September 29, 2014

Cuidado com o que fala

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 - Renato Essenfelder

Sempre fui parabólica de escutas involuntárias. Seja no balcão da padaria, onde me flagrava especulando sobre a vida dos casais, seja como confidente da gente ao meu redor. Tímido e sem saída, não tive alternativa senão a de transformar a gentileza em ato criador; a curiosidade em ofício; os ouvidos em catedral.

Caos em cosmo.

Há algo de sagrado no ato de ouvir. Ou melhor: no gesto de escutar.

Toda escuta é, potencialmente, uma concepção, um parto, um nascimento.

Um famoso autor já disse que escrever é um jogo de esvaziar cálices. A vida os preenche com suas agruras. Cálices de amarguras. E também os preenche com suas alegrias, alegrias tão diminutas que individualmente passariam despercebidas (mas que, em cálice, se somam): folhas caindo, a chegada da primavera, brisas em dias quentes, sol em dias frios, cães e gatos, sorrisos involuntários da plateia, olhares que se cruzam e magnetizam, suspiros, uma xícara de café.

Então, quando prestes a transbordar, o escritor derrama sobre o papel a sua colheita. O melhor vinho vem das mais insuspeitas safras, um balanço delicado. Serve-o e prossegue. Como num ciclo vital, reinicia a sua jornada – gota a gota. Reencher o cálice. Mas em busca do quê?

O sentido da vida é atribuir sentido à vida. Ele não vem pronto, no desenho dos astros. Por isso a resposta é diferente para cada pessoa, a cada momento. O sentido pode ser crescer, evoluir, amar, expressar, enriquecer, aprender, desaprender. Multiplicar ou dividir.

Pela escuta a vida se torna prenhe de significados.

As palavras, grávidas de sentido, dão à luz, em nós, a nós – sentido que nos define. Somos seres de palavra.

Seres de palavra, nos constituímos num emaranhado de narrativas: aquelas que tecemos e aquelas em que somos tecidos. Mais precisamente, nos constituímos nos nós desses fios, nos encontros – ou nas colisões – das narrativas.

Por isso desde cedo aprendi a ter cuidado com as palavras. As palavras têm poder, erguem e destroem, conduzem e amaldiçoam. Moldam.

Nenhuma palavra jamais é esquecida.

Por isso quando me sento e ela fala, eu escuto. Escuto seus silêncios e suas palavras, cada sílaba e cada verso de sua toada. Como sibila e como cala. Eu dou vida a ela, e ela me dá a vida, quando se cruzam nossas narrativas.

Ouvir é muito perigoso.

Às vezes, portanto, melhor permanecer em silêncio. Nas polêmicas ligeiras, precisamos ter opinião sobre tudo. Mas a cada opinião ligeira afunda a ligeireza nossa.

Melhor pensar. Calar.

É preciso ter muito cuidado com o que se fala.

E ainda mais cuidado com o que se escuta.

Fonte: http://blogs.estadao.com.br/renato-essenfelder/2014/09/29/cuidado-com-o-que-fala/

September 28, 2014

Reconciliação

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“Tudo isso é feito por Deus, o qual, por meio de Cristo, nos transforma de inimigos em amigos dele. E Deus nos deu a tarefa de fazer com que os outros também sejam amigos dele” 

2 Coríntios 5:18

- Luis Antonio Luize

Um coração machucado e ferido gera competição e orgulho. A ferida passa a ficar explícita através de uma postura arrogante e competitiva que busca contrabalançar a insegurança interna. Estas feridas podem ser poderosa fonte de inspiração e trabalho, apesar de serem uma motivação errada.

Na Palavra de Deus nós vemos o caso de Jefté (Juízes 12), que era um guerreiro valente e corajoso, mas seu passado era muito ruim. Ele era filho de uma prostituta e foi deserdado pelo pai a pedido dos seus meio-irmãos.

Jefté tinha uma ferida muito grande dentro de si, a ponto de fazer muitas exigências quando foi chamado para guerrear em nome de Israel. A sua ferida produziu uma força extraordinária, pois dizia a si mesmo que venceria a todo custo para provar a todos de que era digno e capaz.

Outras pessoas, devido às feridas, sentem-se extremamente inferiores aos demais, sentindo-se incapazes de vencer, devido ao “peso” de suas dores.

Superioridade e inferioridade podem ser dois extremos da mesma situação, a chamada compensação da ferida.

Nós sempre procuramos compensar nossas dores em vez de tratarmos as nossas dores. Aí está a razão de tantos males que padecemos e o motivo pelo qual nossa casa e família muitas vezes sofrem tanto. É pelo simples fato de que não perdoamos e não vamos a Deus pedir perdão para termos nossa paz restabelecida.

O orgulho é a casca que cobre esta ferida não curada. Para seguir a vida, precisamos competir com os demais para que nossa balança emocional se equilibre.

Alguns gostam de sentirem-se prediletos, superiores, donos da verdade e do mover de Deus, o melhor nisto e naquilo. A competição levará à divisão como um efeito colateral do seu uso indiscriminado.

Assim é que aparecem os filhos pródigos que sacrificam toda sua herança numa síndrome de maioridade e maturidade que levam a uma vida independente.

Nosso orgulho nos leva a sacrificar a submissão a nossos pais e líderes espirituais e nos tornamos órfãos, sem identidade e sem destino. Outros crescem um pouco e se acham melhores que seus líderes e através de um processo doloroso de críticas e discordâncias vão embora e tentam reiniciar suas vidas. Quem assim faz repete o que Lúcifer fez lá nos céus.

Quando os pais estão na situação que descrevemos, há uma necessidade do marido e/ou da esposa de serem melhores do que o outro, é a competição gerada pelas feridas que carregam em seus corações.

Os filhos ficam assistindo esta situação e aprendendo com elas, num processo de propagação da ferida para a próxima geração.

Estes cônjuges muitas vezes não possuem bom relacionamento com seus familiares e acham que estão gerando uma família unida, falando de unidade mas agindo com competição e orgulho. Quando seus filhos crescem, tenderão a mostrar que são melhores que seus pais, pois competirão com estes.

Certo filho, nesta situação, passou a agir com rebeldia e despertar a fúria em seus pais, por destratá-los e agir com desacato e desrespeito. Na verdade sua atitude refletia seu desespero em se sentir amado e inserido no contexto familiar.

Depois de algum tempo, seu pai, desejando consertar a situação foi conversar com ele que estava de saída no momento em que era esperado que ficasse em família. A conversa foi ficando quente e sentimentos começaram a ser despertados de ambos os lados. O pai pensou que não restava outra opção senão dar um tapa no rosto do seu filho, tamanho era o desacato e o desrespeito.

Mas sua esposa estava observando a situação e orando por eles. Finalmente o pai conseguiu ouvir a voz de Deus que falava com ele para que não agisse com violência mas com humildade e perdão.

Através da intercessão, o pai nem chegou a levantar sua mão contra o filho, mas pediu perdão a ele por ter despertado nele sentimentos de rejeição e falta de amor.

A conversa tomou outro rumo e terminaram abraçados, orando um pelo outro em prantos.

O amor e a humildade quebram todo o orgulho e competição, gerando reconciliação, unidade e comunhão.

“Pai celestial, cura minhas feridas e dores. Desejo ser reconciliado contigo por intermédio de Cristo Jesus. Que eu também seja um reconciliador de gerações. Te peço que venha trazer paz ao meu lar e à minha família para que a comunhão e o amor estejam presentes em nossa vida. Amém!"

Fonte: http://www.ichtus.com.br/dev/2014/10/01/a-fe-comeca-em-casa-reconciliacao/

September 26, 2014

Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos

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Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. 

Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.

(Otto Lara Resende, “Vista Cansada”, 1992).

Fonte:  http://blogs.estadao.com.br/ricardo-lombardi/otto-lara-resende-nossos-olhos-se-gastam-no-dia-a-dia-opacos-e-por-ai-que-se-instala-no-coracao-o-monstro-da-indiferenca/

September 25, 2014

Estamos todos cegos?

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João 9 - A cura de um cego de nascença


1 Jesus ia caminhando quando viu um homem que tinha nascido cego.
2 Os seus discípulos perguntaram: - Mestre, por que este homem nasceu cego? Foi por causa dos pecados dele ou por causa dos pecados dos pais dele?
3 Jesus respondeu: - Ele é cego, sim, mas não por causa dos pecados dele nem por causa dos pecados dos pais dele. É cego para que o poder de Deus se mostre nele.
4 Precisamos trabalhar enquanto é dia, para fazer as obras daquele que me enviou. Pois está chegando a noite, quando ninguém pode trabalhar.
5 Enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo.
6 Depois de dizer isso, Jesus cuspiu no chão, fez um pouco de lama com a saliva, passou a lama nos olhos do cego
7 e disse: - Vá lavar o rosto no tanque de Siloé. (Este nome quer dizer "Aquele que Foi Enviado".) O cego foi, lavou o rosto e voltou vendo.
8 Os seus vizinhos e as pessoas que costumavam vê-lo pedindo esmola perguntavam: - Não é este o homem que ficava sentado pedindo esmola?
9 - É! - diziam alguns. - Não, não é. Mas é parecido com ele! - afirmavam outros. Porém ele dizia: - Sou eu mesmo.
10 - Como é que agora você pode ver? - perguntaram.
11 Ele respondeu: - O homem chamado Jesus fez um pouco de lama, passou a lama nos meus olhos e disse: "Vá ao tanque de Siloé e lave o rosto." Então eu fui, lavei o rosto e fiquei vendo.
12 - Onde está esse homem? - perguntaram. - Não sei! - respondeu ele.
13 Então levaram aos fariseus o homem que havia sido cego.
14 O dia em que Jesus havia feito lama e curado o homem da cegueira era um sábado.
15 Aí os fariseus também perguntaram como ele tinha sido curado. - Ele pôs lama nos meus olhos, eu lavei o rosto e agora estou vendo - respondeu o homem.
16 Alguns fariseus disseram: - O homem que fez isso não é de Deus porque não respeita a lei do sábado. E outros perguntaram: - Como pode um pecador fazer milagres tão grandes? E por causa disso houve divisão entre eles.
17 Então os fariseus tornaram a perguntar ao homem: - Você diz que ele curou você da cegueira. E o que é que você diz dele? - Ele é um profeta! - respondeu o homem.
18 Os líderes judeus não acreditavam que ele tinha sido cego e que agora podia ver. Por isso chamaram os pais dele
19 e perguntaram: - Esse homem é filho de vocês? Vocês dizem que ele nasceu cego. E como é que agora ele está vendo?
20 Os pais responderam: - Sabemos que ele é nosso filho e que nasceu cego.
21 Mas não sabemos como é que ele agora pode ver e não sabemos também quem foi que o curou. Ele é maior de idade; perguntem, e ele mesmo poderá explicar.
22 Os pais disseram isso porque estavam com medo, pois os líderes judeus tinham combinado expulsar da sinagoga quem afirmasse que Jesus era o Messias.
23 Foi por isso que os pais disseram: "Ele é maior de idade; perguntem a ele."
24 Então os líderes judeus chamaram pela segunda vez o homem que tinha sido cego e disseram: - Jure por Deus que você vai dizer a verdade. Nós sabemos que esse homem é pecador.
25 Ele respondeu: - Se ele é pecador, eu não sei. De uma coisa eu sei: eu era cego e agora vejo!
26 - O que foi que ele fez a você? Como curou você da cegueira? - tornaram a perguntar.
27 O homem respondeu: - Eu já disse, e vocês não acreditaram. Por que querem ouvir isso outra vez? Por acaso vocês também querem ser seguidores dele?
28 Então eles o xingaram e disseram: - Você é que é seguidor dele! Nós somos seguidores de Moisés.
29 Sabemos que Deus falou com Moisés; mas este homem, nós nem mesmo sabemos de onde ele é.
30 Ele respondeu: - Que coisa esquisita! Vocês não sabem de onde ele é, mas ele me curou.
31 Sabemos que Deus não atende pecadores, mas ele atende os que o respeitam e fazem a sua vontade.
32 Desde que o mundo existe, nunca se ouviu dizer que alguém tivesse curado um cego de nascença.
33 Se esse homem não fosse enviado por Deus, não teria podido fazer nada.
34 Eles disseram: - Você nasceu cheio de pecado e é você que quer nos ensinar? E o expulsaram da sinagoga.
35 Jesus ficou sabendo que tinham expulsado o homem da sinagoga. Foi procurá-lo e, quando o encontrou, perguntou: - Você crê no Filho do Homem?
36 Ele respondeu: - Senhor, quem é o Filho do Homem para que eu creia nele?
37 Jesus disse: - Você já o viu! É ele que está falando com você!
38 - Eu creio, Senhor! - disse o homem. E se ajoelhou diante dele.
39 Então Jesus afirmou: - Eu vim a este mundo para julgar as pessoas, a fim de que os cegos vejam e que fiquem cegos os que vêem.
40 Alguns fariseus que estavam com ele ouviram isso e perguntaram: - Será que isso quer dizer que nós também somos cegos?
41 - Se vocês fossem cegos, não teriam culpa! - respondeu Jesus. - Mas, como dizem que podem ver, então continuam tendo culpa.



Novo Testamento Comentado

v. 3 – Jesus não negou que o homem era pecador mas nem por isto que merecia sofrer. Algumas lições parecem ser melhor aprendidas por meio do sofrimento do que pelo triunfo (um copo de água no palácio não tem a mesma importância do que um copo de água no deserto). Teísmo (Deus se importa) x Deísmo (Deus criou mas largou o mundo): Jesus quer que saibamos que tudo em nossa vida tem um propósito (Rm 8: 28) e que mesmo numa condição horrível (o cego não era um boneco) pode ser participante da glória de Deus.
v. 4 – cegueira (a noite impede de trabalhar, vc corre o risco de tropeçar e é nesta hora que aparecem os predadores). Durante o dia vc pode servir.
v. 5 – Jesus aparece para fornecer luz espiritual. Sem luz (sol) não pode haver vida
.v. 6 – saliva (transferência de energia de uma pessoa) cf Tácito e Suetônio (estudiosos romanos). Em Mc 8: 22-26 vemos outro caso de cura com saliva. No caso do lodo (saliva + poeira) foram elementos para exercer a fé do cego.
v. 7 – paralelo com Jesus (= Enviado). Cego de nascença voltou enxergando, porém não havia ainda conhecido o Messias.
v. 8 – olhar p/ o cego: Antes do milagre: “faça algo por mim”, vc tem alguma esmola?
Depois do milagre: é a evidência viva de que agora ele pode ver.
v. 9 – “um humilde que afirma em sua pp experiência, merece ser ouvido; mas o mais esperto dos homens que nega em sua ignorância não é digno de um minuto sequer de atenção”.
v. 10 – pergunta vital que mostra que os “cegos espirituais” jamais perceberam que Jesus era o Messias, que Deus podia se aproximar deles.
v. 11 – Jesus foi chamado de “homem” – sua missão não foi compreendida ainda; na maioria dos casos, a compreensão da realidade espiritual vem aos poucos, não é imediata. O mais bonitinho é saber que Deus tem paciência para nos ensinar a verdade.
v. 14 – causou diferença de opinião entre os fariseus.
v. 15 – cegueira e dureza de coração (quando o legalismo toma o lugar do amor).
v. 16 – nem sempre as provas fazem vc se render ao amor de Deus (nem as 10 pragas do Egito, nem as fontes de água do deserto, nem o maná muito menos as codornizes fizeram Israel se “converter”).
v. 17 – o cego teve mais visão: enxerga que Jesus é profeta em contraponto aos fariseus (teve coragem para reconhecer ao invés de se calar).
v. 18 – ceticismo: vontade de não crer (cuidado para não ser empecilho no seu caminhar)!
v. 19 – os fariseu quiseram debilitar o testemunho do filho deles abafando a tempestade que girava em torno do milagre.
vv. 20 e 21 – os pais foram astutos, porém não foram honestos. Reconheceram a identidade, mas não se envolveram. Faltou força para demonstrar gratidão além de não ficarem ao lado do filho.
v. 22 – significa muito mais do que se abster das reuniões pq colocava o indivíduo em péssima situação dentro de sua comunidade porque o centro social, educacional e religioso era justamente na sinagoga.
v. 23 – egoísmo que é a base da maioria das mentiras e desonestidades.
v. 24 – as evidências eram fortes demais, queriam forçar o cego a se contradizer.
v. 25 – mostra a distinção absoluta entre as trevas e a luz. Quem vê, não precisa de mais provas. Toda discussão e debate não convencem como a pp experiência (Jó 42: 5). E afinal, só o cego sabe pelo que ele mesmo passou...
v. 26 – parece interrogatório!
v. 27 – deve ter sido um tapa na cara para aqueles como Nicodemos que não assumiam publicamente sua fé como o cego.
v. 28 – tu x nós: antítese (eles preferiam ser discípulos de um servo – Moisés – do que do pp Deus encarnado)!
v. 30 – fariseus covardes, não abertos à verdade, acomodados: amar de verdade significa sinceridade, não ter preconceitos, estar aberto a mudanças, correr riscos (trocar a segurança pelo sofrimento). É difícil, mas isto que é amor!
v. 31 – a falsa identidade cai por terra, pois Deus não usa pecadores para fazer prodígios. Talvez o cego tenha ouvido isto a vida inteira. Interessante notar que é a 1ª. vez que há cura em cego de nascença.
v. 32 – coloca Jesus em outro patamar, agora ele é mais que profeta (a literatura e a tradição judaica dão crédito a 66 milagres realizados por Moisés).
v. 33 – os olhos espirituais do cego também estavam sendo abertos (o Espírito capacitou-o para responder às autoridades).
v. 34 – os fariseus não admitiram que estavam errados, colocaram a verdade numa esfera hermética, continuavam julgando-o (presumiam que o pecado devia ser tão monstruoso pelo homem ser cego de nascença) ao invés de tirarem a trave do pp olho (que de tão grande, dava para fazer gol) rs!
v. 35 – enquanto que os outros, por receio, não se aproximaram (para o cego foi um golpe sério atrás de outro: primeiro nasceu cego e agora está sozinho, não vai poder mais mendigar, foi cortado da sociedade, talvez estivesse reduzido a um estado de desespero), Jesus vai ao encontro dele porque Ele era verdadeiramente humano, se importava com as pessoas.
v. 36 – apesar de vir ao mundo salvar toda Humanidade (Jo 3: 16), Jesus se apresenta de forma particular, individual. Ele dá valor extraordinário à alma. Deus pode tornar cada um de nós participantes de sua gloriosa obra.
vv. 37 e 38 – Jesus convida a um relacionamento e exorta sempre em amor (nunca com julgamento ou acusação).
v. 39 – afirmação positiva e negativa – responsabilidades: nenhum de nós é melhor do que os cegos de nascença. Reconhecer a nossa cegueira é o 1º. passo para a cura (o pior cego é aquele que não quer enxergar), a qual a graça de Jesus pode produzir uma completa recuperação da vida. Tornar-se “cego” é o obscurecimento, o endurecimento provocado pela incredulidade e a falta de humildade.
v. 40 – os fariseus ainda estavam por perto (Mt 15: 14), hipócritas, ao invés de demonstrarem alegria e amor, tornaram-se pedra de tropeço.
v. 41 – quem conhece sua necessidade espiritual pode ser curado (1 Jo 1: 9); quem nega seu pecado, permanece nele (Sl 32: 3 – 5). A cegueira espiritual inconsciente só admite a necessidade de cura com extrema dificuldade (Ap 3: 17-18). Não puderam indagar: “- quem és tu?“ para que pudessem ver. Confessar nossa cegueira leva a uma iluminação espiritual (existem pessoas tão mergulhadas no reino das trevas que não reconhecem sua pp cegueira). Os fariseus conheciam as leis e aferrando-se à intelectualidade conquistada, fecharam-se à fonte da verdadeira luz, tornando-se cegos.

September 24, 2014

Coloque sua casa em ordem

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“ … o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.”

2 Coríntios 4:4

- Luiz Antonio Luize

Há um deus agindo no mundo neste momento, o qual o apóstolo Paulo chama de deus deste século, cujo objetivo é falsificar o caráter de Deus e os valores do Seu Reino, privando as pessoas da verdade.

Este usa as feridas e debilidades emocionais para gerar a incredulidade e a cegueira espiritual, com o objetivo de terminarmos com uma fé engessada numa rotina religiosa que tenha um aspecto externo piedoso, mas onde a intimidade com o Espírito Santo e com seu poder está ausente.

Foi exatamente isto que deixou o apóstolo sem entender a obra de Cristo e perseguir os Cristãos, até ter um encontro pessoal com Ele. Paulo cria que fazia o que era certo. Havia sido ensinado pelo maior grupo religioso da época, os fariseus. Zeloso que era da lei foi levado a uma cegueira sem igual, pois a mesma lei que pregava o amor foi usada para matar.

Esta é qualidade das ações daquele que tem sua visão obscurecida pelo deus deste século. Valores e verdades absolutas expressamente descritos na Palavra passam a ser relativos, ou seja, valem apenas para alguns.

Este entendimento corrompido leva a atitudes tão loucas do qual só podemos sair ao sermos confrontados com o que fazemos. No caso de Paulo foi confrontado diretamente por Jesus, que se apresentou a ele no caminho de Damasco.

Certo dia, Telma e eu ministramos a um grupo de casais e um deles tinha um comportamento muito amigável. Durante todo o curso de casais eles se mostravam firmes, coesos e tudo mais.

Somente lá pelo final do curso quando comentamos sobre o fato de que um pecado não perdoado o qual tanto odiamos nos outros, pode acabar por se manifestar em nossa vida é que tudo mudou. Demos um exemplo sobre isto que foi certeiro à sua ferida emocional.

Ele havia sofrido com o rompimento de seu pai com sua mãe devido à infidelidade e fez com que sua família fosse privada de muitas coisas, desde a simples presença do pai até o sustento da casa.

Devido a isto não perdoava seu pai e jurou a si mesmo que não seria como ele. Quando o encontramos, ele estava fazendo exatamente como seu pai e estava caminhando para o rompimento com sua esposa e destruição da sua família e filhos.

Ele estava sendo infiel à esposa e não enxergava o mal que fazia, até que foi confrontado. Como ele não havia perdoado o pai, aquela mesma atitude o alcançou. Somente o confronto com o fato permitiu que ele tivesse seu entendimento aberto permitindo alcançar a vitória.

Logo após aquela aula ele me procurou à parte e contou o que estava ocorrendo. Sua esposa não sabia de nada e pensava que tudo estava bem, apesar de que seu radar de mulher indicava que algo não estava certo, só não sabia o que.

Mas quando ele reconheceu o erro, perdoou seu pai e confessou seu pecado à sua esposa, ele foi redimido e teve a família restabelecida.

Nestes momentos sempre vem o sentimento de que haverá a perda de tudo se houver a confissão, mas Deus não constrói nada sobre a mentira. Quem gosta de coisas ocultas e de penumbra é o maligno, Deus é íntegro e fonte de toda luz.

O apóstolo Paulo teve forte oposição dos próprios cristãos tão logo se converteu, mas quando entenderam que era autêntico em suas atitudes, ganhou o respeito deles tornando-se um dos principais apóstolos.

Foi fácil para algum deles? Claro que não! Exigiu coragem e disposição. Assim é com todo aquele que deseja colocar a sua vida em ordem, pode exigir esforço e determinação, mas alcançará algo muito superior ao que já possui.

“Pai celestial, desejo levar meu entendimento cativo a ti para que possa compreender as tuas verdades e restabelecer a harmonia em meu lar. Se há algo que tenho feito que te desagrada e é contrário à tua vontade (cite as atitudes que você já reconhece), que eu possa compreender quando for confrontado por Cristo. Dá-me toda coragem e disposição para mudar. Em nome de Jesus, amém!”

Fonte: http://www.ichtus.com.br/dev/2014/09/24/a-fe-comeca-em-casa-coloque-sua-casa-em-ordem/

PS- Para ler a série de artigos, vai lá: 
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September 19, 2014

Transformando as pessoas à sua volta

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“A palavra proferida a seu tempo é como maçãs de ouro em cestos de prata.” 

Pv 25:11
- Vinicios Torres 

A liderança traz consigo diversas possibilidades de transformação. Uma pessoa se torna líder justamente com o objetivo de causar a transformação de uma situação ou lugar. A maneira como conseguirá provocar essa transformação dependerá das capacidades das pessoas que o líder conseguir arregimentar, trazer para próximo de si e inspirar para fazer parte do seu projeto. 

Isso dá ao líder uma das oportunidades mais importantes que ele tem diante de si: a possibilidade de inspirar e transformar pessoas. O líder, por causa da posição e da autoridade que os seguidores reconhecem nele, tem o poder de semear nos corações das pessoas palavras que serão lembradas para toda a vida e que, muitas vezes, se tornarão o motor da vida de algumas delas. 

Assim como um semeador não sabe quais sementes que ele semeou darão frutos, o líder também não tem como saber quais palavras farão esse efeito transformador em quem. Assim, da mesma maneira que o semeador semeia a melhor semente que tem, o líder deve sempre ter as melhores palavras para dizer. Com melhores palavras não queremos dizer que o líder só dirá coisas positivas e açucaradas, mas que dirá o que precisa ser dito, no tempo certo e da maneira certa. 

Um bom exemplo de liderança transformadora pelas palavras pode ser lida no caso contado por Zig Ziglar a seguir.

Procure Sempre as Qualidades

Uma professora, com sua sensibilidade, utilizou a abordagem do “procurar sempre as qualidades” quando uma de suas alunas fez a seguinte afirmação: “Não sou melhor em nada.” 

A professora não sabia o que dizer. Ela sabia que a menina era uma aluna mediana, procedente de uma família grande e que se esforçava bastante para entender cada matéria. Por isso a professora lhe perguntou o que ela queria dizer com aquelas palavras.

Certo dia, a menina assinalou uma por uma das matérias e quem era o melhor aluno em cada uma delas.

Então a professora começou a pensar nas qualidades da menina lembrando o quanto ela ajudava calmamente as crianças que se esforçavam em seus trabalhos, o seu sorriso amável, o tempo que ela dedicava aos alunos impopulares ou de raciocínio “lento” e que ela nunca ridicularizava as crianças retardadas em sala de aula. 

Escolhendo cuidadosamente suas palavras, a professora disse: “Você não é má aluna. Você é muito boa em leitura e música, e se sai bastante bem em outras matérias e nos esportes. Mas existe algo em você que é absolutamente a melhor.” 

A criança levantou os olhos demonstrando descrença e perguntou do que se tratava. 

A professora respondeu: “Você é gentil. Isso pode parecer loucura para você, mas é muito importante. Essa sala de aula é um lugar muito melhor porque você está aqui.” 

Os benefícios da menina eram reais e imediatos, mas a sensibilidade da professora também a tornava uma vencedora. Ela agradeceu isso à sua aluna. Afinal, a menina também era a melhor na arte de fazer com que essa professora atentasse para o que ela fazia de melhor - ou seja, incentivar os outros.
* Zig Ziglar, Sucesso, pág. 280.

“Senhor, coloca em minha boca as palavras certas para cada pessoa e cada ocasião. Que as palavras da minha boca tragam vida e direção.”

September 11, 2014

O que é intimidade?

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- pr. Ricardo Barbosa

Nas últimas décadas, a expressão espiritualidade ganhou espaço e relevância nos círculos evangélicos. Muita coisa tem sido falada e escrita sobre o tema. Como sempre, coisas boas e ruins. Algumas expressões e temas importantes para a compreensão da espiritualidade tomaram um rumo que pouco ou nada tem a ver com a herança espiritual cristã. Um deles envolve o equívoco de confundir intimidade com intimismo.

A palavra intimidade aparece uma única vez na Bíblia. O que mais aparece é a palavra íntimo, quase sempre se referindo ao interior, não à intimidade. Embora seja uma palavra com sentido um tanto nebuloso, ela transformou-se na palavra-chave para o movimento espiritual: a busca pela intimidade com Deus.

É claro que a intimidade como expressão de um relacionamento pessoal com Deus, no qual todo nosso íntimo está envolvido, é legítima. Por outro lado, o que presenciamos é uma forma de intimidade que, em vez de explorar o íntimo, vem desenvolvendo um “intimismo” narcisista que nada tem a ver com intimidade.

Nesse sentido, intimidade é o que acontece na esfera privada. Não me refiro a alguma forma de solitude ou introspecção, como entrar para o quarto e orar, mas à busca de uma sensação ou linguagem que não caracteriza, necessariamente, um relacionamento. Ser íntimo é “beijar o rosto de Deus” ou “passear de mãos dadas com ele”. São expressões vagas, abstratas, com sentido duvidoso.

A única vez que a palavra “intimidade” aparece na Bíblia é no Salmo 25.14, que diz: “A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança”. Três palavras-chave: intimidade, temor e aliança. Precisamos das duas (temor e aliança) para entender o sentido de intimidade. “Temor” é uma palavra que evoca assombro, espanto, medo, reverência. Intimidade sem temor rapidamente se transforma nesse “gostar” infantil. Temor que não leva à intimidade se transforma em superstição ou num medo que traumatiza e paralisa.

Ter temor implica reconhecer a grandeza de Deus. Reverência é a postura adequada daqueles que temem. Reverenciar significa respeitar, calar, prostrar, ouvir. A intimidade de Deus é para aqueles que o reverenciam. Para aqueles que se calam diante dele, que primeiro ouvem para depois falar, que prestam atenção em suas palavras e obedecem. É dessa postura que nasce a intimidade com Deus.

No que consiste tal intimidade? Em Deus nos dar (ou nos fazer conhecer) a sua aliança. Aliança é uma palavra que expressa a forma de relacionamento em que Deus propõe ser o nosso Deus e nós, o seu povo. Ser íntimo de Deus é participar dessa aliança. Nela Deus se revela como o Senhor, aquele que nos salva e liberta, e que nos dá os seus mandamentos como expressão do seu amor. Nós respondemos obedecendo a ele e andando em seus caminhos, como expressão do nosso amor para com ele.

Ter intimidade com Deus é participar da aliança de Deus com o seu povo. Não há aqui lugar para um intimismo infantil e narcisista. Ser íntimo de Deus é reconhecer que sou único diante dele, mas também reconhecer que sou parte do seu povo, sua igreja. É viver no seu amor revelado em sua Palavra e em seus mandamentos, é responder ao seu amor em obediência sacrificial. Jesus diz: “Quem me ama, guarda os meus mandamentos”.

Estou casado há 32 anos e considero que eu e minha esposa, ao longo destes anos, conquistamos uma razoável intimidade. Contudo, não consigo imaginar como seria nossa vida se vivêssemos o tempo todo trancados num quarto, trocando declarações apaixonadas, num êxtase interminável. Certamente não suportaríamos isso por muito tempo. A intimidade que minha esposa e eu temos experimentado envolve nossas diferenças e conflitos, longas conversas seguidas de silêncio. Envolve nossos filhos e amigos, alegrias e tristezas, sofrimentos e esperanças. Envolve responsabilidades e rotinas, trabalho e contas para pagar. É uma intimidade que tem seus momentos reservados, é claro, mas a maior parte do tempo ela é experimentada e vivida nas rotinas que requerem doação e devoção.
 

September 10, 2014

Deus está no controle da História

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A ação do Espírito Santo na formação da Igreja e na vida de Paulo

“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.”   
                                                                                                                       Gl 5: 22 e 23 a

Atos 11: 19-30

Os que tinham sido dispersos por causa da perseguição desencadeada com a morte de Estêvão chegaram até à Fenícia, Chipre e Antioquia, anunciando a mensagem apenas aos judeus.
Alguns deles, todavia, cipriotas e cireneus, foram a Antioquia e começaram a falar também aos gregos, contando-lhes as boas novas a respeito do Senhor Jesus.
A mão do Senhor estava com eles, e muitos creram e se converteram ao Senhor.
Notícias desse fato chegaram aos ouvidos da igreja em Jerusalém, e eles enviaram Barnabé a Antioquia.
Este, ali chegando e vendo a graça de Deus, ficou alegre e os animou a permanecerem fiéis ao Senhor, de todo o coração.
Ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo  e de fé; e muitas pessoas foram acrescentadas ao Senhor.
Então Barnabé foi a Tarso procurar Saulo
e, quando o encontrou, levou-o para Antioquia. Assim, durante um ano inteiro Barnabé e Saulo se reuniram com a igreja e ensinaram a muitos. Em Antioquia, os discípulos foram pela primeira vez chamados cristãos.
Naqueles dias alguns profetas desceram de Jerusalém para Antioquia.
Um deles, Ágabo, levantou-se e pelo Espírito predisse que uma grande fome sobreviria a todo o mundo romano, o que aconteceu durante o reinado de Cláudio.
Os discípulos, cada um segundo as suas possibilidades, decidiram providenciar ajuda para os irmãos que viviam na Judéia.
E o fizeram, enviando suas ofertas aos presbíteros pelas mãos de Barnabé e Saulo.

ESTUDO

Personagens: crentes dispersos pela perseguição, judeus, gregos, Deus, igreja de Jerusalém, Barnabé, Saulo, Ágabo, discípulos de Antioquia, irmãos da Judéia.

Locais: Antioquia, Jerusalém, Tarso.

Período: reinado de Claudio (41-48 d.C.)

Contexto histórico:

v. 19: a dispersão dos crentes perseguidos resultou numa missão bem sucedida de levar as boas novas aos judeus e gentios.

* Antioquia era a 3ª. cidade do Império  Romano (após Roma e Alexandria) com 500 mil habitantes e se tornou um importante local de avanço da Igreja (dela partiram as 3 viagens missionários de Paulo – At 13: 14, At 15:40 e At 18: 23). Lucas frisa que foi aí a 1ª. vez que os discípulos de Jesus foram chamados de cristãos.

v. 20: Senhor: Cristo é apresentado aos gentios como Senhor (Kurios) e não como o Messias da esperança judaica.

v. 21: mão do Senhor: mostra aprovação e benção divina.

v. 22: O envio de Barnabé fazia parte de uma preocupação da igreja primitiva de enviar líderes para cuidar dos novos ministérios que iam tomando conhecimento (At 8: 14)

v. 24: Barnabé: homem bom (foi buscar Paulo v. 25), cheio do ES como Estevão At 6: 5 (alegrou-se, exortou e evangelizou eficazmente v. 23), cheio de fé (deu exemplo de firmeza v. 23), se uniu (foram acrescentadas – 3 mil At 2: 41 e 47).

v. 25: Tarso (At 9: 30)

v. 26: cristãos: pertencem a Cristo

v. 27: primeira menção do dom de profecia em Atos. Os profetas pregam, exortam, explicam ou predizem (At 13: 1, At 15: 32, At 19: 6, At 21: 9-10, Rm 12: 6, 1 Co 12: 10, 1 Co 13: 2 e 8, ! co 14: 3, 6 e 29-37).

v. 28: Ágabo:  depois prediz a prisão de Paulo. Em Atos os profetas prenunciam (At 21: 9-10) e anunciam (At 15: 32)

* dias de Claudio: reinou de 41-48 d.C. A fome veio entre 44-48 sendo 46 a data indicada.

v. 29: oferta (1 Co 16: 1). Socorro: a decisão voluntária de auxiliar os crentes pobres da Judeia revela o verdadeiro significado da unidade da igreja.

vv.29-30: Os gregos de Antioquia pertenciam às classes média e alta, e muitos deles se converteram. Influenciados com o testemunho de Barnabé que sempre vivera o espírito de partilha (At  4: 36-37), eles também decidem partilhar suas posses com a comunidade carente da Judéia. E entre TODAS as comunidades se estabelece um espírito de solidariedade e comunhão nos níveis proféticos e econômicos.

v. 30. Presbíteros: 1ª. referência deles em Atos.

E na história particular dos seus filhos...

A formação de um líder

Paulo, depois do encontro com Cristo em Damasco (At 9): 
·         perde a visão na estrada (v. 8)
·         fica três dias em jejum até a visita e a oração de Ananias (v. 9, 17-18)
·         começa a pregar e os judeus tentam matá-lo (vv. 20-24)
·         passa três anos no deserto da Arábia (Gl 1: 17-19)
·         vai a Jerusalém, mas todo  mundo tem medo e não acredita nele EXCETO Barnabé (v. 26-28), que leva Paulo até aos apóstolos (Gl  1: 18-19)
·         volta a Tarso e após catorze anos começa seu ministério na igreja de Antioquia por meio de Barnabé que vai buscá-lo (At 11: 25-30; Gl 2: 1)

MAS QUEM É BARNABÉ?

·         Levita de Chipre (At 4: 36)
·         Reconhecido pelos outros como encorajador (no grego, filho da consolação)
·         Generoso (At 4: 37)
·         Pró-ativo e corajoso, leva Paulo aos apóstolos, fala da aparição de Jesus  e de este como respondeu adequadamente por meio de atitudes (At 9: 26-27)
·         Líder reconhecido sendo enviado à igreja de Antioquia (At 11: 22)
·         Com discernimento espiritual, viu a graça de Deus, se alegrou e animou a comunidade a permanecer fiel ao Senhor de todo coração (At 11: 23)
·         Homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé (At 11: 24)
·         Agregador de pessoas e ‘caçador de talentos’, foi atrás de Saulo em Tarso (At 11: 26-27)
·         Honesto, foi escolhido para levar as ofertas aos irmãos da Judeia (At 11: 27-30)
·         Influenciável, deixou-se ser levado por opinião e foi repreendido juntamente com Pedro por Paulo, (Gl 2: 11-14)
·         Escolhido pelo Espírito para ser missionário e obediente ao chamado (At 13: 2)
·         Diligente, acompanhou Saulo na 1ª. viagem missionária (At 13: 1-At 14: 28)
·         Culto, foi chamado para conversar com o procônsul (At 13: 7)
·         Corajoso para anunciar a Palavra (At 13: 46)
·         Perseguido (At 13: 50-52)
·         Perseverante e firme (At 14: 1-3)
·         Reconhecido pelo povo como autoridade espiritual até pelos pagãos (At 14: 11-13)
·         Humilde quando a liderança passa a Paulo (At 14: 23)
·         Convicto mas também conciliador (At 15: 2, 12)
·         Cheio de graça, afastou-se de Paulo na 2ª. viagem missionária (At 15: 36-41)
·         Fiel ao chamado: escolhe encorajar Marcos (At 15: 37-39)
·         Companheiro de Marcos (Cl 4: 10)

Contribuições específicas:

- apoiou e incentivou Paulo no início do seu ministério
- fez diferença nas comunidades pelas quais passou (igreja de Jerusalém, Antioquia, viagens missionárias)
- ficou ao lado de João Marcos que posteriormente veio a escrever o 1º. evangelho sendo depois reconhecido por Paulo (Cl 4: 10; 2 Tm 4:11)

O que podemos aprender:

Deus está no controle da História e o que Ele mesmo começou na sua, na minha, na nossa vida, irá terminar até o retorno de Jesus Cristo (Fp 1: 6)!

Agora queria que você pensasse na sua história:

Não sei quais mudanças Deus está fazendo na sua vida, se você está passando por lutas, se está como Paulo, desacreditado ou em compasso de espera mas com o coração paciente, aguardando o chamado do Senhor Jesus para obedecer; ou se está como Barnabé, disposto a fazer diferença e abençoar outras vidas mesmo que a sua fique longe dos holofotes...

Uma oração:

Que você seja cheio Espírito Santo (Gl 5: 22, 23) para que a sua vida seja um jorrar de águas de vivas que transborde e alague a todos que cercam você, a partir do seu coração.

Uma promessa:

“Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”. (Jo 7: 38)

Fontes:
- Comentários Bíblia Vida Nova
- Comentários Bíblia de Estudo NVI
- Comentários Bíblia edição pastoral
- Chave Bíblica. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1959.
- REINKE, André Daniel. Atlas bíblico ilustrado. São Paulo: Hagnos, 2006.
- Paulo e a mentoria. David Kornfield: http://www.nimbusoft.com/Ferramentas/Artigos/PauloeMentoria/tabid/1302/Default.aspx
- Ver a grace de Deus. Alexandre Robles: http://www.alexandrerobles.com.br/ver-a-graca-de-deus

KT set/14

September 09, 2014

Paulo e a mentoria

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- pr. David Kornfield 

Quando me pediram para escrever sobre Paulo e o ministério pastoral em homenagem ao pr. Irland Azevedo, optei por focalizar o assunto mentoreamento. Andando com esse patriarca nestes últimos anos, percebo quão envolvido ele está com o tema. Ora às voltas com o pastoreio de pastores, com sua paixão por capacitar novos pastores ou por ajudar no crescimento de outros mais experientes, ora escrevendo ou ensinando sobre o assunto. Não raro podemos ver Irland encorajar um líder ou pastor a prosseguir em seu chamado. Por isso, espero poder homenageá-lo de forma especial ao focar o assunto.
  
Barnabé Como Mentor de Paulo

Para entender claramente como Paulo mentoreava, precisamos saber como ele próprio foi mentoreado. 

Em Atos 22.3, Paulo afirma: “Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade [Jerusalém]. Fui instruído rigorosamente por Gamaliel na lei de nossos antepassados, sendo tão zeloso por Deus quanto qualquer de vocês hoje” (grifo do autor).

Essa afirmação sugere que Paulo foi para Jerusalém tão-logo atingiu idade suficiente para ser instruído pelo rabi mais honrado e famoso do primeiro século, o qual possivelmente foi neto de Hillel.

Como o próprio Hillel, tradicionalmente alistado entre os “cabeças das escolas”, Gamaliel possuía uma visão equilibrada. Sua sabedoria singular e seu discernimento se destacaram ao proteger os apóstolos do Sinédrio, que desejava matá-los (At 5.33-40).

Nesse momento, Deus separou outro mentor para Paulo. Seu nome era José, mais conhecido no entanto pelo apelido de Barnabé. Para compreender a formação que Paulo obteve com Barnabé, precisamos conhecê-lo melhor.

No século II, Clemente de Alexandria escreveu sobre Barnabé mencionando que ele integrara o grupo dos 72. Vejamos a descrição do ministério desse grupo para chegar a um entendimento melhor sobre esse mentor:

Depois disso o Senhor designou outros setenta e dois e os enviou dois a dois, adiante dele, a todas as cidades e lugares para onde ele estava prestes a ir. E lhes disse: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Portanto, peçam ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para a sua colheita. Vão! Eu os estou enviando como cordeiros entre lobos. Não levem bolsa, nem saco de viagem, nem sandálias; e não saúdem ninguém pelo caminho. Quando entrarem numa casa, digam primeiro: Paz a esta casa. Se houver ali um homem de paz, a paz de vocês repousará sobre ele; se não, ela voltará para vocês. Fiquem naquela casa, e comam e bebam o que lhes derem, pois o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem mudando de casa em casa. Quando entrarem numa cidade e forem bem recebidos, comam o que for posto diante de vocês. Curem os doentes que ali houver e digam-lhes: O Reino de Deus está próximo de vocês. Mas quando entrarem numa cidade e não forem bem recebidos, saiam por suas ruas e digam: Até o pó da sua cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vocês. Fiquem certos disto: o Reino de Deus está próximo. Eu lhes digo: Naquele dia haverá mais tolerância para Sodoma do que para aquela cidade. [...]

Aquele que lhes dá ouvidos, está me dando ouvidos; aquele que os rejeita, está me rejeitando; mas aquele que me rejeita, está rejeitando aquele que me enviou (Lc 10.1-12, 16).

Muitas são as características que poderíamos destacar do mentor idôneo: 
  • Trabalho em equipe: mandados dois a dois (v. 1).
  • Visão: enxerga a colheita e a necessidade de levantar obreiros (v. 2).
  • Oração: coloca-se diante de Deus antes de iniciar o ministério (v. 2).
  • Coragem: vai em frente, sem receio, mesmo ciente de que será como ovelha entre lobos e que haverá batalha (v. 3).
  • Fé e estilo de vida simples: não se preocupa com dinheiro, bagagem e outros recursos, mas permanece na dependência de Deus (v. 4).
  • Pessoa de paz: estende e reconhece a paz (shalom), a harmonia (v. 5).
  • Pessoa que se relaciona: estabelece-se numa casa, numa família, finca raízes. Não apenas parece boa, mas é de fato boa e íntegra (v. 5-7).
  • Pessoa do Reino de Deus: é submissa ao Rei e por isso tem autoridade (v. 9, 11).
  • Discernimento: percebe quem compartilha o mesmo espírito (v. 6).
  • Humildade suficiente para receber: consegue depender de outros com graça (v. 7, 8).
  • Capaz de lidar com conflitos: fala a verdade quando necessário e enfrenta a rejeição sem levar para o lado pessoal (v. 10-12, 16).
Essas se constituem em algumas das qualidades que de fato caracterizaram Barnabé, como mentor idôneo que foi. O livro de Atos corrobora essa idéia, como podemos perceber claramente:

José, um levita de Chipre a quem os apóstolos deram o nome de Barnabé, que significa “encorajador”, vendeu um campo que possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos pés dos apóstolos (4.36, 37).

Barnabé é caracterizado não apenas como um estudioso da Bíblia, mas com experiência transcultural e muito amado entre os apóstolos. Um homem de coragem contagiante (encorajador), comprometido com o Reino, desprendido das coisas materiais, generoso, confiante nos apóstolos e, com maior simplicidade, a eles submisso. A fé, o compromisso e a integridade de Barnabé contrastaram frontalmente com Ananias e Safira, cujas ações também são narradas no livro de Atos.

As ações de Barnabé voltam a destacar-se logo após a conversão de Paulo :

Quando [Paulo] chegou a Jerusalém, tentou reunir-se aos discípulos, mas todos estavam com medo dele, não acreditando que fosse realmente um discípulo. Então Barnabé o levou aos apóstolos e lhes contou como, no caminho, Saulo vira o Senhor, que lhe falara, e como em Damasco ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus. Assim, Saulo ficou com eles, e andava com liberdade em Jerusalém, pregando corajosamente em nome do Senhor (At 9.26-28).

Como se pode ver do texto, Barnabé demonstra possuir discernimento espiritual. Vê o que ninguém mais foi capaz, nem mesmo os apóstolos. Tinha coragem. Superou o medo e constatou que Paulo realmente nascera de novo.

A coragem de Barnabé é mais uma vez evidenciada ao se tornar patrocinador ou advogado de Paulo, arriscando a vida em tornar-se conhecido de Paulo e arriscando sua amizade com os apóstolos ao levar Paulo até eles. Seu testemunho e a confiança que os apóstolos depositavam em Barnabé permitiram que Paulo fosse aceito pela igreja e andasse com liberdade em Jerusalém, ministrando dentro e fora da igreja.

Cerca de treze anos mais tarde, a igreja em Antioquia se expande grandemente. Os apóstolos, preocupados com as notícias de que gentios se convertiam, mandaram alguém de absoluta confiança e com experiência transcultural para cuidar da igreja. E esse era Barnabé.

Notícias deste fato (de gentios se converterem) chegaram aos ouvidos da igreja em Jerusalém, e eles enviaram Barnabé a Antioquia. Este, ali chegando e vendo a graça de Deus, ficou alegre e os animou a permanecerem fiéis ao Senhor, de todo o coração. Ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé; e muitas pessoas foram acrescentadas ao Senhor. Então Barnabé foi a Tarso procurar Saulo e, quando o encontrou, levou-o para Antioquia. Assim, durante um ano inteiro Barnabé e Saulo se reuniram com a igreja e ensinaram a muitos. Em Antioquia, os discípulos foram pela primeira vez chamados cristãos (At 11.22-26).

Esse texto de Atos nos fornece uma descrição objetiva e clara de Barnabé. Entre suas muitas qualidades, mais uma vez destaca-se o discernimento espiritual. Primeiro na habilidade de “ver” a graça de Deus (v. 23) e, mais tarde, em perceber que a igreja de Antioquia precisava de um líder como aquele que ainda permanecia esquecido e quase desconhecido na igreja primitiva: Saulo.

Nos treze anos que se passaram desde os fatos descritos em Atos 9 até os mencionados em Atos 11, não há nenhum relato de que Paulo tenha estabelecido um ministério significativo. Os historiadores da igreja não se referem a nenhuma igreja, em Tarso, fundada por Paulo.

Aparentemente o apóstolo permanecia inativo quando Barnabé o chamou para se juntar a ele na igreja de Antioquia. O teor dos versículos mencionados indica que não foi fácil encontrá-lo. Mais uma vez, alguém acreditou em Paulo, quando ninguém mais acreditava.

Depois de um ano, durante o qual Barnabé agiu como mentor de Paulo em Antioquia, uma reunião da liderança daquela igreja mudaria a história da Igreja de Jesus Cristo:

Na igreja de Antioquia havia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo. Enquanto adoravam o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Assim, depois de jejuar e orar, impuseram-lhes as mãos e os enviaram (At 13.1-3).

Nestes versículos, como nas passagens anteriores (11.26, 30; 12.25), Barnabé é alistado antes de Saulo, indicando a liderança e importância dele. Seria natural que ele fosse o primeiro entre os iguais na equipe de liderança da igreja de Antioquia. Se a ordem de menção nesse primeiro versículo indica deferência, talvez Saulo não passasse do calouro da equipe.

Essa ordem se mantém até o início da viagem (At 13.7), quando ocorre uma surpreendente mudança. Ao saírem de Pafos, Lucas relata que “Paulo e seus companheiros navegaram para Perge, na Panfília. João os deixou ali e voltou para Jerusalém” (13.13), o que demonstra claramente que Barnabé deixara de o líder da equipe.

Tudo indica que Barnabé, tendo percebido que Paulo estava pronto para assumir a liderança, passou-a para ele. Talvez João Marcos tenha abandonado a equipe por não se sentir pronto para apoiar Paulo, querendo permanecer numa equipe liderada por Barnabé, seu parente.

Daí em diante, o nome de Paulo passa a figurar sozinho ou antes de Barnabé (13.42, 43, 46, 50; 14.1, 3), com uma exceção. Em Listra, Paulo curou um homem aleijado desde o nascimento. Diante disso a multidão clamava que os deuses haviam descido até eles em forma humana. Então, chamaram Barnabé de Zeus e Paulo, de Hermes, “porque era ele quem trazia a palavra” (14.12). Paulo e Barnabé, ao ouvirem a multidão, “rasgaram as roupas e correram para o meio da multidão, gritando e protestando que não eram deuses” (14.14).

Pela designação feita de Paulo e Barnabé, parece que a multidão via Barnabé como a autoridade maior, a cobertura espiritual de Paulo, por isso Barnabé foi chamado de Zeus, que era considerado o rei dos deuses, e Paulo, Hermes, porque este era o mensageiro, o porta-voz de Zeus.

Nesse momento crítico, se a ordem de menção dos nomes de fato é significativa, como muitos crêem, Barnabé teria assumido a liderança temporariamente. No entanto, assim que a questão foi resolvida, o nome de Paulo volta a figurar antes do nome de Barnabé (14.20, 23).

Paulo e Barnabé voltam para Antioquia, onde Barnabé naturalmente seria recebido como o primeiro, o “pastor titular”, como saíra. No entanto, mais uma vez Atos 15.2 deixa claro que Paulo vem primeiro no contexto dessa igreja. Aparentemente, Barnabé conseguira transmitir aos crentes de Antioquia, e eles aceitaram, seu apoio à liderança de Paulo.

A igreja de Antioquia, então, os envia como representantes no concílio de Jerusalém. No início do concílio, Barnabé é mencionado antes de Paulo (15.12). Para a igreja de Jerusalém, e especialmente para os apóstolos, Barnabé naturalmente seria o primeiro, o amado, o homem de sua confiança.

Entretanto, no final do concílio, mais uma vez o nome de Paulo precede o de Barnabé (15.22, 25) e assim permanece na volta a Antioquia (15.35). A exemplo do ocorrera com a igreja de Antioquia, provavelmente Barnabé transmitira à igreja de Jerusalém o mesmo conceito, e fora aceito.

Agora como líder, Paulo naturalmente toma a iniciativa de promover uma segunda viagem missionária. Barnabé propõe levar João Marcos, mas Paulo discorda de forma inegociável. Esse desentendimento entre Paulo e Barnabé resulta na separação destes (15.36-41). A partir daí, o livro de Atos deixa de mencionar o nome de Barnabé.

Talvez Barnabé tenha visto algo em João Marcos que os demais não viram, nem mesmo o apóstolo Paulo. É como se assistíssemos ao mesmo filme de anos atrás, quando ninguém acreditava em Paulo, nem os apóstolos de Jerusalém. Barnabé arriscara tudo para elevar a pessoa de Paulo, desacreditada, mas em quem ele discernia um potencial que outros não podiam ver. E, aparentemente, fez o mesmo com João Marcos.

No entanto, com o passo do tempo, descobrimos nas epístolas de Paulo que Marcos se tornou companheiro dele: “Aristarco, meu companheiro de prisão, envia-lhes saudações, bem como Marcos, primo de Barnabé. Vocês receberam instruções a respeito de Marcos, e se ele for visitá-los, recebam-no” (Cl 4.10, grifo do autor).

Paulo não só recebera Marcos como envia cartas de recomendação de seu, agora, companheiro. Mais adiante, Paulo se refere a Marcos como um de seus “cooperadores” (Fm 1.24). Mas o toque de ouro está nas últimas palavras de Paulo, já ciente de que sua vida findara (observe os verbos no passado): “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2 Tm 4.7, grifo do autor). Sabendo que está com os dias contados e seu ministério acabado, ele escreve para Timóteo:

Procure vir logo ao meu encontro, pois Demas, amando este mundo, abandonou-me e foi para Tessalônica. Crescente foi para a Galácia, e Tito, para a Dalmácia. Só Lucas está comigo. Traga Marcos com você, porque ele me é útil para o ministério (2 Tm 4.9-11).

Quando seu tempo se esgotava, quando se sentiu abandonado e quando possivelmente se deixava abater pelo desânimo, Paulo queria ter duas pessoas a seu lado: Timóteo, seu amado filho, e Marcos, “porque ele me é útil para o ministério”. Quando Paulo já não divisava nenhum ministério para si, viu em Marcos alguém em quem depositar o que ainda tinha a dar, para que o ministério não morresse quando sua vida findasse.

O mais interessante nessa história não está em Paulo ter aceitado Marcos de volta, como companheiro de sua equipe, mas o fato de este ter aceitado Paulo como líder. A Bíblia não relata, mas imagino que a fonte disso tenha sido Barnabé. Paulo rejeitara Marcos no passado porque este o abandonara em plena viagem (At 15.38).

Depois desse conflito sem precedentes na igreja primitiva, Marcos deve ter ficado duplamente magoado com Paulo: por ter sido rejeitado tão veementemente e por saber que, por sua causa, a rejeição também acabara estendendo-se a Barnabé. Curar ou restaurar um coração ferido não é nada fácil (v. Pv 18.19). Aparentemente Barnabé trabalhou a alma de Marcos de tal forma que lhe devolveu o respeito e a apreciação por Paulo.

Barnabé depositou o espírito de reconciliação dentro do Marcos. Isso se manifesta mais uma vez em ele ser não apenas muito querido do Paulo, mas também do Pedro. Às vezes Pedro e Paulo tinham dificuldades de relacionamento ou entendimento (veja Ga 2.11-14; 2 Pe 3.16), mas Marcos chegou a ser não apenas uma das poucas pessoas que Paulo queria a seu lado no final de sua vida, mas também o filho espiritual de Pedro (1 Pe 5.13). E como resultado disso, Marcos escreveu o primeiro evangelho, expressando em grande parte a perspectiva de Pedro que nunca escreveu um evangelho, mas em certo sentido, através de Marcos, escreveu sim.

Barnabé teve a graça de não apenas elevar Paulo à categoria de líder, mas de apoiá-lo e mantê-lo como tal, enfrentando a oposição, possivelmente até de João Marcos, da multidão em Listra, da igreja de Antioquia após a primeira viagem missionária, a dos apóstolos e da igreja de Jerusalém. Foi um mentor incomum, alguém que abriu caminho para que o próprio Paulo entendesse como mentorear outros.

Sem Barnabé, talvez não tivesse existido o ministério de Paulo, suas cartas, o ministério de Marcos e seu evangelho e os evangelhos sinópticos de Mateus e Lucas como os conhecemos hoje, já que se basearam no evangelho de Marcos, escrito antes. Barnabé fica, para mim, como o melhor modelo de mentor na Bíblia, depois de Jesus. Uma das provas disso é na forma que seu mentoreado, o Paulo, se multiplica em relacionamentos de mentoria.

Que muitos de nós possamos também ser filhos de Barnabé!

Paulo como Mentor de Timóteo

Paulo mentoreou muitas pessoas, no entanto foi com Timóteo que esse trabalho sem dúvida destacou-se mais claramente. A imagem de mentor transparece em 1 e 2 Timóteo, em especial no início de 2Timóteo. 

Experimente numerar, nos versículos citados a seguir, cada palavra, frase ou conceito que você considere expressão típica de um mentor: 

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus, a Timóteo, meu amado filho: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.

Dou graças a Deus, a quem sirvo com a consciência limpa, como o serviram os meus antepassados, ao lembrar-me constantemente de você, noite e dia, em minhas orações. Lembro-me das suas lágrimas e desejo muito vê-lo, para que a minha alegria seja completa. Recordo-me da sua fé não fingida, que primeiro habitou em sua avó Lóide e em sua mãe, Eunice, e estou convencido de que também habita em você. Por essa razão, torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos. Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio.
Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os meus sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus [...].
Retenha, com fé e amor em Cristo Jesus, o modelo da sã doutrina que você ouviu de mim. Quanto ao que lhe foi confiado, guarde-o por meio do Espírito Santo que habita em nós. Você sabe que todos os da província da Ásia me abandonaram, inclusive Fígelo e Hermógenes[...].
Portanto, você, meu filho, fortifique-se na graça que há em Cristo Jesus. E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros (2 Tm 1.1-8, 13-15; 2.1-2).

Vejo que o mentor, como também o pai espiritual, o líder pastoral ou o discipulador será bem-aventurado se reunir as qualidades de Paulo descritas nessas passagens. Vejamos brevemente algumas delas: 
  •         Relacionamento paternal e familiar: Paulo trata Timóteo, repetidas vezes, como filho (1Tm 1.2, 18 e 2Tm 1.2; 2.1). Hoje, parece que carecemos tanto de pais espirituais como de filhos. A desestruturação e o desajuste familiar na atual geração é terrível. Precisamos muito de pessoas que saibam gerar filhos espirituais. 
  •         Amor: Vale a pena destacar como Paulo se referia a Timóteo: “meu amado filho” (v. 2). Palavras semelhantes foram ditas pelo Pai após o batismo de Jesus: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado” (Mt 3.17). As Escrituras trazem mais oito frases similares com referência a Jesus, o que mostra quão fundamental isso foi para a vida e a identidade de Cristo (v. Is 42.1; Mt 12.18, 17.5; Mc 1.11, 9.7; Lc 3.22, 9.35 e 2Pe 1.17). Quantos líderes e pastores não estão convictos de que são realmente amados, aceitos pelo Pai celeste ou por um mentor ou pai espiritual aqui na terra.
  •         Intercessão: a ligação profunda entre Paulo e Timóteo transparecia no relacionamento de Paulo com Deus. O apóstolo lembrava-se de Timóteo constantemente, dia e noite (v. 3). Que privilégio contar com um mentor intercessor!
  •         Intimidade: Timóteo tinha liberdade de chorar com Paulo, e este não se envergonhava disso (v. 4). Na verdade o próprio Paulo também sabia ser transparente e compartilhar emoções profundas que também o levavam às lágrimas. Dirigindo-se aos anciãos de Éfeso, a igreja que mais tarde Timóteo supervisionaria, Paulo afirmou que serviu “ao Senhor com toda a humildade e com lágrimas” (At 20.19); instou-os a cuidarem de si mesmos e a vigiarem, lembrando-lhes “que durante três anos jamais [cessara] de advertir cada um [deles] disso, noite e dia, com lágrimas” (At 20.31). Não devemos nos surpreender de que nessa despedida “todos choraram muito, e, abraçando-o, o beijavam” (At 20.37). O verdadeiro mentor não só deixa seu coração transparecer, a ponto das lágrimas fazerem parte de sua vida e de seu ministério comum, como encoraja seus seguidores a fazerem o mesmo.
  •         Saudade e alegria (v. 4): Paulo, afinal, possuía um lado afetivo e sabia expressá-lo. Desenvolveu uma ligação afetiva com seu mentoreado. Alegrava-se com seu mentoreado e realmente buscava oportunidades de compartilhamento (veja 2Tm 4.9). Mais uma vez a alegria de Paulo reflete a alegria do Pai no Filho quando diz: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado” (grifo do autor).
  •         Reafirmação do que é bom (v. 5): Paulo citava qualidades de Timóteo e das boas experiências que compartilharam. Não insistia sempre em que seu mentoreado precisava melhorar, mas comunicava um profundo sentimento de aceitação.
  •         Exortação (v. 6): Paulo não só reafirmava claramente seu amor, sua aceitação e alegria, mas também sabia como desafiar seu mentoreado para o crescimento.
  •        Ministração: mais que uma vez Paulo impõe as mãos sobre Timóteo (v. 6) e, em oração, vê o Espírito Santo agir de forma sobrenatural na vida deste (v. 1Tm 4.14). O poder e a graça de Deus fluíam de Paulo para Timóteo.
  •         Disernimento das necessidades do mentoreado: Paulo sabia que Timóteo sofria dificuldades por causa da timidez ou do medo, por isso ministrava-lhe diretamente a respeito (v. 7) com palavras que encorajaram milhares de outros Timóteos através dos anos.
  •        Desejo de manter o mentoreado junto a si: Timóteo foi chamado a participar da vida de Paulo e a segui-lo de perto (2Tm 3.10,11, 4.9), até em seus sofrimentos (2Tm 1.8). Paulo não escondia de Timóteo a realidade nem o fato de que a vida cristã apresentava desafios e dificuldades. Também não o deixou enfrentá-los sozinho. O mentor se parece ao Paracletos, que se aproxima de nós e nos chama para junto de si.
  •        Exemplo (v. 13): Paulo mostrou a Timóteo como ensinar e viver (2Tm 3.10,11), não como um ser perfeito, mas como alguém que permanecia em constante crescimento rumo à perfeição (Fp 3.11-14).
  •         Reafirmação do chamado do mentoreado: Paulo lembrou Timóteo de manter viva a chama do dom de Deus que estava nele (v. 6) e ainda estimulou-o a guardar o que lhe foi confiado ou depositado (v. 14).
  •         Compartilhamento de dificuldades: o mentor não se vale de máscaras para levar o mentoreado a crer que tudo está sempre bem (v. 15). Em vez disso, compartilha suas dores, suas decepções e sua solidão (2Tm 4.9-16).
  •         Discipulado: o estilo de ensino de Paulo, ao contrário do professor, não se baseia em conteúdo e em programas, mas no que flui do coração de um pai para um filho espiritual (2 Tm 1,2; 2.1,2). Paulo repassa vida, a sua e a de Cristo, demonstrando as verdades que queria que Timóteo aprendesse através de como vivia e como se relacionava com ele (2 Tm 2.3-17).
  •         Orientação do mentoreado no pensamento estratégico: Paulo desafia Timóteo a reproduzir o que recebeu dele. Mais que isso. Desafia-o a multiplicar-se através de escolher as pessoas certas para que estas, por sua vez, ensinem a outros o que receberam (2Tm 2.2). 
Qualidades do Mentoreado

É muito comum as pessoas procurarem um mentor como Barnabé e Paulo e se decepcionarem quando ele não corresponde a tudo o que elas buscavam. Não raro, tais pessoas não compreendem que, assim como o mentor, o mentoreado também deve apresentar algumas qualificações para a função. 

Vejamos uma passagem que nos ajude a ver essa relação mais uma vez, mas agora focando algumas qualidades do mentoreado, do seguidor:

Não estou tentando envergonhá-los ao escrever estas coisas, mas procuro adverti-los, como a meus filhos amados. Embora possam ter dez mil tutores em Cristo, vocês não têm muitos pais, pois em Cristo Jesus eu mesmo os gerei por meio do evangelho. Portanto, suplico-lhes que sejam meus imitadores. Por esta razão estou lhes enviando Timóteo, meu filho amado e fiel no Senhor, o qual lhes trará à lembrança a minha maneira de viver em Cristo Jesus, de acordo com o que eu ensino por toda parte, em todas as igrejas. Alguns de vocês se tornaram arrogantes, como se eu não fosse mais visitá-los (1Co 4.14-18).

Embora esta passagem revele características de um pai espiritual ou mentor, podemos ressaltar oito características de um filho espiritual ou mentoreado: 
  • Trata seu líder como pai espiritual (v. 15): demonstra carinho, amor, respeito e agradecimento pela confiança que o mentor ou líder depositou nele e pelo tempo investido. Reconhece-o como mentor, e não apenas como um professor ou mestre. O mentor ocupa um lugar especial na vida do mentoreado, inclusive na área de autoridade espiritual. O mentoreado procura entender o coração do mentor e alinhar-se com ele, de modo a abençoá-lo em vez de constituir-se em peso para o mentor (Hb 13.17).
  • Imita o líder (v. 16): julga-o um modelo a seguir, um exemplo. O mentoreado, contudo, deve ter em mente que, por sua humanidade, o mentor também pode apresentar falhas ou certas características que contrariam o caráter de Cristo propriamente dito. Seu discernimento o capacitará a imitar o que é saudável, bom, procurando reproduzir isso em sua vida.
  • Tem uma identidade espiritual firme e saudável: entende que é um filho amado (v. 17) e que sua identidade de filho é a base para tudo. Serve, mas não como servo obrigado ou compulsivo e sim pelo transbordar de um coração de filho agradecido. Não procura no pai espiritual sua base de sentir-se bem.
  • É fiel (v. 17): ao Senhor e no Senhor para com o mentor. O mentoreado não murmura com terceiros a respeito das falhas do mentor ou dos problemas que possa ter de enfrentar. A relação entre ambos tem de ser de mútua transparência. O mentoreado é um escudeiro para seu mentor, protegendo-o e até carregando, quando puder, algo penoso para o líder.
  • Vive o que o mentor ensina sobre Jesus (v. 17): em certo sentido, ao ser observado, o mentoreado deve corresponder ao ditado: “Tal Pai, tal filho.” As pessoas devem ser capazes de conhecer o coração e a visão do mentor pelo simples fato de conviver com o mentoreado.
  • Compreende os ensinos sob as atitudes do mentor (v. 17): não se limita a imitar sem compreender. Segue o modelo do mentor exatamente porque percebe o que motiva o comportamento dele. Como os discípulos de Jesus, deve expressar suas dúvidas ou o que lhe é incompreensível.
  • Não se envergonha de seu mentor (v. 14): talvez seu mentor seja mais velho e não tenha concluído tantos cursos como o mentoreado; é possível que seja do sexo oposto, estrangeiro ou, como a maioria dos líderes, alvo de muitas críticas. Independentemente das razões, o mentoreado não deve se envergonhar do mentor, mas agradecer-lhe e até orgulhar-se (no sentido positivo da palavra) pelo fato dessa pessoa ser seu líder ou mentor.
  • Não é arrogante (v. 18): em outras palavras, o mentoreado é humilde e ensinável e não rejeita a correção. Deseja ouvir a avaliação de sua vida e de seu ministério, de modo a poder crescer. Creio que ser ensinável é a característica mais importante de um discípulo ou mentoreado, pois se precisar de aprimoramento ou correção em quaisquer outras áreas, será possível trabalhá-las, sem traumas.
À Procura de Mentores e Mentoreados 

A relação mentoreado/mentor é muito preciosa e não pode ser tratada de modo superficial. Na verdade, esse relacionamento é um dom divino, algo parecido ao que Jesus diz a seus discípulos, seus mentoreados: 

Já não os chamo servos [hoje, possivelmente uma palavra semelhante poderia ser “obreiros” ou “estudantes”], porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido. Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça (Jo 15.15, 16).

Ao referir-se a esta passagem, C. S. Lewis afirma que não escolhemos nossos amigos; Deus os escolhe para nós. Se, de um lado, essa afirmação nos leva a descansar no Senhor quanto a ele inserir e retirar pessoas de nossa vida, de outro haverá situações em que teremos que tomar a iniciativa e nos esforçar a favor de nosso mentor ou mentoreado. É o caso da busca pela pessoa que será nosso cônjuge, por exemplo. Embora essa relação seja uma dádiva do céu, para que dê certo, é preciso entregar nossa vida a ela!


Uma relação de mentor e mentoreado é algo muito semelhante e precioso. O aprofundamento é um processo longo, como ocorreu entre Jesus e os Doze. Foi necessário um ano e meio desde o primeiro chamado em João 1 até que Jesus os separasse como os Doze (Mc 3.13-19; Lc 6.12-16).

Em certo sentido o crescimento gradativo dessa relação pode ser comparado ao processo natural de amizade, namoro, noivado e casamento. O ideal é que seja lento e flua sem artificialismos e sem pressões.

Para muitos, encontrar a pessoa certa para atuar como mentor (ou até para mentorear) é quase tão difícil como encontrar alguém para se casar, especialmente quando aquele que busca o mentor é também pastor. Mas vejamos o que dizem as Escrituras: “... busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta” (Mt 7.7).

O significado desses verbos, em grego, demonstra uma ação continuada. Se não desistirmos, se realmente formos sérios em nossa procura, Deus nos revelará o líder pastoral, o discipulador ou o mentor que precisamos.

Ao buscar essa pessoa, recomendo os seguintes passos: 
  1. Liste três pessoas que poderiam ajudá-lo de alguma forma nesse papel. Ainda que não se revelem as ideais, escolha as três melhores opções, pensando em pessoas cujas vidas já estão ligadas de algum modo à sua ou é possível ligá-las.
  2. Priorize as pessoas por meio da oração. Dirija-se à primeira e peça-lhe que ore quanto a um encontro inicial para conversarem sobre a possibilidade de ela vir a ser seu mentor (discipulador ou líder pastoral).
  3. Se a pessoa aceitar, e o encontro inicial for boa, faça uma experiência de três a seis meses. Se o resultado for positivo, glória a Deus! Se não, passe para a segunda pessoa de sua lista e repita o processo.
A meu ver, a maior responsabilidade para o bom relacionamento entre mentor e mentoreado cabe a este último. Normalmente, o mentor possui muitas ocupações, cabendo, assim, ao mentoreado fazer os ajustes necessários para se adaptar à rotina do mentor. Ele deve ter a iniciativa de buscar o mentor e assegurar que o relacionamento se desenvolva adequadamente. Se você já tem um mentor ou líder pastoral, eu o encorajo a meditar em Hebreus 13.17. Expresse-lhe o que Deus lhe mostra nesse versículo.

Será mais produtivo se a relação entre mentor e mentoreado não for apenas individual, de um para um, mas dentro de um grupo ou equipe. Esse era o procedimento de Jesus Cristo. Não há relatos de encontros individuais com os discípulos, mas de encontros em grupo.

Paulo reafirma a Timóteo que o que este recebia “na presença de muitas testemunhas” (2Tm 2.2), pela imposição de mãos, não provinha apenas de Paulo, mas também dos presbíteros (1Tm 4.14). No livro de Atos, Paulo aparece quase sempre em grupo ou em equipe. Algumas cartas de Paulo, como 1 e 2 Tessalonicenses, por exemplo, trazem como remetentes “Paulo, Silvano e Timóteo”.

Mentorear pessoas no contexto de uma equipe ou grupo, entre outras vantagens, permite reunir a riqueza das múltiplas perspectivas à interdependência (que é uma proteção contra a dependência). Isso também confere ao mentoreado mais oportunidade para dar, em vez de apenas receber. Ademais, haverá outras pessoas envolvidas que poderão ajudar a solucionar possíveis conflitos, o que torna o mentor menos vulnerável à perda de amizades, como facilmente ocorre quando o conflito é gerado numa relação individual.

Encerrando, quero dizer que tenho sido muito abençoado por meio do pr. Irland. Em sua paixão pelo mentoreamento, ele demonstra um espírito ensinável que me surpreende. Com a maior alegria entrega-se, como mentoreado, à orientação de pastores de diferentes denominações ou até mesmo de pastores bem mais jovens, ganhando e crescendo por meio desses relacionamentos. Sem dúvida a habilidade do pr. Irland de aprender de quase qualquer pessoa fornece-lhe subsídios para que ele mesmo atue como mentor de quase qualquer pessoa!

Obrigado, Irland, por mostrar o caminho para tantos de nós que queremos ser como nosso Senhor Jesus Cristo mas sabemos que sozinhos não lograremos êxito. Precisamos de companheiros de jugo, do pastoreio de pastores, de aprendizagem contínua, de mentoreamento. Enfim, de qualidades tão evidentes em sua atuação que nos encorajam a absorvê-las e praticá-las. Podemos colocar em prática o que você nos ensina “na presença de muitas testemunhas” e confiar isso “a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros”!  

Bibliografia
AZEVEDO, Irland. De pastor para pastores: um testemunho pessoal. Rio de Janeiro: JUERP, 2001.
HENDRICKS, Howard. Aprenda a mentorear. Belo Horizonte: Betânia, 1999, principalmente parte 2.
HOUSTON, James. E. Mentoria espiritual: o desafio de transformar indivíduos em pessoas. São Paulo: Sepal, 2003.
KORNFIELD, David. As bases na formação de discipuladores. São Paulo: Sepal, 1996. Na verdade, toda a literatura na área de discipulado está muito relacionada ao mentoreamento.
KORNFIELD, David. Equipes de ministério que mudam o mundo: oito características de equipes de alto rendimento. São Paulo: Sepal, 2002. Trata-se de uma ferramenta que ajuda o líder e sua equipe a diagnosticar a saúde e o rendimento da equipe visando a planejar estratégias de aperfeiçoamento. Embora não esteja propriamente relacionado ao tema mentoreamento, pode ajudar no desenvolvimento desse conceito em grupos pequenos ou equipes.

Sites de Consulta na Internet
Mentorlink International: www.mentorlink.org.
TOPIC Brasil (Trainers of Pastors International Coalition ou Aliança Internacional de Capacitadores de Pastores — AICP): www.topicbrasil.org.

Este artigo foi escrito por David Kornfield como o capítulo cinco no livro editado por Lourenço Stélio Rega em homenagem ao Irland Azevedo: Paulo – Sua vida e sua presença ontem, hoje e para sempre, Vida, 2004."

Fonte: http://www.nimbusoft.com/Ferramentas/Artigos/PauloeMentoria/tabid/1302/Default.aspx