November 27, 2017

Bonhoefferiano

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- Ricardo Gondim

Não sou inédito e não gosto de rótulos, principalmente aqueles que prendem dentro de molduras. Todavia, venho à procura de me inserir, provisoriamente, em algum rótulo e descobri que sou bonhoefferiano. ]

Você conhece Dietrich Bonhoeffer? Já leu alguma coisa sobre sua vida e sobre o que escreveu?

Bonhoeffer foi um teólogo e pastor luterano, nascido em 1906 na cidade de Breslau na Alemanha. Depois de defender seu doutorado em Berlim, Bonhoeffer estudou por um ano no legendário Union Theological Seminary nos Estados Unidos. Mas ele voltou para seu país, inquieto com os acontecimentos históricos.

Com a ascensão e popularidade de Hitler, diversos pastores luteranos se reuniram para redigir uma declaração conjunta que negava lealdade a Hitler e afirmava: “Jesus Cristo e não homem algum ou o Estado é nosso único Salvador”.

Com essa afronta ao nazismo, todos os que formaram tal resistência ao regime foram considerados inimigos. Bonhoeffer foi preso. Depois de ser transferido de uma prisão para outra, acabou morrendo enforcado em 9 de abril de 1945. Sua morte aconteceu poucas semanas antes dos aliados liberarem o campo de concentração que o mantinha encarcerado.

Bonhoeffer escreveu inúmeras cartas desde a prisão. Em suas epístolas, o jovem pastor explicitou uma forma diferente de perceber a relação de Deus com o mundo. Li todas as cartas que ele trocou com o cunhado e família. Em determinado ponto da correspondência, despertei para o tanto que não sou original.

Lá atrás, naquela década, em meio às atrocidades dos campos de concentração, Bonhoeffer intuiu sobre o que ainda engatinho hoje: “Deus nos faz saber que temos que viver como pessoas que dão conta da vida sem Deus. O Deus que está conosco é o Deus que nos abandona (Mc 15.34)”! Todo cuidado aqui. Fique com a frase: “O Deus que está conosco”.

Bonhoeffer também cunhou o termo “deus ex machina” para descrever a ideia que parece ter força de acalmar a cabeça dos religiosos, principalmente dos que carecem de um “tapa buracos celestial”.  As pessoas querem e desesperadamente buscam um Deus que possa ser acionado em tempos difíceis. Para Bonhoeffer, porém, essa divindade não existe. E pior, ela faz com que o próprio Deus se torne “dispensável” em tempo de vacas gordas. Ele só é acionado quando homens e mulheres topam com os limites de sua capacidade. Assim a fé se torna utilitária. Deus é amado pelo que ele pode dar, nunca por quem é. E deixa evidente, cada vez mais, o caminho da religião: ela só se interessa por Deus se ele for “usável”.

Penso o contrário dessa ideia útil e interesseira sobre Deus. Bem como não creio em milagres vindos de fora para dentro. Não creio na fé que infantiliza. Creio que Deus só age a partir das ações humanas. Creio que só existe solução para o rio poluído se houver consciência sócio-ambiental – ou vergonha na cara. Creio que a epidemia do cólera só será resolvida com ações que redundem em melhoria da rede de esgotos.

Creio que basta uma ínfima pitada de flúor para melhorar a saúde dentária. Creio que racismo e tortura devam ser crimes em tribunais humanos. Creio que se o judiciário se mantiver independente, reduzem-se os crimes de corrupção.

Estou convicto de que Deus quer que vivamos no mundo sem a hipótese de um dia acontecerem salvamentos espetaculares. Concordo com Bonhoeffer, uma espiritualidade madura consiste em “viver perante e com Deus, mas sem Deus”.

Junto ao pastor luterano, não só aceito a afirmação neotestamentária de que Deus é amor, como tento tornar isso real em minha vida. Confesso: em tempos passados já me esmerei em descrever o tamanho do poder de Deus. Acontece que naquela época eu não tentava juntar o tico e o teco: amor e poder são antagônicos. Quem ama jamais usa poder. E quem estabelece qualquer relacionamento alicerçado sobre o poder, não ama. Com o passar do tempo, esse raciocínio se tornou simples para mim, tanto que hoje entendo porque Paulo escreveu: “o amor tudo sofre”.

Diante das atrocidades que contemplou na prisão nazista, Bonhoeffer escreveu: “Deus deixa-se empurrar para fora do mundo até a cruz; Deus é impotente e fraco no mundo e, exatamente, assim ele está conosco e nos ajuda”.

Na religiosidade que precisa provar que Deus é o máximo de potência, as ideias de Bonhoeffer parecem loucas. Para mim, são lindas. Gosto dessa frase: “Em Mateus 8.17 está muito claro que Cristo não ajuda em virtude da sua onipotência, mas da sua fraqueza e do seu sofrimento! As religiões competem entre si em busca de autenticar seu Deus como o maior e mais forte. Javé ou Zeus? Jesus ou Maomé? Nossa Senhora ou Iemanjá? Segundo Bonhoeffer, nesse ponto reside a diferença entre Jesus e todas as religiões: “A religiosidade do ser humano o remete, na sua necessidade ou aflição, ao ‘deus ex-machina’. A Bíblia remete o ser humano à impotência e ao sofrimento de Deus, somente o Deus sofredor pode ajudar”.

Hoje, ao reler “Resistência e Submissão – Cartas e anotações escritas na prisão” (Editora Sinodal), vejo que não sou original. Nem estou ficando doido. Eu era um bonhoefferiano e não sabia.

Soli Deo Gloria

Fonte: http://www.ricardogondim.com.br/estudos/sou-bonhofferiano/

November 26, 2017

Os anônimos na história de Deus

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- Felipe Fulanetto

Eu sou fascinado por filmes, principalmente drama e ação. E uma das coisas mais interessantes na escolha de filmes é saner quem forma o elenco para decidir se assistiremos ou não. Os protagonistas são os que chamam atenção e fazem todos delirar e querer autógrafo e selfies no meio da multidão. São eles que levam os créditos pelo sucesso de toda a equipe; são os que ganham títulos e honrarias. 

No entanto, no reino de Deus, quem é o protagonista? Quem são os heróis?

Quando olhamos para Atos 10 na conversão de Cornélio, o protagonista não é o próprio centurião, muito menos os anjos ou ainda Pedro, mas definitivamente é o próprio Deus que está agindo para salvar uma família inteira. E todos envolvidos nessa história são apenas coadjuvantes, secundários, ajudantes do grande Protagonista da cena. Em contrapartida, no mundo real, nós gostamos de criar ícones gospel, desde pastores e músicos até missionários.

É bem verdade que precisamos de modelos na fé para inspirar a nova geração e conclamar como Paulo disse “sedes meus imitadores como sou de Cristo” (1 Co 11:1), mas estou convencido que temos valorizado demasiadamente pessoas famosas, os figurões dos congressos, e esquecido dos anônimos. São estes que não tem seus nomes escritos no cronograma de eventos, não tem suas biográficas publicadas, não são convidados para podcasts ou possuem canais de youtube com milhares e milhões de inscritos.

Quando terminei meu período missionário no Peru, recebi uma honraria por ter plantado uma igreja entre o povo Chachani. No entanto, o que poucos sabiam é que durante mais de 2 anos uma missionária norte-americana chamada Kindra, que mal falava espanhol, evangelizou crianças e adultos sem aparente sucesso em conversões, mas ela arou a terra para o que Deus iria fazer. 

São estes anônimos que não recebem títulos, mas fazem toda a diferença no reino de Deus

Como os anônimos de Antioquia, que plantaram a igreja missionária onde foram chamados primeiramente cristãos (Atos 11); como a escrava de Naamã, que sem ela não haveria milagre (2 Reis 5); como a mãe de Rufo, que cuidou de Paulo como se fosse sua mãe (Romanos 16:13); como Jasom, que hospedou os apóstolos na cidade Tessalônica (Atos 17); entre outros. O livro de Atos termina sem conclusão porque demonstra que quem está escrevendo a história é o Senhor, através de milhares e milhares de anônimos que tem pago o preço, colocado suas vidas em risco e alcançado os perdidos. 

Que o Senhor nos ajude a sermos seus coadjuvantes, sem buscar a glória e prestígio humano, mas almejar a glória daquele que nos arregimentou, vencendo o tentador desafio que o pastor queniano Mutua Mahiaini disse em referência a João Batista e Jesus: “A escolha que eu tenho todo o tempo é se eu vou ser um nome ou ter uma voz”.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/caminhosdamissao/2017/12/05/os-anonimos-na-historia-de-deus/

November 24, 2017

Happiness, a escravidão moderna

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Vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=S30CWvBDXSI

- Ricardo Barbosa
 
O historiador Theodore Zeldin, em seu livro “Uma História Íntima da Humanidade”, vê a história como meio para interpretar as experiências pessoais e emocionais. Um de seus personagens é uma mulher frustrada com a vida e com sua incapacidade de mudar sua realidade. Ela se vê presa num sistema. Zeldin mostra que a escravidão, no passado, foi sustentada por três razões principais. A primeira foi o medo. As pessoas aceitavam os sofrimentos e humilhações impostos por reis e senhores porque tinham medo da morte e das consequências de uma liberdade sem segurança. Para ele “o medo sempre foi mais poderoso que o desejo de liberdade”.
 
A segunda razão é que os seres humanos tornaram-se escravos voluntariamente. A forma de se escapar da responsabilidade que a realidade impõe é sujeitar-se a algum tipo de dominação. A terceira é que o escravo do passado é, surpreendentemente, o ancestral do executivo e burocrata de hoje. No passado, os homens livres, que eram parte de uma pequena elite, não trabalhavam, consideravam indigno trabalhar para os outros. Somente os escravos trabalhavam.
 
De certa forma, a escravidão continua. No passado, famintos vendiam seus corpos como escravos; hoje o corpo continua sendo oferecido como mercadoria para pagar aluguel e colocar comida na mesa. No passado, os escravos trabalhavam em troca de comida, roupa e moradia; hoje uma grande massa de operários trabalha e mal consegue pagar pela comida, roupa e moradia. Executivos trabalham doze horas por dia, às vezes sete dias por semana, para manter algum acionista milionário em seu iate no Mediterrâneo. É claro que recebem um bom salário pelo trabalho, mas no passado os escravos mais sofisticados também eram pagos. Segundo Zeldin, no passado muitos escravos se faziam eunucos e abriam mão de ter uma família para se dedicarem aos seus senhores. Hoje muitos profissionais não querem ter filhos e sacrificam suas famílias em nome da carreira.
 
A liberdade não consiste num conjunto de leis que garantem algum direito, nem na ilusão de que ser livre é fazer o que deseja. Mesmo sabendo que tenho o direito de ir e vir, pesa sobre mim a escolha do lugar para onde quero ir e quando devo voltar. Mesmo sendo livre para fazer o que desejar, pesarão sobre mim as consequências do meu desejo.
 
Não somos livres, pelo menos não no sentido que muitos apregoam. Os adultos trabalham -- e trabalham para alguém, mesmo quando são donos do seu negócio. Qualquer escolha livre implica a renúncia de outras possibilidades. E isso limita a liberdade. Talvez a nossa única liberdade seja a de escolher a quem servir. 
 
A condição de escravos traz sempre algum tipo de frustração. Numa cultura narcisista, o fracasso é inaceitável e a realidade, insuportável. No entanto, todos nós fracassamos, e a realidade, quase sempre, é dolorosa. As frustrações são fruto de nossas limitações -- limitações que insistimos em não aceitar.
 
“Negar a morte, não visitar os cemitérios, não vestir luto, tudo isto parecia uma afirmação da vida, e de fato o foi em certa medida. Mas, paradoxalmente, acabou se transformando numa armadilha, mais uma das muitas que a sociedade moderna fabricou para que o homem não sinta as situações limite, aquelas em que nosso mundo desaba, as únicas capazes de nos despertar desta inércia que nos move” -- observou o escritor argentino Ernesto Sábato (1911-2011).
 
A consciência de quem somos e quem Deus é nos ajuda a lidar com o dilema da escravidão e das frustrações. Reconhecer que somos pecadores e que vivemos num mundo marcado pela queda nos ajuda a aceitar os espinhos da vida e o lugar do suor para ter o pão de cada dia. Reconhecer Deus, em seu Filho Jesus Cristo, nos ajuda a perceber que somente um ser totalmente livre pode oferecer liberdade. Seguir a Cristo é colocar-se sob a autoridade do único que pode nos conduzir no caminho da liberdade. É por isso que Jesus afirma: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”.  
 
A escravidão moderna não pode ser simplesmente abolida. A solução estaria em se ter a coragem de escolher a quem servir. Jesus disse: “Não podeis servir a Deus e às riquezas”. É impossível agradar a ambos. 

Somente as escolhas feitas por amor refletem a liberdade humana.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/338/escravos-modernos

November 22, 2017

Cozinhar, servir e amar

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- Jeverton “Magrão” Ledo

O exercício de recordar os diferentes momentos passados nos ajuda a manter vivas em nossos corações as pessoas queridas e as lições aprendidas. Tenho boas lembranças dos aromas e sabores que perfumavam nossa casa quando eu era criança. Mamãe é daquelas cozinheiras de “mão cheia”. Cozinha diferentes pratos, sobremesas que dão água na boca, e arranca elogios de paladares exigentes.

Mesmo sem ter a noção exata, ainda pequeno eu já era curioso, queria entender como é que de um par de pequenas mãos saiam pratos tão deliciosos. Tudo isso, claro, nos remete à mesa, reunião de família, visita de amigos.

Hospitalidade na simplicidade do partir o pão, compartilhar momentos bons e outros não tanto.

A alegria do anúncio de um casamento, da chegada do 1o. filho… Isso é vida, vivida no seu dia-a-dia. O tempo passa, a gente cresce, sai de casa e vai se percebendo em nossos pais. A curiosidade de criança virou uma paixão, por pouco não me tornei chef. Mas assim como minha mãe, em muitos momentos escolho a cozinha, os temperos, o tempo que costumo chamar de terapêutico. Afinal sou daqueles que quando cozinha gosta de estar sozinho. Explorando e descobrindo novos sabores. Sabores que quero sentir espalhados pela casa. Na minha, na casa de amigos, na de futuros amigos. Cozinhar abre portas!

Ao longo dos anos tive boas experiências, vivi diferentes momentos. Fui apresentado a outras culinárias, sabores exóticos, me vi trocando receitas em certos encontros, guardando segredos ou despertando curiosidade. “Opa, aqui nessa receita tem noz-moscada?”. E tudo podia virar uma brincadeira de desvendar os mistérios da cozinha.

Viver o cristianismo é compartilhar e não há melhor lugar do que à mesa.

Mesa que traz a presença do Mestre, com palavras que inundam o lugar de graça, perdão e compaixão. Sigo cozinhando, exercendo o ofício de servir, mantendo a casa aberta e a mesa posta e colorida. E assim, ao me permitir conhecer o outro, que por vezes parece se encontrar tão distante, vou ganhando uma percepção mais clara de mim mesmo.

Nesse vivenciar de outras culturas, gostos e costumes, o ato de cozinhar tem servido como ferramenta para quebrar barreiras, vencer as diferenças e cultivar um jardim regado de amor.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/11/30/cozinhar-servir-e-amar/

November 21, 2017

O que precisamos saber sobre alimentação e fome no mundo

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Comida é um tema abrangente: pode representar encontro, partilha e celebração como também motivo de lamento e preocupação.

Enquanto nas regiões em desenvolvimento os conflitos, as guerras e os desastres naturais causam a escassez de comida e a má nutrição, em outras partes do mundo, mesmo onde há larga produção de alimentos, muitas pessoas são afetadas pelo desperdício ou adoecem pelo consumo exagerado de alimentos pouco saudáveis.

O que temos a ver com a fome no mundo, o desperdício de alimentos, o aumento na taxa de obesidade e a má nutrição das crianças?

A fim de chamar a atenção para um assunto tão importante, listamos algumas informações, artigos e recursos que podem ajudar cristãos a refletir, orar e, quem sabe, incentivá-los a desenvolver ações que respondam ao chamado da boa mordomia da criação.

30% de toda a comida produzida no mundo vai parar no lixo

1,3 bilhão de toneladas de comida é desperdiçada ou se perde ao longo das cadeias produtivas de alimentos. Na América Latina e Caribe, 15% de tudo que é produzido na região é perdido ou desperdiçado, o que daria para alimentar mais de 30 milhões de pessoas. leia mais

A fome e a obesidade estão aumentando no mundo

A má nutrição está diretamente ligada ao sobrepeso e à obesidade, que têm aumentado consideravelmente.

Na América Latina e no Caribe, a prevalência de meninas e meninos menores de 5 anos com sobrepeso e obesidade afeta atualmente 3,9 milhões de crianças. leia mais

Conflitos são grande causa da fome

Cerca de 60% das 815 milhões de pessoas que sofrem com a fome atualmente vivem em regiões de guerra.

Três quartos das crianças desnutridas do mundo também estão em países afetados por confrontos. Cerca de 80% dos recursos do Programa Mundial de Alimentos (PMA) estão sendo direcionados a regiões afetadas por conflitos.  leia mais

Má nutrição poderá afetar mais da metade população mundial até 2030

Atualmente, mais de 2 bilhões de pessoas sofrem de alguma forma de deficiência nutricional e cerca de 1,9 bilhão de indivíduos têm sobrepeso — desses, 600 milhões são obesos.  leia mais

Cerca de 3,1 milhões de crianças morrem de fome a cada ano

A má nutrição causou quase metade (45%) das mortes em crianças menores de cinco anos em 2011.

Crianças que são mal nutridas sofrem até 160 dias de doença a cada ano. A desnutrição aumenta o impacto de todas as doenças como o sarampo e a malária. >> leia mais
Em países pobres, alimentar-se adequadamente é uma luta diária. Em situações de guerra, comer é uma batalha perdida.
David Beasley, diretor do Programa Mundial de Alimentos na ONU

A comida é primeiro presente, o primeiro mandamento e a primeira bênção de Deus

A mesa é um teste: podemos confiar em Deus para a nossa provisão e viver em constante atitude de ação de graças? leia mais

Santa Ceia transformada em comes e bebes

Os mais abastados levavam comida sofisticada e em maior quantidade. Os mais pobres levavam comida simples e em menor quantidade. Tudo indica que o ágape dos coríntios era uma grande hipocrisia e a Santa Ceia, uma profanação. leia mais

Jejum não é (apenas) deixar de comer

O jejum não é uma armacontra Deus” (no sentido de manipulá-lo), mas uma arma a favor de “nós mesmos”, um meio de revelar aquilo que nos controla e de lembrar-nos de que a vida é um dom divino. leia mais

Justiça faz-se com amor

A noção da igualdade intrínseca entre todos os seres humanos é a base de sustentação de todos os direitos humanos. Todo mundo tem direito a ter direito. leia mais

O valor dos alimentos

Os cristãos são chamados a ser bons mordomos. Contudo, os alimentos são frequentemente desperdiçados por não serem bem armazenados ou conservados.

Como aproveitar ao máximo os alimentos que plantamos, compramos ou que nos foram dados?

Veja dicas práticas, seguras e baratas de armazenamento e conservação alimentos, além de um guia sobre como fazer alimentos de desmame para bebês. [Revista Passo a Passo 94]

Segurança alimentar

O alimento é uma necessidade e um direito humano básico.

A falta de alimentos de boa qualidade suficientes pode provocar doenças e mortes.

Há tópicos importantes relacionados com a segurança alimentar e maneiras práticas de melhorar a situação, como artigos sobre bancos de cereais, gestão natural de pragas, agricultura de conservação e hortas flutuantes. [Revista Passo a Passo 77]

Como aumentar o valor dos alimentos

As boas técnicas de armazenamento não só aumentam o valor dos alimentos, mas também podem evitar o risco dos problemas de saúde causados por grãos mofados.

Existem maneiras simples e baratas de várias partes do mundo para aumentar o valor dos alimentos fritando-os, acrescentando verduras, ervas e legumes; conservando e processando os alimentos. [Revista Passo a Passo 65]

Nutrição

Os primeiros anos de vida é um dos estágios mais importantes da nutrição.

Dois terços das mortes de crianças pequenas entre 0 e 4 anos de idade nos países do 3o. Mundo estão associadas à má-nutrição.

Os tipos de alimentos dados e a maneira como os bebês são incentivados a comer são extremamente importantes.

Bebês saudáveis e bem nutridos crescem e transformam-se em crianças mais capazes de combater as doenças. [Passo a Passo 52]

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato/2017/11/16/o-que-a-igreja-precisa-saber-sobre-alimentacao-e-fome-no-mundo/

November 20, 2017

O 1o. presente, o 1o. mandamento e a 1a. bênção de Deus é a comida ; )

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- Paul Stevens
A primeira e a última refeição

O primeiro presente para Adão e Eva, o primeiro mandamento e a primeira bênção de Deus, é a comida: “Disse Deus: “Eis que lhes dou todas as plantas que nascem em toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes. Elas servirão de alimento para vocês” (Gn 1.29). Mas o primeiro pecado também aconteceu no contexto do comer.

Adão e Eva estavam alojados em um jardim-santuário para desfrutar da comunhão com Deus, para promover comunhão e para serem cocriadores com Deus – tudo na presença dele. Mas, como a serpente havia indicado, a árvore do conhecimento representava a tentação de serem independentes de Deus – “ímpios” como Esaú, citando Hebreus novamente.

O primeiro casal poderia fazer uma refeição com o diabo e quebrar a comunhão com Deus, exatamente como aconteceu. Quando eles viram que ela era “boa de comer” (uma questão de provisão), “agradável aos olhos” (esteticamente bela) e “desejável para dar entendimento” (obtenção de poder), comeram. 

Por que o pecado entrou na família humana por meio de uma refeição comum? Seria porque não existe algo como uma refeição comum?

Falando sobre isso com grande profundidade, Leon Kass diz: Embora a árvore do conhecimento do bem e do mal seja apenas uma metáfora – o conhecimento não dá em árvores –, a imagem sugere uma clara relação entre a autonomia e a voracidade humanas, ao representar o limite da autonomia na forma de um limite para a voracidade… Deus buscou proteger o homem da expansão de seus desejos para além do naturalmente necessário, ou da substituição do desejo dado pela natureza pelos desejos criados por nossa própria mente e imaginação. Essas perspectivas tentadoras, porém perigosas – de autonomia, escolha, independência e aspiração pelo controle pleno, e do desejo emancipado e insaciável – estão sempre presentes no centro da vida humana… Quando a voz da razão despertou, e a simples obediência foi questionada (tornando-se, portanto, não mais possível), os desejos do homem começaram a sobressair. Embora não soubesse exatamente o que isso significava, o homem imaginou que seus olhos seriam abertos e ele seria como deus, ou seja, autossuficiente, autônomo, independente, conhecedor, talvez imortal e, por fim, livre. Assim foi a promessa da serpente – a voz suave que fez a primeira pergunta do mundo e, dessa forma, perturbou sua paz para sempre.

Jesus foi igualmente tentado no contexto do comer. Tendo jejuado por quarenta dias no deserto, ele estava com fome, e Satanás o convidou para usar seus poderes sobrenaturais transformando pedras em pães. A resposta de Jesus é profunda: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Jesus estava, de fato, citando Deuteronômio 8, em que a questão não é viver baseado nas Escrituras, mas depender daquilo que Deus dá de si (que é o verdadeiro sentido do discurso de Deus). “Assim, ele os humilhou e os deixou passar fome. Mas depois os sustentou com maná… para mostrar-lhes que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor” (Dt 8.3). 

Assim, a mesa é um teste: podemos confiar em Deus para a nossa provisão e viver em constante atitude de ação de graças?

Ao deixar um memorial de si, não deixa um livro, mas uma refeição

Porque Jesus era e é Deus, o Deus que se doa (a Palavra), ele se autodefine e define a sua missão ao usar o imaginário da comida: “Eu sou o pão da vida”. Ele nos convida a comê-lo. 

Chama a atenção o fato de que, quando Jesus quer deixar um memorial de si, não deixa um livro, mas uma refeição. A mesa foi um lugar de tentação para Judas também: aceitar que Jesus estabeleceria o reino por meio da fraqueza e do sofrimento na cruz, e não da insurreição militar. Ela é um teste para Tiago e João, que quiseram usá-la para proveito pessoal, como Jacó. Mas, assim como na renovação da aliança no Antigo Testamento, vemos Deus, o comer e o beber mais uma vez – um sacramento.

O famoso iconógrafo russo Andrew Rublev apreende a essência da refeição comunitária em sua interpretação sobre Gênesis 18, em que Abraão e Sara hospedam estranhos e por fim descobrem tratar-se de anjos – mensageiros trazendo a presença de Deus. Em sua obra, Rublev mostra três anjos representando Pai, Filho e Espírito Santo à mesa do convite com um cálice ao centro, ilustrando a dupla hospitalidade à mesa da comunhão – nossas boas-vindas a Deus em nosso coração e as boas-vindas de Deus à sua casa de amor. Os três parecem estar apreciando a companhia uns dos outros e formam visualmente uma comunhão ovalada. Seus corpos, no entanto, estão voltados na direção do observador, como num gesto de convite. 

Somos desejados à mesa de Deus, e aquele que está assentado mais próximo tem a mão sobre o cálice, assim como Deus coloca sua mão sobre o mundo. E tudo isso acontece no contexto de uma refeição.

Jesus ilustra o fim da história da salvação com uma festa. Diversas vezes isso é sugerido nas parábolas – da festa de boas-vindas do filho pródigo ao banquete de casamento para o qual ele havia convidado todos os maltrapilhos do mundo. Na mente dos religiosos, até mesmo seu estilo de trabalho é considerado impuro porque ele comia com cobradores de impostos e pecadores, e parecia ser, comparado ao asceta João Batista, “um comilão e beberrão” (Mt 11.19), a exemplo do filho rebelde de Deuteronômio 21.20.

A Bíblia termina com uma visão dupla do comer – nosso destino final. Haverá um casamento e um velório. 

Apocalipse 19 diz que os santos desfrutarão “do casamento do Cordeiro” (v. 9) e para os permanentemente ímpios (como Esaú) haverá um velório após o julgamento (v. 11-21). O modo como comemos diz tudo. Assim como disse acerca de Esaú e de Jacó. Um tinha inveja do que o outro possuía. Esaú tinha inveja da comida de Jacó; Jacó tinha inveja da posição de Esaú na família. O coração de cada um deles foi revelado no comer. 

Todos nós ficamos vulneráveis quando estamos à mesa.

Refeição comovente

Os pais sabem que a disciplina inibe a digestão. A mesa das refeições, se alguém se importa em ter uma, é o pior lugar para se disciplinar um filho. 

Amigos sabem que não dá pra sentar e comer junto se há algo pendente, um pecado não confessado, entre eles. Quando isso acontece, ela se torna mesa da manipulação e do engano. 

A comida não é só para a nutrição, mas também para a comunhão, e não somente comunhão entre pessoas, mas também comunhão com Deus. 

Em quase todas as culturas, uma negociação comercial é selada durante uma refeição. 

Os amantes descobrem companhia (–com significa “partilhado” e –panhia vem da palavra que significa “pão”). Quando queremos a companhia de alguém, repartimos o pão. 

E quando queremos a companhia de Deus, vamos à mesa. De fato, o propósito da eucaristia na igreja é nos capacitar a viver eucaristicamente a vida como um todo. 

Desse modo, descobrimos Deus no trabalho, na família, na vizinhança e na mesa simples da cozinha (alimentando-nos com Deus e de comida ao mesmo tempo). 

Robert Capon aconselha que devemos comer, antes de tudo, “festivamente, pois a vida sem celebração não vale a pena ser vivida. 

Mas sem festa também, pois a vida é muito mais que uma celebração, e a sua grande simplicidade nunca deve passar desapercebida”.

Por que comer? 

Afinal, por que comer? Comemos por satisfação. Também nos encontramos para servir. A hospitalidade à mesa é uma das maneiras primárias de mostrarmos o amor de Deus. 

Reuven Kimelman, professor de Talmude e de Midrash, explora o impacto do exílio sobre os membros ou ministros “leigos” em Israel. Eles foram apartados do templo e de sua liturgia formal, mas não separados da vida em Deus. Por isso, multiplicaram as bênçãos – bênçãos para a hora da refeição e bênçãos para fazer amor, centenas delas para cada dia, assim como as centenas de encaixes necessários para manter o templo em pé. Agindo dessa forma os rabinos tentaram não transformar a comunidade judaica em uma democracia, mas levantar todas as pessoas para que se tornassem sacerdotes juntas.

Os horários de refeição eram vistos como ocasiões para que aquilo que é comum e ordinário fosse inundado pelo céu. 

De acordo com o Talmude, “enquanto o templo esteve em pé, o altar promovia reconciliação a Israel, mas agora a mesa de um homem promove essa reconciliação por ele”. Parte da reconciliação era receber estrangeiros e pobres à mesa – um princípio que levou a Espanha medieval à prática do sepultamento de ricos benevolentes em caixões preparados com a madeira de suas mesas de refeição. As mesas, desse modo, se tornam altares rabínicos. “Quando dois se assentam juntos e as palavras entre eles são da Torah, a presença divina está no meio deles” (Avot 3.3). 

Desse modo, comemos como missão, estendendo o reino de Deus, reino de amor e de transformação, ao mundo.

Também comemos como sacramento, encontrando-nos com Deus. Cada refeição é uma lembrança da provisão criadora de Deus (por isso oramos “o pão nosso de cada dia dá-nos hoje”). 

Mas ela é também uma confissão de adoração (por isso oramos “santificado seja o teu nome”). 

Cada refeição é um rumor da encarnação, de que Deus reveste a si mesmo de carne, de que Deus está presente naquilo que é comum, que é corriqueiro. 

Cada refeição é um relance da redenção quando damos as boas-vindas uns aos outros ao redor da mesa mostrando a hospitalidade de Deus e, por incrível que possa parecer, experimentando essas boas-vindas enquanto as repartimos – recebendo aquilo que oferecemos.

Finalmente, comemos como profecia. Cada refeição faz com que voltemos nossos olhos para o futuro, aguardando o fim pelo qual todas as angústias da história humana anseiam, a segunda vinda de Cristo e a plena consumação do reino de Deus, os novos céus e nova terra, e – adivinhe! – uma maravilhosa refeição.

Portanto, comer é uma janela para a eternidade e um caminho para Deus.

Leon Kass comenta, com sensibilidade: A alma faminta busca satisfação nas atividades animadas também por perplexidade, ambição, afeição, curiosidade e encantamento. Nós, seres humanos, nos deleitamos na beleza e na ordem, na arte e na ação, na sociabilidade e na amizade, na percepção e na compreensão, na canção e na adoração… Todos esses apetites da alma faminta podem ser, de fato, parcialmente saciados à mesa, desde que nos aproximemos dela com o espírito apropriado. A refeição à mesa é a forma cultural que nos capacita a responder simultaneamente a todas as características dominantes do mundo: necessidade interior, plenitude natural, liberdade e razão, comunidade humana, e a misteriosa fonte de tudo isso. Na refeição humanizada, podemos alimentar nossas almas até mesmo enquanto alimentamos nossos corpos”.
Notas
1. KASS. Hungry Soul. p. 208-209.
2. As três narrativas sobre tentação na Bíblia (Gn 3.1-19; Mt 4.1-11; 1 Jo 2.16) possuem uma simetria extraordinária, ao exporem três testes de verdadeira espiritualidade que ocorrem na vida cotidiana: 1) na provisão: “bom para se comer”; “transformar pedras em pão”; “a cobiça da carne”; 2) no prazer:“atraente aos olhos”; “joga-te”; “a cobiça dos olhos”; e 3) no poder: “desejável para obter conhecimento”; “tudo isto te darei”; “a ostentação dos bens”.
3. A salvação é um convite aberto a uma mesa repleta de alimento (Sl 23.5; 36.7-9; Is 4.6; Jl 3.18; Am 9.13-14; Ap 19.1-10). Refeições são importantes em toda a Bíblia. Sara e Abraão cozinham para estranhos em Manre (Gn 18.2-8); a viúva de Sarepta alimenta Elias (1 Rs 17); Deus alimenta o seu povo por quarenta anos com o maná no deserto (Êx 16.32-36).
4. CAPON, Robert Farrar. Supper of the Lamb: a culinary reflection. Nova York: Smithmark, 1969. p. 27.
5. In: KIMELMAN, Reuven. Judaism and ay ministry. NICM Journal 5, n. 2, p. 47, 1980.
6. Ibid. p. 51. Veja Mateus 18.20.
7. Veja também HOLT, Simon. Eating. p. 322-328; KERR; Patricia. Hospitality. p. 505-510; WILKINSON, Mary Ruth. Meal preparation. p. 613-615. In: BANKS, STEVENS. Complete Book. Os seguintes recursos também podem ser consultados: BARER-STREIN, T. You Eat What You Are. Toronto: McClelland & Stewart, 1979. BELL, D., VALENTINE, G. Consuming Geographies: we are where we eat. Londres: Routledge, 1997. BRAND, Paul. The Forever Feast. Ann Arbor: Servant, 1993. CHARLES, N., KERR, M. Women, Food and Families. Manchester, U. K.: Manchester University Press, 1988. DAVIES, H. The Bread of Life and the Cup of Joy: never ecumenical perspectives on the eucharist. Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1993. KOENIG, J. New Testament Hospitality. Philadelphia: Fortress, 1985. MENNELL, S., MURCOTT, A., OTTERLOO, A. van. The Sociology of Food: eating, diet and culture. Londres: Sage, 1992. NOUWEN, Henri. Can you drink the cup? Notre Dame, Ind.: Ave Maria, 1996.
8. KASS. Hungry Soul. p. 228.
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato/2017/11/10/o-primeiro-presente-o-primeiro-mandamento-e-a-primeira-bencao-de-deus-e-a-comida/

November 19, 2017

O sabor da vida depende de quem a tempera

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Se o sabor da vida depende de quem a tempera, quem tempera a sua?

Para quem anda com Jesus, ingredientes que não faltam à mesa são encontro, partilha e celebração.

Embora pareça um assunto trivial, há muitas lições nos registros bíblicos que fazem referência à comida.

Por isso, a última edição de 2017 da revista Ultimato nos convida a integrar o alimento à vida cristã.

Além de mostrar a mesa como um ponto de celebração, reconciliação, partilha e justiça, comunhão e unidade, a matéria de capa “À Mesa com Jesus” serve ao leitor o artigo “Pão da vida” e “Refeição e Hospitalidade”.

No primeiro, o pastor Luiz Fernando dos Santos fala do convite feito a nós para sentarmos com Jesus à mesa e comermos o alimento que ele mesmo serve ao dar-se a nós.

No segundo, o pastor William Lane explica que “partilhar uma refeição com alguém significa ter ou desejar ter um relacionamento ou pacto com essa pessoa”.

A última revista do ano chama o leitor para refletir e sentar à mesa com os amigos, com a família e com Jesus.

Na verdade, é Deus quem nos convida para uma refeição, chamando-nos à reconciliação e comunhão.

Portanto, comamos com alegria!

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato/2017/11/08/o-sabor-da-vida-depende-de-quem-a-tempera/

November 18, 2017

Mon petit

Corre para os meus braços.
Esperei tanto por você!

Quero cuidar de você.

Você pensa que te abandonei, mas na verdade te protegi.

Aquele mundo não te merece.
Você não pertence àquele ambiente apertado e perverso.

Quero te levar a um lugar amplo, de liberdade e confiança plena (pastos verdejantes e águas de descanso).

Vem para mim!

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=9H13FoeLGhU

November 17, 2017

Para sentir saudade é preciso deixar saudade

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Stephen Camilo

Eu já morei em muitos lugares, e acho que a partir da 3a. mudança comecei a gradativamente parar de sentir saudade.

Hoje, sem nenhum motivo, me perguntei como fui reduzindo essa saudade a quase zero. E a resposta a qual cheguei é que fui deixando de estar presente onde estava e passei a estar em lugar nenhum. Sim, é extremamente absurdo. Isso até parece impossível, afinal como estar em um lugar sem estar nele?

Isso é paradoxal, e parece maluquice, mas essa “técnica emocional” não é só dos nômades urbanos. Até mesmo pessoas que nasceram e cresceram na mesma casa fazem isso tanto quanto eu fiz. 

O segredo para estar sem estar é não se envolver, não participar, não contribuir e jamais, jamais se doar.

Para sentir saudade é preciso deixar saudade

Num relacionamento saudável a saudade que sentimos é do tamanho da saudade que deixamos. Pra dar falta de um pedaço de você é preciso deixá-lo para trás.

É da natureza dos encontros deixar um tanto de si e receber um tanto dos outros. A troca é inevitável, e não é possível deixar de estar e sentir. Só é possível estar com menos qualidade, estar mal e causar mal-estar. E talvez esse “mal estar” não deixe saudade, mas somente lembranças.

Não sentimos falta do que está com a gente. Por isso você não vai sentir falta do pedaço de você que você não deixou.

Pode parecer muito esperto não deixar um pedaço de si, não se doar. E acho que nunca houve uma geração de homens e mulheres tão espertos, que tanto se poupa. Mas também temos visto uma onda sem precedentes de jovens infelizes.

Deixe um pedaço seu

Jesus disse “Tomai, comei; isto é o meu corpo” (Mt 26:16b). Ele deixou um pedaço dele, se partiu por inteiro pelos seus discípulos. Ele lavou os pés, Ele curou, Ele ensinou.

De Jesus saia virtude. As únicas pessoas que ficaram sem um pedaço de Jesus foram as que o rejeitaram, isso é muito triste.

Na cruz ele se entregou 100%. E podemos ter 100% dele se O buscarmos 100%.

Acho que um dos maiores medo que temos, junto com a traição é de sentir falta de alguém. Temos de lidar com a saudade, um dia nossos caminhos se desencontrarão e vida termina.

Ao pensar nisso, fico constrangido pelos abraços que não dei, os amigos que não vi, o tempo e o carinho que não dei só pra não sentir saudade.

Deus mesmo diz que tem saudade do seu povo, no Antigo Testamento e no Novo temos a grande festa de reencontro de Jesus com a Igreja.

Deus deixou um pedacinho dEle na gente já no momento da nossa criação quando ele nos fez a imagem e semelhança dEle mesmo.

Pecamos, ofendemos o pedaço divino em nós, Jesus chorou.

Eu não me engano e nem quero mentir para você: amar vai doer, vai arrancar pedaços sim, vamos sentir saudade. 

Mas parece que na lógica de Deus só vai chegar inteiro quem se compartilhar no caminho.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/11/16/para-sentir-saudade-e-preciso-deixar-saudade/

November 16, 2017

A gratidão que precede a alegria

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- Lissânder Dias

A gratidão é irmã siamesa da alegria.

Mas num mundo incoerente que se atreve a transformar a alegria em um produto de marketing, surge o espetáculo de horror: sorrisos por fora, mas tristeza por dentro.

 Adestrados a fabricar sensações de euforia - como dependentes químicos - consumimos tudo que nos dê um mínimo de felicidade.

E não investimos quase nada no exercício da gratidão.

A mulher triste num poço

Quando Jesus passou por Samaria, foi até a um poço, por volta de meio-dia, e lá encontrou-se com uma mulher triste – sem família estável, sem uma fé respeitada, sem a fidelidade de um amor verdadeiro.

Foi a esta mulher que Jesus pediu um favor: “dê-me um pouco de água”.

Ela ficou surpresa com o pedido vindo de um judeu (judeus e samaritanos não se davam bem).

Não foi um simples pedido que exigiria uma mera gentileza.

Era uma revelação.

A mais básica das solicitações precedia o descortinar do maior mistério: o Messias.

Aparentemente, a mulher é quem deveria dar água a Jesus, mas, ao contrário, foi ele quem ofereceu saciar a sede dela. E para sempre.

A imagem que Jesus cria na mente daquela mulher (e dos leitores de hoje) é interessantíssima: um poço sem fundo com um líquido eterno.

A busca existencial daquela mulher chegaria ao fim, mas o resultado desta busca não. Duraria para sempre numa incessante profusão de alegria.

Aquela mulher triste foi envolvida pela revelação do Cristo e pela certeza de que ele a conhecia como ninguém.

O convite de Jesus para o saciamento veio acompanhado do amor incondicional e gerou a alegria no coração da samaritana. Acompanhe o relato em João 4. Veja como o ânimo dela mudou completamente ao ponto de prontamente espalhar a notícia sobre Jesus para outros (Jo 4.39-41). Agora ela está grata por ter conhecido o Messias, por ter encontrado o que buscava, por ter sido aceita!

Quem não é grato não consegue experimentar nada mais do que momentos de prazer descartável.

Quem é preenchido pela gratidão reconhece que foi encontrado pelo Messias e, assim, no fundo do seu ser, aquilo que era amargura, pessimismo, ressentimento e desesperança vai dando lugar ao contentamento, à saciedade.

E aí vem a alegria.

Naturalmente.

Sem alarde, com sinceridade.

Gratidão, apesar de…

A gratidão não surge no vácuo, sem contexto, sem motivo.

Ela é fruto da maneira como encaramos a vida, de como interpretamos cada circunstância. Isso não significa fingir que tudo está bem - quando não está.

Gratidão não é um virtude de ingênuos. Trata-se de uma maneira sábia e sensível de perceber a realidade como um todo e integrada.

Se nem sempre a tristeza é ilegítima, por sua vez, nem sempre a alegria é real.

A vida tem feiura, tem dureza, tem confusão, tem decepção, tem pecados. Nossos corações são maus. Os poderosos muitas vezes são injustos e a sequência existencial nem sempre obedece nossa lógica. Carregamos feridas que ainda causam dores. Temos medo quando uma ameaça de aproxima.

Alguém irá negar estas coisas? Não deve.

Mas alguém será refém delas? Também não deve.

Se a gratidão precede a alegria, vale dizer que este mesmo sentimento existe apesar de. É um ato de resistência, de superação, de enfrentamento.

Somos gratos porque a coragem nos deu condição de enfrentar a vida.

Pode do chão seco brotar água limpa.

Gratidão e esperança

Vale a pena lembrar, no entanto, a incompletude da gratidão.

 Apesar da sensação de saciedade, ela sempre está inacabada, porque em sua essência, o olhar que a move espera que as coisas melhorem.

Nem tudo é palpável para quem exercita a gratidão.

Mas ao enxergar a graça nos acontecimentos de hoje, o grato já mira, pela fé, a completude do que virá.

E caminhamos: incompletos, mas esperançosos.

Foi assim o olhar de Jesus: “abram os olhos e vejam os campos! Eles estão maduros para a colheita” (Jo 4.35). Ainda não vemos o fruto, mas, sem dúvida, ele surgirá.

Não dá para sustentar nenhum tipo de gratidão sem uma migalha que seja de esperança.

Quanto a isso, a Palavra de Deus nos enche de motivos. Somos o Povo da Promessa. Somos os que teimam em esperar o Messias. Somos os que aguardam a Colheita. Somos os que sabem que o fim de todas as coisas trará algo melhor do que o que hoje existe.

A mulher samaritana cavou fundo e encontrou alegria. Os seus conhecidos também. O Senhor Jesus ensinou seus discípulos a desenvolverem a esperança de que o trabalho iniciado – mesmo árduo – seria concluído (Jo 4.34).

Gratidão é mais do que bons sentimentos.

É antecipar o caminho da alegria.

É ser saciado pela água que torna a vida, de fato, eterna.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/fatosecorrelatos/2017/02/15/a-mulher-triste-do-poco-e-a-gratidao-que-precede-a-alegria/

November 15, 2017

Pequenos perdões, pequenas releituras

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"Sua vida é importante e as rasuras não sentenciam seu futuro."

- Robson Sarmento

O episódio da mulher levada, sobre a acusação de adultério, até Jesus nos ajuda a estabelecer uma releitura de como encarar e enfrentar a vida. Ali, diante dele, mais vista como um meio para possíveis perguntas ou, no adágio popular, provocar situações constrangedoras, ao considerado mais um candidato a Messias e o deixar de calças curtas, entre a cruz e a espada.

Afinal de contas, caso concordasse com a aplicação sumária da lei mosaica, ou seja, o apedrejamento, adentraria em violação as leis estabelecidas pelo governo romano, ao qual proibia respectiva prática. De outro lado, a não atenção para esse preceito mosaico, também seria visto como um desdém as tradições e o mesmo dizia sua postura de não a revogar. Eis uma questão a ser observada por Jesus, agora, porque sua resposta aponta para coragem e sinceridade de cada um deixar as máscaras, de lado, e reconhecer suas fragilidades, suas vulnerabilidades, suas vaidades, suas mancadas, suas vacilações, suas incertezas e seus atos, nem sempre tão virtuosos.

Em meio a tudo isso, após a questão de quem não tiver nenhuma marca de alienação, de vazio, de humanidade, de percepção de suas nem sempre colocações dignas de louvores, por favor, atire a primeira pedra. Ora, a bíblia não fala dos motivos da traição, dos fatores e desdobramentos dessa decisão, simplesmente, apresenta uma mulher, como o pomo de uma discórdia e mais nada. Sem hesitar, a traição atingia profundamente Jesus, acredito, piamente, que não, porque não era o palco de respectivo acontecimento. Deixo bem claro, não venho, aqui, banalizar, relativizar vilmente as variadas circunstâncias sofridas pelas pessoas; agora, não posso testificar ser um fato relevante para todos, sejamos honestos, quanto a isso.

Parto dessas abordagens e me debruço nos pequenos perdões e nas pequenas releituras, naquelas situações de fissuras, de rachaduras, de vasos quebrados e postos debaixo do tapete.

São omissões de que outro tem limites. São hostilidades diárias. São lembranças mais inclinadas a rebaixar o outro. São respostas que machucam e doem. São palavras que roem e corroem. São lágrimas guardas nas gavetas da alma e redundam numa alma mais assemelhada a um oceano de ressentimento, de remorso, de rancor e de um gosto amargo nos lábios.

Isso me leva as páginas das famílias de Davi, com pequenas rachaduras, pelo qual desaguou, muito embora a outros aspectos desencadeadores, numa violência de Amnon em face de Tamar, de Absalão ao tirar a vida do próprio irmão, de insurreições contínuas com o propósito de arruinar o reinado do nominado homem segundo o coração de Deus. Vale dizer, nada começou de repente ou do nada, como não há como definir ser um jogo de cartas ou escrito nas estrelas ou tudo fazia parte de um destino ou de uma vontade suprema ou de uma abertura para o manifestar do mal. Não adentrarei numa espécie de narrativa da conspiração e, em direção oposta, as pequenas e imperceptíveis perdas contínuas e tidas como partes da vida, indiscutivelmente, culminaram na derrocada da relação de Davi e Mical, de Davi e seus filhos.

Deveras, quantos não têm sido assolados por essas pequenas ocorrências e sutilmente causam uma existência de farsas, de deixar a vida me levar, de desistir da esperança e, quem sabe, no porvir, ser recompensado. Faz – se notar, uma criança abusada mexe com nosso senso de humanidade, vidas destroçadas por uma bala perdida, pessoas reduzidas a uma espécie de zumbis, como nas reputadas Cracolândias, pessoas ao qual fazem dos restos sua forma de sobrevivência e por ai vai tantos mosaicos de manchas de vergonha, até nos incomoda, mas não nos atinge na veia.

Vou adiante, quando nos deparamos com alguém, próximos de nós, enfermos, há uma mobilização esperada e necessária. Agora, essas pequenas ofensas, palavras ríspidas, formas de apequenar e desmerecer o outro se cultivam, continuamente, e sedimentam como rochas cristalizadas, em nosso ser.

Obviamente, não venho, aqui, apregoar um mundo de maravilhas, porque tem dias de tensões e abalos, ao qual como seria bom os apagar do mapa, mas sim o por qual razão não rever a agenda e a escrita de nossa existência? De maneira simples e desafiadora, Jesus nos chama para deixarmos as pequenas pedras, as pequenas cargas de hábitos, de condutas, de costumes e de valores. Sei, muito bem, o quanto essas palavras podem soar e ressoar como um discurso inócuo.

Mesmo assim, essa Graça nos chama para vivenciarmos os pequenos perdões e as pequenas releituras para proporcionar uma percepção da vida, em sua concretude de gente e não de mitos, de pessoas e não de deuses, de seres humanos, porque o Deus ser humano Jesus Cristo veio em favor da humanidade e, por mais utópico e insano possa ser, nos ajudar a existir e viver para o outro.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/pequenos-perdoes-pequenas-releituras

November 14, 2017

O que os olhos não veem

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- Como você perdeu a visão?
- Antes de nascer. Nunca vi nada neste mundo.
- Quanto você pagaria para enxergar por 10 minutos?
- Por 10 minutos? Nem um tostão furado. Eu me tornaria uma pessoa insuportável. Ter algo e depois perder me transformaria em um revoltado.

Paula Mazzini

Esse foi o diálogo entre um vendedor de amendoim e um desertor de guerra no filme “Cold Mountain” (2003). Depois da inesperada resposta, o desertor desistiu de achar no cego cumplicidade para seus desamores e sua revolta com o mundo.

A cegueira humana também causou certo impacto em José Saramago. E ele dá pistas de que se trata de algo que vai muito além da cegueira física: “Por que foi que cegamos? Não sei. Talvez um dia se chegue a conhecer a razão […]. Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que veem, cegos que, vendo, não veem”.

Há várias formas de cegueira. A mais óbvia, a cegueira física, tem feito o mundo se adaptar. Há livros e placas de elevadores em braile, chão com texturas, auxiliares no metrô e sinais de trânsito com campainhas especiais. Ainda falta muito para que um cego se sinta confortável, mas já demos um passo.

E as outras cegueiras? O que temos feito com elas? A cegueira da alma, do coração, a cegueira de si e dos outros? O vendedor de amendoim nunca havia visto nem uma cor sequer. A palavra “amarelo” não significava nada para ele. 

Quando fico cega de mim, não percebo mais as nuances da minha alma. O que é branco? O que é marrom? O que é encardido? Confundo tudo. Fico insensível e obstinada. Meu coração endurece. E, com a dureza, cresce a revolta por não conseguir mais enxergar o belo. Torno-me justamente o que o velho não queria ser e pela mesma razão: insuportável, por ter algo e depois perder.

Um cego pode pensar que está indo para casa e acabar no abismo. Só uma pessoa que enxerga pode ajudá-lo. Ainda bem que, quando a cegueira da alma me atinge, sempre há por perto pessoas que enxergam além do que meus olhos feridos são capazes de enxergar. Elas me tiram dos emaranhados em que me meti e me colocam de volta nos trilhos.

A cegueira é uma metáfora e tanto. Além de Saramago, Jesus também percebeu isso. E quando ele, que sempre foi bom em figuras de linguagem, diz que veio trazer vista aos cegos (Lc 4.18), não está falando só da cegueira física, embora tenha curado muitos cegos. Está falando das traves que me impedem de ver quem sou. Que enganam, que oprimem, que tiram o brilho das coisas, que desbotam as cores e transformam tudo o que vejo em névoas. Talvez seja por isso que o hino que marca muitas conversões também fale de cegueira: “Oh quão cego andei e perdido vaguei”.

Depois de ser livre da cegueira completa, preciso lidar com outras distorções da vista. Preciso me livrar da miopia, do astigmatismo, da vista cansada, da fotofobia, do estrabismo de mim.

Para que eu veja as flores, mas também os espinhos. Para que eu me olhe no espelho e me admire, mas também perceba as distorções. Para que eu veja quanta beleza há por aí. 

Afinal, como disse Saramago, “a cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança”.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/338/o-que-os-olhos-nao-veem

November 13, 2017

Não furtarás

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O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios. 
Os 4.2

- William L. Lane

Pessoas que vão a uma delegacia dizer que seu carro foi roubado podem ser surpreendidas ao ouvir o oficial dizer: "não, seu carro não foi roubado, foi furtado". É que roubo é o ato de levar algo de alguém mediante ameaça, e furto é o ato de apoderar-se de algo às escondidas. Essa sutil diferença de significado entre as duas palavras na linguagem policial faz pouca diferença para a vítima. Ser roubado ou furtado gera a mesma sensação de insegurança nas pessoas. 

Mas quando lemos o oitavo mandamento — "Não furtarás" —, precisamos nos perguntar: Qual o signficado deste mandamento? Será que ele proíbe apenas o furto, e não o roubo? 

Ao considerarmos o uso da palavra hebraica ganav, traduzida por furtar, percebemos que o oitavo mandamento não proíbe apenas o furto. Na verdade, a expressão envolve muito mais do que apenas o furto e o roubo de objetos pessoais. 

O alvo mais comum do furto são objetos materiais, como a prata e o ouro (Gn 44.8), e animais, como bois, ovelhas etc (Ex 22.1). Também se fala de dinheiro e outros objetos (Êx 22.7, 12). 

A primeira vez que a palavra ganav aparece no Antigo Testamento é no acordo entre Jacó e Labão sobre as ovelhas salpicadas e negras (Gn 30.33). Mas além desse uso comum, o Antigo Testamento usa a expressão hebraica em vários outros contextos. Em Gênesis 31, o verbo ganav é usado várias vezes e com signficados diferentes. Ao sair de casa, Raquel "furtou os ídolos do lar que pertenciam a seu pai" (Gn 31.19, 30, 31). Esses objetos tinham valor não apenas pelo aspecto sagrado, mas representavam também a transmissão da herança. Ao tomar posse desses ídolos, Raquel estava praticamente garantindo o seu direito à herança. 

Nos versículos 20, 26 e 27 deste capítulo, a palavra ganav é usada com outro sentido. A Edição Revista e Atualizada (RA) a traduz por lograr e a Bíblia na Linguagem de Hoje (BLH), por enganar. A expressão literal é "furtar o coração". O versículo diz: "E Jacó logrou a Labão [= furtou o coração de Labão], o arameu, não lhe dando a saber que fugia" (Gn 31.20). Portanto, furtar o coração é enganar. Este é também, sem dúvida, o sentido de furtar neste versículo: "Não furtareis [= não enganareis), nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo" (Lv 19.11).

Há também pelo menos um caso em que esse engano diz respeito ao anúncio da mensagem de Deus. Por intermédio de Jeremias, Deus condena aqueles profetas que proclamavam seus próprios sonhos e visões como sendo Palavra de Deus: "Portanto, eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu companheiro" (Jr 23.30). Então, furtar no sentido de enganar envolve tanto a falta de honestidade em um negócio como a deturpação da mensagem de Deus. Este último, a propósito, é um dos grandes males da igreja evangélica hoje. Muitos estão dizendo: "Deus disse" ou "Deus me revelou" para controlar a vida de outras pessoas e manipular as massas, sem saber que tudo não passa de um engano ou furto da Palavra de Deus. 

Outra ocorrência do verbo ganav na Bíblia está relacionada à história de José. José foi vendido por seus irmãos a mercadores midianitas a caminho do Egito (Gn 37.27, 28). Quando preso no Egito, ele diz ao seu companheiro de cela que havia sido "roubado da terra dos hebreus..." (Gn 40.15). Aqui o que se quer dizer é que José havia sido raptado. Aliás, é exatamente isso que está expresso neste versículo: "O que raptar (= furtar) alguém e o vender, ou for achado na sua mão, será morto" (Êx 21.16). Pela Lei Mosaica (posterior a José), os irmãos de José seriam merecedores de morte por terem-no raptado e vendido. 

Esse é também o sentido da palavra usada em 2 Reis 11.2, quando Jeoseba sequestra Joás, filho de Acazias. Então, a mesma palavra furtar, do oitavo mandamento, é usada para se referir a roubo de pessoas, isto é, seqüestro e rapto.

Assim, a palavra traduzida por "furtar" (ganav) tem, no Antigo Testamento, o sentido de 1) furto de objetos inanimados (prata, ouro, dinheiro) e animados (boi, ovelha, etc); 2) engano; 3) rapto de pessoas. A questão é: qual ou quais desses sentidos deve ser aplicado ao oitavo mandamento? Ou, em outros termos: o que exatamente está sendo proibido no oitavo mandamento? 

Se entendemos que os Dez Mandamentos é o resumo da Lei no Pentateuco e que em outras partes desta Lei o verbo furtar (ganav) se refere explicitamente a furto de objetos (Êx 22.1, 7, 12), engano e falsidade (Lv 19.11) e rapto de pessoas (Dt 24.7), supõe-se que o oitavo mandamento abranja todos esses sentidos. 

Portanto, o oitavo mandamento proíbe não apenas o furto no sentido mais comum em nossa linguagem, mas também a mentira, a falsidade, o engano, a desonestidade e o seqüestro.

O que percebemos é que roubo, furto, sequestro e engano não são problemas da sociedade moderna, tampouco da violência urbana. Milhares de anos atrás já havia leis específicas para várias situações, inclusive no contexto agrário e rural. A violência que ameaça os direitos individuais de um cidadão urbano moderno não é diferente daquela que ameaçava uma família nômade ou pastoril milhares de anos atrás. 

Naquela época as pessoas precisavam ouvir e atentar para o mandamento: "Não furtarás". Hoje, nós também precisamos ouvir e atentar para este mandamento.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/267/nao-furtaras

November 12, 2017

O que esperar de 2018?

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A Bíblia tem uma resposta. E ela pode não ser a que esperamos.

Aliás, as “bênçãos” prometidas – para o dia seguinte, para o fim do mês ou para o próximo ano – nos livros ou espaços de culto espalhados pelo país, raramente combinam com o texto bíblico.

O profeta Jeremias dá uma pista sobre o que e quem pode esperar alguma coisa: “Eu abençoarei aquele que confia em mim, aquele que tem fé em mim, o Senhor. Ele é como a árvore plantada perto da água, que espalha as suas raízes até o ribeirão. Quando vem o calor, ela não tem medo, pois as suas folhas ficam sempre verdes. Quando não chove, ela não se preocupa; continua dando frutas” (17.7-8).

O primeiro dos 150 salmos descreve o mesmo tipo de pessoa: “O prazer dele está na lei do Senhor, e nessa lei ele medita dia e noite. Essas pessoas são como árvores que crescem na beira de um riacho; elas dão frutas no tempo certo, e as suas folhas não murcham” (versículos 2 e 3).

Bem, não é novidade que cada um de nós se preocupa com o que vai colher amanhã. O “fruto” dá visibilidade, melhora as aparências.

Poucos se preocupam com as raízes. As raízes estão escondidas. Elas não dependem dos frutos.

Mas os frutos - quantidade e qualidade - dependem da raiz: “Se alguém permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto” (Jo 15.5).

É disso que trata o lançamento Cuide das Raízes, Espere pelos Frutos, o devocionário da Editora Ultimato para 2018. Com ele celebramos a vida e o legado do seu fundador, autor das meditações diárias ali reunidas, um ano após sua morte.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-que-esperar-de-2018

November 11, 2017

O problema não é a verdade. São os mentirosos.

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- Lissander Dias

O jornal The New York Times lançou uma campanha com o tema “verdade” no intervalo do Oscar, intitulada Truth is Hard

Encontrar a verdade não é uma tarefa fácil, principalmente neste cenário saturado por opiniões. A intenção do maior jornal do mundo é resgatar a importância do jornalismo na busca pela verdade dos fatos de forma independente. Me chamou atenção uma das frases da campanha:

Truth. It´s more important now than ever.
“Verdade. Mais importante agora do que nunca” – tradução livre

A verdade sempre foi um tema caro para o cristianismo. Infelizmente, muitos mataram e muitos morreram por causa dela. A intolerância com quem pensa diferente gera, muitas vezes, quebras de relacionamentos e ódio.

Mas a campanha do NYT nos lembra que a verdade não é só uma questão de “ponto de vista”. Se assim o fosse, seria fácil, não precisaríamos buscá-la. 

Todo ponto de vista nasce de um ponto inicial, da interpretação de um fato, de um olhar primeiro. O problema é o caminho entre este começo e o fim da busca. Tal trajetória é cheia de armadilhas e de intenções – algumas puras, outras não. Desse caminho é que surge a manipulação.

Mas a pior maneira de reagirmos a esta crise de compreensão é sepultarmos a noção da verdade (como elemento definidor). Sacrificando a verdade podemos até acalmar os ânimos de uma briga, mas não continuaremos a caminhar por muito tempo. Ao longo do tempo, perderíamos o sentido último das coisas.

As dúvidas nos fazem ampliar o horizonte do caminho, mas o que, de fato, nos faz continuar caminhando são as certezas. Tem razão quem diz que não sabemos tudo sobre o destino, mas também está certo quem afirma que ainda assim há uma direção real e concreta.

Afirmar que há uma única verdade pode gerar orgulho. Precisamos ter muito cuidado. Mas afirmar que não há verdade é menosprezar a própria natureza humana porque tudo o que fazemos vira história. E ainda mais grave: é negar a revelação concreta do Deus que é Verdade (Jo 1). 

Tomé não sabia para aonde ir, mas Jesus lhe indicou o caminho (Jo 14.6).

Não, não é tão fácil encontrar a verdade. 

Exige honestidade, coragem e humildade para reconhecer que não sabemos tudo. Mas nada pode nos fazer desacreditar no que vemos com nossos próprios olhos, nas relações genuínas, nos valores que se fazem eternos. 

Podemos até errar na busca pela verdade, mas não perderemos a fé em algo melhor e maior, que supera os erros, que se faz permanente, único. 

Afinal, há esperança sem verdade?

O problema não é a verdade. 

São os mentirosos.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/fatosecorrelatos/2017/02/27/o-problema-nao-e-a-verdade-sao-os-mentirosos/

November 08, 2017

Deus pode consertar erros

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O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; todos os que cumprem os seus preceitos revelam bom senso. Ele será louvado para sempre! [Salmos 111.10]

- Martinho Lutero

Você precisa ter cuidado com 2 extremos. Um é tornar-se arrogante com relação a sua sabedoria e seus planos. O outro é tornar-se deprimido quando as coisas não vão bem.

Deus perdoa e até abençoa os erros das pessoas fiéis. Em minha ignorância, frequentemente eu cometia os maiores erros e fazia as coisas mais tolas quando, em minha sinceridade, eu tentava ajudar as pessoas e dar-lhes bons conselhos. Quando eu cometia esses erros, orava fervorosamente a Deus, pedindo que me perdoasse e corrigisse o que eu havia feito.

Frequentemente líderes importantes causam muitos danos por meio dos seus conselhos e ações. Se Deus não tivesse misericórdia deles e não consertasse tudo, o mundo seria uma bagunça terrível.

Todos nós cometemos erros.

Nós nos consideramos sábios e instruídos. Porém, em nosso sincero desejo de ajudar, podemos acabar causando muitos prejuízos. Se Deus, em sua sabedoria e compaixão, não corrigisse os nossos erros, nós faríamos das nossas vidas uma bagunça. Somos como o fazendeiro cujos cavalos tinham dificuldade para puxar uma carga pesada. Por achar que as rodas da carroça eram largas demais, ele as afinou. Isso apenas fez com que a carga afundasse tão profundamente na lama que a carroça não podia ser nem movida.

Isso significa que as pessoas não devem fazer nada e apenas fugir de todas as suas responsabilidades? De jeito nenhum. Você deve fazer fielmente o trabalho que Deus lhe deu para fazer.

Não confie na sua própria sabedoria e força, nem finja ser tão esperto e importante que tudo precise ser feito da sua maneira. Não se envergonhe de se ajoelhar e orar: “Querido Deus, tu me deste este trabalho. Por favor, ensina-me e guia-me. Dá-me o conhecimento, sabedoria e força para desempenhar minhas tarefas incansavelmente e bem”.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato/2017/10/02/deus-pode-consertar-erros/

November 02, 2017

O equilíbrio entre o amor e a verdade

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- Vinicius Vargas
Ao apóstolo João são atribuídas três cartas. Uma bem grande e duas bem pequenas. Comparadas com a primeira carta, as duas seguintes mais parecem bilhetes. E elas nascem em um contexto parecido: ambas falam de pregadores que iam de cidade em cidade pregando o evangelho. Numa época em que as hospedagens eram poucas, ruins e perigosas, era um costume dos crentes das igrejas receberem esses pregadores nas casas deles.
A questão é que estavam tendo um problema sério: nem todas as pessoas que apareciam nas igrejas se apresentando como pregadores estavam pregando o Evangelho de verdade. Tinha muito pregador enganado e enganando os outros. Mesmo que nem sempre os que eram recebidos fizessem jus à acolhida, os crentes agiam com amor e recebiam esses pregadores.
Então João escreve uma carta, que a gente conhece como 2 João, pra dizer que não dava pra ficar recebendo qualquer um, afinal em nome do amor não dava pra sacrificar a verdade. Aí a solução encontrada por algumas pessoas foi radical: já que não dava pra ficar recebendo qualquer um, e como não dava pra saber quem era quem, a saída mais fácil era não receber ninguém! Aí João escreve outra carta, que conhecemos como 3 João, pra dizer que o intuito não era proibir a acolhida, mas que era pra ter critérios. 

Em nome da verdade, não podiam sacrificar o amor.
O equilíbrio entre amor e verdade me parece um assunto importante nessas duas cartas. Na segunda carta, João alerta para o perigo dos falsos mestres que apelam para o amor, mas negam a verdade; e mostra um aspecto negativo da hospitalidade: o risco de hospedar falsos mestres. Já na terceira carta, João fala do perigo dos falsos líderes, aqueles que apelam para a verdade, mas negam o amor; e ressalta o lado positivo da hospitalidade: a necessidade de receber pregadores fiéis. Um dilema se apresentava. 

O que era mais importante: o amor ou a verdade? 
Na terceira carta, João diz que ambos são importantes. Mas tinha gente que queria ser mais justo do que devia. Queria fazer com que a vida tivesse um rigor que ia além do necessário. E tinha gente do bem. Os dois são colocados como exemplos opostos. Na igreja na qual a carta devia ser lida, João identifica dois grupos: o grupo dos que recebiam os pregadores, e dos que negavam hospedagem. Ambos os grupos eram formados por membros da mesma igreja, mas tinham posturas bem diferentes. 

Eram duas formas antagônicas de viver o cristianismo.
Em vez de sacrificar o amor em nome da verdade ou sacrificar a verdade em nome do amor, era importante que houvesse equilíbrio. Era necessário receber os pregadores itinerantes, mas certificando-se de sua procedência.
Ainda hoje muita coisa chega até nós e até nossas igrejas. Muitas novidades e ideias, que devem ser recebidas ou rejeitadas. Não podemos perder de vista o conselho do apóstolo. Nem o amor pode matar o que é a verdade, nem o zelo pela verdade nos impedir de agir com amor. 

É preciso equilibrar as coisas, comprovar a procedência e acolher com alegria. Ou recusar prudentemente aquilo que se apresenta a nós.
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/10/27/o-equilibrio-entre-o-amor-e-a-verdade/