May 31, 2006

Como uma criança assim eu quero ser...

... como uma criança irei renascer!
Jesus... ficou indignado e lhes disse: Deixem vir a mim as crianças
Marcos 10:14
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Fico pensando nas vezes que fiquei indignado com alguém ou alguma coisa e, depois, com a cabeça fria, pensei: Eu tinha o direito de ficar tão bravo assim?
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Jesus determinou a seus discípulos que ensinassem o princípio do Reino. O Reino de Deus não pode ser conquistado por mérito próprio.
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Sempre dizemos que acreditamos em Deus e na sua Palavra, mas nós a praticamos? A salvação é um dom, mas parece que apenas as crianças acreditam na natureza desse dom. Observe a felicidade no rosto de uma criança abrindo um presente!

A não ser que ela tenha sido ensinada a pensar diferente, ela simplesmente se alegra com o presente, sem dizer: Eu também deveria te dar um presente. Jesus entendia as crianças. Ele não as via como intrusas. Seu Reino pertence a todos os que recebem as bênçãos de Deus como uma criança.
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Pequenas crianças aceitam sua impotência e pedem ajuda. Mas não demora muito para dizerem: Eu consigo fazer isto sozinho.

Devocional Cada Dia

Fonte: http://www.chacaraprimavera.org.br/destaques/reflexao.shtml

May 30, 2006

Compromisso de amor

Qual é o tamanho do seu amor?
Vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=fwp9jl3aRfo

A cruz é este paradoxo onde a gente aprende que é impossível uma relação de amor sem horror.

Quem quer amar sem sofrer, não vai amar.
Quem quer amar sem ser cuspido na cara, não vai amar.
Quem quer amar sem ser rejeitado, não vai amar.
Quem quer amar sem ser traído, não vai amar.
Quem quer de fato amar sem ter de conviver com a necessidade constante de perdoar, não vai amar.
Quem quer amar sendo compreendido sempre, não vai amar.
Quem quer amar sendo tratado com justiça sempre, não vai amar.
Quem quer amar sem ter pedaços de si arrancados, não vai amar.

Então vc diria: que dura coisa é amar! A menos que o amar seja um ato voluntário. Porque cada pedaço arrancado, a gente diz: não foi vc quem arrancou, fui eu que deixei vc arrancar. Porque eu te amo.

A cada injustiça, a gente diz: não foi vc que não me entendeu, não foi vc que me ofendeu, não foi vc que me agrediu, mas eu entendo que vc é incapaz de enxergar e eu estou disposto a amar assim.

Vc não faz de mim gato e sapato, eu estou escolhendo pagar o preço de te amar. Não é que não estou vendo tudo o que vc faz comigo, contra mim. Não é que eu estou iludido de paixão. Eu tomei uma decisão de amar. E se vc pensa que me controla, vc está enganado. É que vc ainda é cego e eu espero que te amando, os teus olhos se abram.

Por isto que há muita gente infeliz. Que quer amar sem sofrer, quer amar sem se dar. E abre mão de qq relacionamento de amor tão logo começa a doer, tão logo exige sacrifício, tão logo exige renúncia, tão logo exige perdão. É porque não consegue transformar estas exigências todas em ato voluntário. E já não chama mais de sacrifício.

É dom de si, é oferta de si mesmo. É uma oferta de si mesmo porque há uma aliança com o Pai e há um compromisso com a ovelha.

Meu filho, sabe por que vc faz tudo isto comigo? É porque eu te amo.

E sabe quando é que vc vai conseguir despertar ódio no meu coração ao seu respeito? Nunca. Porque eu tenho uma aliança com meu Pai e eu tenho um compromisso de amor com vc.


- pr. Ed René Kivitz

Fonte: Trecho da mensagem O paradoxo da cruz de Cristo (João 10: 14-21) ministrada na IBAB no dia 02/10/05 às 10h.

May 26, 2006

O prazer de estar junto x scripts mentais

O prazer de estar junto x scripts mentais
- Anônimo


Você já deve ter percebido que muitas das atitudes que tomamos diariamente provêem de receitas prontas em nossa mente, sobre o modo de agir em determinado aspecto. Este roteiro mental que vamos desenvolvendo como o caminho certo para os vários assuntos com que nos deparamos rotineiramente, pode ser chamado também de script mental.

Noto que diversas pessoas reclamam que minha cadela late muito na vizinhança. Aos poucos vou criando um roteiro de como não a deixar latir, para não incomodar os outros. Desta forma, acabo acreditando que o roteiro, o script que criei, é a "receita perfeita" para que ela não lata, e sempre que não consiga implementar esta receita, me irrito com tudo e com todos, inclusive com a minha cadela, que acaba pagando o pato, e às vezes até apanhando, por causa disto.

A verdade é que com um script mental, ficamos cegos para o resto acreditando que só aquele caminho traçado e percorrido evitará o latido. Na psicologia, é assim que desenvolvemos a Neurose. Pois toda vez que saímos do script previsto, temos um ataque de nervos (o que vai se ampliando com o tempo). Por outro lado, porque na maioria das vezes esta cadela late? Se prestarmos a atenção, veremos que ela late exatamente porque quer atenção, quer estar junto, quer carinho, quer demonstrar o seu amor por nós. E o mais interessante é que, mesmo depois de ter apanhado, ela nos tratará como se nada tivesse ocorrido, demonstrando todo o seu incondicional amor.

Mas espera um pouco.

Veja se vc não tem esta mesma atitude com as pessoas que te cercam! Por exemplo, tracei um script de como minha filha deve se comportar para que a considere dentro do meu parâmetro do que uma filha legal deve fazer, e de repente, me vejo discutindo com ela, e às vezes até virando a cara na hora em que ela mais precisa de mim, e por quê? No fundo é porque ela fugiu do que considero certo para sua vida em meu script. Mas pera aí, a vida não é dela? E o seu livre arbítrio? Será que ela não está agindo assim porque, como a querida cadela, necessita mais de minha atenção, de meu amor, do meu carinho, e não enxergo outra coisa, a não ser o script que criei para ela?

Este final de semana, meu gato me ensinou algo a este respeito. Fiquei muito bravo com ele, porque miava muito, pulava o muro toda hora e fui desenvolvendo uma raiva por ele. Cheguei a quase judiar dele, com alguns tapas a mais. Pois bem, ontem estava num momento de relaxamento no sofá da sala e deixei-o entrar, depois de muita insistência. Ele entrou pela janela como se nada tivesse ocorrido. Sentei no sofá e ele de pronto pulou no meu colo. Começou com aquela sessão de amassa pão, se ajeitou e deitou no meu colo, com o maior ar de satisfeito. Ao sentir aquela energia de amor, pude nitidamente perceber que, fora aquele maldito script meu para com ele, o que sobrava era o puro amor.

Estes scripts acabam sendo o 1o. degrau para o pré-conceito que podemos desenvolver em vários assuntos. Portanto, às vezes, pare um pouco. Pense se não anda afastando sua esposa, seus filhos, seus parentes, seus melhores amigos, seus animais, em função de um destes scripts. Permita-se deixar um pouco de lado o script e sentir o prazer de estar junto - apenas estar junto - e perceberá que fora isto, o resto é tudo script.

May 25, 2006

Quem vai se alegrar qdo vc viver?

Quem vai se alegrar quando você viver?
"Alegrem-se com os que se alegram e chorem com os que choram"

Romanos 12.15

Deixei na prateleira da livraria o título “Quem vai chorar quando você morrer?”. Trouxe pra casa a rápida reflexão sobre o oposto verdadeiro e provavelmente mais importante. Quem vai se alegrar quando você viver?

Lembrei-me de um texto que li há tempos atrás cuja afirmação central era de que mais difícil do que chorar com os que choram é se alegrar com os que se alegram, porque a dor de alguém, em sua perda ou fracasso não afeta a auto-estima de quem pretende ser solidário, a não ser no caso de fazer bem ao ego que morbidamente se alegra, ainda que finge se entristecer, com a dor-perda-fracasso de alguém que simboliza em sua auto-percepção a sua ascenção diante da decadência deste alguém. É a síndrome de Caim, que quando vê o irmão como melhor do que si mesmo ao invés de melhorar, prefere ver a morte do irmão acreditando tolamente que a ausência de forças do concorrente o faz um melhor campeão. De fato, e de acordo como mau tratamento de nossas emoções e sentimentos mais espúrios, podemos até chorar com alguém que chora enquanto nos alegramos interiormente com a situação.

Mas alegrar-se com quem se alegra exige plena segurança e consciência sadia de que a vitória e o ganho do outro não diminui quem somos. Poder se alegrar com alguém que é promovido quando não fomos, com alguém que recebeu a notícia da gravidez quando nós não, com quem vai se casar enquanto nós ainda não, enfim, compartilhar da alegria do outro sem sentir inveja é mais difícil e é o melhor sinal de integridade interior, de saúde espiritual e de amizade.

E feliz é quem pode ser feliz sem se sentir culpado por sua alegria incomodar os que não foram afortunados do mesmo modo. Feliz é quem tem por perto gente que festeja sua vitória, enquanto se está vivo, porque é mais difícil se alegrar com a alegria de alguém do que chorar em seu velório.

© 2006 Alexandre Robles

Fonte: http://www.atual.info/

May 23, 2006

Espaço para Deus

ESPAÇO PARA DEUS
- por Henri Nouwen

INTRODUÇÃO

Portanto não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos? porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mt 6:31-33).

Neste livreto eu gostaria de explorar o que significa viver uma vida espiritual, e como se pode vivê-la. No meio das nossas vidas agitadas e turbulentas às vezes indagamos: Qual a nossa verdadeira vocação na vida? Onde podemos achar tranqüilidade de mente para poder escutar a voz de Deus que chama? Quem pode guiar-nos através do labirinto interior dos nossos pensamentos, emoções, e sentimentos? Estas e muitas outras indagações semelhantes expressam um profundo desejo de viver uma vida espiritual, mas ao mesmo tempo uma grande obscuridade sobre seu significado e prática.

Escrevi este livreto, em primeiro lugar, para os homens e mulheres que experimentam um impulso persistente para entrar mais profundamente na vida espiritual mas que estão confusos sobre a direção em que devem andar. Estas são as pessoas que conhecem a história de Cristo e têm um profundo desejo de deixar este conhecimento descer das suas mentes para seus corações. Sentem vagamente que tal "conhecimento do coração" pode não só dar-lhes um novo senso de identidade, mas também até mesmo fazer novas todas as coisas para eles. Contudo estas mesmas pessoas freqüentemente sentem uma certa hesitação e temor para começar nesta vereda sem mapa, e muitas vezes se indagam se não estão se enganando. Espero que este livreto lhes ofereça algum encorajamento e direção.

Mas quero falar também, embora indiretamente, aos muitos que consideram a história de Cristo como desconhecida ou estranha, mas que experimentam um desejo indefinido por liberdade espiritual. Espero que o que foi escrito para cristãos tenha sido escrito de tal forma que haja espaço para outros descobrirem pontos de apoio na sua própria busca por um lar espiritual. Este só pode ser um verdadeiro livreto para cristãos quando se dirige também aos que têm tantas perguntas sobre o significado da vida e que nunca acharam respostas. A autêntica vida espiritual encontra sua base na condição humana que todas as pessoas - sejam ou não cristãos têm em comum.

Como ponto de partida, escolhi as palavras de Jesus: "Não se preocupem" ("Não vos inquieteis"). A preocupação tornou-se uma parte tão integral da nossa vida cotidiana que uma vida sem preocupações não só parece ser impossível, mas até mesmo indesejável. Suspeitamos que ficar despreocupado; não ser realista e - pior ainda – é perigoso. Nossas preocupações nos motivam a trabalhar muito, a preparar-nos para o futuro, e a armar-nos contra pendentes ameaças. Entretanto, Jesus diz: "Não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos? ... pois vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino ... e todas estas cousas vos serão acrescentadas (Mt 6:31-33). Com este conselho radical e "utopista", Jesus indica a possibilidade de uma vida sem preocupações, uma vida em que todas as coisas estão se fazendo novas. Desejo, então, descrever a vida espiritual em que o Espírito de Deus pode nos recriar como pessoas verdadeiramente livres.

Dividi minhas reflexões em três partes. Na primeira parte, quero discutir os efeitos destrutivos da preocupação na nossa vida diária. Na segunda parte, pretendo mostrar como Jesus responde às nossas preocupações par alisadoras, oferecendo-nos uma nova vida, uma vida na qual o Espírito de Deus pode fazer todas as coisas novas para nós. Finalmente, na terceira parte, quero descrever algumas disciplinas específicas que podem levar nossas preocupações a perder paulatinamente sua força sobre nós, permitindo assim que o Espírito de Deus faça sua obra de recriação.

Cap. 1: Todas Estas Coisas

INTRODUÇÃO

A vida espiritual não é uma vida antes, após, ou além da nossa existência cotidiana. Não, a vida espiritual só pode ser real quando é vivida no meio das dores e alegrias do aqui e agora. Portanto, precisamos começar com um exame cuidadoso da forma como pensamos, falamos, sentimos e agimos a cada hora, a cada dia, a cada semana, e a cada ano, a fim de ficarmos mais plenamente conscientes da nossa fome pelo Espírito.

Enquanto tivermos apenas um vago sentimento interior de insatisfação com nossa presente forma de vida, e somente um desejo indefinido por "'coisas espirituais", nossas vidas continuarão a estagnar-se em melancolia generalizada. Freqüentemente dizemos: "Não estou muito feliz. Não estou contente com o rumo da minha vida. Não tenho muita alegria ou paz, mas como não sei como as coisas poderiam ser diferentes, suponho que devo ser realista e aceitar a vida como é". É este espírito de resignação que nos impede de ativamente buscar a vida do Espírito.

Nossa primeira tarefa é expulsar este vago e obscuro sentimento de insatisfação e fazer um exame crítico da forma que estamos vivendo. Isto requer honestidade, coragem e confiança. Temos de honestamente desmascarar e corajosamente confrontar nossas numerosas brincadeiras que usamos para enganarmos a nós mesmos. Temos que confiar que nossa honestidade e coragem não nos levarão ao desespero, mas a um novo céu e a uma nova terra.

Bem mais do que o povo da época de Jesus, nós nesta "era moderna" podemos ser chamados de povo preocupador. Mas como nossa preocupação contemporânea realmente se manifesta? Depois de examinar criticamente minha própria vida e as vidas ao meu redor, duas palavras surgem como descritivas da nossa situação: cheios e não realizados.

CHEIOS

Uma das características mais óbvias das nossas vidas diárias é que estamos atarefados. Na nossa vida os dias são cheios de coisas para fazer, pessoas para encontrar, projetos para terminar, cartas para escrever, telefonemas para completar, e compromissos para guardar. Nossas vidas muitas vezes parecem malas abarrotadas rebentando nas costuras. Na realidade, quase sempre estamos cônscios de algum atraso. Há um sentimento incômodo que importunamente nos avisa que há tarefas incompletas, promessas não cumpridas, propostas não realizadas. Sempre há algo mais que deveríamos ter lembrado, feito ou dito. Sempre há pessoas com quem não falamos, a quem não escrevemos ou não visitamos. Assim, embora sejamos muito atarefados, também temos um sentimento persistente de que nunca realmente cumprimos nossas obrigações.

O estranho, porém, é que é muito difícil não estar atarefado. Estar atarefado tornou-se um símbolo de status. As pessoas esperam que estejamos ocupados e que tenhamos muitos assuntos na nossa mente. Freqüentemente nossos amigos nos dizem: "Imagino que você está ocupado como sempre", e o dizem em tom de elogio. Reafirmam a presunção generalizada que é bom estar atarefado. De fato, os que não sabem o que fazer no futuro imediato incomodam seus amigos. Estar atarefado e ser importante normalmente parecem significar a mesma coisa. Muitos telefonemas começam com a frase: "Sei que você está ocupado, mas será que poderia me dar um minuto?" Com isto, sugerem que tomar um minuto de quem tem uma agenda cheia vale mais do que tomar uma hora de quem tem pouco para fazer.

Na nossa sociedade orientada para produção, estar atarefado ou ter uma ocupação tornou-se uma das principais formas, se não a principal, de nos identificar. Sem uma ocupação, não só nossa segurança econômica, mas nossa própria identidade é ameaçada. Isto explica o grande temor com que muitas pessoas enfrentam a aposentadoria. Afinal, quem somos depois de não mais ter uma ocupação?

Mais escravizadoras do que nossas ocupações, porém, são as nossas preocupações. Estar preocupado significa encher nosso tempo e espaço muito antes de chegar lá. Isto é inquietação no sentido mais específico da palavra. É uma mente cheia de "se". Dizemos a nós iremos: "E se eu ficar gripado? Se eu perder meu emprego? Se o meu f ilho não chegar em casa na hora certa? Se não houver bastante alimento amanhã? Se eu for atacado? Se uma guerra começar? Se o mundo acabar? Se ... ?" Todas essas perguntas enchem a nossa mente com pensamentos ansiosos e fazem-nos indagar constantemente sobre o que fazer e o que dizer caso algo aconteça no futuro. Grande parte, senão a maioria, do nosso sofrimento tem ligação com estas preocupações. Possíveis mudanças de carreira, possíveis conflitos familiares, possíveis enfermidades, possíveis desastres, e um possível holocausto nuclear fazem-nos ansiosos, temerosos, desconfiados, gananciosos, nervosos e melancólicos. Impedem-nos de sentir uma verdadeira liberdade interior. Por estarmos sempre prontos para eventualidades, raramente confiamos plenamente no agora. Não é exagero dizer que grande parte da energia humana é investida nestas preocupações temerosas. Tanto nossa vida individual como coletiva estão tão profundamente moldadas por nossas preocupações com o amanhã, que dificilmente o hoje pode ser vivido.

Não somente estar ocupado mas também estar preocupado é altamente encorajado por nossa, sociedade. A forma que jornais, rádio e televisão nos comunicam suas informações cria uma atmosfera de constante emergência. As vozes excitadas dos repórteres, a preferência por acidentes repugnantes, crimes cruéis, e conduta pervertida, e a cobertura de hora em hora da miséria humana dentro e fora do país, lentamente nos engolfam num senso abrangente de iminente destruição. Além de todas essas notícias ruins existe a avalanche de anseios. Sua insistência inflexível de que perderemos alguma coisa muito importante se ficarmos sem ler este livro, sem ver este filme, sem ouvir este locutor, ou sem comprar este novo produto, intensifica nossa inquietação e acrescenta muitas preocupações fabricadas às preocupações já existentes. Às vezes parece como se nossa sociedade dependesse da manutenção dessas preocupações artificiais. Que aconteceria se parássemos de nos preocupar? Se o desejo por divertir tanto, viajar tanto, comprar tanto, e nos proteger tanto, não mais motivasse nosso comportamento, será que nossa sociedade atual ainda poderia funcionar? A tragédia é que realmente estamos presos num emaranhado de expectativas falsas e necessidades arranjadas. Nossas ocupações e preocupações enchem nossas vidas externas e internas até ao máximo. Impedem o Espírito de Deus de fluir livremente em nós e desta forma renovar nossas vidas.

NÃO REALIZADOS

Sob a preocupação das nossas vidas, contudo, algo mais está acontecendo. Ao mesmo tempo em que nossa mente e coração estão cheios com muitas coisas, levando-nos a indagar como podemos satisfazer as expectativas impostas sobre nós por nós mesmos e por outros, temos um sentimento profundo de não realização. Embora atarefados e preocupados com muitas coisas, raramente nos sentimos verdadeiramente realizados, em paz, ou em casa. Um sentimento corrosivo de não realização está sob a superfície das nossas vidas ocupadas. Refletindo um pouco mais sobre esta experiência de não realização, posso discernir diversos sentimentos. Os mais significativos são enfado, ressentimento e depressão.

Enfado é um sentimento de estar desligado. Enquanto estamos atarefados com muitas coisas, indagamos se o que fazemos realmente faz alguma diferença. A vida se apresenta como uma série aleatória de atividades e acontecimentos desconexos sobre os quais temos pouco ou nenhum controle. Estar enfadado, portanto, não significa que não temos nada para fazer, mas que questionamos o valor das coisas que estamos tão atarefados em fazer. O grande paradoxo da nossa época é que muitos de nós estamos simultaneamente atarefados e enfadados. Enquanto corremos de um acontecimento para outro, indagamos em nosso próprio íntimo se alguma coisa está realmente acontecendo. Embora dificilmente cumpramos com nossas tarefas e obrigações, não estamos tão certos se faria alguma diferença se não as cumpríssemos. Enquanto as pessoas continuam nos empurrando por todos os lados, duvidamos se alguém realmente se importa conosco. Em resumo, embora nossas vidas estejam cheias, nós nos sentimos não realizados.

Enfado muitas vezes está intimamente relacionado com ressentimentos Ao mesmo tempo em que estamos atarefados, ainda indagamos se nossa atividade significa algo para alguém. Facilmente sentimo-nos usados, manipulados, e explorados. Começamos a nos ver como vítimas mandadas e forçadas a realizar toda sorte de coisas por pessoas que realmente não nos consideram seriamente como seres humanos. A partir daí uma ira interior começa a se desenvolver, uma ira que com o tempo se instala no nosso coração como um companheiro constantemente queixoso. Nossa ira quente aos poucos se torna uma ira fria. Esta "ira congelada" é o ressentimento que causa um efeito tão mortífero em nossa sociedade.

Porém, a expressão mais debilitante de nossa não realização é depressão. Quando começamos a sentir que não somente nossa presença não faz muita diferença, mas que também nossa ausência talvez seja preferível, podemos facilmente ser enrolados por um sentimento opressivo de culpa. Esta culpa não tem ligação com nenhuma atividade particular, mas com a própria vida. Sentimo-nos culpados por estar vivos. O pensamento de que o mundo talvez fosse melhor sem refrigerante, desodorante, ou submarino nuclear, cuja produção preenche as horas de trabalho de nossa vida, pode levar-nos à desesperante pergunta: "Vale a pena viver?" Portanto, não é de se admirar que pessoas que são sempre elogiadas por seus êxitos e realizações, freqüentemente sentem muita falta de realização, até ao ponto de suicidarem-se.

Enfado, ressentimento e depressão são todos os sentimentos de desligamento. Apresentam-nos a vida como um elo quebrado. Transmitem a nós um senso de não pertencer. No caso de relacionamentos pessoais, esta desconexão é experimentada como solidão. Quando estamos solitários vemos a nós mesmos como indivíduos isolados, cercados, talvez, por muitas pessoas, mas não realmente parte de qualquer comunidade de apoio e proteção. Sem dúvida solidão é uma das doenças mais disseminadas do nosso tempo. Afeta não somente a vida dos aposentados, mas também a vida familiar, a vida comunitária, a vida escolar, e a vida profissional. Causa sofrimento não somente às pessoas idosas, mas também às crianças, aos jovens e adultos. Penetra não somente em prisões mas também em residências particulares, edifícios de escritórios e hospitais. É vista até na interação cada vez mais escassa entre pessoas nas ruas de nossas cidades. No meio de toda esta solidão impregnante muitos clamam: "Existe alguém que realmente se importa comigo? Existe alguém que pode arrancar meu sentimento interior de isolamento? Existe alguém com quem eu possa me sentir em casa?"

É este sentimento paralisante de abandono que constitui o cerne da maioria do sofrimento humano. Podemos suportar muito sofrimento físico e até mental quando sabemos que isto verdadeiramente nos torna uma parte integrante da vida que vivemos juntos neste mundo. Mas quando nos sentimos cortados da família dos seres humanos, rapidamente desfalecemos.

Enquanto acreditamos que nossos sofrimentos e lutas nos unem aos nossos companheiros e companheiras humanos, fazendo-nos assim partes da luta comum do ser humano por um futuro melhor, estamos plenamente dispostos para aceitar uma tarefa exigente. Mas quando nos consideramos espectadores passivos sem nenhuma contribuição para fazer à história da vida, nossos sofrimentos não são mais sofrimentos construtivos e nem nossas lutas servem para produzir nova vida, porque assim temos um sentimento de que nossas vidas acabam e desaparecem depois de nós, sem nos levar a destino algum. De fato, às vezes somos obrigados a dizer que a única coisa que lembramos de nosso passado recente é que estávamos muito atarefados, que todas as coisas pareciam muito urgentes e que dificilmente podíamos colocá-las em dia. O que fizemos não lembramos. Isto mostra quão isolados nos tornamos. O passado não mais nos leva para o futuro; simplesmente nos deixa preocupados sem nenhuma promessa de mudanças para o melhor.

Nosso desejo de ser livres deste isolamento pode se tornar tio forte que explode em violência. Então nossa necessidade por um relacionamento íntimo - com um amigo, um namorado, ou uma comunidade apreciativa - se transforma num apelo desesperado por alguém que nos ofereça uma satisfação imediata, relaxamento de tensão, ou um sentimento temporário de identificação. Neste caso, nossa necessidade mútua degenera e torna-se uma agressão perigosa que causa muito dano e somente intensifica nosso sentimento de solidão.

CONCLUSÃO

Espero que estas reflexões tenham nos aproximado mais do significado da palavra "preocupação" tal como foi usada por Jesus. Hoje preocupação significa estar ocupado e preocupado com muitas coisas, e ao mesmo tempo estar enfadado, ressentido, deprimido, e muito solitário. Não estou tentando dizer que todos nós em todo tempo estamos tão extremamente preocupados. Porém, há pouca dúvida em minha mente que a experiência de estar cheio porém não realizado atinge a maioria de nós em alguma medida em algum tempo da nossa vida. Em nosso mundo altamente tecnológico e competitivo, é difícil evitar completamente as forças que saturam nosso espaço interior e exterior e desligam-nos de nosso ser mais íntimo, dos nossos companheiros humanos, e do nosso Deus.

Uma das características mais notáveis da preocupação é que ela fragmenta nossas vidas. As muitas coisas que temos de fazer, considerar, e planejar, as muitas pessoas que precisamos lembrar, visitar, ou conversar, as muitas causas que devemos atacar ou defender, tudo isto despedaça-nos e nos faz perder nosso equilíbrio. Preocupação nos leva a estar "em todo lugar", mas raramente em casa. Uma forma de expressar a crise espiritual de hoje é dizer que a maioria de nós tem um endereço, mas não pode ser encontrado lá. Sabemos onde está nosso lugar, mas estamos sempre sendo arrastados em muitas direções, como se fôssemos ainda desabrigados. "Todas estas coisas" estão sempre exigindo nossa atenção. Levam-nos tão longe de casa que no fim nos esquecemos do nosso verdadeiro endereço, isto é, o lugar onde podemos ser encontrados.

Jesus reage a esta condição de estar cheio porém não realizado, muito atarefado porém desligado, em todo lugar porém nunca em casa. Ele nos quer levar ao lugar onde pertencemos. Mas seu chamado para viver uma vida espiritual só pode ser ouvido quando queremos honestamente confessar nossa existência desabrigada e preocupada e reconhecer seu efeito fragmentador em nossa vida diária. Só então um desejo por nosso verdadeiro lar pode ser desenvolvido. É a respeito deste desejo que Jesus fala quando diz: "Não vos preocupeis... buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e todas estas cousas vos serão acrescentadas".
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Cap. 2: Seu Reino em Primeiro Lugar

INTRODUÇÃO

Jesus não reage ao nosso estilo de vida cheio e preocupação dizendo que não deveríamos estar tão ocupados com afazeres terrenos. Ele não tenta nos retirar dos muitos eventos, atividades, e pessoas que compõem nossas vidas. Não nos diz que o que fazemos não tem importância, valor, ou utilidade.

Nem sugere que devemos nos afastar de nossos envolvimentos e viver vidas calmas, tranqüilas e retiradas das lutas do mundo.

A resposta de Jesus para nossas vidas cheias de preocupação é bem diferente. Ele pede de nós que substituamos nosso ponto de gravidade, relocalizemos o centro de nossa atenção, que mudemos as nossas prioridades. Jesus quer que deixemos as "muitas coisas" para a "única coisa necessária". É importante que compreendamos que Jesus não quer de forma alguma que deixemos nosso mundo de muitas facetas. Antes, quer que vivamos nele, mas firmemente arraigados no centro de todas as coisas. Jesus não fala sobre uma mudança de atividades, uma mudança de contatos, ou até uma mudança de ritmo. Ele fala sobre uma mudança de coração. Esta mudança de coração faz todas as coisas diferentes, até mesmo quando todas as coisas parecem permanecer as mesmas. Este é o significado de: "Buscai, pois em primeiro lugar, o seu reino... e todas estas coisas serão acrescentadas". O mais importante é onde estão nossos corações. Quando nos preocupamos, temos nossos corações no lugar errado. Jesus pede que coloquemos nossos corações no centro, onde todas as outras coisas irão se encaixar.

Qual é este centro? Jesus o chama de reino, o reino do Seu Pai. Para nós do século XX, isto pode não ter muito significado. Reis e reinos não exercem um papel muito importante em nossa vida diária. Mas somente quando entendemos as palavras de Jesus como um chamado urgente para colocar a vida do Espírito de Deus como nossa prioridade é que podemos ver melhor o que está envolvido. Um coração que busca o reino do Pai é também um coração que busca a vida espiritual. Buscar o reino, portanto, significa colocar a vida do Espírito, dentro de nós e entre nós como o centro de tudo que pensamos, dizemos ou fazemos.

Agora, quero explorar em mais profundidade esta vida no Espírito. Primeiro precisamos ver como o Espírito de Deus se manifesta na própria vida de Jesus. Depois precisamos discernir o que significa para nós ser chamados por Jesus para entrar com ele nesta vida do Espírito.

A VIDA DE JESUS

Não há muita dúvida de que a vida de Jesus foi uma vida muito atarefada. Ele esteve atarefado ensinando seus discípulos, pregando às multidões, curando os doentes expelindo demônios, respondendo perguntas de inimigos e amigos, e andando de um lugar para outro. Jesus estava tão envolvido em atividades que se tornava difícil ter algum tempo sozinho. Esta história nos dá uma idéia. "À tarde, ao cair do sol, trouxeram a Jesus todos os enfermos, e endemoninhados. Toda a cidade estava reunida à porta. E ele curou muitos doentes de toda sorte de enfermidades; também expeliu muitos demônios ... Tendo se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto, e ali orava. Procuravam-no diligentemente Simão e os que com ele estavam. Tendo-o encontrado, lhe disseram: Todos te buscam. Jesus, porém, lhes disse: Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim. Então foi por toda a Galiléia, pregando nas sinagogas deles e expelindo os demônios" (Mt 1:32-39).

Está claro neste relato que Jesus tinha uma vida muito cheia e raramente, possivelmente nunca, era deixado sozinho. Pode até nos dar a impressão de um fanático impulsionado a transmitir sua mensagem por todo lado a qualquer custo. A verdade, porém, é diferente. Quanto mais nos aprofundamos nos relatos do Evangelho sobre sua vida, mais vemos que Jesus não era um zelote tentando realizar muitas coisas diferentes a fim de alcançar uma meta imposta por ele mesmo. Ao contrário, tudo o que sabemos sobre Jesus mostra que estava interessado numa coisa somente: fazer a vontade do seu Pai. Nada nos Evangelhos é tão marcante como a obediência resoluta de Jesus a seu Pai. Desde suas primeiras palavras registradas ditas no templo. "Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?" -(Lc 2:49), até suas ultimas palavras na cruz- "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc.23:46), o único interesse de Jesus era fazer a vontade de seu Pai. Ele disse: "...o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai..." (Jo 5-19). As obras que Jesus fez são as obras que o Pai o enviou para fazer, e as palavras que falou são as palavras que o Pai lhe deu. Ele não deixa duvida sobre isto: "Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis.." (Jo 10: 37);" ...e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou" (Jo 14: 24).

Jesus não e nosso Salvador simplesmente por causa do que disse ou fez para nós. É o nosso Salvador porque o que disse e fez foi dito e feito em obediência a seu Pai. Por isto Paulo pode dizer. "Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos" (Rm 5:19). Jesus é o homem obediente. O centro da sua vida é este relacionamento de obediência com o Pai. Isto pode ser difícil para nós entendermos, porque a palavra "obediência" tem tantas conotações negativas em nossa sociedade. Faz-nos pensar em figuras autoritárias que impõem a vontade deles sobre os nossos desejos. Faz-nos lembrar de acontecimentos infelizes da infância ou tarefas difíceis executadas sob ameaças de castigo. Mas nada disto se refere à obediência de Jesus.

Sua obediência significa uma atenção total e destemida a seu Pai amoroso. Entre o Pai e o Filho há somente amor. Todas as coisas que pertencem ao Pai, ele confia ao Filho (Lc IO:22), e todas as coisas que o Filho recebe, devolve ao Pai. O Pai se abre totalmente para o Filho e coloca todas as coisas em ,suas mãos: todo conhecimento (Jo 12:50), toda glória (Jo 8:54), todo poder (Jo 5:19-21). E o Filho se abre totalmente para o Pai e desta forma devolve todas as coisas às mãos de seu Pai. "Vim do Pai e entrei no mundo; todavia deixo o mundo e vou para o Pai" (Jo 16:28).

Este amor inexaurível entre o Pai e o Filho inclui e até transcende todas as formas de amor que conhecemos. Inclui o amor de pai e mãe, irmão e irmã, esposo e esposa, professor e amigo. Mas também vai muito além das muitas limitadas e limitantes experiências humanas de amor que conhecemos. É um amor que cuida mas exige. É um amor sustentador mas severo. É um amor suave mas forte. É um amor que da vida. mas aceita a morte. Neste divino amor Jesus foi enviado ao mundo, e por este divino amor Jesus se ofereceu na cruz. Este amor envolvente, que sintetiza o relacionamento entre o Pai e o Filho, é uma Pessoa divina, co-ígual com o Pai e o Filho.. Tem um nome pessoal. É chamado Espírito Santo. O.Pai ama o Filho e se derrama no Filho. O Filho é amado pelo Pai e devolve tudo que ele é ao Pai. O Espírito é o próprio amor em si, eternamente envolvendo o Pai e o Filho.

Esta comunidade eterna de amor é o centro e fonte da vida espiritual de Jesus, uma vida de sensibilidade ininterrupta para com o Pai no Espírito de amor. É desta vida que o ministério de Jesus floresce. Comendo e jejuando, orando e agindo, viajando e descansando, pregando e ensinando, expulsando e curando, tudo foi feito neste Espírito de amor. Nunca entenderemos o pleno significado do rico e variado ministério de Jesus sem que vejamos como as muitas coisas são enraizadas em uma coisa: ouvir o Pai numa intimidade de amor perfeito.Quando virmos isto, também compreenderemos que o alvo do ministério de Jesus é nada menos que nos introduzir nesta mais intima comunidade.

NOSSAS VIDAS

Nossas vidas são destinadas a se tornarem como a vida de Jesus. Afinal, o propósito total do ministério de Jesus é levar-nos -a casa do seu Pai. Jesus não veio somente para nos libertar dos grilhões do pecado e da morte, senão também para levarmos à intimidade desta vida divina. Para nós é difícil imaginar o que isto significa. Nossa tendência a enfatizar a distancia entre Jesus e nós mesmos. Vemos Jesus como o Onisciente e Onipotente Filho de Deus, o qual é inatingível para nós seres humanos caídos e pecadores. Mas pensando desta forma, esquecemos que Jesus veio para nos dar sua própria vida. Veio para nos elevar à participação na comunidade de amor com o Pai. Somente quando reconhecemos o propósito fundamental do ministério de Jesus é que estaremos aptos a entender o significado da vida espiritual. Todas as coisas que pertencem a Jesus nos são dadas para que as recebamos. Tudo que Jesus fez nós também podemos fazer. Jesus não se refere a nós como cidadãos de segunda classe. Ele não retém nenhuma coisa de nós: " ... tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer" (Jo 15:15); " ... aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço..."(Jo 14:12). Jesus quer que estejamos onde ele está. Em sua oração sacerdotal, ele não deixa duvida alguma sobre sua intenção: "... a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti ... Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos, eu neles e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste, e os amaste como também amaste a mim. Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste... Eu lhes fiz conhecer o teu nome ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles esteja" (Jo 17:21-26).

Estas palavras são uma expressão bela da natureza do ministério de Jesus. Ele se tornou como nós para que pudéssemos nos tornar como ele. Ele não se apegou a sua unidade com Deus, mas se esvaziou e se tornou como nós para, que pudéssemos nos tornar como ele e desta forma participar da sua vida divina.

Esta transformação radical de nossas vidas é a obra do Espírito Santo. Os discípulos mal conseguiam compreender o significado de Jesus.Enquanto Jesus estava presente com eles na carne, ainda não reconheciam sua presença plena no Espírito. Por isto Jesus disse: "Convém-vos que eu vá, porque se eu não for o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei ... quando vier, porém, o, Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falara por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciara as cousas que hão de vir. Ele me glorificará porque há de receber do que a meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que a meu e vo-lo há de anunciar" (Jo 16:7, 13-15).

Jesus envia o Espírito para nos levar à plena verdade da vida divina. Verdade não significa uma idéia, conceito, ou doutrina mas o verdadeiro relacionamento. Ser levado a participar da verdade é ser levado a participar do relacionamento que Jesus tem com o Pai; é entrar no noivado divino.

Desta forma o Pentecoste é a conclusão da missão de Jesus. No Pentecoste a plenitude do ministério de Jesus se torna visível. Quando o Espírito Santo desce sobre os discípulos e habita neles, suas vidas são transformadas em vidas semelhantes a Cristo, vidas moldadas pelo mesmo amor que existe entre o Pai e o Filho. A vida espiritual é realmente uma vida na qual somos elevados para nos tornar participantes da vida divina.

Ser elevado à vida divina do Pai, do Filho, e do Espírito Santo não significa, porém, ser tirado do mundo. Ao contrário, aqueles que entram na vida espiritual são exatamente os que são enviados ao mundo para continuar e concluir a obra que Jesus começou. A vida espiritual não nos remove do mundo mas leva-nos a nos aprofundar mais nele.

Jesus disse para seu Pai: "Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo" (Jo 17:18). Ele esclarece que exatamente porque seus discípulos não mais pertenciam ao mundo, podiam viver no mundo como ele vivia. "Não peço que os tires do mundo, e sim, que os guardes do mal. Eles, não são do mundo como também eu não sou" (Jo 17:15-16). Vida no Espírito de Jesus e portanto uma vida na qual a vinda de Jesus ao mundo sua encarnação, sua morte, e ressurreição demonstrada por aqueles que entraram no mesmo relacionamento de obediência ao Pai que marcou a própria vida de Jesus. Tornando-nos filhos e filhas como Jesus foi Filho, nossas vidas se tornam uma continuação da missão de Jesus.

"Estar no mundo sem ser do mundo". Estas palavras sintetizam bem a maneira que Jesus fala sobre a vida espiritual. É uma vida na qual somos totalmente transformados pelo Espírito de amor. Contudo é uma vida onde todas as coisas parecem permanecer as mesmas. Viver uma vida espiritual não significa que devemos deixar nossas famílias, abandonar nossos empregos, ou mudar nossas formas de trabalhar; não significa que temos de nos afastar de atividades políticas e sociais, ou perder interesse na literatura e na arte; não exige formas severas de ascetismo ou longas horas de oração. Mudanças como estas podem de fato vir como frutos da nossa vida espiritual, e para algumas pessoas decisões radicais podem ser necessárias. Mas a vida espiritual pode ser vivida de tantas formas quanto existem pessoas. A novidade é que nos transferimos das muitas coisas para o reino de Deus. A novidade que nos livramos das coerções do mundo e colocamos nossos corações na únlca, coisa necessária. A novidade é que não experimentamos mais as muitas coisas pessoas e acontecimentos como motivos infindáveis de preocupação, mas começamos a experimentá-los como maneiras ricas e variadas nas quais Deus manifesta sua presença para nós.

De fato, viver uma vida espiritual requer uma mudança de coração, uma conversão. Tal conversão pode ser marcada por uma mudança interior repentina, ou pode ocorrer através de um longo e suave processo de transformação. Mas sempre envolve uma experiência interior de harmonia. Compreendemos que agora estamos no centro, e que desta posição tudo que existe e ocorre pode ser visto e entendido como parte do mistério da vida de Deus conosco. Nossos conflitos e dores, nossas tarefas e compromissos, nossas famílias e amigos, nossas atividades e projetos, nossas esperanças e aspirações, não mais se nos apresentam como uma variedade de coisas fatigantes que mal conseguimos controlar, mas antes se revelam como afirmações e revelações da nova vida do Espírito em nós. "Todas estas coisas", que nos ocupavam e preocupavam ' agora vêm como dons ou desafios que fortalecem e aprofundam a nova vida que descobrimos. Isto não significa que a vida espiritual torna as coisas mais fáceis ou que abole nossos esforços e lutas. A vida dos discípulos de Jesus mostra claramente que o sofrimento não diminui por causa da conversão. Às vezes até se torna mais intenso. Mas nossa atenção não é mais dirigida para esta questão de "mais ou menos". O importante é escutar atentamente ao Espírito e ir obedientemente onde estamos sendo dirigidos quer seja um lugar alegre, quer seja doloroso.

Pobreza, dor, luta, angústia, agonia e mesmo escuridão interior podem continuar a fazer parte de nossa experiência. Podem até ser a maneira de Deus nos purificar. Mas a vida deixou de ter enfado, ressentimento, depressão, ou solidão porque aprendemos que todas as coisas que acontecem fazem parte do nosso caminho para a casa do Pai.

CONCLUSÃO

"Seu reino em primeiro lugar". Espero que estas palavras tenham adquirido um novo sentido. Elas nos chamam a seguir a Jesus em seu caminho de obediência, a entrar com ele na comunidade estabelecida pelo amor exigente do Pai, e a viver toda nossa vida daquela posição. O reino é o lugar onde Espírito de Deus nos dirige, nos cura, nos desafia, e nos renova continuamente. Quando nossos corações estão fixos naquele reino, nossas preocupações lentamente ficam para trás, porque as muitas coisas que nos faziam preocupar tanto começam a se encaixar. É importante entender que "buscar o reino" não é um método para se ganhar galardões.Neste caso a vida espiritual acabaria sendo como ganhar o sorteio num jogo de sorte. As palavras "todas as, outras coisas vos serão acrescentadas" expressam que o amor e o cuidado de Deus se estendem para todo o nosso ser. Quando buscarmos a vida no Espírito de Cristo,conseguiremos ver e entender melhor como Deus nos guarda na palma de sua mão. Chegaremos a um melhor entendimento do que realmente precisamos para nosso bem estar físico e mental, e experimentaremos a ligação íntima entre nossa vida espiritual e nossas necessidades temporais durante a nossa peregrinação no seu mundo.

Mas isto nos deixa com uma pergunta muito difícil. Há uma maneira de sair da nossa vida, "cheia de preocupação e entrar na vida do Espírito? Devemos simplesmente esperar passivamente até que o Espírito chegue e assopre para longe as nossas preocupações? Há alguma maneira pela qual podemos nos preparar para a vida do Espírito e aprofundar esta vida depois dela nos tocar? A distância entre a vida cheia e não realizada de um lado, e a vida espiritual do outro, é tão grande que pode parecer completamente irreal esperar a mudança de uma para a outra. As exigências que a vida diária nos faz são tão reais, tão imediatas, e tão urgentes que uma vida no Espírito parece além de nossa capacidade.

Minha descrição da vida cheia de preocupação e a vida espiritual como dois extremos do espectro da vida foi necessária para tornar claro o que está envolvido. Mas a maioria de nós não está nem constantemente preocupada e nem exclusivamente absorvida no Espírito. Muitas vezes há lampejos da presença do Espírito de Deus no meio de nossas preocupações, e freqüentemente preocupações surgem mesmo quando experimentamos a vida do Espírito no mais interior de nosso ser. É importante que aos poucos entendamos onde estamos e que aprendamos como podemos deixar a vida do Espírito de Deus se fortalecer dentro de nós.

Isto leva-me para a tarefa final: descrever as disciplinas principais que podem nos sustentar em nosso desejo de nos desvencilhar das garras de nossas preocupações e deixar que o Espírito nos guie para a verdadeira liberdade dos filhos de Deus.
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Cap. 3: Buscai o Reino

INTRODUÇÃO

A vida espiritual é um dom. É o dom do Espírito Santo, que nos introduz no reino do amor de Deus. Mas dizer que ser introduzido no reino de Deus é um dom divino não quer dizer que esperamos passivamente até que o dom se nos ofereça. Jesus nos fala para buscar o reino. Buscar alguma coisa envolve não somente aspiração séria mas também determinação forte. A vida espiritual requer esforço humano. As forças que sempre nos puxam de volta a uma vida cheia de preocupação não são fáceis de se vencer. "Quão dificilmente", Jesus exclama, "entrarão no reino de Deus ..." (Mc 10:23). E para nos convencer da necessidade de trabalho duro, ele diz: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me" (Mt 16:24)

Neste ponto tocamos a questão de disciplina na vida espiritual. A vida espiritual sem disciplina é impossível. Disciplina é o outro lado do discipulado. A prática de uma disciplina espiritual nos torna mais sensíveis à voz tranqüila e suave de Deus. O profeta Elias não encontrou Deus no vento forte nem no terremoto e nem no fogo, mas no cicio tranqüilo (1 Rs 19:11-13). Através da prática de uma disciplina espiritual tornamo-nos sensíveis a essa voz tranqüila e prontos a responder quando a ouvimos.

Em relação a tudo que eu disse sobre nossas vidas preocupadas e sobrecarregaras é claro que geralmente estamos envolvidos, interior e exterior que fica realmente difícil ouvir a voz de Deus quando Ele nos está falando. Muitas vezes tornamo-nos surdos, incapazes de saber quando Deus nos chama, incapazes de entender em que direção nos chama. Desta forma nossas vidas se tornam um absurdo. Na palavra absurdo encontramos a palavra latina surdus, que significa "surdo". A vida espiritual requer disciplina porque precisamos aprender a ouvir a Deus. que constantemente fala mas a quem raramente ouvimos. Porém, quando aprendemos a ouvir, nossas vidas se tornam vidas obedientes. A palavra obediente vem da palavra latina obaudire, que significa "ouvir". É necessário ter uma disciplina espiritual se quisermos mudar lentamente de uma vida absurda para uma vida obediente, de uma vida cheia de preocupações agitadas para uma vida em que há espaço livre no nosso interior para ouvir nosso Deus e seguir sua orientação. A vida de Jesus foi uma vida de obediência. Estava sempre escutando o Pai, sempre atento a sua voz, sempre alerta as suas direções. Jesus era "todo ouvidos". Isto é a verdadeira oração: ser todo ouvido para Deus. O cerne de toda oração é realmente ouvir, permanecer obedientemente na presença de Deus.

Uma disciplina espiritual, portanto, é um esforço concentrado para criar um pouco de espaço interior e exterior em nossas vidas, onde esta obediência pode ser praticada. Através de uma disciplina espiritual impedimos que o mundo preencha nossas vidas de tal forma que não haja mas lugar para ouvir. Uma disciplina espiritual nos liberta para orar, ou melhor dizendo, liberta o Espírito de Deus para orar em nós.

Vou apresentar agora duas disciplinas pelas quais podemos "buscar o reino". Podem ser consideradas como disciplinas de oração. São a disciplina de solidão e a disciplina de comunidade.

SOLIDÃO

Sem solidão é virtualmente impossível viver uma vida espiritual. Solidão começa com um tempo e lugar para Deus e somente para ele. Se realmente cremos que Deus não somente existe mas também está ativamente presente em nossas vidas - curando, ensinando, e dirigindo - precisamos reservar um tempo e um espaço para lhe dar nossa atenção ininterrupta. Jesus disse: "Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e fechada a porta orarás a teu Pai que está em secreto..." (Mt 6:6).

Produzir um elemento de solidão em nossas vidas é uma das disciplinas mais necessárias mas também mais difíceis. Mesmo que tenhamos um desejo profundo por solidão verdadeira, também experimentamos uma certa apreensão quando nos aproximamos deste lugar e tempo solitários. Uma vez que estamos sós, sem pessoas com quem conversar, livros para ler, TV para assistir, ou telefonemas para fazer, um caos interior se revela em nós. Este caos pode ser tão perturbador e tão confuso que não vemos a hora de nos ocuparmos novamente. Portanto, entrar num quarto à parte e fechar a porta, não significa que imediatamente excluímos todas nossas dúvidas interiores, ansiedades, medos, maus pensamentos, conflitos insolúveis, sentimentos de ira, desejos impulsivos. Ao contrário, quando nos afastamos de nossas distrações exteriores, frequentemente descobrimos que nossas distrações interiores se manifestam a nós com toda a sua força. Muitas vezes usamos as distrações exteriores para nos proteger dos barulhos interiores. Desta forma não é de se admirar que tenhamos dificuldade para ficar sozinhos. A confrontação com nossos conflitos interiores pode ser dolorosa demais para ser suportada.

Isto torna a disciplina de solidão ainda mais importante. Solidão não é uma resposta espontânea a uma vida ocupada e preocupada. Há razões de sobra para não ficar sozinho. Portanto, devemos começar planejando cuidadosamente um tempo de solidão. Cinco ou dez minutos por dia pode ser o máximo que toleramos. Talvez estejamos prontos para uma hora todo o dia, uma tarde toda semana, um dia todo mês, ou uma semana todo ano. A quantidade de tempo vai variar para cada pessoa de acordo com o temperamento, idade, trabalho, estilo de vida e maturidade. Mas não estamos levando a vida espiritual a sério se não reservamos algum tempo para estar com Deus e ouvi-lo. Talvez tenhamos que escrever isto em preto e branco em nossa agenda diária para que mais ninguém possa nos roubar este período de tempo. Então poderemos dizer aos nossos amigos, vizinhos, alunos, fregueses, clientes, ou pacientes: "Desculpe, mas já fiz um compromisso neste horário que não pode ser mudado".

Uma vez que nos comprometemos a gastar tempo em solidão, desenvolvemos uma sensibilidade à voz de Deus em nós. No início, durante os primeiros dias, semanas, ou até meses, podemos ter o sentimento de que estamos simplesmente perdendo tempo. Tempo em solidão no início pode parecer nada mais que um tempo no qual somos bombardeados por milhares de pensamentos e sentimentos que emergem das áreas escondidas de nossa mente. Um dos mais antigos escritores cristãos descreve o primeiro estágio de oração solitária como a experiência de um homem que, depois de viver anos com as portas abertas, de repente decidiu fechá-las. Os visitantes que costumavam vir e entrar em sua casa começam a bater nas suas portas, indagando porque não se lhes permite a entrada. Somente quando compreendem que não são bem vindos, aos poucos param de vir. Esta é a experiência de alguém que decide entrar em solidão depois de uma vida sem muita disciplina espiritual. No início, as muitas distrações continuam se apresentando. Depois, à medida que recebem menos e menos atenção, lentamente se retiram.

É claro que o importante é a fidelidade à disciplina. No início, solidão parece tão contrária aos nossos desejos que somos constantemente tentados a nos esquivar disso. Uma maneira de se esquivar é divagar na mente ou simplesmente cair no sono. Mas quando nos dedicamos à nossa disciplina, na convicção que Deus está conosco mesmo quando ainda não o escutamos, lentamente descobrimos que não queremos perder nosso tempo a sós com Deus. Apesar de não experimentarmos muita satisfação em nossa solidão, compreendemos que um dia sem solidão é menos "espiritual" do que um dia com solidão.

Intuitivamente, compreendemos que é importante gastar tempo em solidão. Até começamos a aguardar com expectativa este estranho período de inutilidade. Este desejo por solidão muitas vezes é o primeiro sinal de oração, a primeira indicação de que a presença do Espírito Deus não despercebida. Quando nos esvaziamos de nossas muitas preocupações conseguimos entender não somente com nossa mente mas também com nosso coração que nunca estivemos realmente sós, que o Espírito de Deus estava sempre conosco. Desta forma conseguimos compreender o que Paulo escreve aos Romanos: "... a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado" (Rm 5:3-5). Em solidão, chegamos a conhecer o Espírito que já nos foi outorgado. As dores e as lutas que encontramos em nossa solidão se tornam desta forma o caminho de esperança, porque nossa esperança não é baseada em alguma coisa que acontecerá depois que nossos sofrimentos terminarem, mas na presença real do Espírito de Deus que nos cura no meio destes sofrimentos. A disciplina de solidão nos permite gradativamente entrar em contato com a presença esperançosa de Deus em nossas vidas, e também nos permite experimentar mesmo agora as primícias de gozo e paz que pertencem ao novo céu e à nova terra.

A disciplina de solidão como tenho descrito aqui é uma das mais poderosas disciplinas para desenvolver uma vida de oração. É um caminho simples, embora difícil, para nos libertar da escravidão de nossas ocupações e preocupações e começar a ouvir a voz que faz novas todas as coisas.

Deixe-me dar uma descrição mais concreta de como a disciplina de solidão pode ser praticada. É uma grande vantagem ter um quarto ou um canto de quarto ou um quartinho! - reservado à disciplina de solidão. Tal lugar "arrumadinho" ajuda-nos a buscar o reino sem gastar tempo com preparativos. Algumas pessoas gostam de decorar este lugar, mas o importante é que o lugar de solidão seja um lugar simples e ordenado. Lá ficamos na presença do Senhor. "Nossa tentação é fazer alguma coisa útil: ler algo estimulante, pensar sobre uma coisa interessante, ou experimentar algo extraordinário. Mas nosso momento de solidão é exatamente um momento em que queremos estar na presença de nosso Senhor de mãos vazias, nus, vulneráveis, inúteis, sem nada para apresentar, provar, ou defender. É assim que, lentamente, aprendemos a ouvir a voz tranqüila de Deus. Mas o que fazer com nossas muitas distrações? Devemos lutar contra estas distrações e esperar que desta forma nos tornemos mais atentos à voz de Deus? Isto não parece ser a maneira de se entrar em oração. Criar um espaço vazio onde podemos ouvir o Espírito de Deus não é fácil quando colocamos toda nossa energia na luta contra as distrações. Se confrontamos as distrações de maneira tão direta, acabamos lhes dedicando mais atenção que merecem. Temos porém, as palavras das Escrituras para dedicar nossa atenção.

Um salmo, uma parábola, uma editoria bíblica, uma declaração de Jesus, ou uma palavra de Paulo, Pedro,Tiago, Judas ou João, pode nos ajudar a focalizar nossa atenção à presença de Deus . Desta forma impedimos "todas estas coisas" de Ter poder sobre nós. Quando colocamos as palavras das Escrituras no centro de nossa solidão, tais palavras seja uma pequena expressão, umas poucas sentenças ou um texto mais longo - podem funcionar com ponto ao qual retornamos quando nos desviamos para diferentes direções. Formam um ancoradouro seguro num mar tempestuoso. No fim de tal período na presença tranqüila de Deus podemos, através de oração intercessora, levar todas as pessoas que fazem parte de nossa vida, tanto amigos como também inimigos à sua presença restauradora. E por que não concluir com as palavras que o próprio Jesus nos ensinou: O Pai Nosso?

Isto é somente uma das formas especificas nas quais a disciplina de solidão pode ser praticada. Infinitas variações são possíveis. Passeios no campo, a repetição de orações curtas tais como a oração de Jesus, formas simples de canto chãos, certos movimentos ou posturas - estes e muitos outros elementos podem se tornar uma parte útil da disciplina de solidão. Mas temos de decidir que forma especifica desta disciplina melhor nos convém, e na qual podemos perseverar. É melhor ter uma prática diária de dez minutos em solidão do que ter uma hora completa de vez em quando. É melhor se tornar familiar com uma postura do que ficar sempre experimentando novas posturas. Simplicidade e regularidade são os melhores guias para achar nosso caminho. Permitem-nos fazer da disciplina de solidão outra parte da nossa vida diária tanto quanto comer ou dormir. Quando isto acontece, nossas preocupações barulhentas perderão lentamente seu poder sobre nós e a atividade renovadora do Espírito de Deus aos poucos se manifestará.

Embora a disciplina de solidão exija que separemos para isso tempo e espaço, no final de tudo o importante é que nossos corações se tornem aposentos tranqüilos e que Deus possa habitar, onde quer que vamos e o que quer que façamos. Quanto mais nos treinarmos a gastar tempo com Deus e unicamente com ele, mais descobriremos que em todo o tempo e em todo o lugar Deus está conosco . Então poderemos reconhecê-lo mesmo no meio de uma vida atarefada e ativa. Depois que a solidão de tempo e espaço se torna solidão de coração, nunca haveremos de deixar aquela solidão. Poderemos viver a vida espiritual de qualquer lugar e em qualquer tempo. Desta forma a disciplina da solidão capacita-nos a viver uma vida ativa no mundo, enquanto permanecemos constantemente na presença do Deus vivo.

COMUNIDADE

A disciplina de solidão não se mantém sozinha. Está intimamente relacionada com a disciplina de comunidade. Comunidade como disciplina é o esforço de criar um espaço livre e vazio entre pessoas, onde juntos possamos praticar verdadeira obediência. Através da disciplina de comunidade nos prevenimos de nos apegar um ao outro com sentimentos de medo e isolamento, e criamos um espaço livre para ouvir a voz libertadora de Deus.
Pode parecer estranho falar de comunidade como disciplina mas sem disciplina comunidade se torna uma palavra "mole", referindo-se mais a um lugar seguro, aconchegante e exclusivo do que ao espaço onde se pode receber vida nova e desenvolvê-la à sua plenitude. Em qualquer lugar onde se acha verdadeira comunidade, disciplina é decisivo. É decisivo não somente nas muitas velhas e novas formas de vida em comum, mas também nos relacionamentos sustentadores de amizade, casamento, e família. Criar espaço para Deus entre nós requer o constante reconhecimento do Espírito de Deus um no outro. Depois de ter conhecido o Espírito vivificante de Deus no centro de nossa solidão, tornando-nos capazes desta forma a afirmar nossa verdadeira identidade, passamos a ver também o mesmo Espírito vivificante falando-nos através de nossos companheiros humanos. E quando chegamos a reconhecer o Espírito vivificante de Deus como, a fonte de nossa vida em conjunto, mais facilmente também ouviremos sua voz em nossa solidão.

Amizade, casamento família, vida religiosa e toda outra forma de comunidade é solidão saudando solidão, espírito falando a espírito, coração chamando coração. É o grato reconhecimento do chamado de Deus para compartilhar a vida juntos e o alegre oferecimento de um espaço hospitaleiro onde o poder recriador do Espírito de Deus pode se manifestar. Desta maneira todas as formas de vida em conjunto podem se tornar maneiras de manifestar um ao outro a presença real de Deus em nosso meio.

Comunidade não tem muito a ver com compatibilidade mútua. Semelhanças em "background" educacional, constituição psicológica, ou posição social, podem nos atrair um ao outro, mas nunca podem ser a base para comunidade. Comunidade é fundamentada em Deus, que nos chama a viver juntos, e não na atratividade mútua das pessoas. Há muitos grupos que se constituíram a fim de proteger seus próprios interesses, defender sua própria posição, ou promover suas próprias causas, mas nenhum destes é uma comunidade cristã. Ao invés de romper os muros de medo e criar novo espaço para Deus, fecham-se a intrusos reais ou imaginários. O ministério da comunidade é exatamente seu envolvimento de todas as pessoas, quaisquer que sejam suas diferenças individuais, permitindo-lhes viver juntas como irmãos e irmãs de Cristo e filhos e filhas do seu Pai celeste.

Eu gostaria de descrever uma forma concreta desta disciplina de comunidade. É a prática de ouvir juntos. Em nosso mundo prolixo geralmente gastamos nosso tempo juntos falando. Sentimo-nos mais confortáveis compartilhando experiências, discutindo assuntos interessantes, ou argumentando problemas sociais. É através de uma troca verbal muito ativa que tentamos nos descobrir um ao outro. Mas muitas vezes descobrimos que as palavras funcionam mais como muros do que como portões, mais como formas de manter a distância do que para se aproximar. Muitas vezes - até contra nossa vontade - percebemo-nos competindo mutuamente. Tentamos provar um ao outro que merecemos atenção, que o que temos para mostrar nos torna especiais- A disciplina de comunidade ajuda-nos a ficar em silêncio juntos. Este silêncio disciplinado não é um silêncio embaraçador, mas um silêncio no qual prestamos atenção juntos ao Senhor que nos chamou juntos. Desta forma chegamos a nos conhecer mutuamente não como pessoas que se apegam ansiosamente a sua auto-instituída identidade, mas como pessoas que são amadas pelo mesmo Deus de uma forma muito íntima e singular.

Aqui - como ocorre com a disciplina de solidão - muitas vezes são as palavras das Escrituras que podem nos levar a este silêncio comunal. A fé, como Paulo diz, vem pelo ouvir. Temos que ouvir a palavra um do outro. Quando nos reunimos de diferentes contextos geográficos, históricos, psicológicos, e religiosos, ouvir a mesma palavra falada por pessoas diferentes pode criar em nós uma abertura e vulnerabilidade comuns que nos permitem reconhecer que estamos seguros juntos naquela palavra. Desta forma podemos descobrir nossa verdadeira identidade como comunidade, desta forma podemos experimentar o que significa ser chamados juntos, e desta forma podemos reconhecer que o mesmo Senhor que descobrimos em nossa solidão também fala na solidão do nosso próximo, seja qual for sua linguagem, denominação, ou caráter. Através de ouvir juntos a palavra de Deus, um silêncio realmente criativo pode se desenvolver, Este silêncio é um silêncio impregnado com a presença amorosa de Deus. Desta forma ouvir juntos a palavra de Deus pode libertar-nos da competição e rivalidade e permitir-nos reconhecer nossa verdadeira identidade como filhos e filhas do mesmo Pai amoroso, irmãos e irmãs do nosso Senhor Jesus Cristo, e conseqüentemente um do outro.

Este exemplo de disciplina de comunidade é um dentre muitos. Celebrar juntos, trabalhar juntos, brincar juntos, todas estas são maneiras pelas quais a disciplina de comunidade pode ser praticada. Mas seja qual for seu tipo ou forma concreta, a disciplina de comunidade sempre leva-nos além dos limites de raça, sexo, nacionalidade, caráter, ou idade, e sempre nos revela quem realmente somos diante de Deus e do nosso próximo.

Através da disciplina de comunidade nos tornamos pessoas; isto é, pessoas que estão soando uma à outra (a palavra latina personare significa "soar") uma verdade, uma beleza, e um amor que é maior, mais profundo e mais rico do que nós mesmos podemos compreender individualmente. Em comunidade verdadeira somos janelas oferecendo constantemente um a outros novos panoramas do mistério da presença de Deus em nossas vidas. Desta forma a disciplina de comunidade é uma verdadeira disciplina de oração. Faz-nos alertas à presença do Espírito que clama "Aba", Pai, entre nós, orando assim do centro de nossa vida em comum. Comunidade desta forma é obediência praticada juntos. A questão não é simplesmente. "Para onde Deus me leva como um indivíduo tentando fazer sua vontade?" Mais básica e mais significante é a questão, "Para onde Deus nos leva como um povo?" Esta questão requer que prestemos cuidadosa atenção à direção de Deus em nossa vida coletiva e que juntos procuremos uma resposta criativa. Aqui podemos ver como oração e ação são realmente unidas, porque o que quer que façamos como comunidade somente pode ser um ato de verdadeira obediência quando é uma resposta àquilo que ouvimos da voz de Deus em nosso meio.

Finalmente, temos de lembrar que comunidade, como solidão, é principalmente uma qualidade do coração. Embora seja verdade que nunca conheceremos o que é comunidade se não nos unirmos em um lugar, comunidade não significa necessariamente estar fisicamente juntos. Podemos muito bem viver em comunidade mesmo estando fisicamente sozinhos. Em tal situação podemos agir livremente, falar honestamente, e sofrer pacientemente por causa do vínculo íntimo de amor que nos une com outros, mesmo quando tempo e espaço nos separam deles. A comunidade de amor não só se estende além dos limites de países e continentes mas também além dos limites de décadas e séculos. Não somente a consciência daqueles que estão longe mas também a memória dos que viveram no passado podem levar-nos a uma comunidade que nos cura, sustenta e dirige. O espaço para Deus na comunidade transcende todos os limites de tempo e lugar.

Desta forma a disciplina de comunidade libera-nos a ir aonde quer que o Espírito nos guie, mesmo a lugares onde preferiríamos não ir. Isto é a verdadeira experiência pentecostal. Quando o Espírito desceu sobre os discípulos que estavam trancados juntos com medo, eles foram libertos para sair do seu quarto fechado para o mundo. Enquanto estavam reunidos com medo ainda não se constituíam uma comunidade. Mas quando receberam o Espírito, tornaram-se um corpo de pessoas livres que podiam permanecer em comunhão um com o outro mesmo quando estavam tão longe um do outro quanto Roma está de Jerusalém. Desta forma, quando é o Espírito de Deus e não o medo que nos une em comunidade, nenhuma distância de tempo ou lugar nos pode separar.

CONCLUSÃO

Através da disciplina de solidão descobrimos espaço para Deus no mais íntimo de nosso ser. Através da disciplina de comunidade descobrimos um lugar para Deus em nossa vida em conjunto. Ambas as disciplinas se complementam, exatamente porque o espaço dentro de nós e o espaço entre nós são o mesmo espaço.

É neste espaço divino que o Espírito de Deus ora em nós. Oração é primeira e principalmente a presença ativa do Espírito Santo em nossa vida pessoal, e comunitária. Através das disciplinas de solidão e comunidade tentamos remover - lentamente, mas persistentemente - os muitos obstáculos que nos impedem de ouvir a voz de Deus dentro de nós. Deus nos fala não somente de vez em quando mas sempre. Dia e noite, durante o trabalho e durante o lazer, na alegria e na dor, o Espírito de Deus está ativamente presente em nós. Nossa tarefa é permitir que esta presença se torne real para nós em tudo que fazemos, dizemos ou pensamos. Solidão e comunidade são as disciplinas pelas quais o espaço se torna livre para percebermos a presença do Espírito de Deus e respondermos destemidamente e generosamente. Quando ouvirmos a voz de Deus em nossa solidão também a ouviremos em nossa vida juntos. Quando ouvirmos a Deus em nossos companheiros humanos, também o ouviremos quando estivermos com ele sozinhos. Quer em solidão quer em comunidade, quer sozinhos quer com outros, somos chamados para viver vidas obedientes isto é, vidas de oração incessante - "incessante" não por causa das muitas orações que fazemos, mas por causa de nossa sensibilidade à oração incessante do Espírito de Deus dentro de nós e entre nós.

Fonte: http://ichtus.com.br/publix/ichtus/mensagem/

May 22, 2006

É meu, somente meu todo trabalho...

... e o teu trabalho é descansar em Mim.
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Bonjour, chérie!

Como foi de finde? Descansou? Ou se acabou?

O meu foi relax total (não precisei trabalhar desta vez, ufa...), na sexta fui no GAP (qdo o universo "conspira" a nosso favor, tuuuudo de bom), depois fui ver O Código da Vinci (adorei o começo, mas depois fiquei desapontada... esperava mais, falaram tanto! Como não li o livro, a única conclusão que cheguei é que o cara viajou muuuuito nas teorias, qta imaginação)! No sábado fiquei em casa lendo, à tarde fui ver A lula e a baleia (chato à beça) e jantei em casa sozinha. No domingo de manhã, peguei sol na "laje" (joke) e aí começa o calvário, à tarde fui na PIBJI; saí de casa às 14h50 e cheguei às 17h30!!! Primeiro, tinha uma manifestação na Paulista (contra a tomada da Petrobrás pela Bolívia), depois um monte de policiais na av. Interlagos por causa da Fórmula Truck... normalmente demoro 2 horas para chegar na PIBJI (aproveito este período para aquietar meu coração, conscientizar minha pp miserabilidade e preparar-me para receber a Palavra do Pai), mas desta vez parecia que tinha uma escola de samba dentro de mim (rs)!!!

Primeiro, foi dando faniquito (engraçado como a gente perde o controle da gente mesmo qdo não tem controle sobre os outros ou as situações), depois comecei a pensar: - poxa, venho aqui 1 vez por semana e já estou murmurando, será que o desafio não é transformar esta irritação em gratidão? E quem tem de encarar este trânsito todo dia para trabalhar ou estudar? Não é justo (o ônibus estava cheio de pais e mães com sacolas e crianças pequenas)... Queria ver o presidente Lula pegando um ônibus deste, quem sabe ele parasse de fazer discursos ocos e começasse agir (nooossa, que menina taleban) joke!

Eu ando meio de bode (estou tentando deixar a "bomba" na mão do Pai, mas a estressada-de-plantão tem a péssima mania de entregar e depois tomar de volta) rs.

Uma coisa que tem ficado muito clara é esta tendência doentia que tenho de ser perfeccionista, me cobrar demais e de tabela, cobrar os outros na mesma medida. Qtas vezes tomamos o lugar de Deus e cobramos de nós coisas que nem Ele pediu da gente?! Por exemplo, tô maus porque aconteceram umas coisas bem chatas no trabalho e não tenho conseguido amar os inimigos muito menos orar pelos que me perseguem. Sei que amar nossos queridos e orar por eles não nos torna pessoas melhores porque o babado é a gente ir além destes limites (mas como é difícil)!

Confesso que no momento a única coisa que tenho tentado (porque nem isto tenho conseguido) é entregar a situação na mão do Pai (ao invés de fazer justiça com as pp mãos). Aliás, é única coisa que Ele me pede no momento: "É meu, somente meu todo trabalho... e o teu trabalho é descansar em Mim"... Que punk!

Por favor, gostaria que estivesse orando por mim neste sentido (ah, tenho meditado na história do profeta Daniel, um cara que não se perdeu em meio às demandas e expectativas da sociedade - por favor, se vc tiver algum material para compartilhar, eu agradeço). Desculpe o desabafo (que caminhão de mexerica, hein?! Ninguém merece) rs...

Mudando de pato para ganso, no dia que SP parou (rs), a maluca aqui foi ao cinema. Comprei ingresso para ver Novo Mundo, mas o funcionário me colocou na sala errada e acabei vendo Uma Mulher contra Hitler. Foi um soco no estômago porque refleti até que pt somos capazes de lutar por um ideal... Vc daria a vida por aquilo que acredita? Me senti tão pequena e transportei a situação para o momento que estamos vivendo. Vc vê, com tanta manifestação: é artista contra o fechamento da Varig, multidão contra a tomada da Petrobrás na Bolívia, Parada Gay, Marcha para Jesus, Reveillón na Paulista, Show de 1o. Maio... onde estão os caras-pintadas, cadê a população se manifestando contra a violência, contra a corrupção? Somos todos uns covardes, isto sim...

Mas chega deste assunto (tá vendo como tô fundamentalista) rs.

É engraçado como algumas coisas tem poder de causar impacto em nossas vidas e, para mim a arte tem este poder. Por isto caiu como uma luva esta pintura de Rembrandt que vi pela 1ª. vez numa das reuniões com o pr. Ricardo Agreste. A 1ª. coisa que veio para mim foi “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias e cheguem os anos nos quais dirás: não tenho neles prazer (Ec 12: 1)”. O mais maluco é que a mensagem trazida não tinha nada a ver com isto!

A reflexão era sobre o salmo 63 e o pr. Ricardo alertava-nos sobre a importância da meditação em nossa vida. Aliás, a pintura remete exatamente a este tema. Mas não para mim (veja se vc tb concorda comigo).

Quando olho para o ancião, vejo um fariseu, envolvido por uma luz intensa, porém ela não faz diferença apesar da fartura. O idoso recebe a luz, mas não dá valor. Ele está cabisbaixo e suas mãos estão fechadas. Enxergo todo seu tédio, cansaço, prostração. No canto da tela vc vai perceber um jovem (ou será uma mulher, quem sabe a viúva das 2 moedas?) indo de encontro à luz, que é apreciada apesar de escassa. Ela se volta para a luz, está sinceramente interessada, é envolvida pelo calor e se ajoelha diante do fogo. Percebo alegria genuína, vivacidade, um desfrutar em meio à escuridão (ou será deserto?). Não é quantidade de luz, mas a postura diante dela que faz toda diferença.

Seria simplista dizer que é a juventude em contraponto com a velhice. Não tenho nada contra a velhice. Na minha opinião, a vida não se mede pelo tempo (chronos, que a tudo corrói), mas pelo estado de espírito (kairós, a oportunidade de aprender, virar o jogo e fazer acontecer). Uma pessoa só envelhece quando troca os sonhos pelos lamentos.

Talvez este seja o convite que Jesus faz a Nicodemos e aos discípulos: é preciso nascer de novo para ver o reino de Deus (Jo 3), é preciso voltar a ser criança para entrar no Seu reino (Mt 18).

No centro da tela, vc vai ver uma escada que separa os 2 personagens. É a escolha que fazemos: podemos nos tornar eternos aprendizes, não nos curvando às limitações (escuridão, problemas, deserto) ou podemos nos tornar pessoas ranzinzas, acomodadas (apesar da fartura). Rembrandt parece deixar aberta a resposta: quem subirá a escada?

E agora vc decide: é a cara-fechada ou o sorriso brejeiro?

De certa maneira, a pintura acaba sendo uma metáfora do salmo 63, escrito por Davi qdo fugia de Absalão (2 Sm). Particularmente gosto mais do salmista qdo ele se mostra inteiramente dependente do Pai e se derrama aos Seus pés. Engraçado que isto sempre acontece qdo ele está em alguma enrascada (qq semelhança não será mera coincidência) rs. E isto prova que o ser humano dá muito mais valor a 1 copo de água qdo passa pelo deserto do que qdo está na abundância do palácio (ai que mêda)!

E com vc?

Como tem sido a sua busca pelo Pai (tb faço esta pergunta para mim)? Será que temos recebido tanto amor que não damos mais valor? Será que temos nos tornado pessoas que só reclamam e não conseguem agradecer pelos pequenos e grandes milagres da nossa pp vida? Ou será que somos como a pessoa anônima, escondida no escuro que, apesar dos apesares (problemas, deserto), consegue vislumbrar o amor cuidadoso do Pai e desfruta de Sua doce presença?

Que desafio!

Vou ficando por aqui... Peço ao Pai que nos ajude a admitir que somos impotentes enqto estivermos separados dEle, que precisamos acreditar que só Ele pode nos tirar desta situação insana (talvez o maior milagre deva acontecer no nosso pp coração) e que decidamos entregar nossa vida e nossas vontades aos cuidados dAquele que é poderoso para fazer muito mais daquilo que pedimos ou pensamos.

UBTAT*, fui!

KT

* Um Beijo Te Amo Tchau (joke)!

May 19, 2006

Filosofia x Espiritualidade

Filosofia x Espiritualidade
Profissionais que investem em educação e treinamento sempre são mais interessantes porque procuram entender o mundo, aprendem mais sobre si mesmos, melhoram como seres humanos e (teoricamente) fazem diferença em seu universo de atuação.

Mas isto só vale qdo a iniciativa é de dentro para fora, ou seja, parte do pp estudante (e não do pai, do professor ou da empresa). Senão vc só acumula conhecimento (notas, diplomas, MBA) e não sabedoria (o desafio é tornar-se letrado: aquilo que vc aprende, gera transformação).

Gosto da maneira do pr. Ricardo Agreste explicar que espiritualidade não tem nada a ver com religião. Porque espiritualidade é uma resposta ao amor de Deus que nos constrange enquanto que religião é uma tentativa de nós, humanos, re-ligarmos o contato com o Altíssimo.

Infelizmente estes conceitos não são muito difundidos e quase todo mundo "esquece" que o passe da graça não está na nossa mão (para nós, herdeiros do Iluminismo, é difícil lidar com coisas das quais não temos controle).

Mês passado ouvi um rabino falando que existem 4 maneiras da gente se relacionar com a Palavra:

- entendê-la literalmente;
- tirar lições morais;
- buscar explicações filosóficas;
- aceitar o Mistério (para isto, é preciso desenvolver intimidade com o Eterno) na verdade, é a única maneira de vc conhecê-Lo!

Por isto percebo que estudar filosofia é mais "fácil" que encarar espiritualidade.

Filosofia envolve razão e distanciamento. Espiritualidade requer coração, razão e intimidade.

Estudar filosofia é ter controle da história. Viver a espiritualidade é vc abrir mão e confiar que o Pai te levará a lugares jamais imaginados.

Estudar filosofia pressupõe vc encontrar com gente-como-vc (igual à Orkut) rs. Espiritualidade é um convite para exercitar a tolerância, amando pessoas nem sempre iguais a vc, mas que juntas confessam um mesmo Deus.

Filosofia é sedução. Espiritualidade é comprometimento.
Filosofia discute idéias. Espiritualidade te desafia à ação.

Gosto das duas, mas a espiritualidade te leva além dos limites da filosofia e te faz crescer. Porque espiritualidade é um convite à maturidade. E isto assusta muita gente.

May 16, 2006

Tolerância

GENTE COMO A GENTE
Boa parte da história da humanidade transcorreu em uma época na qual a maioria da população vivia em pequenas vilas e cidades com no máximo 10.000 habitantes. Isso significa que havia, em média, 200 pessoas em sua faixa etária, que você conhecia por nome e sobrenome.

Nem todas eram simpáticas, brilhantes e alegres como você, mas, se quisesse ter amigos, você teria de aprender logo cedo a aceitar as idiossincrasias e diferenças de opinião. Muitos dos filósofos da época escreviam sobre tolerância, uma virtude necessária para os tempos.

Hoje, a situação é diametralmente oposta. A maioria da população brasileira vive em grandes centros urbanos, fenômeno com menos de quarenta anos de existência. Ainda não aprendemos a conviver com essa nova situação. Por exemplo, nem dá para pensar em conhecer as 100.000 pessoas em sua faixa etária de sua metrópole. De quarenta anos para cá, começamos a fazer algo que nossos antepassados não podiam: selecionar nossos amigos.

Podemos, agora, criar um seleto grupo de amigos, gente-como-a-gente. Pessoas com os mesmos interesses, com as mesmas manias, que pensam politicamente do mesmo jeito, que têm os mesmos gostos e opiniões.

Se seu vizinho é um chato ou tem opiniões contrárias, você simplesmente o ignora, e se desloca até o outro lado da cidade para encontrar um amigo. Gente chata nunca mais.

Virtudes como tolerância, respeito, curiosidade intelectual não são sequer mais discutidas, muito menos veneradas. É cada um por si e seus amigos.

Com a Internet, a situação piorou, e muito. Agora existem sites que permitem que descubramos gente-como-a-gente do outro lado do mundo, através de "comunidades virtuais", e-grupos, e-amigos, enfim.

A Amazon Books, por exemplo, avisa-me de outros clientes que compraram exatamente os mesmos livros que eu comprei. Gente do mundo inteiro que tem os mesmos interesses, um pequeno grupo de gente-como-eu.

Isso, no entanto, está longe de ser uma comunidade, no sentido antigo da palavra. Se não tomarmos cuidado viraremos um bando de narcisistas olhando no espelho.

Jamais iremos criar uma sociedade de união universal como pregam os social-internautas. Somente aumentaremos a intolerância, a falta de compreensão, compaixão e humildade local. Aumentaremos também a arrogância, com a auto-alimentação de grupos que terminarão se achando donos da verdade.

Não vou sugerir uma volta ao passado, nem negar que é um prazer conhecer gente-como-a-gente do mundo inteiro, e prevejo que provavelmente iremos continuar nesse caminho.

Mas teremos de fazer um pequeno esforço para conhecer de novamente nossos vizinhos, apesar de chatos, apesar das opiniões diferentes, dos gostos musicais irritantes e assim por diante. Se você parar uma vez na vida e conversar com seu vizinho, poderá descobrir que no fundo ele até que tem coisas interessantes e diferentes a dizer. Você poderá descobrir que existe uma virtude em ser tolerante, compreensível e aberto a novas idéias.

Se cada um se fincar na sua trincheira, criando batalhões de amigos que pensam igualzinho, iremos caminhar numa rota perigosa para o futuro.

Meu site www.voluntarios.com.br dá preferência proposital às entidades próximas ao endereço em que você mora. Talvez não haja uma de que você goste em seu bairro, mas esse é justamente o espírito da filantropia e do voluntariado: não se faz o que se "gosta", mas o que é necessário ser feito.

Portanto, se você tem um vizinho chato, cumprimente-o de forma diferente da próxima vez que o encontrar. Dê um sorriso encantador . Convide-o a ir a sua casa ou apartamento. Vamos começar a aprender a conviver com gente-que-não-é-tão-parecida-com-a-gente. O mundo ficará bem melhor.

- por Sthephen Kanitz

Publicado na Revista Veja edição 1690 ano 34 no 9 de 7 de março de 2001.

May 15, 2006

Preparado

Preparado
"Preparado está o meu coração, ó Deus; cantarei e darei louvores até com a minha glória."

(Salmos 108:1 BRP)

Coisa interessante este salmo atribuído a Davi nos ensina, quando o lemos com a merecida calma. Quantos de nós, de fato e realmente, estão prontos (preparados) de coração para cantar louvores?

Este ensino tem relação direta com o quanto conseguimos entregar nossas preocupações ao Senhor, apesar do dia que tivermos. Coração preparado é coração rendido, entregue, com os problemas deixados de lado, focado e dedicado ao que está fazendo. Nem sempre me sinto assim, apesar do que tente fazer para o Senhor. Se é por questão de saúde, de dinheiro, de reconhecimento, de falta de tempo, de pouca gente para me ouvir - não importa - o fato é que nem sempre me vejo de coração preparado.

Isso tem cura, para glória de Deus e salvação de homens (e mulheres) como eu você, que vivemos esta vida pós-moderna corrida demais para o que deveria ser essencial. Sobreviver está se tornando cada vez mais difícil, e até por isso mesmo, cada vez trabalhamos mais (e pior) para ganhar a mesma coisa.

Eu tenho proposto e encarado o desafio de dormir alguns minutos a menos, mas não para que tenha mais tempo para trabalhar, e sim para poder correr menos e prestar mais atenção ao que Deus tem feito ao meu redor. Isso sim é louvor, gratidão, adoração. Cantar é legal, ler salmos é legal. Mas dedicar-se a observar as obras de Deus e admirá-lo, agradecer-lhe, prestar atenção a Ele - isso sim é um verdadeiro louvor.

Que tal corrermos menos? Conversarmos mais? Assistir menos TV, usar menos a Internet, trabalhar um pouco menos. Ainda que sejam apenas 10 minutos por dia, no começo. Usando este tempo para prestar atenção ao mover de Deus, a vida de todos nós será diferente. Eu proponho o desafio e encabeço a lista. Vamos comigo?

"Pai, às vezes me sinto incapaz e despreparado, mas minha força vem de Ti. Ensina-me a fazer valer Teu nome em minha vida."

- Pr. Mário Fernandez

Fonte: http://ichtus.com.br/publix/ichtus/devocional/preparado.html

May 12, 2006

Maldade

Maldade
“Segundo eu tenho visto, os que lavram a iniqüidade e semeiam o mal,
isso mesmo eles segam.”

(Jó 4:8 ARA)

Por muito pouco este verso não me derrubou da cadeira, quando o li há pouco. A impressão que me deu foi que Jó estava vivo hoje, nos nossos dias de século XXI pós-moderno. Fui correndo verificar se a Bíblia dizia isso mesmo. E dizia mesmo.

Temos vivido em um mundo completamente apodrecido em seus relacionamentos, sua emoções, seus sentimentos, seus desejos, e até seus sonhos. O sonho de muita gente (pasmem, alguns crentes inclusive) é ficar podre de rico. Se isso fosse coisa boa, não seria podre! Já ouvi jovens dizendo que seu sonho é ser o melhor guitarrista de todos os tempos. Faltou dizer "e o mais humilde". Há poucos dias um destes mancebos me disse "vou escrever um livro chamado os 2 homens mais humildes do mundo - a história de como encontrei o outro". Parece piada.

Mas iniquidade significa falta de igualdade, de equilíbrio, de ajuste. Quando não me basta ser bom no que faço e menos do que ser o melhor de todos os tempos não me basta, o que restará aos outros? Será que Deus nos quer assim tão destacados? O que estamos semando com estes sentimentos e desejos me preocupa.

Ao semarmos isso, automaticamente criamos (ou adubamos) um mundo rigorosamente assim. O que poderemos esperar para um futuro próximo ou distante é que isso se cumpra. O que talvez nem todos percebam é que acaba se cumprindo para os outros. Nunca vi galeria de troféus de atletas que chegam em 6º, 7º, ou 10º lugar. O bom senso diz que o destaque é do primeiro, quando muito do segundo. Mas não estamos tratando de bom senso, e sim de obediência aos mandamentos de Cristo.

Cuidado com o que semeia, ainda que seja sutil. Sinto-me desafiado inclusive a advertir que deixar de semar o que convém é um grande problema, por si só. Encare este desafio também e semeie amor, misericórdia e paz.

"Pai, Tuas coisas são perfeitas e embora eu não seja perfeito quero andar contigo. Ensina-me a fazer valer aquilo que sei para semear o que convém."

- pr. Mário Fernandez

Fonte: http://ichtus.com.br/publix/ichtus/devocional/maldade.html

May 11, 2006

O que se planta, se colhe

Agricultural Espiritual
Eu lhes disse: “Preparem os campos para a lavoura, semeiem a justiça e colham as bênçãos que o amor produzirá. Pois já é tempo de vocês se voltarem para mim, o SENHOR, e eu farei chover sobre vocês a chuva da salvação.”

(Oséias 10:12 NTLH)

Eu tenho uma certa tradição familiar na agricultura - na roça. Nada extatamente latifundiário, mas o suficiente para entender como as coisas funcionam por lá. Se não plantar não colhe, e mesmo se plantar ainda pode não chover, pode chover demais, pode dar peste, pode faltar adubo, pode acontecer de errado mil coisas.

Espiritualmente a Bíblia compara nossa vida com lavoura e agricultura muitas vezes. E assim como na minha família, todos somos humildes agricultores com poucos metros quadrados de solo - nenhum de nós é fazendeiro. Passamos todos os anos de nossas vidas plantando hoje e colhendo depois - em relacionamentos, perdão, santidade, amor, inimizades, experiência etc.

O Senhor aqui confirma esta idéia e ainda dá algumas promessas de que se plantarmos Suas sementes (justiça) colheremos Seus frutos (bênção do amor). "É tempo" tem tudo a ver com plantar, pois na época errada não adianta plantar que não brota. Colhemos soja em abril/maio portanto não podemos plantar nesta época. Trigo é planta de inverno, então não plantaremos em dezembro. "Farei chover" é a parte que não controlamos da agricultura, e quando o Senhor promete esta chuva temos um fator que pesa 50% no sucesso do empreendimento. O resto fica por conta da boa semente (garantida por Ele) e demais condições de preparo de solo que correm por nossa conta.

Pense na sua vida como uma lavoura permanente, contínua. Deixe de lado suas manias exageradas de querer ser reconhecido, de dar a última palavra, de ter razão. Preocupe-se em semear justiça além da conta - alguns chamam isso de misericórdia. Nosso desafio é plantar mesmo sem certeza de colher, exatamente como minha avó fazia com milho, feijão e todo resto.

"Pai, obrigado por me prometer que Tua parte será cumprida. Confio na Tua fidelidade e quero aprender a fazer minha parte."

- pr. Mário Fernandez

May 10, 2006

Parar e orar ou orar e caminhar?

Hora de parar para orar ou hora de orar e caminhar?
Quando é que você pára e quando é que você age? Entender esses movimentos é indispensável para um equilíbrio entre o sentir e o agir. E entender que ambos podem ser experimentados no ambiente da oração é indispensável, porque parar para orar e orar sem cessar são duas necessidades fundamentais. Discerní-los, um desafio.

Acredito que devemos parar tudo o que estamos fazendo, quando nosso coração deixa seu norte e navega à deriva. O norte é a confiança no caráter e no poder de Deus. Ele sabe como fazer, pode fazer e quer fazer o bem por nós. Isso é fé em Deus, fé no que Ele falou e no que nosso coração insiste em crer e não descansa em nenhuma filosofia ou construção argumentativa até que sinta a paz, que excede todo entendimento – como disse Paulo – e que nos torna capazes de agir. Enquanto o coração não descansa em Deus e se reveste de coragem, é melhor aquietar. Parar para orar.

Mas quando estamos revestidos desta confiança em Deus, então podemos caminhar. Devemos arregaçar as mangas e agir. Não precisamos parar para orar, nosso coração já tem a confiança necessária para vivermos e aceitarmos o que vier pela frente. Seja lá o que vier, não mais seremos afetados emocionalmente, porque acreditamos no caráter de Deus e assim assimilaremos as dificuldades da vida. Podemos orar enquanto caminhamos, sem parar.

Diante de um problema, seja de qual gravidade for, algumas pessoas devem parar e orar e outras devem agir orando. A diferença está em como o coração reage. Orar para ter paz e discernimento é indispensável e quando vem a confiança, prosseguimos. Orar e parar para que Deus faça o que podemos fazer, é meninice. Discernir quando é uma realidade ou outra, é fruto da intimidade, da auto-percepção e da maturidade.

© 2006 Alexandre Robles

Fonte: http://www.atual.info/

May 08, 2006

Fiz, mas não devia

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Qdo eu era criança, aprendi a não gostar de TV. Meu maior prazer era me deleitar nos livros ilustrados de história, gibis... tudo que caía na minha mão eu lia, até obituário de jornal e lista telefônica (índice por rua ou nome do assinante)! Interessante notar que agora trabalho numa emissora e faço esforço para acompanhar as novelas (que cá em nós, são sempre a mesma coisa). Mas acho que pouca gente concorda comigo, porque as audiências do Brasil estão entre as maiores do mundo (isto sem falar em Big Brother, Linha Direta e por aí vai).

Nelson Rodrigues já dizia: " a unanimidade é burra". E se tinha uma coisa que estava me irritando nos últimos tempos era a febre do Código da Vinci (depois de Harry Potter, claro). Nada contra, mesmo porque vou assistir os filmes (rs), mas entrar na neura de ler, entender e ainda discutir, era pedir um pc demais para mim.

Um dos melhores ensinamentos que tive na faculdade foi uma dica do professor de Sociologia: "Se vc quer saber algo sobre um autor (Karl Marx, Emile Durkheim, Theodor Adorno e por aí vai), beba direto na fonte, ou seja, leia o pp autor". Nada de comida enlatada, nada de ler o resumo de um cara passando os melhores momentos.

Por isto quando ouvia aqueles questionamentos de gente que tinha acabado de ler o livro de Dan Brown, a vontade era responder: - Ei, vc prefere comprar uma bolsa Louis Vuitton na Champs Elisée ou o genérico no Stand Center? Mas este tipo de resposta taleban (I hope so) faz parte do passado...

Por isto, a curiosidade e o receio de assistir a uma palestra sobre um livro que não li. Tentei inventar mil desculpas (igual aquela propaganda da mulher que quer um sapato e mente para si mesma criando argumentos para não comprar) rs: tinha reunião fora o dia inteiro em Moema (terminou mais cedo), precisava comprar passagem para ir para Araçatuba no dia das mães (apesar do trânsito, foi rápido), queria encontrar o Mestiço fechado para me sentir a "impelida a ir" ao tal seminário... Só que encontrei o restaurante aberto e aí me deparei com aquela pergunta: - O que vc quer de verdade?

E lá fui eu à tal palestra... Me senti meio impostora e óbvio que tudo que eu mais temia aconteceu, perguntaram se eu tinha lido o livro e a cara pálida pagou o mico de dizer que não... Depois de dezenas de minutos de explicação, coisas incríveis aconteceram:

1a) saí de lá com a certeza de que "não li, não lerei porém não terei raiva de quem leu" (rs)
2a) não devo acreditar em tudo que vejo, e sim discernir verossimilhança x verdade (porque algumas pessoas falam aquilo que as outras esperam ouvir enquanto outras só "ouvem" aquilo que querem acreditar);
3a) olhe com graça para as pessoas: separe o problema do ser humano.
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