morte, a divisão e a destruição de tua boa criação. 

Salva-me da apatia, do desânimo, do tédio e da futilidade. 

Salva-me do medo e da ansiedade.

“Sou teu; salva-me.” 

É uma oração simples e profunda. Pode ser feita todos os dias, em qualquer lugar. 

Ao afirmar “sou teu; salva-me”, afirmo minha identidade básica. Sei quem sou e a quem pertenço. 

Num tempo de tantas incertezas, precisamos urgentemente ter uma compreensão clara de nossa identidade em Cristo e manter diante de nós uma afirmação tão simples e, ao mesmo tempo, tão completa, que nos ajuda a não perder a perspectiva. 

“Sou teu; salva-me.”

Fonte: https://www.ultimato.com.br/conteudo/uma-pequena-oracao-para-todo-o-ano

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December 27, 2021

Pai de misericórdia

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Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.
2 Co 1: 3-4

As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.
Lm 3: 22-23

E faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.
Ex 20: 6

Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre.
Sl 23:6
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December 05, 2021

Prestenção!

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Precisamos de lembretes para ficarmos espertos

- Daniel Martins de Barros

De vez em quando a gente precisa de uns sustos para acordar. Levar um presta atenção, ou “prestenção!”, como diz o povo.
Uma crise conjugal às vezes é exatamente isso. Depois de um enorme trabalho para conquistar seu par romântico, quando você deu carinho, dedicou tempo, se esforçava para compartilhar interesses, o relacionamento entra num marasmo, como se o amor conquistado estivesse garantido. De repente vem uma crise, uma traição, um pedido de tempo, aparentemente sem motivo. É um chamado, um despertador para a vida. Não existe amor conquistado, prestenção! Relacionamento precisa de investimento contínuo.
A mesma coisa pode ocorrer nas finanças. Os gastos aumentam normalmente quando aumentam os ganhos. Se os gastos ficam excessivos, contudo, crises vindas de perda de emprego, alta do dólar, mudanças de mercado, funcionam como um prestenção!: dinheiro não aceita desaforo; nos anos de vacas gordas devemos nos preparar para os de vacas magras, como José ensinou para Faraó há tanto tempo.
Um dos motivos de as pandemias virem em ondas é nosso comportamento diante da doença. Quando estamos muito assustados com as notícias adotamos todas as medidas de segurança antes mesmo de a doença estar disseminada. Com o tempo o susto vai passando e as medidas relaxando justamente quando a doença está se espalhando. De repente, quando estávamos tranquilos surge a onda – criada por nós mesmos em nossa despreocupação. A nova onda leva a outra fase de cuidados, o que reduz a ameaça, diminuindo a preocupação. E lá vamos nós de novo.
Há poucas semanas estávamos discutindo se deveríamos continuar usando máscaras ou poderíamos dispensá-las. Tranquilos com o número de casos novos de covid-19 por dia planejávamos não se haveria festa de Réveillon, mas qual seria seu tamanho. Parecia que a pandemia tinha acabado. Aí surge a variante ômicron e acaba com a discussão: deixa essa máscara onde está e nem pense em aglomeração. A pandemia não acabou, prestenção! Foi algo parecido com a variante delta: estávamos começando a pensar em ficar despreocupados quando ela surgiu no horizonte. O que aconteceu então foi que não baixamos a guarda e, ao contrário do que ocorreu em muitos países que já estavam relaxados com as medidas sanitárias, aqui ela não fez grandes estragos.
Com a alta adesão dos brasileiros à vacinação e baixa rejeição ao uso de máscaras acho que esse prestenção! tem chance de funcionar. A variante é muito mais contagiosa, não há dúvida. Mas não fura as máscaras, não voa contra o vento e, aparentemente, não burla as vacinas. Então se nos mantivermos com os cuidados já tão conhecidos a essa altura – máscaras, ventilação, vacinação – poderemos ter condições de atravessar essa onda também sem muitos problemas.
Usar máscaras e evitar aglomerações pode não ser confortável, concordo. Mas é um preço muito baixo a se pagar para podermos, pelo menos, reunir uns poucos parentes no fim de ano, ter lugares para passear nas férias (e termos escolas abertas para quando elas acabarem), manter o comércio funcionando. Os maiores estragos das variantes ocorrem em lugares com menos restrições, como se não houvesse mais pandemia.
Fica a lição: na vida e na pandemia, quanto maior o descuido, mais forte bate o prestenção!

Fonte: https://emais.estadao.com.br/blogs/daniel-martins-de-barros/variante-de-prestencao/

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