A experiência debilitante de ser traído pelos
próprios amigos e amados necessariamente virá a vida de cada crente. Baseio
esta observação em muita experiência na vida cristã e no ensinamento claro e
simples da Palavra de Deus. É uma descoberta interessante aprender que a
palavra "trair" e suas formas derivadas são empregadas somente em
relação à traição de Jesus por Judas, com uma exceção em Lc 21:16. Nesta
passagem profética, a palavra é empregada para retratar o final da era da
graça, e é identificada como uma das marcas características ou sinais da vinda
do Senhor Jesus Cristo. No versículo lemos simplesmente o
seguinte: "E sereis entregues (traídos) até por vossos pais, irmãos,
parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós."
É terrível aguardar tal acontecimento, mas essa é a
promessa clara da palavra de Cristo. A era da graça vai findar com um engano
religioso mundial. Será uma hora de grande falsificação - hora perigosa em que
se resistirá à verdade por engano e engenhosidade (estudar as palavras de Paulo
em 2 Tm 3:1-18).
Creio que todo homem em quem Jesus habita terá nestes
últimos e terríveis dias o seu próprio Judas particular; pois no dia de engano
e falsificação será preeminente o irmão falso. Além disso, traição é a
experiência comum de todo homem que Deus já usou em qualquer época para a sua
glória.
Nosso texto em Lc 21:16 diz que a traição vem por
intermédio de "pais, irmãos, parentes e amigos". Fato espantoso, mas
verdadeiro e com boa razão. Em primeiro lugar, nossos inimigos não podem nos
trair. Não lhes permitimos se aproximarem suficientemente dos nossos corações.
Não temos intimidade suficiente com nossos inimigos. Compartilhamos do nosso
coração com os nossos irmãos e amigos. Já que nossos inimigos não nos podem
prejudicar, são os nossos amigos que nos ferem.
Assim disse o salmista em Sl
55:12-14: "Com efeito, não é inimigo que me afronta: se o fosse, eu o
suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta contra mim pois dele eu me
esconderia; mas és tu, homem meu igual, meu companheiro, e meu intimo amigo.
Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à casa de
Deus."
Da mesma forma, toda a história da Bíblia repete o
fato da traição que vem por intermédio dos nossos amigos. Abel foi traído pelo
seu irmão único, Esaú pelo seu irmão gêmeo, Isaque pelo próprio filho, Urias
pelo rei em quem ele confiava e pela sua bela esposa. Jesus por seu discípulo
dedicado, Paulo por "falsos irmãos". Não precisamos prosseguir, pois
esta verdade solene e grave permanece: frequentemente são nossos amigos que se
levantam contra nós e desta forma multiplicam nossas aflições na vida cristã.
O MÉTODO DA TRAIÇÃO
O método será sempre o mesmo. Em primeiro lugar, os
nossos traidores escolherão cuidadosamente a hora. No caso de Jesus, ele foi
traído justamente na hora precisa da sua vida, quando ele precisava mais do que
nunca de comunhão com outros homens (Mc 14: 37); na hora da sua maior
necessidade; e quando ele estava no limiar da sua maior obra (Calvário).
Os nossos traidores também conhecem o lugar de nos
atacar. Jo 18: 2 mostra que Judas conhecia o lugar secreto do refúgio de Jesus.
Eles nos observam e conhecem o nosso lugar de agonia e oração; tendo assim a
vantagem da intimidade, atacam-nos num lugar oportuno.
Seu instrumento de traição será sempre o beijo.
Encoraja-nos por seu amor para que possam nos atacar num momento em que estamos
desprevenidos. A Palavra de Deus diz: Até o meu amigo íntimo, em quem eu
confiava, que comia o meu pão, levantou contra mim o calcanhar" (Sl
41:9).
Há um quadro precioso retratado aqui pelas palavras
deste versículo. O sentido original é de um cavalo doméstico de confiança escoiceando
maliciosamente um amigo confiante e despercebido, pelas costas.
VITÓRIA SOBRE O TRAIDOR
Qual foi o fim de Judas? A história registra seu
fim trágico, mas encoberto pela obscuridade aparente dos relatos sumários da
sua morte, se encontra um drama que tem permanecido demasiadamente oculto.
A fim de colocar este drama na sua devida
perspectiva, devemos examinar ligeiramente o relacionamento que existia entre
Jesus e Judas. Jesus escolheu Judas e orou por ele (Lc 6:12,13), assim como ele
fez também por Jerusalém que o rejeitou e por aqueles que o crucificaram. Jesus
desejou que Judas comesse a última páscoa com ele (Lc 23:14,15), amou-o e
ofereceu-lhe o lugar de amor e comunhão à mesa no cenáculo da páscoa (Jo
13:26). Jesus lavou os seus pés (Jo 13:5) e desta forma expressou-lhe um amor
não fingido e verdadeiramente digno do Filho de Deus. Jesus concedeu a Judas
reconhecimento total e nunca o apontou como seu futuro traidor, referindo-se a
Judas como o seu "amigo" (Mt 26:50). Meditação cuidadosa sobre os
acontecimentos que antecederam à traição revela que Jesus ofereceu a Judas toda
demonstração de amor possível, e, que ele não quis repudiá-lo mesmo no momento
do seu crime.
Jesus ensinou em Mt 5:44 que devemos amar os nossos
inimigos, e ele mesmo praticou tudo o que ensinou sobre este assunto. Ainda que
soubesse, bem antes o mal que Judas praticaria contra ele, demonstrou-lhe o seu
amor genuíno de toda forma possível.
Em Marcos 14:45 Judas conspira para trair Jesus com
um beijo. Há duas palavras na língua original que podem ser traduzidas como
"beijo". Uma significa o beijo da amizade e a outra significa um
beijo fervoroso ou o beijo do verdadeiro amor. Agora, venha a Getsêmani e veja
a cena final. Judas chega com a multidão armada de espadas e cacetes para
prender Jesus. Judas sauda Jesus e beija-o; porém, de acordo com o original,
não com o beijo da amizade conforme havia combinado, mas com o beijo de amor
genuíno. Só a eternidade poderá revelar o que sucedeu naquele momento no
coração de Judas. Possivelmente, diante das tochas tremeluzentes, Judas
percebeu no rosto de Jesus a verdade assustadora de que, apesar da sua traição,
Jesus ainda o amava, pois lhe chamou de "amigo". Jesus é levado
embora e Judas clama, dizendo que traíra sangue inocente; descobriu que o amor
de Jesus por ele era real. Seu coração sofreu, sem dúvida, um abalo esmagador e
agora lhe é impossível racionalizar sua loucura ou justificar seu feito
infame.
Será que Judas se matou? Parece-me claro que Judas
morreu sob a força do amor irresistível de Cristo. Judas destruiu-se porque não
podia mais viver consigo próprio nem com os outros - e tudo isto resultou da
operação do amor não fingido do Senhor Jesus Cristo. Parece-me que as palavras
em Romanos 12: 20, 21 neste contexto, de repente se tornam claras: "Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome,
dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto,
amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas
vence o mal com o bem."
Não se cumpre assim aquela palavra que afirma:
"porque as armas da nossa milícia não são carnais..." (2 Co 10:4), e:
"o amor jamais falha" (1 Co 13:8)? De fato, precisamos
desesperadamente firmar nos nossos corações que a Palavra de Deus é verdade. Só
damos mais razão ao ódio dos nossos inimigos e motivo à traição dos nossos
amigos quando retribuímos o mal com o mal.
A NECESSIDADE DA
TRAIÇÃO
Há uma outra consideração no fato da traição de
Judas. Ele foi escolhido pelo Senhor Jesus Cristo, ainda que o Senhor soubesse
de antemão que Judas havia de traí-lo (Jo 6: 64). Na minha própria experiência
pessoal de traição por intermédio de um amigo, o querido Senhor mostrou-me esta
verdade preciosa. Enquanto eu estava passando pelo fogo desta prova, fui
deitar-me certa noite, meditando melancolicamente a respeito daquela pessoa que
professava me amar e que usou essa confissão para trair-me as mãos de inimigos.
Durante a noite, acordei orando e recebi a resposta por meio destes
pensamentos: o Senhor Jesus escolheu os seus próprios amigos e sabendo de
antemão da traição de Judas, escolheu-o assim mesmo! Ele disse dos seus
discípulos que os escolheu em número de doze, mas que, um deles era diabo. Eu
fui instruído a agradecer a Deus por aquele diabo, pois era necessário ao ministério
de Jesus, e igualmente por meu traidor, visto que certamente eu precisava dele
na minha vida também.
Que necessidade poderia ter o crente de ser traído
por amigos ou parentes, que propósito aproveitável teriam a dor e a tristeza de
um coração ferido? Perguntei essas coisas naquela noite e encontrei respostas
que vieram ao encontro das necessidades do meu coração. Temos de reconhecer a
fidelidade do Espírito Santo nas nossas vidas. Considere o fato de que Jesus
nunca foi enganado por Judas. "Pois Jesus sabia desde o princípio quais eram
os que não criam, e quem o havia de trair". (Jo 6:64).
Estou certo de que em cada experiência de traição
na vida de um crente, ele poderá olhar em retrospecto e se lembrar dos avisos
fiéis do Espírito Santo. Num caso, recordo-me que eu poderia ter sabido desde o
princípio se tivesse apenas prestado atenção ao testemunho do Espírito no meu
interior. Quem poderá explicar a natureza de uma advertência ou alarme de Deus
dentro da sua alma contra um falso irmão? Isto não se exprime facilmente
através de palavras, mas todo santo conhece a inquietude e desassossego que o
raciocínio não pode apagar a respeito de alguém que professa ser seu amigo. A
experiência da traição põe em evidência a verdade de que a aceitação pública no
meio dos crentes, o emprego do vocabulário comum entre os santos, a realização
de obras religiosas, a pregação da palavra, ou qualquer outro sinal exterior
que normalmente constitui uma "prova" da salvação e probidade de
alguém, nem sempre manifestam a situação verdadeira. "... porque o homem
vê o exterior, porém o Senhor, o coração" (l Sm 16:7). Reconheçamos em cada pessoa a posição que ela mesma
professa ter diante de Deus, porém nunca devemos ultrapassar o testemunho do
Espírito de Deus nos nossos corações em relação ao nosso relacionamento com
outros. Lemos nos evangelhos de muitos que vieram a Jesus e professavam ter fé
nele, baseados puramente nos milagres que ele realizava e não numa fé real de
coração em Cristo como o Filho de Deus. Atraídos apenas pelos efeitos das suas
obras exteriores, consideravam-se seus seguidores: "Mas o próprio Jesus não se confiava a eles,
porque os conhecia a todos. E não precisava de que alguém lhe desse testemunho
a respeito do homem, porque Ele mesmo sabia o que era a natureza humana" (Jo. 2:24.25).
Nossa obrigação é não abrir os nossos corações a
toda pessoa que deseja penetrar no nosso homem interior, mas pelo contrário,
permitir que nossos corações sejam inclinados aos outros pelo Espírito Santo
que nunca falhara em nos advertir sobre aqueles que procuram nos enganar.
Aprendam os que "comunhão" é obra do Espírito Santo e não do homem.
Não procuremos estabelecer comunhão sem o seu auxílio e nem a rejeitemos quando
claramente ele está criando uma ligação entre os nossos corações e outros no
corpo de Cristo.
Por que precisamos da traição? Talvez possamos ver
um raio de luz através das palavras de Pedro na sua primeira epístola, quando
ele declara que "se necessário, sejais contristados por várias
provações". Isto é necessário porque, como ele explica com tanta
perfeição, tais experiências dilacerantes e doídas produzem fruto tanto
presente como futuro. No futuro, essa prova da nossa fé, como ouro depurado por
fogo, sairá da fornalha da aflição como louvor, glória e honra para o Senhor
Jesus Cristo na sua vinda. Se pudéssemos apenas tomar posse deste tremendo
potencial no meio das nossas provas, que diferença haveria nas reações dos
nossos corações ao desafio do momento? Mas, além disso, (graça sobre graça), as
provas duras da vida têm o propósito de realizar uma obra tão necessária a
todos nós - a obra de aumentar o nosso amor e gozo nesta vida presente. Leia 1
Pe 1:6-8 e lembre que de cada fornalha de aflição saímos amando o Senhor como
nunca antes e regozijando-nos na realidade da sua comunhão.
Precisamos da experiência da traição para que
aprendamos a verdadeira submissão ao Senhor. A maior oração que um filho de
Deus pode fazer é a oração do filho perfeito: "... sim, ó Pai, porque
assim foi do teu agrado" (Lc 10:21). Quando podermos assim clamar do
íntimo dos nossos corações feridos, saberemos que o amargo já passou e que
triunfamos; pois a nossa submissão á vontade do Pai nas nossas vidas traz
vitória sobre todo ataque que vier contra nós (ver 2 Co 2:14).
Leia 2 Co 4:15-18, onde encontrará outras razões que
justifiquem os grandes desapontamentos e frustrações aparentemente
inexplicáveis da vida. Paulo põe as nossas mágoas e tristezas de coração na
perspectiva certa ao dizer-nos que não estamos sendo atacados no homem
exterior, mas sim, no interior. Freqüentemente estremecemos por causa do medo
das "conseqüências disto tudo na minha vida" e nos esquecemos de que
nas horas de provação e dificuldade nada poderá atingir o homem interior, se
tivermos nos revestido dá armadura de Deus. Estas coisas duram apenas um
momento em comparação à eternidade e um dia operarão um eterno peso de glória.
Estas águas profundas só servirão para erguer os nossos olhos dos laços
terrenos e das "coisas" deste mundo e firmá-los sobre valores
eternos. O inimigo gostaria de nos acabrunhar e escurecer a nossa razão,
fazendo-nos concentrar a nossa atenção sobre os detalhes temerosos da
experiência exterior.
Dessa forma, enquanto nos ocupamos com
preocupações inúteis sobre o exterior, freqüentemente somos feridos no homem
interior, e consequentemente derrotados. Quantos santos têm sobrevivido aos
ataques exteriores apenas para caírem, feridos mortalmente por amargura,
ressentimento, malícia e um coração que não perdoa. Nas horas de traição, que
os santos aprendam em 1º. lugar a cingir os lombos da sua mente em Cristo e a
apropriar-se de toda a armadura de Deus, que na verdade significa se revestir
de Cristo em toda a sua força e vigor.
A BÊNÇÃO DA TRAIÇÃO
Considere a benção que a traição traz quando
aprendemos através dela a reconhecer tão somente a mão do nosso amoroso Pai que
está no céu, em todas as coisas. Damos muitas vezes mais glória ao diabo, ao
mundo e à carne nas circunstâncias das nossas vidas do que merecem. Culpamos os
nossos inimigos quando somos esbofeteados; mas recebemos grande paz e quietude
de coração quando nos recusamos a reconhecer causas secundárias nas nossas
vidas. Deus é soberano e ele é nosso Pai. Ele se agradou em permitir que essas
coisas nos acontecessem é a nossa parte é crer que " ... todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus e daqueles que são chamados segundo o seu
propósito" (Rm 8:28).
Na bênção dessa quietude, Davi suportou com um
espírito paciente a maldição de Simei e proibiu que se retribuísse mal algum
pelo mal praticado. Davi viu apenas uma mão atrás de tudo isso - a mão amorosa
de Deus operando o bem através do mal de Simei.
José foi cruelmente traído pelos seus irmãos,
lançado numa cova e vendido como escravo, para depois ser favorecido por
Potifar e outra vez maliciosamente traído pela sua esposa. Lançado no cárcere,
ele se tornou amigo do mordomo do rei e brevemente conheceu a agonia do beijo
mais uma vez. Mas os anos passaram e o Senhor se lembrou de José e o exaltou ao
trono do Egito em vitória. O segredo bendito da sua sabedoria, sim da sua
paciência triunfante e conquistadora é revelado nas suas palavras aos seus
irmãos: "Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o
tornou em bem." (Gn 50:20).
Pedro manifestou essa mesma verdade na sua
perspectiva da cruz do calvário. Mesmo acusando a nação de ter tomado Jesus com
aos de iníquos para crucificá-lo e matá-lo, Pedro não viu nisto nenhuma vitória
de Satanás; porém, anuncia triunfantemente que o Senhor Jesus Cristo foi
"... entregue pelo predeterminado desígnio e presciência de Deus" (At
2:23).
E assim, mui amados santos de Deus, que neste
momento se encontram em perplexidade por causa da traição de um amigo,
reconheçam nesta hora que Deus bem poderia ter impedido o acontecimento se
assim quisesse, mas o permitiu para o, seu bem. Regozijem-se nesta bênção, pois
ele está aceitando-os como filhos e preparando-os como instrumentos de conforto
e consolação a outros (2 Co 1:3,4). Ele tem agraciado assuas vidas com o
privilégio glorioso de compartilhar dos sofrimentos mais íntimos de Cristo (Fp
3:10). Esta comunhão é dada a um grupo selecionado, pois nem todos gozam o
privilégio de conhecer a agonia da traição, cuja finalidade é levar-nos a
compartilhar em alguma medida a profundidade do amor de Cristo. Seu traidor
intentou-lhe mal, mas Deus tornará tudo para o bem; e como Jesus escolheu Judas
porque ele precisava daquela traição na sua própria vida, da mesma maneira Deus
na sua fidelidade tem escolhido os nossos traidores - pois ele sabe muito bem
que se deixasse a escolha para nós, nunca teríamos aceitado.
Mas alguém pergunta: "Escolheu os nossos
traidores? Que bem podem fazer a nós?'' Você se esqueceu que a traição de Judas
levou Jesus Cristo à sua maior obra e desencadeou os eventos que cumpriram os
Propósitos eternos de Deus em Cristo? A redenção eterna pelo sangue de Cristo
foi o fruto daquele ato infame de Judas!
O fato permanece que nossos amigos não
farão isto por nós. Somente os nossos inimigos nos entregarão à dor de
circunstâncias além do nosso controle, desta forma realizando ou prestando um
verdadeiro serviço aos santos de Deus.
Foi um traidor que me entregou às circunstâncias
que transformaram o curso do meu ministério e me libertaram à maior obra da
minha vida. Foi um traidor que trouxe sofrimento à minha vida, cujo resultado
foi a minha libertação da dependência de homens e que me tornou livre no
Senhor!
A bênção da traição? Só Deus poderia fazer assim,
mas eu descobri que o paradoxo destas palavras contém uma realidade. A traição
às mãos daqueles em quem temos confiado o nosso coração, pode trazer uma bênção
impossível de se conter. Através da traição aprendi o que o salmista quis dizer
quando cantou: "Com isto conheço que tu te agradas de mim; em não triunfar
contra mim o meu inimigo" (Sl 41:11).
Também o que o profeta quis dizer quando escreveu:
"Toda arma forjada contra ti, não prosperará; toda língua que ousar contra
ti em juízo, tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor, e o seu
direito que de mim procede, diz o Senhor" (Is 54:17).
Através da traição aprendi que a força e graça do
Senhor Jesus Cristo na minha vida só podem ser operadas através da bênção da
fraqueza que é produzida pelas bofetadas do mensageiro de Satanás como um
espinho na carne (2 Co 12:7).
Através da traição somos preparados para a benção
de sermos usados para confortar outros que atravessam a mesma prova da sua fé,
com a mesma consolação que nós mesmos recebemos de Deus (2 Co 1:4).
Através da experiência de traição por falsos
amigos, recebi uma das maiores bênçãos da vida ao aprender como amar aos meus
inimigos e abençoar os que me perseguem.
Quando se concretizar a benção da traição, olharmos
em retrospecto, e virmos o quanto colhemos na multiplicação de alegria, amor,
graça, força e comunhão com o querido Senhor Jesus, nos sentiremos abismados
pelo reconhecimento do bem imensurável que nosso traidor tem operado em nosso
favor.
Não importa quais foram as suas intenções.
Importante é o fruto bendito que ele introduziu nas nossas vidas.
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Esta mensagem foi traduzida por John Walker do original em inglês:
The Blessing of Betrayal
Copyright by H.L.Roush
Em março de 1967
Fonte: http://ichtus.com.br/publix/ichtus/mensagem/traicao.html
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