Não procure por algo que só pode ser construído
Quando eu comecei ainda jovem a dizer para as pessoas próximas a mim que não existia alma gêmea, muitos ficaram decepcionados. Passamos tantos anos ouvindo contos de fadas na infância e assistindo comédias românticas na juventude que essa narrativa do par perfeito nos parece uma descrição do mundo e não um recurso da ficção.
Nada como o tempo para nos mostrar a realidade. Pouca gente adulta ainda acredita no príncipe encantado depois de experimentar um pouco da vida como ela é. Mas esses dias, assistindo à série The One, disponível na Netflix, percebi que esse não é um tema totalmente superado.
Na trama uma dupla de cientistas consegue decifrar o código genético dos seres humanos para encontrar sua combinação exata. Uma vez combinadas as pessoas experimentam um amor à primeira vista, a sensação única e transcendental que condena aquele relacionamento ao sucesso inevitável. Para aumentar o interesse na história ela envolve alguns crimes, investigações policiais, traições, nada muito fora dos clichês de séries para consumo imediato e digestão fácil.
Mas o fato de surgir mais uma obra com essa premissa, já explorada recentemente por tantas outras, mostra que no fundo nós mantemos a crença de que existe, em algum lugar, uma metade que nos complemente perfeitamente. Quem sabe nós só não tínhamos descoberto a forma de encontrá-la? Agora, com big data, crowdsourcing, engenharia genética, hiper-conectividade, será que não conseguiríamos?
Não, não conseguiríamos. Simplesmente porque não há tecnologia avançada o suficiente para encontrar algo que não existe. Relacionamentos passam por muito, muito mais do que uma conexão estabelecida por feromônios envolvendo desde a história de vida das pessoas, seu entorno, visão de mundo, laços familiares, experiências afetivas anteriores e, talvez mais importante, a predisposição para o trabalho duro que é construir uma relação de longo prazo.
Relacionamentos de sucesso não são estabelecidos por almas gêmeas, mas por pessoas dispostas a arregaçar as mangas e suar a camisa – para ficar em mais dois clichês. Sem tal disposição não há tecnologia que faça de alguém sequer um bom partido, muito menos uma combinação infalível.
Fonte: https://emais.estadao.com.br/blogs/daniel-martins-de-barros/amor-nao-se-encontra/
0 Comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.
<< Home