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A maioria quer trabalhar em paz, mas quem divulga o bem?
- Letícia Dornelles
Muito prazer. Sou a mãe do
Patrick, de 10 anos. Jornalista, escritora com 14 livros em quatro idiomas,
novelista (Globo, SBT, Record, Televisa México e TV turca). Cursos de gestão
pública e especialização em combate à corrupção. Há um ano, presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, do Ministério do
Turismo.
Coloquei servidores em casa no
dia 17 de março, dia de Saint Patrick. Minhas portarias de trabalho remoto
serviram de guia para outros órgãos. Não usei o direito, apesar do filho menor,
que não tem pai vivo e depende de mim. Patrick tem orgulho do meu trabalho e é
quem me faz resistir às maldades, injustiças, calúnias, difamações, ameaças de
morte.
Patrick foi ofendido por um
servidor que gravou uma "live" na fundação. Criança ridicularizada.
Para atacar a mãe, atinge o filho. Covarde. Atacou o presidente Jair Bolsonaro,
contra a lei 8.112, que rege a conduta de servidores. Humilha criança. Abismo
moral entre nós.
Números. Orçamento, R$ 6 milhões. Déficit, R$ 900 mil.
Cortei o que pude. Cheguei a R$ 570 mil. Pedi socorro. O ministro Marcelo
Álvaro Antônio foi sensível. Obtive mais R$ 3 milhões para melhorias. Contratei
inédita brigada de incêndio. Vou reformar o setor elétrico. Digitalizar a
biblioteca, com 37 mil itens. Digitalizar o acervo do arquivo-museu: Carlos
Drummond de Andrade, Clarice Lispector. Reformar o museu, que corre risco de
desabar. Construir um prédio para os acervos, que estão em condições precárias.
Quando chove, corremos com baldes para proteger. Houve processo para extinguir
a fundação. Deixar apenas o museu. Consegui o arquivamento. Tive nas mãos o
destino de alguns que me caluniam. Sou honesta.
Esses fatos não saem na mídia.
Brigada de incêndio? Não. Preferem incendiar. Publicar calúnias plantadas por militantes.
Eu teria vergonha. Penso no personagem de novela que fofoca no portão. Nunca é
o protagonista, o que brilha. É sempre o ninguém. A maioria quer trabalhar em
paz. Mas quem divulga o bem?
Há quem produza conteúdo de
qualidade. Outros, não. Ex-presidentes atestam, como Manolo Florentino e
Wanderley Guilherme dos Santos (1935-2019), este no jornal O Globo, em 2013:
"O Centro de Pesquisas, embora o mais preservado de todos os grupos, que
vive em permanente demanda por regalias, resistente a toda pressão por
compromissos de trabalho, e escondendo-se por trás de mortos ilustres, (...)
revela produtividade medíocre e, em certos casos, nula. (...) [E nada melhor
que] Uma auditoria externa de produtividade que consiga explicar, entre vários
outros enigmas, como um pesquisador em ciência e tecnologia chega ao topo da
carreira sem jamais haver concluído e publicado uma pesquisa. É a
desmoralização paradigmática de uma profissão".
O patrono. Certa vez, Rui Barbosa
não pôde comparecer a uma formatura. Mandou o discurso aos futuros advogados,
juízes. Fariam denúncias, defesas, julgariam. Com imparcialidade e ética, não
com ódio, ensina. Com a pureza do coração dos moços. Não com os maus
sentimentos da vida talvez infeliz de alguns antigos. Rui fala em Deus e no
valor do caráter. Recomendo a leitura aos caluniadores. "Oração aos Moços". Meu filho leu. Aos dez anos. Mais honrado, superior e digno do que
quem o ofende.
Tempo. Senhor da razão. Imagine
uma noite sem estrelas no céu. Tão assustadora que parece o fim do mundo. Estou
sem trabalho e sem sono. Penso no rumo que vou dar à minha vida. Meu filho
dorme. Sem saber da escuridão e do meu medo de a insegurança perdurar por
longos tempos. Choro. Peço ajuda a Deus. Tenho o futuro do Patrick nas mãos.
Ele acorda. Disfarço.
— Chorando, mamãe?
— Não, meu amor. Impressão sua.
Patrick toca meus olhos. Abre os
bracinhos e me faz deitar nos ombros dele. Seca as minhas lágrimas.
— Calma. Estou aqui. Você não
está sozinha no mundo.
— Como pode falar assim? Tão
pequeno.
— Medo do escuro, mamãe? As
estrelas estão lá. Você que não vê.
— A luz está ao meu lado. É você,
meu anjo.
Patrick aos três anos. Nunca mais
senti medo. Da escuridão, da maldade humana. Tenho Deus. Tenho a luz a me
guiar. Tenho Rui Barbosa a me inspirar. Tenho a oração diária do meu moço.
Amém.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/09/oracao-de-rui-barbosa.shtml?utm_source=mail
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