September 29, 2020

Teu é o Reino

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Lucas 11.20; 1 Coríntios 15.25; Judas 24-25
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- Stanley Jones

Devemos pedir a Deus que nos perdoe desde que perdoemos os outros. Se não perdoarmos os outros, então jamais poderemos ser perdoados. Derrubamos a ponte sobre a qual deveríamos passar. Essa necessidade de perdoar, se você quiser o perdão, é a única parte da oração sobre a qual Jesus volta a comentar. Ele mostrou assim a importância que dava a esse assunto, ou seja, vital importância. Observe que o perdão que devemos dar aos outros é passado, não futuro – assim como “perdoamos”. A base da expectativa de perdão é o fato de já termos perdoado os outros.

Considere o próximo item da “Oração dos Discípulos”: “E guia-nos, não à tentação, mas livra-nos do mal” (tradução livre). Inseri a primeira vírgula à versão King James, o que é legítimo, uma vez que não havia pontuação no original grego. Isso muda o sentido. A oração é para que o Pai nos guie: “Guia-nos”. O restante aponta para onde a pessoa guiada deveria ir: “Não à tentação, mas livra-nos do mal”. Esta parte da oração seria moralmente inteligível sem a pontuação que fiz, pois Deus não pode levar à tentação. À primeira vista, a oração parece terminar com um tom sombrio. Esperávamos um tom mais alegre. No entanto, pergunto-me se a petição, em si, não é a mais elevada: “Guia-nos, para que o mal já não seja uma tentação para nós”. Temos de chegar ao lugar onde estaremos além da tentação. Isso é vitória.

A última parte é, na verdade, uma oração para que estejamos livres do mal. Não pedimos a libertação deste ou daquele mal, mas do próprio mal. Para Jesus, o mal era o mal sob qualquer forma – fosse o mal da carne ou o mal da disposição, fosse a vontade individual ou a vontade coletiva –; o mal nunca foi o bem, e o bem nunca foi o mal.

A oração termina com uma afirmação: “Pois teu é o Reino, o poder e a glória”. Observe: “Teu é o Reino” – agora. Deus nunca abdicou. Deus ainda governa. O “poder” e a “glória” são o poder do reino e a glória do reino – o tipo indigno de poder e de glória terrenos é o que Jesus rejeitou na tentação do deserto. O poder do reino e a glória do reino são o único “poder” e “glória”. Todo o resto é poder decadente e glória passageira.

Ó Cristo, tu estás não apenas nos purificando por meio da oração; tu estás também purificando nossas orações. Quando nossas orações se banham em tua mente, elas se tornam tão puras, tão simples e tão reais! Purifica nossas orações. Amém. 

Afirmação do dia: “Refleti em meus caminhos e voltei os meus passos para os teus testemunhos” (Sl 119.59).  

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2020/09/27/autor/stanley-jones/porque-teu-e-o-reino/

September 28, 2020

Represa do amor de Deus que inunda e alaga tudo o que está ao redor

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Momentos antes de Yom Kipur, damos a tradicional bênção sacerdotal aos nossos filhos. O Rebe costumava dar esta bênção aos alunos da Yeshivá, parando na sinagoga pequena, a caminho da sinagoga maior para a prece de Col Nidrê. A voz do Rebe se embargava com emoção, como um pai abençoando seus amados filhos naqueles momentos sagrados.

Feivel Shapiro, membro da comunidade judaica da Antuérpia, perdeu a mãe muito cedo. Infelizmente ela faleceu após ficar doente quando ele tinha apenas doze anos de idade, pouco antes do seu bar mitsvá. Ela deixou órfã uma casa repleta de crianças, e ele era o mais jovem. Cresceu sob aquelas difíceis circunstâncias.

Com o passar do tempo amadureceu, se tornou um empresário e passou a ganhar o próprio sustento.
Cerca de vinte anos após o trágico falecimento da mãe, os assuntos de negócios de Feivel o levaram até a cidade de Nova York. Durante uma das noites de verão ele foi até o 770 da Eastern Parkway, a sede de Chabad, para rezar o serviço noturno com o minyan do Rebe.

Após Arvit ele notou uma movimentação de pessoas entrando e saindo no hall adjacente ao estúdio do Rebe, e ficou óbvio que algo estava acontecendo. Fez perguntas e soube que era uma noite de yechidut, audiências particulares com o Rebe. Ele recebia pessoas que tinham marcado visitas para ouvir o sábio conselho deste grande líder.

Feivel, era uma pessoa que, talvez devido ao fato de ter ficado órfão ainda criança, não tinha medo de nada e era bastante animado. Ficou ali perto da entrada da sala do Rebe, até que decidiu entrar e ver o Rebe embora não tivesse agendado a visita. Tranquilamente ele se dirige à primeira pessoa da fila e diz: preciso entrar antes de você, pois tenho de sair com urgência, e a pessoa consentiu.

A porta se abre e sai a pessoa da yechidut anterior, e Feivel então entra na sala do Rebe. O secretário do Rebe fica chocado pela ousadia e o segue, pretendendo dar uma bronca naquele intruso. O Rebe levanta os olhos e manda Feivel se sentar. A porta se fecha. Silêncio. Como não tinha tido a intenção de ir ali, ele não tinha levado o tradicional bilhete com seus pedidos, dúvidas ou preocupações que normalmente as pessoas entregavam ao Rebe – na verdade ele não tinha nada a dizer. Durante alguns breves, mas longos, momentos, o empresário ficou ali sentado, na frente do Rebe, num silêncio total.

Então, como se num instante de inspiração, o Rebe vai até uma gaveta e começa a procurar alguma coisa. Ele volta à mesa com uma carta e começa a ler o que está escrito ali. O fato é que aquela era uma carta real escrita pela mãe de Feivel, vinte e cinco anos antes. Na carta ela diz saber que está para morrer mas “não estou preocupada comigo mesma, Rebe, apenas peço ao senhor que desperte Rachamim Rabim, misericórdia extraordinária de Hashem, pelas minhas crianças.” Ela continua com uma súplica apaixonada para que D'us proteja e abençoe seus filhos, que logo estarão no mundo sem uma mãe.

Feivel fica em choque. Ele era apenas uma criança quando a mãe faleceu, e suas lembranças dela eram tudo que tinha para mantê-la perto dele, e jamais soubera da existência dessa carta escrita ao Rebe em prol dele e dos irmãos. Vinte e cinco anos depois, o amor e preocupação dela ainda estavam vivos ali na sala do Rebe.

Porém a maior revelação ainda estava por vir. Quando perguntou ao Rebe se poderia ficar com a carta, o Rebe gentilmente negou. “Antes de eu ir ao Col Nidrê”, explicou ele (quando ele fazia a primeira parada na pequena sinagoga e dava aos alunos da Yeshivá a tradicional bênção para os filhos), “eu leio a carta de sua mãe.”

Talvez, quando o Rebe começasse as preces de Col Nidrê, implorando ao nosso Pai no Céu para sermos inscritos e selados para um Ano Novo Bom e Doce, ele tenha escolhido evocar a Divina misericórdia de D'us aos Seus filhos com o amor altruísta desta mãe pelos seus filhos.

Ao abençoarmos nossos filhos antes do início de Yom Kipur, como uma mãe doente rezou por bênçãos para os seus preciosos filhos, como o Rebe abençoa e reza por todos nós… Avinu Malkênu, sim, Tu és nosso Rei, mas em primeiro lugar és nosso Pai. Querido D'us, Pai, tenha misericórdia dos Teus filhos! Doce significa Doce, e Bom significa Bom – feliz e saudável, como apenas um pai ou mãe são capazes de implorar para seus preciosos filhos. E nosso pai celestial tem o poder de selar, colocando o Seu carimbo.

Fonte: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1647012/jewish/Carta-de-uma-me-bno-de-um-pai.htm
PS- Para ouvir a trilha do dia: https://www.youtube.com/watch?v=UL6SHVXnLvw

September 27, 2020

Yom Kippur

Rabino Jonathan Sacks

O Yom Kippur é um dia muito importante durante o qual prestamos contas de nossa vida e refletimos a respeito do que nos aconteceu e do que planejamos fazer no ano seguinte. 
Quero dar minha contribuição e, para tanto, escrevi alguns pensamentos que, eventualmente, poderão provocar reflexões a quem vier a lê-los, porque cabe a cada um elaborar e definir suas próprias decisões. 
Ninguém pode fazer isso por nós. 
Eu as escrevi na forma de cartas de um pai a seus filhos, os quais se tornaram pais recentemente. Entendi que assim poderia discutir as grandes decisões que moldarão o resto de nossas vidas bem como as dos que nos são próximos. As cartas são fictícias embora os assuntos nelas tratados sejam reais. Nem todos casamos e fomos abençoados com filhos. no entanto, cada um de nós pode dar uma contribuição especial à comunidade por meio da maneira de viver e dos atos de bondade que praticamos. aliás, segundo o exegeta rashi, “os principais descendentes dos justos são as suas boas ações”, pois cada boa ação é como um filho.
Eis a mais importante lição de Yom Kippur: nunca é tarde demais para recomeçar e passar a viver de forma diferente daquela que vivíamos anteriormente. Deus perdoa cada erro cometido por nós desde que haja sinceridade em nosso arrependimento e nos esforcemos ao máximo para corrigi-los. 
Ainda que não exista nada do que nos arrepender, o Yom Kippur nos leva a pensar a respeito de como podemos nos conduzir no ano que está começando, de modo a que possa trazer bênçãos às vidas de outras pessoas por meio do nosso agradecimento a Deus por tudo que Ele nos tem dado.
Que seja vontade do Eterno nos abençoar a todos neste novo ano. Que Ele ouça e atenda a nossas preces. Que Ele nos perdoe e nos ajude a perdoar os outros. Que Ele conceda a nós, à nossa família e a todo o Seu povo pelo mundo, um ano repleto de saúde, paz e vida plena.
Fonte: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1301035/jewish/Introducao.htm

September 26, 2020

Perdoar

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- Rabino Simon Jacobson – MLC - Meaningful Life Center

Seu nascimento é D'us dizendo que você é importante, que você tem uma contribuição indispensável a dar ao mundo. Visto que sua contribuição é essencial, nenhum problema pode impedi-lo de alcançar o propósito para o qual foi criado. D'us lhe dá os recursos para superar toda dor e obstáculo, para se curar de toda dor ou abuso.

A capacidade de perdoar é um dos recursos que D'us lhe deu. Mas cabe a você usá-lo. O perdão em hebraico é “mechilá”, que se conecta à raiz da palavra “mochul”, que significa um círculo. A vida foi feita para ser um círculo que engloba todas as nossas experiências e relacionamentos em um todo harmonioso, contínuo. Quando alguém nos machuca, o círculo é quebrado. O perdão é a maneira como consertamos a fratura.

Perdão significa não apenas perdoar a pessoa que nos feriu, mas perdoar a nós mesmos, perdoar D'us, perdoar até a própria vida com todas as suas reviravoltas bizarras e frequentemente cruéis.

O perdão é deixar ir e construir a confiança necessária para experimentar um crescimento saudável e positivo. É uma declaração de que você não permanecerá mais preso ao passado como vítima das circunstâncias; que você não vai mais perpetuar padrões de vida negativos por meio da culpa e da raiva; que, em vez disso, você terá acesso à força e ao amor que D'us lhe dá dia a dia, momento a momento, a fim de cumprir o propósito único e singular para o qual você e somente você foi criado.

O perdão requer trabalho. Mas, o mais importante, requer uma conexão com D'us, o Doador da vida. Quando você se lembra que seu nascimento é a maneira de D'us dizer que você é vital e importante, insubstituível e essencial para a perfeição do mundo de D'us, então você pode superar a dor que outros lhe causaram e encontrar o amor e força para perdoar a eles e a você mesmo.

Quando você perdoa, o círculo está completo novamente e você se encontra envolvido por toda a criação de D'us e se sente uma parte integrante. Quando você perdoa, você assume o controle de sua vida em vez de ser uma vítima dela.

Fonte: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/4887494/jewish/O-Ciclo-do-Perdo.htm

September 25, 2020

Quem tem o Espírito de Deus não tolera a injustiça, mas se alegra com a verdade

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Na Palavra de Deus a injustiça não é mero descuido ou simples falta de educação - é pecado.

- Élben Cesar

1

“Toda injustiça é pecado” (1Jo 5.17). Pecado grave, Pecado que provoca zelos no Senhor. Pecado que há de ser cobrado, a menos que confessado e abandonado, seja perdoado e purificado por Deus (1Jo 1.9). “Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça, que se vale do serviço do seu próximo sem paga, e não lhe dá o salário” (Jr 22.13). É preciso tomar muito cuidado com a injustiça, porque os clamores dos injustiçados penetram mesmo até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos (Tg 5.4).

 

2

Injustiça não é apenas reter salários. É injustiça seduzir e possuir a mulher do próximo: ele tem direito de posse sobre o corpo dela. É injustiça seduzir e possuir o marido de qualquer mulher: ela tem direito de posse sobre o corpo dele (1Co 7.4). Davi praticou injustiça ao tomar para si a cordeirinha do homem pobre: ela era propriedade de Urias (2Sm 12.1-6). Porque o rei fez tal coisa, alguém tomou as suas mulheres e se deitou com elas, em plena luz do sol (2Sm 12.11; 16.20-23).

 

3

Nisto não há acepção de pessoas: “aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita” (Cl 3.25). O salário da injustiça praticada é a própria injustiça (2Pe 2.13). É como dizemos: o feitiço vira contra o feiticeiro. É, sem dúvida, horrível e também verdadeiro e repetitório: “O que semeia a injustiça segará males” (PV 22.8). Daí a advertência: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isto também ceifará” (Gl 6.7).

 

4

A regra de comportamento é sempre bilateral: “Tudo quanto quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei e os profetas” (Mt 7.12). Tudo o que você deseja e exige dos outros diz respeito a você também. Não há dois pesos e duas medidas: “uns e outras são abomináveis ao Senhor” (Pv 20.10). A injustiça reside aí, quando você faz questão de ser tratado de maneira correta e não se preocupa em tratar os outros de semelhante modo.

 

5

“Toda injustiça é pecado.” Inclusive a injustiça cometida contra Deus. É injustiça deixar de dar “a Deus o que é de Deus” (Mt 22.21). Comete injustiça aquele que inverte a ordem certa e se coloca no centro do universo. Aquele que não busca em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, preocupando-se, antes, com os seus próprios interesses (Mt 6.13). É grave injustiça porque “tudo provém de Deus” (2Co 5.18) e “nele vivemos e nos movemos, e existimos” (At 17.28).

 

6

A injustiça é classificada como pecado. Não é mero descuido ou simples falta de educação. É pecado, o que vale dizer é dívida assumida contra Deus. A injustiça transforma-se, com o tempo, em hábito, em vício, em forma de vida, em atividade constante. Daí dizer-se: “Continue o injusto fazendo injustiça”, enquanto o justo continua na prática da justiça (Ap 22.11). Por esta razão, “aparta-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor” (2Tm 2.19). Este não se alegra com a injustiça (1Co 13.6)!

Fonte: https://ultimato.com.br/sites/elbencesar/2020/09/25/toda-injustica-e-pecado/

September 24, 2020

Esperança em um Deus que sofre com a gente

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Gabriela Prilip

A gente tem vivido tempos tenebrosos em muitos sentidos; nesse país, no mundo e não só pela pandemia. As coisas já não andavam muito bem antes e talvez agora a gente não tenha tido outra saída a não ser encarar algumas duras realidades de frente.

Às vezes bate um sentimento de estarmos presos numa série com roteiro bem ruim e trágico, outras horas parece que rolou a junção de Black Mirror comandada por um chefe como Michael Scott do The Office e que as nossas vidas estão nas mãos de alguém que não faz ideia do que está fazendo e que, pensando em ajudar, só piora tudo.

Apesar de toda distopia de mundo e país, como filhos de Deus somos lembrados que não tem Michael Scott que nos segure não: estamos nas mãos mais poderosas que poderíamos estar. E isso é o único e real motivo para que a gente se sinta seguro e tenha esperança. A verdadeira esperança.

Difícil falar em coragem em tempos nos quais a gente abre uma rede social e não quer mais existir. Em que acordar mais um dia pode ser difícil demais porque talvez venha mais um dia de luta por aí (e parece que são só os dias de luta, sem nunca chegar os dias de glória); em que o choro pode durar uma noite (e uma manhã também) e a alegria só na semana seguinte.

Ser cristão é uma coisa doida e a gente deveria aproveitar muito mais isso: o descanso e a paz que excede todo entendimento que Deus dá; aproveitar uma bela meditação em Salmos e repetir um versículo até que ele se torne verdade verdadeira no nosso coração ou que mude algo em nós.

A gente deveria aproveitar todo o poder e sobrenaturalidade do evangelho para compartilhar a boa nova da salvação num mundo cada vez mais perdido. Deveríamos aproveitar que temos a verdade para sermos luz nesses becos tão escuros. Deveríamos aproveitar que temos a solução para tudo nessa vida. E isso requer coragem.

Coragem de acreditar na Palavra e nas promessas de um Deus que se faz presente na dor e no desespero. Coragem de ter esperança e de compartilhá-la com algum coração partido. Coragem para amar quem está perto quando o amor parece que ainda nem chegou na gente. Coragem para acordar e confiar que Deus ainda está e sempre esteve no controle de tudo.

No meio do caos, fazer de Deus o verdadeiro refúgio, assim como alguns Salmos nos ensinam, é provar da sua graça naqueles dias mais improváveis. É realmente ter um refúgio e entender totalmente o significado dessa palavra com a vivência. É poder, no meio de todo caos e tempestade, sentir uma paz que você não sabe explicar muito bem de onde vem, porque não faz sentido nenhum.

Deus nos chama pra descansar e buscar a Ele em todo o tempo. Inclusive nas nossas lutas. Esses dias, lendo algumas passagens em Oseias, me deparei com algo bem nesse sentido. Era tipo “por que você  ainda está aí sofrendo? Por que ainda não falou comigo? Você não precisava sofrer assim”.

Esse Deus relacional quer pegar o fardo que é dele e não nosso. As nossas preocupações podem e devem ser divididas com Ele pra uma caminhada mais leve, mesmo sabendo que, às vezes, Ele não vai nos livrar das lutas e aflições, mas vai continuar sendo Deus e sofrendo tudo com a gente.

Que a gente reflita sobre o poder de Deus e consiga entregar todas as ansiedades, preocupações e tudo que tira a nossa paz e o tempo com Ele, pra Ele. A única esperança possível. Que nosso tempo no caos seja tempo de vida e paz. E isso, só com Deus.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2020/09/08/esperanca-em-um-deus-que-sofre-com-a-gente/

September 23, 2020

Como consolar amigos

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Consolar é reconhecer e validar sentimentos
- Daniel Martins de Barros
- Foi para melhor.
- Pare de chorar, um dia você ainda vai rir disso.
- Não é para tanto.

Se você nunca falou uma frase como essas pode parar de ler. Mas se, como eu e a maioria das pessoas, você já tentou consolar alguém desviando o foco do problema, minimizando a situação ou tentando forçar uma mudança de perspectiva, é hora de rever essas estratégias.

A bem da verdade nem precisaria dizer que elas não funcionam – basta observar a experiência contrária. Quando ouvir isso de alguém aliviou nosso próprio sofrimento? Ainda assim, na aflição de ajudarmos os outros frequentemente recorremos a elas por não saber o que dizer.

Bem, agora sabemos.

Um estudo recente mostrou que esse tipo de frase além de ser inútil por não conseguir forçar ninguém a rever as situações adversas ainda gera uma reação conhecida como reactância psicológica – aquela sensação desagradável que temos quando sentimos que alguém está tentando mandar em nós. É como se esse tipo de consolo fosse ouvido como uma ordem: “Não sinta isso. Sinta aquilo”.

A saída é validar o sentimento alheio, focando as mensagens na pessoa do interlocutor. Quanto mais pessoais e empáticas, mais eficazes no suporte emocional. “Puxa, isso realmente é para deixar com raiva”. “Que pena essa notícia, natural você ficar triste”. “Caramba, assustador, hein? Dá para entender por que você ficou com medo”. Ao ouvir frases como essas a pessoa nota que suas emoções não estão fora de lugar e se sente amparada.

Num dos episódios do hilário seriado Parks and Recreation o personagem Chris Traeger, um executivo que maquia sua angústia com um otimismo excessivo, parece incapaz de lhe dar suporte a sua esposa (olha o spoiler) Ann Perkins quando ela engravida. Sempre que ela comenta sobre inchaços, dores ou falta de ar ele oferece uma solução entusiasmada, que embora carinhosa sufoca a esposa ao desqualificar, ainda que involuntariamente, seu sofrimento. Só quando Ann desabafa com amigos e esses dão uma dica para o marido é que ele aprende a realmente a consolar. Na próxima vez em que ela se queixa de algo ele simplesmente senta-se ao seu lado e diz: “Que saco isso, hein?”. Ann sorri aliviada, com a sensação de ter sido finalmente compreendida.

Pode parecer estranho, mas, paradoxalmente, é só quando não nos mandam parar de sentir alguma coisa que esses sentimentos encontram uma porta de saída.

Xi Tian, Denise Haunani Solomon, Kellie St.Cyr Brisini, How the Comforting Process Fails: Psychological Reactance to Support Messages, Journal of Communication, Volume 70, Issue 1, February 2020, Pages 13–34
Fonte: https://emais.estadao.com.br/blogs/daniel-martins-de-barros/como-consolar-os-amigos/

September 22, 2020

Improváveis missionários escolhidos por Deus

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Veio a palavra do Senhor, segunda vez, a Jonas […] vai à grande cidade de Nínive e proclama contra ela a mensagem que eu te digo. (Jonas 3.1-2)

Jonas não queria ir a Nínive. No entanto Deus o chamou. Não só para quebrar a resistência de Jonas, mas também para ensinar que seu amor não tem ligação com preconceitos humanos. Deus perdoou a desobediência de Jonas e depois o usou para estender essa misericórdia a outros. Agora, sem resistir à ordem divina, Jonas pregou aos ninivitas.

Muitos resistem ao chamado de Deus. “O Senhor sabe que esta tarefa é muito complicada para mim” ou “Não sou a pessoa indicada para isso; não tenho experiência com isso” são desculpas frequentes. Contudo Deus continua nos chamando ao serviço. Deus não procura servos perfeitos.

Jonas pregou a mensagem de Deus por toda a imensa Nínive. O povo o ouviu, reconheceu os próprios pecados e creu em Deus. Até mesmo o rei se arrependeu e humilhou-se diante de Deus, instaurando entre todos, homens e animais, um jejum.

A violência e a corrupção eram marcas da sociedade ninivita como é também da nossa. Isso pode mudar? O texto bíblico diz que sim. Quando a Palavra de Deus é anunciada, uma profunda transformação pode acontecer.

Sabemos que quem muda os corações é o Espírito Santo, no entanto ele faz isto utilizando pessoas falhas como eu e você.

Você quer ser instrumento de Deus para a transformação de vidas?

Oração: Senhor, não tenho mais argumentos para resistir à tua vontade que é sempre perfeita. Ajuda-me a discerni-la e dá-me a força necessária para obedecer a ti. 

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2020/09/18/autor/antonia-leonora/deus-usa-missionarios-improvaveis/

September 21, 2020

O Deus além da dor e da desesperança

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- Rosifran Macdeo
 
Ao enfrentarmos, hoje, dores e sofrimentos vindos de tantas frentes de batalhas – pandemia, enfermidades, mortes de queridos, distanciamento social, isolamento e solidão –, podemos sentir que os sermões nos venderam investimentos que só dão prejuízo, ou que fomos abandonados no meio da guerra. Será que os Céus nos enganaram ou enganamos a nós mesmos ao tentar manipular a Deus em benefício próprio? Períodos como o que vivemos são oportunos para reexaminarmos os tesouros onde temos colocado nossos corações. 
 
Ao lidar com o luto da perda de sua esposa, C. S. Lewis desejava manter a lembrança dela a qualquer custo, na tentativa de alivar sua dor. Mas quanto maior era o esforço, mais intensa era a dor. Assim, ele chegou à conclusão de que: 
 
“Você não pode, na maioria dos casos, obter o que você deseja se você desejá-lo desesperadamente; de qualquer jeito, você não poderá desfrutar do melhor daquilo... Para a pessoa que sofre de insônia o desejo desesperado de que "precisa dormir", normalmente, dá início a horas sem sono. A pessoa com uma sede voraz não pode, de fato, apreciar uma boa bebida”.1

Essa ideia vai contra a tendência atual de que “precisamos perseguir os nossos sonhos e desejos com toda a paixão e determinação”. A cultura das metas a serem alcançadas a qualquer custo, dos sonhos grandes e da busca implacável da realização de algum desejo parece, no final, não trazer a felicidade tão prometida e talvez seja em si uma barreira à própria felicidade. 
 
A razão que ele aponta para isto é que quando a realização de um desejo – a conquista de um alvo, o estabelecimento de uma relação, a solução de um problema, ou mesmo a cura de uma enfermidade – se torna um fim em si mesmo, ou seja, a fonte da nossa felicidade, isso nos afasta da Fonte Verdadeira. Quando o desejo se torna um fim, nós podemos nos aproximar de Deus apenas como um meio; as nossas orações, os nossos cultos e a nossa espiritualidade podem se tornar uma mera tentativa de manipular Deus para que Ele nos conceda o que tanto desejamos. Por isso, Lewis nos adverte: 
 
“...eu sei perfeitamente bem que Ele não pode ser usado como um caminho. Se você se dirigir a Ele, não como o Alvo, mas como um caminho, não como o Fim, mas como um meio, você não estará se aproximando dEle de modo algum. Porque estaríamos transformando num fim algo que só podemos obter como sub-produto do Fim verdadeiro”. 

Lewis fala que quando tentamos usar Deus como um meio e buscamos incensantemente a realização de algo, na verdade podemos estar fechando a porta na qual estamos batendo, fechando os ouvidos para ouvir a voz que tanto ansiamos, nos tornando cegos à Luz que tanto necessitamos nestes momentos. 
 
“Não será a intensidade do nosso desejo que fecha a curtina de ferro, que nos faz sentir que estamos contemplando o vácuo quando tentamos pensar sobre a pessoa falecida? Aqueles que pedem desesperadamente, não recebem. Talvez não possam receber. Nos momentos em que não há nada mais na sua alma, a não ser o grito por socorro, talvez seja o tempo no qual Deus não pode atender”. 

Lewis fala que nestes momentos somos como a pessoa que está se afogando e não pode ser ajudada, pois irá se agarrar desesperadamente a qualquer um que tente se aproximar para salvá-la. 
 
No entanto, ele compara a sua tese com a promessa bíblica de Mt. 7.8: “Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á”. Pedir, buscar e bater são encorajados pelo Senhor Jesus, todavia, a maneira como o fazemos pode ser errada: 

“Mas será que bater significa esmurrar e chutar desesperadamente? Talvez os seus gritos insistentes o tornem surdo à voz que espera ouvir. Precisamos ter a capacidade para receber, se não, nem a onipotência pode nos dar. Talvez a nossa própria paixão tenha destruído, temporariamente, esta capacidade”. 
 
Ele descobre que quando aprende a colocar o seu desejo em segundo plano e Deus em primeiro, há uma compreensão melhor do luto que está vivendo e pode ter o seu desejo realizado, de maneira apropriada:

“... o luto é uma parte universal e integral da experiência do amor. Ele segue o casamento, tão normal quanto o casamento segue o namoro ou o outono segue o verão. Não é o truncamento do processo, mas uma das suas fases; não é a interrupção da dança... mas o trágico passo no qual precisamos aprender a amar a "pessoa em si", e não retroceder e amar o passado, ou nossas memórias, ou nossa tristeza, ou o alívio da nossa tristeza, ou o nosso amor próprio... O que queremos é viver bem e fielmente o casamento também nesta fase. Se doer (e certamente doerá) nós aceitamos as dores como uma parte necessária desta fase... Pois, como eu descobri, o luto intenso não nos liga com as pessoas mortas, mas nos separa delas... E, de repente, no momento exato em que eu pranteei menos a falta de Helen, eu tive as melhores lembranças dela.” 

Mas ele sabe que este princípio de buscar a Deus em primeiro lugar e colocar o seu desejo em segundo lugar, ou de não buscá-lo inexoravelmente, ou, até mesmo, de abrir mão dele, contraria, choca a lógica humana:

“Senhor, estes são os teus termos? Será que só poderei encontrar Helen novamente se aprender a te amar tanto que não importa se eu encontrá-la ou não? Considera, Senhor, como isto parece para nós. O que alguém pensaria de mim se eu dissesse aos meninos ‘Nada de balas agora. Mas quando vocês crescerem e, de fato, não mais desejarem balas, vocês podem ter o tanto que quiserem’?” 
 
Acho que a descoberta de Lewis aponta para a definição de maturidade que George MacDonald descreve:

“Perfeito em fé é aquele que se chega a Deus em carência absoluta dos seus sentimentos e desejos, sem brilho ou ambição, sob o peso dos seus pensamentos agoniantes, fracassos, negligências, e desatenção errante, e Lhe diz: Tu és o meu Refúgio”.2
 
Estes conceitos estão em plena sintonia com as palavras de Jesus em Mt 10 e Lc 14: “Se alguém vier a Mim, e não amar a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, menos do que a Mim não pode ser meu discípulo... Quem se apegar à sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de Mim achá-la-á”.

Notas
1. Todas as citações de Lewis foram tiradas da obra A Grief Observed em The Complete C. S. Lewis Signature Classics, Harper One, pgs. 177-185. 
2. George MacDonald: An Anthology, por C. S. Lewis, Harper, San Francisco, 1973, p.1. 

Fonte: https://www.ultimato.com.br/conteudo/c-s-lewis-e-o-deus-alem-da-dor-e-da-desesperanca

September 20, 2020

Quero trazer à memória aquilo que me dá esperança

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Tantas lutas, tantas dores
Num deserto pareço estar

Mas Te entrego os meus temores
Sei que em Ti, Senhor, posso confiar

Quero trazer à memória
Aquilo que me dá esperança

Como é bom poder pertencer a um Deus de amor
Como é bom poder confiar em Tua fidelidade

Eu descanso em Ti
Eu espero em Ti
Eu Te adoro, Deus de amor

Em Ti eu posso me alegrar
Com ousadia declarar

O Deus a quem eu sirvo
Nunca falhou e não falhará
Não falhará

September 19, 2020

Um dia por vez

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Covidário do HC: missão em meio ao caos

- Barbara dos Santos Fahur
 
Sou fisioterapeuta, formada desde 2010, com especialização em fisioterapia cardiorrespiratória no INCOR – Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Trabalhei também com oncologia no Instituto do Câncer do Estado de SP e após três anos de experiência hospitalar, migrei para a área de osteopatia em 2014. 
 
Eu estava no meu consultório, onde me encontrava numa agenda repleta de pacientes à procura de reabilitação e de cura, quando, de repente, chega o ano de 2020. O mundo literalmente foi envolvido por uma forte e assustadora onda caótica, que tinha o poder de adoecer pessoas, famílias, cidades, países e simplesmente paralisar vidas frente ao coronavírus e a Covid-19.
 
Em frente ao caos que se apresentava diante de meus olhos, percebi que o mundo precisava de gente disposta a ajudar, inclusive na área da fisioterapia respiratória e ventilação mecânica. Assim, meu coração foi totalmente invadido por algo diferente. Eu simplesmente não via outra opção. Meu coração batia forte com esse desafio, me dizendo que era ali que eu tinha de estar. No meio do caos.
 
Em oração, pedi a Deus que me enviasse uma resposta, para que alguém do serviço de fisioterapia hospitalar entrasse em contato comigo. E a resposta veio mais rápida do que podia imaginar: em um mesmo dia tive dois chamados da área de RH de dois hospitais em São Paulo. O desafio agora era a escolha do local.
 
Nesse momento, tomei conhecimento que o Instituto Central do Hospital das Clínicas iria se tornar um “covidário”. Seriam 300 leitos somente de UTI e pelo menos mais 500 leitos de enfermaria, totalmente disponíveis para atendimento de pacientes graves de Covid-19. Meu coração se inclinou para servir nesse lugar.
 
Fui falar com meus pais e é claro que eles ficaram muito apreensivos com as consequências daquela decisão. Mas, em família, entendemos que não havia outra opção, que era ali, na UTI do Hospital das Clínicas, que eu deveria estar. Tivemos que adaptar a logística e aluguei um pequeno apartamento próximo ao hospital. O total distanciamento familiar seria necessário naquele momento.
 
Meu coração tinha um desejo muito grande de ajudar aquelas vidas, que eu não tinha capacidade intelectual para dimensionar sobre riscos, salário, ou qualquer questão burocrática envolvida; eu não me importava com o que viesse depois. Se essa fosse minha última missão de vida... seria ali! O medo que aterrorizava a nossa terra me dava forças para me inclinar em amor por um outro alguém. 
 
Então eu tirei os brincos, os anéis, o relógio, o colar... todas as roupas e sapatos bonitos que estava acostumada a usar. Coloquei máscara, óculos de proteção, face shield, roupa privativa, avental de proteção e luvas. E fui... um dia de cada vez. Entendi que o melhor a fazer, além da competência técnica, era levar ânimo, força e esperança para os profissionais que já estavam cansados e sobrecarregados. E junto com a equipe, ser instrumento de cura e de esperança aos pacientes internados.
 
Rotina no hospital
 
A equipe passou por um treinamento intensivo, mas não imaginávamos exatamente com o que iríamos lidar. Recebemos treinamentos em avaliação específica, posição prona, em novos ventiladores mecânicos, além de uma plataforma de suporte on-line atualizada, que os profissionais poderiam acessar a qualquer momento.
 
Os pacientes que chegavam já estavam enfrentando um quadro de gravidade importante, com evolução da cascata inflamatória, o que chamávamos de tempestade inflamatória. Com isso, não era somente o pulmão que estava comprometido. Alguns pacientes evoluíam com problema de fígado, outros com uma alteração cardíaca e renal. A recomendação terapêutica adotada foi visando manter o paciente em níveis adequados de sobrevivência, para que o seu próprio organismo tivesse condições biológicas de cura. O suporte básico de vida foi o nosso lema o tempo todo.
 
Cuidados com a equipe
 
A princípio, as pessoas achavam amedrontador estar num hospital que só recebia casos de Covid-19 e apelidado de “covidário”. Mas por incrível que pareça, muitos da equipe relatavam que se sentiam mais seguros e protegidos ali dentro do que em um supermercado. Havia os EPIs e todos da equipe estavam conscientes e, ao mesmo tempo, se cuidavam. A equipe de limpeza era exímia na atitude corajosa de entrar nas UTIs para fazer a limpeza e a higienização dos quartos, do chão, tirar o lixo e desinfecção dos ambientes.
 
Aconteceram acidentes biológicos? Sim. Profissionais foram contaminados? Nem todos. A taxa de contaminação interna de funcionários foi baixa perto do que acontecia em outros hospitais, e em alguns casos, bem menor em relação a hospitais que não eram especializados em atendimento a Covid, por não estarem adaptados para essa realidade.
 
A equipe de trabalho estava focada para juntos aprender o máximo, fazer o melhor e cuidar muito bem dos pacientes. Havia dias que tudo se desorganizava. Um número grande de pacientes se desestabilizava ao mesmo tempo. Nas primeiras semanas, o maior desafio da equipe foi conseguir interagir e compreender o momento diferente e emergencial que todos estavam envolvidos. Havia excelentes médicos, talvez os melhores médicos do mundo em terapia intensiva e eu presenciei vários deles, tomarem uma atitude de humildade e dizer para equipe: “Eu preciso de vocês. São vocês, cada um em sua especialidade, que estão fazendo a diferença nessa UTI.” Iniciaram diálogos entre equipes para melhor entendimento da dinâmica de cada UTI do “covidário”. O que um fez que deu certo? O que o outro fez que deu certo?  O objetivo de todos era o bem-estar dos pacientes e proporcionar a eles um maior grau de estabilidade e de sobrevivência.
 
Experiência com os pacientes
 
Graças a Deus não tivemos que conviver com pacientes no corredor do hospital sem assistência médica. Todos os pacientes encaminhados para o Hospital das Clínicas eram atendidos com muita excelência.
 
Tivemos muitos óbitos e perdas importantes, mas também tivemos muitas pessoas se recuperando. Às vezes não sabíamos exatamente como aquela história iria terminar, mas sabíamos que éramos os responsáveis por dar todas as condições possíveis de forma incansável para que aquela vida tivesse condições de sobreviver. 
 
Nesse período, muitas vezes eu não podia fazer absolutamente nada. Precisava simplesmente esperar que aquele organismo desse alguma resposta. De mãos atadas me perguntava... “como eu ainda posso fazer a diferença naquela vida?” Passava a orar e a cantar louvores na beira do leito de muitos pacientes. Orava e dizia palavras de esperança e de vida; muitas vezes, inclusive, precisava dizer que era tempo de ir embora e de deixar o próprio Deus cuidar em um novo céu e uma nova Terra. Não tenho dúvidas que muitos pacientes foram visitados pelo amor e pela graça de Deus. 
 
Tivemos um paciente jovem em um pós-operatório de cirurgia oncológica no esôfago que após o procedimento foi diagnosticado com Covid-19. Evoluiu com insuficiência respiratória moderada, necessidade de oxigênio e de cuidados respiratórios intensivos, porém não seria a melhor opção entubá-lo, pois havia um risco de comprometer a região da cirurgia. 
 
Optaram pelo tratamento de ventilação não invasiva e de alto fluxo, realizando as terapias de forma intercalada. Aos poucos foi melhorando até que foi para enfermaria e finalmente teve alta hospitalar.
 
Foi então que me deparei com um vídeo que viralizou, que mostrava a reação do filho ao ver o pai. A criança não estava esperando a surpresa. Ela se emocionou muito e a mãe fala para a criança: “Filho, você pode chorar”. E é aí que ele se dá conta que é o pai. Então ele vai para o seu colo e o abraça. Ao ver aquela cena, percebi que a dimensão era além do hospital. O paciente grave que passou por nossos cuidados, depois de curado, em sua casa há um encontro do filho com o pai, que ele nem sabia se ia encontrar novamente.
 
Esse foi um caso que me fez entender que valeu a pena cada detalhe e cada minuto que vivi na UTI de Covid-19. Cada fração de segundo valeu a pena!
 
Voltar à realidade do mundo aqui fora
 
Quando aceitei o desafio de ir para o hospital, não sabia por quanto tempo ficaria lá, mas sabia que precisava monitorar este tempo. A partir do momento que a onda começasse a diminuir, eu também tinha que retomar minha vida e sabia que era temporário. Da mesma forma que foi abrupta a entrada de pacientes, de repente começou a diminuir o número de novos casos. Percebíamos dois ou três leitos de UTI vagos por um período todo. Daqui a pouco um leito vago por 24 horas. E percebeu-se que já não era mais necessária aquela quantidade de leitos. Os pacientes que estavam chegando, já não eram tão graves em relação aos que chegaram primeiramente. Após 90 dias de trabalho na UTI, eu saí.
 
Foi difícil. Meu coração estava grato ao Senhor, cheio de alegria. Mas a desconexão dessa experiência de alto impacto deveria ser sentida gradativamente. Parece que fiquei meio perdida no espaço. Precisava de um tempo para aterrissar de forma tranquila e branda.
 
Em tão pouco tempo, houve uma transformação em mim. Passei a ter outras percepções de vida.
 
Recebi um chamado para uma missão. Percebi que ao receber essa grande tarefa, recebi também um estado de ânimo interno que me protegeu. Eu não tinha medo. O ímpeto da ajuda foi muito maior que o medo. E acho que foi esse sentimento que me sustentou. Meu foco não era na doença, era na solução. Eu entendia que eu era um meio de solução, então eu tinha que ir.
 
Havia momentos críticos no hospital. Eu me cansava, ficava triste. Mas percebia que meu corpo tinha a reserva energética para lidar com aquele momento. Logo depois eu deixava relaxar. Adotei algumas estratégias que compreendiam ter um boa noite de sono. Conseguia pela manhã me reorganizar internamente. Fazia períodos de oração, de meditação, ouvia uma música que deixava meu coração mais animado. Dessa forma, sinto que pude levar algo positivo para dentro da UTI, tanto para os pacientes quanto para meus colegas de trabalho, onde conheci pessoas maravilhosas.  
 
Em nenhum momento me senti angustiada. Algumas vezes ligava a televisão e pensava que eu estava vivendo num mundo paralelo. Não era possível que o que eu via na TV poderia ser pior do que o que via no hospital, apelidado de “covidário”.
 
Havia o sentimento de gratidão imensa em poder ajudar. O sentimento de impotência enorme em às vezes não poder fazer nada e o sentimento de extrema certeza que a mão de Deus, os anjos de Deus, a nuvem de glória estavam comigo naquele lugar de uma forma que eu nunca senti antes! Chorei, dei risada, cantei, me senti frustrada, me alegrei, fiz high five com o paciente que recebia alta, celebrei cada mínima melhora e conheci pessoas incríveis. 
 
Simplesmente vivi um dos melhores e mais lindos momentos de minha vida!
 
Ali, no meio do caos, Deus me resgatou, me curou e me permitiu levar uma atmosfera de amor e de cura por aqueles corredores! Ali Deus me protegeu, me iluminou, me usou e me guiou! Ali eu encontrei um novo sopro de vida!
 
Fonte: https://www.ultimato.com.br/conteudo/o-covidario-do-hospital-das-clinicas-do-caos-a-missao

September 18, 2020

Bem-aventurados os mansos

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Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. 
Mt 5:5

- Jhonatan Rosa

As bem aventuranças de Jesus, Ele é o único que poderia dizer essas palavras, ninguém pode dizer algo assim em tamanha perfeição e em absoluta verdade, Jesus está nos dizendo que os mansos herdarão a terra, é uma promessa do Senhor, em nossa sociedade o que vemos é a violência muitas vezes é aplaudida, e até mesmo mais recompensada do que aqueles que são mansos, em nossos dias ser manso não é aparentemente ter uma boa qualidade, pois desta forma, talvez, não sejamos recompensados por isso aqui, mas que vantagem há em ser manso?

Primeiro quero tentar explicar porque é uma bem aventurança ser manso:

Os mansos são pessoas que não estão competindo com outras pessoas sobre o que possuem, estão satisfeitas com o que tem, não se sentem intimidadas pelos outros terem mais que elas, saber mais que elas, pois não se interessam mais pelas coisas do mundo estão satisfeitas com o segundo lugar, elas perderam seu interesse, porque encontraram algo de maior valor, não oprimem ou cobram as pessoas, preferem perdoar os outros que as perseguem, do que em um momento de ira fazer o mal há qualquer pessoa, pois elas se refugiam no Altíssimo (Sl 91), não carregam ressentimentos de críticas, nem se magoam.

Elas sabem que o mundo nunca irá ver elas como Deus as vê, perderam o medo de alguém falar o que elas são de verdade e não se preocupam com as críticas, pois sabem que só não são piores, porque Deus é misericordioso com elas, esperam com paciência o dia que Deus trará todo o julgamento e também reconhecimento de seu valor para Deus, estão livres de todo fingimento, como as pessoas que procuram mostrar seu melhor lado e esconder sua verdadeira pobreza e miséria interna, perderam o medo de encontrar alguém mais inteligente que eles, ou rico, se tornaram como criancinhas, onde não carregam o fardo da inveja, do orgulho, do ciúmes.

Então ser manso é uma bem aventurança e a grande alegria disso é poder receber de Jesus a mansidão e a humildade, pois o descanso para os nossos fardos é a mansidão e a humildade de Jesus, onde encontramos descanso para nossas almas, assim temos a segurança em Cristo, onde percebemos que somos amados não pelo que fazemos, mas pelo que Ele já fez, nem nos coloca como uns melhores dos que outros pois Ele nos ama da mesma maneira com todos os seus filhos, então não precisamos nos autojustificar nem justificar nossa vida para as pessoas, pois Cristo na Cruz, realizou a nossa justifição e assim temos Paz com Deus.

Levem o meu jugo e deixem que eu lhes ensine; porque eu sou manso e humilde de coração, e vocês acharão descanso para suas almas. (Mateus 11.29)

Que a cada dia possamos ser mais livres do fardo do mundo e encontrar o descanso da mansidão e humildade de Cristo Jesus.

Amém.

Fonte: https://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/bem-aventurados-os-mansos

September 17, 2020

Voltar a viver num mundo que não existe mais

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- Marcelo Levites
Viver é realmente uma arte que exige flexibilidade, resiliência e adaptação. As pessoas que conseguem se adaptar de forma mais rápida conseguem viver de forma mais leve.

Já falamos muito sobre o quanto a pandemia alterou nosso dia a dia e os reflexos dessa mudança tão brusca na vida de todos nós. Viver agora exige adotar novos hábitos e o mais importante é entender que isso não deve gerar ansiedade ou frustração. Ser flexível e resiliente nunca foi tão importante.

Ser oito ou oitenta nunca foi bom, mas nesses tempos, esse tipo de atitude não poderia ser pior. Isolar-se assustado com a pandemia não é uma atitude saudável, mas ir a uma praia lotada como se o mundo fosse acabar amanhã, também não. O meio termo é conhecido como o irmão do bom senso. Nesse sentido, o que sugiro aqui é, além do contato virtual com amigos e familiares, aos poucos retomar algumas atividades.

Entre elas, os pequenos encontros com pessoas que também estão se cuidando. Seja uma caminhada na calçada com um amigo, até um café, almoço ou jantar na casa de alguém, sempre em pequeno número e com segurança, claro. Ambiente ventilado, higienização das mãos, uso de máscara de forma correta e distanciamento social.

E o mais importante de tudo, lembre que você sempre pode escolher o estilo de vida que quer pra si mesmo. Busque a leveza, e isso não significa se alienar, não ouvir mais as notícias, não ficar por dentro do que acontece no mundo. Mas, quando estiver com as pessoas de que gosta, escolha assuntos leves. Que tal trocar dicas sobre o último livro, aquele filme que você gostou, aquela receita que ficou uma delícia ou dar uma boa gargalhada com aquela que deu errado?

A máscara veio pra ficar, assim como o álcool gel e retirar os sapatos ao entrar em casa não é mais uma questão cultural, então, que tal adotar isso como um hábito, assim como escovar os dentes após as refeições e focar sua energia no quanto é bom viver?

Faça sua escolha, viva mais e melhor.

Fonte: https://emais.estadao.com.br/blogs/viva-mais-e-melhor/e-preciso-saber-viver/

September 16, 2020

Oração de Rui Barbosa

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A maioria quer trabalhar em paz, mas quem divulga o bem?

- Letícia Dornelles

Muito prazer. Sou a mãe do Patrick, de 10 anos. Jornalista, escritora com 14 livros em quatro idiomas, novelista (Globo, SBT, Record, Televisa México e TV turca). Cursos de gestão pública e especialização em combate à corrupção. Há um ano, presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, do Ministério do Turismo.

Coloquei servidores em casa no dia 17 de março, dia de Saint Patrick. Minhas portarias de trabalho remoto serviram de guia para outros órgãos. Não usei o direito, apesar do filho menor, que não tem pai vivo e depende de mim. Patrick tem orgulho do meu trabalho e é quem me faz resistir às maldades, injustiças, calúnias, difamações, ameaças de morte.

Patrick foi ofendido por um servidor que gravou uma "live" na fundação. Criança ridicularizada. Para atacar a mãe, atinge o filho. Covarde. Atacou o presidente Jair Bolsonaro, contra a lei 8.112, que rege a conduta de servidores. Humilha criança. Abismo moral entre nós.

Números. Orçamento, R$ 6 milhões. Déficit, R$ 900 mil. Cortei o que pude. Cheguei a R$ 570 mil. Pedi socorro. O ministro Marcelo Álvaro Antônio foi sensível. Obtive mais R$ 3 milhões para melhorias. Contratei inédita brigada de incêndio. Vou reformar o setor elétrico. Digitalizar a biblioteca, com 37 mil itens. Digitalizar o acervo do arquivo-museu: Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector. Reformar o museu, que corre risco de desabar. Construir um prédio para os acervos, que estão em condições precárias. Quando chove, corremos com baldes para proteger. Houve processo para extinguir a fundação. Deixar apenas o museu. Consegui o arquivamento. Tive nas mãos o destino de alguns que me caluniam. Sou honesta.

Esses fatos não saem na mídia. Brigada de incêndio? Não. Preferem incendiar. Publicar calúnias plantadas por militantes. Eu teria vergonha. Penso no personagem de novela que fofoca no portão. Nunca é o protagonista, o que brilha. É sempre o ninguém. A maioria quer trabalhar em paz. Mas quem divulga o bem?

Há quem produza conteúdo de qualidade. Outros, não. Ex-presidentes atestam, como Manolo Florentino e Wanderley Guilherme dos Santos (1935-2019), este no jornal O Globo, em 2013: "O Centro de Pesquisas, embora o mais preservado de todos os grupos, que vive em permanente demanda por regalias, resistente a toda pressão por compromissos de trabalho, e escondendo-se por trás de mortos ilustres, (...) revela produtividade medíocre e, em certos casos, nula. (...) [E nada melhor que] Uma auditoria externa de produtividade que consiga explicar, entre vários outros enigmas, como um pesquisador em ciência e tecnologia chega ao topo da carreira sem jamais haver concluído e publicado uma pesquisa. É a desmoralização paradigmática de uma profissão".

O patrono. Certa vez, Rui Barbosa não pôde comparecer a uma formatura. Mandou o discurso aos futuros advogados, juízes. Fariam denúncias, defesas, julgariam. Com imparcialidade e ética, não com ódio, ensina. Com a pureza do coração dos moços. Não com os maus sentimentos da vida talvez infeliz de alguns antigos. Rui fala em Deus e no valor do caráter. Recomendo a leitura aos caluniadores. "Oração aos Moços". Meu filho leu. Aos dez anos. Mais honrado, superior e digno do que quem o ofende.

Tempo. Senhor da razão. Imagine uma noite sem estrelas no céu. Tão assustadora que parece o fim do mundo. Estou sem trabalho e sem sono. Penso no rumo que vou dar à minha vida. Meu filho dorme. Sem saber da escuridão e do meu medo de a insegurança perdurar por longos tempos. Choro. Peço ajuda a Deus. Tenho o futuro do Patrick nas mãos. Ele acorda. Disfarço.

— Chorando, mamãe?

— Não, meu amor. Impressão sua.

Patrick toca meus olhos. Abre os bracinhos e me faz deitar nos ombros dele. Seca as minhas lágrimas.

— Calma. Estou aqui. Você não está sozinha no mundo.

— Como pode falar assim? Tão pequeno.

— Medo do escuro, mamãe? As estrelas estão lá. Você que não vê.

— A luz está ao meu lado. É você, meu anjo.

Patrick aos três anos. Nunca mais senti medo. Da escuridão, da maldade humana. Tenho Deus. Tenho a luz a me guiar. Tenho Rui Barbosa a me inspirar. Tenho a oração diária do meu moço. Amém.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/09/oracao-de-rui-barbosa.shtml?utm_source=mail

September 01, 2020

Empecilhos que se tornam bençãos

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2 Coríntios 7.4-6; Gálatas 4.13

Não é o que acontece com você, mas sim as suas reações que determinam o resultado. A mesma situação pode acontecer a duas pessoas diferentes. Uma reagirá de um modo; a outra, de outro. Os resultados serão totalmente diferentes.
Jesus planejava ficar sozinho na presença de Deus, mas as multidões interromperam os seus planos. “Ele as acolheu” (Lc 9.11) – ele as acolheu quando interromperam os seus planos. E mais, “falava-lhes acerca do reino de Deus, e curava os que precisavam de cura” e as alimentou. 
O importante aqui não é a pregação do reino, nem a cura, nem o ato de alimentar as multidões; é o Espírito por meio disso tudo, o Espírito que pode usar uma interrupção e transformá-la em uma intervenção. Esse Espírito continua vivo depois que as ações imediatas se dissipam. 
Jesus voltou para o seu tempo de oração; não permitiu que as interrupções locais interferissem permanentemente em seus objetivos de longo alcance. Então, a hora da oração trouxe consigo a vitória sobre a interrupção. A reação foi a recompensa.
A narrativa novamente diz: “Então os fariseus […] começaram a conspirar […] Sabendo disso, Jesus retirou-se daquele lugar” (Mt 12.14-15). Ele poderia fazer uma retirada estratégica e esperar o seu tempo. O Caminho não é o caminho do trator, que passa por cima de tudo, mas o de um córrego que contorna os obstáculos e avança. O desvio é o caminho mais curto para se contornar um obstáculo.
O desvio pode se transformar em um período de irritação ou de frutificação. Você e eu recebemos o evangelho por causa de um obstáculo (“Tendo sido impedidos pelo Espírito Santo” [At 16.6]); Paulo foi da Ásia para a Europa e, consequentemente, o evangelho chegou a nós por meio da Europa. Somos o resultado de um obstáculo. 
Você pode fazer com que todos os seus obstáculos sejam uma bênção para alguém e, sobretudo, para si mesmo. Paulo disse: “Aquilo que me aconteceu tem […] servido para o progresso do evangelho” (Fp 1.12). Entretanto, ele escreveu isso de uma prisão.
Sob tribulações, o cristão não se desespera; ele encontra desvios.
Ó Cristo, agradeço-te por este modo de vida vitorioso: nada o impede – permanentemente. Esse modo de enfrentar a vida tem, em si, uma vitória incorrigível. Ajuda-me a segui-lo – assim, eu também serei incorrigivelmente vitorioso. Amém. 
Afirmação do dia: “O Senhor assentou-se soberano sobre o Dilúvio […] O Senhor dá força ao seu povo” (Sl 29.10-11). 
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2020/08/26/autor/stanley-jones/os-empecilhos-tornam-se-bencaos/