O desafio da vida: viver
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Chérie,
se tem um pensador atual que eu admiro é o Abraham J. Heschel que, junto do Emannuel Levinas, reflete sobre a dignidade e a ética diante de uma civilização cada vez mais desumanizada.
De acordo com o rabino, a consciência do Homem moderno está se amesquinhando, ou seja, perdendo a capacidade de vivenciar e experimentar o admirável, o sublime e o maravilhoso, o inefável e o misterioso.
Hoje terminei de ler um livro formidável dele (Quem é o Homem?) e separei umas pérolas para você, espia só:
"Ninguém vai viver minha vida por mim, ninguém terá meus pensamentos por mim.
É através da percepção que não sou qualquer um que me desenvolvo como self, como alguém, como pessoa, como algo que não pode ser copiado, que não tem duplicata ou substituto. É na percepção de que sou alguém que a liberdade começa a se manifestar.
Ser humano é ser uma novidade, não uma repetição ou extensão do passado; é ser uma surpresa, não uma conclusão antecipada. Uma pessoa tem a capacidade de criar eventos. Toda pessoa é um descobrimento, um exemplo de exclusividade.
O oposto da humanidade é a brutalidade, que é o fracasso em reconhecer a humanidade dos outros, em ser sensível às necessidades dos mesmos, as suas situações. A brutalidade geralmente é devida a uma falha da imaginação e à tendência de tratar uma pessoa como uma generalidade, como um homem comum.
Para nosso senso de poder, o mundo está à nossa disposição para ser explorado de modo a nos proporcionar vantagens. Aceitar o sagrado é um reconhecimento de que determinadas coisas não estão disponíveis a nós, não estão à nossa disposição. Aceitar o sagrado significa não apenas renunciar a desejos, mas também a enfrentar uma dimensão única da realidade.
O pecado do Homem é falhar em viver o que ele é".
Olha o que ele fala sobre manipulação e apreciação (mêda):
"Existem duas maneiras principais pelas quais o homem se relaciona com o mundo que o cerca: a manipulação e a apreciação. Do primeiro modo ele vê aquilo que o cerca coisas a serem manobradas, forças a serem controladas, objetos a serem usados. Do segundo modo, ele vê no que o cerca coisas a serem conhecidas, compreendidas, avaliadas ou admiradas.
É a mão que cria as ferramentas para o propósito da manipulação (manus significa mão) e são pelos ouvidos e pelos olhos que fazemos a apreciação. A aproximação depende da apreciação, enquanto que a manipulação é a causa da alienação.
Uma vida de manipulação distorce a imagem do mundo. A realidade está equacionada com a disponibilidade; aquilo que consigo manipular existe, aquilo que não consigo, não existe. Uma vida de manipulação é a morte da transcendência. A promessa se torna um pretexto, a verdade ficção, a lealdade uma tentativa, o sagrado uma mera convenção. Em vez de se maravilhar, ele tira uma foto; em vez de ouvir uma voz, ele a grava. Ele não enxerga o que lhe seria possível ver. Sua mente se tornou uma parede em vez de porta aberta para aquilo que é maior que sua capacidade de compreensão. Ele se tranca para fora do mundo, reduzindo toda a realidade a coisas banais e todo relacionamento a simples manipulação. Se manipulamos o que está disponível na superfície do mundo, deveríamos também nos deslumbrar diante do mistério do mundo.
O encantamento é mais do que uma emoção; é um modo de compreender, é um insight de um significado maior do que nós. O começo do encantamento é a maravilha, e o começo da sabedoria é o encantamento. O encantamento é uma intuição da dignidade de todas as coisas, uma percepção de que as coisas não são apenas o que são. Encantamento é um senso de transcendência. Prive-se do seu senso de encantamento e deixe a presunção diminuir a sua capacidade de reverenciar, que o universo se tornará um mercado para você.
A perda do encantamento evita o insight. Uma volta à reverência é o primeiro pré-requisito para reviver a sabedoria".
É para pensar (e colocar em prática), não?!
Beijos,
KT
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