November 16, 2018

É chegado o Reino

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- Ricardo Barbosa
Mateus 4
17 Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.
23 E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e 24 curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.
25 E a sua fama correu por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos, e ele os curava.
26 E seguia-o uma grande multidão da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judeia, e de além do Jordão.
Mateus 5
1 E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;
2 E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:

                                               Mateus 7 e 8
28 E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina
29 Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas
1 E, descendo ele do monte, seguiu-o uma grande multidão.
2 E, eis que veio um leproso, e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo.
3 E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero; sê limpo. E logo ficou purificado da lepra.
4 Disse-lhe então Jesus: Olha, não o digas a alguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote, e apresenta a oferta que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho.                                                                   
                                              Mateus 9 e 10
35 E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.
36 E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor.
37 Então, disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros.
38 Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara.
1 E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade e todo o mal.

Esses textos do capítulo 4 de Mateus até o final do capítulo 9, início do capítulo 10, nós temos um apanhado, nós temos uma visão do ministério de Jesus. O que Mateus descreve é que Jesus caminha então pelas cidades e pelas vilas da Galileia pregando, ensinando e curando. Esses três movimentos caracterizam o ministério de Jesus e eles envolvem uma mesma realidade. 

De acordo com Mateus, esse coletor de impostos que tornou-se discípulo de Jesus, o ministério de Jesus envolvia então um tripé: pregar, ensinar e curar. E Mateus mostra que esse mesmo ministério de Jesus foi então confiado aos seus discípulos. Foi entregue a nós. E como eu disse, essas três dimensões do ministério de Jesus não podem ser vistas separadamente, não podem e nem devem ser consideradas como atividades distintas uma da outra. Elas precisam ser vistas como um todo, esse é o ministério de Jesus. Bem, o que é que Jesus pregava? 

Basicamente a mensagem de Jesus era: arrependei-vos porque o Reino de Deus chegou, ou o Reino de Deus está próximo. Ou como Marcos afirma em seu evangelho dizendo, o tempo está cumprido, o Reino dos Céus está próximo. Esta era a mensagem de Jesus, chamando o povo ao arrependimento e anunciando o Reino de Deus que chegou. Essa era a pregação de Jesus com todas as suas variações e critérios e métodos que Jesus aplicou. 

Ou seja, o que Jesus dizia é que o Kairos (καιρός) chegou, ou seja, o tempo de Deus, esse momento decisivo quando o Deus Vivo e soberano decide agir e cumprir as suas promessas na História. Então Jesus veio anunciando que o tempo chegou, o tempo se cumpriu, o tempo de Deus agir de uma forma única, como nunca antes e nem depois. O Reino dos Céus está próximo, o Reino de Deus chegou. 

É tempo de Deus, o Deus eterno, o Deus do Céu invadir a terra. O tempo em que o futuro invade o presente. E é por isso que Jesus usa essa palavra “hoje” tantas vezes nos evangelhos. No sermão na sinagoga Jesus diz “hoje se cumpriu a escritura”, no encontro de Jesus com Zaqueu ele disse “hoje entrou salvação nessa casa”, na cruz, ao ladrão arrependido Jesus disse “hoje estarás comigo no Paraíso”. Essa é a mensagem que Jesus pregava nas vilas, nas cidades, nos povoados da Galileia e em toda a região que andou. 

Ele veio anunciar que a luz prevalece sobre as trevas. Ele veio chamar homens e mulheres ao arrependimento. Não era um discurso moralista, não era um discurso do tipo “olha, você fez uma coisa errada, você tem que arrepender e fazer uma coisa certa”. Não era apenas isso, era muito mais do que isso. Jesus estava dizendo para o povo que eles deixassem de ser o tipo de povo de Deus que  achavam que eram para tornarem o tipo de Povo de Deus que Deus desejava que eles fossem. 

Existe um jeito de ser Povo de Deus, e Jesus está mostrando como é que esse povo deve viver como Povo de Deus. Então arrependam-se para vocês se tornarem naquilo que Deus espera que vocês sejam. O que é que Jesus ensinava? 

Jesus ensinava como é que esse Reino deve ser, e como é que essa vida, a partir dessa realidade do Reino, deve ser. O ensino de Jesus era forma como ele explicava a maneira de viver nessa nova realidade que era o Reino que havia chegado, que era o Reino de Deus presente na História.

Algumas parábolas de Jesus começam com ele dizendo “o Reino dos Céus é semelhante a” e aí ele começa a descrever a natureza desse Reino. O Sermão do Monte que Mateus descreve nos capítulos 5, 6 e 7, Jesus define a natureza ética do Reino de Deus. Nós temos nos Sermões Proféticos de Jesus ou nas declarações auto reveladoras de Jesus no Evangelho de João, como Jesus revela a natureza desse Reino. 

Como nós devemos viver, de que maneira nós devemos nos comportar, como nós devemos nos relacionar. O Reino de Deus é um Reino de homens e mulheres humildes de espírito, mansos, misericordiosos, homens e mulheres que amam, buscam, desejam uma justiça de Deus mais do que qualquer outra coisa. Mais do que o pão de cada dia. É o Reino de pessoas que lutam e buscam a paz, é o Reino de pessoas que perdoam, é o Reino de pessoas, de homens e mulheres que abençoam aqueles que os amaldiçoam. Que falam bem, que bendizem aqueles que falam mal deles. Que oram por aqueles que os perseguem. 

É o Reino que inverte qualquer lógica de qualquer sociedade em qualquer tempo da História. E Jesus veio mostrar como é que é a vida no Reino que ele pregava. Esse era o ensino de Jesus. 

E Jesus curava. Por que Jesus curava? Ora, o Reino que Jesus pregava, e que chegou, e cuja natureza ele explica em seus ensinos e parábolas, tem a ver com a restauração do ser humano. Tem a ver com a restauração da vida. Tem a ver com a forma como nós nos vemos agora diante de Deus, diante de nós mesmos, e diante dos outros. Os atos de cura de Jesus, os milagres de cura de Jesus manifestam essa realidade. É mais do que uma preocupação física de fazer com que uma pessoa fisicamente cega voltasse a ver, uma pessoa fisicamente paralítica voltasse a andar. Era muito mais do que isso. E essa era a alegria proclamada pelos profetas do Velho Testamento. Então nos atos de cura, nos milagres de Jesus ele manifesta a realidade daquilo que ele prega e ensina. 

Ele restaura a vida não para provar que o Reino chegou. Mas porque o Reino chegou e o Tempo se cumpriu.é que as coisas começam a ser de um jeito diferente. Isso é muito importante para nós hoje. Porque nós também vivemos dias de vidas quebradas, destruídas, machucadas, feridas, doentes. Vivemos dias de corpos doentes, casamentos doentes, carreiras e profissões doentes e machucadas. Planos quebrados, sonhos destruídos, alianças desfeitas, amizades destruídas. Nós vivemos num mundo adoecido. Nos relacionamos com pessoas adoecidas. 

O Evangelho de Jesus é Deus entrando num mundo quebrado, como o mundo que eu vivo, como o mundo que você vive. Esse mundo ferido, e Jesus entra nele para restaurá-lo. É isso que a palavra “Salvação” significa. É isso que a palavra “Shalom ( שָׁלוֹם)” no Velho Testamento significa. Ser salvo e resgatado do pecado e de todas as suas implicações e consequências. Significa se aquilo para o qual fomos criados para ser. Significa a restauração dos nossos relacionamentos, a reconciliação da nossa vida com Deus, com o próximo e conosco mesmo. E essas três dimensões estão juntas no ministério de Jesus e elas não podem ser separadas: Pregar, Ensinar e Curar.

Veja que entre os textos que nós lemos, em Mateus capítulo 4, Jesus vem percorrendo povoados, vilas, pregando o Evangelho do Reino, ensinando e curando. Uma multidão começa a segui-lo. E ele então, vendo essa multidão, ele começa a ensiná-los dizendo: “bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o Reino do Céu”, e ele ensina. 

Terminado o seu ensino, ele desce do monte e o que ele encontra? Ele encontra um homem adoecido, um leproso. Um homem que era excluído de toda a vida social. Um homem de quem ninguém se aproximava, ninguém tocava. Ninguém chegava perto dele. E esse homem se aproxima de Jesus e o adora dizendo “Senhor, se quiseres, podes purificar-me” e Jesus sem nenhuma mágica, sem recitar nenhuma palavra especial ele simplesmente diz “Quero, fica limpo”. E pronto. Não fez nenhuma oração, não fez nada. Quero, fica limpo. E pronto. E nisso Jesus não apenas revela sua autoridade, mas ele mostra a natureza do Reino. 

No sermão do monte ele fala em amar os inimigos. Ele fala em abençoar os que nos amaldiçoam. Por quê? Porque o Reino chegou! Ele fala de viver libertos da ansiedade. Por quê? Porque o Reino chegou! Mateus 8 e 9, logo depois do sermão do monte nós temos um relato de 10 diferente milagres, de curas, de expressões de pessoas que vivem doentes, com dores profundas. Vidas desestruturadas, e Jesus restaura todas elas. Quando nós olhamos o sermão do monte e quando nós vivemos essa realidade do sermão do monte que Jesus ensina, nós podemos experimentar uma grande, poderosa cura. A cura da mágoa, a cura do ressentimento, a cura da culpa, a culpa da luxúria, da imoralidade, a cura do desejo de vingança, a cura da ansiedade, a cura da inveja.

É uma infinidade de situações que o que Jesus prega, ensina, ele realiza na vida de todos nós. Os dez feitos de Jesus nos capítulos 8 e 9, ele toca esse homem com lepra e ele fica limpo. Porque o Reino de Deus chegou. Cura o criado de um centurião romano com uma palavra dita a distância. Porque o Reino chegou. Ele cura a sogra de Pedro com uma febre altíssima e ela é restaurada e passa a servir Jesus e as pessoas que o acompanhavam. Porque o Reino de Deus chegou e é isso o que ele faz. Ele repreende o vento e o mar numa forte tempestade e tudo volta à calma. Por quê? Porque o Reino chegou. Jesus com apenas uma palavra, ele liberta dois homens possuídos por demônios que ninguém segurava. Viviam largados nos montes de agredindo, ferindo-se num processo auto destrutivo e Jesus os liberta. Porque o Reino de Deus está entre vós. Quatro homens abrem um buraco no telhado de uma casa e descem um paralítico até Jesus. E Jesus os surpreende dizendo: “Perdoados estão os vossos pecados”. Não era aquilo que esses homens esperavam ouvir de Jesus. 

Para ouvir essa declaração de perdão certamente eles teriam levado esse paralítico para o sacerdote que era quem tinha a autoridade para fazer isso. Mas é isso que Jesus diz. E depois, quando ele percebe a inquietação de alguns líderes religiosos, perguntando quem é esse que acha que tem poder para perdoar pecados, Jesus então percebendo essa inquietação então diz: “É mais fácil dizer ‘Perdoados estão os seus pecados’ ou ‘Toma o seu leito, levanta e vai para casa’?” E aquele homem pega o leito e vai para casa. Isso cria um conflito enorme na mente, na cabeça daquelas pessoas. Não esperavam jamais isso de Jesus. Jesus estava manifestando, revelando a natureza de vida do Reino de Deus. Um chefe da sinagoga, um dos líderes dos Judeus, suplica para Jesus que coloque a suas mãos sobre sua filhinha que tinha acabado de morrer. E Jesus vai até a casa daquele chefe, toma a menina pela mão e ela volta a viver. Porque o Reino de Deus chegou. Uma mulher que sofria de uma hemorragia crônica por doze anos toca em Jesus e Jesus se volta e diz: “Filha”. Eu gosto dessa expressão. “Filha, a tua fé te salvou”. O Reino de Deus chegou. Dois homens cegos seguem Jesus clamando “Filho de Davi, tem misericórdia de nós”. E Jesus toca nos seus olhos e diz: “Seja feito conforme a vossa fé”. E eles passam a ver. E o Reino de Deus se mostra. E um homem mudo, possuído por demônios chega até Jesus e Jesus repreende o espírito demoníaco e o homem volta a falar. O Reino está presente. Todo o ministério de Jesus é visto nessa perspectiva, ou seja, o tempo se cumpriu. O Céu invade a terra. E tudo o que Jesus fez foi manifestar o Reino de Deus, ensinar a natureza da Nova Criação e demonstrar isso restaurando a vida de homens e mulheres. 

É por isso que nós oramos “Pai nosso que está nos Céus, venha o teu Reino, faça-se a tua vontade”. Essa é a razão. 

Bem, isso levanta algumas perguntas. A primeira delas é, se é isso que Jesus fez, e se é isso que Jesus chama seus discípulos para fazer e dá a eles autoridade para fazerem essas coisas e se isso tudo é o que de fato representa as Boas Novas de Jesus, por que não vemos essas coisas acontecendo hoje como aconteceram no tempo de Jesus? Talvez essa seja uma pergunta que fazemos. Se Jesus veio para restaurar o mundo quebrado, ferido, machucado, adoecido, por que ainda vemos tanta gente enferma, tanta gente machucada, e tanta gente ferida e quebrada? Depois de tantos anos, muitos de nós aqui como pastores, pastoras, obreiros. Pastoreando, cuidando, pregando, ensinando. Por que que nem sempre vemos as mudanças que gostaríamos de ver. Não existe uma resposta simples e fácil para essas perguntas. Lamento dizer. Vocês vão voltar para casa talvez com mais dúvidas do que entraram aqui. Mas eu gostaria de propor algumas coisas para nossa consideração. Algumas coisas que para mim são muito importantes para entendermos o ministério de Jesus e esse tripé. E para entendermos o nosso ministério hoje.

A primeira consideração que eu gostaria de fazer é a nossa resistência. Não apenas a nossa, mas certamente a resistência que Jesus também enfrentou no seu tempo. Nós resistimos à chegada do Reino de Deus. Talvez muitos não admitam, mas resistimos à proposta de vida desse Reino. Por quê? Eu não sei responder por todos, é claro. 

Mas eu acredito que nem todas as pessoas desejam viver dentro de um padrão, dentro de um modelo, dentro de uma estrutura de vida que Jesus propôs. Veja, muitos de nós queremos a cura de Jesus, mas nem sempre queremos a sua pregação e o seu ensino. Por isso que os três precisam andar juntos. Nós não queremos arrepender e crer, no entanto tudo precisa estar junto. Nós resistimos, por exemplo, de assumir as consequências de um jeito novo de viver. Qualquer experiência, encontro com Jesus, muda nossa perspectiva. E “arrependimento” é a palavra que Jesus usa. E isso significa que nós precisamos mudar nossos conceitos. Precisamos mudar nossas percepções. E mudar as nossas perspectivas

Precisamos morrer para o nosso jeito de conduzir a vida, a nossa vida. Porque o Reino chega onde Jesus estabelece o seu governo, estabelece o seu reinado. E para ele ser Rei, eu preciso deixar de brincar de ser Rei. Ser curado significa que isso vai mudar o meu jeito de viver. Por exemplo, um paralítico que levanta, pega a sua cama e começa a andar, ele vai ter que trabalhar. Talvez ele tenha vivido muitos e muitos anos com algumas pessoas cuidando dele, carregando para lá e para cá. E talvez até usando-o para ganhar algum dinheiro. Mas agora ele vai ter que trabalhar. E muitas vezes nós não queremos essa mudança, não só do ponto de vista físico, mas do ponto de vista sobretudo espiritual. É muito difícil, para muitos cristãos, em algum momento, resolver aceitar ser curado, deixar de ser vítima, e se tornar um protagonista de sua própria história. Eu conheço inúmeras pessoas, eu poderia passar a noite contando histórias para vocês de homens e mulheres que eu conheço, que convivo perto deles que não querem ser curados. Eles não querem. Eles preferem viver como vítimas. Eles preferem caminhar com suas muletas, na expectativa que as pessoas tenham pena deles. 

É por isso que Jesus muitas vezes pergunta essa pergunta aparentemente estranha, quando Jesus diz: “Queres ser curado?”. Por que que Jesus pergunta? A resposta poderia ser um claro “Sim”. Mas será? Será que eu quero ser curado de minha cegueira? Será que eu quero ser curado da minha surdez? Será que eu quero ser curado das minhas inúmeras dependências emocionais, dos vícios emocionais que eu construí ao longo de minha vida? Nós temos uma grande resistência em querer ser livres. Porque ser livre representa assumir uma responsabilidade que nós muitas vezes não temos e não queremos. Nós vemos isso muito claramente na vida de pessoas que passaram longos anos encarcerados. Como que a liberdade se torna para eles, ao mesmo tempo, algo desejado e algo temido. Porque eles não saber o que fazer quando saírem daquele ambiente. Muitos profissionais não sabem o que fazer no dia em que se aposentarem e não são mais parte de um grande mercado que os torna úteis. E eles não sabem mais o que fazer. A liberdade não é um evento que nós abraçamos simplesmente porque o idealizamos. Nós resistimos ao Reino de Deus. O Reino de Deus nos assusta.

Amar o inimigo não é uma proposta que qualquer um de nós deseja. Não desejamos. Abençoar uma pessoa que me amaldiçoa não é o que eu mais quero. Muitas vezes o que acontece é que nós preferimos permanecer prisioneiros, enfermos, adoecidos do que sermos curados.

Segundo, nós precisamos entender e reconhecer é claro a complexidade humana. As nossas enfermidades são complexas. Uma forma de enfermidade pode ter raízes em outras dimensões da vida, e hoje nós temos nos estudos da Ciência, hoje nós conseguimos entender melhor essas coisas que Jesus entendia tão perfeitamente. Hoje nós sabemos que muitas enfermidades têm a sua origem em disfunções emocionais, afetivas, que carregamos desde a infância. Eu posso imaginar a decepção daqueles quatro amigos e do próprio paralítico quando depois daquele esforço enorme de descê-lo pelo telhado da casa, Jesus olha para aquele paralítico e diz: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. E volta, e continua falando o que tinha para falar. Deve ter sido uma sensação horrível! Não era isso o que eles estavam esperando. 

Era isso o que Jesus pretendia fazer. Era o que traria a liberdade e a cura para aquele homem. Mas Jesus, de repente, percebendo a inquietação dos líderes religiosos, volta e diz: ”Tá bom, levanta e anda!” E volta e continua, mas o que Jesus está mostrando ali, que a cura do paralítico tem a autoridade que tem para perdoar os pecados, que era o problema real daquele homem. Eles não estavam procurando essa cura em Jesus, eles estavam procurando outro tipo de cura. É claro que levaram as duas, mas o que Jesus está fazendo é atuar num nível mais profundo que nós nem sempre discernimos

No Salmo 32, que é um dos Salmos confessionais de Davi, ele reconhece como que o pecado afetou os seus ossos, provocou gemidos na sua alma. Jesus sempre atua a nosso favor, nunca contra. Ele sempre cura, não do jeito que nós esperamos ser curados. Ele sempre atua nos libertando, mas não para a liberdade que nós imaginamos que seria bom pra nós. Isso é verdadeiro não só para nós como pessoas, mas também para as famílias para as nossas igrejas, para nossas cidades, para nossa nação. Ele está fazendo. Talvez não da forma que nós gostaríamos que estaria acontecendo.

Em terceiro lugar, nós temos essa grande tensão, uma tensão inerente ao Reino de Jesus. O Reino já chegou, mas ele não foi plenamente realizado, e é essa a tensão, e nós vivemos nesse quadro de tensão o tempo todo, por isso Jesus fala várias vezes, por parábolas, que o Reino de Deus é como fermento, semente de mostarda, ele entra e devagar leveda a massa, devagar ele cresce, não vem como uma coisa assim que vira de perna pro ar, vem de uma vez e vira tudo de uma vez só. Não, não é isso. Ele está presente, mas ainda não consumou ainda aquilo que já realizou. E nós precisamos evitar esses extremos, nós não somos mais o que éramos, mas não nos tornamos ainda o que haveremos de ser, e entre uma coisa e outra, nós ainda experimentaremos a dor, experimentamos as lutas, as contradições, os conflitos.

Nenhum de nós experimentará a plenitude até o dia em que o mortal for absorvido pela Vida. Então nós precisamos entender que vivemos entre o Reino já realizado e afirmado, presente de Jesus e o Reino ainda não consumado que um dia será plenamente consumado com a vinda de Jesus. E isto é muito importante a gente entender. E um outro aspecto é que o que Jesus fez nos seu ensino, nas sua pregação e nas suas curas e nos seus milagres, foi pra revelar que no centro de tudo isso existe uma pessoa que é Jesus Cristo, o filho de Deus encarnado, morto e ressurreto que recebeu, de Deus o Pai, toda a autoridade sobre o Céu e a Terra, a quem foi entregue o Reino de Deus.

O Reino de Jesus pertence ao Senhor e ao seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos. O que nós vemos nos evangelhos é que o fim de tudo é o Reino de Jesus, não a nós, não a mim, nem a você. Nos capítulos 8 e 9 nós vemos esses dez feitos poderosos de Jesus, e no meio deles, o que vemos em todos eles, é a autoridade e a compaixão de Jesus. 

São duas realidades da vida de Jesus que nós vemos. Nós vemos a autoridade de Jesus agindo na vida de Jesus, nós vemos a autoridade de Jesus agindo sobre o pecado. “Filho, os teus pecados são perdoados”. Pela sua palavra o leproso fica limpo, pela sua autoridade os endemoninhados foram libertos, pela sua autoridade as forças do caos da tempestade foram cessados. Vemos sua autoridade sobre a morte, na filha do chefe da sinagoga. Podemos ouvir a palavra criadora e recriadora de Jesus, a mesma palavra que deu início à forma do Cosmos, do Universo em que nós vivemos. A voz daquele que entra no nosso mundo quebrado e diz haja luz e houve luz.

Esse é o ministério que Jesus confiou a nós, mas precisamos lembrar dessas coisas, as parábolas de Jesus, na forma como Jesus ensina, são escandalosas. Provocam escândalo. Quando ele fala daquele homem que abandona as 99 ovelhas no deserto para buscar uma que se perdeu, quem faz isso? Qual louco abandona 99 pra ir atrás de uma? Não faz sentido! Na parábola do filho pródigo, quem é o louco que recebe o filho que deu o maior cano no pai e recebe com festa e abraço? Isso não existe! Na parábola do credor incompassivo, Jesus fala de um homem que perdoa uma dívida impagável. Quem perdoa uma dívida assim?

As parábolas de Jesus provocavam escândalo porque elas apontavam para uma realidade tão distinta da realidade que o mundo estava acostumado, que as pessoas se assustavam com o que ele ensinava, se assustavam com o que ele estava propondo. Por isso muita gente resiste, muita gente se opõe àquilo que Jesus estava fazendo. Por isso que o nosso mundo ainda continua com muita gente enferma, muita gente ferida, muita gente quebrada. Por isso que nossa igrejas continuam com muita gente ferida, muita gente quebrada, muita gente enferma, muitos casamentos feridos. Porque nós resistimos ao Reino que chegou.

Mas quando nós entendemos, quando entendemos a cura que Deus está realizando em nós, então nos rendemos e nos entregamos a Ele. Eu queria terminar citando uma passagem do livro “Cristianismo Puro e Simples” de C. S. Lewis, que descreve muito bem essa realidade. Ele diz assim:

Ao que parece, muita gente se sentiu incomodada com o que eu disse no capítulo anterior a respeito das palavras de Nosso Senhor: "Sede perfeitos." Certas pessoas aparentemente pensam que isso significa: "Se vocês não forem perfeitos, não os ajudarei"; e, se foi isso que ele quis dizer, não temos esperança alguma, pois não conseguimos ser perfeitos. Mas não acho que foi isso que ele quis dizer. Acho que ele disse: "A única ajuda que lhes darei é a ajuda de que vocês precisam para ser perfeitos. Pode até ser que vocês queiram menos que isso; mas eu não lhes darei menos."

Deixem-me explicar. Quando era criança, eu tinha muita dor de dentes e sabia que, se me queixasse à minha mãe, ela me daria algo que faria passar a dor naquela noite e me deixaria dormir. Porém, eu não me queixava à minha mãe — ou só o fazia quando a dor se tornava insuportável. E o motivo pelo qual não me queixava é o seguinte: não tinha dúvidas de que ela me daria uma aspirina, mas sabia que não pararia por aí. Sabia que, na manhã seguinte, me levaria ao dentista. Eu não podia obter dela o que queria sem obter também outra coisa, que não queria. Queria o alívio imediato da dor; mas, para ter isso, teria de submeter meus dentes ao tratamento completo. E conhecia os dentistas: sabia que eles começariam a mexer com outros dentes que ainda não estavam doendo. Eram do tipo que mexiam em casa de marimbondos e que, quando se lhes dava a mão, queriam pegar também o braço.

Ora, se posso me exprimir deste modo, Nosso Senhor é como os dentistas. Se você lhe der a mão, ele vai querer o braço. Dezenas de pessoas o procuram para se curar de um pecado específico que as envergonha ou que perturba de modo evidente sua vida cotidiana. Bem, ele cura esse problema; mas não pára por aí. Mesmo que você lhe peça somente a cura daquele mal específico, ele lhe dará o tratamento completo. E por isso que ele nos aconselhou a "avaliar o custo" antes de nos tornarmos cristãos. "Não se engane", diz ele. "Se você me deixar trabalhar, vou torná-lo perfeito. No momento em que você se entregar em minhas mãos, é para isso que se terá entregue - nada menos que isso, nada diferente disso. Você é dotado de vontade livre e, se quiser, pode me afastar de si. Mas, se não me afastar, saiba que não vou parar enquanto não terminar esse serviço. Por mais que você sofra nessa vida terrena, por mais que passe por purificações inconcebíveis depois da morte, por mais que isso me custe, não descansarei nem o deixarei descansar enquanto você não for literalmente perfeito - enquanto meu Pai não puder dizer sem reservas que se agrada de você como se agradou de mim. E isso que posso fazer e é isso que vou fazer. Mas não farei nada menos que isso."


A grande pergunta é o seguinte: Queremos isso? Queres ser curado? Você quer? Quer ser perfeito? Você aceita se submeter ao tratamento completo? É isso que ele veio fazer. Nada menos que isso. E isso nunca é indolor. E nunca é simples. Nós resistimos. A nossa existência é complexa. Nossos problemas e dramas são complexos, nós não conseguimos entender muito bem. E vão se tornando cada vez mais complexos.

Vivemos entre a realidade do Reino já presente e o Reino que ainda virá e se manifestará plenamente. Mas entre essas coisas precisamos entender que as pregações, o ensino e os milagres e curas de Jesus têm por finalidade revelar aquele que tem autoridade sobre o pecado e sobre a dor e sobre o mal, e ele vem para nos restaurar completamente. É isso que ele veio fazer. E isso que os seus milagres e as suas curas vieram a revelar. Ele não queria apenas fazer com que um cego começasse a enxergar. Ele queria fazer com que todos nós pudéssemos ver a realidade que é verdadeira, que não é isso que nossos sentidos percebem.

Tem um cego lá na nossa igreja, pessoa muito querida, Edson, conhecido como Montanha, é uma pessoa muito, muito conhecida, e é uma figura extraordinária. A gente brinca muito com ele porque o Montanha toca violão muito bem, toca teclado, bateria, ele é jornalista, trabalha na Câmara, pasmem, mas ele é fotógrafo. Já houve uma exposição de fotos dele na Câmara, e ele tira fotos, ele adora Cinema, ele vai, sempre vai na companhia de alguém para explicar aqueles momentos que não tem fala nenhuma para ele entender o que tá acontecendo, mas apenas isto. Mas nunca vi alguém comentar um filme com a habilidade do Montanha. Discute futebol, principalmente impedimento, como ninguém. Eu não tô brincando. E na maioria das vezes ele tá certo. É uma pessoa fascinante.

Uma dia eu fui pregar na igreja e escolhi aquele tema de Atos quando fala da profecia de Joel, que os jovens terão visões. E fui falar um pouco sobre isso. Estávamos lançando o Visão de alguns jovens de alguns anos atrás, na igreja, e foi interessante que na sexta-feira, que antecedeu domingo, fui até Goiânia visitar o meu pai. E quando estava saindo de Goiânia eu me lembrei de um hino que não sei se tem em português, eu acho que tem, mas eu nunca ouvi. É um hino celta, é um hino do século quatro que foi refeito em 1904, que chama “Be thou my vision”, é “Sê tu, a minha visão”. Um hino lindo, e um hino que fala sobre isso, fala de Jesus ser a minha visão. Liguei para o Montanha e disse: “Montanha, você conhece esse hino?“ Falei o título, ele disse : “não, eu nunca vi, esse hino”. 

Cantarolei um pouquinho, para ele e ele disse: “não, nunca ouvi”. “É que eu queria que você cantasse nesse domingo mas deixa, já que você não conhece, deixa”. Mas ele falou: “ Não, dá só um tempinho pra ver o que eu posso fazer”.

No sábado, quando eu estava voltando, o Montanha me liga: “Pastor, tá tudo pronto, memorizei o hino, baixei, e aprendi a tocar, mas vou cantar em inglês porque não deu tempo de traduzir.” Cinco estrofes!!! Memorizou o hino todinho. E no domingo projetei o hino com a tradução e ele, antes de cantar, falou um pouco da sua história.

Desde os 9 anos ficou completamente cego. E ele disse que foi assim que ele foi aprendendo a ver com outros olhos ao longo da vida dele. Eu vejo com os olhos da Molly (minha cadela guia), que sempre me conduz pela rua, pela cidade toda. Eu vejo pelos olhos da minha esposa, da Marisa, mas sobretudo eu aprendi a ver a vida com os olhos de Jesus, e aí ele canta esse hino: “Sê tu a minha visão”. Foi uma das coisas mais emocionantes que eu vi.

“Montanha, vou falar um pouco desse tema das curas de Jesus, eu posso contar essa história tua?“ Ele disse: “Pode, pastor.” E ele falou: “E pode contar também que um dia lá em BH, que teve um pregador que veio de um outro país, era uma pessoa muito famosa pela sua capacidade de fazer curas e milagres e tal, e eu fui. Eu fui lá porque queria ouvir uma banda X que ia tocar e eu gostava muito dessa banda e eu fui lá. Só que lá no meio do culto, duas senhoras da equipe dele aproximaram-se de mim e perguntaram pra mim se eu gostaria que o missionário fulano orasse por mim. E elas perguntaram sobre o que que que gostaria que ele orasse. Eu queria que ele orasse pelo meu ministério, para Deus abençoar o meu ministério. As mulheres ficaram tão decepcionadas que não me levaram para que o missionário orasse”. Ele disse: “Pastor, já me ofereceram para curar, para orar pela minha cegueira. Eu não quero, vai me atrapalhar a vida, vou ter que aprender tudo de novo, eu sei fazer tudo sem ver. Se eu começar ver, a minha vida vai virar uma confusão e eu vou ter que aprender um monte de coisas. Eu vou estar bem desse jeito, a única coisa que eu queria, é que orasse para que Deus abençoasse o meu ministério.“

Veja, é a cura de Jesus. Ele experimentou. Ele foi curado. Vocês estão entendendo? A cura de Jesus é mais profunda. Ela entra em camadas mais profundas da nossa existência. Tem a ver com a nossa dignidade. O problema do leproso era muito mais do que a lepra. Havia perdido a dignidade, havia perdido respeito, havia perdido o contato com a sua família e Jesus restaura isso! Essa é a cura que vem junto com o ensino e com a pregação de Jesus. Se nós entendemos a pregação, se nós compreendemos o que Jesus ensinou, eu posso garantir, seremos curados! Seremos, de inúmeras enfermidades e de muitas feridas. O nosso mundo quebrado vai sendo restaurado, mas não podemos separar a pregação, o ensino e a cura. Jesus nunca separou.

Podemos orar? Deus bendito, nós te agradecemos, porque Jesus veio a nós, entrou nesse mundo cansado, confuso, de homens e mulheres adoecidos, sofridos, machucados, casamentos feridos, sonhos quebrados, esperanças confusas, relacionamentos adoecidos. Oh Deus! Te agradecemos porque ele veio nos trazendo o Evangelho do Reino e nos chamando ao arrependimento, sem ele não entenderemos jamais o teu Reino. Mas mais do que isso, ele veio e nos mostrou a Vida, como que ela deve ser no Reino do Senhor. Como que os nossos relacionamentos contigo, com o próximo, conosco mesmos devem acontecer. Oh Deus! Quanta cura nisso! Quanto milagre! Quanta mudança! E o Senhor veio para restaurar as nossas vidas confusas e quebradas. Os nossos casamentos, as nossas famílias, a relação com o nossos filhos, nosso cônjuge, com as nossas igrejas, o Senhor veio restaurar a nossa dignidade, honra, a nossa identidade! Nós te louvamos, oh Deus! Te agradecemos por esse tempo tão curto pelo tempo que esteve entre nós. O Senhor nos mostrou tudo que era necessário para entender! A sua glória! Leva nos a entender e a crer naquilo que o Senhor nos ensina. Vem Senhor, cura-nos, liberta-nos. É o que te pedimos em nome de Jesus, amém.

Fonte: http://www.holinessbosque.org.br/mensagem.php?code=535

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