May 16, 2007

De indivíduo à pessoa

De indivíduo à pessoa
- Isabelle Ludovico

A palavra indivíduo define um elemento da espécie, mas significa também que este elemento é uma unidade que não pode ser dividida. Este é um bom ponto de partida: perceber que o ser humano é uma totalidade formada de corpo, alma e espírito interligados e inseparáveis. Assim, não existem almas desencarnadas. Vamos ressuscitar com um novo corpo incorruptível. O corpo nos delimita em relação ao meio ambiente. Deus nos tece no útero da nossa mãe, dando-nos consistência. O corpo é a plataforma sobre a qual se constrói a nossa identidade. Ele registra a nossa história e emite sinais que, se não forem atendidos, se transformam em sintomas. Assim, a pele se arrepia quando a temperatura do corpo cai. Se não for aquecido, logo virão espirros seguidos de febre, anunciando um resfriado.

A sociedade faz do corpo apenas uma vitrine que precisa ser mantida nas medidas certas para se tornar objeto de desejo sexual. Algumas pessoas tratam o corpo com desconfiança permanente como se fosse uma armadilha prestes a derrubá-las. Os intelectuais olham para o corpo com um certo desprezo em relação à mente. A maioria das pessoas só presta atenção ao corpo quando este gera dor. Não percebem que o corpo é a nossa casa, um presente maravilhoso, fonte de prazeres variados através dos sentidos. Reconciliar-se com o seu corpo, compreender a sua linguagem, desenvolver e desfrutar de seus recursos, ampliar os seus movimentos, cuidar bem de suas necessidades, são vias de acesso a uma vida mais harmoniosa e mais saudável.

A alma permite esta consciência de si mesmo que nos distingue dos animais. Aventurar-se no nosso mundo interior é um desafio que nos revela tesouros escondidos e nos ajuda a liberar fantasmas reprimidos que sugam nossa energia. Aprofundar o autoconhecimento, entrar em contato com as nossas emoções e filtrá-las através da razão possibilita um desenvolvimento equilibrado. Não basta alimentar-se fisicamente, é importante selecionar aquilo que vai alimentar a nossa alma. Ser adulto significa assumir a responsabilidade de ser pai e mãe de nós mesmos, proporcionando-nos proteção, limite, direção, encorajamento, conhecimento, afeto. Identificar e modificar padrões de comportamento distorcidos nos permite adotar uma postura e ações coerentes com o nosso sistema de valores. Cada um precisa avaliar como sente e faz sentido no mundo.

Cada um de nós possui, dentro de si, um núcleo saudável que podemos chamar self e testifica a nossa criação à imagem de um Deus perfeito. O self tem um caráter transcendente que possibilita o acesso à vida espiritual através da reconciliação com Deus por meio do sacrifício de Cristo. O desenvolvimento integral só acontece quando construímos um vínculo cada vez mais profundo e amoroso com nosso Criador. Somos todos filhos pródigos chamados a voltar para casa. A casa é o lugar em nós onde Deus escolheu fazer sua morada e onde Ele nos espera de braços abertos para nos consolar, confortar e curar.

Tornar-se pessoa significa perceber-se como um ser humano único, dotado de recursos e limites, de luz e sombra, chamado a crescer de forma harmoniosa. Cada um precisa desenvolver o seu potencial equilibrando e integrando o sentir, o pensar e o agir. O sentimento de ser e pertencer depende da qualidade do nosso relacionamento com Deus e irá influenciar todos os outros vínculos. Aprender a dar e receber carinho, bem como oferecer um ao outro um espaço de acolhimento e respeito são condições para a construção de relações maduras que integrem compromisso e liberdade.

Harmonizar corpo, alma e espírito se manifesta na coerência entre sentimentos, pensamentos, palavras, posturas e ações. Isto é também um dos objetivos centrais da terapia. O terapeuta serve de espelho para que o paciente tome consciência das várias facetas de sua personalidade e enxergue as suas ambigüidades. Trata-se de um olhar amoroso para que o paciente possa reconhecer as suas falhas e corrigir os seus erros, em vez de levá-lo a levantar mais defesas por medo de se sentir rejeitado. Neste processo, os aspectos luminosos também têm mais espaço para se desenvolverem. Através de uma atitude mais compreensiva consigo mesmo, cada um se torna também mais paciente em relação ao outro.

Fonte: http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=69&materia=710

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