July 17, 2018

Não existe mais lugar para quem não quer mudar de lugar

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- Henrique Szklo

Sinto informar, mas zona de conforto existe apenas dentro de nossas cabeças. Já do lado de fora da caixa encefálica, o bicho está pegando. A natureza, em sua dinâmica feroz, não permite a nenhum mísero átomo o privilégio da imobilidade. E esse é o maior pesadelo do homem moderno. Sabemos que é importante enfrentar as mudanças, mas não aguentamos o tranco quando elas se materializam. Nos sentimos expulsos deste paraíso ficcional chamado zona de conforto.

Talvez fosse mais fácil antigamente quando a pessoa nascia, crescia e morria sem praticamente nada a sua volta mudar de forma evidente. Agora, meu amigo, o mundo está em chamas. Confesso que dei graças a Deus quando o Steve Jobs morreu. Não aguentava mais entrar na internet toda semana e me deparar com o dono da Apple apresentando mais algum iTreco que eu obrigatoriamente precisaria ter, conhecer, saber usar, invejar, o que fosse, para não ficar com cheiro de naftalina.

Mesmo que eu tivesse acabado de comprar, conhecer, aprender a usar ou invejar a versão anterior, agora totalmente ultrapassada. Ingenuamente, imaginei que, ao partir, aquele doido levaria consigo todos os meus temores. Não acabou, mas melhorou. Hoje nem sei o nome do atual presidente e os lançamentos recentes falharam vergonhosamente em me aterrorizar. Se tudo der certo, a Apple em breve será apenas um tipo de Samsung com design, nada mais.

Mas não existe mudança que me apavore mais do que a de endereço. Aquele bando de gente descuidada manipulando todos os meus pertences, os colocando em caixas de papelão, caríssimas, com um falso cuidado e as arremessando para dentro de um caminhão que sabe-se lá se chegará ao seu destino. Como se não fosse suficiente, horas depois descarregam tudo em outro local com aquela pressa contida, típica de quem quer logo largar o batente, mas não pode assumir isso. Quanto tempo vai demorar para inventar o teletransporte?

Como é difícil administrar mudanças, não? Principalmente aquelas que não temos elementos suficientes para analisar suas consequências. Mudanças que parecem acontecer apenas para nos desestabilizar, nos tirar da velha, boa e agradável zona de conforto.

Mas por mais que eu sofra, sei que não adianta lutar. Mais que isso, sei que talvez o melhor mesmo seja tentar ser seu agente. Que talvez o que nos resta é tentar adquirir o controle do inevitável, nem que seja apenas de um pedacinho dele. O desconforto da mudança sempre irá existir, mas certamente é bem maior quando você é pego de surpresa. Com as calças na mão, como se dizia. Quando você é quem a promove, o desconforto acaba sendo menor. É o que se diz por aí: é melhor ser ativo do que passivo.

Agora a parte engraçada: eu e todo mundo, a despeito da dificuldade inerente, vivemos clamando por mudanças, sonhando com elas. Mas, inevitavelmente, quando nos vemos diante de uma bem encardida, a choradeira começa. Somos analfabetos espaciais. Desejamos mudar sem saber exatamente o que isso significa na prática. Ansiamos pelo câmbio – como dizem os castelhanos –, mas não fazemos ideia de suas consequências.

A mudança em si não é um valor. É apenas uma esperança de melhora. Ninguém quer mudar por nada. Queremos mudança quando não estamos satisfeitos. Mas mudar para onde? Sei lá, quero mudar.

Pensamento perigoso, muito perigoso. A mudança é trapaceira. Fica com seu canto de sereia nos ouvidos despreparados, incitando revoluções. O que ela não garante nem pode é que vai ser para melhor ou para pior. Uma mudança pode ser a salvação do mundo ou uma armadilha mortal. Imploramos aos céus por mudanças e quando elas estão diante de nossos narizes começamos a ouvir aquela voz interior: "em-time-que-está-ganhando-não-se-mexe…", "é-melhor-deixar-como-está…", "não-mexe-com-quem-tá-quieto…", e por aí vai.

Em empresas acontece o tempo todo. Funcionários desanimados reclamam pelos corredores, desejando mudanças. Aí muda o chefe e ele, de fato, promove as mudanças, e, então, todo mundo odeia o cara instantaneamente.

Na dúvida, é melhor deixar como está. É menos problema pra todo mundo. Mudança dá trabalho, mudança incomoda. Mudança muda. É desta forma que administramos mudanças, principalmente aquelas que não foram promovidas por nós mesmos. E se o responsável por elas for representante de um grupo que abominamos, então é tiro e queda: não haverá um segundo de reflexão. É errado e acabou. Afinal, mudança boa é aquela com a qual concordamos. Caso contrário é desrespeito.

O problema insolúvel é que toda mudança, para o bem ou para o mal, incomoda num primeiro momento. Mudança é quebra de padrão e quebra de padrão dói. Zona de conforto não tem este nome a toa.

Mas esteja certo de que só conseguiremos avaliar o valor de qualquer mudança após um certo tempo decorrido, quando finalmente conseguirmos observar o fenômeno com distanciamento, com perspectiva histórica. E ouso dizer que mesmo assim jamais saberemos se, no final das contas, a mudança x ou y foi benéfica ou trágica. Os desdobramentos que cada situação provoca numa vida chegam próximos do infinito.
Sinto informar, mas zona de conforto existe apenas dentro de nossas cabeças. Já do lado de fora da caixa encefálica, o bicho está pegando. A natureza, em sua dinâmica feroz, não permite a nenhum mísero átomo o privilégio da imobil... - Veja mais em https://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/06/05/nao-existe-mais-lugar-para-quem-nao-quer-mudar-de-lugar/?cmpid=copiaecola

Fonte: https://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/06/05/nao-existe-mais-lugar-para-quem-nao-quer-mudar-de-lugar/
Sinto informar, mas zona de conforto existe apenas dentro de nossas cabeças. Já do lado de fora da caixa encefálica, o bicho está pegando. A natureza, em sua dinâmica feroz, não permite a nenhum mísero átomo o privilégio da imobil... - Veja mais em https://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/07/03/porque-o-meu-ego-e-muito-mais-legal-do-que-o-seu/?cmpid=copiaecola
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Sinto informar, mas zona de conforto existe apenas dentro de nossas cabeças. Já do lado de fora da caixa encefálica, o bicho está pegando. A natureza, em sua dinâmica feroz, não permite a nenhum mísero átomo o privilégio da imobil... - Veja mais em https://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/06/05/nao-existe-mais-lugar-para-quem-nao-quer-mudar-de-lugar/?cmpid=copiaecola

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