February 29, 2016

Resistência à imoralidade

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Precisamos oferecer resistência à inveja, ao egoísmo, à ira, à vingança, à ansiedade, à profanação do nome do Senhor, à apropriação indébita, à soberba e a qualquer outra coisa que prejudica a nossa comunhão com Deus e com o próximo. 

A pergunta agora é: é necessário oferecer resistência também à imoralidade sexual?


Além de abundante, a resposta é muito simples. Na relação das obras da carne ou das coisas que a natureza humana produz, a primeira que Paulo menciona é a “imoralidade sexual”. As duas seguintes são como comportamentos sinônimos: “impureza” e “ações indecentes” (Gl 5.19). Jesus, por sua vez, na relação das coisas que saem do coração e fazem com que a pessoa peque, não se esquece das “imoralidades sexuais” (Mt 15.19).


Paulo também fala sobre o assunto, primeiro quando escreve aos romanos: “Vivamos decentemente, como pessoas que vivem na luz do dia [e, portanto,] nada de farras ou bebedeiras, nem imoralidade ou indecência, nem brigas ou ciúmes” (Rm 13.13). E, depois, quando escreve aos coríntios: “Receio ainda que na minha próxima visita o meu Deus me humilhe diante de vocês e que eu tenha de chorar por muitos de vocês que continuam a cometer os mesmos pecados que cometiam no passado e não se arrependeram da sua imoralidade sexual, nem das relações sexuais proibidas, nem de outras coisas indecentes que faziam” (2Co 12.21). No caso de Corinto, a situação é muito grave porque, antes da conversão, eles viviam de acordo com a cultura da cidade, extremamente liberal na questão do sexo. Ao conhecerem o evangelho por ocasião da segunda viagem de Paulo, eles foram lavados de todos os pecados, inclusive da área do sexo (1Co 6.11). Agora, o apóstolo receia que eles tenham voltado à mesma má conduta anterior.


Nem todas as versões da Bíblia traduzem a palavra do original grego (porneia) como “imoralidade sexual”, o que é bom, porque, assim, podemos enxergar melhor o significado da expressão. Além disso, ela nunca vem sozinha. Sua abrangência é enorme: adultério, concubinato, devassidão, fornicação, homossexualismo, indecência, impudicícia, impureza, imundícia, incontinência, infidelidade, lascívia, libertinagem, luxúria, prostituição e relações sexuais ilícitas. Tudo isso está debaixo da chamada imoralidade sexual.


Na primeira carta aos Tessalonicenses, Paulo escreve: “Não há necessidade de lhes escrever a respeito do amor pelos irmãos na fé, pois o próprio Deus lhes ensinou que vocês devem amar uns aos outros” (1Ts 4.9). A capacidade de amar entre eles era notável. Mas o mesmo não se pode dizer da conduta sexual. Daí as exortações do apóstolo (1Ts 4.3-8, NVI):

  1. Abstenham-se da imoralidade sexual.
  2. Cada um saiba controlar o seu próprio corpo de maneira santa e honrosa, não dominada pela paixão de desejos desenfreados (ou não com paixões sexuais baixas).
  3. Deus não os chamou para a impureza (ou para viverem na imoralidade).
A santidade requer vigilância e disciplina não só no que diz respeito à ira, à inveja, à presunção etc., mas também (não especialmente) no que diz respeito à indisciplina sexual.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/abstenham-se-da-imoralidade-sexual

February 28, 2016

Como lidar com a sexualidade

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- Carlos "Catito" e Dagmar

No dia 9 de setembro de 2015, foi publicado no site de notícias G1 que um pastor norte-americano (John Gibson) suicidou-se após ter seu nome revelado como integrante de um famoso site de encontros para relações extraconjugais, o Ashley Madison, que foi invadido por hackers, os quais expuseram publicamente os nomes de todos os participantes do site.

Ao nos depararmos com esta notícia, vem-nos à mente, de modo rápido, a pergunta que está no título deste artigo. É evidente que a resposta mais objetiva a ela é que somos todos pecadores e destituídos da glória de Deus (Rm 3.23) e, portanto, seres falíveis -- disso não temos dúvida. Porém, creio que é necessária uma reflexão adicional.

A igreja cristã tem sido influenciada, ao longo dos séculos, de muitas formas no que diz respeito ao tema da sexualidade e, na maioria das vezes, negativamente. Nos primeiros séculos da igreja, houve forte influência da filosofia grega, que fazia uma divisão entre matéria e espírito, afirmando que este era bom e aquela era ruim. Logo, a sexualidade era vista como algo que se opunha ao espírito.

No início da Idade Média, outra grave distorção atingiu a teologia cristã, quando se atrelou o pecado original à relação sexual e, outra vez, a sexualidade passou a ter matizes negativos e que atentam contra a espiritualidade. Os movimentos pietistas e fundamentalistas do final do século 19 e início do século 20 também percebiam a sexualidade de forma negativa.

A influência dos pensamentos de Freud, dos movimentos feministas, das duas revoluções químicas da sexualidade (anticoncepcional e Viagra) e da predominância de uma ideologia político-econômica única no Ocidente pós-moderno na virada do século 21 também foram elementos principais em torno dos quais se estruturou uma “nova” sexualidade, cujos eixos principais são a “sensorialidade” e a “relação objetal”.

E a igreja “não” tem conseguido pensar de forma crítica sobre essa nova realidade. A sexualidade foi reduzida ao nível instintual e fisiológico e a finalidade última passou a ser apenas a experiência sensorial. Sendo assim, o outro é apenas um “objeto de consumo” que se “usa” para se tentar atingir uma “sensação fantástica” (o orgasmo ideal) e, dessa forma, não importa de qual gênero é esse outro -- já não é mais uma “pessoa”, portadora da “imago Dei” e, portanto, digna de um tratamento com toda a reverência, pois possui “algo” de Deus. 

A expressão máxima disso é o “ficar”, em que o outro é apenas um estímulo para minhas sensações fisiológicas. E o pior é que se acredita que sempre haverá “algo mais”, o que nunca ocorre e gera a insatisfação e a insaciabilidade, abrindo a porta para toda a perversão e pornografia.

A sexualidade que deveríamos pregar nas igrejas é a “sexualidade relacional”, que vê no outro “mais” que um objeto que vai lhe proporcionar prazer, mas, acima e além disso, uma “pessoa” com quem se compartilhará a “ternura” -- que é a essência do “vínculo”. Junto a essa outra pessoa, com quem estabeleço um “vínculo” ao declarar meu “compromisso” de caminhada companheira e solidária por toda a vida, e sobre esse vínculo sinto a liberdade de entrega e desfruto a aceitação incondicional.

No aprofundamento do “vínculo” emerge cada dia com maior intensidade a “ternura”, que se expressa de várias formas: escuta atenta ao outro, disposição para servir, partilha de sentimentos (positivos e negativos), divisão de tarefas e responsabilidades (domésticas, laborais, financeiras etc.), toques físicos (beijos, abraços, carinhos) e intercurso sexual, sendo esse último a expressão máxima da “ternura” -- “Quero-te tanto que te quero dentro de mim!”.

Enquanto não vivenciarmos e ensinarmos em nossas igrejas a “sexualidade relacional”, propósito de Deus na criação, facilmente deslizaremos para um padrão de “conformidade” com a sociedade e não seremos agentes de “transformação” dela (Rm 12.2).

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/357/por-que-nossos-lideres-nao-sabem-lidar-com-a-sexualidade

February 27, 2016

Sexo não é problema. Lascívia, sim.

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A Bíblia não esconde a questão. Desde Gênesis, não faltaram pessoas com dificuldades no controle de seus ímpetos sexuais. Alguns casos são absurdos, como o estupro de Diná.

Mas também há exemplos positivos, como o de José do Egito. Infelizmente, prega-se mais sobre o fracasso de Davi com Bate-Seba do que sobre a vitória de José diante da mulher de Potifar.


A imoralidade sexual também é um tema abordado por Paulo. Ele é direto quando aconselha os irmãos de Tessalônica: “abstenham-se da imoralidade sexual” (1 Ts 4.3).


E como disse Joshua Harris, “sexo não é problema - lascívia, sim”.


Vale a pena separar as duas coisas.


Fonte:  http://www.ultimato.com.br/conteudo/sexo-nao-e-problema-lascivia-sim

February 24, 2016

Poder, amor e moderação

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- Ricardo Barbosa

Enquanto escrevo este artigo, ouço as notícias de mais um atentado terrorista na França. Dezenas de mortos e feridos, pessoas em pânico, autoridades confusas. Estive recentemente na América do Norte e é visível como o medo alterou o comportamento da sociedade desde o 11 de setembro. Mesmo com índices baixos de homicídios e assaltos, o pavor criou um novo jeito de viver e se relacionar.

Em um país sem ameaças terroristas, existem outras ameaças que nos provocam o medo e a ansiedade. Muitos temem as “conspirações culturais” com seus ataques contra a família, desconstruindo os valores cristãos e tradicionais do casamento, as propostas de eliminação da diferença de gênero e ainda o relativismo moral que, claro, contribui para o relativismo ético. Muitos cristãos veem nestas ameaças um tipo de “conspiração cultural” que induz ao medo, à insegurança e à ansiedade.
Soren Kierkegaard disse em “O Conceito de Ansiedade”: “Nenhum grande inquisidor tem à sua disposição torturas terríveis como tem a ansiedade. Não existe um espião que, com mais maestria, saiba atacar o homem de quem suspeita, escolhendo o momento em que está mais fragilizado, ou saiba como melhor dispor armadilhas com que detê-lo e capturá-lo como faz a ansiedade”. 

O antídoto para a ansiedade e o medo que paralisa é o temor a Deus. 

O profeta Isaías diz: “O Senhor falou comigo com veemência, advertindo-me a não seguir o caminho desse povo. Ele disse: “Não chamem conspiração a tudo o que esse povo chama conspiração; não temam aquilo que eles temem, nem se apavorem. O Senhor dos exércitos é que vocês devem considerar santo, a ele é que vocês devem temer, dele é que vocês devem ter pavor” (Is 8.11-13).
Noutras palavras, não devemos permitir que aquilo que a cultura chama de “conspiração” nos controle e determine nosso comportamento e nossas ações. Nosso temor é a Deus e à Sua santidade e justiça. Deus falou com Isaías com “veemência” porque ele espera que seu povo reaja ao mundo e à cultura a partir do temor de Deus, e não por se sentirem ameaçados e intimidados pelas “conspirações culturais ou terroristas” que aprisionam e paralisam.
Uma das grandes verdades das boas novas do evangelho é que Jesus “despojou os principados e potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Os poderes que atuam no mundo já foram desprezados e derrotados. Eles seguem atuando, mas são poderes já vencidos pela cruz. Esta é a verdade que inspira Paulo a dizer a Timóteo, seu filho na fé: “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação”. Em outras palavras, precisamos ter coragem moral para enfrentar os desafios de nossa cultura secularizada, como Timóteo precisava para enfrentar a cultura pagã de Éfeso.
No entanto, a despeito desta grande verdade, a covardia, ou seja, o medo daquilo que os poderes podem fazer contra nós, aprisionam o nosso espírito. Isso acontece quando damos a alguém ou a alguma coisa o poder que somente Deus tem de nos ajudar ou ferir.
Quando o medo e a ansiedade passam a dominar nossa mente e emoções, a covardia nos paralisa e a verdade é comprometida. Coragem não é a ausência de medo, mas a capacidade de agir apesar dele.
Como podemos nos libertar do medo e adquirir coragem moral para viver e proclamar a verdade nestes tempos confusos e tensos? Jesus afirma: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. 

Jesus nos exorta a seguir obedecendo a sua Palavra como caminho e forma de conhecer a verdade que nos liberta do medo, da ansiedade e da confusão.
Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/358/poder-amor-e-moderacao

February 23, 2016

Conforto para tempos difíceis

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Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim.

João 14.1

- Martinho Lutero

Todas as vezes que nos sentirmos angustiados e ansiosos, confiemos em Cristo e nos fortaleçamos com suas palavras. Nós devemos receber o conforto que Cristo oferece nessa passagem. É como se Cristo estivesse nos dizendo: “O que você está fazendo? Por que você está se encolhendo? Você está com medo da morte? Encoraje-se e anime-se. Nem tudo está perdido, mesmo se o Maligno, o mundo ou a sua consciência aborrecê-lo e apavorá-lo. Você não estará arruinado caso não sinta a minha presença. Você não se lembra de que eu lhe disse isso há muito tempo e deixei essas palavras reconfortantes para fortalecê-lo e preservá-lo?”.

A partir dessas e de outras palavras de Cristo, devemos começar a conhecê-lo da maneira correta. Devemos desenvolver uma confiança mais amorosa nele. E devemos prestar mais atenção às suas palavras do que a qualquer coisa que possa aparecer diante dos nossos olhos, ouvidos e sentidos. Pois, se somos cristãos e permanecemos próximos a ele, sabemos que ele fala conosco. Nós aprendemos nessa e em outras passagens que ele deseja nos confortar com suas palavras. Tudo o que ele diz ou faz nada mais é do que palavras e ações amistosas e reconfortantes.

Podemos estar certos de uma coisa: um coração pesaroso, tímido e temeroso não vem de Cristo. Cristo não amedronta corações nem os deprime. Ele veio a esta terra, cumpriu sua missão e ascendeu ao céu para tirar o sofrimento e o temor dos nossos corações e para substituí-los por corações, consciências e mentes alegres. Esta é a razão pela qual ele promete enviar o Espírito Santo aos seus seguidores. Por meio do Espírito, ele quer fortalecer e preservar seus seguidores depois de sua partida.

Quem for capaz de confiar no que Cristo diz nessa passagem estará em boa forma espiritual e terá vencido mais da metade da batalha.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2016/01/09/autor/martinho-lutero/conforto-para-tempos-dificeis/
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February 22, 2016

O medo em seu devido lugar

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- Reinaldo Percinoto Júnior 

Texto básico: Atos 4. 23-31

Textos de apoio
– Atos 4. 1-22
– Salmo 91
– Habacuque 3. 17-19
– 1 João 4. 16-19
– Provérbios 12.25
– Filipenses 4. 4-7

Introdução

Talvez a palavra que melhor descreva o nosso mundo atual é “medo”. Temos medo do terrorismo, dos exames de saúde, medo do futuro, medo do desemprego, medo da morte, medo dos poderes do mal, medo do sofrimento, medo de não conseguirmos entrar na universidade, medo de não conseguirmos sair da universidade, medo de casar, medo de ficar sozinho, medo das chuvas fortes, medo de não chover o suficiente.

Neste estudo queremos analisar como a igreja primitiva enfrentou o medo diante da opressão e perseguição em seus primeiros dias, especialmente por parte da liderança religiosa, e aprender como podemos fortalecer nossa dependência e confiança em Deus, o Senhor da Criação, da Revelação e da História.

Após a experiência do Pentecostes (Atos 2. 1-13), a igreja cristã, impulsionada pelo Espirito Santo, começa a crescer e a influenciar a vida da cidade. Os apóstolos Pedro e João curam um aleijado de nascença que esmolava junto à Porta Formosa do Templo (Atos 3. 1-10), gerando perplexidade entre o povo que, atônito, se aglomera ao redor dos apóstolos junto ao pórtico chamado de Salomão. Pedro, oportunamente, profere um discurso profundamente cristocêntrico, provocando o ressentimento dos sacerdotes e saduceus, que então os levam à prisão, para serem julgados pelo Sinédrio, o “STF” de Israel.

A comunidade cristã, diante disso, experimenta um clima de muita tensão, ameaças e apreensão. O que iriam fazer? Fugir para as montanhas? Traçar uma estratégia de luta armada? Praguejar e amaldiçoar seus opositores? O que você faria?

Para entender o que a Bíblia fala

  1. Ao se reencontrarem com Pedro e João, e receberem o relato do que tinha acontecido, qual foi a primeira reação daquela comunidade cristã (vv. 23-24)?
  2. A primeira palavra utilizada por eles foi Despotes (“Soberano Senhor”; v. 24), um termo utilizado para denominar uma autoridade cujo poder é inquestionável. Para aqueles cristãos, diante das ameças e proibições do Sinédrio, quem detinha realmente autoridade sobre toda aquela situação?
  3. Antes de fazer qualquer pedido ou solicitação a Deus, os primeiros cristãos enchem suas mentes e corações com a certeza de que Deus é o Senhor sobre suas vidas e sobre a História. Como eles fazem esse exercício, e que elementos do senhorio de Deus são mencionados na oração (vv. 24b-28)?
  4. Após o exercício de adoração ao Senhor, eles se voltam para o seu problema momentâneo, e fazem uma súplica a Deus. Que tipo de solução eles pedem (vv. 29-30)?
  5. Qual foi o resultado prático de sua oração (v. 31; observe também Atos 5. 12-16)?

Hora de Avançar

Quando o medo e a ansiedade passam a dominar nossa mente e emoções, a covardia nos paralisa e a verdade é comprometida. Coragem não é a ausência de medo, mas a capacidade de agir apesar dele.

Para pensar

A oposição que os primeiros cristãos vivenciaram em Jerusalém era séria e, certamente, amedrontadora. 

Poderia gerar uma reação paralisante à Igreja nascente. Porém, o exercício espiritual que os cristãos realizaram em oração, reconhecendo a autoridade suprema de Deus, inclusive sobre o Sinédrio, deu-lhes fôlego e coragem para sair de nova para as ruas da cidade.

O Deus que eles serviam não era um deus como os outros deuses. Era o Soberano Senhor – Senhor da criação (v. 24b), Senhor da revelação (vv. 25-26) e Senhor da História (vv. 27-28).

Por isso mesmo, eles eram capazes de alimentar uma plena confiança em Deus e em seus propósitos, a tal ponto de nem precisarem pedir que as ameaças fossem retiradas e os inimigos eliminados. O que solicitaram foi capacidade e coragem para continuarem a obra que lhes foi confiada, independentemente da oposição ou perseguição. E Deus lhes respondeu com a experiência de um “pequeno Pentecostes”, que renovou sua certeza de que era por aí mesmo que deveriam continuar caminhando.

O que disseram

Onde me achei bem sem vós, ou quando passei mal, estando vós presente? Antes quero ser pobre por vós, que rico sem vós. Prefiro peregrinar convosco na terra, que sem vós possuir o céu. Onde vós estais, aí está o céu; e existe a morte e o inferno onde vós não estais. (Tomás de Kempis, “Imitação de Cristo”)  

Para responder

  1. Aquela antiga ilustração que diz que você não pode impedir que os pássaros voem sobre sua cabeça, mas pode impedir que eles façam um ninho ali, também pode ser aplicada ao nosso lidar com o medo e a ansiedade. Quando você ficar com medo ou ansioso devido a alguma situação em sua vida (e você vai ficar!), como esta ilustração pode ajudar você a enfrentar esses sentimentos?
  2. Imagine que você fizesse parte daquela comunidade para onde Pedro e João retornaram, e para a qual contaram tudo o que havia acontecido. Como você teria reagido no primeiro momento?
  3. O v. 31 do trecho que estudamos nos informa que depois da oração comunitária, o lugar onde aqueles crentes estavam reunidos tremeu, todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a palavra de Deus. De que maneiras você precisa do poder do Espírito Santo para enfrentar os desafios e temores do seu dia a dia?

Eu e Deus

Peça a Deus para enchê-lo com o seu Espírito e capacitá-lo para a tarefa de experimentar e comunicar o Evangelho da salvação.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/vida-crista/o-medo-em-seu-devido-lugar/
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February 21, 2016

A zona de conforto pode se transformar numa grande cilada

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Não permita correr o risco de fazer da sua vida uma história de infelicidades

- Luciana Kotaka

É bem comum nos acostumarmos com situações que nos são confortáveis, afinal, às vezes, cansamos de tanto batalhar em busca de mudanças e aos poucos vamos acostumando e empurrando com a barriga essas situações. O casamento que está morno, a falta de satisfação no trabalho, dependência dos pais. Posso citar vários exemplos aqui, mas o importante é pensar o quanto estar na zona de conforto é realmente uma área de segurança para você.

Será que em algum momento parou para pensar se vale mesmo a pena colocar dentro das gavetas situações ou problemas das quais vem enfrentando? Claro, preciso concordar com você que às vezes é mais confortável não confrontar-se com uma situação presente, tiramos a responsabilidade de assumir essas mudanças, projetando no outro ou em alguma coisa as causas de não ter sucesso, seja em qual área for.

Não é nada fácil olhar para o companheiro e dizer o que se sente sem brigar, com calma e coerência, sem acusar. Mostrar o que não está indo bem e propor mudanças, aceitando também mudar suas atitudes que podem estar contribuindo para uma relação destrutiva.

Em relação ao trabalho a situação se repete, não vai atrás de atualizar conhecimento, de batalhar um novo mercado, de buscar um emprego que traga mais satisfação, mais retorno financeiro ou mesmo um ambiente mais saudável.

Se pensarmos em perda de peso a história também se repete não é mesmo? É fácil tentar perder peso por algumas semanas, uns meses, o difícil é enfrentar a realidade de que para emagrecer de forma efetiva é preciso comprometimento, isso mesmo. Assumir uma atividade física frequente, uma mudança alimentar visando saúde e equilíbrio.

Psicoterapia então, nem pensar. Há um mito de que esse processo é demorado, porém não se leva em conta quantos anos perdidos por não conseguir sair do lugar. O que está esperando então? Pare e pense há quantos anos estão se enrolando em um casamento insatisfatório? Buscando perder peso, mas comendo cada vez que não se sente feliz? Em um emprego onde não se sente valorizado, uma família que não reconhece seu esforço etc.

Então, a zona de conforto pode a princípio camuflar as dificuldades que se enfrenta na vida diária, porém com o tempo as gavetinhas de sua vida vão ficando cheias, tudo embolado e chega uma hora que nem fechar mais consegue. Aí pode ser tarde, o casamento desabou, o trabalho ficou uma merda, perdeu muitas oportunidades e tempo de recomeçar. Seu guarda-roupa já é tamanho GG há anos e nada do que pensou em alcançar em sua vida se concretizou.

É momento de parar, esvaziar as gavetinhas e olhar o que guardou lá dentro. Jogar fora o que não serve, reformar o que ainda dá para se utilizar e buscar situações novas que realmente te trarão satisfação real.

A zona de conforto é interessante por um tempinho, enquanto precisamos tomar um gás, relaxar de um momento de estresse, mas atenção, não permita ficar muito tempo, o risco de passar a vida vivendo uma mentira ou uma situação infeliz é muito grande.
Fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/luciana-kotaka/a-zona-de-conforto-pode-se-transformar-em-uma-grande-cilada/

February 20, 2016

Tem algo maior acontecendo, agora mesmo

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Chérie,

às vezes a gente está tão desanimado, levando uma vidinha tão mequetrefe que nem consegue mais levantar os olhos e perceber que tem algo maior acontecendo, agora mesmo.

Você precisa - literalmente - ser chacoalhado pela Palavra, espia só: 


Mensagem de consolo

1O Senhor, nosso Deus, diz:
“Consolem, consolem o meu povo.
2Falem carinhosamente aos moradores de Jerusalém
e digam-lhes que já terminou a sua escravidão
e que os seus pecados foram perdoados.
Eles receberam de mim duas vezes mais castigos
do que os pecados que cometeram.”
3Alguém está gritando:
“Preparem no deserto um caminho para o Senhor,
abram ali uma estrada reta para o nosso Deus passar!
4Todos os vales serão aterrados,
e todos os morros e montes serão aplanados;
os terrenos cheios de altos e baixos ficarão planos,
e as regiões montanhosas virarão planícies.
5Então o Senhor mostrará a sua glória,
e toda a humanidade a verá.
O próprio Senhor Deus prometeu que vai fazer isso.”
6Alguém diz: “Anuncie a mensagem!”
“O que devo anunciar?” — eu pergunto.
“Anuncie que todos os seres humanos são como a erva do campo
e toda a força deles é como uma flor do mato.
7A erva seca, e as flores caem
quando o sopro do Senhor passa por elas.
De fato, o povo é como a erva.
8A erva seca, a flor cai,
mas a palavra do nosso Deus dura para sempre.”
9Você, mensageiro de boas notícias para Jerusalém,
suba um alto monte;
você, mensageiro de boas notícias para Sião,
entregue a sua mensagem em voz alta.
Fale sem medo com as cidades de Judá
e anuncie bem alto:
“O seu Deus está chegando!”
10O Senhor Deus vem vindo cheio de força;
com o seu braço poderoso, ele conseguiu a vitória.
E ele traz consigo o povo que ele salvou.
11Como um pastor cuida do seu rebanho,
assim o Senhor cuidará do seu povo;
ele juntará os carneirinhos, e os carregará no colo,
e guiará com carinho as ovelhas que estão amamentando.

A grandeza do Deus de Israel

12Quem mediu a água do mar com as conchas das mãos
ou mediu o céu com os dedos?
Quem, usando uma vasilha, calculou
quanta terra existe no mundo inteiro
ou pesou as montanhas e os morros numa balança?
13Quem pode conhecer a mente do Senhor?
Quem é capaz de lhe dar conselhos?
14Quem lhe deu lições ou ensinamentos?
Quem lhe ensinou a julgar com justiça
ou quis fazê-lo aprender mais coisas
ou procurou lhe mostrar como ser sábio?
15Para o Senhor, todas as nações do mundo
são como uma gota de água num balde,
como um grão de poeira na balança;
ele carrega as ilhas distantes como se fossem um grão de areia.
16Em toda a região do Líbano, não há animais suficientes
para um sacrifício como Deus merece,
nem árvores que cheguem para os queimar.
17Para ele, as nações não são nada;
na presença dele, elas não têm nenhum valor.
18Com quem Deus pode ser comparado?
Com o que ele se parece?
19Ele não é como uma imagem feita por um artista,
que um ourives reveste de ouro
e cobre de enfeites de prata.
20Quem não pode comprar ouro ou prata
escolhe madeira de lei
e procura um artista competente
que faça uma imagem que fique firme no seu lugar.
21Será que vocês não sabem?
Será que nunca ouviram falar disso?
Não lhes contaram há muito tempo
como o mundo foi criado?
22O Criador de todas as coisas
é aquele que se senta no seu trono no céu;
ele está tão longe da terra,
que os seres humanos lhe parecem tão pequenos como formigas.
Foi ele quem estendeu os céus como um véu,
quem os armou como uma barraca para neles morar.
23É ele quem rebaixa reis poderosos
e tira altas autoridades do poder.
24Eles são como plantas que brotaram há pouco
e quase não têm raízes.
Quando Deus sopra neles, eles murcham,
e a ventania os leva para longe, como se fossem palha.
25Com quem vocês vão comparar o Santo Deus?
Quem é igual a ele?
26Olhem para o céu e vejam as estrelas.
Quem foi que as criou?
Foi aquele que as faz sair em ordem como um exército;
ele sabe quantas são
e chama cada uma pelo seu nome.
A sua força e o seu poder são tão grandes,
que nenhuma delas deixa de responder.

Novas forças para os fracos

27Povo de Israel, por que você se queixa, dizendo:
“O Senhor não se importa conosco,
o nosso Deus não se interessa pela nossa situação”?
28Será que vocês não sabem?
Será que nunca ouviram falar disso?
O Senhor é o Deus Eterno,
ele criou o mundo inteiro.
Ele não se cansa, não fica fatigado;
ninguém pode medir a sua sabedoria.
29Aos cansados ele dá novas forças
e enche de energia os fracos.
30Até os jovens se cansam,
e os moços tropeçam e caem;
31mas os que confiam no Senhor
recebem sempre novas forças.
Voam nas alturas como águias,
correm e não perdem as forças,
andam e não se cansam.

Resumo da ópera, chérie: está em nós escolher.

Acreditar nas promessas e no amor de Deus, que é maior do que a gente pode imaginar ou pensar ou sucumbir e perder a fé e a esperança mediante as circunstâncias.

Bjs,

KT
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February 19, 2016

Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você

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O céu é o outro

- Marcelo Levites

O jornal norte-americano The Wall Street Journal publicou na semana passada um artigo contando a história de seis idosos que mantém seus casamentos há mais de 50 anos. No texto, eles mostram como fizeram e fazem para manter um matrimônio por tantos anos. 

O casal mais longevo – há 63 anos juntos – acredita que para conseguir ficar tanto tempo com outra pessoa a receita é não tentar mudar o outro, ser independente e não manter segredos. “Estar junto, ajudando um ao outro e sendo bom um para o outro”, diz a esposa. “Nunca ir dormir com raiva”, completa o marido.

São histórias simples, mas com conteúdo significativo do quanto é importante olhar para o outro para viver uma vida feliz. Apesar de estarem acima dos 70 anos, os três casais mostram boa saúde e demonstram viverem felizes.

Esta realidade é constatada em pesquisas.

Um levantamento da Escola de Medicina da Universidade de Cardiff, no País de Gales, revela que pessoas casadas têm mais saúde do que os solteiros. O estudo avaliou mais de 1 milhão em sete países europeus. Os casados, segundo os pesquisadores, vivem cerca de 10% a 15% a mais do que os que vivem sozinhos.

Nos Estados Unidos, um estudo feito pelo Centro de Controle de Doenças mostrou que o casamento aumenta a expectativa de vida em até cinco anos. Pesquisadores da Universidade da Califórnia fizeram um levantamento dosando os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, e verificaram que as mulheres felizes no casamento, ao voltarem para casa, tinham redução do nível de cortisol maior, comparadas às mulheres menos satisfeitas e solteiras.

Este artigo não pretende fazer uma apologia ao casamento, mas ressaltar a importância de convivermos com o outro. Seja cônjuge, amigo, um familiar, enfim. O convívio social e com outras pessoas é tão importante quanto um remédio para a hipertensão, quando os níveis de pressão arterial estão alterados.

Por isso, conviva mais para viver mais.

Viva mais e melhor.

Fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/viva-mais-e-melhor/o-ceu-e-o-outro/

February 18, 2016

O fim da intuição

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- Lusa Silvestre

A primeira vez que ouvi falar de algoritmo foi na escola. Deve ter sido na aula de matemática. Como enveredei pelas letrinhas, achei que nunca mais teria contato com o assunto – como realmente aconteceu com as mitocôndrias. Mas, de repente, tal qual adolescente desengonçada que depois reaparece Gisele Bündchen, o algoritmo voltou à minha vida.

Começou com a Amazon indicando livros baseados no meu próprio gosto pessoal. Adorei: facilitava a vida – mas não sabia que tal seleção era só resultado do algoritmo. Que investigava meus dados, estudava meus clicks e traçava tendências. Achei que era um anãozinho gentil, que percorria a livraria imaginando o que mais eu iria gostar.

Em seguida, comecei a receber emails de penis enlargement. Me perguntei: quem falou? Foi você, Suzana, sempre maldita? Ou foi você, Patrícia, eterna insatisfeita? Antes de divulgar nudes em represália, descobri quem tinha espalhado a notícia: algoritmo. Como todo homem tem pinto, é um cálculo simples (embora injusto). Quer dizer: saem caluniando a estatura peniana da pessoa, e quem que eu vou processar? A Nasa? Pitágoras?

Daí, fui olhar casa pra alugar em Ubatuba, o algoritmo me flagrou feito radar – e pronto: nunca mais pararam de me oferecer imóvel na praia. Depois, o Facebook começou a selecionar as notícias que eu deveria ler primeiro. Sem eu pedir. De novo: algoritmo.

Comecei a ficar cabreiro. Que história é essa? Quem é o Facebook para escolher (por mim) o que eu tenho que ler antes?

Tudo bem que esta seleção é feita a partir do meu hábito de leituras, mas e se eu enlouquecer? E se eu resolver ler só posts da Ronda Rousey? Estão reclamando da minha centimetragem; posso muito bem querer rever meus princípios literários.

Veio o Tinder. Que escolhe casais a partir de – adivinhem? – algoritmos. Os namorados passaram a se conhecer dentro de um padrão aritmético – e não mais num bar. A imprevisibilidade caótica de uma união, o irracional do amor, o óleo na água, tudo foi pra cucuia. O romance tem mais a ver com o sujeito que inventa as fórmulas, provavelmente algum nerd ruivo de cueca aparecendo, do que com a outra parte do casal.

Tudo virou previsível, matemático e impessoal. E não está acontecendo só nos ambientes virtuais, não. As pessoas saem padronizadas da faculdade e MBAs, sem jogo de cintura, tomando decisões baseadas em modelos, regras e ordens globais.

Acham que o risco é arriscado, como se a vida não pedisse coragem. A humanidade está asfixiando justamente aquilo que nos faz seres biológicos: a intuição. A capacidade de, mesmo com tudo sugerindo o contrário, decidir confiando no instinto. No faro. Naquilo que fez Albert Einstein propor coisas que só agora, cem anos depois, encontram confirmação cabal.

Mas, não: as pessoas querem o controle, a segurança infalível da ciência. Preferem seguir a indicação amorosa do nerd ruivo de cueca aparecendo, que não dá um beijo tem seis meses – mas escreve um puta algoritmo.

Ele, sim, deve entender de relacionamentos. Ôpa. E de passeios no parque. E de cheiro no pescoço. E de Tom Jobim. E de margueritas. E de ciúmes. E de saudade.

Coisas muito lógicas mesmo.

Fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/xavecos-e-milongas/o-fim-da-intuicao/

February 17, 2016

Calor sem luz e luz sem calor

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- Jonathan Edwards

“Deus não quer nem aceitará de nós uma religião que consiste em desejos fracos, insípidos e sem vida, que mal conseguem nos afastar da indiferença. Em sua Palavra, ele insiste que devemos ser fervorosos de espírito e servi-lo de todo coração. A vida cristã contém elementos grandiosos demais para permanecermos apáticos.”

“O crente que possui apenas conhecimento doutrinário e teórico, sem emoção alguma, jamais alcançará a excelência da fé.”

“Nenhuma mudança significativa na vida acontece enquanto o coração não é profundamente afetado pela graça de Deus.”

“É preciso haver entendimento e também fervor, pois se o coração tiver calor sem luz, nada de divino ou celestial haverá nele. Por outro lado, a luz sem calor, uma mente repleta de noções e especulações, com o coração frio e indiferente, também nada terá de divino.”

“Condenar o entusiasmo e presumir que a emoção não passa de emoção é um grande e desnecessário erro. Ao mesmo tempo é bom lembrar que a intensidade do entusiasmo não constitui evidência de verdadeiras emoções religiosas. As Escrituras mostram que emoções intensas nem sempre são espirituais.”

“As falsas emoções se apresentam com muito mais facilidade do que as verdadeiras. A pompa e a visibilidade fazem parte da natureza da falsa espiritualidade, como acontecia com os fariseus.”

“Corrupção não mortificada no coração pode abafar o Espírito Santo.”

“Um cristão verdadeiro é dez vezes mais convicto das maldades de seu coração e de sua corrupção do que o cristão hipócrita.”

“O verdadeiro santo sente prazer imenso na santidade, a seus olhos não há nada mais belo.”

“A falta da graça e o domínio do pecado enfraquecem a visão do crente a ponto de a percepção ficar imprecisa. Como a pessoa daltônica, o crente que tem vida mundana não consegue julgar adequadamente as realidades espirituais.”

“O amor a Deus por interesse próprio é uma coisa e o amor a Deus por causa dEle mesmo é outra. Não pode haver confusão a esse respeito.”

“Precisamos considerar a humildade como uma das características mais essenciais do verdadeiro cristianismo.”

“O grande dever do cristão é negar a si mesmo. Primeiro, é preciso negar as inclinações e os prazeres mundanos; segundo, é preciso negar a auto-exaltação e renunciar à importância pessoal, esvaziando-se a si mesmo.”

“Pecado é fazer menos do que Deus pede de nós.”

“É sinal de desequilíbrio quando os crentes se ofendem com as características negativas de seus irmãos, como frieza ou inércia, mas, ao mesmo tempo, não se abalam com seus próprios defeitos e fraquezas. O verdadeiro cristão lamenta as duas situações e está pronto a discernir as falhas próprias e as alheias.”

“Há crentes que agem por impulsos. De repente se levantam, só para cair de novo, tornando-se relaxados e mundanos. São como a água abundante da chuva que engrossa o ribeirão por algum tempo. Depois que passa a chuva, o córrego quase seca. Com outra chuva, volta a se encher. Mas, o verdadeiro santo é como uma corrente alimentada por uma fonte viva que, embora aumente muito com a chuva e diminua na seca, nunca para de correr, como o Senhor prometeu (Jo 4.14).”

Há sempre espaço para a alma se expandir, até se tornar um oceano infinito.

“O crente zeloso persiste na prática cristã até o fim da vida. Nunca tira férias, nem limita essa prática a determinadas ocasiões.”

(Frases retiradas com permissão do livro “Uma Fé Mais Forte que as Emoções”, obra-prima escrita por Jonathan Edwards em 1746 e publicada em português pela Editora Palavra)

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/317/calor-sem-luz-e-luz-sem-calor

February 16, 2016

O paradoxo criativo da providência

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- Anderson Clayton Pires

“Fix you” é uma das letras musicais de maior impacto psicológico que a banda Coldplay já cantou. Nela, o paradoxo antropológico da ontologia da neo-modernidade se evidencia sem qualquer acanhamento. A experiência finitizante do “eu paradoxal” (Kirk Schneider) figura-se como anteparo de um sistema de crença oxidado, contingenciado pela ambiguidade de um horizonte ontológico pessimista, no qual a percepção “do eu, do mundo e do futuro” se apresenta como refém de um “triângulo das bermudas” capaz de exaurir da vida a alegria do encanto.

Esse é o famoso sintoma da “tríade da depressão” sublinhada por Aaron Beck, pai da Terapia Cognitiva. Na canção, reverbera-se sutilmente o “grito deprimido” de uma geração pandemicamente adoecida em sua dimensão psíquica. E isso não é falso alarme de uma cultura de tendência societária. O horizonte social de crescimento desse distúrbio afetivo parece ser apavorante, segundo a previsão da OMS para um futuro próximo. Ela (depressão) será a epidemia mais comum das próximas décadas. Como efeito cascata da expansão vertiginosa dessa psicopatologia, se deduz o inevitável aumento da prática de auto-negação ôntica (suicídio) em escala industrial.

Por essa razão, a música “Fix You” é cantada com melodia sorumbática, na qual se celebra, intencionalmente, a inapetência da alegria pelo cultivo de uma forma de vida com esperança reluzente. Ela evoca a “epifania do fogo” para contrastar com o “frio da alma” sentido pelo indivíduo deprimido. A euforia do medo está no substrato semântico da letra. A crença do “desamparo ontológico” parece estar escondida no diálogo imaginário “do eu com o tu misterioso”, que se afirma, no epicentro da poesia musical, como telos interior (Paul Tillich) de uma retórica “biografia reclamante”, contingenciada pelos “medos sem nomes” que nascem de cada experiência humana que se tem no mundo da vida.

Vive-se para sofrer, e com o sofrimento os indivíduos parecem aprender (precariamente) a resistir o elans impetuoso da pergunta pelo “sentido de tudo”, inclusive o do “nada” também. Não é de admirar que a discussão da metafísica clássica, mesmo a que foi trazida pelas habilidosas palavras do autor de Ensaio de Teodicéia (G. W. Leibniz), tenha se debruçado, apologeticamente, para evitar uma relação de tensionalidade auto excludente das variáveis “fé (pistis) e sofrimento humano (pathos)”.

A percepção da racionalidade operante de “crenças alcalinas”1 (gênero) se precariza no contexto existencial das “experiências páticas”. Falta luz (metáfora usada no Talmud para conotar “compreensão”) nesse espaço ontológico em que a “dor do desencanto” (razão destranscendente) produz baixa mobilidade psíquica do indivíduo.

Em termos psicológicos, isso preconiza a ideia de superaquecimento das cognições telodestrutivas (patonoesis). Esse apelo (hermenêutico) também aparece, intencionalmente, na estrutura semiótica da poesia musical cantada por Coldplay em “Fix You”.

A luz precisa “guiar/conduzir” quem se sente desamparado na vida; quem se sente travado na existência, caminhando com “algemas nos pés”. É provável que o “cárcere do ego”, reduzido em sua destranscendentalidade imediata, esteja nas reminiscências mal curadas. Ali pode haver um ponto de fixação paranóica. Infelizmente, passado não superado deixa feridas na psicologia do indivíduo, e não cicatrizes. Onde não há esperança, transbordam-se as memórias de autopunitividade. Não olha pra frente quem foi abduzido pelo espelho das “experiências mal significadas” do passado.

A elpiterapia (inspirada no indicativo logoterapêutico de Viktor Frankl), como proposta de tratamento psíquico para superação do medo do futuro na vida, pode ser um problema para quem se afixou no “histórico do imaginário” (contingenciamento psíquico).

As experiências acumuladas ao longo da vida produzem um “estoque de conhecimento” (Alfred Schütz), só que enviesado negativamente. A depressão é o status quo de uma realidade psíquica que deixa de fertilizar a “ontologia do presente” com perspectiva à transcendência da promessa (a vida pode mudar, sempre – mesmo quando não se acredita tanto).

Nesse sentido, a esperança tem sentido escatológico (hypomoné), pois ela carrega consigo a habilidade de finalizar cada parágrafo escrito, de uma carta autobiográfica, sempre com “reticência”, e nunca com “ponto final”.

O futuro (boas expectativas) condiciona a percepção do presente nela.

Assim, o já-agora ganha conotação de um “continuum”. Do “Fix You”, portanto, se deduz a potencialidade de uma realidade de vida que sugere “mobilidade ontológica”. De cada experiência que se vive, uma “metamorfousthe” (realidade de autotransformação) é esperada.

A banda Coldplay parece querer expressar com essa letra musical a crença matricial de uma expansão contínua da psicologia do indivíduo acontecendo no mundo, mesmo quando sujeita às estruturas de intersubjetividade que foram duramente contingenciadas pelos processos sociais/culturais. O ponto nevrálgico da canção aparece no retumbante “Fix You” (consertar você).

Sua fenomenologia hermenêutica desvela a existência de “mobilidades terapêuticas” ocorrendo na psicologia de um indivíduo que pode estar paralisado na vida por conta de adventos inesperados como os transtornos psíquicos. O “fix” sugere “movimento fertilizante” com vista à alteração do “funcionamento psíquico” de um ente-pessoa que se tornou precário, patológico.

A ideia de evolução, na psicologia clínica, evoca o sentido de superação que a “mudança” produz na vida de um indivíduo. Mudar é sujeitar a estagnação da indiferença a um “movimento teloterapêutico” que pode deslocar a atenção do desencanto para o foco da esperança. Desse funcionamento do capital esperante se infere a afirmação (ontogeracional) de uma psicoterapia acontecendo.

Mas “consertar algo” sugere vicejar outra realidade também: o “paradoxo da providência” (Paul Tillich). A reparação de um defeito só é factível quando uma coisa ou realidade sofre algum tipo de dano ou disfunção.

As crenças disfuncionais, de que nos fala Aaron Beck, são realidades psíquicas que diminuem ou comprometem a operacionalidade das “mobilidades terapêuticas” de um sistema de crença, o qual deveria funcionar normalmente a fim de tornar o indivíduo apto para enfrentar e superar seus próprios medos. A depressão, enquanto processo psíquico de estagnação da mobilidade do sistema de crenças, interfere diretamente na autopercepção do indivíduo, e o precariza funcionalmente. Quando depressivo, a sensação que este último tem é a de uma disfuncionalidade operacional de suas “crenças alcalinas” capitais, o que implica assumir a condição de insuperabilidade funcional autoimposta pela consciência.

Afugentar-se, na maioria dos casos, pode ser o único modo de “invisibilizar” do outro a autopercepção de fracasso na vida que o ego desenvolve então. Da metáfora: “os meus ossos envelheceram” (Salmos 32, 3), oriunda da poesia hebraica, se infere a fisiologia de uma crença oxidativa, com função patogeracional, produzindo uma desorizontalização radical do presente vivido.

Um sistema de crença “estragado” deporta o indivíduo do paraíso para as regiões sombrias mais insustentáveis da vida, sem qualquer horizonte de existência pensável. A paradoxalização implica, nesse sentido, o aumento da quantidade de problemas existentes em uma forma de vida, sem que haja perspectivas de solução ou enfrentamento para se propor a qualquer um deles. Dessa forma, o desespero figura-se quando a morte (disfuncionalidade ontológica) acontece antes do fim da vida (Soren Kierkegaard).

Existir com sistema de crença estragado é caminhar para o futuro com uma sensação de precarização operacional da vida; é caminhar sendo empurrado para um labirinto gigantesco, onde a única placa sinalizadora que existe é a do “sem saída”.

O “fim das possibilidades” é o marco contingencial do paradoxo da providência.

A perda de “um horizonte além do agora” é o ponto de afirmação ontológica das insuficiências operacionais da psicologia humana.

Mas para ser criativo, o paradoxo da providência tem que ser capaz de gerar “vida do nada” (“ex nihilo”).

Nesse caso, consertar uma realidade só é possível quando se admite que ela estragou-se por completo. Na polaridade “estrago e conserto” se têm a epifania de um paradoxo criativo. Não há compreensão de cura sem a afirmação da doença, nem da esperança sem a admissão do desencanto (depressão). As antinomias revelam a linguagem do paradoxo pela via da superação (a “suprassunção”, no pensamento hegeliano).

O “Fix You” revela-se, portanto, como uma promessa de “novo encontro”, de “novo sentido”, de “nova criação” (“kainê ktisis”).

O fim é o começo de uma outra realidade que se irrompe.

Não haveria alvorada sem o crepúsculo do dia. Dramatizar a perda é admitir-se refém de uma racionalidade capitalística, condição que torna difícil a admissão “do estrago” como parte de uma metodologia do paradoxo criativo presente no processo da vida.

O “morrendo morrerás”, afirmado na narrativa da segunda criação, transmuta-se, ganhando sua redenção através da linguagem poética do Evangelho da Graça: “(...) quem crê em mim, ainda que morra, viverá”.

A ressurreição é, pois, a linguagem do paradoxo criativo da providência na história da salvação. Nela, “o sim e o não” (sic et non) desvenda a “cratofania do novo”, a novidade do antigo que não é condenada ao esquecimento (anacronismo).

Que desdobramento para a psicologia da existência se pode deduzir dessa reflexão?

Das muitas possibilidades hermenêuticas existentes, “consertar alguém ou alguma realidade” é, antes de tudo, a promessa de revitalizar uma biografia semi-moribunda, mas não natimorta. Quando se constata que uma vida se estragou em sua contingencialidade, não se deve pensar, de forma dramática, que tudo está perdido (paradoxalização), ou que a existência no mundo está condenada ao esfacelamento ontológico.

Não!

A providência não deve ser compreendida apenas como interferência, mas como “polaridade ontológica do ser” (Paul Tillich).

Ela é a “capacidade criativa” presente em toda situação vivida. Não age (somente) “sobre”, mas “em” e “a partir” das realidades vivenciadas. Por isso, ela se apresenta de modo paradoxal. Ao se ver afirmado em canção: “Fix You”, se deve apreender dessa sentença que é possível, sim, ver renascer – mesmo para uma vida que sangra (depressão) – a capacidade auto-reparadora da vida ser plenamente recuperada pelo poder (anti-tanatofóbico) da graça divina.

O choque de esperança cura qualquer forma de depressão. Esse é um veredicto trans-racional da revelação bíblica. Não há como polemizar filosoficamente com esse axioma revelacional.

É como se numa situação limite, de extremo desencanto, se pudesse ouvir, como um sonoro sopro da providência, algo dizendo: “Ei!... Eu renovo tudo, inclusive você... Não importa o que aconteceu até aqui: eu faço novas todas as coisas”... Sempre! (descontingenciamento ontológico).

Nota:
1. Sobre esse tema, sugiro a leitura de PIRES, A. C.. Sistema de Estruturação de Crenças Sócio-interativo: estruturação de crenças, lógicas de interação e processos de contingenciamento. Psicólogo Informação, v. 17, p. 133-191, 2013.


Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/coldplay-e-o-paradoxo-criativo-da-providencia

February 15, 2016

Quem chama Deus de pai não escolhe irmão

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- Reinaldo Percinoto Júnior

Texto básico: Atos 11. 1-30

Textos de apoio
– Atos 10. 1-48
– Isaías 56. 1-7
– 1 Pedro 2. 4-10
– Deuteronômio 10.17-19
– Tiago 2. 1-8
– Salmo 145. 8-12

Introdução

A igreja cristã em Jerusalém, em franca expansão após a experiência do Pentecostes (Atos 2. 1-13), se vê diante de sucessivos desafios, tanto internos quanto externos. A crescente oposição por parte dos líderes religiosos e mestres da lei assume contornos mais violentos, culminando com a prisão e o apedrejamento de Estêvão, um dos lideres da nascente comunidade cristã (Atos 6 e 7). E em meio a esta conturbada atmosfera desencadeia-se uma forte perseguição contra a igreja em Jerusalém, de modo que a grande maioria dos discípulos precisam se refugiar nas regiões vizinhas à cidade (Atos 8. 1-3).
Como resultado, o Evangelho começa a ser “semeado” em solos aparentemente nunca antes visitados. A perseguição visava a destruição, mas acabou provocando a expansão da igreja! O mesmo Espírito, Senhor da história, que impulsionou os discípulos a saírem do cenáculo para as ruas de Jerusalém, agora conduz a igreja para fora de Jerusalém em direção ao mundo não judaico!
Paralelamente a esta positiva expansão, surgiram novas e desafiadoras questões que precisavam ser enfrentadas seriamente, sob pena de que a comunidade cristão sofresse uma seríssima divisão logo em seus primórdios (Atos 11). Essas questões diziam respeito à própria identidade e missão da igreja: quem eram de fato os verdadeiros descendentes de Abraão e, consequentemente, herdeiros legítimos das promessas de pertencimento ao exclusivo “povo de Deus”? A igreja de Cristo, recém-formada, estava limitada por alguma fronteira (étnica, religiosa, social, geográficas, etc) ou não? Em suma, o que realmente significava, e quem poderia fazer parte, da “igreja”, o Corpo de Cristo, o povo de Deus?

Para entender o que a Bíblia fala

1. Quando Pedro regressou à Jerusalém, que tipo de recepção o aguardava (vv. 1-3)? Por que os membros do “partido dos circuncisos” estavam tão indignados?
2. A visão experimentada por Pedro, da parte de Deus, representava um duro desafio para os judeus e suas leis alimentares (vv. 4-10). Porém, a “metáfora” presente na visão apontava para um desafio mais radical ainda para os cristãos judeus – não chamar impuro o que Deus purificou. Que desafio era este?
3. Qual foi a prova final e mais convincente, para Pedro, de que Deus estava agindo também entre os gentios (vv. 15-17)? E como os demais cristãos de Jerusalém reagiram diante de tal testemunho (v. 18)?
4. Ao mesmo tempo, o Evangelho era pregado aos gentios em Antioquia, com resultados impressionantes (vv. 19-21). Que tipo de ajuda foi providenciada para os novos crentes naquela cidade (vv. 22-26)? Que cuidado especial a igreja de Jerusalém demonstrou ao enviar especificamente a Barnabé?
5. A maravilhosa graça de Deus criou oportunidades para que os cristãos judeus e gentios pudessem expressar comunhão e auxílio mútuo em suas necessidades (vv. 25-30). De que maneira percebemos aqui o verdadeiro significado de “cristão” (v.26b) sendo mais profundamente descoberto e vivido no contexto de uma igreja multicultural?

Hora de Avançar

(…) muitas vezes, os fatores que mais afetam a vida e a missão da igreja não são resultado de planejamento humano. Irrompem no nosso caminho e nos surpreendem, como a chuva refrescante num dia de sol e calor.

Para pensar

Os judeus que haviam abraçado a fé em Jesus consideravam-se os legítimos herdeiros das promessas de benção e salvação da parte de Deus, proferidas inicialmente a Abraão (Gênesis 12. 1-3), e que ecoaram por todo o Antigo Testamento. E eram mesmo. Eram herdeiros legítimos mas não exclusivos! Deus tinha um plano muito mais amplo: abençoar, por meio da fé em Cristo, “todas as famílias da Terra” e toda a sua criação.
A eleição de Israel nunca significou uma rejeição das demais nações, mas ao contrário, tinha a expressa intenção de que elas fossem abençoadas por meio do povo eleito. “Deus havia escolhido Israel em conexão com o propósito dele para o mundo, não somente para Israel” (Christopher Wright). Por todo o Antigo Testamento Deus havia revelado sua intenção, e convocado o povo da antiga aliança para que manifestasse por meio de sua vida pessoal e comunitária, o desejo de Deus de ser conhecido por todas as nações.
Todas as promessas veterotestamentárias tiveram seu cumprimento “em” e “por meio de” Jesus. Ele era o “descendente”, por meio do qual “todas as famílias da Terra” seriam abençoadas com a certeza da libertação salvadora de Deus. No nosso estudo, Deus está desenvolvendo um novo estágio na história da redenção – agora por meio dos discípulos de Jesus. Assim como o povo de Israel, os judeus convertidos à Cristo precisavam descobrir e aprender que os planos de Deus para Sua igreja eram mais abrangentes e inclusivos: por meio da nova fé em Jesus “não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3. 28).

O que disseram

Há muita coisa que podemos entender sobre os caminhos de Deus, assim como há muita coisa que não podemos. Os caminhos de Deus não contradizem nossa razão, mas vão além dela. A revelação que Cristo nos traz coloca todos os fragmentos de nosso conhecimento em uma verdade completa. (Eugene Peterson, “Um Ano com Jesus”, Ed. Ultimato)

Para responder

1. Pedro e os cristãos em Jerusalém, diante da experiência na casa de Cornélio e em Antioquia, precisaram “construir” uma nova perspectiva sobre a presença e ação de Deus entre pessoas e lugares talvez inesperados. Talvez, hoje em dia, também nos sintamos desconfortáveis com determinadas pessoas, grupos e até mesmo lugares onde Deus possa estar agindo. Como você costuma “manejar” a necessidade de uma nova perspectiva em situações assim? Com resistência? Com empolgação? Com incertezas?
2. Às vezes, mesmo em se tratando de espaços já cristãos (igreja, congregação, grupos menores, células, etc), temos a tendência de subestimar o que já tem sido feito, e superestimar a nossa própria contribuição! Como o exemplo de Barnabé, ao ser enviado pela igreja de Jerusalém para acompanhar o que Deus estava realizando em Antioquia, pode nos ajudar a ter uma postura mais humilde e construtiva?

Eu e Deus

Peça a Deus que lhe dê discernimento espiritual para não considerar “impuro” aquilo que Ele já “purificou”, e para perceber Sua presença e ação em pessoas, grupos e lugares que talvez você considere “menos santos” do que na verdade o são!
Estudo bíblico desenvolvido a partir do artigo A metanoia de uma igreja, do colunista e escritor René Padilla, publicado na edição 358 da revista Ultimato.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/vida-crista/quem-chama-deus-de-pai-nao-escolhe-irmao/

February 14, 2016

O coração como local de encontro

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A arte da comunhão 
- pr. Ricardo Barbosa

Uma das reclamações mais freqüentes em nossas igrejas é a falta de amizades sinceras, amor verdadeiro, relacionamentos profundos. Podemos ter uma boa estrutura eclesiástica, boa doutrina, boa música, bons programas, mas nada disto é suficiente para atender a necessidade humana de ser amado, aceito, acolhido, reconhecido e valorizado. Por um tempo, os programas ajudam a preencher este vazio, a música parece criar um clima saudável, o trabalho e a participação nos programas dão a sensação de que é disto que precisamos, porém mais cedo do que imaginamos, nos vemos de novo frustrados com a superficialidade afetiva, a hipocrisia dos que nos cercam, a ausência de amizades sinceras e profundas. 

A conversão é a transformação do “eu” solitário num “nós” comunitário. É o chamado para sermos amigos de Deus e dos nossos irmãos. As parábolas e imagens do reino glorioso de Cristo sempre envolvem mesas fartas, festas, multidão de todas as línguas, tribos, raças e nações; Paulo nos fala de uma nova família, um corpo; João nos fala de um rebanho e de uma cidade — essas imagens revelam que o reino de Deus é o lugar onde as pessoas se encontram na comunhão festiva com Cristo. 

Porém, para muitos, a igreja não tem sido este lugar; pelo contrário, tem sido um lugar de desilusão, frustração e solidão. Um lugar de mágoas, ressentimentos e traições. Sei que existem aqueles que se sentem acolhidos e amados em suas comunidades, mas esta não é a regra geral. No entanto, mesmo os que se sentem bem nem sempre experimentam uma verdadeira comunhão de amizade e amor. 

Grande parte do fracasso na comunhão deve-se aos falsos ideais e às fantasias que projetamos. Para Bonhoeffer, a comunhão falha porque o cristão traz em sua bagagem “uma ideia bem definida de como deve ser a vida cristã em comum, e se empenhará por realizar esta ideia... Qualquer ideal humano introduzido na comunhão cristã perturba a comunhão autêntica e há que ser eliminada, para que a comunhão autêntica possa sobreviver”. Para ele, o ideal que cada um traz para a igreja acaba sendo maior que a própria comunhão e termina destruindo-a. 

As imagens bíblicas de banquete, mesa farta cheia de amigos, nos ajudam a refletir melhor sobre o significado da comunhão e da amizade. Quem viu o filme ou leu o livro A Festa de Babette percebe isto. Babette chega a um vilarejo na Dinamarca fugida da guerra civil em Paris e emprega-se na casa de duas filhas de um rígido pastor luterano. As irmãs seguem à risca os rigores da sua fé pietista, que as proíbe de qualquer prazer na vida, sobretudo o material. Um dia, Babette descobre que ganhou um prêmio na loteria e, em vez de voltar para a França, onde havia sido uma exímia cozinheira em Paris, pede permissão para preparar um jantar em comemoração do centésimo aniversário do pastor. 

Sob o olhar suspeito das irmãs, Babette prepara o banquete. Durante o jantar, o sabor de cada prato, o aroma do vinho, o prazer de cada mordida, foi lentamente quebrando a frieza, demolindo as antigas mágoas e transformando aquela mesa num encontro de corações libertos. Quando terminou, uma das filhas, Philippa, assustada pelo fato de que Babette teria usado toda a fortuna da loteria naquele jantar, disse: “Não deveria ter gasto tudo o que tinha por nossa causa”. Depois de pensar um pouco, Babette respondeu: “Por sua causa?”, retrucou. “Não, foi por minha causa”. Depois disse: “Sou uma grande artista”. Após algum silêncio, Martine, a outra irmã, perguntou: “Então vai ser pobre o resto da vida, Babette”? Babette sorriu e disse: “Não, nunca vou ser pobre. Já lhes disse que sou uma grande artista. Uma grande artista nunca é pobre”.

Comunhão e amizade é o trabalho de artistas. A riqueza de um artista nasce de sua capacidade de oferecer o melhor. Ao oferecer o melhor que podia, Babette abençoou a si e aqueles que provaram do seu dom

Na arte da construção da comunhão e da amizade, precisamos oferecer o que temos de melhor, seja uma boa refeição ou uma boa música, uma boa conversa ou um lindo sorriso. 

Não foi isto que Cristo fez? 

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/301/a-arte-da-comunhao
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