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- pr. David Kornfield
Quando me
pediram para escrever sobre Paulo e o ministério pastoral em homenagem ao pr.
Irland Azevedo, optei por focalizar o assunto mentoreamento. Andando com esse
patriarca nestes últimos anos, percebo quão envolvido ele está com o tema. Ora
às voltas com o pastoreio de pastores, com sua paixão por capacitar novos
pastores ou por ajudar no crescimento de outros mais experientes, ora
escrevendo ou ensinando sobre o assunto. Não raro
podemos ver Irland encorajar um líder ou pastor a prosseguir em seu chamado.
Por isso, espero poder homenageá-lo de forma especial ao focar o assunto.
Barnabé Como Mentor de Paulo
Para
entender claramente como Paulo mentoreava, precisamos saber como ele próprio
foi mentoreado.
Em Atos
22.3, Paulo afirma: “Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado nesta
cidade [Jerusalém]. Fui instruído rigorosamente por Gamaliel na lei de nossos
antepassados, sendo tão zeloso por Deus quanto qualquer de vocês hoje” (grifo
do autor).
Essa
afirmação sugere que Paulo foi para Jerusalém tão-logo atingiu idade suficiente
para ser instruído pelo rabi mais honrado e famoso do primeiro século, o qual
possivelmente foi neto de Hillel.
Como o
próprio Hillel, tradicionalmente alistado entre os “cabeças das escolas”,
Gamaliel possuía uma visão equilibrada. Sua sabedoria singular e seu
discernimento se destacaram ao proteger os apóstolos do Sinédrio, que desejava
matá-los (At 5.33-40).
Nesse
momento, Deus separou outro mentor para Paulo. Seu nome era José, mais
conhecido no entanto pelo apelido de Barnabé. Para compreender a formação que
Paulo obteve com Barnabé, precisamos conhecê-lo melhor.
No século
II, Clemente de Alexandria escreveu sobre Barnabé mencionando que ele integrara
o grupo dos 72. Vejamos a descrição do ministério desse grupo para chegar a um
entendimento melhor sobre esse mentor:
Depois
disso o Senhor designou outros setenta e dois e os enviou dois a dois, adiante
dele, a todas as cidades e lugares para onde ele estava prestes a ir. E lhes
disse: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Portanto, peçam
ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para a sua colheita. Vão! Eu os
estou enviando como cordeiros entre lobos. Não levem bolsa, nem saco de viagem,
nem sandálias; e não saúdem ninguém pelo caminho. Quando entrarem numa casa,
digam primeiro: Paz a esta casa. Se houver ali um homem de paz, a paz de vocês
repousará sobre ele; se não, ela voltará para vocês. Fiquem naquela casa, e
comam e bebam o que lhes derem, pois o trabalhador merece o seu salário. Não
fiquem mudando de casa em casa. Quando entrarem numa cidade e forem bem
recebidos, comam o que for posto diante de vocês. Curem os doentes que ali
houver e digam-lhes: O Reino de Deus está próximo de vocês. Mas quando entrarem
numa cidade e não forem bem recebidos, saiam por suas ruas e digam: Até o pó da
sua cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vocês. Fiquem certos
disto: o Reino de Deus está próximo. Eu lhes digo: Naquele dia haverá mais
tolerância para Sodoma do que para aquela cidade. [...]
Aquele
que lhes dá ouvidos, está me dando ouvidos; aquele que os rejeita, está me
rejeitando; mas aquele que me rejeita, está rejeitando aquele que me enviou (Lc 10.1-12, 16).
Muitas
são as características que poderíamos destacar do mentor idôneo:
- Trabalho
em equipe: mandados dois a dois (v. 1).
- Visão:
enxerga a colheita e a necessidade de levantar obreiros (v. 2).
- Oração:
coloca-se diante de Deus antes de iniciar o ministério (v. 2).
- Coragem:
vai em frente, sem receio, mesmo ciente de que será como ovelha entre
lobos e que haverá batalha (v. 3).
- Fé e
estilo de vida simples: não se preocupa com dinheiro, bagagem e outros
recursos, mas permanece na dependência de Deus (v. 4).
- Pessoa
de paz: estende e reconhece a paz (shalom), a harmonia (v. 5).
- Pessoa
que se relaciona: estabelece-se numa casa, numa família, finca raízes. Não
apenas parece boa, mas é de fato boa e íntegra (v. 5-7).
- Pessoa
do Reino de Deus: é submissa ao Rei e por isso tem autoridade (v. 9, 11).
- Discernimento:
percebe quem compartilha o mesmo espírito (v. 6).
- Humildade
suficiente para receber: consegue depender de outros com graça (v. 7, 8).
- Capaz
de lidar com conflitos: fala a verdade quando necessário e enfrenta a
rejeição sem levar para o lado pessoal (v. 10-12, 16).
Essas se
constituem em algumas das qualidades que de fato caracterizaram Barnabé, como
mentor idôneo que foi. O livro de Atos corrobora essa idéia, como podemos
perceber claramente:
José, um
levita de Chipre a quem os apóstolos deram o nome de Barnabé, que significa
“encorajador”, vendeu um campo que possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos
pés dos apóstolos (4.36, 37).
Barnabé é
caracterizado não apenas como um estudioso da Bíblia, mas com experiência
transcultural e muito amado entre os apóstolos. Um homem de coragem contagiante
(encorajador), comprometido com o Reino, desprendido das coisas materiais,
generoso, confiante nos apóstolos e, com maior simplicidade, a eles submisso. A
fé, o compromisso e a integridade de Barnabé contrastaram frontalmente com
Ananias e Safira, cujas ações também são narradas no livro de Atos.
As ações
de Barnabé voltam a destacar-se logo após a conversão de Paulo :
Quando
[Paulo] chegou a Jerusalém, tentou reunir-se aos discípulos, mas todos estavam
com medo dele, não acreditando que fosse realmente um discípulo. Então Barnabé
o levou aos apóstolos e lhes contou como, no caminho, Saulo vira o Senhor, que
lhe falara, e como em Damasco ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus.
Assim, Saulo ficou com eles, e andava com liberdade em Jerusalém, pregando
corajosamente em nome do Senhor (At 9.26-28).
Como se
pode ver do texto, Barnabé demonstra possuir discernimento espiritual. Vê o que
ninguém mais foi capaz, nem mesmo os apóstolos. Tinha coragem. Superou o medo e
constatou que Paulo realmente nascera de novo.
A coragem
de Barnabé é mais uma vez evidenciada ao se tornar patrocinador ou advogado de
Paulo, arriscando a vida em tornar-se conhecido de Paulo e arriscando sua
amizade com os apóstolos ao levar Paulo até eles. Seu testemunho e a confiança
que os apóstolos depositavam em Barnabé permitiram que Paulo fosse aceito pela
igreja e andasse com liberdade em Jerusalém, ministrando dentro e fora da
igreja.
Cerca de
treze anos mais tarde, a igreja em Antioquia se expande grandemente. Os
apóstolos, preocupados com as notícias de que gentios se convertiam, mandaram
alguém de absoluta confiança e com experiência transcultural para cuidar da
igreja. E esse era Barnabé.
Notícias
deste fato (de gentios se converterem) chegaram aos ouvidos da igreja em
Jerusalém, e eles enviaram Barnabé a Antioquia. Este, ali chegando e vendo a
graça de Deus, ficou alegre e os animou a permanecerem fiéis ao Senhor, de todo
o coração. Ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé; e muitas
pessoas foram acrescentadas ao Senhor. Então Barnabé foi a Tarso procurar Saulo
e, quando o encontrou, levou-o para Antioquia. Assim, durante um ano inteiro
Barnabé e Saulo se reuniram com a igreja e ensinaram a muitos. Em Antioquia, os
discípulos foram pela primeira vez chamados cristãos (At 11.22-26).
Esse
texto de Atos nos fornece uma descrição objetiva e clara de Barnabé. Entre suas
muitas qualidades, mais uma vez destaca-se o discernimento espiritual. Primeiro
na habilidade de “ver” a graça de Deus (v. 23) e, mais tarde, em perceber que a
igreja de Antioquia precisava de um líder como aquele que ainda permanecia
esquecido e quase desconhecido na igreja primitiva: Saulo.
Nos treze
anos que se passaram desde os fatos descritos em Atos 9 até os mencionados em
Atos 11, não há nenhum relato de que Paulo tenha estabelecido um ministério
significativo. Os historiadores da igreja não se referem a nenhuma igreja, em
Tarso, fundada por Paulo.
Aparentemente
o apóstolo permanecia inativo quando Barnabé o chamou para se juntar a ele na
igreja de Antioquia. O teor dos versículos mencionados indica que não foi fácil
encontrá-lo. Mais uma vez, alguém acreditou em Paulo, quando ninguém mais
acreditava.
Depois de
um ano, durante o qual Barnabé agiu como mentor de Paulo em Antioquia, uma
reunião da liderança daquela igreja mudaria a história da Igreja de Jesus
Cristo:
Na igreja
de Antioquia havia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de
Cirene, Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo. Enquanto
adoravam o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e
Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Assim, depois de jejuar e orar,
impuseram-lhes as mãos e os enviaram (At 13.1-3).
Nestes
versículos, como nas passagens anteriores (11.26, 30; 12.25), Barnabé é
alistado antes de Saulo, indicando a liderança e importância dele. Seria
natural que ele fosse o primeiro entre os iguais na equipe de liderança da
igreja de Antioquia. Se a ordem de menção nesse primeiro versículo indica
deferência, talvez Saulo não passasse do calouro da equipe.
Essa
ordem se mantém até o início da viagem (At 13.7), quando ocorre uma
surpreendente mudança. Ao saírem de Pafos, Lucas relata que “Paulo e seus
companheiros navegaram para Perge, na Panfília. João os deixou ali e voltou
para Jerusalém” (13.13), o que demonstra claramente que Barnabé deixara de o
líder da equipe.
Tudo
indica que Barnabé, tendo percebido que Paulo estava pronto para assumir a
liderança, passou-a para ele. Talvez João Marcos tenha abandonado a equipe por
não se sentir pronto para apoiar Paulo, querendo permanecer numa equipe liderada
por Barnabé, seu parente.
Daí em
diante, o nome de Paulo passa a figurar sozinho ou antes de Barnabé (13.42, 43,
46, 50; 14.1, 3), com uma exceção. Em Listra, Paulo curou um homem aleijado
desde o nascimento. Diante disso a multidão clamava que os deuses haviam
descido até eles em forma humana. Então, chamaram Barnabé de Zeus e Paulo, de
Hermes, “porque era ele quem trazia a palavra” (14.12). Paulo e Barnabé, ao
ouvirem a multidão, “rasgaram as roupas e correram para o meio da multidão,
gritando e protestando que não eram deuses” (14.14).
Pela
designação feita de Paulo e Barnabé, parece que a multidão via Barnabé como a
autoridade maior, a cobertura espiritual de Paulo, por isso Barnabé foi chamado
de Zeus, que era considerado o rei dos deuses, e Paulo, Hermes, porque este era
o mensageiro, o porta-voz de Zeus.
Nesse
momento crítico, se a ordem de menção dos nomes de fato é significativa, como
muitos crêem, Barnabé teria assumido a liderança temporariamente. No entanto,
assim que a questão foi resolvida, o nome de Paulo volta a figurar antes do
nome de Barnabé (14.20, 23).
Paulo e
Barnabé voltam para Antioquia, onde Barnabé naturalmente seria recebido como o
primeiro, o “pastor titular”, como saíra. No entanto, mais uma vez Atos 15.2
deixa claro que Paulo vem primeiro no contexto dessa igreja. Aparentemente,
Barnabé conseguira transmitir aos crentes de Antioquia, e eles aceitaram, seu
apoio à liderança de Paulo.
A igreja
de Antioquia, então, os envia como representantes no concílio de Jerusalém. No
início do concílio, Barnabé é mencionado antes de Paulo (15.12). Para a igreja
de Jerusalém, e especialmente para os apóstolos, Barnabé naturalmente seria o
primeiro, o amado, o homem de sua confiança.
Entretanto,
no final do concílio, mais uma vez o nome de Paulo precede o de Barnabé (15.22,
25) e assim permanece na volta a Antioquia (15.35). A exemplo do ocorrera com a
igreja de Antioquia, provavelmente Barnabé transmitira à igreja de Jerusalém o
mesmo conceito, e fora aceito.
Agora
como líder, Paulo naturalmente toma a iniciativa de promover uma segunda viagem
missionária. Barnabé propõe levar João Marcos, mas Paulo discorda de forma
inegociável. Esse desentendimento entre Paulo e Barnabé resulta na separação
destes (15.36-41). A partir daí, o livro de Atos deixa de mencionar o nome de
Barnabé.
Talvez
Barnabé tenha visto algo em João Marcos que os demais não viram, nem mesmo o
apóstolo Paulo. É como se assistíssemos ao mesmo filme de anos atrás, quando
ninguém acreditava em Paulo, nem os apóstolos de Jerusalém. Barnabé arriscara
tudo para elevar a pessoa de Paulo, desacreditada, mas em quem ele discernia um
potencial que outros não podiam ver. E, aparentemente, fez o mesmo com João
Marcos.
No
entanto, com o passo do tempo, descobrimos nas epístolas de Paulo que Marcos se
tornou companheiro dele: “Aristarco, meu companheiro de prisão, envia-lhes saudações,
bem como Marcos, primo de Barnabé. Vocês receberam instruções a respeito de
Marcos, e se ele for visitá-los, recebam-no” (Cl 4.10, grifo do autor).
Paulo não
só recebera Marcos como envia cartas de recomendação de seu, agora,
companheiro. Mais adiante, Paulo se refere a Marcos como um de seus
“cooperadores” (Fm 1.24). Mas o toque de ouro está nas últimas palavras de
Paulo, já ciente de que sua vida findara (observe os verbos no passado): “Combati
o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2 Tm 4.7, grifo do
autor). Sabendo que está com os dias contados e seu ministério acabado, ele
escreve para Timóteo:
Procure
vir logo ao meu encontro, pois Demas, amando este mundo, abandonou-me e foi
para Tessalônica. Crescente foi para a Galácia, e Tito, para a Dalmácia. Só
Lucas está comigo. Traga Marcos com você, porque ele me é útil para o
ministério (2 Tm
4.9-11).
Quando
seu tempo se esgotava, quando se sentiu abandonado e quando possivelmente se
deixava abater pelo desânimo, Paulo queria ter duas pessoas a seu lado:
Timóteo, seu amado filho, e Marcos, “porque ele me é útil para o ministério”.
Quando Paulo já não divisava nenhum ministério para si, viu em Marcos alguém em
quem depositar o que ainda tinha a dar, para que o ministério não morresse quando
sua vida findasse.
O mais
interessante nessa história não está em Paulo ter aceitado Marcos de volta,
como companheiro de sua equipe, mas o fato de este ter aceitado Paulo como
líder. A Bíblia não relata, mas imagino que a fonte disso tenha sido Barnabé.
Paulo rejeitara Marcos no passado porque este o abandonara em plena viagem (At
15.38).
Depois
desse conflito sem precedentes na igreja primitiva, Marcos deve ter ficado
duplamente magoado com Paulo: por ter sido rejeitado tão veementemente e por saber
que, por sua causa, a rejeição também acabara estendendo-se a Barnabé. Curar ou
restaurar um coração ferido não é nada fácil (v. Pv 18.19). Aparentemente
Barnabé trabalhou a alma de Marcos de tal forma que lhe devolveu o respeito e a
apreciação por Paulo.
Barnabé
depositou o espírito de reconciliação dentro do Marcos. Isso se manifesta mais
uma vez em ele ser não apenas muito querido do Paulo, mas também do Pedro. Às
vezes Pedro e Paulo tinham dificuldades de relacionamento ou entendimento (veja
Ga 2.11-14; 2 Pe 3.16), mas Marcos chegou a ser não apenas uma das poucas
pessoas que Paulo queria a seu lado no final de sua vida, mas também o filho
espiritual de Pedro (1 Pe 5.13). E como resultado disso, Marcos escreveu o
primeiro evangelho, expressando em grande parte a perspectiva de Pedro que
nunca escreveu um evangelho, mas em certo sentido, através de Marcos, escreveu
sim.
Barnabé
teve a graça de não apenas elevar Paulo à categoria de líder, mas de apoiá-lo e
mantê-lo como tal, enfrentando a oposição, possivelmente até de João Marcos, da
multidão em Listra, da igreja de Antioquia após a primeira viagem missionária,
a dos apóstolos e da igreja de Jerusalém. Foi um mentor incomum, alguém que
abriu caminho para que o próprio Paulo entendesse como mentorear outros.
Sem
Barnabé, talvez não tivesse existido o ministério de Paulo, suas cartas, o
ministério de Marcos e seu evangelho e os evangelhos sinópticos de Mateus e
Lucas como os conhecemos hoje, já que se basearam no evangelho de Marcos,
escrito antes. Barnabé fica, para mim, como o melhor modelo de mentor na
Bíblia, depois de Jesus. Uma das provas disso é na forma que seu mentoreado, o
Paulo, se multiplica em relacionamentos de mentoria.
Que
muitos de nós possamos também ser filhos de Barnabé!
Paulo como Mentor de Timóteo
Paulo
mentoreou muitas pessoas, no entanto foi com Timóteo que esse trabalho sem
dúvida destacou-se mais claramente. A imagem de mentor transparece em 1 e 2
Timóteo, em especial no início de 2Timóteo.
Experimente numerar, nos versículos
citados a seguir, cada palavra, frase ou conceito que você considere expressão
típica de um mentor:
Paulo,
apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que
está em Cristo Jesus, a Timóteo, meu amado filho: Graça, misericórdia e paz da
parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.
Dou
graças a Deus, a quem sirvo com a consciência limpa, como o serviram os meus
antepassados, ao lembrar-me constantemente de você, noite e dia, em minhas
orações. Lembro-me das suas lágrimas e desejo muito vê-lo, para que a minha
alegria seja completa. Recordo-me da sua fé não fingida, que primeiro habitou
em sua avó Lóide e em sua mãe, Eunice, e estou convencido de que também habita
em você. Por essa razão, torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom
de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos. Pois Deus não
nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio.
Portanto,
não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro
dele, mas suporte comigo os meus sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de
Deus [...].
Retenha,
com fé e amor em Cristo Jesus, o modelo da sã doutrina que você ouviu de mim.
Quanto ao que lhe foi confiado, guarde-o por meio do Espírito Santo que habita
em nós. Você sabe que todos os da província da Ásia me abandonaram, inclusive
Fígelo e Hermógenes[...].
Portanto, você, meu filho, fortifique-se na graça que há em Cristo
Jesus. E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as
a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros (2 Tm 1.1-8, 13-15; 2.1-2).
Vejo que
o mentor, como também o pai espiritual, o líder pastoral ou o discipulador será
bem-aventurado se reunir as qualidades de Paulo descritas nessas passagens.
Vejamos brevemente algumas delas:
- Relacionamento
paternal e familiar: Paulo trata Timóteo, repetidas vezes, como filho (1Tm 1.2,
18 e 2Tm 1.2; 2.1). Hoje, parece que carecemos tanto de pais espirituais como
de filhos. A desestruturação e o desajuste familiar na atual geração é
terrível. Precisamos muito de pessoas que saibam gerar filhos espirituais.
- Amor:
Vale a pena destacar como Paulo se referia a Timóteo: “meu amado filho” (v. 2).
Palavras semelhantes foram ditas pelo Pai após o batismo de Jesus: “Este é o
meu Filho amado, em quem me agrado” (Mt 3.17). As Escrituras trazem mais oito
frases similares com referência a Jesus, o que mostra quão fundamental isso foi
para a vida e a identidade de Cristo (v. Is 42.1; Mt 12.18, 17.5; Mc 1.11, 9.7;
Lc 3.22, 9.35 e 2Pe 1.17). Quantos líderes e pastores não estão convictos de
que são realmente amados, aceitos pelo Pai celeste ou por um mentor ou pai
espiritual aqui na terra.
- Intercessão:
a ligação profunda entre Paulo e Timóteo transparecia no relacionamento de
Paulo com Deus. O apóstolo lembrava-se de Timóteo constantemente, dia e
noite (v. 3). Que privilégio contar com um mentor intercessor!
- Intimidade:
Timóteo tinha liberdade de chorar com Paulo, e este não se envergonhava
disso (v. 4). Na verdade o próprio Paulo também sabia ser transparente e
compartilhar emoções profundas que também o levavam às lágrimas.
Dirigindo-se aos anciãos de Éfeso, a igreja que mais tarde Timóteo
supervisionaria, Paulo afirmou que serviu “ao Senhor com toda a humildade
e com lágrimas” (At 20.19); instou-os a cuidarem de si mesmos e a
vigiarem, lembrando-lhes “que durante três anos jamais [cessara] de
advertir cada um [deles] disso, noite e dia, com lágrimas” (At 20.31). Não
devemos nos surpreender de que nessa despedida “todos choraram muito, e,
abraçando-o, o beijavam” (At 20.37). O verdadeiro mentor não só deixa seu
coração transparecer, a ponto das lágrimas fazerem parte de sua vida e de
seu ministério comum, como encoraja seus seguidores a fazerem o mesmo.
- Saudade
e alegria (v. 4): Paulo, afinal, possuía um lado afetivo e sabia
expressá-lo. Desenvolveu uma ligação afetiva com seu mentoreado.
Alegrava-se com seu mentoreado e realmente buscava oportunidades de
compartilhamento (veja 2Tm 4.9). Mais uma vez a alegria de Paulo reflete a
alegria do Pai no Filho quando diz: “Este é o meu Filho amado, em quem me
agrado” (grifo do autor).
- Reafirmação
do que é bom (v. 5): Paulo citava qualidades de Timóteo e das boas
experiências que compartilharam. Não insistia sempre em que seu mentoreado
precisava melhorar, mas comunicava um profundo sentimento de aceitação.
- Exortação
(v. 6): Paulo não só reafirmava claramente seu amor, sua aceitação e
alegria, mas também sabia como desafiar seu mentoreado para o crescimento.
- Ministração:
mais que uma vez Paulo impõe as mãos sobre Timóteo (v. 6) e, em oração, vê
o Espírito Santo agir de forma sobrenatural na vida deste (v. 1Tm 4.14). O
poder e a graça de Deus fluíam de Paulo para Timóteo.
- Disernimento
das necessidades do mentoreado: Paulo sabia que Timóteo sofria
dificuldades por causa da timidez ou do medo, por isso ministrava-lhe
diretamente a respeito (v. 7) com palavras que encorajaram milhares de
outros Timóteos através dos anos.
- Desejo
de manter o mentoreado junto a si: Timóteo foi chamado a participar da
vida de Paulo e a segui-lo de perto (2Tm 3.10,11, 4.9), até em seus
sofrimentos (2Tm 1.8). Paulo não escondia de Timóteo a realidade nem o
fato de que a vida cristã apresentava desafios e dificuldades. Também não
o deixou enfrentá-los sozinho. O mentor se parece ao Paracletos, que se
aproxima de nós e nos chama para junto de si.
- Exemplo
(v. 13): Paulo mostrou a Timóteo como ensinar e viver (2Tm 3.10,11), não
como um ser perfeito, mas como alguém que permanecia em constante
crescimento rumo à perfeição (Fp 3.11-14).
- Reafirmação
do chamado do mentoreado: Paulo lembrou Timóteo de manter viva a chama do
dom de Deus que estava nele (v. 6) e ainda estimulou-o a guardar o que lhe
foi confiado ou depositado (v. 14).
- Compartilhamento
de dificuldades: o mentor não se vale de máscaras para levar o mentoreado
a crer que tudo está sempre bem (v. 15). Em vez disso, compartilha suas
dores, suas decepções e sua solidão (2Tm 4.9-16).
- Discipulado:
o estilo de ensino de Paulo, ao contrário do professor, não se baseia em
conteúdo e em programas, mas no que flui do coração de um pai para um
filho espiritual (2 Tm 1,2; 2.1,2). Paulo repassa vida, a sua e a de
Cristo, demonstrando as verdades que queria que Timóteo aprendesse através
de como vivia e como se relacionava com ele (2 Tm 2.3-17).
- Orientação
do mentoreado no pensamento estratégico: Paulo desafia Timóteo a
reproduzir o que recebeu dele. Mais que isso. Desafia-o a multiplicar-se
através de escolher as pessoas certas para que estas, por sua vez, ensinem
a outros o que receberam (2Tm 2.2).
Qualidades do Mentoreado
É muito
comum as pessoas procurarem um mentor como Barnabé e Paulo e se decepcionarem
quando ele não corresponde a tudo o que elas buscavam. Não raro, tais pessoas
não compreendem que, assim como o mentor, o mentoreado também deve apresentar
algumas qualificações para a função.
Vejamos
uma passagem que nos ajude a ver essa relação mais uma vez, mas agora focando
algumas qualidades do mentoreado, do seguidor:
Não estou
tentando envergonhá-los ao escrever estas coisas, mas procuro adverti-los, como
a meus filhos amados. Embora possam ter dez mil tutores em Cristo, vocês não
têm muitos pais, pois em Cristo Jesus eu mesmo os gerei por meio do evangelho.
Portanto, suplico-lhes que sejam meus imitadores. Por esta razão estou lhes
enviando Timóteo, meu filho amado e fiel no Senhor, o qual lhes trará à
lembrança a minha maneira de viver em Cristo Jesus, de acordo com o que eu
ensino por toda parte, em todas as igrejas. Alguns de vocês se tornaram
arrogantes, como se eu não fosse mais visitá-los (1Co 4.14-18).
Embora
esta passagem revele características de um pai espiritual ou mentor, podemos
ressaltar oito características de um filho espiritual ou mentoreado:
- Trata
seu líder como pai espiritual (v. 15): demonstra carinho, amor, respeito e
agradecimento pela confiança que o mentor ou líder depositou nele e pelo
tempo investido. Reconhece-o como mentor, e não apenas como um professor
ou mestre. O mentor ocupa um lugar especial na vida do mentoreado,
inclusive na área de autoridade espiritual. O mentoreado procura entender
o coração do mentor e alinhar-se com ele, de modo a abençoá-lo em vez de
constituir-se em peso para o mentor (Hb 13.17).
- Imita
o líder (v. 16): julga-o um modelo a seguir, um exemplo. O mentoreado,
contudo, deve ter em mente que, por sua humanidade, o mentor também pode
apresentar falhas ou certas características que contrariam o caráter de
Cristo propriamente dito. Seu discernimento o capacitará a imitar o que é
saudável, bom, procurando reproduzir isso em sua vida.
- Tem
uma identidade espiritual firme e saudável: entende que é um filho amado
(v. 17) e que sua identidade de filho é a base para tudo. Serve, mas não
como servo obrigado ou compulsivo e sim pelo transbordar de um coração de
filho agradecido. Não procura no pai espiritual sua base de sentir-se bem.
- É
fiel (v. 17): ao Senhor e no Senhor para com o mentor. O mentoreado não
murmura com terceiros a respeito das falhas do mentor ou dos problemas que
possa ter de enfrentar. A relação entre ambos tem de ser de mútua
transparência. O mentoreado é um escudeiro para seu mentor, protegendo-o e
até carregando, quando puder, algo penoso para o líder.
- Vive
o que o mentor ensina sobre Jesus (v. 17): em certo sentido, ao ser
observado, o mentoreado deve corresponder ao ditado: “Tal Pai, tal filho.”
As pessoas devem ser capazes de conhecer o coração e a visão do mentor
pelo simples fato de conviver com o mentoreado.
- Compreende
os ensinos sob as atitudes do mentor (v. 17): não se limita a imitar sem
compreender. Segue o modelo do mentor exatamente porque percebe o que
motiva o comportamento dele. Como os discípulos de Jesus, deve expressar
suas dúvidas ou o que lhe é incompreensível.
- Não
se envergonha de seu mentor (v. 14): talvez seu mentor seja mais velho e
não tenha concluído tantos cursos como o mentoreado; é possível que seja
do sexo oposto, estrangeiro ou, como a maioria dos líderes, alvo de muitas
críticas. Independentemente das razões, o mentoreado não deve se
envergonhar do mentor, mas agradecer-lhe e até orgulhar-se (no sentido
positivo da palavra) pelo fato dessa pessoa ser seu líder ou mentor.
- Não
é arrogante (v. 18): em outras palavras, o mentoreado é humilde e
ensinável e não rejeita a correção. Deseja ouvir a avaliação de sua vida e
de seu ministério, de modo a poder crescer. Creio que ser ensinável é a
característica mais importante de um discípulo ou mentoreado, pois se
precisar de aprimoramento ou correção em quaisquer outras áreas, será
possível trabalhá-las, sem traumas.
À Procura de Mentores e Mentoreados
A relação
mentoreado/mentor é muito preciosa e não pode ser tratada de modo superficial.
Na verdade, esse relacionamento é um dom divino, algo parecido ao que Jesus diz
a seus discípulos, seus mentoreados:
Já não os
chamo servos [hoje, possivelmente uma palavra semelhante poderia ser “obreiros”
ou “estudantes”], porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso,
eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei
conhecido. Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto,
fruto que permaneça (Jo
15.15, 16).
Ao
referir-se a esta passagem, C. S. Lewis afirma que não escolhemos nossos
amigos; Deus os escolhe para nós. Se, de um lado, essa afirmação nos leva a
descansar no Senhor quanto a ele inserir e retirar pessoas de nossa vida, de
outro haverá situações em que teremos que tomar a iniciativa e nos esforçar a
favor de nosso mentor ou mentoreado. É o caso da busca pela pessoa que será
nosso cônjuge, por exemplo. Embora essa relação seja uma dádiva do céu, para
que dê certo, é preciso entregar nossa vida a ela!
Uma
relação de mentor e mentoreado é algo muito semelhante e precioso. O
aprofundamento é um processo longo, como ocorreu entre Jesus e os Doze. Foi
necessário um ano e meio desde o primeiro chamado em João 1 até que Jesus os separasse
como os Doze (Mc 3.13-19; Lc 6.12-16).
Em certo
sentido o crescimento gradativo dessa relação pode ser comparado ao processo
natural de amizade, namoro, noivado e casamento. O ideal é que seja lento e
flua sem artificialismos e sem pressões.
Para
muitos, encontrar a pessoa certa para atuar como mentor (ou até para mentorear)
é quase tão difícil como encontrar alguém para se casar, especialmente quando
aquele que busca o mentor é também pastor. Mas vejamos o que dizem as
Escrituras: “... busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta” (Mt
7.7).
O
significado desses verbos, em grego, demonstra uma ação continuada. Se não
desistirmos, se realmente formos sérios em nossa procura, Deus nos revelará o
líder pastoral, o discipulador ou o mentor que precisamos.
Ao buscar
essa pessoa, recomendo os seguintes passos:
- Liste
três pessoas que poderiam ajudá-lo de alguma forma nesse papel. Ainda que
não se revelem as ideais, escolha as três melhores opções, pensando em
pessoas cujas vidas já estão ligadas de algum modo à sua ou é possível
ligá-las.
- Priorize
as pessoas por meio da oração. Dirija-se à primeira e peça-lhe que ore
quanto a um encontro inicial para conversarem sobre a possibilidade de ela
vir a ser seu mentor (discipulador ou líder pastoral).
- Se a
pessoa aceitar, e o encontro inicial for boa, faça uma experiência de três
a seis meses. Se o resultado for positivo, glória a Deus! Se não, passe
para a segunda pessoa de sua lista e repita o processo.
A meu
ver, a maior responsabilidade para o bom relacionamento entre mentor e
mentoreado cabe a este último. Normalmente, o mentor possui muitas ocupações,
cabendo, assim, ao mentoreado fazer os ajustes necessários para se adaptar à
rotina do mentor. Ele deve ter a iniciativa de buscar o mentor e assegurar que
o relacionamento se desenvolva adequadamente. Se você já tem um mentor ou líder
pastoral, eu o encorajo a meditar em Hebreus 13.17. Expresse-lhe o que Deus lhe
mostra nesse versículo.
Será mais
produtivo se a relação entre mentor e mentoreado não for apenas individual, de
um para um, mas dentro de um grupo ou equipe. Esse era o procedimento de Jesus
Cristo. Não há relatos de encontros individuais com os discípulos, mas de
encontros em grupo.
Paulo
reafirma a Timóteo que o que este recebia “na presença de muitas testemunhas”
(2Tm 2.2), pela imposição de mãos, não provinha apenas de Paulo, mas também dos
presbíteros (1Tm 4.14). No livro de Atos, Paulo aparece quase sempre em grupo
ou em equipe. Algumas cartas de Paulo, como 1 e 2 Tessalonicenses, por exemplo,
trazem como remetentes “Paulo, Silvano e Timóteo”.
Mentorear
pessoas no contexto de uma equipe ou grupo, entre outras vantagens, permite
reunir a riqueza das múltiplas perspectivas à interdependência (que é uma
proteção contra a dependência). Isso também confere ao mentoreado mais
oportunidade para dar, em vez de apenas receber. Ademais, haverá outras pessoas
envolvidas que poderão ajudar a solucionar possíveis conflitos, o que torna o
mentor menos vulnerável à perda de amizades, como facilmente ocorre quando o
conflito é gerado numa relação individual.
Encerrando,
quero dizer que tenho sido muito abençoado por meio do pr. Irland. Em sua
paixão pelo mentoreamento, ele demonstra um espírito ensinável que me
surpreende. Com a maior alegria entrega-se, como mentoreado, à orientação de
pastores de diferentes denominações ou até mesmo de pastores bem mais jovens,
ganhando e crescendo por meio desses relacionamentos. Sem dúvida a habilidade
do pr. Irland de aprender de quase qualquer pessoa fornece-lhe subsídios para
que ele mesmo atue como mentor de quase qualquer pessoa!
Obrigado,
Irland, por mostrar o caminho para tantos de nós que queremos ser como nosso
Senhor Jesus Cristo mas sabemos que sozinhos não lograremos êxito. Precisamos
de companheiros de jugo, do pastoreio de pastores, de aprendizagem contínua, de
mentoreamento. Enfim, de qualidades tão evidentes em sua atuação que nos
encorajam a absorvê-las e praticá-las. Podemos colocar em prática o que você
nos ensina “na presença de muitas testemunhas” e confiar isso “a homens fiéis
que sejam também capazes de ensinar outros”!
Bibliografia
AZEVEDO,
Irland. De pastor para pastores: um testemunho pessoal. Rio de Janeiro: JUERP, 2001.
HENDRICKS,
Howard. Aprenda a mentorear. Belo Horizonte: Betânia, 1999, principalmente
parte 2.
HOUSTON,
James. E. Mentoria espiritual: o desafio de transformar indivíduos em pessoas.
São Paulo: Sepal, 2003.
KORNFIELD,
David. As bases na formação de discipuladores. São Paulo: Sepal, 1996. Na
verdade, toda a literatura na área de discipulado está muito relacionada ao
mentoreamento.
KORNFIELD,
David. Equipes de ministério que mudam o mundo: oito características de equipes
de alto rendimento. São Paulo: Sepal, 2002. Trata-se de uma ferramenta que
ajuda o líder e sua equipe a diagnosticar a saúde e o rendimento da equipe
visando a planejar estratégias de aperfeiçoamento. Embora não esteja
propriamente relacionado ao tema mentoreamento, pode ajudar no desenvolvimento
desse conceito em grupos pequenos ou equipes.
Sites de
Consulta na Internet
TOPIC
Brasil (Trainers of Pastors International Coalition ou Aliança Internacional de
Capacitadores de Pastores — AICP): www.topicbrasil.org.
Este artigo foi escrito por David Kornfield como o
capítulo cinco no livro editado por Lourenço Stélio Rega em homenagem ao Irland
Azevedo: Paulo – Sua vida e sua presença ontem, hoje e para sempre,
Vida, 2004."
Fonte:
http://www.nimbusoft.com/Ferramentas/Artigos/PauloeMentoria/tabid/1302/Default.aspx