Qual é o verdadeiro sentido do Natal?
Date: Tue, 20 Dec 2005
Uma fraude - é assim como às vezes me sinto. Como é que pode? Uma pessoa que se diz cristã, que tem buscado amar a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento, fazer coisas tão horripilantes? Claro, nada comparável com o passado - uma pessoa que dava 1 piti por hora (24 por dia) rs - deu 4 no último mês: 1 no supermercado pão de açúcar, 1 nas lojas americanas do shop. iguatemi (em ambos com "gente fina e elegante" tentando furar a fila), 1 com uma criança na fila de entrega de brinquedos do natal dos sonhos e a última, 1 bate-boca federal com um taxista - o que é isto, companheira?! Agora deu para virar refém do comportamento dos outros, de situações que fogem ao seu controle? Francamente!
Signo x significado - qdo fiz semiologia da imagem, discutimos a diferença de um e de outro, e falar sobre isto parece muito apropriado porque me pergunto se o que vivi nestes últimos dias remetem ao verdadeiro sentido do Natal. Como é fácil sermos abduzidos pelos valores dos outros! Sem a gente se dar conta (falo por mim), caí de boca nas compras de Natal (todas feitas de coração), mas até que ponto a maneira como vc faz não tira a essência do seu gesto? Natal é tempo de ver o menino Jesus - que é o próprio AMOR - nascer em cada relacionamento. E se viver é uma maneira deste amor se tornar realidade, como explicar estes acessos de fúria, de pessoa sem noção?
A máscara por baixo da burca - me pergunto até que ponto minhas escolhas não são permeadas por rituais do que pela essência em si. Será que tenho sido hipócrita? Será que a máscara está tanto tempo colada na cara que não sei mais diferenciar quem sou eu de verdade? Talvez o grande desafio de 2006 seja aprender a ser livre: amar sem esperar ser amada, doar sem esperar reconhecimento e tb uma oportunidade de descobrir a minha verdadeira identidade (filha amada do Pai). Às vezes existe tanto medo de expor que a melhor muleta é colocar uma máscara por baixo da burca e a máscara que precisa cair agora é: por que tenho de passar o Natal com a família? Por que todo mundo passa? Por que é bonitinho? Por que é isto que Deus espera? Por quê? Se a minha mãe parece não se importar - ultimamente tem brigado com todo mundo - para que me expor a uma situação que sei que vou chutar o pau da barraca (hehehe por baixo de uma burca fashion pode existir uma taleban fundamentalista)!
No entanto, descubro que não é assim que tem de ser, isto é uma visão simplória e fatalista, como se não tivesse direito de escolha. Não significa que tenha de abrir mão daquilo que acredito por causa do comportamento do outro. Ninguém precisa ser refém do mau-humor de ninguém. É importante me dar conta de que vou lá porque quero, porque amo a minha família independente de como seja (não como eu quero ou gostaria) e que a bagunça de lá não é uma afronta à minha pessoa cujo objetivo é me irritar ou tirar do sério. Eles são o que são; a casa é deles e não minha. Isto me ajudará a manter a sanidade. Me dou conta que o amor do Pai talvez seja assim comigo: Ele não gosta da bagunça que vê dentro (aquele sótão interior), mas mesmo assim me ama e aceita como sou. Talvez 2006 seja um convite para abrir mão da tapera (rs) e reciclar os sentimentos.
O verdadeiro sentido do natal é que o Deus de AMOR - Emanuel Deus conosco - se tornou carne para resgatar a humanidade. De sentimento e discurso, passou para a ação. E veio como bebezinho porque não existe nada mais inofensivo do que um nenê!
O nascimento de Jesus não foi um acontecimento extraordinário: Ele nasceu na época mais corrompida (legalistas distorcendo todo o significado da Palavra), na calada da noite, na menor cidade (Belém), no lugar mais humilde (manjedoura de uma estrebaria) - no entanto, nesta simplicidade, os elementos mais essenciais estão lá: o amor, o cuidado, a alegria e o acolhimento carinhoso de Maria e José. Talvez eles estivessem assustados, talvez não soubessem como iriam criar aquele bebezinho... e olha que fofo: da mesma maneira que Deus usou Isabel para encorajar Maria (Lc 1), as visitas dos pastores (Lc 2) e dos magos (Mt 2) tb foram uma espécie de encorajamento.
A maluquice da época é que os magos e os pastores eram considerados impuros pela sociedade judaica (interessante notar que temos - eu pelo menos - a péssima mania de classificar as pessoas). Só que esta maneira de ver a vida é muito limitada, a gente acha que encontra segurança e comodidade (para não ter de pensar tanto) e sem querer, aprisiona os outros aos nossos pré-conceitos, não damos o direito deles nos surpreenderem ou terem liberdade de serem o que são (e não o que gostaríamos ou esperávamos que fossem).
Os magos são os gentios que representam a riqueza, a sabedoria e o conhecimento que se rendem ao Filho do Deus vivo. A estrela guia é um sinal de que a natureza se curva diante do Criador e de que estes estrangeiros voluntariamente sujeitam-se à verdadeira soberania. Os magos ainda não tem a visão completa e, da sua maneira limitada, buscam a Deus de todo o coração, de todas suas forças e de todo o seu entendimento. Jesus nasceu e morreu por causa deles.
Os pastores são os excluídos, os marginalizados (naquela época, os rituais de purificação eram bem rígidos). Eram pobres, pessoas simples, sensíveis, de coração aberto (ouviram e foram atrás do sinal que os anjos revelaram), fiéis para cuidar do rebanho (quem é fiel no pouco, é fiel no muito) tanto é que Jesus adulto se auto-intitula o Bom Pastor, aquele que dá a Sua vida pelas ovelhas (Jo 10: 11). Sim, Jesus tb nasceu e morreu por eles.
O nascimento de Jesus abarca a todos. Inaugura uma época em que ricos e pobres, estrangeiros e excluídos, sábios e simples adoram juntos a Emanuel Deus conosco. Os anjos anunciam "Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra entre os homens a quem Ele quer bem"(Lc 2: 14). A paz é um convite a todos que O buscam e O adoram em espírito e verdade.
Este é o convite que o Pai faz a vc e a mim neste Natal. A minha oração é para que o seu coração em 2006 (como o meu) se torne cenário de encontro, de acolhimento a todas as tribos, raças e nações.
Talvez vc pense como eu: mas e a minha favela interior (rs)? Sim, porque todo mundo tem pelo menos um cantinho onde esconde a bagunça, né (joke)!
Chérie, Jesus nasceu numa estrebaria. O convite de Natal começa em seu coração e o filho de Deus mostra que o mais importante não é onde estamos ou o que fazemos ou o que temos. E Jesus não nasceu numa manjedoura e morreu numa cruz pelo que somos (no meu caso, uma miserável que acha que dá conta do recado sozinha) mas pelo que viremos a ser. O Pai olha o pacote completo (passado, presente e futuro) e siiiiim, aquele que começou a boa obra - em mim, em vc, em nós - irá terminar até o retorno do nosso Senhor (Fp 1: 6).
Por isto abra seu coração para Jesus entrar. Se estiver punk porque a bagunça da favela emperrou a porta (rs), peça ajuda ao Pai. Tenho certeza de que abrindo espaço, vc receberá os presentes que Ele quer te dar em 2006. Que este seja o Natal mais feliz da sua vida!
Beijão,
KT