June 12, 2015

Quem ama

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- Robson Santos Sarmento

Quem ama abre divisas para o abraço.

Sabe, reconhece que os erros e equívocos passarão e perpassarão pelas estradas da vida.

É bem verdade, quantas vezes aspiramos uma narrativa imune as manchas e marcas das decisões e respostas; mas, quem ama para, abre os olhos e, depois de ter enxugada as lágrimas, recomeçar.

Eis o chamado instigante do amor de um Messias de mãos marcadas pelos fiapos das madeiras, da pele com os efeitos da incidência do sol, de não ter abdicado de botar os pés na realidade materialista, com suas ambiguidades, com suas ambivalências, com suas contradições, com suas contingências, com suas perdas e partidas.

Mesmo assim, ensinou-nos sobre a importância de amar sem os ferrolhos da paixão descontrolada, de não fazer do próximo um objeto de uso e, caso não possa mais o ter, descartá-lo.

Sem hesitar, quem ama arrisca ir e enfrentar os não(s) e os sim(s) da vida, não vai acertar sempre e nem foge de rir, de sorrir, de saborear um toque romântico da vida, de folhear a harmonia da inocência, de brincar com os versos da poesia, sem ao menos ser um literato.

Ah, quem ama se lembra, independente de estar a léguas de distância, faz um telefonema, envia uma carta, deixa uma mensagem, não se vale das teses de conspiração para justificar e, ao invés disso, sentar e no silêncio abraça, alenta, aninha.

De observar, quem ama se ocupa e preocupa menos com a vida, segundo a ótica de conquistar, dominar, impor, subjugar e desfigurar.

Quem ama olha para o outro e o convida para ser próximo.

Quem ama se deleita de uma fé lúdica, de uma espiritualidade criativa, de um pentecostes inovador, de um tempo Kairós ou de Graça ou de bondade e beleza.

Quem ama, certamente, dentro de uma cristandade de métodos, de sistemas e de arcabouços teológicos, parece ser um maluco beleza, um desvairado, um herege, um anátema e sei lá mais o quê.

Afinal de contas, quem ama constrói pontes para o diálogo, não espera ir ao semelhante, tão somente, quando há ruínas e desolações.

Quem aprecia a batida do coração, desnunda as emoções, as ideias, os pensamentos para serem, então, invadidos e inundados por uma humanidade que não se encontra nas prateleiras da pós-modernidade individualista, relativista e amesquinhada.

Quem ama não faz da vida uma propriedade, não torna o amor expressado por Cristo num peso nos ombros e muito menos uma compilação de dogmas e rituais.

Quem pula, salta e, enfim, curte todos os momentos da existência.

Quem ama, ama-se a si mesmo, a si próprio, como o fundamento para amor ao próximo.

Quem ama não carrega as neuroses da culpa e nem da condenação, vai adiante, ouve mais e fala menos, aceita o perdão que, talvez, não trará respostas para tudo e até deixe uma fagulha de inconformismo e por qual motivo foi assim, aponta para o futuro.

Vou adiante, quem ama não corre atrás de dons, de intervenções miraculosas, de barganhas para ser aceito.

Quem se agarra as mãos estendidas do Carpinteiro das palavras encabuladoras, porque desmontava os pentagramas da dialética dos fariseus, da truculência romana e da mediocridade dos homens.

Quem ama, partilha a vida, decide ser parceiro da vida e do viver, responde, a cada dia, participar de um chamado as utopias, as ironias, as inconsequências de andar uma légua a mais, de seguir as pegadas do samaritano, de não julgar pelos invólucros, de aceitar uma ressurreição que tem seu despertar, a cada pulsar do dia.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/quem-ama

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