January 31, 2018

O futuro está na ternura

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Ternura não é pieguice ou enternecimento. É atenção à pessoa, restabelecer a primazia das pessoas sobre as coisas.

- Paul Tournier
Penso que o futuro está na ternura, mas temo ser mal compreendido.
Participei do Instituto Ecumênico, em que houve um seminário sobre o ministério de cura na Igreja. Tive o prazer de promover um verdadeiro diálogo entre teólogos e médicos. Naturalmente alguns participantes se agruparam ao meu redor e questionaram-me sobre este livro, que eu estava escrevendo. Estava sendo interpretado por uma charmosa polonesa chamada Halina Bortnowska.
De repente, ela parou de me interpretar para perguntar vivamente: “Ternura! Como é irritante para uma mulher ouvir sem cessar sobre uma missão de ternura! Não é uma forma de enviá-la para uma casa de repouso, fora da vida ativa, à margem da sociedade, de contestar suas capacidades intelectuais e objetivas e reduzi-la a uma função inferior de consoladora?” Tentei aplacar a sua revolta colocando um pouco da ternura permitida nesse tipo de ambiente tão hostil.
Procurei dissipar o mal-entendido. Não contesto mais as aptidões objetivas da mulher, como também não considero o homem incapaz de sentir ternura. Ficamos condicionados pelo desprezo da ternura que caracteriza nossa sociedade e a reduz a uma pieguice estúpida, aos carinhos de consolo, a um puro enternecimento que só se faz nas duras realidades da vida. Ternura é outra coisa.
Proponho a seguinte definição: ternura é atenção à pessoa. É por isso que falei da pessoa ao longo de todo este livro, da relação pessoal que precisamos reencontrar. Como escreve Erich Fromm,33 “o homem moderno perdeu contato consigo mesmo, com os outros e com a natureza”. É, sem dúvida, numa enfermaria que este contato pessoal ainda está preservado. Fora de lá, falta tragicamente na sociedade, no mundo dos negócios, nos escritórios, nos estúdios e nos laboratórios; falta cruelmente a atenção à pessoa. Como falar de uma missão da mulher na sociedade se ela ainda está à margem da sociedade?
Do mesmo modo, quando falei desse assunto em Bâle, a primeira mulher que tomou a palavra na discussão acreditou que eu estava falando de uma missão da mulher somente para jogá-la de novo em outro campo de atividade, longe do homem, fora do mundo do trabalho; mas, ao contrário, tenho dito que é aí sua missão. Não posso evitar tais interpretações. O problema levanta muitas paixões e melindres. As mulheres que conquistaram com grandes lutas o direito de sair do apartheid estão prontas a suspeitar de que as quero relegar de volta à segregação, e eu as compreendo.
Devo ao menos declarar que o meu pensamento é exatamente o contrário. A missão da mulher de que falei aqui concerne a cada mulher onde ela estiver. Casada ou solteira, no lar ou no trabalho, sua missão é sempre a mesma – restabelecer a primazia das pessoas sobre as coisas. Mas é justamente no setor público e cultural que essa prioridade é mais escarnecida. Há, então, uma necessidade bem clara de que a mulher encontre primeiro um caminho para chegar lá; é preciso também que sua autoridade seja mais reconhecida.
Mesmo na política, onde raramente existem relações pessoais entre os que se afrontam nas lutas partidárias sem sentido, falta-lhes o conhecimento mútuo. Um antigo membro de um de nossos governos confiou-me que, justamente com dois de seus adversários políticos, foi que ele se entendeu da maneira mais eficaz possível.
Entre mulheres surge mais frequentemente uma doença, uma ferida de amor próprio, talvez por serem mais suscetíveis que os homens. Mas é porque são mais pessoais e intuitivas; a afetividade está sempre em alerta. Manifestam com mais ingenuidade uma crítica aparentemente sem muita importância, e a mulher visada pela crítica não se engana, sabe muito bem que é com ela. 

Em suma, existem dois territórios: o das ideias, objetivas e abstratas, sobre as quais pode-se debater apaixonadamente, mas sem grande risco de ser ferido; e o dos problemas pessoais, tão carregados de emoção. Para estes, o homem fecha voluntariamente os olhos. Respeita prudentemente a fronteira.
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato/2017/05/12/o-futuro-esta-na-ternura/

January 30, 2018

O tempo e o Senhor do tempo

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- Joyce Hencklein 

Todos os dias penso sobre o tempo. Penso em tudo que vi e vivi em meu passado, em tudo o que vejo e vivo em meu presente e no que posso viver futuramente. Umas das verdades cruciais sobre o tempo é que ele pode ser entendido em três perspectivas: passado, presente e futuro. A questão é que o passado já foi e não posso mudá-lo, o presente é minha realidade e o futuro é o que não vejo. Posso planejar e sonhar, mas não tenho controle para a determinar a forma como o esse futuro será.

Devemos aprender que Deus é atemporal. Enquanto nós vivemos por “etapas”, Deus nos vê como um todo. Para Ele não existe passado, presente e futuro, pois afinal Ele estava no começo e estará no fim. Podemos aprender também que há tempo pra tudo debaixo do céu, como está escrito em Eclesiastes 3.1-8. Lá aprendemos exatamente sobre o tempo e sobre como não teremos somente fases de alegria, de amor e paz, mas épocas difíceis também. Como podemos entender nossas vidas em meio a tempos difíceis? Às vezes podemos pensar demais no passado e esquecer o presente, como lidar com isso?

Bem, se acreditamos que Deus é atemporal, podemos afirmar que Ele é o mesmo Deus, Ele não mudou. Tudo que Ele fez no tempo das passagens bíblicas, pode fazer ainda hoje. Ele continua sendo bom e fiel. Se sabemos que Deus nos ama e essa realidade não muda, podemos crer que Ele nos ouve, não nos abandona e sempre nos responde. Mas as respostas vêm no tempo dEle, e sempre as respostas de acordo com Sua vontade.

Com relação ao pensamento constantemente preso ao passado, devemos entender que isso provavelmente ocorre porque o presente momento da vida pode não estar tão bom a ponto de apresentar perspectivas promissoras para o futuro, restando somente o passado a ser lembrado – e às vezes remoído. Mas o que temos é o presente, e o passado deve ficar guardado em nossa memória.

January 29, 2018

Somos todos vasos estragados

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Não queremos crer e muito menos admitir, mas somos todos vasos estragados. Não há nem uma exceção sequer. Devemos lidar uns com os outros como seres estragados. Estragados para sempre na atual conjuntura.

Nunca estamos plenamente satisfeitos com o que somos, com o que temos, com o que fazemos, com o que nos acontece, com a idade, com as amizades, com o dinheiro, com a vida.

Uns mais, outros menos, todos nós temos problemas com a raiva, a ansiedade, o tédio, a baixa e a alta autoestima.

Nas relações uns com os outros, somos um desastre.

É difícil fazer e manter amizade por longo tempo, porque somos invejosos, ciumentos, impacientes, irritantes, implicantes, violentos, egocêntricos e “imperdoadores”.

Vivemos entre o amor e o ódio, a euforia e a depressão, o perdão e a vingança, a vagarosidade e a pressa, a hesitação e a precipitação, a vivacidade e a apatia.

Na área sexual temos mil problemas: falta de naturalidade, sentimento de culpa, iniciação precoce, insatisfação, gravidez indesejada, aborto, infidelidade conjugal, disfunções sexuais, homossexualidade, doenças sexualmente transmissíveis, pornografia, prostituição, violência sexual.

Carregamos desejos efêmeros e custosos demais que não conseguimos medir, avaliar nem manter sob controle.

A psiquiatria diz que a compulsão por uma coisa ou por outra “é a busca imediata de prazer, sem planejamento, que produz satisfação e alívio imediato”. Pode ser a compulsão por compras, álcool, drogas, sexo, dinheiro, projeção social etc.

Desejos doentios destroem desejos sadios, o que nos obriga a viver em tratamento.

Quanto à religião, somos um fracasso. A história está cheia de guerras religiosas. Ora brigamos com a ciência em nome da religião, ora brigamos com a religião em nome da ciência. Ora não temos fé alguma (ateísmo), ora temos fé em demasia (fanatismo). Ora não sentimos culpa de nada, ora temos a pavorosa mania de pecados. Ora estamos montados em nossos pecados, ora os pecados estão montados em nós. Ora chegamos a Deus para obter misericórdia, ora chegamos a Deus para obter conforto e riquezas.

A doença nos apavora, a velhice nos apavora, a morte nos apavora, o outro mundo nos apavora. A rigor, somos vasos estragados e também apavorados.

Só uma coisa pode diminuir esse pavor e até mesmo acabar com ele. Só uma coisa pode resolver o problema do vaso estragado, do corpo estragado, da alma estragada, da vida estragada.

É aquilo que se chama de esperança cristã.

A vida não tem significado algum sem essa esperança.

Deus não merece culto se não há esperança à vista.

Não seríamos insistentes e teimosamente religiosos se essa esperança não fizesse parte de nosso inconsciente e de nossa consciência.

Somos vasos estragados, mas não fomos criados estragados.

Aquele que nos criou completos, saudáveis, felizes e santos vai nos tornar outra vez completos, saudáveis, felizes e santos.

O vaso estragado que se deixa possuir por esta esperança, dia após dia, faz a sua declaração de fé: “Eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25). 


Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/349/somos-todos-vasos-estragados

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=SO6qyodkKR4
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January 28, 2018

Em Suas mãos

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A melhor teologia é aquele que se abandona às mãos de Deus e transforma em espaço e futuro a falta de alternativa

- Valdir Steuernaguel 

Volta e meia, eu acabo voltando ao livro de Jonas. Ele é carregado de um imaginário forte. Capta a atenção com uma enorme facilidade e se dispõe às mais variadas interpretações, tanto teológicas como exegéticas. Donde e como ele surgiu e o que ele quer dizer acumularam, no decorrer da história, uma enorme gama de interpretações.

As figuras que circunscrevem o livro são fantásticas. Os capítulos são apenas quatro e o livro é qualificado como sendo parte dos profetas menores. É, de fato, um livro peque¬no. Mas as imagens, figuras e linguagem que o autor usa são enormes. Nínive e Társis são, afinal, cidades opostas.

E enquanto Deus quer mandar Jonas a Nínive, este quer ir a Társis. Nínive, descrita pelas palavras "maldade" e "violência", aponta para o nível da realidade. Társis é o lugar da auto-escolha, que aponta para o sonho.

E depois tem o mar, com os seus componentes naturais e assustadores. O navio e os marinheiros são figuras corriqueiras, e os portos e os mares estão cheios deles. Viajantes calejados. As ondas, é óbvio, fazem parte do mar, assim como o sal faz parte da sopa.

Mas essas ondas são coisa do outro mundo. O seu tamanho e a sua volúpia deixam assustados os próprios marinheiros. Estes, no seu susto, apelam para a religião. Ou, em palavras mais sacras, apelam para a interpretação teológica do acontecido: "Aqui deve ter o dedo de Deus, quem quer que Ele seja". A este, pois, eles não deixam de clamar: "Ah! Senhor! Rogamos-te que não pereçamos por causa da vida deste homem, e não faças cair sobre nós este sangue, quanto a nós, inocente; porque Tu, Senhor, fizeste como te aprouve" (Jn 1.14).

A ironia do sono de Jonas não deixa de ser um dos elementos tragicômicos do texto. Qualquer criança sacode a cabeça diante do estranho e deslocado sono desse profeta fujão. Sono da fuga a se esconder da consciência e de Deus, como sabemos tão bem.

E, não por último, tem o peixe, com a sua estranha boca e sua enorme barriga. Uma boca que não destroça o profeta e uma barriga que lhe dá o suficiente espaço de vida. É verdade que essa vida tem lugar em meio a peixes vivos e mortos, algas e musgos impossíveis de serem discernidos no escuro inferno molhado.

Dando um pulo para o imaginativo e contemporâneo, podemos imaginar Jonas tentando tirar da sua pele, envelhecida pela experiência, o estranho cheiro de ventre e de peixe. E haja água, sabonete e desodorante! A sua primeira noite, então, é um pesadelo. Em meio ao privilégio da cama e a vontade do sono, ele não se livra das imagens loucas do ventre, da escuridão da sua experiência e do significado de todo o evento. Poucas camas haviam testemunhado tanta inquietação noturna. Um vira-vira sem fim.

O interessante, no entanto, é que é na barriga do peixe que Jonas articula a sua melhor teologia. Na escuridão do ventre ele se entrega como nunca fez na claridade das suas opções. Ele se rende tanto a Deus como a si mesmo.

Em todo o resto do livro de Jonas não se encontra tanta teologia como a que foi formulada em oração no ventre do peixe. Teologia que nasce da finitude, vulnerabilidade e angús¬tia. Teologia que se sabe nas mãos de Deus, mas parece não ver um caminho de saída, tendo à sua frente apenas o escuro ventre do peixe a limitar o seu espaço. Teologia que proclama o fim da auto-caminhada. E, perdido, se joga nas mãos de Deus. Teologia da dependência de Deus.

"Na minha angústia clamei ao Senhor, e Ele me respondeu; do vente do abismo gritei, e Tu me ouviste a voz. Pois me lançaste no profundo, no coração dos mares e a corrente das águas me cercou; todas as tuas ondas e as tuas vagas passaram por cima de mim.

As águas me cercaram até à alma, o abismo me rodeou; e as algas se enrolaram na minha cabeça até aos fundamentos dos montes.

Desci até à terra, cujos ferrolhos se correram sobre mim para sempre; contudo fizeste subir da sepultura a minha vida, ó Senhor, meu Deus! Quando dentro em mim desfalecia a minha alma, eu me lembrei do Senhor; e subiu a ti a minha oração, no teu santo templo." (Jn 2. 2-3; 5-7.)

A verdade é que a melhor teologia — a mais lúcida teologia da transpiração — é aquela que nasce na experiência da vulnerabilidade e da dependência. É a teologia que nasce de uma fraqueza que se abandona às mãos de Deus e transforma em espaço e futuro a falta de alternativa: as entranhas do peixe.

Outro dia, tive um pequeno vislumbre do que isso significa. Para fazer uma ressonância magnética, eu precisava ser colocado dentro de uma espécie de tubo; uma sofisticada "barriga de peixe" (sem algas, é verdade).

Quando, ao preparar-me para o exame, o técnico responsável me disse que esperava que eu não fosse claustrófobo, a angústia irrompeu dentro de mim com uma força indomável. Disciplinadamente, até que tentei me submeter ao exame. Fiz uma parte dele, mas não houve jeito de continuar. Porém, como não havia maneira de fugir, voltei lá, devida¬mente sedado e cercado por gente do coração, tais como a esposa. E tudo isso me ajudou a ser levado para o tubo.

Mas foi Deus quem realmente fez a diferença. O pessoal "lá fora" apontava para Ele. A possibilidade de invocá-lo e pedir pelo seu abraço me deu a força para terminar o exame. Assim, de olhos fechados para não ver o tubo, eu pedi que Deus me abraçasse. É tão significativo que, na fraqueza, Deus se mostre quem Ele é! É quando nos confrontamos com a nossa peque¬nez que Ele se torna presente e afável. E quando começamos a ver quem somos é que Ele se mostra como Ele é.

Ao passar por essa experiência, a luta de Jonas no ventre do peixe ganhou um novo colorido. E comecei a ver como somos parecidos com ele.

Cantadores de galo quando em espaço aberto, nos vemos insignifi¬cantes diante do limite, do escuro e da vulnerabilidade.

É nesse momento, pois, que levantamos os olhos para Deus e fazemos a nossa melhor teologia. Teologia da soberania de Deus que contemplamos com esperança. Experiência da nossa vulnerabilidade que se sabe carente do abraço de Deus. E isso, graças a Deus, é universal. Vale para todos em todo tempo. É no encontro que Deus nos possibilita, na barriga do peixe, identificarmos a semente da sua universalidade. Universalidade do abraço que se expressa, acima de tudo, no convite para a salvação.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/252/a-teologia-da-barriga-do-peixe

January 25, 2018

Prática da confiança

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Em Deus, cuja palavra eu exalto, neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei [Salmo 56.4]

Texto básico: Hb 11.8-12, 17-19

Textos de apoio:
Nm 23.19 Sl 40.4 Sl 46.10 Is 26.3 Rm 4.18-21 Tt 1.2

1. Para entender o que a Bíblia fala

a) Responda, de acordo com Hebreus 11.8-12 e 17-19:

- Quais os feitos de Abraão baseados em sua confiança em Deus? (Observe que todos eles iniciam com a expressão “pela fé”.)

- Com base na resposta anterior, como é possível observar um crescendo na vida de Abraão, com relação ao grau de dificuldade daquilo em que ele deveria crer?

b) Às vezes somos tentados a pôr nossa confiança em pessoas e em promessas que Deus nunca fez. Em que não devemos confiar?
Pv 28.26
Jr 17.5
Sl 146.3
Jr 7.8
Pv 11.28
Is 31.1

c) A prática da confiança tem “grande galardão”, como diz enfaticamente a Palavra de Deus (Hb 10.35).
Descubra os produtos ou galardões da confiança nas seguintes passagens:
Sl 40.4
Is 26.3
Sl 125.1
Sl 56.4

Hora de avançar

A prática da confiança é a arte de colocar em Deus toda a capacidade de crer, em qualquer lugar, em qualquer tempo e em qualquer situação, mediante a negação da incredulidade própria e a afirmação da onipotência divina. É a capacidade de amarrar-se a Deus, e não aos problemas que tolhem a alegria de viver.

2. Para Pensar

Entre o chamado de Abraão e o que aconteceu na terra de Moriá, quando Deus o pôs à prova (Gn 22.1-19), passaram-se talvez 40 anos. Nesse período, a confiança de Abraão cresceu poderosamente, não sem erros (como o caso de Ismael) e alguns fracassos (como o uso de expedientes escusos para proteger-se contra Faraó e Abimeleque).

A confiança em Deus é especialmente válida em circunstâncias adversas e em situações difíceis. É preciso confiar em Deus “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte” (Sl 23.4), “ainda que um exército se acampe contra mim” (Sl 27.3), “ainda que as águas tumultuem e espumejem” (Sl 46.3), “ainda que a figueira não floresça” (Hc 3.17), ainda que…

O que disseram

Deus faz “santas e fiéis promessas” para que nos tornemos participantes da natureza divina. Portanto não há lugar para o vazio.

O Deus que faz as promessas “não pode mentir”. Portanto não há lugar para a desconfiança.

O Deus que faz as promessas e que não pode mentir é extremamente dadivoso. Portanto não há lugar para a ansiedade. O Deus que faz as promessas, que não pode mentir e que é extremamente dadivoso tem todo o poder no céu e na terra, sobre tudo e sobre todos. Portanto não há lugar para o medo.

3. Para responder

a) A sua confiança em Deus tem crescido gradativamente ou está estagnada?
b) Como o salmista e o profeta, faça uma oração mencionando situações difíceis por que você está passando. Inicie cada frase com “ainda que” e termine com uma afirmação sincera de confiança em Deus.

Você e Deus

Permita que sua confiança seja fortalecida:

1) Por meio da comunhão com Deus.
2) Por meio da oração. É perfeitamente correto e válido confessar diante de Deus a pequenez de sua confiança e suplicar uma confiança mais ousada.
3) Pela leitura da Palavra de Deus, que alimenta o espírito e transmite valores extraordinários.
4) Por meio dos notáveis exemplos de confiança plena em Deus de vários personagens da Bíblia e da história. Procure conhecê-los.
5) Por meio de sua própria experiência.

Aprenda a confiar, não desanimar com as crises de falta de fé, levantar-se depois da queda, quantas vezes for necessário, e seguir adiante.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/vida-crista/pratica-da-confianca/

January 24, 2018

Prática da confissão

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Feliz aquele cujas maldades Deus perdoa e cujos pecados ele apaga! [Salmo 32.1]

Texto Básico: Salmo 51

Textos de Apoio:
1 Jo 1.9;
1 Jo 2.1, 2
Lv 5.5
2 Sm 12.13
Ne 1.6, 7
Lc 15.21

Introdução

Na caminhada cristã, todos tropeçamos e nos sujamos de novo com o pecado. Como voltar ao prumo? 

Como retomar o caminho de santidade proposto por Deus?

A confissão verdadeira remove a crise provocada pelo pecado e restaura a comunhão perdida ou arranhada. A comprovação de sua eficácia depende mais da fé do que de sentimentos. Por meio da contínua confissão de qualquer transgressão e de qualquer omissão é perfeitamente possível manter a higiene da alma.

Para entender o que a Bíblia Fala

1.  A confissão de pecados é uma bênção e um direito outorgado por Deus para uso contínuo, até a volta do Senhor e a nossa glorificação. Por que podemos afirmar que a confissão é um direito?
(1 Jo 2.1, 2)


2. É preciso tomar cuidado com a confissão formal, vaga, baseada em chavões, quase sempre desacompanhada de convicção real de pecado e de outro ingrediente indispensável: o arrependimento. A confissão deve ser consciente e precisa, mas muitas vezes temos dificuldade de confessar. Não sabemos exatamente o que declarar diante de Deus. Com a ajuda destes textos, faça uma relação daquilo que podemos e devemos confessar a Deus.
Lv 5.5
Sl 51.3 e Rm 7.18, 21
1 Tm 5.22
Sl 19.12 e 139.23, 24


3. Existem alguns obstáculos que atrasam ou impedem a prática da confissão: o orgulho, a  consciência endurecida (que leva ao cinismo), o medo de pecar outra vez (o pecador admite que pecou, mas já cometeu o mesmo pecado outras vezes e não está suficientemente seguro de que não o cometerá mais, preferindo não confessar a reincidência) e a falta de uma noção correta do que é pecado. Identifique alguns desses obstáculos nas passagens abaixo.
Gn 4.14 (A declaração de Caim)
Lc 18.9-14 (A “oração” do fariseu da parábola)
Ml 1.6; 2.17; 3.7, 8, 13 (A “indiferença” do povo de Israel)


4. Assim como a febre indica a existência de alguma anormalidade no organismo, Deus coloca alguns alarmes para levar o pecador à prática da confissão:
Como podemos detectar a presença de pecado em nossa vida? (Cl 3.15)


5. Por que Davi perdeu a alegria?
(Sl 38.18; 51.12)


6. Que outros alarmes de Deus você pode identificar nestes textos?
Jo 8.9
Sl 32.4
1 Co 11.31
Lc 5.8
2 Sm 12.7

Hora de avançar

A prática da confissão é a arte de se apresentar constantemente diante de Deus para se  declarar culpado de pecados pessoais e específicos, depois de suficientemente alertado e repreendido pela boa consciência, pela Palavra de Deus e pelo Espírito, com o propósito de obter perdão e purificação, mediante a obra vicária de Jesus Cristo.

Para pensar

Devemos fazer uma confissão específica do pecado cometido: inveja, difamação, dificuldade de perdoar, ansiedade, irritação, palavra impiedosa, egoísmo, soberba, negligência devocional, falta de amor, mau trato dispensado ao cônjuge ou ao filho, incredulidade e assim por diante. Devemos também confessar o pecado desejado ou a natureza pecaminosa: vontade de mentir, vontade de adulterar, vontade de aparecer etc. Esse tipo de confissão é saudável, pois revela consciência pessoal da queda, da vulnerabilidade e da necessidade do auxílio do alto.

É necessário confessar até mesmo o envolvimento com a estrutura pecaminosa, a cumplicidade e os pecados que nós mesmos não conseguimos enxergar.

O que disseram

O pecador não sabe ao certo o que é pecado. Ele é capaz de coar o mosquito e engolir o camelo (Mt 23.24). 

Dá mais atenção à tradição do que à Palavra de Deus (Mt 15.6). Por isso é necessário recorrer ao conceito de pecado tão bem resumido no Catecismo Menor: “Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão dessa lei.”

A confissão remove a culpa e a sujeira moral, mas não remove as consequências naturais do pecado, embora possa aliviá-las.

Para responder

- De que forma você tem confessado seus pecados: superficial ou nominalmente?
- No momento, há algum alarme de Deus soando em seu interior?

Você e Deus

“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” [1 Jo 1.9].


Tome posse dessa promessa. Faça a confissão devida e levante-se de seus joelhos na certeza de que alcançou ambas as bênçãos — o perdão e a purificação.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/vida-crista/pratica-da-confissao/

January 23, 2018

Prática da humildade

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A humildade é o mais perfeito conhecimento de nós mesmos
[São Bernardo]


Texto Básico: 1 Pe 5.5-7

Textos de Apoio:
Ez 29.1-16
Dn 4.28-37
1 Sm 2.1-10
Lc 1.46-55
Fp 2.5-11
Tg 4.4-10

O que é realmente a humildade?

Aí está uma pergunta de difícil resposta, já que a humildade não pode ser aparente nem fingida. Ela existe ou não existe. É uma virtude para Deus ver, e não para o homem ver. A humildade não é a negação pura e simples de dons, capacitação e virtudes pessoais. Pelo contrário, é o reconhecimento de que estes dons, capacitação e virtudes vêm de Deus. Se eles existem em nós, é somente porque Deus existe antes de tudo e quis nos presentear com eles. É o reconhecimento também de que, junto com estes dons, todos temos fraquezas, latentes ou não, das quais nunca poderemos nos orgulhar.

Não há como negar: a humildade é uma das virtudes mais difíceis e raras, possível apenas com o auxílio do próprio Deus e pela zelosa imitação da humildade de Jesus.

1. Para entender o que a Bíblia fala

a) Mesmo na vida secular a soberba é tratada como algo perigoso. Diz-se com  freqüência que ela tem sido um dos motivos de surpreendentes derrotas no mundo esportivo. E a Bíblia, como trata o assunto? Faça suas anotações a partir destes textos:
Sl 19.13 – A oração de Davi:
Pv 16.18 – O provérbio de Salomão:
1 Pe 5.5 – A citação de Pedro:
Lc 1.46-55 – O cântico de Maria:

b) A soberba é um problema tão sério que, para ser exterminada, exige medidas radicais.

O CASO DO EGITO – EZEQUIEL 29.1-16
Como foi o tratamento de choque dado por Deus neste caso? O que seria necessário para o Egito tornar-se “o mais humilde dos reinos”?

O CASO DE NABUCODONOSOR – DANIEL 4.28-37
O rei da Babilônia excedeu-se em sua soberba (v. 30).
Qual foi o tratamento de choque aplicado a Nabucodonosor?
Depois de tudo, o que ele finalmente aprendeu? (versos 2, 3, 34 e 37)
Nabucodonosor tornou a ter um reino de majestade e resplendor, depois de recuperado, talvez com mais poder do que antes. Em que sua atitude foi diferente dessa vez? (versos 36 e 37)

c) Que fatores devem ser lembrados para que o sucesso não desencadeie orgulho?
Jo 15.5
2 Co 12.10
Sl 71.7 e 2 Co 3.5

Hora de Avançar

“A prática da humildade é a arte da contenção e privação da soberba e seus semelhantes, como o orgulho, a vaidade, a auto-suficiência e a estima exagerada, aliada à arte de sentir-se constantemente necessitado de Deus, reconhecendo que só Ele é digno de receber louvor, honra e glória”.

2. Para Pensar

O sucesso faz parte dos planos de Deus para o homem. Ele quer que tenhamos bom êxito na vida devocional, no casamento, na criação dos filhos, nas relações humanas, na profissão e no desenvolvimento dos dons do Espírito. Desse sucesso global, depende, sob a perspectiva humana, a velocidade da implantação e da plenitude do reino de Deus na terra. Na verdade, o sucesso é inevitável para quem está plantado junto às águas: “Tudo quanto ele faz será bem sucedido” (Sl 1.3).

Não tenha medo da humildade, apesar de ser uma atitude contrária a este nosso tempo. A humildade também tem galardão. Entre ser honrado aqui e agora pelos homens e ser honrado por Deus, a diferença é enorme.

O que disseram

O primeiro passo rumo à humildade é o reconhecimento do nosso orgulho. (C. S. Lewis)
Humildade é a virtude que nos dá o sentimento da nossa fraqueza. (Dicionário Aurélio)
Humildade não é a mera rejeição de prêmios e coroas, mas a transferência destes para quem de direito, como acontece com os vinte e quatro anciãos no Apocalipse de João (Ap 4.9-11). Não é a inatividade, mas a atividade comandada e alimentada pela sabedoria e pela providência de Deus.

3. Para responder

- Você se conhece bem?
- Faça uma lista de suas capacidades, qualidades e dons e outra de suas fraquezas. Agradeça sinceramente ao Autor e Doador da vida pelos dons que Ele lhe deu.
- Devolva toda a glória a quem de direito.
- Depois, pense em suas fraquezas e entregue-as ao Senhor, pedindo-lhe poder para vencê-las.

Você e Deus

1) É importante vigiar sempre. Se a humildade não for prudentemente mantida, com certeza o sucesso fomentará a soberba e esta, por sua vez, a ruína.

2) Muito cuidado com a falsa humildade, que é pior que a falta dela! Jesus repudiou com veemência toda forma de fingimento, falsidade e hipocrisia.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/vida-crista/pratica-da-humildade/

January 19, 2018

A prática da espera

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Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu [Salmo 42.5]

Texto Básico: 2 Pe 3.8-14

Textos de Apoio
Sl 27.14
Sl 39.7
Sl 69.3
Sl 71.14
Is 40.31
Is 64.4


Um dos maiores transtornos do homem é não saber nem querer esperar. Assim como o feto gasta nove meses para se transformar em uma criança apta para sair do ventre materno e sobreviver fora dele, muitas de nossas carências não são nem podem ser satisfeitas imediatamente, ao toque de uma varinha de condão, como muitos querem.

A prática da espera é difícil por causa da impaciência, do imediatismo e da curiosidade. Um erro é não esperar nada, outro é não saber esperar.

1. Para entender o que a Bíblia fala

Segundo a Palavra de Deus, é preciso aprender a esperar:

a) O fim da tempestade, isto é, o fim da provação, o fim da tentação, o fim do período de vacas magras. O que Pedro aconselha aos cristãos que passavam por duras perseguições? (1 Pe 1.6, 7; 4.12, 13)
b) A hora de Deus. Ele enfeixou em suas mãos os tempos e as épocas e exerce autoridade sobre eles (At 1.7). Como Moisés compara o relógio de Deus com o relógio do homem? (Sl 90.4) O que essa verdade significou para ele próprio? (At 7.23, 25, 30-34)
c) A evolução dos acontecimentos. O que Pedro nos ensina? (2 Pe 3.8, 9)
d) A resposta à oração. Muitos personagens bíblicos e da história esperaram muito para terem suas orações atendidas. O que Jesus nos ensina a esse respeito? (Lc 18.1, 7, 8)
e) A direção do Senhor. Nem sempre a direção que parece lógica e certa é a direção de Deus. Paulo queria continuar na Ásia, mas para onde Deus o queria levar? (At 16.6-10)
f) Os acontecimentos futuros. Quais são eles? [Confira nos textos indicados abaixo]
> Rm 13.11
> Mt 24.42
> Rm 8.23
> Rm 8.18
> 2 Pe 3.13
> Mt 6.10 cf. Ap 11.15

Hora de avançar

A prática da espera é a arte de aguardar tranqüilamente a hora de Deus, sem deixar de fazer o que é de nossa competência e sem fazer o que é da competência de Deus, deixando de lado toda impaciência e todo esmorecimento.

2. Para Pensar

É preciso esperar numa atitude de confianca: “Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro” (Sl 40.1). É preciso esperar numa atitude de paciência: “Depois de esperar com paciência, obteve Abraão a promessa” (Hb 6.15). É preciso esperar numa atitude de tranqüilidade: “Vou esperar, tranqüilo, o dia em que Deus castigará aqueles que nos atacam” (Hc 3.16, BLH).

Existe o erro de esperar o que não é preciso, como aconteceu com a mulher samaritana que aguardava o Messias, sem saber que Ele próprio falava com ela (Jo 4.25). Assim, já não é preciso esperar a vinda do Messias, a efusão do Espírito — que se deu no dia de Pentecostes (At 2.1-4) —, algum acréscimo ao evangelho pregado pelos apóstolos (Gl 1.8, 9) e o tempo de proclamar o evangelho (Mt 28.19, 20).

O que disseram

“Na prática da espera, Deus pode produzir em nós confiança, paciência e quietude. Assim poderemos fazer frente às atitudes inversas de dúvida, ansiedade e ativismo. Uma tentação é deixar de esperar, abandonar a esperança, cansar-se de uma espera que parece longa demais. Outra é intrometer-se, resolver a questão de qualquer modo, assumir a responsabilidade de providenciar o que estava nas mãos de Deus.”

3. Para responder

a) Há algo em sua própria vida ou na vida de pessoas de seu relacionamento que você está quase desistindo de esperar?
b) Como as outras práticas estudadas podem ajudálo a não entregar os pontos e renovar a sua espera?

Você e Deus

1) Aguarde o desenrolar dos acontecimentos de sua própria vida, quando for o caso. Espere o fim da dificuldade, a hora de Deus, a resposta àquela antiga oração, a direção do Senhor, agarrando-se firmemente às promessas de Deus.

2) Não menospreze as esperas escatológicas, que nos parecem tão demoradas. Continue esperando!

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/vida-crista/a-pratica-da-espera/

January 18, 2018

Crucificar o eu

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Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. (Mateus 16.24)

- John Stott

Para seguir a Cristo, devemos não somente abandonar alguns pecados específicos, como também renunciar aos nossos desejos egoístas, que se encontram na raiz de todos os nossos pecados. Seguir a Cristo é entregar a ele os direitos sobre a nossa própria vida. É também abdicar ao trono do nosso coração e reverenciá-lo como nosso Rei.

Jesus descreve vividamente, em três frases, essa renúncia.

Negue-se a si mesmo: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue”. Esse mesmo verbo foi usado quando Pedro negou ao Senhor no pátio do palácio do sumo sacerdote. Devemos repudiar a nós mesmos da mesma forma  como Pedro repudiou a Cristo quando disse, “Não conheço tal homem”. Não se trata de parar de comer doces ou de fumar definitivamente ou por um período de abstinência voluntária. A questão não é negar algumas coisas a si mesmo, mas negar a si mesmo. É dizer não ao eu e sim a Cristo; repudiar o eu e reconhecer a Cristo como Senhor de nossas vidas.

Tome a sua cruz: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”. Se vivêssemos na Palestina, na época de Jesus, e víssemos um homem carregando uma cruz, nós saberíamos imediatamente tratar-se de um condenado à penalidade máxima, pois a Palestina era um país ocupado, e era assim que os romanos castigavam seus condenados. O professor H. B. Swete escreve em seu comentário sobre o evangelho de Marcos, que tomar a cruz é “colocar-se na posição de um homem condenado, a caminho de sua execução”. Em outras palavras, tomar a cruz é crucificar o eu. Paulo usa essa mesma metáfora quando declara que, “Os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne [isto é, nossa natureza corrupta] com as suas paixões e concupiscências”.

Na versão de Lucas dessas palavras de Cristo, a expressão “dia a dia” é acrescentada. Isto significa que o cristão deve morrer diariamente. Todos os dias ele renuncia à soberania de sua própria vontade. Todos os dias ele renova a sua entrega incondicional a Jesus Cristo.

Perder a sua vida. A terceira expressão usada por Jesus para descrever a renúncia ao eu é perder a vida: “Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará”. A palavra “vida” aqui não denota a existência física, nem a alma, mas o nosso eu. A psique é o ego, a personalidade humana, que pensa, sente, planeja e escolhe. De acordo com um ditado semelhante preservado por Lucas, Jesus simplesmente usou o pronome reflexivo para falar sobre o homem perder “a si mesmo”. O homem que assume um compromisso com Cristo perde a si mesmo. Isso não significa que ele perde a sua individualidade. A sua vontade é, de fato, submetida à vontade de Cristo, mas a sua personalidade não é absorvida pela personalidade de Cristo. Ao contrário, quando o cristão se perde, ele encontra a si mesmo e descobre a sua verdadeira identidade.

Assim, para seguir a Cristo, temos que negar a nós mesmos, crucificar a nós mesmos e perder a nós mesmos. Isso é o que Jesus requer de cada um de seus seguidores. Ele não nos chama para segui-lo de forma displicente, mas através de um compromisso forte e absoluto. Ele nos chama para que façamos dele o Senhor de nossas vidas.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/john-stott/2018/01/16/crucificar-o-eu/

January 17, 2018

O primeiro antes do segundo

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- Elben Cesar

Saber colocar em ordem o que fazer, o que esperar, o que conquistar não é nada fácil. Sobretudo quando se leva Deus em consideração. Nem sempre acertamos por causa da nossa cultura, da nossa criação, dos nossos interesses egoístas e da massacrante propaganda de condutas e ofertas que trazem lucro para os outros.

A ordem que geralmente seguimos é invertida. É preciso “desinverter” a ordem errada, que nos distancia cada vez mais do alvo certo e feliz. O primeiro tem de vir antes do segundo, antes do terceiro, antes de tudo.

Primeiro a reconciliação, depois a oferta: “Se você estiver apresentando a oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta” (Mt 5.23,24).1 Reconciliação significa estabelecer a paz outra vez, seja com o cônjuge, os filhos, os pais, os irmãos, o próximo e até mesmo com o próprio Deus. A oferta é um ato de culto e exige ausência de inimizade, discórdia, facções e inveja, que são obras da carne (Gl 5.19-21).

Primeiro o reino de Deus, depois as necessidades pessoais: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas [o que comer, o que beber, o que vestir] lhes serão acrescentadas” (Mt 6.33). O reino de Deus está sendo estabelecido, está se aproximando, está se ampliando. Mas ainda não chegou o grand finale, quando o reino deste mundo se tornará de nosso Senhor e Ele “reinará para todo o sempre” (Ap 11.15). Ainda é preciso orar: “Venha o teu Reino” (Mt 6.10). Ainda é preciso buscar antes de tudo o seu reino.

Primeiro a viga do próprio olho, depois o cisco do olho alheio: “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão” (Mt 7.3-5). Ninguém tem autoridade para pregar contra o pecado alheio se pratica o mesmo pecado ou outro qualquer.

Primeiro o interior, depois o exterior: “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês limpam o exterior do copo e do prato, mas por dentro eles estão cheios de ganância e cobiça. Fariseu cego! Limpe primeiro o interior do copo e do prato, para que o exterior também fique limpo” (Mt 23.25,26). A limpeza interior é mais complexa e trabalhosa. Porque “do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez” (Mc 7.21,22). E ainda: “o Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração” (1 Sm 16.7).

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/289/o-primeiro-antes-do-segundo

January 16, 2018

Confiar


Sabemos que Deus é digno de confiança, mas carregamos marcas profundas de medo e insegurança em nossa história e não sabemos o que significa confiar

- Ricardo Barbosa

É o apóstolo Paulo quem diz: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”. Seguramente havia muitos contra ele. Tudo o que atuava contra ele, pessoas e circunstâncias, possuía um grande poder para levá-lo a duvidar de que Deus era realmente por ele.

Os problemas que enfrentou, as injustiças que sofreu, as portas que se fecharam, os amigos que o abandonaram, tinham grande força de provocar na sua alma um profundo sentimento de insegurança, medo e rejeição e a necessidade de desenvolver mecanismos de controle para se proteger. Muitos, por muito menos, abandonaram a fé. Porém, não foi isso o que aconteceu com Paulo.

É importante observar que Paulo não diz: se Deus é por nós, nada irá acontecer contra nós. A pergunta que ele faz é: “Quem será contra nós?”. Se Deus é por nós – para colocar de modo mais pessoal: se Deus é por mim, se ele está trabalhando e lutando a meu favor, se o Todo-Poderoso está do meu lado, se o Emanuel, o Deus conosco, é por mim, o que todas estas coisas ou pessoas podem fazer contra mim? O que todos os abandonos, traições, injustiças e prisões podem fazer contra mim?

Certamente eles irão fazer com que eu fique abatido, entristecido, afligido. São reações normais, esperadas por quem passa por esses tipos de situação. Certamente Paulo teve esses sentimentos. Mas isso não significa ser tomado pela paralisia do medo e da insegurança, por sentimentos de revolta ou de ter sido abandonado. Paulo não se sentiu rejeitado ou abandonado por Deus, nem desenvolveu um sentimento de revolta e cinismo em relação a sua fé. […]

Uma consequência desses sentimentos é a dificuldade de estabelecer relações de confiança. Ao longo da vida aprendemos a controlar nossos relacionamentos, a domesticar as emoções e a reprimir os desejos pelo medo de sermos feridos pelas forças que atuam contra nós. Cultivamos certa suspeita das pessoas que nos cercam e chegamos a duvidar do amor e do cuidado de Deus.

Mantemos uma distância segura dos outros para não sermos novamente feridos ou abusados. Interpretamos os problemas e angústias que vivenciamos como uma espécie de fatalismo – “Isso sempre acontece comigo”, “Sabia que não podia confiar nesta pessoa” e, por fim, não nos entregamos nem a Deus nem aos outros.

O futuro também nos assusta. Quando o passado permanece confuso pelas feridas emocionais que carregamos e as mágoas e os ressentimentos se arrastam conosco através dos anos, o medo e a incerteza crescem dentro de nós e o futuro torna-se ameaçador. Insistimos em querer controlá-lo buscando algum mecanismo que nos ofereça segurança contra as incertezas, como um trabalho estável ou competência profissional, porque confiamos apenas em nós, mas ao primeiro sinal de perda de controle nos desestruturamos emocional e espiritualmente.

Num ambiente de medo, insegurança, desconfiança e suspeita não crescemos. Permanecemos isolados no nosso mundo fechado. Mantemos nossas defesas sempre em estado de alerta e nossos mecanismos de controle a postos. Conseguimos abrir pequenas frestas para poucos relacionamentos, mas sempre com a possibilidade de fechá-las a qualquer momento diante da primeira ameaça. Mesmo em relação ao cônjuge e aos filhos, há sempre uma ponta de suspeita. As críticas ou um simples comentário tendem a ser vistos como um tipo de censura, depreciação ou mesmo ameaça, e podem nos desestruturar emocionalmente.

A grande afirmação de Paulo é: “Deus é por nós”. Deus está a nosso favor, nunca contra nós. Sendo ele por nós, o que dificuldades, conflitos, angústias e sofrimentos do passado, da vida presente e futura podem fazer contra nós? Se eliminarmos a primeira parte da frase, eles podem fazer muito contra nós. Porém, quando consideramos a segunda parte da frase à luz da primeira, todo o cenário muda. Deus fez uma aliança com seu povo. Selou essa aliança com o sacrifício do seu Filho e nos deu o Espírito Santo. Prometeu ser o nosso Deus e Jesus, antes de subir aos céus, disse: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20). Ele também afirmou que é a luz do mundo e quem o segue não andará em trevas. […]

Os problemas eram reais. Todos eles tinham o potencial de fazer com que Paulo se sentisse abandonado e rejeitado por Deus e pela igreja e de desestruturar sua vida e missão, mas não foi isso o que aconteceu. E ele mesmo nos dá a explicação da sua reação: Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas. [2 Coríntios 4.16-18]

Por que ele não desanimava? Porque por trás de todos esses problemas e lutas que ele enfrentava estava em curso um processo de santificação e renovação espiritual ao qual ele estava sempre atento. Ele nos oferece pelo menos dois motivos para não desanimar e se desestruturar emocional e espiritualmente.

O primeiro envolve a consciência que ele tinha da necessidade do fortalecimento interior e da fragilidade do corpo. Não são duas realidades distintas: o interior versus o exterior, ou o espírito versus o corpo. Paulo não trabalha com esse tipo de dicotomia. No entanto, ele reconhece que o corpo tem suas limitações e sofre os desgastes naturais da vida. Ele sofre com a má alimentação, e esse era um problema que Paulo enfrentava em suas viagens e prisões; sofre com o desgaste do tempo; sofre as dores e feridas dos açoites. 

Mas ele também reconhece que a renovação interior não acompanha o mesmo ritmo do desgaste físico; pelo contrário, o corpo envelhece e fica mais fraco e o interior se renova e fica mais forte. O fortalecimento interior nos ajuda a reagir de maneira adequada ao desgaste exterior, seja ele natural – envelhecimento ou doenças – ou provocado pelas vicissitudes da vida – perseguição, rejeição, abandono.

Por causa das suas convicções ele sabia que seu compromisso com a pregação do evangelho iria trazer conflitos e desgastes físicos; ele era muito realista em relação à sua missão. Foi o que Jesus disse. Porém, em virtude da sua mente transformada pelo poder do evangelho ele sabia que, apesar do cansaço e do desgaste físico, todas aquelas tribulações e perplexidades não teriam o poder de abalar a certeza de que Deus era por ele e que, em vez de desestruturarem sua fé, elas fortaleciam e renovavam sua confiança em Deus […].

As convicções e pensamentos de Paulo moldaram suas emoções e seus sentimentos. Muitos pastores e missionários já abandonaram o ministério e tantos outros abandonaram a fé e o compromisso com Cristo por muito menos. Isso sem falar daqueles que vivem uma experiência espiritual confusa, infantil e codependente por não saberem lidar com situações semelhantes. Como eu disse, os fatos em si não são o problema, mas o modo como os interpretamos e a relação que eles têm com Deus e a fé que professamos. O modo como Paulo interpretou os fatos e reagiu a eles foi determinado por uma mente transformada pelo poder do evangelho.

O medo, a insegurança e o abandono são grandes obstáculos ao crescimento e amadurecimento espiritual. Pessoas que cultivam esses sentimentos buscam “fórmulas” religiosas, não o crescimento espiritual. Buscam as “orações poderosas”, soluções mágicas. São atraídas por líderes dominadores e manipuladores que alimentam uma fé infantil e dependente. Pessoas assim não crescem nem amadurecem. A santidade é percebida de modo moralista e legalista. Precisam de regras e não de princípios. Permanecem infantis porque o medo não permite que sejam “aperfeiçoadas no amor” (veja 1 Jo 4.18).

A importante afirmação de Paulo é: “Deus é por nós”. Deus nos criou à sua imagem e semelhança; ele fez de nós o seu povo e celebrou uma aliança conosco; ele nos salvou e nos libertou em Cristo Jesus; perdoou todos os nossos pecados e nos reconciliou com ele mesmo por meio de Cristo, que prometeu que estará conosco todos os dias até o fim dos tempos. [..]

Deus atua a nosso favor. Ele nunca conspira contra nós. Ele faz com que todas as coisas e todos os acontecimentos cooperem para o nosso bem (Rm 8.28). Seu maior desejo é que sejamos conformados à imagem de Jesus Cristo, seu Filho unigênito, e isso não acontece sem sofrimento, perda, luta e conflito. Toda a revelação bíblica é um longo testemunho do cuidado de Deus para com o seu povo, e mesmo quando precisa discipliná-lo ele faz isso para o bem do seu próprio povo. Ele transtorna o mundo por causa do seu povo. Confira Isaías 43.1-5 […].

Ele é o Senhor que nos criou, formou, redimiu, que nos chama pelo nome; nós pertencemos a ele, ele está sempre conosco; somos preciosos aos seus olhos, somos amados por ele. Do que mais precisamos saber para ter a certeza de que ele é por nós?

Se Deus é por nós, por que agimos como se ele fosse contra nós? Por que sentimentos de medo, insegurança, abandono e desconfiança nos acompanham todas as vezes que enfrentamos uma situação difícil? Por que estamos sempre querendo ter tudo sob controle, mesmo sabendo que isso não é possível? Por que nossas emoções e sentimentos não acompanham nossos pensamentos e convicções a respeito da bondade e do cuidado de Deus? 

Talvez, numa resposta aparentemente simplista, isso acontece porque não confiamos em Deus. Isso não significa que não sabemos que Deus é digno de confiança; é claro que sabemos, mas significa que carregamos marcas profundas de medo e insegurança em nossa história e não sabemos o que significa confiar.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato/2018/01/05/se-deus-e-por-nos-por-que-agimos-como-se-ele-fosse-contra-nos/

January 15, 2018

Atrás do vento

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- Renan Vinícius

Qual é o motivo que te faz acordar cedo todos os dias? O que te motiva a encarar horas no trânsito ou dividir um vagão de trem com uma multidão todas as manhãs e ao fim de um longo expediente numa rotina cansativa? Muito provavelmente, você faz isso por uma simples necessidade: (sobre)viver.
No livro de Eclesiastes, o rei Salomão diz que “só mesmo um louco chegaria ao ponto de cruzar os braços e passar fome até morrer” (Ecleasiastes 4:6 NTLH). Sua observação é pertinente: se você não trabalhar e não tiver alguém que o sustente, certamente passará por momentos difíceis nesta vida. No entanto, muitas vezes as coisas passam do limite e vivemos para ter – e não ser. Desejamos o carro do ano, o celular de última geração, o Instagram repleto de fotos invejáveis (mostrando os pés em frente ao mar em plena tarde de segunda-feira), entre outras coisas.
Para isso, nos sacrificamos, trabalhamos mais – mesmo que isso signifique deixar a família e os amigos de lado. Muitas vezes essas ações são justificadas com boas intenções como “quero proporcionar mais conforto para minha família”. No entanto, quando conseguimos o que tanto queríamos, não nos contentamos: queremos ainda mais, correndo o risco de entrarmos num ciclo vicioso. Nesse sentido, Salomão nos adverte que “é melhor ter pouco numa das mãos, com paz de espírito, do que estar sempre com as duas mãos cheias de trabalho, tentando pegar o vento” (Ecleasiastes 4:6 NTLH).
Não há nada de errado em viajar ou trabalhar para comprar algo que você tanto deseja – como disse Benjamin Franklin, “o trabalho dignifica o homem”. Estaria mentindo ao negar que a sensação de comprar algum objeto desejado ou ter algum sonho realizado é gratificante, mas na insaciável vontade de crescermos e termos mais, cometemos erros. Muitas vezes buscamos a derrota do outro e nos esquecemos do que é verdadeiramente importante: vivermos uma vida que testemunhe o evangelho de Cristo.
Você já parou para pensar o que tem sido o centro de sua vida, de suas ações? Lembre-se sempre do que o nosso Senhor Jesus Cristo disse durante o Sermão da Montanha: “Por isso eu digo a vocês: não se preocupem com a comida e com a bebida que precisam para viver nem com a roupa que precisam para se vestir. Afinal, será que a vida não é mais importante do que a comida? E será que o corpo não é mais importante do que as roupas?” (Mateus 6:25 NTLH).
“E por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem as flores do campo: elas não trabalham, nem fazem roupas para si mesmas. Mas eu afirmo a vocês que nem mesmo Salomão, sendo tão rico, usava roupas tão bonitas como essas flores. É Deus quem veste a erva do campo, que hoje dá flor e amanhã desaparece, queimada no forno. Então é claro que ele vestirá também vocês, que têm uma fé tão pequena! Portanto, não fiquem preocupados, perguntando: ‘Onde é que vamos arranjar comida?’ ou ‘Onde é que vamos arranjar bebida?’ ou ‘Onde é que vamos arranjar roupas?’ Pois os pagãos é que estão sempre procurando essas coisas. O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso” (Mateus 6:28-32 NTLH).
Em nossa mania de autossuficiência, fazemos inúmeros planos, criamos inúmeros projetos e vivemos unicamente em busca de realizá-los. Infelizmente, na maior parte das vezes sequer pensamos se esses planos são os que Deus tem planejado para nossas vidas – e ficamos profundamente aborrecidos quando não conseguimos realizá-los. Devemos pedir ao Senhor que cumpra a vontade dele em nossas vidas, e que nos ensine a aceitá-la.
Precisamos deixar nosso ego de lado, nos entregar cada vez mais a Ele, confiar em seu poder e substituir os pensamentos de ansiedade por momentos de intimidade com o Pai. “Portanto, ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus e aquilo que Deus quer, e ele lhes dará todas essas coisas. Por isso, não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias dificuldades” (Mateus 6:33-34 NTLH).
Fonte:http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/05/03/vivendo-a-vida-correndo-atras-do-vento/

January 14, 2018

Para começar 2018 reconciliado

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O que significa reconciliação?

A frase “Deus, em Cristo, reconciliando consigo todas as coisas” que é parte do versículo 18 do capítulo 5 da segunda carta aos Coríntios pode ajudar: Jesus crucificado – sua morte e ressurreição – é o começo do entendimento da mensagem revolucionária de reconciliação.

E pasme, o recado serve para os mansos e para “haters”, para conservadores e liberais, para os de direita ou de esquerda, para os “de Paulo” e também para os “de Apolo”.

A reconciliação de “todas as coisas” também alcança todas as áreas e campos da cultura.

Alguns pouco palatáveis e outros nem tanto: arte, política, criança em vulnerabilidade, missão, meio ambiente, entre outros.

Enfim, em tempos de polarização, o Evangelho da reconciliação é a plataforma que aproxima homens e mulheres de Deus, por meio de Cristo.

Confira o conteúdo completo da primeira edição da revista Ultimato em 2018: aqui.

E feliz, bem-aventurado, ano novo.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/para-comecar-2018-reconciliacao

January 13, 2018

Autenticidade: quando as atitudes não traem as palavras

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Reinaldo Percinotto Júnior

Texto básico: Atos 16. 6-34

Textos de apoio
– Gênesis 12. 1-3
– Deuteronômio 8. 11-18
– Isaías 42. 1-9
– João 8. 31-32
– Romanos 10. 5-15
– Filipenses 2. 1-11

Introdução

Autenticidade – a qualidade de ser autêntico -, é uma virtude muito importante para quem deseja ser e fazer discípulos de Jesus Cristo. Ser autêntico implica ser transparente – permitir que se veja através de você, como uma janela que costuma ser limpa com regularidade. E, nesse caso, uma transparência que permite ver, no seu interior, a presença de Jesus.

O testemunho do discípulo autêntico é também coerente: suas ações não traem suas palavras. Ele procura viver o que prega. E nesse processo, claro, não há espaço para  fingimento ou qualquer falsificação de sentimentos. A dor não deixa de doer, o sofrimento não deixa de machucar, a tristeza não deixa de produzir lágrimas. Porém, a autenticidade  possibilita o exercício coerente da fé que não mascara a realidade difícil, mas permite uma relativização do “poder” das adversidades. Assim, sendo Deus soberano sobre a história, nossa e da humanidade, é preciso relativizar qualquer outro “senhorio”, venha ele de onde vier; nossas atitudes e posturas serão determinadas por nossa confiança em Deus.

Será que nossa postura diante das adversidades e sofrimentos poderá “trair” nosso testemunho verbal sobre a soberania de Deus? Por outro lado, a negação de nossas fragilidades e fraquezas humanas não produzirá também um testemunho distorcido do Evangelho? É possível encontrar um equilíbrio que nos torne testemunhas autênticas de Jesus?

Para entender o que a Bíblia fala*

  1. Como Paulo e seus amigos são dirigidos acerca do lugar para onde deveriam ir (vv. 6-10)? Que princípios de “orientação” você percebe nestes versos?
  2. Medite sobre como este incidente, em que a mensagem do Evangelho atravessa o Mar Egeu para chegar ao continente europeu, afetou sua história pessoal e do mundo todo.
  3. Paulo e os companheiros responderam imediatamente ao que entendiam ser uma mensagem de Deus. De que forma a obediência deles foi confirmada ao desembarcarem na Mecedônia (vv. 11-15)?
  4. Os donos da jovem escravizada desencadearam a prisão de Paulo e Silas (vv. 16-24). A resposta dos discípulos, depois de serem açoitados e presos (injustamente), foi orar e cantar hinos a Deus (v. 25). Descreva os eventos que antecederam e geraram a pergunta do carcereiro: “Que devo fazer para ser salvo?” (vv. 23-30).
  5. Fica claro no livro de Atos que Deus está interessado no mundo e nas nações sendo alcançadas pelo Evangelho. Mas ele também está preocupado com pessoas, individualmente. Quais pessoas foram afetadas pela obediência de Paulo à direção de Deus (vv. 14-15, 18, 30-33)?
Para Refletir

Recontando a história, ouso incentivar o leitor que leve este evangelho de Jesus para casa, o lugar mais próximo, leve, acessível e íntimo de cada um de nós. Deixe o abalo, que sacode aquilo que precisa ser sacudido, abrir portas, escancarar janelas e destravar trancas. Pense em encher o seu lar com compromisso pessoal e familiar com o evangelho de acordo com o batismo e a identidade que ele nos traz; momentos simples de oração e leitura da Palavra de Deus; acolhimento de portas abertas ao vizinho, ao amigo e até ao estrangeiro; cuidado bondoso e criativo com as próprias mãos ao que necessita; e, por fim, mesa posta colocada no centro para refeições calmas e sem pressa. 

(Jony W. De Almeida)

A comunhão não é o fim. A missão é. A comunhão, aquela intimidade sagrada com Deus, não é o último momento da vida cristã. Nós o reconhecemos, mas esse reconhecimento não é apenas para ser provado ou mantido como um segredo… ‘Vá e diga’. Essa é a conclusão da celebração da Comunhão. Esse também é o último chamado da vida cristã: ‘Vá e diga. O que você ouviu e viu não é apenas para você… Vá, não demore, não espere, não hesite, mas ande agora e volte para os lugares dos quais você veio, e faça com que aqueles que você deixou para trás em seus refúgios saibam que nada há a temer, que Ele ressuscitou. Ele de fato ressuscitou’.

(Henri Nouwen, Meditações com Henri Nouwen, Danprewan, 2003)

Para Terminar

  1. Paulo e Silas falaram do Evangelho assim como o demonstraram em sua vida. Como tem sido sua experiência com este duplo desafio de testemunhar sobre Jesus com suas palavras e com seu viver?
  2. Existe alguma pessoa ou tarefa para a qual Deus está chamando você? Que passos você precisa desenvolver para uma obediência imediata e sem reservas a este “chamado”?
Eu e Deus

"Quero ser um bom testemunho a ti, Senhor Deus, para que não falte a ninguém entre meus familiares, amigos ou vizinhos o convite de minha parte a entrar em tua presença e sair da violência, do esquecimento ou do egoísmo. Amém.”
(Eugene Peterson, Um Ano com Jesus, Ultimato)

*Adaptado de “Quiet Time Bible Guide: 365 days through the New Testament and Psalms”, ed. Cindy Bunch, InterVarsity Press, 2005.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/vida-crista/cristao-autentico-quando-as-atitudes-nao-traem-as-palavras/

January 12, 2018

Como resolver conflitos

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A metodologia da reconciliação (ou como Jesus nos ensina a resolver conflitos)

- Jean Francesco

Seres humanos brigam. Famílias discutem. Irmãos lutam uns com os outros. Sim, é bem provável que isso também tenha acontecido com você. Nós somos especialistas em proferir palavras que machucam o coração e nosso instinto às vezes — para alguns, sempre — gosta de assistir uma boa briga. O ser humano é competente o suficiente para alimentar todos os tipos de rivalidades, e se você é uma pessoa que nunca passou por nenhum conflito, aí vai uma novidade não muito interessante: você terá que enfrentar muitos conflitos pela frente.

Jesus disse que seria assim. Ao ordenar a Pedro que perdoasse o próximo 490 vezes, ele não estava traçando um limite fechado para o perdão, estava ordenando a Pedro que perdoasse sempre. E por que perdoar sempre? Pelo simples fato de que os seres humanos sempre vivem brigando por algo. Mas isso não é necessariamente um grande problema, pois os humanos geralmente reconhecem que são problemáticos. O grande problema mesmo é a forma como tentamos resolver esses conflitos.

A tentação da fuga

Em nossa sociedade apressada e consumista, o padrão de resolução de conflitos é a fuga. Se temos problemas com alguém, tendemos a achar que o jeito é ignorar a situação e colocá-la debaixo dos tapetes.

Respeitando cada caso em particular, o divórcio é visto por muitos como o segredo de resolver conflitos no casamento. Pedir transferência de uma igreja para outra ou simplesmente deixar de congregar é a regra de ouro que alguns aplicam para solucionar crises entre irmãos da fé. Em outras palavras, ao invés de resolvermos nossas pendências, preferimos “deixar o barco” na ilusão de que assim tudo ficará bem.

No entanto, Jesus nos ensinou um caminho bem diferente, no texto de Mateus 18.15-18. Ele não foi favorável ao isolamento ou à fuga, jamais encorajou a estocar porções de rancor na alma ou cultivar o insulto. Ao invés disso, nessa clássica passagem há uma metodologia da reconciliação que realmente funciona. Fugir dos problemas parece, a priori, ser uma solução rápida, mas é tão somente uma forma de adiar as consequências ruins que são inevitáveis. Jesus nos ensinou a “peitar os nossos conflitos”. Pode ser uma solução mais demorada a princípio, mas é a única que abre janelas de paz para o futuro.

O passo a passo de Jesus

Primeiro, tome iniciativa para resolver o problema de forma particular. Isso é o oposto do afastamento, sem jogar nada debaixo dos tapetes, é como tirar a sujeira do quarto de uma vez. Sejam específicos, conversem olhando olhos nos olhos e se acertem. Não espalhem para ninguém, não falem com outras pessoas, fale só você e quem te ofendeu ou quem foi ofendido por você. Isso é um sinal de grande maturidade. Se resolveu, acabou o conflito.

Porém, se o conflito persistir, tente novamente com uma ou duas pessoas que são testemunhas do que aconteceu. Isso pressionará a pessoa a ver o seu erro, e o quanto ele tem afetado a vida dos demais. Assim, a verdade virá à tona. Tente resolver o problema de uma vez por todas. Se resolver, acabou o conflito.

Porém, se o conflito persistir mesmo diante das testemunhas, leve o assunto para a igreja, liderança, pais ou autoridades. Aqui está o passo no qual a maioria das pessoas erram. Geralmente o assunto é levado para a liderança da igreja ou demais autoridades antes dos anteriores serem seguidos. Se isso acontecer, é um sinal de grande imaturidade de nossa parte, sem falar de desobediência aos mandamentos do nosso Salvador.

Portanto, diante de instâncias superiores, se a pessoa te ouviu, acabou o conflito — demorou, mas acabou!

E se não ouvir — e somente na terceira tentativa — é que Jesus nos dá a opção de quebrarmos os laços de amizade. Ainda assim, se posteriormente tal pessoa vier até você novamente, perdoe e reate a amizade.

O vírus da rebelião e a nossa salvação

Alguém poderia perguntar: “Por que temos que resolver nossos conflitos assim?”. Jesus ensinou assim porque ele fez exatamente assim. Nós o ofendemos. Nós decidimos viver sem Deus, à nossa maneira. Todo ser humano, ao nascer, vem ao mundo em conflito com Deus. Nós começamos a briga e não queremos voltar atrás. Merecíamos a morte, pois ofendemos o caráter santo do Deus eterno. Cuspimos em seu rosto, demos as costas para o seu amor. Portanto, o vírus dessa rebelião se espalhou por todo o nosso ser e a humanidade toda hoje está infectada e destinada à morte.

Contudo, o ofendido veio até nós em busca de reconciliação. Deus veio até nós mesmo nós estando em inimizade com ele. E muito mais do que isso, ele decidiu nos perdoar por tudo o que fizemos contra ele.

Não apenas com palavras, ele deu uma prova visível de que realmente nos ama e nos perdoa, oferecendo seu único Filho para morrer a morte que era nossa. Essa é a metodologia de Deus para resolver conflitos.

Deus não se afasta, não guarda rancor de nós, não fala mal de nós, não se torna nosso inimigo e não quer nos matar. Antes, deu o seu Filho para morrer por nós. Se você se arrepender totalmente dos seus pecados, chorar por eles e voltar-se para Deus, entregando a ele sua vida de todo seu coração, então você estará em paz com Deus.

É assim que se resolve conflitos, não com a metodologia da fuga, mas por meio de reconciliação.

Precisamos tratar os nossos problemas de frente, com coragem. Oro para que você e eu aprendamos com Deus a solucionar os problemas que temos uns com os outros.
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2018/01/11/a-metodologia-da-reconciliacao-ou-como-jesus-nos-ensina-a-resolver-conflitos/

January 11, 2018

Exercício contra o ressentimento

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“Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”
Mt 18:21,22

- Rafaela Senfft

Neste momento da minha vida Deus tem me levado a meditar sobre exercício do perdão. Chama-me atenção nesses dias como as diferenças entre as pessoas têm tomado um rumo tão insensível no nível da comunicação. A meu ver, parece que estamos cada vez mais impacientes.

A urgência em expressar uma teoria dogmática precede o diálogo e a misericórdia, e em cada novo fato que aparece, tem se testemunhado um tom de hostilidade, principalmente entre irmãos em Cristo. As visões de mundo contrárias têm feito surgir debates inflamados e intolerantes, cada um querendo ser juiz da vida alheia. E a lição do perdão e da misericórdia, deixada por Jesus, vai se esvanecendo.

Sobre esse ambiente de hostilidade entre os irmãos, a igreja de Cristo, ao invés de buscar união, se mostra fragmentada e dividida, preconceituosa em relação a denominações, julgadora, subestimadora e altiva. E, por muitas vezes, me encontrei ativamente fazendo parte disso.  Justamente por ter feito parte dessa mistura é que Deus pôde me corrigir e me dar oportunidade da sair desse curto-circuito.

Um estado de espírito, talvez o mais perigoso, que esse ambiente pode nos proporcionar sem que percebamos é o ressentimento. Isso é um problema que se camufla na autocomiseração. Ele fica ali instalado, crescendo e guiando nossas atitudes até nos tornar reféns desse sentimento. Ele passa a fazer parte da lente através da qual olhamos pra vida, para as pessoas e para nós mesmos.

O ressentimento nos faz tomar partido, de forma irracional e impensada, apenas para sermos contra aqueles que nos ofenderam um dia. É como um analgésico automedicado, que vai nos aliviar momentaneamente daquela dor que nós mesmos insistimos em cultivar diariamente, até que se perca o controle, já que não é cortado pela raiz.

O perdão é o melhor exercício contra o ressentimento.

O ato de perdoar, mesmo quando se sente raiva, é o antídoto que vai nos livrar de vivermos ressentidos. Perdoar é de fato um exercício. Quando perdoamos, não fica tudo bem de imediato. O ressentimento tem sido, talvez, o mais sutil fruto da carne. Não é à toa que a metáfora do “setenta vezes sete” é semelhante à forma como fazemos exercícios na academia ou na fisioterapia: precisamos praticar todos os dias, várias vezes, em forma de repetição, para que o músculo se conforme ao objetivo desejado.

Me encanta a riqueza da linguagem simbólica que a Bíblia traz, porque se aplica a todo tempo e contexto.

Esse caráter identificador nos traz uma proximidade de linguagem, para que possamos entender de maneira pessoal e não somente a partir de uma leitura vinculada aos resultados da pesquisa original. Essa flexibilidade e mobilidade caracterizam uma palavra viva, que nos fala diretamente, que cabe em todo tempo e espaço.

Obviamente, considero o conteúdo teológico que decifra, na análise das escrituras, as razões para explicar o número sete.  Mas há o encantamento de perceber a vivacidade da Palavra em nos tocar dentro de um significado pessoal e presente, como nessa analogia, relacionando o exercício do perdão às atividades físicas que fazemos diariamente para modelar um músculo ou conferir vitalidade a ele.

Temos o objetivo de fortalecer o corpo físico e precisamos das séries de repetições para conformá-lo a nosso objetivo, de modo que na medida em que se praticam, os exercícios vão ficando mais fáceis e familiares.

Com o perdão não é diferente, precisamos exercitar o “setenta vezes sete como uma série de repetições diárias, até que o ressentimento e as mágoas possam se conformadas ao objetivo do amor.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2017/09/20/o-exercicio-contra-o-ressentimento/

January 10, 2018

Príncipe da Paz

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Príncipe da Paz, 

acalma a tempestade da minha mente,

reconcilia meus pensamentos, desejos e vontades.

Vem reinar em minha vida,

eu te convido.

Faz morada no meu coração.

Vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=kc0DKzPdv44
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January 09, 2018

Inteiro

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" Nós nos tornamos participantes da obra do reino quando amamos a Deus de coração, mente, alma e força "

N. T. Wrigth
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January 08, 2018

True love

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Uma livre releitura de 1 Coríntios 13

1. Mesmo que eu falasse fluentemente idiomas humanos e dialetos de anjos, sem que ninguém os tivesse me ensinado, se em mim não habitasse o amor, tudo isto seria muito bonito, porém não traria edificação a ninguém.

2. Mesmo que eu fosse apto a exortar, consolar e ensinar, de modo que eu me tornasse o mais sábio dos homens, e além disso tivesse uma fé inabalável, se em mim não habitasse o amor, isto não teria valor algum.

3. Mesmo que, numa demonstração hipócrita de falsa piedade, eu chamasse a imprensa para noticiar a entrega de todos os meus bens a instituições de caridade, e mesmo que eu me submetesse a torturas físicas inimagináveis somente para entrar para a História como um "mártir", por não habitar em mim o verdadeiro amor, recompensa nenhuma eu receberia.

4. O verdadeiro amor sofre, assim como o Servo Sofredor padeceu por nós, o verdadeiro amor é do bem, nele não há malícia de espécie alguma, ele não odeia ninguém que tenha algo que ele deseja, ele não faz "molecagens", não é irresponsável, o verdadeiro amor não se incha em sua tola vaidade.

5. O verdadeiro amor não se porta mal, ele é sereno, não é dado a escândalos, não faz da busca pela sua satisfação pessoal a razão da sua própria existência, não fica brabo por qualquer coisa, não possui um olhar mau que transforma tudo o que vê em "suspeito".

6. O verdadeiro amor não sente prazer algum na injustiça, na falsificação da verdade para condenar o inocente ou absolver o culpado, para dar a alguém aquilo que não lhe pertence ou para tirar de alguém algo que é seu por direito, mas sente imensa alegria ao ver a verdade, que é a própria justiça, prevalecer.

7. O verdadeiro amor é resignado, ele aceita que basta a cada dia o seu mal, ele sabe que o Pai Celeste conhece perfeitamente as suas necessidades, e por isso aguarda com paciência e fé a providência divina, suportando neste ínterim tudo aquilo que for necessário.

8. O verdadeiro amor não tem como dar errado, ele sempre funciona! O verdadeiro amor não possui prazo de validade, ele é Eterno! Todavia, haverá um tempo no qual profecias, linguagens, e todo conhecimento se tornarão obsoletos, não tendo mais utilidade alguma.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/uma-livre-releitura-de-1-corintios-13-vv-1-8

January 07, 2018

Do eu para nós

Construindo intimidade

- Carlos “Catito” e Dagmar Grzybowski 

A partir da leitura de Gênesis (a gênese de todas as coisas) verificamos que homem e mulher, juntos, descobrem a maravilha da intimidade. Durante o sono do homem, Deus retira um osso e um pedaço de carne próximo ao coração dele, transformando-o no corpo da mulher (Gn 2.21-23). Conforme o psiquiatra argentino Carlos Hernandéz, a formação desse novo corpo modificaria para sempre o estímulo que faz funcionar o coração do homem (da mesma forma que o estímulo do coração da mulher que tem sua origem na carne do homem) tornando tal estímulo assimétrico - essa assimetria na condução do estímulo cardíaco, milênios depois seria conhecida como “emoção”.

A emoção é a vivência mais profunda que a atração do outro provoca em mim e é inexprimível em palavras - às vezes se expressa em um suspiro - e nos toma e nos encanta. No livro de Gênesis esta emoção transforma-se na 1a. expressão da fala humana registrada: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada” (Gn 2.23). Esta fala se refere ao reconhecimento da mulher como ser complementar, à consequente passagem do “eu autocentrado” para o relacional e à demarcação do início do desfrutar da intimidade - uma intimidade relacional que tem na transparência plena (Gn 2.25) o símbolo de sua essência. 

Neste contexto, a mulher torna-se propulsora do amor incondicional, pois sem a presença desta mulher, o homem seria incapaz de vivenciar a dimensão relacional e o mistério do amor incondicional: ser amado pelo outro em toda a minha torpeza. Intimidade que, algumas vezes, só pode ser expressada de forma meta-comunicacional por meio do toque - tocar o outro para comunicar algo que não se pode exprimir em palavrasEsse toque, para expressar a ternura, precisa de uma “reorganização” neurofisiológica: do movimento retensivo (possessivo) para o movimento distensivo (de entrega). 

O movimento retensivo - aquele que flexiona o antebraço sobre o braço e faz os dedos da mão se fecharem - é uma construção neurológica codificada desde os tempos mais remotos da humanidade caída (do “homo coletor”, que juntava alimentos no chão e hoje é o “homo consumidor”, que junta alimentos nas prateleiras dos mercados). Para que esse movimento retensivo (em minha direção) se torne um movimento distensivo (em direção ao outro) é preciso haver uma conversão profunda, que vai contra todos os paradigmas da sociedade do consumo.

Enquanto foco no que o “eu autocentrado” deseja e pensa, mantenho o condicionamento retensivo (possessivo) que é um movimento gerador de tensão. Apenas quando passo ao movimento distensivo (de entrega) é que produzo relaxamento e promovo o eu relacional. Somente assim comunico a verdadeira emoção da ternura permitindo que "a pele do outro direcione o meu toque" (Carlos Hernandez).

Assim, a resolução da maioria dos conflitos conjugais passa por essa conversão “mais profunda” de nossa organização neurológica, transformando o movimento de retensão em movimento de distensão, a tensão em relaxamento, o eu autocentrado no eu relacional.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/359/a-conversao-mais-profunda