December 12, 2011

Prestação de contas

.
Chérie,

tudo bem por aí?

Espero que apesar da correria e das pressões, você esteja com o coração ancorado no coração do Pai, o lugar para mais seguro para enfrentar as tempestades (Sl 62)!

Pois é, daqui a pouco mais um ano termina e talvez nem tenhamos dado conta do sentido do natal, o propósito da vida e os desafios para o próximo ano... Apesar de estar num período tranqüilo, sei o quanto é fácil a gente se desviar do que é essencial, o quão cômodo é a gente se perder no meio das demandas.

Por isto a importância de estarmos cercados de bons amigos, para a gente não esquecer quem a gente é (a sua vida tem feito diferença na minha – muito obrigada)!

A última semana veio repleta de emoções: o resultado da entrevista (não foi desta vez), a descoberta de partes não bonitas que precisam ser tratadas (falta de perdão, honestidade para enfrentar quem sou de verdade), sonhos e dúvidas a respeito do futuro e por aí vai.

Você já prestou atenção que às vezes é a gente mesmo que restringe nossa visão? Quantas vezes temos medo de sonhar pelo medo de falhar (e sonhar não paga, olha que louco) rsrsrs...

Li uma frase que foi um chacoalhão: “sem saber que era impossível, ele foi lá e fez”. Quantas vezes isto não acontece com a gente? Ficamos presos a convenções, ao que os outros acham e esperam ser normal (e a gente nem tenta e vai se matando por dentro) – mêda!

Por exemplo, claro que adoraria voltar a trabalhar numa grande empresa (agradeço a Deus a oportunidade de ser tratada com tanta dignidade, respeito e transparência naquela seleção), mas do fundo do coração, não queria voltar a fazer as mesmas coisas (campanhas publicitárias, viagens); queria era mergulhar de cabeça no 3º setor... Então por que me candidatei? Por que fiquei triste quando não passei?

Olha como Deus é amoroso - para aproveitar esse momento de enfrentamento, por meio de um grupo de compartilhamento e oração, Ele mostrou o quanto estava sendo desonesta em relação a mim mesma. Lembra das desculpas dadas pelos oficiais quando matavam os judeus nos campos de concentração, dizendo que não sabiam de nada, que estavam apenas cumprindo ordens (e hoje a gente condena dizendo: - como não sabiam? E onde fica a ética pessoal, a consciência moral, ao cumprir ordens sabendo que algo é errado?). Foi o meu caso. Me descobri uma mentirosa corporativa, encobrindo coisas erradas (como é fácil apontar o erro para os outros ao invés de reconhecer que também temos nossa parcela de culpa) e até prejudicando vidas. Me senti péssima por vários dias (acho que nunca o salmo 51 fez tanto sentido – sabe aquela coisa da gente pensar: Jesus morreu na cruz? Por que? Sou tão bacana, não precisava... E de repente você se dá conta da dor, da tristeza, do mal e fala: - Ele morreu por mim!). Dureza que ainda estou processando porque tenho descoberto que o buraco é mais embaixo (sem a gente ter consciência, o pecado vai corroendo tudo ao redor). Por exemplo: as mentiras brancas. Quantas vezes a gente diz que está tudo bem, quando não está nada bem? Quantas vezes a gente diz sim, quando quer dizer não? Quantas vezes a gente mente para a gente mesmo (que é mil vezes pior do que mentir para os outros)? Chérie, mentir não é apenas distorcer a verdade, mas omiti-la também, sabia?

Outra constatação: não havia perdoado umas pessoas, que na minha opinião, tiveram um comportamento desleal. Perdoei de boca, mas não de coração (e isto também não é mentira?). E lá fui eu, de joelhos, pedir ajuda a Deus para lidar com este lixo interior. Olha, não é fácil: é tanta raiva, tanto rancor, tanto ódio. Na quarta-feira veio a oração dominical: “perdoa as nossas dívidas assim como perdoamos aos nossos devedores” (e Jesus é bem claro: se a gente não perdoar os outros, Ele não perdoa as nossas ofensas – Mt 6: 14 e 15). E agora? É mandamento (não temos opção)!

Chorei, esperneei, derramei meu coração e perdoei. Comuniquei à pessoa que me senti machucada com o comportamento dela, pedi perdão por ter guardado rancor (por isto havia cortado relações) e que errei ao perceber que somos responsáveis apenas pelas próprias escolhas (a única coisa que podemos mudar somos nós mesmos). Chérie, foi tão libertador depois: senti paz e liberdade que há tempos não sentia, dormi bem (foi punk, mas valeu a pena).

Sei que ainda tenho feridas a serem tratadas (mas tudo ao tempo de Deus, não por força nem por violência); todo dia é um desafio, todo dia é uma nova batalha.

Por isto é bom demais contar com sua amizade (presente de Deus – obrigada obrigada obrigada). Porque os amigos ajudam a lembrar quem somos, compartilham os mesmos valores, andam junto com a gente (e, como no caminho de Emaús, somos abençoados no partir do Pão pois é neste momento o Senhor se revela).

Chérie, a minha oração nesta semana é que Jesus em você; de palavra se torne atitude, cheio de amor e verdade – em todas as interações que você fizer hoje e sempre!

Um beijo carinhoso (continue orando por mim),

KT

"E Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e verdade" (Jo 1: 14a) 
.

0 Comments:

Post a Comment

Note: Only a member of this blog may post a comment.

<< Home