December 20, 2006

Não existe Natal sem Cruz

20.12.06
Da mesma maneira que morte e nascimento coexistem, não existe Natal sem a Paixão de Cristo. Amor e sofrimento fazem parte do mesmo pacote, excluir a cruz é baratear a graça. Temos a tendência de escolher só as melhores partes, mas a vida mostra que isto nem sempre é possível.

Natal e Cruz significam que Deus amou tanto vc e a mim que deu Seu único filho para morrer no nosso lugar (Rm 5: 8); sim Jesus veio como bebezinho e morreu como inocente para que eu e vc pudéssemos ter vida e vida em abundância (Jo 10: 10).

Natal e Cruz significam que nem problemas, nem angústias, nem perseguições, nem fome, nem miséria, nem perigo, nem bala perdida, nem morte, nem vida, nem anjos, nem demônios, nem presente, nem futuro, nem poderes, nem altura, nem profundidade - nada pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo (Rm 8: 35-39).

Natal e Cruz significam que no mundo vamos passar por aflições, mas não precisamos ter medo porque temos em Jesus alguém em quem confiar pq Ele venceu o mundo (Jo 16: 33).

Natal e Cruz significam que podemos ter a paz que excede todo entendimento guardando nossos corações e mentes em Cristo Jesus (Fp 4: 7), a paz que o mundo não conhece (Jo 14: 27) pq esta paz pode ser desfrutada independentemente da situação que estivermos.

Natal e Cruz desafiam a gente a viver num mundo de espertos que só tiram vantagem; ao integrarmos o amor e o sofrimento, até que Jesus esteja no centro de nossas vidas e seja o nosso Pastor guiando-nos às fontes de água viva, e até que Deus enxugue de nossos olhos toda lágrima (Ap 7: 17).

December 19, 2006

Qual é o verdadeiro sentido do Natal?

20.12.05
Chérie,

tudo bem com vc? Imagino que esteja em contagem regressiva para o final de ano... E nesta correria, a gente se depara sem tempo para respirar, que dirá refletir sobre o verdadeiro sentido do Natal!

Vc percebeu como é fácil sermos abduzidos pelos valores dos outros? Sem nos darmos conta, caímos de boca no ímpeto consumista comprando mundos e fundos, mas... até que ponto a maneira como fazemos não tira a essência do nosso gesto?

Qdo estudei semiologia da imagem, aprendi a diferença de signo e significado, e falar sobre isto parece muito apropriado para refletirmos sobre o verdadeiro sentido do Natal.

Natal é tempo de ver o menino Jesus - que é o próprio AMOR - nascer em cada relacionamento. E se viver é uma maneira deste amor se tornar realidade, como explicar acessos de irritação, impaciência e mal-humor, típicos de pessoas sem noção?

O verdadeiro sentido do natal é que o Deus de AMOR - Emanuel Deus conosco - se tornou carne para resgatar a humanidade. De sentimento e discurso, passou para a ação. E veio como bebêzinho porque não existe nada mais inofensivo do que um nenê!

O nascimento de Jesus não foi um acontecimento extraordinário: Ele nasceu na época mais corrompida (legalistas distorcendo todo o significado da Palavra), na calada da noite, na menor cidade (Belém), no lugar mais humilde (manjedoura de uma estrebaria).

No entanto, nesta simplicidade os elementos mais essenciais estão lá: o amor, o cuidado, a alegria e o acolhimento carinhoso de Maria e José. Talvez eles estivessem assustados, talvez não soubessem como iriam criar aquele bebezinho... e olha que fofo: da mesma maneira que Deus usou Isabel para encorajar Maria (Lc 1), tb usou as visitas dos pastores (Lc 2) e dos magos (Mt 2) para reafirmar o encorajamento.

A maluquice da época é que os magos e os pastores eram considerados impuros pela sociedade judaica (interessante notar que temos - eu pelo menos - a péssima mania de classificar as pessoas).

Esta maneira de ver a vida classificando os outros, é muito limitada. A gente 'acha' que encontra segurança e comodidade (para não ter de pensar tanto) e sem querer, aprisiona os outros aos nossos pré-conceitos, não dando o direito deles nos surpreenderem ou terem liberdade de serem o que são (e não o que gostaríamos ou esperávamos que fossem).

Os magos são os gentios que representam a riqueza, a sabedoria e o conhecimento que se rendem ao Filho do Deus vivo. A estrela-guia é um sinal de que a natureza se curva diante do Criador e de que estes estrangeiros voluntariamente sujeitam-se à verdadeira soberania. Os magos ainda não tem a visão completa e, da sua maneira limitada, buscam a Deus de todo o coração, de todas suas forças e de todo o seu entendimento. Jesus nasceu e morreu por causa deles.

Os pastores são os excluídos e os marginalizados (naquela época, os rituais de purificação eram bem rígidos). Eram pobres, pessoas simples, sensíveis, de coração aberto (ouviram e foram atrás do sinal que os anjos revelaram), fiéis para cuidar do rebanho (quem é fiel no pouco, é fiel no muito) tanto é que Jesus adulto se auto-intitula o Bom Pastor, aquele que dá a Sua vida pelas ovelhas (Jo 10: 11). Sim, Jesus tb nasceu e morreu por eles.

O nascimento de Jesus abarca a todos. Inaugura uma época em que ricos e pobres, estrangeiros e excluídos, sábios e simples adoram juntos a Emanuel Deus conosco.

Os anjos anunciam "Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra entre os homens a quem Ele quer bem"(Lc 2: 14). A paz é um convite a todos que O buscam e O adoram em espírito e verdade.

Este é o convite que o Pai faz a vc e a mim neste Natal. A minha oração é para que o seu coração em 2007 (como o meu) se torne cenário de encontro, de acolhimento a todas as tribos, raças e nações.

Talvez vc pense como eu: mas e a minha favela interior (rs)? Sim, porque todo mundo tem pelo menos um cantinho onde esconde a bagunça, né (joke)!

Chérie, Jesus nasceu numa estrebaria! O convite de Natal começa em seu coração e o filho de Deus mostra que o mais importante não é onde estamos ou o que fazemos ou o que temos.

Jesus não nasceu numa manjedoura e morreu numa cruz pelo que somos (no meu caso, uma miserável que acha que dá conta do recado sozinha) mas pelo que viremos a ser. O Pai olha o pacote completo (passado, presente e futuro) e siiiiim, aquele que começou a boa obra - em mim, em vc, em nós - irá terminar até o retorno do nosso Senhor (Fp 1: 6).

Por isto abra o seu coração para Jesus entrar. Se estiver punk porque a bagunça da favela emperrou a porta (rs), peça ajuda ao Pai. Tenho certeza de que abrindo espaço, vc receberá os presentes que Ele quer te dar em 2007.

Que este seja o Natal mais feliz da sua vida!

Beijão,

KT

December 18, 2006

Símbolos e significados

Natal e Batismo
Natal e Batismo

Quero traçar 3 paralelos entre o Natal e o Batismo. Antes porém quero esclarecer estes dois termos:

Natal - diz respeito à encarnação do filho de Deus, que recebeu o nome de Jesus. Assim, não estou falando das festividades que envolvem símbolos como o Papai Noel e a Árvore de Natal, ou as festas, troca de presentes etc.

Batismo - diz respeito ao ato voluntário a que o ser humano se submete, de ser imerso na água, simbolizando sua união com Jesus Cristo.

Que paralelos podemos fazer entre o Natal e o Batismo?

O 1o. paralelo é representado pela palavra CONEXÃO

O Natal revela o desejo de Deus conectar-se com o home que se desviou do propósito original e perdeu-se. Ao enviar seu filho ao mundo, Deus mais uma vez estava dizendo à humanidade: Eu desejo ter relacionamento com vocês!

O Batismo revela o desejo daquele que a Ele se submete de estreitar suas relações com Deus. Por ter compreendido que Jesus é o Filho de Deus e que somente através dEle é possível se relacionar com o Pai, a pessoa representa isto através do batismo.

O 2o. paralelo é representado pela palavra AMOR

Através do Natal Deus demonstrou o seu amor para com a humanidade. Em João 3: 16 lemos "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".

Através do Batismo, o homem demonstra o seu amor para com Deus e para com sua família - a igreja. Amar a Deus é uma opção por odiar tudo que a Ele entristece.

O 3o. paralelo é representado pela palavra INSERÇÃO

Através do Natal, o Deus Eterno inseriu-se numa família humana para salvar a humanidade. Ele nasceu como homem para, como homem, sofrer as dores do homem e pagar o preço necessário à salvação da humanidade.

Através do Batismo, o homem se insere na família de Deus e, conscientemente se dedica a cumprir Sua vontade. Pelo Batismo, a pessoa está afirmando que se entrega do Pai e a Ele deseja servir com todas as suas forças, com todos os seus bens.

Um grande abraço do seu pastor,

Vandeir Dantas

Fonte: Primeira Igreja Batista em Jardim das Imbuias, boletim dominical 17/12/06.

December 15, 2006

A arte de viver

15.12.06
Chérie,

com o tempo corrido, os administradores (estressados) de plantão sabem que planejar e priorizar são atitudes importantes. Porém, confesso que gostaria de ter mais tempo e dinheiro para fazer tudo o que gostaria (hahahah)!

Sobre as convivências forçadas de final de ano, o desafio é a parte "prática" que é aceitar as diferenças e se colocar no lugar do outro (pq saber e não viver, é o mesmo que não saber). Tenho exercitado a compaixão na medida do possível (antes a tolerância não fazia parte do meu vocabulário) hahaha, por isto é uma eterna domesticação da selvagem que existe dentro de mim (ai que mêda) rs!

Mas o que tem me incomodado mesmo é a relação do controle sobre a vida. Pq nem sempre as coisas acontecem da maneira que gostaríamos. Não sei se vc chegou a ver o livro da Annie, mas é uma história de amor: fala de nascimento, alegria, tristeza e morte. Algumas cenas são bem cruas, qdo ela fotografa a companheira no leito de morte e depois o cadáver. Achei um pc forte. Tenho uma colega que tb comprou o livro (por coincidência, tb é fotografa) e ficamos bem incomodadas com os retratos.

O que a Annie fez foi mostrar a realidade e não maquiar, ou mesmo esconder o que de fato aconteceu. E a vida é feita disto, de coisas boas e coisas nem tão boas assim. A Annie perdeu a companheira e, 6 semanas depois, perdeu o pai. Mas em seguida pariu as gêmeas. Fotografar foi uma espécie de catarse artística.

Qdo falei de história x informação foi neste sentido. História é para ser vivida e aceita (gostemos ou não). E informação (linguagem racional) é para ser trabalhada.

No meu caso, percebi o qto preciso crescer. Pq transito bem qdo se trata de informação. Mas qdo se trata de linguagem emocional, sou medíocre. A coragem da Annie Leibovitz e, mais ainda da Susan Sontag (os escritos dela são tão vivazes, não sei se vc já leu alguma coisa, vale muito a pena) são um convite para eu amadurecer. Pq só os verdadeiros artistas não têm medo de admitir e expor os seus sentimentos.

Artista não é apenas aquele que tem sucesso comercial, mas aquele que transforma o seu cotidiano e a vida daqueles que o cercam (vc assistiu A Festa de Babette? Revi neste finde e fala um pc sobre isto*).

Bem, deixa eu ir nesta. Daqui a pc teremos confraternização de final de ano (mais uma, aff...) e preciso ajeitar as coisas antes de sair.

Beijins e bom finde!

KT

* Ficou curioso? Vai lá: http://bencaopura.blogspot.com/2006/09/arte-da-comunho.html

December 13, 2006

Razão x Coração

12.12.06
Chérie, qto tempo!

Tudo bem com vc? Tá correndo muito?

Este final de ano está punk, o tempo passa tão rápido que parece que estou sonhando, me sinto anestesiada.

E quem sonha, sabe: existem sonhos onde vc é ator principal, em outros é espectador. Às vezes sonha-se em preto-e-branco, mas às vezes sonha-se colorido. Às vezes sonha-se em outra língua (dá mó desespero, pq vc quer falar, mas precisa medir as palavras) rs. Já aconteceu tb de um sonho virar metalinguagem: eu estar no sonho, mas enxergando-me como se fosse um outro personagem (fiquei com mêda).

Vc pode estar perguntando: - mas que papo maluco é este?

É que os dias estão voando, perdi o controle do tempo e vou assistindo a vida como um filme, sem tempo para interferir ou refletir (e isto me angustia demais, vc não faz idéia).

Por outro lado, tb existe o contentamento. O coração grato (de verdade) por saber que Deus está no controle, não preciso ficar ansiosa ou ter medo (preciso é ter vergonha na cara, isto sim pq quem fica parado é poste) rs.

O que detonou a crise da vez (pq sempre estou metida numa) rs foi o livro A Photographer´s Life da Annie Leibovitz. Tinha lido um artigo do Ruy Lindenberg no Meio e Mensagem (para conferir a íntegra vá lá: http://bencaopura.blogspot.com/2006/11/uma-histria-de-amor.html), me encantei e comprei. Mas a encomenda só chegou ontem (foi um soco no estômago) e só consegui processar algumas conclusões hoje (às vezes mil anos são como um dia).

Temos (eu principalmente) dificuldade em lidar com coisas que não temos controle e a vida (traduzida por história) é assim. Na maior parte das vezes lidamos com informações (linguagem da razão) e sempre é cômodo pq moldamos de acordo nossas conveniências dando começo, meio e fim (gostamos de coisas que fazem sentido).

Mas participar da vida (fazer história) não é assim: é como um sonho onde vc não determina onde começa ou como termina - o nosso olhar capta apenas um frame e isto não nos dá poder (e direito) de interferir no andar da carruagem, gostemos ou não.

O livro da Annie conta uma história; o máximo que podemos fazer é aceitá-la. O desconforto causado é bom e a função da arte é exatamente esta: despertar os olhos do coração e fazer a gente parar, pensar, refletir, transformar. Como o próprio Lindenberg comentou, poucas pessoas na propaganda atual têm talento e coragem para quebrar regras (no passado tínhamos artistas do quilate de Picasso, Van Gogh, Gauguin, mas e hoje? - será por isto que temos tão poucos pensadores?).

De certa forma, tb tem um pc a ver com o que foi dito ontem à noite na v. Olímpia sobre perdas e ganhos.

Nossa, que viagem... Deixa eu voltar para a Terra (de vez em qdo me perco em devaneios). ET... phone... home... (rs).

Bjs, fui!

KT

Um Natal de Esperança e Paz!

Pr. Adrien Bausells
12/12/06


O que faz o Natal tão especial?

1) Já estava nos planos de Deus (Is 9: 6)
2) É um presente de Deus para todos (Lc 2: 10)
3) É uma atitude do amor de Deus (Jo 3: 16)

Perdas e ganhos (Lya Luft – artigo Veja 10/12/06)

Ganhar (esforço para manter) às vezes pode aprisionar
Perder é necessário pq às vezes os novos ganhos advêm das perdas

Perdas:

1) Deus “perde” o Filho (Jo 3: 16)
2) Jesus “perde” a glória (Fp 2: 5-11)
3) Jesus “perde” Sua vida em favor de nós (Fp 2: 5-11)

Ganhos:

1) Deus ganha filhos (Jo 1: 11 e 12)
2) Recuperação da plenitude da vida (Jo 10: 10)

Lição de casa:

1) O que vc pode dar ao invés de ganhar?
2) Identifique o que vc precisa abrir mão (o grão precisa morrer para dar fruto)
3) Tenha coragem de investir tempo e intimidade num relacionamento com Deus

(Resumo elaborado por KT - sujeito a falhas)

December 11, 2006

Quem ama é livre

Pedro, você me ama?
Jesus Cristo

Quando somos expostos aos nossos erros podemos negá-los, afirmá-los como responsabilidade de outros ou assimilá-los.

Quem tem a consciência desenvolvida para perceber a importância do bem maior na existência, quem crê que seus atos afetam diretamente outras pessoas e se importa com isso, há de naturalmente lidar com seus erros através da assimilação. Estes são os que assumem seus erros, envergonham-se pelo mal causado e desejam ardentemente uma maneira de recuperar o que se perdeu.

Uma vez que o mal não pode ser remediado, a tendência destes que assumem sua responsabilidade é a fuga, baseada num profundo sentimento de indignidade e inadequação, como se a partir daquele momento a vida não pudesse ser a mesma por causa do mal causado. Invariavelmente as partes ofendidas enfatizam o mal sofrido e mantêm os ofensores sob este sentimento de indignidade, como se os tivessem presos pela impossibilidade de reparação do mal.

Com Jesus é e foi diferente, porque o que foi é uma amostra de como nos trata sempre e de como espera que sejamos e que nos tratemos uns aos outros hoje. Ele foi abandonado, negado, traído. Pedro havia dito que morreria por Ele, mas na hora da Cruz fugiu negando-o. Aplicando na prática a oração que faz na cruz, Jesus de fato perdoa os seus amigos que não sabem o que fazem. Ele vê além do ato e sabe que o amigo não quis fazer-lhe o mal, apenas não sabia como evitar. Isso se dá entre amigos, quando nossos erros têm justificativa apenas em nossa incompetência existencial, jamais em nosso desejo de fazer o mal.

É pra casos assim que precisamos orar e entregar o amigo que nos fere conscientes de que ele foi desastroso, mas não mal intencionado. E é pra casos assim que devemos acreditar do mesmo modo sobre nós, assumindo nosso erro, mas assumindo também que não era nossa intenção.

Então podemos olhar pro futuro, conscientes de que Jesus que conhece nosso interior nos encontra nas praias desta viagem e nos chama novamente a viver tudo o que somos, porque nossos erros do passado fazem e fizeram mal a nós e a outros, mas não têm o poder de nos tornar indignos, uma vez que fomos e somos alvos diretos do amor incondicional de Jesus Cristo. E nossa dignidade não será retomada quando fizermos algo notório e especial em compensação aos males causados, nossa dignidade está no fato de que o amamos, se o amamos é porque Ele nos ama antes, durante e depois.

Por isso que Jesus pergunta a Pedro, aquilo que Ele sabia, mas que queria que Pedro entendesse. Se eu amo o meu Senhor, posso erguer minha cabeça, prosseguir na caminhada, repleto de uma dignidade que Ele colocou sobre mim e que nada nesta vida pode tirar.

© 2006 Alexandre Robles

Fonte: http://www.atual.info/

December 08, 2006

O outro filho pródigo

O OUTRO FILHO PRÓDIGO
- Élder Jeffrey R. Holland

Nenhum de nós é menos amado ou menos querido por Deus do que outros. Testifico que Ele ama a cada um de nós — com nossas inseguranças, nossas ansiedades e nossa auto-imagem.

Entre as mais memoráveis parábolas que o Salvador contou está a história de um irmão mais novo, tolo, que foi a seu pai e pediu-lhe a parte dos bens que lhe pertencia, e partiu de casa para desperdiçar sua herança numa "vida dissoluta".1 Seu dinheiro e seus amigos desapareceram mais rápido do que esperava — como sempre acontece — e chegou o terrível dia do ajuste de contas — como sempre chega. No caminho descendente dos acontecimentos, ele tornou-se um guardador de porcos, tão faminto, tão necessitado de sustento e dignidade, "desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam". Mas nem mesmo isso ele pode ter.

Então a escritura diz animadoramente "[tornou] em si". Determinou-se a voltar para casa, esperando ser aceito pelo menos como um servo na casa de seu pai. A imagem terna do ansioso e fiel pai desse rapaz, correndo até ele e cobrindo-o de beijos é uma das cenas mais comoventes de todas as escrituras sagradas. Ela diz a cada filho de Deus que, quer esteja no caminho ou não, Ele nos quer de volta sob a proteção de Seus braços.

Mas absortos nesta história do filho mais jovem, podemos perder de vista, se não tivermos cuidado, o registro de um filho mais velho, pois consta na primeira linha do relato do Salvador: "Um certo homem tinha dois filhos" — e poderia ter acrescentado — "ambos estavam perdidos e precisavam voltar para casa".

O filho mais moço voltou e foi colocado sobre seus ombros um manto e em seu dedo, um anel, quando entra em cena o filho mais velho. Ele tem sido zeloso, trabalhando fielmente no campo, e agora está voltando do trabalho. A linguagem de jornadas paralelas para casa, embora de diferentes lugares, é fundamental nessa história.

Quando se aproxima da casa, ele ouve o som de música e gargalhadas.

"E, chamando um dos servos (notem que ele tem servos), perguntou-lhe o que era aquilo.

E [o servo] lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.

Mas [o irmão mais velho] se indignou, e não queria entrar. E saindo o pai, instava com ele."

Vocês sabem a conversa que tiveram depois disso. Certamente para esse pai, a dor pela perda do filho obstinado que saiu de casa e chafurdou com os porcos é agora agravada pela percepção de que o irmão mais velho e mais sábio, o herói do irmão mais novo — como sempre são os irmãos mais velhos — está aborrecido porque seu irmão voltou para casa.

Não. Corrijo-me. Esse filho está zangado não por causa da volta do outro, mas porque seus pais estão felizes com isso. Sentindo-se rejeitado e talvez com um pouco mais do que autocomiseração, esse filho leal, particularmente leal, esquece por um momento que nunca teve que conhecer a imundície e o desespero, o medo ou a auto-rejeição. Ele esquece, por um momento, que cada bezerro da propriedade já é seu, assim como todas as roupas guardadas naquela casa e todos os anéis. Ele esquece por um momento que sua fidelidade é recompensada e sempre será.

Não, ele, que possui praticamente tudo e que tudo conseguiu com seu trabalho árduo, de maneira honrada, não tem a única coisa que pode torná-lo o completo homem do Senhor que quase é. Ele ainda precisa desenvolver a compaixão, a misericórdia, e a perspectiva de tolerância para perceber que quem está voltando não é seu rival. É seu irmão. Como seu pai suplicou-lhe que percebesse, ele é aquele que estava morto, e reviveu. É aquele que tinha se perdido, e fora agora achado.

Certamente esse irmão mais jovem fora um prisioneiro — um prisioneiro do pecado e da estupidez — vivendo num antro. Mas o irmão mais velho vive confinado também. Ele foi, até agora, incapaz de libertar-se da própria prisão. Ele é assombrado pelo monstro roxo da inveja. 2 Ele se sente subestimado por seu pai e despojado dos direitos e privilégios por seu irmão, quando esse não é o caso. Ele é vítima de um insulto fictício. Como tal, ele se compara a Tântalo, da mitologia grega, que tem a água até o queixo, mas continua morrendo de sede. Alguém que até agora presumivelmente tinha estado feliz com sua vida e contente com sua sorte, subitamente sente-se muito infeliz simplesmente porque outra pessoa teve um pouco de sorte também.

Quem é esse que sussurra tão sutilmente em nossos ouvidos que um presente dado a alguém diminui, de alguma forma, as bênçãos que recebemos? Quem faz-nos sentir que se Deus está sorrindo para alguém, Ele então deve estar certamente nos ignorando? Vocês e eu sabemos quem faz isso — é o pai de todas as mentiras. 3 É Lúcifer, nosso inimigo comum, que desde o início dos tempos, tem dito sempre e a todos: "Dá-me a tua honra."4

Diz-se que a inveja é o único pecado que ninguém confessa prontamente, mas é o provérbio dinamarquês que sugere quão disseminada pode ser essa tendência: "Se a inveja fosse uma febre, o mundo todo estaria doente." O pároco dos Contos de Canterbury, de Chaucer, lamenta esse mal porque é de longo alcance — indigna-se com tudo, inclusive toda virtude e talento, e pode ser ofendido por tudo, inclusive toda bondade e alegria. 5 Quando os outros parecem crescer à nossa vista, pensamos que por isso estamos menores. Assim, infelizmente, agimos de maneira menos digna.

Como isso acontece, principalmente quando desejamos tanto que não aconteça? Acho que pelo menos uma das razões para isso é que a cada dia vemos tentações de um tipo ou de outro que nos dizem que o que temos não é o suficiente. Alguém ou algo está sempre nos dizendo que precisamos ser mais bonitos ou mais ricos, mais aplaudidos ou mais admirados do que somos. É-nos dito que não temos propriedades suficientes nem vamos a lugares muito divertidos. Somos bombardeados com a mensagem de que fomos pesados na balança das coisas do mundo, e foi determinado que estamos com falta das coisas que o mundo considera serem importantes. 6 Certos dias são como se tivéssemos trancafiados em um cubículo do grande e espaçoso edifício, onde a única coisa que passa na televisão é uma novela infindável chamada "Vãs Imaginações".7

Contudo, Deus não age dessa forma. O pai nessa história não causa sofrimento a seus filhos. Ele não os compara impiedosamente com os filhos de seus vizinhos. Ele não os compara entre si. Seus gestos de compaixão com um deles não significam negar seu amor ao outro. Ele é divinamente generoso com ambos os filhos. Ele estende a caridade aos dois. Acredito que Deus aja conosco da mesma forma que minha querida esposa, Pat, age com a minha voz quando canto. Ela é uma exímia musicista, algo como um gênio musical, mas eu não consigo capturar uma nota musical nem com papel mata-mosca. Ainda assim sei que ela me ama de um jeito especial quando tento cantar. Sei disso porque vejo em seus olhos. São os olhos do amor.

Um observador escreveu certa vez: "Num mundo que compara freqüentemente as pessoas, classificando-as como mais ou menos inteligentes, mais ou menos atraentes, mais ou menos bem-sucedidas, não é fácil realmente acreditar em um amor [divino] que não faça o mesmo. Quando vejo alguém sendo elogiado", diz ele, "é difícil não pensar em mim mesmo como menos digno de honras; quando leio sobre a bondade e amabilidade de outras pessoas, é difícil não imaginar se eu mesmo não sou tão bondoso e amável como elas; e quando vejo troféus, recompensas e prêmios serem concedidos a pessoas especiais, não posso deixar de me perguntar por que aquilo não aconteceu comigo." 8 Se não resistirmos, poderemos ver como essa tendência enganosa do mundo irá finalmente nos mostrar uma visão terrível e degradante de Deus e uma visão terrível de nós mesmos. A maior parte dos mandamentos "não deverás" tem o propósito de impedir que machuquemos outras pessoas, mas estou convencido que o mandamento de não cobiçar tem o propósito de evitar que machuquemos a nós mesmos.

Como podemos superar tal tendência tão comum em quase todos nós? Porque podemos fazer alguma coisa como esses dois filhos fizeram, e começar a trilhar nosso caminho de volta ao Pai. Devemos fazê-lo com tanta diligência e humildade quanto nos for possível. Ao longo desse percurso, podemos contar nossas muitas bênçãos e podemos aplaudir as conquistas dos outros. Melhor ainda, podemos servir os outros, o mais refinado exercício já prescrito para o coração. Mas, enfim, isso não será suficiente. Quando estamos perdidos podemos "tornar a nós mesmos", mas nem sempre estaremos aptos a "nos encontrar", e não podemos "salvar-nos" para toda a eternidade. Somente o Pai e Seu Filho Unigênito podem fazê-lo. A salvação está Neles apenas. Assim, oramos para que Eles nos ajudem, para que Eles "venham" encontrar-nos, abraçar-nos e levar-nos ao banquete que prepararam.

Eles assim farão! As escrituras estão repletas da promessa de que a graça de Deus é suficiente. 9 Esta é uma arena na qual ninguém precisa lutar ou competir. Néfi declara que o Senhor "ama o mundo" e concedeu livremente a salvação.

"Eis que ordenou o Senhor a alguém que não participasse de sua bondade?" pergunta ele. Não! "Todo [ser] (. . .) tem tanto privilégio quanto qualquer outro e [por sua vez] nenhum é excluído."

"Vinde a mim todos vós, extremos da Terra", clama Ele, e "comprai leite e mel sem dinheiro e sem preço". 10 Todo ser tem tanto privilégio quanto qualquer outro. Caminhem em paz; com confiança; sem medo e sem inveja. Estejam certos de que o Pai Celestial sempre lhes dará em abundância.

Ao fazermos isso, podemos ajudar outros, invocando bênçãos sobre eles assim como eles suplicam por nós. Podemos aplaudir cada talento e habilidade, a quem quer que seja dado, tornando assim a vida aqui mais semelhante à que teremos nos céus.

Será de grande ajuda nos lembrarmos sempre da forma como Paulo em poucas palavras determinou a prioridade das virtudes — "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor". 11 Ele nos lembra que somostodosdo corpo de Cristo, e quetodosos membros, sejam fortes ou frágeis, devem ser amados e protegidos, essenciais e importantes. Sentimos a profundidade de seu clamor para que "não haja divisão no corpo, mas (. . .) tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam (. . .)". 12 Este conselho incomparável ajuda-nos a lembrar que a palavra "generosidade" tem o mesmo tipo de derivação que a palavra "genealogia", ambas vindo do latimgenus, que significa do mesmo nascimento ou gênero. 13 Será sempre mais fácil sermos generosos quando nos lembrarmos de que a pessoa que está sendo favorecida é verdadeiramente um de nós.

Irmãos e irmãs, testifico que nenhum de nós é menos amado ou menos querido por Deus do que outros. Testifico que Ele ama a cada um de nós — com nossas inseguranças, nossas ansiedades e nossa auto-imagem. Ele não nos julga por nossos talentos ou nossa aparência; Ele não nos julga por nossa profissão nem por nossas posses. Ele vibra com todo corredor, alertando-os que a corrida é contra o pecado, não uns contra os outros. Sei que se formos fiéis, seremos cobertos com um manto de justiça confeccionado sob medida paracada um, 14 "vestes (. . .) [branqueadas] no sangue do Cordeiro". 15 Que possamos incentivar uns aos outros em nosso empenho de conquistaresseprêmio é minha sincera oração em nome de Jesus Cristo. Amém.

NOTAS

1. Ver Lucas 15:11–32.
2. Ver William Shakespeare,O Mercador de Veneza,ato 3, cena 2, linha 110.
3. 2 Néfi 2:18.
4. Moisés 4:1.
5. Ver Geoffrey Chaucer,Contos de Canterbury,ed. Walter W. Skeat (1929), pp. 534–35.
6. Ver Daniel 5:27.
7. Ver 1 Néfi 12:18.
8. Henry J. M. Nouwen,The Return of the Prodigal Son(1992), p.103.
9. Ver Éter 12:26; Morôni 10:32; D&C 17:8.
10. Ver 2 Néfi 26:24–28; grifo do autor.
11. I Coríntios 13:13.
12. Ver I Coríntios 12:25–26.
13. Reconheço a contribuição de Henri Nouwen para que fizesse esse adendo etimológico.
14. Ver Isaías 61:10; 2 Néfi 4:33; 9:14.
15. Apocalipse 7:14.

Fonte: http://www.lds.org/conference/talk/display/0,5232,89-2-298-23,00.html

December 04, 2006

Do coração do Pai para o seu coração

Realmente gratuito
Realmente gratuito

"Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3: 24)

Por mais que o assunto seja batido, precisamos sempre estar relembrando que a salvação é gratuita, não vem de obras, não pode ser comprada, não custa dinheiro ou bens materiais. É pela graça, e é dada gratuitamente mediante um ato de fé.

Algumas pessoas têm feito de sua vida cristã terrena algo tão pesado, tão trabalhoso, tão sofrido e penoso, que tenho me perguntado se entenderam esta parte da mensagem. Quando dizemos que algo é gratuito, estamos afirmando que nada se paga, sob qualquer forma, nem antes nem depois.

Fico com a impressão de que alguns de nossos irmãos confundem gratuito com “financiado sem entrada” e depois de receberem a salvação, seguem suas vidas pagando as prestações. E é claro que alguns líderes eclesiásticos (infelizmente nem todos são tão bem esclarecidos ou bem intencionados) fazem com que este fardo se torne ainda mais pesado.

Em nome do Senhor Jesus: sinta-se livre. Sinta-se salvo com o escrito de sua dívida (como uma promissória ou cheque sem fundo) tendo sido resgatado por Jesus na cruz do Calvário.

Não adiantaria nada se libertar de uma vida de pecado e perdição e depois ter de pagar com a vida por isto. Nem Deus faria algo tão complicado.

Faça disso sua diretriz prática e busque no Senhor o alívio merecido àqueles que O aceitaram. Afinal, em Cristo somos livres, e não apenas endividados com outro credor.

O dízimo e outras ofertas para o Reino, o envolvimento em ministérios, os atos de bondade em favor do próximo não devem ser encarados como “pagamento” pela salvação provida por Cristo. Estas coisas devem ser encaradas como privilégio e gratidão a Deus pela salvação e por tantas outras bênçãos espirituais que nos são oferecidas gratuitamente.

Grande abraço,

Pastor Vandeir Dantas

Fonte: Primeira Igreja Batista em Jardim das Imbuias, boletim dominical 03/12/06.