June 30, 2012

Entre palavras ditas e palavras ouvidas

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- pr. Ricardo Agreste

Nossas vidas são construídas pelas opções que fazemos nas inúmeras bifurcações com as quais nos deparamos ao longo da jornada. Optamos por fazer determinado curso universitário e não um outro, por exemplo. Consequentemente, desenvolvemos amizades com certas pessoas, e não com outras, e frequentamos determinados lugares em detrimento de outros. Depois de formados, aquela rede de relacionamentos que formamos podem nos levar a trabalhar em determinadas empresas, e não em outras.

Mas nossas vidas não são construídas apenas pelas opções que fazemos. As palavras que ouvimos também entram nesse processo. Palavras influenciam grandemente nossas escolhas ao longo do caminho, e o que ouvimos ecoam dentro de cada um de nós. Palavras têm o poder de nos mover aos lugares mais altos da vida; podem, por outro lado, nos levar a situações de tristeza, escuridão e crise. Assim, uma conversa com o filho pode determinar seu sucesso futuro; um elogio recebido do chefe pode mudar a disposição e o futuro da carreira de um profissional; e um conselho de amigo pode resultar na restauração de um casamento.

Palavras de carinho da mulher para seu marido podem mudar seu ânimo diante da adversidade. E até mesmo um frase despretensiosa, dirigida a uma pessoa numa roda de amigos, pode fazer grande diferença àquele que a recebe. Porém, palavras podem ter efeitos negativos. Uma crítica feita em momento inapropriado pode levar ao abandono de uma vocação; uma difamação pode levar à destruição de uma carreira ou de uma família; comentários levianos podem semear intrigas e sabotar amizades desenvolvidas ao longo de anos. Por isso, precisamos reconhecer que palavras têm grande poder – tanto para gerar as coisas mais positivas como as mais negativas numa pessoa.

Quando pronunciamos palavras, temos sempre a opção entre sermos fonte de boas coisas ou de coisas ruins para aqueles que nos cercam. E tais efeitos podem determinar escolhas definitivas na vida daqueles que ouvem. Certas vezes, não nos encontramos na posição daqueles que proferem as palavras, mas sim, na daqueles que as escutam. Queiramos ou não, somos constantemente alvo das palavras alheias, e não temos qualquer controle sobre elas, muito menos sobre o conteúdo do que dizem a nós ou sobre nós. Palavras, simplesmente, vêm ao nosso encontro, alcançam nossas mentes e corações, gerando efeitos positivos ou negativos em nossos sentimentos e opções ao longo da vida.

Certo amigo de muitos anos é um especialista em gerar coisas boas através de suas palavras. Ele teve importante participação em meus primeiros anos como pastor de uma comunidade local. Com suas palavras, ele sempre encontrava uma forma de fortalecer minha confiança e valorizar a forma como atuava. Mas, paralelamente aos elogios, não me poupava das criticas necessárias. Pelo contrário – sempre dizia, com muita franqueza e assertividade, o que considerava errado em minhas atitudes, além de pontuar meus erros com clareza. A maneira como ele usava as palavras fez de mim uma pessoa melhor.

Recentemente, contudo, vivi situação oposta. Alguém proferiu palavras que me levaram a uma tristeza tão grande que cogitei a possibilidade de abandonar todo um ministério de 25 anos. Por quê? Porque aquelas palavras desvalorizavam tudo o que tenho feito. Não foi uma crítica construtiva, pois nem mesmo a mim as palavras foram dirigidas: tratava-se de um conjunto de leviandades e questionamentos sem qualquer amor, com propósito maior de intimidar, ferir, destruir – e por muito pouco tal propósito não foi alcançado.

Mas a sabedoria cristã aponta noutra direção. Através de Tiago, as Escrituras nos aconselham a sermos prontos para ouvir, tardios para falar e mais tardios ainda para nos irar, pois nossa ira não traz à tona a justiça de Deus, conforme Tiago 1.19. Logo, precisamos submeter as palavras que ouvimos à justiça de Deus. Isso significa que a última palavra acerca de quem somos ou fazemos vem do Senhor. Ele deve ser a maior fonte de influência em nossas escolhas.

Diante do grande poder das palavras, que tal resgatar o silêncio em nossas vidas? A quietude nos ajuda a discernir as palavras que devem ser ditas, que produzirão o bem para os outros, e palavras que não merecem ser proferidas. Mas o silêncio também nos ajuda a ouvir a voz daquele que é justo e verdadeiro, mostrando-nos claramente o que devemos acolher e o que devemos simplesmente dissipar de tudo quanto ouvimos.

Fonte: http://cristianismohoje.com.br/interna.php?subcanal=55
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June 29, 2012

Os benefícios de estar destroçado

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- Philip Yancey

Ao ouvir os discursos nos períodos de eleições, alguém pode sugerir que uma nova safra de políticos resolverá os problemas que o país tem enfrentado. Uma vez eleito, o candidato resolverá os problemas da educação, a crise na saúde, eliminará a pobreza, ajustará a economia e unirá o país.

Para dois problemas, entretanto, nenhum político ousa apresentar soluções: morte e maldade. Endêmicos à condição humana, esses dois problemas nos acompanharão por toda nossa vida. São exatamente esses os problemas que o evangelho de Cristo promete solucionar – não através da política ou ciência, mas através de um projeto que se iniciou no Gólgota.

Estudiosos da Bíblia mostram que o capítulo 3 de Romanos é a mais compacta exposição das boas novas. Antes de revelar a cura para aqueles dois males, Paulo detalha a impotência da humanidade em achar solução por conta própria. Desse modo, ele impressiona seus ouvintes com a gravidade da “doença” antes de apresentar sua cura. Sou confrontado com as três categorias de pecadores apresentadas por Paulo em Romanos 1 e 2. Ele começa descrevendo infratores flagrantes: depravados, assassinos e inimigos de Deus (embora, curiosamente, ele também mencione os pecados “de todo dia”, como ganância, fofoca, inveja e desobediência aos pais).

Como seus leitores eram cidadãos conscientes, presunçosos por sua superioridade moral ante àqueles depravados, Paulo vira a mesa do jogo no capítulo 2: “Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas”.

Posso nunca ter roubado um banco, mas será que eu já soneguei meus impostos? Ou será que eu fiz alguma obra em minha casa sem que tivesse licença para fazê-la? Será que já ignorei uma necessidade por causa de preguiça? Paulo segue a lógica de Jesus apresentada no Sermão do Monte: Homicídio e adultério diferem de ódio e luxúria apenas por uma questão de grau. Na verdade, a pessoa que comete um mal flagrante tem uma vantagem peculiar: um giroscópio interno na consciência que registra a sensação de estar fora de curso.

Certa vez, aceitei participar de um programa de cristãos chamado de os 12 passos, como os Alcoólicos Anônimos. Enquanto falava com os que ali estavam e ponderava acerca do que ia dizer, eu finalmente decidi pelo irônico título: “porque às vezes eu desejaria ser um Alcoólico”. Ocorreu-me que aquilo que os levava a confessarem-se todos os dias – falhas pessoais, a necessidade diária de graça e ajuda de amigos e de um poder maior – representa altos obstáculos para aqueles de nós que se orgulham de sua independência e auto-suficiência.

Paulo reservou seus comentários mais contundentes para uma terceira categoria de homens, os portadores de justiça própria, que em seus dias eram, majoritariamente, judeus que se orgulhavam por guardar estritamente a lei. Fariseu dos fariseus; Paulo conhecia muito bem esse título, como atesta em uma de suas cartas. Ele se refere aos depravados como “eles”, e aos bons cidadãos como “vocês”. Entretanto, quando ele discursa sobre a justiça própria, ele usa a primeira pessoa do plural. “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma!”.

Nos seus piores dias concernentes à justiça própria, Paulo perseguiu cristãos e esteve presente no apedrejamento de Estêvão. Ele sabia dos perigos que acompanhavam aqueles que se achavam moralmente superiores. Assim como a negação pode fazer com que pessoas não procurem médicos por cause de um nódulo, pondo, assim, vidas em risco, a negação do pecado pode conduzir a conseqüências ainda maiores. A menos que aceitemos esse desolador diagnóstico, não encontraremos cura.

A descrição da confissão de Paulo sobre sua justiça própria me faz lembrar um incomum esforço de M. Scott Peck para identificar uma nova desordem psíquica chamada mal. Em seu livro “Povo da mentira”, Pack analisa os tipos de maldade e conclui, como Paulo, que os piores deles são os mais sutis. Todos condenamos abusos infantis – mas o que dizer sobre pais controladores e manipuladores que trazem conseqüências devastadoras sobre suas crianças? Pack menciona uma surpreendente característica da maldade: atitude de se esquivar; intolerância com críticas; preocupação pública para com sua imagem e com sua respeitabilidade; fraqueza intelectual.

Paulo conclui: “Não há um justo; nem um sequer”. Talvez na passagem mais sombria de toda a Bíblia, ele fez uma conjunta descrição anatômica deste problema, ao dizer que eles têm: línguas enganadoras, gargantas como um sepulcro aberto, lábios venenosos, pés violentos e olhos arrogantes (Rm 3.10-18). Todas essas coisas estabelecem a magnífica apresentação do evangelho que começa em Romanos 3.21, a explicação da justificação pela fé somente que desencadeou a Reforma Protestante.

A graça de Deus, única solução para a morte e a maldade, vem sem custos, livre da lei, livre dos esforços humanos para obtê-la. Para essa livre oferta, nós só precisamos manter abertas as nossas pobres e necessitadas mãos – o gesto mais difícil para alguém cheio de justiça própria.

Copyright © 2008 por Christianity Today International

Fonte: http://cristianismohoje.com.br/materia.php?k=776
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June 28, 2012

A necessidade e o desejo

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- Eduardo Pedreira Rosa

O filósofo francês Paul Ricoeur chamou-os de mestres da suspeita. Eles tinham em comum uma análise muito crítica da religião; viam Deus como uma necessidade criada por nós, e não como um ser pré-existente, a partir do qual tudo se fez. Cada um ao seu modo, eles previam a emancipação da raça humana a tal ponto que cada indivíduo tornar-se-ia autônomo. Marx via na revolução social uma promotora de radical igualdade. Seria a libertação desta idéia de Deus, gestada justamente por um proletariado socialmente carente de algo capaz de lhes dar aquilo o que a realidade lhes negava. Já Freud entendia a maturidade psíquica como o elemento-chave para a superação desta infantil necessidade de um Pai divino. Por sua vez, Nietzsche enfatizava o fato de assumirmos plenamente a nossa humanidade, tomando as rédeas de nosso próprio destino. Assim, haveria super-homens, livres desta primitiva necessidade do divino.

Obviamente, não concordo com as suspeitas desses mestres. Porém, algumas vezes, sou tentando a encontrar uma dose de razão em suas afirmações. Isto porque já vi pobres piedosos perdendo sua devoção a Deus na mesma medida que subiam de classe social; vi também desempregados numa busca frenética pelo socorro do Senhor, mas que, uma vez colocados no mercado, tornaram-se pessoas tão ocupadas que suas agendas não têm mais espaço para alimentar a busca de outrora; e presenciei a experiência de gente que, quando emocionalmente carentes, mergulharam numa forte dedicação espiritual – porém, depois de se “resolverem” afetivamente, afastaram-se de Deus. Isso, sem falar naqueles decepcionados com a “incapacidade” divina de resolver suas complicadas vidas, que melhoraram quando eles mesmos resolveram assumir o controle.

Infelizmente, os mestres estão certos quando afirmaram que por trás da nossa relação com Deus reside, sim, uma necessidade de criá-lo à nossa imagem e semelhança. A honestidade comigo mesmo me impõe o dever de reconhecer uma tendência de tratar a Deus como uma necessidade. A consequência natural disso é transformá-lo em um mero provedor das nossas demandas – como o entregador de pizza que, uma vez atendido nosso pedido, pode ser dispensado. Acontece que, na intimidade relacional de Jesus com o Pai, aprendemos definitivamente que Deus deve ser o sujeito do nosso desejo, e não o objeto de nossa necessidade. Em Jesus, Deus que se revela no Antigo Testamento como Javé, o intocável e inatingível; mais tarde, é renomeado e chamado de Abba. De Todo-poderoso a paizinho querido; de Senhor inalcançável a cúmplice mais presente na nossa existência.

O desejo, como sabemos, está para além da mera necessidade. No desejo, há o prazer do encontro com o desejado. Eis a razão pela qual Deus se apresenta a nós como aquele que nos quer seduzir o coração, e não como alguém a satisfazer nossas necessidades. Quando se fez humano em Jesus de Nazaré, o Criador quis se aproximar de nós, pois sabia que o primeiro passo da conquista é a aproximação do ser amado. Ele quer quebrar nossas resistências, nossa natural alienação, e anseia por ver nosso coração tomado por sua doçura. Quando ouvimos e atendemos seu suave chamado, ele entra para cear conosco. Olha para dentro de nós e vê o que não somos capazes de enxergar em nós mesmos: nosso caos interior, as manchas profundas do pecado em nossa alma. E, apesar disso, não nos rejeita! Quando então, rendidos por seu amor, abandonamos as fronteiras do nosso egoísmo e nos entregamos em seus braços, nasce desse encontro uma relação de amor e amizade alicerçada no desejo mútuo de estar juntos.

Se continuarmos pensando a nossa relação com Deus em termos de necessidade, e não de desejo, terminaremos por ter que nos render ao fúnebre diagnóstico dos mestres da suspeita. Mas, quando nós o desejamos mesmo que nossas necessidades não sejam atendidas, então se cumpre aquilo que tão bem descreveu a teóloga cristã Maria Clara Bingmemer: “O que é certo é que homens e mulheres de hoje, como os de todo tempo, continuam a experimentar o drama de sentir-se limitados e frágeis e, no entanto, feitos para a união com aquele que não tem limites. E, no fundo mais profundo de si próprios, se percebem habitados pelo desejo ardente e incontrolável de entrar em comunhão com esta incompreensível realidade que se chama sagrado – a qual, devido ao fato de ser incompreensível, não é sentida como menos real (...) O amor passa, então, a governar suas vidas e a transformá-las segundo a inexorabilidade e a radicalidade de sua vontade”.

Fonte: http://cristianismohoje.com.br/interna.php?subcanal=53&id_conteudo=39
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June 27, 2012

À vontade com o desconforto

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Se vida cristã implica em integrar paradoxos, prepare-se para ficar à vontade com o desconforto, a incerteza e a inquietação (rsrsr).

Plenitude envolve coragem para ser inteiro e viver em liberdade e compromisso.

Liberdade para sentir até assombro e perplexidade, e compromisso para não desistir e ir além do que você possa imaginar ou pensar.

PS- Para ouvir a trilha do dia: http://www.youtube.com/watch?v=WKuuScgnlDE&feature=related
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June 26, 2012

Você tem valor ; )!

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Não sou quem eu era, devo ser quem me tornei
Coco Chanel

Quando Jesus trouxe Lázaro de volta à vida (Jo 11), o milagre não foi automático: o morto precisou ser desatado. E com a gente acontece a mesma coisa: ao assumirmos a nossa vulnerabilidade, precisamos reaprender a andar e a relacionar com os outros.

É um novo jeito de ser, de viver.

E é muito bom descobrir que fazemos parte de uma comunidade de amor, que não precisamos provar nada a ninguém (nem a nós mesmos) e a nossa contribuição, mesmo ínfima, tem importância para o Corpo.

Você não está só ; )!

PS- Para conferir a trilha do dia: http://www.youtube.com/watch?v=SQpjtCrK0to
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June 25, 2012

Ponto final

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Você só consegue abrir uma nova porta depois de fechar a anterior.

Para que o amanhã se descortine, o hoje tem de terminar.

Finais fazem parte da vida e você precisa se acostumar com isto.

Cada vez que algo termina, um outro novo surge. Mas é preciso terminar uma coisa para chegar à próxima.

Ao longo do caminho, dê sempre o seu melhor. Onde quer que se encontre, procure o sucesso onde quer que esteja; faça funcionar tudo o que estiver ao seu alcance.

E quando chegar a hora de dar o próximo passo, faça com coragem e sem medo. Se foi um passo errado, não importa (você sempre vai tratar de agir direito), aprenderá algo no processo e as pessoas notarão o seu empenho e valorizarão.

É por isto que você não precisa se preocupar com o amanhã, porque você terá feito tudo certo, mesmo que seja um mau acordo ou resultado. As pessoas perceberão só de olhar para você. E assim estará pronto para o que der e vier.

Os finais e os grandes novos começos estão interligados. Você não pode ter um sem o outro, o que é um paradoxo intrigante.

Faça a sua parte, tenha fé e o futuro cuidará de si mesmo.

PS- Há tempo para tudo na vida: http://www.bibliaonline.net/biblia/?livro=21&versao=2&capitulo=3&leituraBiblica=&tipo=&ultimaLeitura=&lang=pt-BR&cab=

Fonte: CLOUD, Henry. Coloque um ponto final: Pare de insistir em projetos e relações sem futuro e abra espaço para novas oportunidades. São Paulo: Lua de papel, 2012.
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June 24, 2012

Passarinhos fora do ninho

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A ninhada de passarinhos mal tinha saído dos ovos. Era ainda cedo para abandonar a presença, o calor e a proteção da mãe. Os pássaros nem sequer tinham aprendido a ciscar. E, muito menos, a bater as minúsculas asas e alçar os céus. Contudo, foram embora e nunca mais voltaram.

Esta é a figura de linguagem que o profeta Isaías usa para se referir aos moabitas, que foram obrigados a deixar o próprio país por causa da guerra: “Como passarinhos que foram espantados dos seus ninhos, assim os moabitas andam de um lado para o outro nas margens do rio Arnom” (Is 16.2).

Na verdade, toda mulher e todo homem são como passarinhos fora do ninho. É uma tristeza! Estamos distantes do lar onde nascemos. Por causa disso, estamos também confusos, perdidos, sem endereço certo, agitados, vagando por todos os lados, correndo atrás do vento. Não sabemos voltar, não conseguimos voltar e, às vezes, aturdidos e enganados, nem sequer queremos voltar. É uma situação complicada.

O ninho que deixamos, muito longe de nós e há muito tempo, está lá em cima. Em vez de voarmos nas alturas, descemos para a terra. Por isso, como a corça deseja e procura ansiosamente um riacho para matar a sede, assim também a nossa alma tem sede de Deus e quer voltar ao ninho. Enquanto isso não acontece, estranhas e frequentes ondas de tristeza se abatem contra nós (Sl 42.1-11).

Fora do ninho, temos uma espécie de saudade contínua de Deus, de sede contínua, de insatisfação contínua, de insônia contínua, de vazio contínuo e vivemos em um corre-corre contínuo. A nossa sede interior de Deus é como a de uma terra cansada, seca e sem água há muito tempo. Queremos voltar ao ninho e nos encontrar com Deus (Sl 63.1-2).

Agostinho, africano que se converteu em Milão, na Itália, aos 33 anos, é um dos mais conhecidos passarinhos fora do ninho. A certa altura, ele conta que percebeu a voz de Deus atrás dele: “Uma voz que me chamou a voltar, mas [que] mal pude escutá-la por causa do ruído e da falta de paz”. Depois de finalmente ouvir a voz de Deus, Agostinho escreve:

“Agora, aqui estou eu! Volto à sua fonte, ardendo de calor e sem respiração. Ninguém nem coisa alguma pode me proibir de voltar. Vou beber dessa fonte e por ela encontrar minha vida autêntica”. De volta ao ninho, o bispo de Hipona lamenta o tempo perdido fora dele e confessa: “Tarde te amei, ó tão antiga e tão nova beleza! Tarde demais eu te amei! Eis que estavas dentro em mim, e eu do lado de fora te procurava. Comigo estavas, mas eu não estava contigo […]. Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste, e a tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, por ti suspirei”. A mais conhecida confissão de Agostinho a respeito da necessidade interior de Deus é esta: “Porque nos fizeste, Senhor, para ti, nosso coração anda sempre inquieto enquanto não se tranquiliza e descansa em ti”.

O cardeal inglês John Henry Newman (1801–1890) exemplifica aqueles que querem o auxílio de Deus para voltar ao ninho: “Conduze-me, doce voz, pela escuridão que me cerca, sê tu a me conduzir. A noite é escura e estou longe de casa [ou do ninho], sê tu a me conduzir.”.

Em muitos casos de depressão precisamos procurar um profissional de saúde; em outros, precisamos apenas voltar para o ninho.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/335/passarinhos-fora-do-ninho
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June 23, 2012

Ser humano ; )!

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Chérie,

a cada dia me convenço que o desafio de toda a vida é a gente se tornar humano.

É ter sensibilidade e alteridade; é ser extravagantemente generoso e também corajoso para se emocionar (não ter medo de chorar com os que choram nem de se alegrar com os que se alegram); é defender suas crenças e manter-se íntegro na peneira da vida; é encontrar a sua turma (naturalmente somos atraídos e atraimos pessoas que compartilham os mesmos valores) e por aí vai.

E ao chegar ao fim da vida, dizer com orgulho: combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé (2 Tm 4: 7).

Bjs,

KT
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June 22, 2012

Alegria e sofrimento são condições inalienáveis de ser humano

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"tende por motivos de toda alegria passardes por várias provações".
Tg 1: 2

Chérie,

como manter a sensibilidade e a serenidade sem anestesiar a alma? Como exercitar a humanidade em meio a tanta tristeza e sofrimento, sem fechar os olhos e fingir que nada está acontecendo?

Tem umas coisas na vida cristã que são difíceis de entender. Por exemplo, sentir alegria ao passar por sofrimento (como assim?)!

Talvez um bom começo seja entender a diferença entre felicidade e alegria.

Felicidade está atrelada a condições externas que garantam satisfação enquanto que a alegria é uma atitude de afronta à vida. É quando você decide ter um coração grato mesmo em meio aos problemas e enfrenta com coragem as dificuldades pois sabe que são bençãos disfarçadas, oportunidades de crescimento.

Eu sei, falar assim é fácil (viver é que é difícil).

Mas vida real implica em amor e dor, sorrisos e lágrimas. E viver integralmente nossas emoções é o que nos torna milagrosamente humanos.

Se você está passando por um vale de lágrimas, saiba que esta fase vai passar. E se você está passando por um período de farta colheita, saiba que esta fase também vai passar.

Porque a vida é feita de coisas boas e nem tão boas, tudo misturado junto.

Força e fé.

Você não está sozinho ; )!

Bjs,

KT

PS- Na revista TRIP (nov/11) saiu uma matéria interessantíssima sobre o tema, espia só:

O que é a felicidade

[Calligaris] “Eu não me interesso pela felicidade. Fiz essa opção muito tempo atrás. Se eu quisesse ser feliz, teria tomado as providências necessárias e estaria injetando heroína duas vezes ao dia, de manhã e à noite. Minha vida se encurtaria, mas isso não teria grande importância para mim. Eu seria propriamente feliz. Por ter trabalhado com heroinômanos que usam heroína injetável, garanto que eles são felizes. Digo isso de maneira um pouco irônica porque a indústria farmacêutica se apoderou desse conceito. Está vendendo falsas pílulas da felicidade, enquanto a única que funciona é a heroína, que ela não vende. Ainda [risos].

O que me interessa sim, muito, é ter uma vida interessante. Uma vida interessante inclui viver plenamente um monte de momentos infelizes. Nos anos 90 eu estava nos Estados Unidos, atendia lá. Foi quando saiu o primeiro grande livro sobre o Prozac. E você recebia pedidos bizarros! Tipo: ‘Meu pai foi diagnosticado com câncer. Ele tem dois anos para viver. Não estaria na hora de eu começar a tomar Prozac? Porque eu não quero ter esse negócio de luto quando ele morrer’.

Eu acho que não. Quando o pai da gente morre, a gente tem que sofrer, isso significa viver plenamente e de maneira interessante. Eu não quero renunciar a essa experiência, até porque só vou tê-la uma vez. Se ser feliz é renunciar à variedade das experiências altas e baixas, que incluem sofrimentos, quando se perde um ente querido, alguém me deixa ou meu filho está doente, então não quero ser feliz.

A incapacidade dos adultos de tolerarem que um menino de 5, 6 ou 7 anos possa ser triste é um negócio assombroso e que produziu e produz um uso abusivo de medicação psiquiátrica contra a criança. Pensar “meu filho tem que ser feliz e portanto quando está triste eu o levo ao psiquiatra e forço o psiquiatra a lhe dar um remédio para o qual nem estava previsto o uso pediátrico, nem foi usado e experimentado para o uso pediátrico, sem ter ideia dos efeitos que vai ter”, eu acho isso um horror.”

[Nicolelis] “A felicidade pra mim é criar uma razão pela qual você quer acordar de manhã, sair da cama, enfrentar todo o rol de absurdos que temos que enfrentar para sobreviver, para continuar fazendo o que a gente faz.

Fonte: http://revistatrip.uol.com.br/revista/205/reportagens/dois-neuronios.html
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June 21, 2012

Desconstrução, gatopardismo e novidade de vida

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"assim também andemos nós em novidade de vida".
Rm 6: 4 b

Uma das coisas que mais me impressiona em Jesus é sua capacidade em aceitar as pessoas como elas são. Em Sua presença amorosa, todos podem encontrar compreensão e perdão.

No entanto, isto não significa que devemos ficar acomodados; muito pelo contrário, o Seu amor constrange a nos tornar cada vez melhores (2 Co 5: 14-17).

Todo dia é uma oportunidade que Ele nos dá de quebrarmos grilhões e assim desconstruir o que não funciona, o que não está dando certo.

Claro, ninguém gosta de quebra-quebra (dá trabalho, suja), mas a gente precisa jogar fora o que está vencido para abrir espaço para o novo.

Desconstruir não é usar material de demolição; é tudo novo.

Parece cruel falar assim, mas a vida é dinâmica e o movimento da mudança faz parte da nossa condição de peregrinos.

Nas ciências políticas isto é chamado de gatopardismo. "Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi". Ou seja, para que tudo fique como está, é preciso mudar.

Este mudar não é para manter o status quo, mas para que haja prosseguimento no curso da vida.

Porém o convite que Jesus faz - a você e a mim - é revolucionário: é novidade de vida (Rm 6: 4b)!

Novidade porque rotina remete a linha de montagem, repetição, piloto automático (pq até água parada dá doença) rsrsrs.

Não é para consertar o que está quebrado, nem remendar tecido novo em roupa velha.

É um novo coração (Sl 51: 10); um novo jeito de pensar, de viver, de sonhar, de amar.

"Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas"
 2 Co 5: 17

PS- Se a vida é feita de metáforas, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=f_7J3zjnLik
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June 20, 2012

Ser vulnerável

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Quando estou fraco, então, é que sou forte.
2 Co 12: 10b

Ser vulnerável é ir ao encontro de ser quem você é, na sua totalidade, com seus limites e imperfeições.

O coração vulnerável é o nascedouro de ricas experiências criativas, inovações e mudanças, porque está aberto para o que der e vier. Em sua aceitação, é humilde e alegre. E verdadeiro em sua dignidade.

O paradoxo é que, quanto mais aberta e exposta, mais a pessoa se torna forte, autêntica e corajosa.
 
É possível aprender a ser vulnerável, deixar de usar escudos protetores que mostram apenas os pontos fortes para camuflar os pontos fracos.
 
Neste processo é natural ficarmos super-sensíveis, pois teremos de reaprender a andar, a fazer novos movimentos, a adquirir confiança, a fortalecer os pés antes de colocá-los no chão.

Todo ser que cresce precisa de uma nova estrutura.

O desafio é deixar para trás o medo do que vai acontecer e atirar-se confiante num campo de novas possibilidades.

Aí as coisas que precisam acontecer, vão acontecer.

Vulnerabilidade envolve:
  • a capacidade de enfrentar a situação com aceitação e dignidade;
  • estar sensível e ser ao mesmo tempo resistente (a pessoa sente-se confortável na própria pele e lida relativamente bem com o risco);
  • quando fracassa e perde, sabe que isso também faz parte do jogo e ninguém precisa morrer por isto;
  • não precisa de tanto controle e onipotência; enfrenta com mais serenidade e aceitação o que vem pela frente;
  • senso de pertencimento: sua identidade está em quem é, amada e acolhida;
  • segura ao invés de agradadora compulsiva;
  • no Japão, um samurai sabe quem ele é; não precisa se esconder porque já encarou a si mesmo e não precisa fugir: assumiu suas imperfeições, incapacidades, sombras e limites;
  • neste processo a pessoa descobre talentos escondidos e uma nova maneira de administrar esta existência nascente, aprendendo a fazer melhores escolhas e até experimentar novos caminhos.
Fonte: Vida Simples, edição 120, jul/12, editora Abril. Assuma suas fraquezas: pare de se proteger (admitir limitações é o caminho que rende mais vitórias. Então baixe a guarde e enfrente a vida sem medo).
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June 19, 2012

Curador ferido

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Chérie,

às vezes criamos um script irreal de como deve ser a vida, tomamos o lugar de Deus e atropelamos tudo e a todos (incluindo nós mesmos) para que as coisas se encaixem num padrão que definimos como ideal.

E assim vamos travando batalhas desnecessárias, que consomem recursos materiais e espirituais, que não mudam em nada o resultado final.

Alice, acorda do país das maravilhas (rsrsr)!

Não estamos no céu, o mundo é imperfeito, as pessoas vão falhar (incluindo você mesmo) e aceitar a vida como ela é (e não como você gostaria que fosse) é o 1o. passo para viver bem (com você mesmo e com os outros).

Eu sei, falar é fácil (principalmente quando se passou mais da metade da vida pensando assim) rs. Mas antes de enxergar o mundo como ele é, que tal começar com você?

Sabia que a sua maior dor pode ser transformada na sua maior força?

Quanto mais cedo você perceber e tomar consciência de qual ela é, melhor.

As dores de Kyron, por exemplo, transformaram-no em um curador ferido; médico exímio, dedicou-se em ajudar os outros.

Muitas situações não tem solução definitiva.

A dor sempre estará presente, assim como outras que virão. Mas é uma ferida sagrada e a partir dela, você pode compreender e ajudar os outros.

No meu caso, estou aprendendo a acolher conceitos conflitantes, a apaziguar o coração e não ter medo de questionar porque não são as respostas que movem o mundo, mas as perguntas (rsrsrs).

Bjs,

KT

PS- Para ouvir a trilha do dia: http://letras.mus.br/legiao-urbana/46977/
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June 18, 2012

Escolher acreditar

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Fé é a certeza das coisas que se esperam, a convicção de
fatos que não se veem.
Hb 11: 1*

A vida cristã é repleta de paradoxos.

Por isto, se você está atrás de uma zona de conforto, já aviso que está procurando no lugar errado (rsrsr).

Existe lógica em acreditar no que não se ve?

Mas o convite da Palavra é exatamente este: o de manter a esperança mesmo quando tudo indicar o contrário, o de persistir e seguir em frente mesmo com trocentos obstáculos pela frente e, como criança, cultivar o encantamento e o maravilhamento ao descobrir o mundo à sua volta.

Ter fé não é ser otimista nem infantilizado, porque vida cristã não é coisa para amadores ou pessoas imaturas.

Quer navegar e mergulhar em águas mais profundas?

Você não está sozinho (boralá, vamos nesta ; )!

PS1 - Para ouvir a trilha do dia: http://www.youtube.com/watch?v=RzpRIslg7LY

PS2 - Para ler na íntegra: http://www.bibliaonline.net/biblia/?livro=58&versao=1&capitulo=11&leituraBiblica=&tipo=1&lang=pt-BR&cab=
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June 17, 2012

Para sempre ; )!

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Relacionamentos maduros são duradouros.

Aqueles em curso e também os acabados.
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June 16, 2012

A inveja das moscas

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Apenas quem perdeu qualquer esperança de ser virtuoso deveria falar
sobre moral

- Luiz Felipe Pondé

Sou uma personalidade atormentada e dada a arroubos. Noites insones me levam a terras distantes onde nossos ancestrais vagam arrancando a vida e seu sentido das pedras. Com o passar dos anos, cada vez mais me encanta a luta desses nossos patriarcas perseguidos pelos elementos naturais, por seus próprios demônios e por deuses de olhos vermelhos cheios de sangue e dentes afiados.

Construímos sonhos de autorrealização profissional, afetiva e material. A expectativa com nossa própria grandeza ocupa grande parte de nossos devaneios.

O sentimento da fragilidade do mundo sempre me perseguiu desde a infância. Se os psicanalistas estiverem certos, e tudo que é primitivo é indelével, esse sentimento constitui minha substância mais íntima. Que inveja eu tenho das moscas!

Livres, voando pelo mundo, sem saber de si mesmas.

Li nas últimas férias a coletânea de ensaios “The Best American Essays of the Century”, editada por Joyce Carol Oates e Robert Atwan, Houghton Mifflin Company, Boston.

Destaco dois ensaios: “The Crack-Up” (a rachadura), de F. Scott Fitzgerald, de 1936 e “The Old Stone House” (a velha casa de pedra) de Edmund Wilson, de 1933.

Edmund Wilson foi, segundo Paulo Francis, o último grande crítico literário de uma tradição na qual o crítico não se escondia atrás de algum teórico, tipo Blanchot ou Derrida, para repetir o que todo mundo diz e com isso não correr riscos. Wilson enfrentava o autor cara a cara, dizendo o que pensava dele, sem se preocupar com o que a “indústria da crítica acadêmica” diria. A coragem nunca foi um valor na academia, Francis tinha razão.

Nesse ensaio, Wilson fala de uma casa de pedra na qual sua família viveu por muitos anos. Sua família era do tipo de família que aqui chamaríamos de quatrocentona falida. Mãe fria, pai, homem letrado e melancólico, ele, Wilson, parecido com seu pai, e também um bêbado.

Estou convencido de que pessoas sem algum vício terrível permanecem em alguma forma de infância moral. Apenas quem perdeu qualquer esperança de ser virtuoso deveria falar sobre moral. Pessoas sem vícios falando sobre moral é como virgens dando aula de sexo.

Wilson, entre outros parentes, fala de uma tia, infeliz no casamento, obrigada a ser uma mulher normal quando na realidade era uma filósofa schopenhauriana amadora. Segundo ele, ela enfrentou virtuosamente seu fardo criando um sistema filosófico pessoal pessimista e, quando ficou viúva, se mudou para Nova York e gastou seus últimos dias indo a livrarias e vendo teatro. Quando ainda casada, sua tia lia à noite, sobre o fogão, sozinha, em seu único momento de paz.

F. Scott Fitzgerald, autor de “O Grande Gatsby”, nesse ensaio descreve a sua maior crise existencial (a rachadura que dá título ao ensaio), que o acometeu por volta dos 50 anos. Escritor famoso, Fitzgerald afirma: “Identifiquei-me com meus próprios objetos de horror e compaixão” e “passei a ter uma atitude trágica em relação à tragédia e melancólica em relação à melancolia”. Em síntese, foi inundado por seus próprios objetos literários e se tornou, ele mesmo, um deles. O efeito foi devastador e libertador.

Na abertura, ele define o que entende por uma pessoa inteligente: conseguir viver com duas ideias opostas sobre a vida e não desistir de nenhuma delas.

E exemplifica: saber que não há esperança para nós e ainda assim viver buscando provar o contrário. O resultado seria uma vida combativa em nome da esperança. Uma vida pautada pelo controle de si mesmo e do mundo a sua volta.

Ao final do ensaio, ele volta a definir, agora, o que é, após sua rachadura, o estado natural de um adulto que tem consciência e sensibilidade: infelicidade qualificada (e não banal).

Uma condição com a qual convivemos, mas que ao assumi-la, uma espécie de libertação acontece: em suas palavras, não mais desejar ser um homem bom, não mais ser simpático com o marido de sua prima, nem responder a cartas de escritores jovens medíocres que não deveriam aborrecer os outros. Ser apenas um escritor e não querer agradar a ninguém, nem a si mesmo.

Fonte: http://rkxs.wordpress.com/2012/04/23/a-inveja-das-moscas/#more-2556
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June 15, 2012

Entre duvidar e escolher

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Afff, este mundo está muito louco ou estou com a pá virada (rsrsrs)...

Será que me tornei a voz que clama no deserto, ou seja, falando sozinha com meus princípios (rsrsr)?!

Será que, como João Batista, corro o risco de perder a cabeça por utilizar métricas datadas?

Será que existe lugar neste mundo para pessoas como eu?

Como é aceitar o esmaecimento da integridade, sabendo de antemão que a tendência é piorar?

E se ao invés de perder tempo procurando respostas, olhasse para cima e visse que o mundo é maior do que se pode imaginar ou pensar?

E se ao invés de duvidar, escolhesse acreditar?

- It´s up to you, baby...
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June 14, 2012

É assim na vida, é assim na rede

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- Alexandre Robles

É impressionante como as pessoas acham que estão protegidas nas redes sociais. Tanto protegidas em sua privacidade quanto protegidas em seu anonimato para escreverem e publicarem o que lhes vem à mente, pensando não causarem dano ou não serem descobertas.

Depois de saber que pessoas estão desejando sair da rede por causa de inconvenientes e até agressões, matutei e achei por bem dizer como me relaciono com as redes de relacionamento. Pra você me entender ali e quem sabe tirar algum proveito.

A rede social é a amplificação do que acontece no cotidiano de cada um. Essa amplificação é, na maioria das vezes, fantasiosa. Assim, aquilo que se faz ali, na rede, é uma projeção do que se pensa, se faz e se deseja fazer em um espaço que promete, equivocadamente, ser anônimo.

Passo a lhes dizer como tento me comportar nas redes sociais de relacionamento.

Escrevo o que penso que a maioria possa se interessar, pois sei que quando entro, estou numa sala com tanta gente quanto couber em minha lista. Não escrevo coisas como “vou ao banheiro”ou “que raiva deste ou daquele”, pelo simples fato de que estou em público. Para coisas assim mais íntimas tenho as mensagens diretas, os ambientes privativos, o lugar da intimidade.

“Posto” fotos que todos podem ver, como as que tenho nos porta retratos de minha casa. Se eu tirar fotos “comprometedoras” quase ninguém verá, a maioria nunca, então você morrerá curioso sobre meu limite. Sou humano, gosto que as pessoas vejam quem sou e o que faço, quem amo e com quem vivo, mas gosto de privacidade também.

Respondo textos, emails, mensagens diretas com a mesma atitude que respondo em conversas pelo telefone ou do tipo olho no olho, ou seja, aos mais próximos, mais intimidade, aos mais distantes, naturalidade. Não consigo virar melhor amigo de quem acabei de adicionar em minha lista e nunca vi pessoalmente. Agradável, prometo tentar, pois se não quisesse conhecer novas pessoas e ser simpático, não entraria em uma rede de relacionamento. Simples assim.

Deixo de seguir ou tiro de minha lista de seguidores pessoas hostis, que pensam que podem me ofender somente porque não estão diante de mim, olhando na cara. Não respondo a quem não me pergunta, mas somente escreve para me dizer seu ponto de vista. Não gosto muito de discussões, sabe? Sou assim ao vivo, sou assim na rede. Gosto muito de conversar, então respondo sempre que consigo a todos que escrevem. Sou assim ao vivo, sou assim na rede. Atraso para responder quando não estou disponível e é só por isso. Sou assim ao vivo, sou assim na rede.

Não preciso seguir quem todo mundo segue e não me preocupo se as pessoas verão que sou amigo dos amigos. Sou assim na vida, sou assim na rede. Não respondo ofensas até mais facilmente que aquelas que sofro quando estou olhando a pessoa, porque estas podem me tirar do sério antes de eu pensar, aquelas, as virtuais, são jogadas na lixeira da máquina e ganho tempo pra pensar e não reagir aos medíocres na mesma medida que eles agem.

Não excedo os limites em conversas nas quais minha esposa não possa participar. Digo isso não a respeito de conversas pastorais que mantenho na rede, acontecem em ambiente de confessionário. Aliás, o que ouço como conselheiro é sagrado, ninguém sabe, trato com tanto respeito que por vezes chego a esquecer o que ouço como forma de proteger quem ao contar, também prefere não se lembrar. Estou falando de amizades perigosas, enganos, brincadeiras.

Enfim, gosto das redes, tenho aprendido a conviver nelas, uso o que têm de bom, desprezo o que não presta, esforço-me para tratar a mim mesmo, aos meus amigos e aos seguidores como se estivesse olhando-os nos olhos, consciente de todas as limitações disso.

Se você ainda quiser fazer parte da minha lista, fico feliz. É assim que é. Aos que desistirem de mim, já me acostumei.

É assim na minha vida, é assim na minha rede.

Fonte: http://www.alexandrerobles.com.br/e-assim-na-vida-e-assim-na-rede/
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June 13, 2012

A força do hábito

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Por que é tão difícil se livrar de costumes e dependências?

- HÉLIO SCHWARTSMAN

Qualquer comportamento humano é o resultado da interação de uma série de variáveis, que incluem desde inflexíveis características genéticas até detalhes exoticamente mundanos, como a temperatura em que foi deixado o ar condicionado, passando pelo mais puro acaso. Se há uma força que se destaca nessa multidão de impulsos e disposições, é o hábito.

Pesquisadores da Universidade Duke estimaram, num trabalho de 2006, que mais de 40% das ações que executamos diariamente não são produto de decisões deliberadas, mas do hábito. Seria difícil superestimar sua importância.

Hábitos nos permitem executar uma miríade de atividades intimamente associadas a nosso bem-estar e são uma das principais forças a movimentar a economia mundial. A capacidade de modificá-los está intimamente associada ao sucesso de pessoas e empresas.

Do lado negativo, hábitos estão ligados à dependência de drogas e a outros comportamentos destrutivos e são o ponto a partir do qual políticos, publicitários e outros segmentos da mídia tentam (e muitas vezes conseguem) influir em nossas decisões e manipular-nos o comportamento.

O hábito é basicamente uma rotina neurológica pela qual executamos uma tarefa de modo mais ou menos automático, como escovar os dentes, dirigir pelo trajeto de sempre, acender um cigarro após as refeições ou, no caso de uma tartaruga marinha, voltar sempre à mesma praia em que nasceu para depositar seus ovos.

Trata-se de uma ferramenta de aprendizado, a forma favorita da natureza de fixar comportamentos úteis para a sobrevivência. É pelo hábito que a maior parte dos vertebrados navega pelo mundo.

Nós, humanos, ao lado de alguns outros mamíferos, somos um pouco diferentes. Temos uma certa flexibilidade e, por isso, não nos fiamos inteiramente no hábito.

O problema é que o comportamento flexível demanda enormes recursos atencionais e, portanto, energéticos (o sistema nervoso central consome sozinho cerca de 25% do oxigênio que respiramos).

Sempre que pode, o cérebro tenta converter atividades rotineiras em hábitos e, com isso, poupar energia e liberar espaço para outras tarefas.

VÍCIO

Em termos neurológicos, os gânglios basais parecem ser o lugar onde armazenamos nossos hábitos. Essas estruturas primitivas também já foram associadas ao controle de sistemas motores (elas têm um papel importante na doença de Parkinson) e aos centros de recompensa, envolvidos no aprendizado e no vício em drogas.

Um pouco desprezado pelos cientistas, que o viam como algo repetitivo e aborrecido e que evocava os piores momentos do behaviorismo, o hábito está dando sua volta por cima. Nos últimos anos, vários livros detalharam seus mecanismos de funcionamento e destrincharam suas implicações.

Um recente é "The Power of Habit: Why We Do What We Do in Life and Business" [Random House, 400 págs., R$ 79] , de Charles Duhigg. O autor não é cientista nem divulgador de ciência. É repórter de negócios do "New York Times" e começou a se interessar pela força do hábito para modificar comportamentos quando cobria a guerra no Iraque.

No início da ocupação, o país era castigado por episódios quase diários de manifestações violentas. Mas havia uma notável exceção. A pequena cidade de Kufa despontava como ilha de tranquilidade. O responsável pela façanha era um major do Exército dos EUA, que, após analisar vídeos de protestos que descambavam para a violência, resolveu fazer um experimento. Mandou retirar todos os vendedores de comida da praça de Kufa. Deu certo.

O major identificara um padrão, um hábito organizacional. Os manifestantes se juntavam na praça aos poucos e iam atraindo a atenção de passantes, que paravam para observar, engrossando a multidão. Então apareciam os vendedores de comida. Alguém gritava um slogan antiamericano, jogava uma pedra ou uma garrafa e o pandemônio começava.

Sem os vendedores de comida, que haviam se tornado um dos gatilhos da rotina de violência, o ciclo não se completava. Os passantes, com fome e sem ter como saciá-la, preferiam ir para casa, desmobilizando os manifestantes.

"The Power of Habit" é um livro gostoso de ler. Duhigg escreve bem e recheia a narrativa com casos humanos e boas histórias sobre empresas, algumas com potencial para nos deixar preocupados, como veremos adiante. Poderia ter sido um pouco mais meticuloso ao descrever a ciência do hábito, mas a verdade é que a neurofisiologia é uma disciplina que não costuma atrair multidões de fãs.

Na versão simplificada, hábitos se materializam como um circuito de três fases. Eles são desencadeados por uma sugestão que funciona como gatilho, disparando a rotina gravada nos gânglios basais. Essas rotinas podem ser tanto físicas (meter os dentes numa barra de chocolate) como mentais (lembrar a infância sempre que se come um biscoito).

Em seguida vem a recompensa, que costuma ser uma boa descarga de dopamina, conhecida jornalisticamente como molécula do prazer. Trata-se de um mecanismo de "feedback" positivo.

Isso significa que, quanto mais o usamos, mais ele se solidifica em nossas mentes. Daí a dificuldade em abandonar velhas práticas, notadamente as que nos fazem mal. Esse mecanismo se manifesta na forma de "craving" (fissura), que é o desejo incontido de executar a rotina despertado pelo gatilho.

Outra implicação é que nunca nos livramos de verdade nossos hábitos, mesmo quando nos esforçamos para mudá-los. A rotina antiga é alterada, mas fica armazenada em algum recôndito de nossas mentes. O bom é que não precisamos reaprender a dirigir sempre que voltamos de férias. O ruim é que, sob estresse, alcoólatras e outras vítimas de dependência podem recair nos velhos padrões.

EMPRESAS

Hábitos não estão limitados a pessoas. Eles também estão presentes na vida de empresas e organizações. Pior ainda, empresas e organizações tentam explorar os hábitos de pessoas, mais especificamente de consumidores, para aumentar seu faturamento.

Um exemplo é o do McDonald's. As lojas seguem uma planta standard e tentam ser o mais parecidas possível, inclusive nas fórmulas de tratamento usadas pelos funcionários. A ideia é que tudo sirva como gatilho para disparar as rotinas de alimentação dos clientes. Eles se sentirão reconfortados e recompensados. E quanto mais forem ao McDonald's, mais quererão voltar.

Um caso assustador narrado por Duhigg é o da rede Target. Grávidas são uma mina de ouro para o comércio, não só porque gastam muito nos enxovais, mas, principalmente, porque esse é um momento em que elas (e os maridos) são particularmente vulneráveis a alterar hábitos de consumo, potencialmente para o resto da vida.

Diante disso, a Target, que vende um pouco de tudo, de móveis e eletrodomésticos a comida, a preços atrativos, resolveu que precisava descobrir quais clientes estavam começando uma gravidez para ganhá-las para todo o sempre.

Para isso contratou o economista comportamental Andrew Pole, que desenvolveu um algoritmo matemático para, com base em alterações bruscas nos itens comprados -coisas como vitaminas, loções, bolsas grandes-, identificar quais estavam grávidas. Aí era só enviar-lhes os cupons certos, com descontos para lindos berços e estoques de fraldas, e fisgá-las.

É claro que nada pode ser tão explícito. Muitos ficariam irritados se descobrissem que seu supermercado xereta o que compram para ampliar vendas. Assim, a Target não poderia só enviar cupons de produtos relacionados a bebês para as grávidas. A solução, genial, foi mandar essa publicidade específica misturada à de outros itens, fazendo parecer que tudo não passou de feliz coincidência.

A moral da história, que dá razão aos paranoicos, é que é preciso ter cuidado ao passar o cartão de fidelidade no caixa. Sua loja favorita pode estar descobrindo seus segredos mais íntimos.

LESÕES

Esses exemplos mundanos podem dar a impressão de que o hábito ocupa um lugar marginal em nossas vidas mentais, mas seu papel é absolutamente central.

Pessoas com lesões nos gânglios basais perdem a capacidade até de decidir o que vão comer ou de abrir uma porta. Sem os atalhos proporcionados pelo hábito, ficam mentalmente paralisadas, impossibilitadas de ignorar os detalhes insignificantes que continuamente inundam nossas cabeças.

Para Duhigg, o segredo para mudar os hábitos é manter o gatilho e a recompensa antigos, mas alterar a rotina. Parece banal e de fato é. O detalhe é que as pessoas nem sempre estão cientes de quais gatilhos disparam seus costumes.

O que programas como o Alcoólicos Anônimos (AA) fazem é oferecer condições para que a pessoa perceba que situações acionam a "fissura" que a leva a beber e substitua a rotina por outras que também produzam satisfação. A visita ao bar é trocada por uma reunião ou conversa com o padrinho.

O autor sustenta que, em princípio, por esse esquema de reconhecimento e substituição, qualquer hábito pode ser modificado. Aqui está o ponto mais fraco do livro de Duhigg. É claro que, em princípio, toda rotina automática pode ser alterada.

Pessoas se curam até da dependência de heroína. Mas, quando vemos as legiões de fumantes incapazes de largar o vício e exércitos de obesos que não conseguem perder peso, vemos que fazê-lo tende a ser mais complicado do que sugere a teoria.

Ao não valorizar devidamente as dificuldades, que são epidemiologicamente aferíveis, Duhigg, se não chega ele próprio a resvalar na literatura de autoajuda, abre uma avenida para seus promotores.

Cuidado, não estou afirmando que todos os títulos de autoajuda são lixo. Muitos de fato o são, mas nem todos. Uma honrosa exceção é "Switch: How to Change Things When Change Is Hard" [Crown Business. 320 págs. R$ 33 mais taxas] , dos irmãos Chip e Dan Heath, com várias publicações na área de negócios.

Embora "Switch" busque auxiliar o leitor a desenvolver estratégias para alterar seus hábitos e os das organizações de que faça parte, está calcado em boa ciência. Enquanto Duhigg caminha pelas sendas da neurociência, os irmãos Heath apostam na psicologia. Para eles, a dificuldade para alterar uma rotina decorre do fato de que nossas mentes são o campo de batalha onde razão e emoção se enfrentam pela supremacia sobre nossas ações. Enquanto o cérebro racional deseja uma silhueta esbelta, o emocional está mais interessado em repetir a sobremesa.

De modo geral, a razão gosta de mudança, enquanto a emoção prefere o conforto da rotina conhecida. Embora costumemos pensar em nós mesmos como seres racionais e ponderados, um enorme corpo de experimentos psicológicos esboça quadro mais complexo.

ELEFANTE

Emoções, para utilizar a imagem do psicólogo Jonathan Haidt, são um elefante; a razão, o condutor desse elefante. O animal obedecerá ao piloto, mas apenas enquanto estiver disposto a fazê-lo. Quando os dois estão de acordo, tudo transcorre bem, mas, quando divergem, o elefante tende a levar a melhor. Ele, afinal, é o mais forte e o mais resistente. Há outras circunstâncias, mais raras, em que o condutor convence o bicho a mudar de ideia. É aí que se inscrevem as mudanças de hábito.

Embora a prosa dos Heath não seja saborosa como a de Duhigg, eles também recorrem a casos interessantes, como o de Donald Berwick, médico e CEO do Institute for Healthcare Improvement.

Berwick queria reduzir o número de mortes por erros de procedimento em hospitais dos EUA. A taxa de "defeito", isto é, de erros como não ministrar a droga certa na quantidade e na hora especificadas, era de absurdos 10% no início dos anos 2000. Na maioria das indústrias, esse índice é inferior a 0,1%. Isso significava que dezenas de milhares morriam desnecessariamente a cada ano.

Nada disso era novidade. Os números eram conhecidos e todos sabiam mais ou menos o que deveria ser feito, mas as mudanças simplesmente não aconteciam. Foi aí que, em 14 de dezembro de 2004, numa convenção de administradores hospitalares, Berwick lançou o desafio. Propôs que, até as 9h de 14 de junho de 2006, ou seja, dali a 18 meses, as pessoas naquela sala salvassem 100 mil vidas.

A plateia ficou chocada, mas Berwick sugeriu que todos ali se comprometessem a implementar seis medidas específicas capazes de produzir enorme retorno. Algumas eram simples, como garantir que a cabeceira da cama de todos os pacientes estivesse com inclinação entre 30° e 45°, modo eficaz de prevenir pneumonia, complicação comum e frequentemente fatal.

Eles concordaram, mas não foi fácil. Aceitar as medidas implicava reconhecer que os hospitais tinham taxa elevada de erros e que produziam mortes desnecessárias, um pesadelo para os departamentos jurídicos. Mas a coisa ganhou força e, dois meses depois do discurso, mil hospitais haviam formalizado adesão à campanha.

Em 14 de junho de 2006, Berwick anunciava que os hospitais participantes da campanha das 100 mil vidas tinham evitado coletivamente 122.300 mortes, segundo cálculos dos epidemiologistas. Mais importante, a maior parte das seis medidas propostas havia sido institucionalizada. Os hospitais dos EUA se tornaram lugares um pouco menos perigosos.

Para os irmãos Heath, a receita da mudança de hábito tem três partes. Primeiro, dirija-se ao condutor do elefante. Muitas vezes, o que parece resistência é apenas falta de clareza. No caso de Berwick, as instruções ao piloto vieram na forma das seis intervenções.

Motive o elefante. O que parece preguiça pode ser só exaustão. O condutor não consegue opor-se ao animal por muito tempo, assim, é preciso colocar o lado emocional para trabalhar a favor da mudança. No exemplo, a motivação é salvar 100 mil vidas em 18 meses.

Modele o caminho. O que parece falha de caráter é às vezes só problema situacional, quando você altera um bocadinho as coisas para que a mudança pareça mais factível, ela se torna mais provável. Berwick modelou o caminho ao criar um sistema simples de adesão que logo se tornou corrente.

TRÁGICO

David DiSalvo, autor de "What Makes Your Brain Happy and Why You Should Do the Opposite" [Prometheus, 280 págs., R$ 43] , tem visão mais trágica. Para ele, o cérebro evoluiu para tornar-se uma máquina de fazer previsões. Para tanto, especializou-se em identificar padrões, antecipar ameaças e forjar narrativas. Ele ama a estabilidade e tem horror à incerteza e à imprevisibilidade, ameaças existenciais.

O problema é que, ao desenvolver a capacidade de se defender dessas supostas ameaças, nossos cérebros deixaram para trás subprodutos que jamais conseguiremos desentranhar de nossas atitudes e nossos pensamentos. Exemplos dessas inclinações incluem nossa obsessão por certezas, a confiança excessiva na memória, a disposição para achar que tudo tem um significado especial, a vontade de estar no controle etc.

Embora esses vieses deixem nossos cérebros felizes, isso nem sempre serve a nossos interesses no mundo moderno. Lembre que nossas mentes foram criadas para operar no paleolítico, não em sociedades tecnológicas e plurais.

Sintomaticamente, o livro de DiSalvo é o que reúne menos exemplos. É também o que traça panorama mais completo dos recentes achados científicos sobre aspectos salientes da natureza humana. O hábito é um dos personagens, mas, como estamos num romance sem protagonistas, não faz tantas aparições quanto nos outros livros.

Para o autor, os últimos achados da neurociência e da psicologia cognitiva desferem um golpe na literatura de autoajuda, ao mostrar como a maioria dos conselhos são vazios e até fraudulentos. O caminho, diz DiSalvo, é usar a ciência para entender por que nossos cérebros encerram vieses que nos colocam em encrencas e por que temos dificuldade em sair delas.

Curiosamente, DiSalvo finaliza o livro com 50 pérolas de sabedoria extraídas de um corpo que parece consistente de evidências científicas. São conselhos como "cuidado com nossos vieses", "termine o que começou", "crie hábitos úteis" etc. -um fecho paradoxal para um autor tão crítico à autoajuda.

Uma explicação possível é que, entre os pendores inextinguíveis do gênero humano, estão o medo da incerteza com o futuro e a necessidade de estar no controle, que, juntos, asseguram que, enquanto os humanos forem humanos, haverá interesse pela autoajuda. As melhores evidências disponíveis provam que esse é um hábito que não conseguiremos mudar nem com o auxílio de muita ciência.

Fonte: http://sergyovitro.blogspot.com.br/2012/06/forca-do-habito-helio-schwartsman.html
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June 12, 2012

Tênis ou frescobol?

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- por Rubem Alves

Depois de muito meditar sobre o assunto conclui que existem relacionamentos de dois tipos: tênis ou frescobol.

Os relacionamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam mal. Os relacionamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa. Explico-me.

Para começar, uma afirmação de Nietzche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: "Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice?"

Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.

Sherezade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, e terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, Sherezade o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras.

E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes. Fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo". Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, eu te amo não quer dizer mais nada". É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma".

Tênis é um jogo feroz. O objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: O outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada. Palavra muito sugestiva - que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

Frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra. O erro de um, no frescobol, é um acidente lamentável que não deveria ter acontecido. E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá....

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão.. O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.

O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres ao vento. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha, para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

PS- Quer saber o que significa namorar até que a morte separe? Vai lá: http://www.alexandrerobles.com.br/namorar-ate-que-a-morte-nos-separe/
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June 11, 2012

Convite à maturidade

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- Mario Quintana

Prometes não deixar que a paixão faça de ti uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do teu amado, lembrando-te sempre de que ele não te pertence e que está ao teu lado por livre e espontânea vontade?

Prometes saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso te transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?

Prometes fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não se chegaram a concretizar?

Prometes sentir o prazer de estar com a pessoa que escolheste e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ser a pessoa que melhor te conhece e, portanto, a mais bem preparada para te ajudar, assim como tu a ela?

Prometes que te deixas conhecer?

Prometes ser uma pessoa gentil, carinhosa e educada e não usar a rotina como desculpa para a falta de sentido de humor?

Prometes que farás sexo sem pudores, que farás filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de ti, e que os educarás para serem independentes e bem-informados sobre a realidade que os aguarda?

Prometes que não dirás mal da pessoa com quem casaste só para fazer os outros rir?

Prometes que a palavra liberdade continuará a ter a mesma importância que sempre teve na sua vida, que saberás responsabilizar-te por ti mesmo sem ficares escravizado pelo outro e que saberás lidar com a tua própria solidão, que casamento algum elimina?

Prometes que serás igual àquilo que eras minutos antes de entrar na igreja?

Sendo assim, declaro-os muito mais do que marido e mulher: declaro-os maduros.
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June 10, 2012

O que sentimos e o que sabemos

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Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos.
2 Coríntios 5.7

Às vezes colocamos nossa fé no que sentimos. O que vemos é o que geralmente mais afeta nosso sentimento.

Sentimos aquilo que objetivamente pode alterar nossas circunstâncias, como frio, dor, desamparo. Como disse Davi “ainda que eu ande por um vale de sombra e morte, sei que tu estás comigo”, isso é sentimento objetivo.

E também sentimos aquilo para o que não damos nome, como solidão, medo, depressão. Como em outro momento disse Davi “por que estás abatida, minha alma, por que te perturbas?”.

Melhor é fundamentarmos nossa fé no que sabemos. É a convicção que carregamos a respeito do cuidado de Deus, do sentido maior do Universo e de que o final da História está em Suas mãos que nos ajuda a atravessar os momentos em que nossos sentidos tentam embotar nosso olhar.

O apelo dos escritores bíblicos é sempre nessa direção, de “trazermos a memória o que pode nos dar esperança” como disse Jeremias, de “lembrar os feitos do Senhor” como disse o salmista.

A questão é onde lançamos as âncoras de nossa fé, se na superficialidade volátil de nossos sentimentos ou se nas profundezas estáveis de nossa crença no cuidado de Deus.

© 2012 Alexandre Robles

Fonte: http://www.alexandrerobles.com.br/o-que-sentimos-e-o-que-sabemos/
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June 09, 2012

Narcisismo

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- pr. Ricardo Barbosa

O narcisismo é a marca do século. Se o século 19 foi marcado pela cultura racional, o século 20 foi o século da cultura terapêutica. Uma cultura que, ao intensificar o individualismo, legitimou uma forma de “divinização do self”. A saúde mental e o bem-estar tornaram-se substitutos para a salvação. O que o ser humano busca hoje não é a salvação através do arrependimento e fé, mas o sentir-se bem e confortável. A cultura terapêutica introduziu um modelo de relacionamento que rejeita qualquer forma de julgamento, fazendo com que o indivíduo crie sua própria realidade.

Não existem limites para o “ego” narcisista, carente e faminto. A consciência de dever para com o outro foi substituída pelo “dever que tenho para comigo”. A busca pela autorrealização, autossatisfação, autossuficiência, descrevem o frágil reconhecimento do outro. Tudo isto nos leva a viver a partir daquilo que é aparente. Nós nos preocupamos mais com o exterior e não com o interior. Esta preocupação nos leva a fugir de nossa realidade pessoal mais profunda, das frustrações decorrentes de relacionamentos superficiais e frágeis, vivendo numa agitação constante, agenda cheia, negando a realidade interior e pessoal.

Os desdobramentos deste espírito narcisista e secularizado é grande e profundo para a igreja de Jesus Cristo. Os líderes cristãos estão cada vez mais ocupados com suas agendas e projetos pessoais na busca frenética de autoafirmação. Seus relacionamentos não são nem pessoais, nem profundos, o que os leva a cultivarem uma forma de “irrealismo ministerial”. Acham que estão “conectados” por participarem de redes sociais, mas a família encontra-se fragmentada e adoecida. Fazem comentários, declarações, que não tem nenhuma relação com a forma que vivem. É justamente aqui que muitos líderes caem porque vivem a partir de uma fantasia e não da realidade.

A afirmação de João Batista em relação a Cristo é invertida pelo espírito narcisista. Ao invés de dizer: “convém que ele cresça e que eu diminua”, passamos a dizer: “convém que ele diminua para que eu cresça”. Os modelos de ministério e de espiritualidade têm por objetivo aumentar o senso de autoimportância, e não o contrário. Queremos ser nosso próprio “messias”. Frutos do Espírito como humildade, mansidão, bondade, não são buscados, muito menos desejados. A necessidade de autoafirmação é tão intensa que preferimos ser cercados de bajuladores do que de irmãos e irmãs que nos ajudam a viver de forma mais verdadeira diante de Deus.

O maior obstáculo para a igreja de Jesus Cristo viver em unidade como povo de Deus somos nós mesmos. Nos critérios diagnósticos para o Transtorno da Personalidade Narcisista encontramos algumas características que refletem bem o perfil da liderança cristã. Segundo a Dra. Elaine Marini (com base no Manual de Diagnósticos de Transtornos nº 4), este transtorno descreve “Um padrão invasivo de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por pelo menos cinco dos seguintes critérios:

(1) sentimento grandioso da própria importância (por exemplo, exagera realizações e talentos, espera ser reconhecido como superior sem realizações comensuráveis);

(2) preocupação com fantasias de ilimitado sucesso, poder, inteligência, beleza ou amor ideal;

(3) crença de ser "especial" e único e de que somente pode ser compreendido ou deve associar-se a outras pessoas (ou instituições) especiais ou de condição elevada;

(4) exigência de admiração excessiva;

(5) sentimento de intitulação, ou seja, possui expectativas irracionais de receber um tratamento especialmente favorável ou obediência automática às suas expectativas;

(6) é explorador em relacionamentos interpessoais, isto é, tira vantagem de outros para atingir seus próprios objetivos;

(7) ausência de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e necessidades alheias;

(8) frequentemente sente inveja de outras pessoas ou acredita ser alvo da inveja alheia;

(9) comportamentos e atitudes arrogantes e insolentes.

O curioso é que no próximo Manual de Diagnósticos de Transtornos (nº 5) que será publicado em 2012, o Transtorno de Personalidade Narcisista será retirado. Deixará de ser uma patologia. Imagino que para estes “cientistas”, quando uma patologia torna-se um padrão de comportamento, deixa de ser patologia e passa a ser um comportamento normal. Por este critério, muitos líderes cristãos deveriam estar numa clínica, e não num púlpito.

É este espírito, ao meu ver, o maior inimigo à identidade comum que precisamos ter como povo de Deus. Existem duas afirmações de Paulo em sua carta a Tito que descrevem posturas distintas em relação aos líderes cristãos e a formação do povo de Deus:

1. “No tocante a Deus, professam conhecê-lo; entretanto, o negam por suas obras; é por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra” (1.16) – A negação do conhecimento de Deus vem pela ausência da prática das boas obras. A fé sem obras é morta. Conhecimento de Deus sem a ética e a espiritualidade adequada a este conhecimento é vazio. Estes líderes falam muito, agitam-se muito, mas permanecem vazios e negam a doutrina de Cristo e dividem o povo de Deus. São líderes narcisistas. Pensam mais em si do que no “corpo de Cristo”.

2. “Não furtem; pelo contrário, dêem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador” (2.10). O apelo de Paulo é para que os líderes cristãos embelezem a verdade do evangelho com a prática das boas obras e da vivência real do “fruto do Espírito”. Adornamos a doutrina de Deus na medida em que o mundo, ao ver a forma como amamos e servimos e a unidade do povo de Deus, reconhecerá a verdade acerca de Jesus Cristo.

É isto que o historiador Eusébio de Cesaréia (265-339) afirma ao descrever o comportamento dos cristãos em meio a uma terrível peste. “Eles eram, efetivamente, os únicos que nesta circunstância calamitosa demonstravam com suas próprias obras, compaixão e o amor aos homens. Uns perseveravam todo dia no cuidado e no enterro dos mortos (pois eram milhares os que não tinham quem se ocupasse deles) e outros, reunindo num mesmo lugar a multidão dos que em toda a cidade estavam esgotados pela fome, repartiam pão para todos, de forma que o fato correu de boca em boca, e todos os homens glorificavam o Deus dos cristãos, e convencidos pelas próprias obras, confessavam que estes eram os únicos verdadeiramente piedosos e temerosos a Deus”.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/ortodoxia-e-narcisismo-parte-2
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June 08, 2012

Meu inferno mais íntimo

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Enfrentar-se a si mesmo e ainda assim assumir-se é atravessar um inferno de silêncio e solidão

- Luiz Felipe Pondé

Um jovem rabino, angustiado com o destino da sua alma, conversava com seu mestre, mais velho e mais sábio, em algum lugar do Leste Europeu entre os séculos 18 e 19.

Pergunta o mais jovem: “O senhor não teme que quando morrer será indagado por Deus do porquê de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias? Eu sempre temo esse dia”.

O mestre teria respondido algo assim: “Quando eu morrer e estiver na presença de Deus, não temo que Ele me pergunte pela razão de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias, temo que Ele me pergunte pela razão de eu não ter conseguido ser eu mesmo”.

Trata-se de um dos milhares de contos hassídicos, contos esses que compõem a sabedoria do hassidismo, cultura mística judaica que nasce, “oficialmente”, com o Rabi Baal Shem Tov, que teria nascido por volta de 1700 na Polônia.

A palavra “hassidismo” é muito próxima do conceito de “Hesed”, piedade ou misericórdia, que descreve um dos traços do Altíssimo, Adonai (“Senhor”, termo usado para se referir a Deus no judaísmo), o Deus israelita (que, aliás, é o mesmo que “encarnou” em Jesus, para os cristãos).

Hassídicos eram conhecidos como “bêbados de Deus”, enlouquecidos pela piedade divina (e pela vodca que bebiam em grandes quantidades para brindar a vida…) que escorre dos céus para aqueles que a veem.

São muitas as angústias de quem acredita haver um encontro com Deus após a morte. Mas ninguém precisa acreditar em Deus ou num encontro como esse para entender a força de uma narrativa como esta: o primeiro encontro, em nossa vida, que pode vir a ser terrível, é consigo mesmo. Claro que se Deus existe, isso assume dimensões abissais.

Para além do fato óbvio de que o conto fala do medo de não estarmos à altura da vontade de Deus, ele também fala do medo de não sermos seres morais e justos, como Moisés e Elias, exemplos de dois grandes “heróis” da Bíblia hebraica. Ser como Moisés e Elias significa termos um parâmetro moral exterior a nós mesmos que serviria como “régua”.

A resposta do sábio ancião ao jovem muda o eixo da indagação: Deus não está preocupado se você consegue seguir parâmetros morais exteriores, Deus está preocupado se você consegue ser você mesmo.

Não se trata de pensar em bobagens do tipo “Deus quer que você seja feliz sendo você mesmo” como pensaria o “modo brega autoestima de ser”, essa praga contemporânea. Trata-se de dizer que ser você mesmo é muito mais difícil do que seguir padrões exteriores porque nosso “eu” ou nossa “alma” é nosso maior desafio.

Enfrentar-se a si mesmo, reconhecer suas mazelas, suas inseguranças e ainda assim assumir-se é atravessar um inferno de silêncio e solidão. Ninguém pode fazer isso por você, é mais fácil copiar modelos heroicos, por isso o sábio diz que Deus não quer cópias de Moisés e Elias, mas pessoas que O enfrentem cara a cara sendo quem são.

Podemos imaginar Deus perguntando a você se teve coragem de ser você mesmo nos piores momentos em que ser você mesmo seria aterrorizante. Aí está o cerne da “moral da história” neste conto.

Noutro conto, um justo que morre, chegando ao céu, ouve ruídos horrorosos vindo de uma sala fechada. Perguntando a Deus de onde vem aquele som ensurdecedor, Deus diz a ele que vá em frente e abra a porta do lugar de onde vem a gritaria. Pergunta o justo a Deus que lugar seria aquele. Deus responde: “O inferno”. Ao abrir a porta, o justo ouve o que aqueles infelizes gritavam: “Eu, eu, eu…”.

Ao contrário do que dizia o velho Sartre, o inferno não são os outros, mas sim nós mesmos. Numa época como a nossa, obcecada por essa bobagem chamada autoestima, ocupada em fazer todo mundo se achar lindo e maravilhoso, a tendência do inferno é ficar superlotado, cheio de mentirosos praticantes do “marketing do eu”.

Casas, escritórios, academias de ginásticas, igrejas, salas de aula, todos tomados pelo ruído ensurdecedor do inferno que habita cada um de nós. O escritor católico George Bernanos (século 20) dizia que o maior obstáculo à esperança é nossa própria alma. Quem ainda não sabe disso, não sabe de nada.

Fonte: Folha de S. Paulo, Ilustrada, 04/06/12.
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June 07, 2012

Se eu não te amasse tanto assim

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Meu coração
Sem direção
Voando só por voar
Sem saber onde chegar
Sonhando em te encontrar
E as estrelas
Que hoje eu descobri
No seu olhar
As estrelas vão me guiar

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração

Hoje eu sei
Eu te amei
No vento de um temporal
Mas fui mais
Muito além
Do tempo do vendaval
Dos desejos de um beijo
Que eu jamais provei igual
E as estrelas dão um sinal

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração
 
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=JdV-MFKFyNI
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June 06, 2012

Acreditar em algo e não vivê-lo é ser desonesto

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Desonesto é aquele que deixa de viver aquilo que acredita
Gandhi
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Chérie,

integridade é inteireza de caráter: crenças, emoções e atitudes alinhadas.

Dureza é quando a gente tem uma escola de samba dentro da gente, aquela muvuca generalizada (rs). Por isto o desafio de toda a vida é exercer o desapego e abraçar a simplicidade.

Mas às vezes me pergunto se a gente não se tranca em verdades absolutas e simplistas, só para não ter dificuldade em enfrentar a dúvida e expandir a alma.

Cristo nos convida a colocar vinhos novos em odres novos.

E exatamente, o que isto significa?

Não sabe? Nem eu (rs).

Para ter uma ideia, vai lá: http://www.estudosdabiblia.net/esc79.htm

Bjs,
 
KT
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June 05, 2012

Seja a mudança que você espera ver no mundo ; )!

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Seja a mudança que você espera ver no mundo
Gandhi

Chérie,

o que o mundo mais precisa é de Amor, muito amor ; )!

Falando assim parece frase feita, algo genérico - mas quem nunca acordou um dia precisando de colo?

E que delícia é receber afeto nas mais variadas formas: um telefonema carinhoso, um observar atento, um convite de supetão para almoçar, um beijo roubado, uma mensagem doce e gentil, uma notícia boa...

Pequenos gestos que se transformam em grandes provas de amor ; )!

Mas se é melhor dar que receber (e a gente só pode dar o que tem dentro de si), que tal fazer da sua vida um transbordar de Amor, que alaga quem está perto a partir do seu coração?

Sim, seja você a mudança que espera ver no mundo ; )!

Um beijo,

KT
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June 04, 2012

Vida autêntica e genuína ; )!

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Chérie,

se existe alguém por quem sou completamente apaixonada, é o Henri Nouwen (rs). Não sei se você conhece a história dele: nascido na Holanda, formou-se em teologia, foi professor em Yale e Harvard; de repente largou uma carreira de prestígio e sucesso para cuidar de deficientes mentais.

Tudo o que o Nouwen escreve, eu leio. E como isto já vem de um tempo, é evidente que fui atrás de quase tudo o que foi publicado (rsrsr). Por isso a surpresa e a alegria indescritível ao adquirir o inédito O esvaziamento de Cristo.

A seguir, um trecho:

"Vocação, tentação e formação constituem desafios para a vida.

Somos chamados, não uma vez, mas dia sim, dia não, e nunca saberemos ao certo para onde é que estamos a ser conduzidos. Somos tentados a cada momento de nosso dia e de nossa noite, e nunca saberemos com precisão onde é que os nossos demônios vão aparecer. Esta tensão permanente entre vocação e tentação abre-nos a difícil mas desafiante tarefa de escutar o Corpo, o Livro e nosso próprio coração, descobrindo assim a presença real do Espírito dentro e no meio de nós.

A nossa luta nunca terminará.

Mas se perseveramos com esperança, coragem e confiança, acabaremos por perceber plenamente, em nosso ser mais profundo, que seguindo o caminho do esvaziamento de Cristo, entraremos com Ele na sua glória".

Lindo, não?!

Alimento para o coração (e chacoalhão para a alma) rsrsr.

Que o Pai encoraje você como tem me encorajado - esta é a minha oração!

Beijos,

KT
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June 03, 2012

Escolhas

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Posso fazer escolhas, o que é um grande luxo.

Escolher onde você quer estar é um grande avanço na vida.

- Costanza Pascolatto
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June 02, 2012

Extravagantemente generoso ; )!

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Porque a vida só se dá para quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu.

- Vinícius de Moraes
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June 01, 2012

Simplesmente amor ; )!

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Amor é importante.

Não como combustível para livros. Não como inspiração.

Como amor.

As pessoas estão interessadas em fazer sexo, flertar, mas amor...

- Bernard-Henri Levy
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