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- Elsie Gilbert
As coisas em Brasília continuam caóticas e o clima
entre nós altamente polarizado. Temos muita certeza das nossas posições e
igual indignação em relação às posições dos nossos irmãos que não
compartilham conosco das mesmas convicções. E no final do dia, a maioria
de nós sente um grande cansaço - advindo do lutar com poucas
esperanças, do se perceber remando contra a correnteza.
Decidi colocar um nome neste estado de coisas: estamos vivendo
debaixo de uma nuvem. Não a nuvem que sinalizava a presença de Deus no
deserto. Não a nuvem que ajudava diariamente na caminhada do povo de
Deus do Egito à Terra Prometida. A nuvem pela qual passamos não é
protetora, ela é tóxica. Ela anuncia um temporal e nos torna ansiosos.
Ela quer nos fazer duvidar da atuação de Deus entre nós.
Mas
Deus está presente aqui, debaixo da nuvem.
Quero publicar histórias que demonstram esta presença e que nos
renovam as forças devolvendo a esperança. E também reflexões bíblicas que sustentam a tese de que Deus é Deus, soberano,
grande em misericórdia, poderoso em obras.
A 1a. reflexão é sobre os ensinos de Jesus registrados em
Lucas 6 num texto conhecido como o “Sermão da Planície”. Jesus começa
estabelecendo um contraste entre o estilo de vida de um profeta
comparado com o de um
falso profeta. Apesar da aparência
de conforto e benção presentes, Jesus lamenta o futuro daquele que é
falso. E ele não nos ilude, se o seguirmos, podemos esperar um caminho
difícil no presente mas que trará bem aventurança e grandes recompensas
no futuro.
Versículos de 20 a 26 poderiam ser resumidos assim:
Assim foram tratados os profetas |
Assim foram tratados os FALSOS profetas |
Eram pobres, chegando a passar fome |
Eram muito bem recompensados financeiramente, tinham fartura |
Choraram |
Riam e se divertiam |
Foram odiados, sofreram calúnia, difamação e rejeição por conta do seu vínculo com o Altíssimo |
Gozavam de um alto índice de aprovação |
Estes são os bem aventurados! |
Ai destes, coitados! |
Jesus nos convida a seguir o caminho da primeira coluna. Mas Primeiro, decidindo amar e fazer o bem aos que nos odeiam. (v. 27). Segundo, abençoando e orando pelos que nos maltratam. (v. 28). Terceiro, rejeitando a prática da retaliação como forma de obter justiça quando alguém nos ferir ou espoliar (v. 29 e 30)
Para mim este discurso é extremamente duro e muito difícil de colocar
em prática. Acho que os discípulos devem ter mostrado alguma
resistência porque Jesus passa a defender o seu próprio ensino. Até
agora, Jesus parece estar nos pedindo para abrir mão no nosso senso de
justiça. Não reclamar quando alguém invade a nossa propriedade,
emprestar sem esperar restituição, e até aceitar insulto físico. E no
entanto ele apela justamente para o nosso senso de justiça como
justificativa para estes ensinamentos.
O senso de justiça que Ele quer nos ensinar é mais elevado do que o
nosso e está fundamentado em um fato básico: Deus é misericordioso para
conosco. Sua misericórdia é tão vasta que ela se estende aos ingratos e
maus também. A bondade dele não se limita aos que a merecem. Nenhum de
nós a merece! Portanto, se quisermos seguir a Jesus precisamos obedecer à
esta ordem bem clara e objetiva: “Sejam misericordiosos assim como o Pai de vocês é misericordioso” Lc 6. 35,36.
Justiça = agir da mesma forma que o Pai de vocês age.
Mas eu ainda não me dou por satisfeita. Parece que Jesus está pedindo
demais de mim! Na hora que alguém me ofende, dificilmente me vem à
memória aquele dia em que eu ofendi a Jesus e ele me perdoou.
Eu quero
que a pessoa sinta a dor que ela causou em mim! Para me ajudar, Jesus
completa o seu ensino com esta promessa: “Não julguem, e vocês não serão
julgados. Não condenem, e não serão condenados.
Perdoem, e serão
perdoados. Dêem, e lhes será dado: uma boa medida, calcada, sacudida e
transbordante será dada a vocês.
Pois a medida que usarem, também será usada para medir vocês”. Lc 6.37,38.
Preciso repetir isto para mim mesma: a medida que eu usar para
estender misericórdia a alguém, esta mesma medida será usada quando eu
precisar de misericórdia. Talvez seja por isto que temos tanto medo do
julgamento das pessoas, porque com a mesma medida que julgarmos, seremos
julgados.
Onde está a esperança nestes ensinamentos? Esperança relevante para os dias acinzentados nos quais vivemos?
Tudo o que eu doar de mim para aquele que não merece - aquele que é
sabidamente ingrato e mau - eu receberei em troca, não pelas mãos do
ingrato porque pode ser que ele não tenha nada para dar. Eu receberei a
recompensa das mãos de Deus. O Senhor me paga, não porque eu mereço, mas
porque na sua misericórdia ele tem prazer em sanar a dívida do ingrato.
Ele me paga porque o ingrato e mau precisa ter sua dívida sanada
comigo. (Assim como, na minha história pessoal, eu precisei de ter a
minha dívida sanada com alguém a quem ofendi). Nesta transação, Deus se
torna o fiador. E portanto, o ingrato não me deve mais nada. Sua dívida
comigo está completamente paga. Quem sou eu para cobrá-la novamente?
A esperança não está na justiça como a compreendemos. Ela reside na
misericórdia de Deus que é infinitamente mais justa do que qualquer
sistema de restituição que possamos criar.
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/maosdadas/2018/02/26/debaixo-da-nuvem/