February 28, 2013

Os caminhos da compaixão

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A compaixão é uma expressão forte, pessoal, evangélica. Requer envolvimento, participação, solidariedade. Jesus compadeceu-se da multidão faminta e providenciou-lhes alimento

- pr. Ricardo Barbosa

Compaixão é a virtude que nos permite entrar e participar da dor e da necessidade dos outros. É também a capacidade de preservar nossa humanidade – na medida em que entramos e participamos da vida do outro, com suas limitações, lutas, ambigüidades e sofrimentos, percebemos que não somos diferentes.

Por outro lado, a sociedade em que vivemos estimula mais a competição do que a compaixão, intensificando o abismo entre os seres humanos. Na medida em que precisamos nos mostrar melhores, mais competentes, eficientes e fortes do que os outros, nos afastamos deles e, ao invés de olhar para o próximo como alguém semelhante a nós, vemo-lo com desconfiança, cinismo e medo.

A forma como Deus escolheu nos salvar e redimir não foi pela via do poder ou da eliminação do sofrimento, muito pelo contrário – ele escolheu enviar seu Filho para partilhar conosco nossa dor e sofrimento.

Deus tornou-se humano em Cristo para viver entre nós e compartilhar conosco sua vida e amor. Encontramos em Jesus alguém que experimentou todas as nossas fraquezas, sofrimentos, dores e tentações e, mesmo sem nenhum pecado, participou da nossa condição humana pecadora tão completamente a ponto de assumir sobre si nossos pecados e enfermidades como se fossem seus. Esta capacidade de se envolver e absorver aquilo que é nosso como se fosse seu é o que a Bíblia chama de compaixão.

Jesus não veio para se mostrar melhor do que nós, mas para ser como nós. Mesmo sendo Deus eterno, fez-se homem entre nós e sofreu a nossa dor.

Jesus, certa vez, disse: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30). Trata-se, sem dúvida, de um convite extravagante e generoso, cheio de amor e compaixão – logo, um convite raro nos dias de hoje. Certamente, Jesus se dirigia a um público semelhante àquele ao qual ele um dia olhou e se compadeceu porque eram como ovelhas que não tinham pastor. Gente sofrida, confusa, perdida, aprisionada. No entanto, ao invés de rejeitá-los, como a maioria de nós naturalmente faz, ele os convida para se juntarem a ele, e mais, para trazerem seus fardos e seu cansaço, oferecendo-lhes descanso e alívio para suas almas.

O descanso que Jesus oferece não é eliminando o cansaço ou exorcizando o sofrimento, mas oferecendo-se para caminhar conosco no caminho da dor. É isso o que significa tomar sobre nós o jugo dele. Neste caminhar, vamos aprendendo com ele no exercício da humildade e da mansidão, o jeito dele de lidar com as adversidades e o cansaço da alma. Jesus foi “homem de dores”; ele experimentou o sofrimento como ninguém jamais experimentou. Experimentou a traição, o abandono, a incompreensão, a rejeição, a dor física, moral e espiritual. No entanto, em seu caminho para o Calvário, ele enfrentou cada situação com humildade e mansidão.

Ele não se oferece para, num passe de mágica, eliminar nossa dor e cansaço, mas se oferece para caminhar ao nosso lado e nos ensinar a enfrentá-la, a lidar com ela, não a rejeitando, mas acolhendo-a com mansidão e humildade.

Nossa natureza é muito egoísta. Tentamos ser, quando muito, simpáticos com os outros, mas a simpatia é um sentimento que perdeu seu significado. Quando alguém tenta demonstrar simpatia, assume normalmente uma atitude de superioridade, como quem olha por cima e tenta compreender o que acontece, mas sem se envolver pessoalmente e emocionalmente. É muito comum ver esse tipo de simpatia em períodos eleitorais como o atual, onde políticos saem de seus gabinetes e tiram seus ternos para demonstrar “simpatia” para com o povo. Eles vão às favelas, passeiam pelas feiras populares, cumprimentam o povo, provam de sua comida, entram nos hospitais e posam para os fotógrafos ao lado dos enfermos. Fazem promessas e mostram sua indignidade com as condições precárias de moradia, educação, saúde e segurança; uma vez eleitos, procuram demonstrar sua simpatia com discursos e projetos populares, mas continuam apenas simpáticos – em seus mandatos, não se envolvem e nem partilham da dor e do sofrimento do pobre.

A compaixão é uma expressão forte, pessoal, evangélica. Requer envolvimento, participação, solidariedade. Jesus compadeceu-se da multidão faminta e providenciou-lhes alimento. Ficou profundamente compadecido quando viu um homem doente de lepra, tocou nele e o curou. Da mesma forma, ao ver o sofrimento de um homem dominado por espíritos imundos, Jesus teve compaixão e o libertou, devolvendo sua sanidade e humanidade. Compaixão foi uma das marcas da vida e ministério de Jesus. Sua capacidade de ver, sentir, acolher e envolver-se com a dor e aflição do outro caracterizou sua passagem entre nós.

Como poderemos nos tornar mais compassivos diante da impessoalidade, competitividade e superficialidade da cultura moderna? Como romper com a ansiedade, insegurança e medo que nos envolve cada dia mais e nos transforma em seres obcecados pela luta da “sobrevivência”, tornando-nos competitivos, arrogantes e sempre preocupados em “vencer”?

O caminho para a liberdade e justiça passa pela compaixão. Precisamos voltar nossos olhos para o Evangelho de Cristo e, mais uma vez, sermos transformados por ele. O apelo do apóstolo Paulo, quando pede para “não nos conformarmos com o mundo, mas para sermos transformados pela renovação da mente”, é profundamente atual. Não podemos deixar que a cultura moderna, com seu apelo ao egoísmo e à competitividade, modele nossa mente e nos faça olhar para o outro apenas com uma “simpatia” distante e impessoal.

Fomos criados e salvos para amar e nos doar, e o chamado para a compaixão é a forma como o amor e a doação são encarnados. Dar pão a quem tem fome e água a quem tem sede, envolver-se com o enfermo e acolher o estranho, visitar o preso e vestir o nu, são algumas formas que Jesus nos apresenta para o exercício da compaixão.

Talvez, uma síntese de tudo isto é a necessidade de aprendermos a nos alegrar com os que estão alegres e chorar com os que choram, como nos recomendam as Escrituras.

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/caminhos_compaixao.htm
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February 27, 2013

A leitura devocional

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“Se a leitura devocional é algo que precisa ser feito como mais um item em nossa apertada agenda diária, perdemos o significado da devoção que nos leva à meditação”

- pr. Ricardo Barbosa

Uma das grandes preocupações que envolve a experiência espiritual hoje é o analfabetismo bíblico cada vez mais crescente nas novas gerações de cristãos. O desinteresse pela Bíblia é alarmante. Vivemos hoje aquilo que o profeta Jeremias profetizou dizendo: “ Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas”(Jr. 2:13).

A espiritualidade moderna é nutrida por fontes cujas águas não são perenes. Daí a inquietação, o frenesi, a busca louca e insana por experiências que nunca satisfazem a alma. Precisamos voltar ao manancial perene de águas que satisfazem a sede do coração, uma fonte que jorra para sempre e nos liberta das cisternas rotas que secam e não satisfazem. Gostaria de propor um velho caminho para a leitura bíblica chamada “lectio divina”, ou leitura devocional.

Leitura devocional é uma forma diciplinada de devoção e não mais um método de estudo bíblico. Não me refiro aqui à leitura indutiva que fazemos quando procuramos investigar o texto bíblico, ou àquela na qual buscamos respostas mais imediatas para conflitos diários, nem mesmo a leitura de onde saem os sermões e estudos bíblicos. Pelo contrário, a leitura devocional nunca deve ser usada para algum outro propósito utilitário ou pragmático.

É feita pura e simplesmente para conhecer a Deus, colocar-se diante da Sua Palavra e ouvi-lo. Esta atitude de silêncio, reverência, meditação e contemplação define a postura de quem deseja aproximar-se da Palavra de Deus. O exemplo bíblico desta postura encontramos em Maria, irmã de Marta, que “quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos” (Lucas 10:39), “enquanto sua irmã agitava-se de um lado para o outro, ocupada em muitos serviços” (Lucas 10:40). Há muitos outros exemplos de devoção que encontramos na Bíblia, de pessoas que simplesmente se punham diante do Senhor, sem esboçar uma única palavra, sem apresentar um único pedido, apenas ouvindo, meditando e contemplando.

O reverendo Eugene Peterson clamava esta leitura de “exegese contemplativa”. Para ele, trata-se de uma leitura bíblica usada pela igreja em sua história. A exegese contemplativa não diminui o lugar da exegese técnica e teológica, porém nenhuma técnica produz alimento ou cura, bem como nenhuma informação produz conhecimento. Segundo ele, existe algo vivo em um livro, algo mais do que palavras ordenadas, existe uma alma.

A descoberta da exegese contemplativa começa com a percepção de que toda a palavra é basicamente e originalmente um fenômeno sonoro e não impresso. Palavras são faladas antes de ser escrita, são ouvidas antes de ser lidas. As palavras de Jesus que ficaram e que são necessárias para a nossa salvação, são aquelas que foram ouvidas, saboreadas, digeridas, repetidas e pregadas, num processo dinâmico, envolvendo a comunidade dos crentes. “Lectio divina” é uma leitura para transformação.

São quatro os estágios pelas quais passamos ao nos dedicarmos à leitura devocional: leitura, meditação, oração e contemplação. Cada um nos conduz inevitavelmente ao outro. A leitura, quando feita repetidamente e com reverência, conduz à reflexão que muitas vezes vem acompanhada de uma visualização da cena bíblica. Por exemplo, podemos tomar o conhecido Salmo 23 e deixar que por algum momento nossa mente crie uma imagem do pasto verdejante e tranqüilo para onde o pastor leva suas ovelhas. Essa atitude de permitir que o texto nos conduza imaginativamente é que os antigos chamavam de meditação. Se nos encontramos tensos, apressados, buscando alguma resposta urgente; se a leitura devocional é algo que precisa ser feito como mais um item em nossa apertada agenda diária, perdemos o significado da devoção que nos leva à meditação.

Quando Maria, mãe de Jesus, ouviu as palavras dos pastores sobre o que viram e ouviram acerca do Messias, diz o texto que ela “guardava todas estas palavras, meditando-as no coração” (Lucas 2:19). Penso que Maria ficou ali, quieta, em silêncio, procurando discernir e imaginar os caminhos do seu filho e a profundidade dos mistérios divino.

A meditação no Salmo 23 (ou qualquer outro texto) produzirá um desejo de falar com o Pastor, de falar com Deus. Nosso coração e mente se moverão em direção ao Senhor que é o Bom Pastor, e este movimento do coração em direção a Deus é o começo da oração. Contemplação é o ponto alto da experiência da oração, é a profunda comunhão com Deus que nos envolve completamente e transformando nossa vida.

Para começar, separe trinta minutos cada dia. Encontre um lugar calmo e recolha-se para a leitura. Deixe de lado sua percepção crítica, acadêmica, analítica e coloque-se numa atitude de expectativa. Esta é uma postura que, normalmente, as pessoas pragmáticas chamariam de “perder tempo”, porque não traz consigo nenhuma proposta objetiva. A leitura devocional é uma forma de absoluta submissão, de deixar acontecer. Deus nos conduzirá e definirá sua própria agenda. Nunca teremos certeza aonde a prática da leitura nos conduzirá. De certa forma, nós entregamos toda a necessidade de controle sobre o texto, e permitindo que Deus livremente nos conduza para o encontro com Ele.

Todo relacionamento pessoal requer tempo, esforço e atenção. A prática diária da leitura devocional estabelece um padrão que se transforma na base para um relacionamento sério e profundo com Deus. Talvez, por exigir tempo e uma abordagem não direcionada, objetiva, com resultados concretos, a leitura devocional não tem grande aceitação no mundo moderno caracterizado pela sua praticidade, racionalidade, superficialidade, impessoalidade e urgência.

A leitura devocional pode também ser praticada publicamente. Na verdade, as pessoas aprendem melhor quando podem ver do quanto apenas ouvem ou lêem. O grupo pode ser o da Escola Dominical, ou grupo familiar, ou mesmo o culto público numa igreja não muito grande. Convide as pessoas para que fechem seus olhos e, por alguns instantes, silenciosamente, invoque a presença e auxílio do Espírito Santo. Porém, é nescessário que antes mesmo da invocação da presença do Espírito Santo, devam invocar sua própria presença. É muito comum chegar aos nossos encontros e reuniões com nosso espírito ainda muito agitado, inquieto e distante. Após um breve momento de silêncio e quietude, alguém começa a ler e repetir o texto bíblico calmamente e pausadamente, num tom sereno e tranqüilo, dando sempre uma pausa entre uma sentença e outra, levando o grupo a meditar e orar. Um texto que tenho usado com freqüência é aquele do cego Bartimeu que ouve a pergunta surpreendente de Jesus: “Que queres que Eu te faça?” (Lucas 18:35-43). Normalmente, o grupo termina com uma oração respondendo pessoalmente a essa pergunta de Jesus.

É importante lembrar que tanto na prática pessoal como no grupo, cada pessoa deve penetrar na narração como se fosse um personagem daquele relato. No caso do cego Bartimeu, como se fosse o próprio cego ou um dos discípulos de Jesus, ou mesmo um transeunte qualquer. É um exercício espiritual que requer um pouco mais de imaginação. Por isso, devemos deixar de lado nosso academicismo racional para uma abordagem mais efetiva e pessoal.

A prática desse exercício espiritual trará também grande influência nas nossas relações interpessoais, pois nos ajudará a ouvir melhor os outros, deixando que eles mesmos se revelem a nós evitando a precipitação dos nossos juízos preconceituosos.

Ler a Bíblia não é sempre a mesma coisa que ouvir a Deus. Uma ação nem sempre implica outra. Ouvir a Deus exige uma postura, uma atitude diante de Sua Palavra. A leitura devocional é uma forma de nos colocarmos diante de Deus e Sua Palavra como de fato deseja ouvir, meditar, orar e contemplar.

É dessa postura que nasce, não apenas o prazer pela Palavra de Deus, mas também a experiência transformadora do poder da Graça Divina.

Este artigo foi publicado na Revista Vinde de Janeiro de 1998

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/leitura.htm

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=c4I5DeAyRPo
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February 26, 2013

Liberdade para dizer e sentir

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Chérie, bom dia!

Às vezes a gente enxerga tantas coisas sem sentido ou passa por perrengues que até revoltam.

Como Deus pode tolerar tanta injustiça? Por que existe tanto mal neste mundo?

Uma das coisas mais lindas em nosso Deus é que Ele nos dá liberdade para expressar tudo o que sentimos sem censura: tristeza, medo, raiva, revolta, perplexidade.

Quero desafiar você a ler o livro de Habacuque. É curto, apenas 3 capítulos (vai lá: http://www.bibliaonline.com.br/acf+nvi/hc/1).

Desejo que Deus fale a você como tem falado comigo.

Que não sejam apenas palavras para apreender com a razão (cérebro), mas com o coração (que você realmente sinta paz)!

Este é a minha oração para vc no dia de hoje.

Bjs,

KT

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=sVZsEV7JIko
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February 25, 2013

A contemplação do Belo

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Precisamos voltar a reconhecer a harmonia e a grandeza da criação e da obra de Cristo e celebrar a beleza da presença de Deus na vida e na história

- pr. Ricardo Barbosa

Vivemos numa sociedade tecnológica que valoriza mais a ação e a funcionalidade do que a contemplação.

Ao reverter estes valores, terminamos por exaltar a produtividade, dando ao homem a prerrogativa de ser ele o agente que fabrica a realidade a partir das ferramentas tecnológicas que possui. O meio e o fim são invertidos e a vida passa a ser medida pelo sucesso, desempenho e eficiência.

Somos constantemente desafiados a ter vida, ministério, trabalho, família, lazer ou sexo com propósito – tudo muito pragmático e funcional. A quantidade de livros com as famosas receitas de “como” enchem nossas livrarias: “Como ter uma família saudável”, “Como obter o melhor de Deus” ou “Como desenvolver um ministério eficaz”, reduzindo a vida a esquemas produtivos.

É a nova mentalidade tecnológica transformando as complexidades humanas e espirituais em pequenos defeitos que podem ser consertados com o uso correto de um bom manual e das ferramentas que ele sugere.

A felicidade e a realização estão no resultado. A beleza está no produto final, e não no que é simplesmente belo.

Uma das grandes perdas que temos sofrido com a alta tecnologia da sociedade pós-moderna e a obsessão pelo sucesso é a da percepção da beleza. Valorizamos cada vez mais a eficiência e cada vez menos a arte. Preferimos o fast food, e não mais saborear uma boa refeição. Substituímos o real e o natural pelo virtual e pelo plástico. Vivemos como um turista que leva nas viagens suas câmeras e filmadoras digitais para não perder tempo contemplando a beleza da arte ou da criação.

A aparência nos impressiona mais do que a realidade. Dentro de nossas igrejas, o efeito da mentalidade tecnológica é sutil e devastador. Imaginamos que se temos uma boa liturgia, boa música e coreografia, teremos um bom louvor e uma boa adoração. Se temos um programa eficiente, teremos um bom e fiel ministério. Se temos um bom sistema de integração de visitantes, teremos uma boa comunhão.

A tecnologia nos afasta do belo e o reduz a um programa que nos ilude e nos leva a pensar que a beleza está na eficiência do produto e não mais no olhar, no gesto de fé e coragem, na criatividade ou num simples sorriso.

A incapacidade de perceber a beleza é um dos sinais mais evidentes de que temos perdido nossa relação pessoal com Deus. Falamos mais sobre a utilidade da obra da cruz e menos da beleza do crucificado. Somos mais atraídos pela funcionalidade da igreja e por suas atividades do que pela beleza da comunhão de amor e amizade entre os santos. Somos cada vez mais seduzidos pelos encantos de uma vida bem sucedida do que pela beleza da santidade.

No entanto, a alma humana anseia pelo que é belo. Anseia pela harmonia da criação, pela nobreza da vida em comunhão, pela pureza do amor, pela glória da ressurreição, pelas realidades não visíveis.

É a beleza que sustenta o coração em meio à dor e ao desespero. Santo Agostinho fez esta pergunta: “Podemos amar outra coisa senão a beleza?”.

Quando olhamos para a lista que o apóstolo Paulo nos apresenta das obras da carne, vemos ali um conjunto assimétrico, sem harmonia e beleza. São expressões que descrevem as formas mais bizarras de egoísmo, exploração, mutilação e destruição. Mas quando ele abre a lista do fruto do Espírito, vemos uma relação simétrica, harmoniosa e bela que nos atrai para Deus e o próximo. As “bem aventuranças” também são belas pela sua harmonia.

A cultura moderna valoriza mais as obras da carne como expressões de realização e liberdade, do que o fruto do Espírito. Isso revela o grau de alienação em que vivemos.

O livro do Cântico dos Cânticos é um convite à contemplação da beleza e da harmonia: “Como você é linda, minha querida! Ah, como é linda!”; ou “Como você é belo, meu amado! Ah, como é encantador!” A beleza contemplada em Cantares não é apenas estética. Ali, o belo é a harmonia de tudo o que existe dentro e fora, e de tudo o que envolve Deus e sua criação. O belo existe para ser contemplado. Não é sua utilidade ou propósito que nos atrai, mas sua beleza e harmonia. Ele pode até ser útil, mas não é isso que nos fascina.

O belo não precisa ser útil para ser belo. O salmista nos convida para “adorar a Deus na beleza da sua santidade”. O ser Santo de Deus nos atrai porque revela a harmonia de todos os seus atributos (amor, justiça, misericórdia, bondade, poder etc) e a harmonia em toda a sua criação – “Viu Deus que tudo era muito bom”, conforme o Gênesis.

Santo Agostinho em suas confissões, diz: “Que amo eu, quando vos amo? Não amo a formosura corporal, nem a glória temporal, nem a claridade da luz, tão meiga destes meus olhos, nem as doces melodias das canções de todo o gênero, nem o suave cheiro das flores, dos perfumes ou dos aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão flexíveis aos abraços da carne. Nada disso amo, quando amo meu Deus. E contudo, amo uma luz, uma voz, um perfume, um alimento e um abraço, quando amo meu Deus; brilha para a minha alma uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não arrebata, onde se exala um perfume que o vento não esparge, onde se saboreia uma comida que a sofreguidão não diminui, onde se sente um contato que a saciedade não desfaz. Eis o que amo, quando amo meu Deus”.

Para Agostinho, seu encontro com Deus trouxe de volta a harmonia e a beleza. Para ele, amar a Deus envolve, entre outras coisas, romper com o caos, recuperar os sentidos, olhar em volta e perceber a graça e a bondade de Deus na luz do sol, na escuridão da noite, na ingenuidade infantil e nas tribulações da vida.

Precisamos recuperar a contemplação e o belo numa cultura pragmática e fortemente determinada pelas forças do mercado. Precisamos resistir à pressão pela produtividade. Precisamos voltar a entrar na igreja simplesmente para adorar a Deus na beleza de sua santidade e reconhecer: “Que magníficas são, Senhor, as tuas obras! Quão profundos são os teus pensamentos!”

Precisamos voltar a reconhecer a harmonia e a grandeza da criação e da obra de Cristo e celebrar a beleza da presença de Deus na vida e na história, para que a oração recupere seu significado.

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/contemplacao_belo.htm
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February 24, 2013

Da água para o vinho

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As bodas de Caná da Galiléia

  • O 1o milagre de Jesus foi numa festa de casamento (que significativo)!
  • Personagens: Maria, Jesus, discípulos, empregados, encarregado da festa, noivos, convidados.
Perfil dos personagens:
  • Maria*: observadora e pró-ativa (viu que o vinho acabou e foi atrás de uma solução)
  • Jesus: fez o que devia ser feito, mesmo não sendo a hora
  • empregados*: obedientes (mais do que falar, agiram)
  • encarregado da festa: 'valida' a festa, mas não tem poder para resolver
  • noivo: péssimo anfitrião, não soube calcular nem a quantidade necessária de vinho para receber os convidados, imagina o resto!
GRAÇA: Deus age com quem não merece

Intercessão: quando os coadjuvantes* possuem um papel fundamental na vida de quem não merece

MILAGRE: transformação da água de purificação em vinho; do que é impuro em motivo de festa!

Jesus é a Água da Vida - às vezes a gente tem de passar por um perrengue para dar valor àquilo que importa [ compare o valor de um copo d'água no palácio x deserto ]

- Pai, não entendo e não quero fazer, mas confio no teu amor e por isto vou te obedecer mesmo assim.

Os empregados foram os únicos que souberam o que tinha acontecido e participaram do milagre, pois obedeceram.

FÉ => OBEDECER => AÇÃO!

- Jesus, vem ser meu Rei, e não apenas convidado em minha vida.

Que esta seja a minha, a sua, a nossa oração!
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February 23, 2013

Água

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" Mais uma vez está chovendo.
   Eu fico aqui e ouço
   as gotas de chuva caírem
   no quintal
   como se chovesse dentro da alma ".

    ( Jonas Mekas )
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February 21, 2013

A casa que somos

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Sonhou que podia transportar sua casa, através de balões, de um lugar para o outro. E fez. E achou que isso era bom. A casa toda, destacada do terreno, começa a levitar. Mãos que puxam uma corda, tão somente para dar direção.

Até que se dá conta do real significado de carregar consigo a casa, já deitado no divã. Sonhos são olhares pra dentro, são ambientes seguros para a liberdade da alma.

A casa é sua existência e não importa para onde mude, a levará consigo, sempre. Sua casa é sua alma, mobiliada, decorada, habitada. Mudar de lugar, de cidade, de compromisso, de ambiente, de situação, de vida, de profissão, enfim, implica em carregar a casa de um lugar pro outro.

A casa que somos vai conosco em cada mudança que fazemos, nossas viagens existenciais não são tão leves quanto nos sugere a mochila nas costas.

Os lugares, as histórias, as experiências, são o que temos, nossa alma é a casa em que habitamos. Em algum momento teremos de abrir portas e janelas, entrar e deixar entrar luz e ar, observar detalhes e aceitar a casa que somos.

Sonhando, a ilusão era poder transportar uma casa com balões. Acordado, era de que ao mudar, a casa que somos fica pra trás.

©2013 Alexandre Robles

Fonte: http://www.alexandrerobles.com.br/a-casa-que-somos/
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February 20, 2013

Os 7 choros de José

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Quem era José:

• Amado pelos pais (Gn 37: 3)
• Invejado pelos irmãos (Gn 37: 4 e 11)
• Sonhador (Gn 37: 5 e 9)
• Obediente (Gn 37: 13)
• Persistente (Gn 37: 15 a 17)
• Dedo-duro (Gn 37: 2b)
• Bonito (Gn 39: 6b)
• Correto (Gn 39: 8 e 9)
• Preso por fazer a coisa certa (Gn 39: 12 a 20)
• Próspero em qq atividade (Gn 39: 2 a 5 ; Gn 39: 21 a 23)
• Homem sensível (Gn 40: 6 a 8)
• Homem de visão, planejador estratégico (Gn 41: 29 a 36)
• Sábio, inteligente (Gn 41: 39 e 40)

Os 7 choros:

• 1o. choro: escondido, pela profunda dor do passado (Gn 42: 24)
• 2o. choro: secreto em seu quarto, mistura dor e amor (Gn 43: 30)
• 3o. choro: todos ouviram até os egípcios, liberou sua dor (Gn 45: 2)
• 4o. choro: transparente, se revela (Gn 45: 14 e 15)
• 5o. choro: saudade (Gn 46: 29)
• 6o. choro: luto (Gn 50: 1).
• 7o. choro: perdão, RESTAURAÇÃO (Gn 50: 17).

Indícios de pessoa ferida

• Choro
• Hipocrisia, põe uma máscara, finge que não conhece, se porta como um estranho, passa-se por outro, não se expõe, não se revela (Gn 42: 7 e 8)
• Aspereza: fala duramente (Gn 42: 7)
• Dor pelo passado (Gn 42: 9)
• Age como acusador: repete 3 vezes que os irmãos são espiões (Gn. 42 vv. 9, 12 e 14)
• Escravo do passado, tem uma visão distorcida (Gn 42: 12)
• Desconfiado, não acredita (Gn 42: 15 e 16)
• Abuso de autoridade: usa o nome de Faraó (Gn 42: 15 e 16)
• Vingativo, mete os irmãos na prisão (Gn 42: 17)
• Chantagem: se não trouxessem o irmão mais novo, não daria mais alimentos (Gn 42: 19 e 20)
• Fingido (Gn 42: 23)
• Justiça própria: prende Simeão (Gn 42: 24)

SINAIS DE RESTAURAÇÃO (Gn 45: 1 a 13)

1) Expressa sua dor (vv. 1 e 2)
2) Usa de transparência (v. 3) - sem a verdade, é difícil a restauração
3) Aceitou os irmãos (v. 4)
4) Perdão (v. 5)
5) Reconhece a soberania de Deus (v. 7)
6) Ministrou na vida dos irmãos e do pai Jacó - filho de Abraão (vv. 9 a 12)

DEUS não desperdiça nada e transforma até o mal em bem! (Gn 50: 20)
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February 19, 2013

O longo caminho da maturidade

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A nobreza humana é fruto do longo caminho percorrido por aqueles que, com perseverança, amor, bondade e fidelidade, vão escrevendo sua história

- pr. Ricardo Barbosa

Tenho me perguntado com relativa freqüência: por que as pessoas são tão resistentes ao amadurecimento? Por que tem se tornado tão raro ver homens e mulheres crescendo emocionalmente e espiritualmente?

Convivo com pessoas que, apesar de todas as experiências já vividas, depois de terem lido bons livros, conversado com pessoas maduras e inteligentes, de terem passado por escolas e universidades, ouvirem boas palestras e saberem quase tudo o que a Bíblia ensina, permanecem imaturas. Pessoas assim resistem com todas as forças a qualquer mudança; repetem os mesmos erros, as mesmas dúvidas, os mesmos sentimentos de rejeição; implicam com as mesmas coisas, oram pelos mesmos assuntos, brigam as velhas brigas. Dão a impressão de que não avançaram um milímetro no caminho do amadurecimento, não subiram nenhum degrau na escada do crescimento, não deram nenhum passo em direção a uma vida mais verdadeira. Alguns dão a impressão de que, na verdade, andaram para trás, retrocederam, tornaram-se piores do que já foram.

Basta olhar à volta e ver como as pessoas estão envelhecendo. É raro encontrar hoje um idoso maduro, sábio, bem humorado, destes que já viveram o bastante e souberam aproveitar cada experiência, que não vivem por aí resmungando e reclamando da vida, lamentando a idade e as oportunidades perdidas. Têm sempre uma boa palavra, um bom conselho; sabem envelhecer e não ficam procurando, pateticamente, viver como um adolescente, achando que o bonito está em retroceder e que a velhice é um estágio da vida que precisa ser deletado.

Penso que a resistência ao amadurecimento tem alguma relação com a resistência ao envelhecimento. Certamente, há muitas razões para a letargia emocional e espiritual em que nos encontramos hoje. Na verdade, ao olharmos para as virtudes cristãs, vamos perceber que, uma a uma, vêm sendo desprezadas e desconsideradas em nossa gloriosa civilização moderna e tecnológica. Humildade, simplicidade, castidade, generosidade, amor, bondade, paciência, coragem, lealdade, fidelidade, perseverança e gratidão vêm sendo substituídos por orgulho, vaidade, ambição, egoísmo, pressa, luxúria, inveja, traição, inconstância e ciúme. Somos, hoje, uma geração que não sabe mais amar, mas fazer sexo; que transformou o velho pecado da ambição na virtude da competência e da competitividade; que fez da vaidade a porta de acesso às banalidades sociais e do egoísmo uma arma de sobrevivência.

A paciência há muito deixou de ser uma virtude e, em seu lugar, cresceu o espírito da urgência e da pressa que, com seu pragmatismo funcional, atropelou o longo caminho da construção da dignidade e da honra. O sentimento de gratidão vem sendo substituído pela luta pelo direito e não há mais em nós aquele sentimento de dívida, que, no passado, moldou o caráter das pessoas que contribuíram com seu sacrifício para com a humanidade, porque reconheciam, com profunda gratidão, que tudo o que tinham lhes havia sido doado. O amor e a castidade perderam sua nobreza, transformando o corpo num artigo barato, usando a sensualidade como moeda para adquirir alguns momentos de euforia sexual.

Há um tempo atrás escrevi um artigo alertando contra o perigo dos atalhos. Minha preocupação era a mesma de hoje. A nobreza humana é fruto do longo caminho percorrido por aqueles que, com paciência e perseverança, gratidão e respeito, amor e bondade, fidelidade e lealdade, vão escrevendo sua história rumo à maturidade. São pessoas que sabem aproveitar cada experiência vivida, que não fogem do sofrimento e da dor, que reconhecem que tudo o que tem valor encontra-se nas profundezas da alma e precisam ser garimpados com paciência e perseverança.

Há uma metáfora do apóstolo Paulo que nos ajuda a entender isso. Ele compara a vida a uma corrida, na qual, para ganhar o prêmio, o corredor precisa de duas coisas: manter diante de si o alvo e ter disciplina. Para ele, a vida deveria ser olhada assim. Ele afirma que corria como quem sabe aonde quer chegar e, como todo atleta, impunha sobre si a disciplina necessária para ter a certeza de que não correu em vão. A imaturidade é o resultado de uma história vivida sem consciência de destino e sem disciplina.

A sensação de vazio, o tédio e falta de significado é o que move as novas gerações. Não se vê mais um sentido de missão ou consciência vocacional; não se sabe para onde caminham e nem os valores que abraçam. Os apelos da propaganda, as inúmeras ofertas e possibilidades, a agitação das festas e bares, os convites para as mais variadas atividades, levam a uma falsa sensação de preenchimento e significado. Contudo, quando as luzes se apagam, o barulho cessa, a multidão desaparece e a ressaca acaba, não sobra nada a não ser um vazio que insiste em dizer, silenciosamente, que o caminho não é este, que o alvo se perdeu, que as forças estão se esvaindo – e o tédio começa a bater mais fortemente na porta.

A maturidade tornou-se um artigo raro na sociedade pós-moderna.

Alguns dias atrás, uma senhora me procurou para falar dos planos de casamento de sua filha. No meio da conversa, sua preocupação com a maturidade do casal, particularmente de sua filha, ficou evidente. Ela tinha certeza de que não estavam preparados para celebrar uma aliança tão importante e vital para suas vidas. No fim da conversa, ela disse num tom irônico: “Mulheres como eu, capazes de enfrentar as lutas que enfrentei, trabalhar, criar os filhos, amar o marido mesmo nos momentos mais difíceis, honrar a aliança que fizemos, superar as diferenças e chegar a esta altura da vida mais plena e mais verdadeira, apesar de todas as cicatrizes que ficaram, é coisa rara, pastor, muito rara”.

Ela estava certa.

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/longo_caminho_maturidade.htm
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February 18, 2013

Imerecido amor

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Venha como está.

A bondade de Deus não muda.

Sim, imerecido amor ; ).

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=M4QDb3GTj94
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February 17, 2013

Com o que devemos nos preocupar?

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Preocupado com o que?

- Sergio Augusto

Como faz todos os anos desde 1998, o agente literário John Brockman despachou por e-mail uma pergunta provocativa à legião de cientistas, intelectuais, acadêmicos e artistas que lotam sua agenda de amigos e parceiros no site Edge.org., e ficou esperando. Em poucas semanas recebeu 154 respostas, assinadas por notórias figuras do mundo científico e habitués de sua enquete anual (Steven Pinker, Sam Harris, Daniel C. Dennett) e gente do show business (Brian Eno, Terry Gilliam, Richard Foreman). A pergunta de 2013 - "Com o que devemos nos preocupar?" - lhe foi soprada pelo entendido em história da ciência George Dyson.

O próprio Dyson foi o primeiro a pedir cautela com o alarmismo: "As pessoas tendem a se preocupar com coisas que não valem a pena, desprezando outras com as quais deveriam se preocupar". Concordando com o historiador, a jornalista Virginia Hefferman parafraseou Roosevelt, substituindo o medo da exortação original: "A única coisa que nos deve preocupar é a própria preocupação". Até porque, como observou o cientista social Dan Sperber, "quando inócuas e descabidas, certas preocupações nos trazem mais danos que benefícios".

Ansiedade, estresse, por exemplo. Meia dúzia de especialistas em ciência cognitiva pegaram essa linha de raciocínio. Um deles, Joseph Le Doux, chegou a sugerir que aprendêssemos a tornar a ansiedade produtiva, a usá-la em vez de sermos usados por ela. Estaremos psicológica e politicamente capacitados para só nos preocuparmos com o que mais precisaríamos nos preocupar?, indagou o psicólogo e neurocientista Brian Knutson, há tempos preocupado com o que batizou de "misplaced worries" (inquietações inoportunas). Só o tempo dirá.

A debacle do euro? O abismo fiscal americano? A tensão permanente no Oriente Médio? Os flagelos causados pelo aquecimento global? As chacinas em shoppings, cinemas e escolas? A finitude dos recursos naturais? Tais questões, embora inquietantes e oportunas, só foram abordadas em duas ou três respostas, nem sempre de frente.

O biólogo e paleontólogo Scott D. Sampson foi o único a meter a colher nos desastres naturais e nas agressões do homem ao meio ambiente, e apenas o físico Giulio Boccaletti chamou a atenção para a assustadora redução dos recursos hídricos do planeta. Jonathan Gottschall inocentou a violência na ficção, tão demonizada a cada morticínio em locais públicos. Não mais do que dois participantes se revelaram preocupados com o crescimento econômico atrelado à especulação financeira. Detalhe: um deles, Satyajit Das, é financista.

O psicólogo e linguista canadense Steven Pinker teme uma nova guerra mundial, tantos são os fatores negativos aptos a provocá-la. Terrorismo nuclear não parece tirar o sono de ninguém (nem o mais bilionário nerd teria condições de fabricar um artefato nuclear e detoná-lo de seu laptop, racionalizou o filósofo Daniel C. Dennett), mas outras modalidades de terrorismo digital, sim: hackers invadindo sistemas, roubando senhas bancárias, derrubando portais, espalhando vírus, a trivial delinquência eletrônica.

"Por erro ou de caso pensado, um bioterrorista pode deflagrar um colapso social", adverte o cosmólogo Martin Rees, criador da expressão "antropoceno", a era presente, em que as ameaças globais são provocadas mais pelos homens (e suas máquinas e inovações) do que pela natureza. "Receio que o mundo natural esteja ficando naturalmente desnaturado", desabafou a bióloga Seirian Sumner, especialmente grilada com os avanços da biologia sintética. Mais generalistas, o também biólogo Colin Trudge lastimou a gradativa "perda da integridade da ciência" e o cientista social Nicholas A. Christakis, sua transformação de vilã em vítima do homem.

Outras calamidades, algumas hipotéticas, outras reais ou em gestação, entraram em pauta: uma explosão de novas drogas ilegais; a possibilidade de pleno êxito de um projeto de I.A. (Inteligência Artificial) e a consequente escravização do homem por cérebros eletrônicos; nossa atual incapacidade para prever com exatidão como seria um mundo cheio de robôs e nanotecnologicamente avançado; a emergência de uma nova desigualdade em escala mundial com a eventual concentração em poucas mãos do acesso a bancos de dados fundamentais; o exorbitante papel dos mecanismos de busca na internet (que agora não apenas informam, mas também opinam e manipulam o gosto e as ideias dos usuários, alertou o físico W. Daniel Hillis); a desassistência à educação de 40% dos adolescentes; o desmedido culto dos pais ao pragmatismo educacional, em detrimento do estímulo à imaginação e à criatividade; a homogeneização da cultura e da experiência humana em escala global; a epidemia mundial de mentiras, fraudes, plágios e falsificações (destaque para o ciclista Lance Armstrong); a incompetência e o possível esgotamento da democracia liberal; a peste fundamentalista; a praga anti-intelectualista.

Os efeitos colaterais da Quarta Cultura, ou seja, os desacertos causados pelas novas tecnologias, alcançaram alto índice de preocupação. Sofreremos ainda mais com o déficit de atenção e paciência, com a prevalência do conhecimento rápido, ligeiro, superficial, googlado, com a perda das habilidades manuais e do senso histórico (sufocado pelo presentismo) e sua mais danosa consequência, a amnésia coletiva, porta aberta para o primado da estupidez e o triunfo da idiocracia.

A nunca esquecida explosão demográfica ganhou novos contornos com a eugenia (menos e melhores filhos) praticada na China pós-Mao como parte de suas ambições hegemônicas. A China, insiste o psicólogo Geoffrey Miller, não quer tornar-se apenas a maior potência militar, econômica, industrial, comercial e cultural do século 21, mas também a mais biopoderosa, com os seres mais saudáveis e bem-dotados intelectualmente da Terra. Miller, contudo, confessa estar menos preocupado com os sonhos de grandeza dos chineses do que com uma reação ocidental movida a preconceitos ideológicos, xenofobia e pânico bioético.

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,preocupado-com-o-que,997762,0.htm
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February 14, 2013

Problemas, paradoxos e perplexidades

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Fecha a porta do teu quarto para orar. Esta orientação de Jesus pode significar a necessidade de um ambiente onde os ruídos na comunicação sejam mínimos: nada de telefones tocando, crianças reclamando atenção, chefes cobrando tarefas, religiosos cochichando, rádios e televisores ligados, sinais anunciando e-mails recebidos, sinais de amigos no messenger, gritarias pela casa, ou qualquer coisa que possa competir com a atenção que deve ser exclusivamente dedicada a Deus, que recebe nossa oração.

Fechar a porta do quarto pode também significar outra coisa, a saber, a busca de um estágio profundo de instrospecção. Abandonar o barulho das vozes, silenciar os pensamentos e alcançar aquela quietude de alma recomendada pelo Pai Celestial: "Aquietai-vos e sabei que sou Deus".

Algumas pessoas conseguem apreender apenas aquilo que as palavras traduzem. Estão na camada dos óbvios e naturais da vida. Ficam na cadeia de causas e efeitos e tratam tudo como PROBLEMA: o que dá para montar, dá também para desmontar; o que pode deixar de funcionar, pode também ser consertado; o que pode ser expresso em palavras, pode ser compreendido e controlado. Isso vale para máquinas de lavar, aviões supersônicos, pessoas e relacionamentos, pensam elas.

Mas há pessoas que vão um pouco mais longe e descobrem que a vida não é tão lógica assim. Tratam a realidade na categoria do PARADOXO. Sabem que duas pessoas podem ter razão ao mesmo tempo, que pessoas podem ser capazes de fazer tanto o bem quanto o mal, enfim, que a vida é muito mais um degradê de cinzas do que um quadro em preto e branco.

Finalmente, há pessoas que penetram a dimensão da PERPLEXIDADE. Já não se ocupam tanto em compreender, explicar e controlar. Sabem que algumas coisas simplesmente são, sem qualquer explicação aparente ou apesar de todo o absurdo. Sabem apreciar a música e a poesia. Abraçam crianças, rolam no chão com seus cães e ficam extasiados com um pôr de sol. Não precisam de palavras para trocar segredos de amor, sabem como foi o dia dos filhos pelo bater da porta do quarto e se comunicam com os olhos, mesmo estando nos extremos de um salão de festa. Suas vidas estão além das fronteiras da razão e dos sentidos físicos. São sensíveis ao belo, ao bom, ao justo e ao verdadeiro.

A mente de Deus é, também, lógica e sua sabedoria capaz de oferecer solução às questões mais complexas da existência. Mas a intimidade com Deus se aprofunda no quarto, a portas fechadas, na quietude da alma, onde as palavras funcionam mais para fugas do que aproximações e o silêncio é significativo, como a mais bela das vozes a pronunciar a mais fértil das frases: "Tu és meu filho amado, em quem tenho prazer".

© 2006 Ed René Kivitz

Fonte: http://www.ibab.com.br/ed060212.html
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February 13, 2013

Como lidar com a dor

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É preciso acolher a dor para viver a alegria

- Isabelle Ludovico

Vivemos numa sociedade que foge da dor e que toma um analgésico ou ansiolítico ao primeiro sinal de dor física ou emocional. No entanto, a dor física é um sintoma, um sinal de alerta que indica uma situação de risco.

Como a maioria de nossas dores provém de somatizações, elas revelam que algumas emoções foram reprimidas. Para não sofrer, nós nos trancamos emocionalmente, mantendo as pessoas à distância e nos alienando de nós mesmos.

Distantes do nosso coração, ficamos também impossibilitados de nos identificar com o outro nas suas dores ou alegrias. Evitar a dor é evitar a vida. É preciso acolher a dor para também desfrutar plenamente da alegria.

A dor emocional é fruto do mal social que é inerente à condição humana num mundo que jaz no maligno – assaltos, acidentes, desemprego. Pode ser ainda de origem relacional (rejeição, abuso, perdas, crises) ou espiritual (perseguição). É gerado pelo mal que me fazem, pelo mal que faço a mim mesma ou ao outro em resposta, ou pela compaixão diante do mal que sofre meu próximo, principalmente quando se trata de um filho, mas também quando me identifico com os excluídos e injustiçados. Curiosamente, existe ainda um sofrimento que acompanha algo bom, como as dores de parto, as dores do crescimento (desmame), vacinas, limites, saída dos filhos etc.

O grande desafio é encontrar Deus na dor, em vez de fugir dela ou duvidar do Seu amor. A Bíblia nos alerta que a tristeza pode gerar vida ou morte (2 Co 7.10), pode ser estéril e até destrutiva ou então fértil.

A questão não é a dor em si, mas como a gente lida com ela. O grande risco é sofrer por razões erradas: pela expectativa irreal de uma vida sem sofrimento e por achar que Deus nos abandonou. No livro Transforma meu Pranto em Dança, Henri Nouwen afirma: “O consolo vem quando nos dispomos a sofrer nossas perdas em vez de negá-las. A cura começa quando saímos do isolamento diabólico para fazer uma conexão entre o nosso sofrimento e o sofrimento de Deus, enxergando o nosso sofrimento como parte de uma grande batalha contra o poder das trevas.

Não temos controle sobre a maioria das nossas circunstâncias. Nossa escolha tem mais a ver com nossa reação face às situações que a vida apresenta: com ressentimento ou gratidão?

Em vez de tentar fugir do sofrimento evitando situações de risco, precisamos reconhecer que a vida não inclui só perdas, mas que todos iremos perder tudo porque iremos, inevitavelmente, morrer. Ao encarnar, Cristo veio plantar neste mundo efêmero a semente da vida eterna. Nessa perspectiva, podemos enxergar nosso sofrimento como temporário. Esperança é muito diferente de resignação passiva, é fé pessoal e íntima naquEle que já venceu a morte e o mal”.

É necessário, primeiro, reconhecer a dor para ser consolado (Mt 5.4). Tendemos a negar a dor ou negar a Deus. Um sinal de maturidade é ser capaz de assumir todas as emoções sem censura e, ao mesmo tempo, reafirmar nossa confiança em Deus. Isso nos ajuda a desmontar o ídolo que construímos através de nossas projeções e expectativas, como podemos ver em muitas teologias distorcidas que colocam na boca de Jesus a promessa de Satanás: “Tudo te darei se prostrado me adorares”.

Quem duvida do amor de Deus se priva de seu consolo e perdão. Até Jesus foi tentado: “Pai, por que me abandonaste?”, mas logo depois entregou-se incondicionalmente. De fato, Cristo nunca prometeu nos poupar do sofrimento. Pelo contrário, Ele nos avisou que passaríamos por provações, mas prometeu estar conosco.

A aceitação do sofrimento me leva de uma fé utilitária baseada nas bênçãos de Deus a uma fé madura que anseia pelo próprio Deus. Não é mais fundamentada nas minhas experiências, mas em quem Deus é. Cristo tomou sobre si nossas enfermidades e dores e foi traspassado pelas nossas transgressões e iniqüidades (Is 53.4,5). Ele lidou com o mal que nos fizeram e o mal que nós fizemos. Ele nos consola e nos capacita a vencer o mal com o bem.

A resiliência diz respeito à capacidade de transformar a dor em crescimento. Passar com honestidade pela dor nos fortalece. Gera, entre outras coisas, maior sensibilidade com os que sofrem, gratidão por sabermos apreciar o que temos, generosidade, capacidade de consolar outros com o consolo que recebemos de Deus.

Fonte: http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=76&materia=894
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February 12, 2013

Amando uma pessoa inteligente

Amando uma mulher inteligente
- Luiz Felipe Pondé

Hoje é Carnaval. Carnaval é um saco. Morei muitos anos na Bahia, falo de cátedra. Não existe festa mais autoritária do que o Carnaval e a devastação que causa em nome de sua alegria barulhenta.

Mas gosto não se discute, lamenta-se. Por isso, hoje vou falar de coisa mais séria; vou falar de amor romântico e de um filme maravilhoso para quem gosta do tema e também de filosofia: "O Amante da Rainha, filme dinamarquês dirigido por Nikolaj Arcel, com Mads Mikkelsen (o amante) e Alicia Vikander (a rainha) no elenco.

Você acredita no amor romântico? Dito assim parece uma pergunta idiota. Alguns dirão que pessoas maduras sabem que o amor não existe. Outros, que é diferente de paixão, sendo esta passageira, enquanto o amor seria algo mais sólido, dado a parcerias de longa duração.

Nada mais pernicioso para um casamento de longa duração do que a expectativa de amor romântico depois de um certo número de anos, diriam os "maduros". Expectativas assim seriam "coisa de mulher", o que também é uma besteira. Homens sonham com momentos de paixão com suas mulheres no dia a dia. "Ter uma mulher" significa exatamente isso.

Supor que os homens são animais de cerveja, futebol e sexo é não entender nada sobre os homens. Pensar que os homens só pensam em cerveja, futebol e sexo é a mesma coisa que pensar que mulher é um ser menos inteligente.

A suposta simplicidade masculina é tão falsa quanto a também suposta irracionalidade feminina.

O tema encanta, apesar de alguns teóricos afirmarem que o amor é uma mera invenção da literatura europeia medieval (como o Papai Noel), universalizada, de modo equivocado, pelos autores românticos dos séculos 19 e 20.

Digo "equivocada" porque, para os medievais, nem todo mundo seria capaz de viver ou suportar tal forma de amor avassalador. Já para os românticos, modernos, todo mundo poderia viver essa forma de encantadora doença da alma.

Eu não acredito que o amor romântico seja uma invenção da literatura, mas concordo com os medievais: muita gente passa pela vida sem experimentá-lo. Uma pena, pobres miseráveis...

A narrativa medieval descreve essa "maladie de la pensée" (doença do pensamento, do espírito), dito no original provençal (um tipo de francês comum na Idade Média), como um modo de obsessão que arrasta o homem e a mulher, fazendo com que fiquem presos no desejo de estar um com o outro e atormentados quando não podem se encontrar, quando não podem se tocar.

Segundo os medievais, ele ficará horas imaginando o que ela estaria fazendo, pensando, sonhando, com o desejo de penetrar em todos os segredos de sua alma e de seu corpo ("Tratado do Amor Cortês", de André Capelão, publicado pela editora Martins Fontes).

A estrutura ideal supõe o amor impossível, no qual a morte espera os dois ou um dos dois -- e a desgraça do que sobrevive. Quando o amante é amigo fiel do marido dela, a estrutura dramática encontra seu modo mais perfeito de impasse.

Dirão os especialistas que o amor romântico cantado nos séculos 18 e 19 fala da destruição de qualquer forma de vida que não a interesseira, típica da burguesia e sua alma de "merceeiro", como diria Marx.

"O Amante da Rainha" tem exatamente essa estrutura. O amante é médico e confidente do rei e se apaixonará enlouquecidamente, e será correspondido, pela rainha.

Esse médico, chamado de "o alemão" pelos dinamarqueses (o personagem é alemão), é um iluminista (leitor de Rousseau e Voltaire) que crê na superação da barbárie pelo uso da razão e da ciência. Ela também.

O amor dos heróis não é apenas construído a partir de "sentimentos" mas, também, do encontro entre suas almas inquietas com o mundo a sua volta. Ambos são filósofos de uma época em que a filosofia se revoltou com a estupidez do mundo (o filme se passa na segunda metade do século 18). Aliás, a filosofia sempre se revoltará, porque o mundo será sempre estúpido.

Além de belas pernas e belos seios, a delícia de partilhar inquietações filosóficas com uma mulher que amamos pode ser uma das maiores formas de amor romântico que existe. Infeliz aquele que não sabe disso.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1229174-amando-uma-mulher-inteligente.shtml
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February 11, 2013

Palavras

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O Rei Salomão disse que as palavras detém o poder da vida e da morte. Isto é, palavras vivificam. Palavras matam. Matam aos poucos.

Palavras matam aos poucos quando causam constrangimento: quem ouve quer se esconder ou desaparecer de vez, deixando claro que melhor seria se as tais palavras não tivessem sido pronunciadas.

Palavras matam aos poucos quando ferem: quem ouve sente uma dor como se alguém tivesse arrancado um pedaço seu, um pedaço da esperança, da confiança, da beleza.

Palavras matam aos poucos quando ofendem: quem ouve tem seu caráter questionado.

Palavras matam aos poucos quando geram distanciamento: quem ouve vai perdendo o prazer de estar perto de quem fala.

Palavras matam aos poucos quando desestimulam: quem ouve vai perdendo o pique, vai deixando de acreditar que vale a pena continuar lutando.

Palavras matam aos poucos quando desestabilizam processos: quem ouve começa a duvidar se está fazendo a coisa a certa, se vai chegar a algum lugar, se os outros estão igualmente comprometidos.

Palavras matam aos poucos quando impedem ou fazem morrer processos: quem ouve abandona tudo.

Palavras matam aos poucos quando promovem discórdias: quem ouve começa a se afastar de um/a e de outro/a, até ficar ilhado/a.

Palavras matam aos poucos quando alimentam enfermidades: quem ouve recebe uma bicada em sua ferida já quase cicatrizada, e quem fala bica-se a si mesmo/a.

Palavras matam aos poucos quando revelam doenças: quem ouve se denuncia, ao se dirigir ao outro mostra seu próprio desequilíbrio.

Palavras matam aos poucos quando desmascaram caráter: quem ouve percebe má fé, discerne maldade, e deixa de confiar em quem fala.

Palavras matam aos poucos quando suscitam isolamentos: quem ouve vai se afastando até que quem fala se vê sozinho/a, abandonado/a.

Palavras matam aos poucos quando espalham lama: quem ouve fica com a alma suja da sujeira do outro, o outro que falou ou o outro de quem se falou.

Palavras matam aos poucos quando caluniam: quem ouve passa a acreditar em mentiras.

Palavras matam aos poucos quando suscitam diligências: quem ouve tem que sair correndo atrás de apagar os incêndios causados por quem fala.

Palavras matam aos poucos quando diminuem: quem ouve acaba acreditando ser menor do que de fato é.

Palavras matam aos poucos quando iludem: quem ouve pensa que é verdade, quem fala acredita que é verdade, quem observa de longe lamenta dois enganados.

Palavras matam aos poucos quando expressam mentiras: quem ouve é traído, quem fala se condena.

Palavras matam aos poucos quando escondem Deus: quem ouve já não vê saída, quem fala está cego.

Palavras matam aos poucos quando induzem ao mal: quem ouve faz o que não imaginou que faria, e, depois de ter feito, lamenta e chora.

Palavras matam aos poucos quando são fúteis: quem ouve vai se cauterizando, se infantilizando, se alienando, até se perder da vida real.

Palavras matam aos poucos quando são gélidas: quem ouve vai ficando cínico/a, cético/a, amargo/a, até só enxergar o que não presta.

Palavras matam aos poucos quando se transformam em discursos: quem ouve, de tanto que já ouviu, já sabe de cor e salteado o que vai ouvir, até que já não ouve mais.

© 2005 Ed René Kivitz

Fonte: http://www.ibab.com.br/ed050807.html
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February 10, 2013

Lincoln, Obama e Bono

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- Luiz Felipe Pondé

Obama não tem nada a ver com Lincoln. Ele quer se vender como o Lincoln negro, mas é festivo demais para sê-lo. Ele é um Carter que tem a sorte de ser negro.

Obama é um presidente fraco, demagogo e oportunista. O Chávez dos EUA (apesar de que Chávez tem mais "cojones" do que Obama). Compará-lo a Lincoln é uma piada.

Obama está mais para Bono Vox, que ganha muita grana com fotos de crianças da África, dizendo coisas "legais" para gente que tem uma visão de mundo de 12 anos de idade -- coisa em voga hoje.

Lincoln foi um presidente que levou os Estados Unidos a uma guerra que matou cerca de 2 milhões de americanos, uma "sangueira patriótica", como dizia o crítico Edmund Wilson. A Guerra de Secessão, o Norte contra o Sul, não foi uma disputa ao redor da abolição da escravidão nos EUA.

O que estava em jogo não era a escravidão acima de tudo, era o Sul querer sair da União. Era o Sul querer ser livre para seguir seu modo de vida pré-moderno.

Mesmo se os confederados (o Sul) tivessem aberto mão dos escravos, Lincoln os teria devastado, porque o que estava em questão era o controle político e militar do território e a expansão do modo moderno de economia e sociedade.

Incrível como o pensamento público cai nesse papo de Lincoln "liberal". Ser abolicionista na época não era ser liberal; no Brasil, o conservador Joaquim Nabuco foi abolicionista. A "inteligência liberal" deve deixar Lênin, Stálin e Fidel, nada festivos, muito irritados.

Lincoln está mais para Bibi Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, do que para Obama. Lincoln invadiria os territórios palestinos e os anexaria.

A guerra foi o modo pelo qual o Norte, industrializado, capitalista, cético, materialista, portanto, moderno, invadiu e destruiu a civilização aristocrática, rural, tradicional, pré-moderna sulista. Os "ianques" (o Norte) conquistaram o Sul, assim como espanhóis, portugueses, ingleses e franceses conquistaram as Américas e a África. Os confederados queriam a independência. Lincoln disse "não, o Sul também é nosso", e levou os EUA à guerra que fez do país definitivamente uma nação moderna.

Lincoln era um cabra macho. Os "ianques" massacraram o Sul, roubaram suas terras, mataram seus homens, violentaram suas mulheres. Soldado sempre foi para guerra para ganhar dinheiro e violentar as mulheres dos vencidos. Foi nessa guerra que inventaram a metralhadora, para matar mais gente de modo mais eficaz.

Obama não seria capaz disso porque ele gosta de coquetel beneficente e falar para jovens sobre música afro-americana. Ele jamais tomaria uma decisão como essa, ele é fraco demais (paralisou os EUA no Oriente Médio), preocupado em agradar o marketing liberal americano ("liberal" é "progressista" nos EUA) e passar para a história como o cara mais legal da América.

O máximo que ele faria seria levar os americanos para um show do Bono Vox. Se Obama não fosse o primeiro presidente negro da história, não teria sido reeleito, e depois de 48 horas do término do seu mandato seria esquecido na lata de lixo da história.

Sua relação com Lincoln é a ideia de que ele seria um presidente a deixar uma América "liberal", assim como Lincoln. Mas Lincoln não era "liberal", ele não queria que os EUA perdessem território e grana.

Acho importante que as pessoas sejam iguais perante a lei, pouco importa se são héteros ou homos.

Minha crítica ao Obama não está em seu possível legado "progressista" (que não é dele, mas dos Kennedy) em termos políticos, mas sim a sua ideia errada de que os EUA devam seguir um modelo europeu centralizador.

Os EUA são o que são porque nunca foram centralizadores, e o governo nunca esmagou o cidadão comum fazendo dele um retardado mental econômico e moral como no Estado de bem-estar social europeu.

O problema com Obama é sua têmpera "liberal". Esta têmpera, cozida em campus acadêmico, gosta de festa, greves de estudantes e professores (ninguém está nem aí para esse tipo de greve porque a sociedade no seu dia-a-dia passa muito bem sem alunos e professores universitários) e boa vida.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1221265-lincoln-obama-e-bono-vox.shtml .

February 06, 2013

Intolerância, a marca da hipermodernidade

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Gente como a gente

- Stephen Kanitz

Boa parte da história da humanidade transcorreu em uma época na qual a maioria da população vivia em pequenas vilas e cidades com no máximo 10.000 habitantes. Isso significa que havia, em média, 200 pessoas em sua faixa etária, que você conhecia por nome e sobrenome.

Nem todas eram simpáticas, brilhantes e alegres como você, mas, se quisesse ter amigos, você teria de aprender logo cedo a aceitar as idiossincrasias e diferenças de opinião. Muitos dos filósofos da época escreviam sobre tolerância, uma virtude necessária para os tempos.

Hoje, a situação é diametralmente oposta. A maioria da população brasileira vive em grandes centros urbanos, fenômeno com menos de quarenta anos de existência. Ainda não aprendemos a conviver com essa nova situação. Por exemplo, nem dá para pensar em conhecer as 100 000 pessoas em sua faixa etária de sua metrópole. De quarenta anos para cá, começamos a fazer algo que nossos antepassados não podiam: selecionar nossos amigos.

Podemos, agora, criar um seleto grupo de amigos, gente-como-a-gente. Pessoas com os mesmos interesses, com as mesmas manias, que pensam politicamente do mesmo jeito, que têm os mesmos gostos e opiniões.

Se seu vizinho é um chato ou tem opiniões contrárias, você simplesmente o ignora, e se desloca até o outro lado da cidade para encontrar um amigo. Gente chata nunca mais. Virtudes como tolerância, respeito, curiosidade intelectual não são sequer mais discutidas, muito menos veneradas. É cada um por si e seus amigos.

Com a Internet, a situação piorou, e muito. Agora existem sites que permitem que descubramos gente-como-a-gente do outro lado do mundo, através de "comunidades virtuais" , e-grupos, e-amigos, enfim.

A Amazon Books, por exemplo, avisa-me de outros clientes que compraram exatamente os mesmos livros que eu comprei. Gente do mundo inteiro que tem os mesmos interesses, um pequeno grupo de gente-como-eu.

Isso, no entanto, está longe de ser uma comunidade, no sentido antigo da palavra. Se não tomarmos cuidado viraremos um bando de narcisistas olhando no espelho.

Jamais iremos criar uma sociedade de união universal como pregam os social-internautas. Somente aumentaremos a intolerância, a falta de compreensão, compaixão e humildade local. Aumentaremos também a arrogância, com a auto-alimentação de grupos que terminarão se achando donos da verdade.

Não vou sugerir uma volta ao passado, nem negar que é um prazer conhecer gente-como-a-gente do mundo inteiro, e prevejo que provavelmente iremos continuar nesse caminho.

Mas teremos de fazer um pequeno esforço para conhecer novamente nossos vizinhos, apesar de chatos, apesar das opiniões diferentes, dos gostos musicais irritantes e assim por diante. Se você parar uma vez na vida e conversar com seu vizinho, poderá descobrir que no fundo ele até que tem coisas interessantes e diferentes a dizer. Você poderá descobrir que existe uma virtude em ser tolerante, compreensível e aberto a novas idéias.

Se cada um se fincar na sua trincheira, criando batalhões de amigos que pensam igualzinho, iremos caminhar numa rota perigosa para o futuro.

Meu site www.voluntarios.com.br dá preferência proposital às entidades próximas ao endereço em que você mora. Talvez não haja uma de que você goste em seu bairro, mas esse é justamente o espírito da filantropia e do voluntariado: não se faz o que se "gosta", mas o que é necessário ser feito.

Portanto, se você tem um vizinho chato, cumprimente-o de forma diferente da próxima vez que o encontrar. Dê um sorriso encantador . Convide-o a ir a sua casa ou apartamento. Vamos começar a aprender a conviver com gente-que-não-é-tão-parecida-com-a-gente. O mundo ficará bem melhor.

Fonte: http://www.kanitz.com.br/veja/gente.asp

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=ZJ8ifHRmdPw
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February 05, 2013

Sinais dos tempos

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O amor vem esfriando na medida em que crescem a iniqüidade, o individualismo, o narcisismo

- pr. Ricardo Barbosa

Os discípulos de Cristo, um dia, perguntaram a ele quais seriam os sinais que antecederiam a sua vinda. Ele respondeu esta pergunta numa longa pregação, conhecida como “sermão profético”. Entre os sinais apresentados por Jesus, destaca-se o surgimento de falsos Cristos e falsos profetas, que iriam enganar muitas pessoas. O Filho de Deus falou também de guerras entre as nações e de abalos sísmicos. No entanto, há um sinal que me chama a atenção de forma particular: trata-se daquele que fala do esfriamento do amor. Jesus disse: “E por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mateus 24.12).

A relação que Jesus apresenta é inversamente proporcional: o crescimento da iniqüidade implica no enfraquecimento do amor. Vejam se não é esse o nosso caso. Na medida em que cresce o pecado em suas mais variadas formas, da corrupção ao crescimento da miséria social, da pornografia a todas as formas de banalização sexual, a violência nas ruas e nos lares, o individualismo autocentrado e narcisista, esfria o amor genuíno e sincero no ser humano. Somos uma geração que vem desaprendendo a amar. Não estou me referindo a uma forma platônica de amor ou aos modelos hollywoodianos que enchem nossa sala de estar todos os dias, mas ao amor conforme Deus o revela nas Escrituras. Amor naquela forma como ele mesmo nos tem amado e celebrado uma aliança com seu povo. Provavelmente não há nenhum texto mais completo sobre o amor do que I Coríntios 13, um texto que precisa ser revisitado por nós diante daquilo que vemos todos os dias.

Naquela epístola, Paulo fala de um amor que é paciente, que não se perde diante da primeira crise ou da primeira desilusão; um sentimento bondoso, não ciumento e humilde. Um amor que não se comporta de forma inconveniente, mas é altruísta, e está sempre procurando atender o interesse dos outros e não o seu próprio. É também um amor que não se ira facilmente, que não guarda rancor, que não se alegra com a injustiça, mas que salta de júbilo quando a verdade triunfa. É um amor que sabe que o sofrimento sempre acompanha aquele que ama. Um amor que se sustenta sob fundamentos sólidos e verdadeiros, que não tem a pressa dos egoístas, mas que sabe esperar e possui uma enorme capacidade de suportar adversidades.

Este amor que Paulo nos descreve vem diminuindo e esfriando na medida em que cresce o egoísmo alimentado pelo individualismo da cultura narcisista, onde o que importa sou eu, meus desejos, meus interesses, meu momento, minhas necessidades, minha realização, meus projetos, o que eu penso, quero e preciso. Imagino que quando duas pessoas modernas, com este espírito individualista e narcisista, se encontram e resolvem se amar, envolvem-se num modelo de relacionamento onde, à primeira vista, tudo indica que se trata de um belíssimo e invejável romance. Contudo, diante do primeiro obstáculo, da primeira frustração, de um simples desentendimento, da dor e do sofrimento, ou do cansaço e da vontade de experimentar “novos ares”, abandonam aquele amor que foi grande apenas enquanto durou em troca de um outro que atenda as necessidades de um ego inflado, imaturo e insaciável. É por causa da iniqüidade deste espírito individualista e narcisista que os pais vão abandonando os seus filhos porque têm coisas mais importantes a fazer, como ganhar dinheiro ou buscar o sucesso, do que cuidar deles e amá-los; alguns tornam-se indiferentes e os abandonam à própria sorte na esperança de que na escola ou na vizinhança encontrarão quem os ame e eduque. Outros há que tentam manipulá-los e controlá-los em virtude da mesma iniqüidade, da mesma falta de tempo e da mesma insegurança. Os mais modernos já preferem não tê-los porque sabem que o amor que possuem não ultrapassa a epiderme – não são capazes de amar nada além do seu próprio ego. Por outro lado, os filhos vêm se rebelando contra seus pais, negando-lhes o respeito e a honra. São também filhos da iniqüidade do nosso tempo, do mesmo individualismo, do mesmo egoísmo. Os jovens trocaram o amor pelo sexo para descobrirem lá na frente, depois de tantas idas e vindas e muitas “ficadas”, que são “bons de cama”, mas frios e imaturos na arte de construir um amor que supera as fronteiras do egoísmo e que cresce na medida em que o tempo passa. Os escândalos de corrupção que mais uma vez abalam o país têm, na sua raiz, o mesmo mal. Todos buscam o que é seu e nunca o que é dos outros. A epidemia que hoje toma conta da nação não é a corrupção – ela é apenas mais uma expressão de uma nação, onde a iniquidade cresceu tanto que fez o amor murchar.

Eu nunca fui um desses crentes interessados em decifrar os códigos para adivinhar quando é que Jesus Cristo volta. Tal aritimética não me interessa. Apenas sei que ele voltará, e isso me basta. No entanto, devo confessar que olhando para o cenário do mundo hoje, tenho orado por uma intervenção divina e espero que ela aconteça logo, seja na forma de um novo avivamento – daqueles que penetram na raiz do coração humano e o transforma e não esta panacéia religiosa que alguns chamam de “derramamento do Espírito” – ou de uma intervenção escatológica, final ou não. Oro por isto porque não é mais possível suportar tanta injustiça, tanta miséria, tanta imoralidade, tanto pecado.

Oro também para que Deus nos preserve fiéis a ele e à sua Palavra, para que aqueles que reconhecem o amor divino e são alimentados e inspirados por ele cresçam cada vez mais amparando o pobre, cuidando do necessitado, lutando pela justiça, permanecendo fiéis aos termos da aliança com Deus e com o próximo. Jesus, naquele sermão profético, afirma que “o amor se esfriará de quase todos”. E é nesta pequena exceção que quero me incluir, a mim e a você, mesmo que sejamos apenas um pequeno remanescente, mas um remanescente que não se curva diante dos Baalins do mundo moderno.

Fonte: http://www.celebrandodeus.com.br/Data_site/002TextoSite.asp?ID=1373
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February 04, 2013

Cera

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- André Laurentino

Toda recepção de hotel é uma filial de museu de cera. O balcão de mármore e a obrigação de ser feliz embalsamam qualquer um que esteja do outro lado. E quem está do outro lado é sempre a mesma pessoa, varia apenas de rosto e uniforme. No mais, é a pose fixada no riso e os cabelos bem penteados para trás. Para os recepcionistas de hotel, aquele saguão é a vida inteira. Seus corações não podem dar sinal de saber em que quarto fica o amor, o ódio ou o tédio. Quem já amou ou odiou acha difícil carregar no rosto o sorriso indolor de todos os dias, fazer piadas tolas, versar a vida sobre as chaves esquecidas ou a toalha do apartamento 1502.

Os recepcionistas de hotel, por outro lado, têm um outro lado. Quando estão distantes de seus balcões, têm suas próprias malas. Devem levar na bagagem um espaço suficiente para alguma dor ou alegria. Algo que lhes dê assunto na mesa de um bar. Se tiverem sorte, amarão eternamente por alguns anos; e se não tiverem tanta sorte assim, amarão do mesmo jeito. Os recepcionistas de cada hotel também devem ter dentes cariados, pretextos para uma outra cerveja, seus times perdem na decisão. Mas tudo isso fica preso em alguma alfândega quando eles vestem o uniforme e surgem por detrás do balcão.

Foi assim quando falei com o recepcionista do Hotel Excelsior, em Nova York. Ele me disse sorrindo que Mr. Laurentino podia deixar as malas ali mesmo, que alguém viria cuidar delas. O quarto de Mr. Laurentino ainda não estava pronto, umas duas horas seriam necessárias para que eu pudesse encontrar tudo conforme as leis do conforto. Deixei as malas com uma outra estátua de cera, que andava normalmente, como se estivesse viva, e fui ao Central Park.

O parque estava vazio naquela manhã, muito cedo para um domingo. Estávamos praticamente sozinhos, a fotossíntese e eu. As pessoas que já estavam lá tinham em comum a terceira idade. Andavam devagar e moviam os braços como se estivessem correndo. Dava certa vergonha ultrapassá-los enquanto eu caminhava normalmente. Eles me acompanhavam apenas com os olhos.

Mas não tinham tristeza no olhar. Tinham rugas, decepções, não eram mais obrigados a sorrir — nem eram de cera.

Fonte: http://andrelaurentino.blogspot.com.br/2012/12/0-0-1-322-1839-tbwa-15-4-2157-14.html
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February 03, 2013

O novo ateu

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- pr. Ricardo Barbosa

Hoje, o ateu não é mais aquele que não crê, mas aquele que não encontra relevância para Deus na sua rotina. O novo ateísmo não precisa negar a fé; apenas cria substitutos para ela. Mantém o crente na igreja, mas longe do seu Salvador.

Sabemos que existem vários tipos de ateus. Existem aqueles que não crêem em Deus por não encontrarem respostas para os grandes dilemas da humanidade como violência, miséria e sofrimento. Não conseguem relacionar um Deus de amor com o sofrimento humano. Outros não crêem porque não encontram uma razão lógica e racional que explique os mistérios da fé, como a criação do mundo, o dilúvio, o nascimento virginal, a ressurreição, céu, inferno, etc. Diante de temas tão complexos que requerem fé num Deus pessoal, Criador e Redentor, muitos não conseguem crer naquilo que lhes parece racionalmente absurdo.

Os dois tipos de ateus já mencionados são inofensivos. Na verdade, são pessoas que buscam respostas, são honestos e não aceitam qualquer argumento barato como justificativa para suas grandes dúvidas. São sinceros e lutam contra uma incredulidade que os consome, uma falta de fé que nunca encontra resposta para os grandes mistérios da vida e de Deus.

No entanto há um outro tipo de ateu, mais dissimulado, que cresce entre nós, que crê em Deus e não apresenta nenhuma dúvida quanto aos mistérios da fé, nem em relação aos grandes temas existenciais. Ele vai à igreja, canta, ora e chega até a contribuir. É religioso e gosta de conversar sobre os temas da religião. Contudo, a relevância de Cristo, sua morte e ressurreição para a vida e a devoção pessoal é praticamente nula. São ateus crédulos. O ateu moderno não é mais somente aquele que não crê, mas aquele para quem Deus não é relevante.

Este é um novo quadro que começa a ser pintado nas igrejas cristãs. Saem de cena os grandes heróis e mártires da fé do passado e entram os apáticos e acomodados cristãos modernos. Aqueles cristãos que entregaram suas vidas à causa do Evangelho, que deixaram-se consumir de paixão e zelo pela Igreja de Cristo, que viveram com integridade e honraram o chamado e a vocação que receberam do Senhor, que sofreram e morreram por causa de sua fé, convicções e amor a Cristo, fazem parte de uma lembrança remota que às vezes chega a nos inspirar.

Os cristãos modernos crêem como os outros creram, mas não se entregam como se entregaram. Partilham das mesmas convicções, recitam o mesmo credo, freqüentam as mesmas igrejas, cantam os mesmos hinos e lêem a mesma Bíblia, mas o efeito é tragicamente diferente. É raro hoje encontrar alguém em cujo coração arde o desejo de ver um amigo, parente, colega de trabalho ou escola convertendo-se a Cristo e sendo salvo da condenação eterna. Os desejos, quando muito, se limitam a visitar uma igreja, buscar uma "bênção", receber uma oração; mas a conversão a Cristo, o discipulado com todas as suas implicações, são coisa que não nos atraem mais.

Os anseios pela volta de Cristo, o desejo de nos encontrarmos com Ele e ver restaurada a justiça e a ordem da criação ficaram para trás. Somente alguns saudosos dos velhos tempos lembram-se ainda dos hinos que enchiam de esperança o coração dos que aguardavam a manifestação do Reino. A preocupação com a moral e a ética, com o bom testemunho, com a vida santa e reta não nos perturba mais - somos modernos, aprendemos a respeitar o espaço dos outros. O cuidado com os irmãos, o zelo para que andem nos caminhos do Senhor, as exortações, repreensões e correções não fazem parte do elenco de nossas preocupações. Afinal, cada um é grande e sabe o que faz.

Enfim, somos ateus modernos, o pior tipo de ateu que já apareceu. Citamos com convicção o Credo Apostólico, mas o que cremos não tem nenhuma relevância com a forma como vivemos. A pessoa de Cristo para muitos é apenas mais uma grife religiosa, não uma pessoa que nos chama para segui-lo. O ateísmo moderno se caracteriza pela irrelevância da fé, das convicções, do significado da igreja e da comunhão dos santos.

A irrelevância de Deus para a vida moderna é intensificada pela cultura tecnocrática. Temos técnicas para tudo: para ter um matrimônio perfeito, criar filhos felizes e obedientes, obter plena satisfação sexual no casamento, passos para uma oração eficaz, como conseguir a plenitude do Espírito Santo e muitos outros "como fazer" que entopem as prateleiras das livrarias e o cardápio dos congressos. A sociedade moderna vem criando os métodos e as técnicas que reduzem nossa necessidade de Deus, a dependência dEle e a relevância da comunhão com Ele. Chamamos uma boa música de adoração, um convívio agradável de comunhão, uma moral sadia de santificação, assiduidade nos programas da igreja de compromisso com o Reino de Deus.

As técnicas não apenas criam atalhos para os caminhos complexos da vida, como procuram inverter os pólos de atenção e dependência. Tornamo-nos mais dependentes de nós do que de Deus, acreditamos mais na eficiência do que na graça, buscamos mais a competência do que a unção, cremos mais na propaganda do que no poder do Evangelho. Tenho ouvido falar de igrejas que são orientadas por profissionais de planejamento estratégico. Estudam o perfil da comunidade, planejam seu desenvolvimento, arquitetam seu crescimento e, de repente, descobrem que funcionam, crescem, são eficientes, e não dependem de Deus para nada do que foi planejado. Com ou sem oração a igreja vai crescer, vai funcionar. Deus tornou-se irrelevante. Tornamo-nos ateus crentes.

A minha preocupação não é simplesmente criticar o mundo religioso abstrato, superficial e impessoal que criamos ou criticar a tecnologia moderna que, sem dúvida, pode e tem nos ajudado. Minha preocupação é com o coração cada vez mais distante, mais abstrato, mais centralizado naquilo que não é Deus, mais dependente das propagandas e estímulos religiosos, mais interessado no consumo espiritual do que numa relação pessoal com Deus.

Como disse, o ateu hoje não é mais aquele que não crê, mas aquele que não encontra relevância para Deus na sua rotina, não precisa da comunhão dEle para a vida. A sutileza do novo ateísmo é que ele não precisa negar a fé, apenas cria substitutos para ela. Mantém o crente na igreja, mas longe do seu Salvador. Este ateu está muito mais presente entre nós do que imaginamos.

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/novoateu.htm
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February 02, 2013

A pós-modernidade e a singularidade de Cristo

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- pr. Ricardo Barbosa

Vivemos o risco de um novo modelo de intolerância. Afirmar a centralidade da obra de Cristo já pode ser visto como preconceito.

Uma das contradições da cultura pós-moderna e globalizada é sua capacidade de romper fronteiras e preconceitos, tornando-a mais inclusiva e, ao mesmo tempo, criar outras fronteiras e preconceitos, tornando-a extremamente exclusiva e violenta. Nas últimas décadas, a civilização ocidental tem feito um enorme esforço para diminuir as distâncias entre as raças, romper com os preconceitos e a discriminação sociais e criar uma sociedade menos violenta e mais aberta à inclusão das minorias. Por outro lado, vemos uma enorme massa de excluídos que cresce a cada dia, transformando-se em alvos e agentes de violência e preconceitos jamais vistos.

Dentro do cenário religioso observamos um movimento semelhante. Se por um lado a diversidade é uma característica do mundo globalizado, ampliando os horizontes e quebrando barreiras sociais e culturais, por outro, vivemos o risco de um novo modelo de intolerância. A própria abertura criada pela sociedade impede que expressemos nossos valores ou crenças, mesmo que o façamos sem agredir ou violar o direito daqueles que não concordam com eles. Tudo em nome de uma tolerância que cria a ditadura de um pensamento monolítico.

A relativização dos valores morais, o rompimento das tradições e o colapso do modelo tradicional da família abriram espaço para a aceitação e inclusão dos novos modelos morais e sociais. Muitos desses modelos contrariam os princípios cristãos mais fundamentais e comprometem a saúde da sociedade; contudo, temos presenciado a reação de vários grupos que não admitem a contradição. Vivemos hoje o que o doutor James Houston chama de uma nova forma de fundamentalismo, o da “democracia liberal”, que impõe sobre nós a obrigação de aceitar e admirar tudo aquilo que contraria princípios e valores que fazem parte da consciência cristã.

Muitos cristãos sentem-se intimidados por não poderem expressar suas convicções religiosas ou morais diante do novo fundamentalismo. Nossa cultura tornou-se moralmente e religiosamente liberal e requer que todos sejamos igualmente liberais. Isso significa que, num futuro não muito distante, sejamos impedidos de falar da revelação bíblica do pecado ou mesmo de sustentar publicamente nossas convicções morais, sob o risco de sermos considerados preconceituosos.

Outro aspecto preocupante dentro do cenário globalizado é o futuro da centralidade da morte e ressurreição de Cristo para a vida e a espiritualidade cristãs. Imagino que, mais cedo do que pensamos, enfrentaremos uma forte resistência à afirmação bíblica de que Jesus é “o caminho”, “a verdade”, “a vida”, de que ele é “o único Senhor”, de que “não há salvação fora dele” e de que ele é o “único que pode perdoar nossos pecados”. Todas essas afirmações são, por si, uma agressão ao espírito “democrático” da sociedade pós-moderna. Afirmar a exclusividade de Cristo implica na negação e rejeição de qualquer outro nome que possa nos reconciliar com Deus, e isso soa como um preconceito, uma forma de discriminação inaceitável. Afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus e que só ela traz a revelação do propósito redentor de Jesus é também uma afirmação que pode ser considerada preconceituosa, uma vez que nega todas as outras formas de revelação.

De certa forma, isso já vem acontecendo. A espiritualidade cristã pós-moderna vem se tornando cada dia mais light. Fala-se muito pouco sobre o arrependimento e o pecado; prega-se quase nada sobre a cruz e a ressurreição; as Escrituras vêm perdendo sua autoridade. Jesus vem sendo reduzido a um grande líder, alguém que nos deixou um bom exemplo para seguir – alguma coisa no mesmo nível de Buda, Ghandi, Dalai Lama ou outro grande líder da humanidade, mas nada muito além disso. Fala-se muito de um Deus que é Pai e nos aceita, ama, acolhe e perdoa, o que é certo e bíblico; mas corre-se o risco de, por trás dessa linguagem suave e atraente, embutir uma espiritualidade que pensa ser possível conhecer a Deus-Pai sem a mediação de seu Filho Jesus Cristo.

A primeira geração de cristãos pós-modernos já está aí. São crentes que pouco ou nada sabem da Palavra de Deus e demonstram pouco ou nenhum interesse em conhecê-la. Cultivam uma espiritualidade verticalista, com nenhuma consciência missionária, social ou política. Consideram tudo muito “normal” e não vêem nenhuma relevância na cruz de Cristo. Acham que a radicalidade da fé bíblica é uma forma de fanatismo religioso e não demonstram nenhuma preocupação em lutar pelo que crêem, se é que crêem em alguma coisa pela qual valha a pena lutar.

A espiritualidade bíblica e cristã encontra-se solidamente fundamentada nas Escrituras Sagradas, centrada na pessoa e obra de Jesus Cristo, alicerçada na revelação trinitária de Deus. É uma espiritualidade que leva em conta o pecado, não como uma categoria psicológica ou sociológica, mas como uma realidade teológica. Portanto, não será a cultura que haverá de determinar sua natureza, mas a antropologia bíblica. É também uma espiritualidade que, além de promover a oração, a comunhão e a intimidade com o Pai por meio de Cristo, envolve-nos com o Reino de Deus, estabelecendo novos paradigmas morais, políticos, econômicos e sociais que nem sempre comungam com a ordem estabelecida pela cultura.

A espiritualidade cristã não é simplesmente uma forma de nos sentirmos bem em nossa busca religiosa, mas a forma como respondemos a Deus através da revelação de Jesus Cristo. O cristão pós-moderno é hoje desafiado a experimentar uma espiritualidade que o coloque na fronteira entre a comunhão vertical da oração, meditação, contemplação e intimidade com Deus, e o compromisso horizontal com a missão evangelizadora, com os pobres, com a justiça e o serviço; entre a inclusão, buscando receber, acolher e amar os diferentes, mas também rejeitar, confrontar e lutar contra o pecado e todas as suas formas de escravidão e aprisionamento; entre o diálogo inter-religioso na procura por mecanismos sociais mais justos, mas também na afirmação e compromisso com as verdades absolutas da revelação bíblica.

Que o Espírito Santo nos dê discernimento e coragem para uma fé e um espírito comprometidos com o Deus da Aliança, preservando a identidade cristã, mesmo que isso nos custe alguns processos.

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/pos_modernidade_singularidade_cristo.htm
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February 01, 2013

Sobre a liberdade

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Alguns dizem que a única liberdade que temos é a de escolher a quem pertencer.

Outros, que algo só é seu quando a liberdade foi oferecida e aquilo retornou ou nem precisou sair.

Mas o paradoxo da liberdade é que quanto mais livre a gente se sente, mais comprometido a gente fica.

PS- Quer aprofundar a reflexão? Vai lá: http://www.palasathena.org.br/cont_pedagogico_detalhe.php?pedagogico_id=34
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