November 28, 2010

O preço de um sorriso

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A beleza de um sorriso é dele ser espontâneo, não fingido.

Um sorriso bonito é dado de coração, e por isso mesmo não tem preço.

Mas nós, paulistanos, estamos com o coração tão endurecido, que nem um sorriso conseguimos oferecer.

E pior, quando alguém nos dá, somos incapazes de retribuir, mesmo sem custar nada.

Que mundo cão é este?! Aonde vamos parar?

November 25, 2010

Lidando com o não

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Em um mundo marcado pelo desequilíbrio de forças o direito de dizer “não” é inalienável. A liberdade de um ser humano e sua afirmação como indivíduo em uma sociedade somente são reais quando ele pode escolher negar o que lhe foi demandado. A impossibilidade é violência.

Liberdade pessoal é de fato poder dizer não a si mesmo. Não somente dizer não às demandas externas, sobretudo negar-se o impulso de fazer tudo o que vier à mente. Quem não pode dizer não pra si mesmo, é escravo.

A força de nossas convicções e propósitos é medida por nossa capacidade de continuar apesar dos “nãos” que recebemos pelo caminho. Quem desiste fácil, logo nas primeiras rejeições, quem mede o valor do que faz apenas pela aceitação de suas ideias, enfim, quem não prossegue mesmo depois de ouvir “não”, denuncia que seus propósitos não são tão fundamentados e que seu empreendimento não tem tanta importância, porque se o que eu quero fazer na vida, dura apenas até o primeiro “não”, é provável que não valha por uma vida toda.

O “não” é um gatilho de proteção, de liberdade e de prova das intenções.

© 2010 Alexandre Robles

Fonte: http://www.alexandrerobles.com.br/lidando-com-o-nao/

November 24, 2010

O que podemos aprender com a doença?

ATA
Às vezes só damos valor à saúde quando a perdemos.

E o que a doença pode nos ensinar:

  • Que o organismo não está funcionando bem;

  • Que é momento de avaliar e refletir o que precisa ser mudado (valorizar o que é importante e separar o essencial do supérfluo);

  • Que a vida é finita (só o amor é eterno).
  • November 23, 2010

    Pelo fruto se conhece a árvore

    Mateus 12: 33-35
    Vocês só poderão ter frutas boas se tiverem uma árvore boa. Mas, se tiverem uma árvore que não presta, vocês terão frutas que não prestam. Porque é pela qualidade das frutas que sabemos se uma árvore é boa ou não presta.

    Ninhada de cobras venenosas! Como é que vocês podem dizer coisas boas se são maus? Pois a boca fala do que o coração está cheio.

    A pessoa boa tira o bem do seu depósito de coisas boas, e a pessoa má tira o mal do seu depósito de coisas más.

    November 22, 2010

    Seja pouco, mas seja você!

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    Seja o Cisne
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    Talvez o maior desafio da vida moderna seja sermos nós mesmos em um mundo que insiste em modelar nosso jeito de ser. Querem que deixemos de ser como somos e passemos a ser o que os outros esperam que sejamos.

    Aliás, a própria palavra "pessoa" já é um convite para que você deixe de ser você. "Pessoa" vem de "persona", que significa "máscara". É isso mesmo: coloque a máscara e vá para o trabalho. Ou vá para a vida com a sua máscara. Talvez o sentido do elogio: "Fulano é uma boa pessoa", signifique na verdade: "Ele sabe usar muito bem a sua máscara social".

    Mas qual o preço de ser bem adaptado?

    O número de depressivos, alcoólatras e suicidas aumenta assustadoramente. Doenças de fundo psicológico como síndrome do pânico e síndrome do lazer não param de surgir. Dizer-se estressado virou lugar-comum nas conversas entre amigos e familiares. Esse é o preço. Mas pior que isso é a terrível sensação de inadequação que parece perseguir a maioria das pessoas. Aquele sentimento cristalino de que não estamos vivendo de acordo com a nossa vocação.

    E qual o grande modelo da sociedade moderna?

    Querer ser o que a maioria finge que é. Querer viver fazendo o que a maioria faz. É essa a cruel angústia do nosso tempo: o medo de ser ultrapassado em uma corrida que define quem é melhor, baseada em parâmetros que, no final da pista, não levam as pessoas a serem felizes.

    Quanta gente nós não conhecemos, que vive correndo atrás de metas sem conseguir olhar para dentro da sua alma e se perguntar onde exatamente deseja chegar ao final da corrida?

    A maior parte das terapias prega que as pessoas não olham para dentro de si com medo de encontrar a sua sombra. Porém, na verdade, elas não olham para dentro de si por medo de encontrar sua beleza e sua luz. O que assusta é o receio de se deparar com a sua alegria de viver, e ser forçado a deixar para trás um trabalho sem alegria. Mas sejamos francos: para quê manter um trabalho sem alegria? Só para atender às aspirações da sociedade?

    Basta voltar os olhos para o passado para ver as represálias sofridas por quem ousou sair dos trilhos, e, mais que isso, despertou nas pessoas o desejo de serem elas mesmas. Veja o que aconteceu a John Lennon, Abraham Lincoln, Martin Luther King, Isaac Rabin. É muito perigoso não ser adaptado!

    Essa mesma sociedade que nos engessa com suas regras de conduta, luta intensamente para fazer da educação um processo de produção em massa.

    Porque as pessoas que vivem como máquinas não questionam a própria sociedade.

    A maioria das nossas escolas trabalha para formar estudantes capazes de passar no vestibular. São poucos os educadores que se perguntam se estão formando pessoas para assumirem a sua vocação e a sua forma de ser.

    As escolas de música ensinam com os mesmos métodos as mesmas músicas. Quase todas querem formar covers de Mozart ou covers dos Beatles. É raro um professor com voz dissonante que diga para seus alunos: "Aqui você vai aprender idéias, para liberar o músico que existe dentro de você".

    Os MBA's tão na moda, na sua maioria, usam os mesmos livros, dão as mesmas aulas, com o objetivo não explicitado de formar covers do Jack Welch ou do Bill Gates. O que poucos sabem é que nenhum dos dois fez MBA. Bill Gates, muito ao contrário disso, abandonou a idolatrada Harvard para criar uma empresa na garagem, que se transformou na poderosa Microsoft. Os MBA's são importantes para que o aluno aprenda alguns instrumentos de administração. Mas alguém tem de dizer ao estudante: "Utilize essas ferramentas para implementar suas idéias, para ser intensamente você".

    Quantos casos de genialidade que foram excluídos das escolas porque estavam além do que o sistema de educação poderia suportar?

    Conta-se que um professor de Albert Einstein chamou seu pai para dizer que o filho nunca daria para nada, porque não conseguia se adaptar. Os Beatles foram recusados pela gravadora Decca. O livro "Fernão Capelo Gaivota" foi recusado por 13 editoras. Caetano Veloso foi vaiado quando apareceu com a sua música "Alegria, Alegria". O projeto da Disney World foi recusado por 67 bancos. Os gerentes diziam que a idéia de cobrar um único ingresso na entrada do parque não daria lucros.

    O genial Steven Spielberg foi expulso de duas escolas de cinema antes de começar a fazer seus filmes, provavelmente porque não se encaixava nos padrões comportamentais e técnicos que a escola exigia que ele seguisse. Só há pouco tempo é que ele ganhou um título de "honoris causa" de uma faculdade de cinema. E recebeu o título pela mesma razão que foi expulso anteriormente: ter assumido o risco de ser diferente, por não ceder à padronização que faz com que as pessoas pareçam seres saídos de linhas de montagem.

    A lista de pessoas que precisaram passar por cima da rejeição porque não se adaptavam ao esquema pré-existente é infinita. A sociedade nos catequiza para que sejamos mais uma peça na engrenagem e quem não se moldar para ocupar o espaço que lhe cabe será impiedosamente criticado.

    Os próprios departamentos de treinamento da maioria das empresas fazem isso. Não percebem que treinamento é coisa para cachorros, macacos, elefantes. Seres humanos não deveriam ser treinados, e sim estimulados a dar o melhor de si em tudo o que fazem. Resultado: a maioria das pessoas se sente o patinho feio e imagina que todo o mundo se sente o cisne. Triste ilusão: quase todo mundo se sente um patinho feio também.

    Ainda há tempo!

    Nunca é tarde para se descobrir único. Nunca é tarde para descobrir que não existe nem nunca existirá alguém igual a você. E ao invés de se tornar mais um patinho, escolha assumir sua condição inalienável de cisne.

    November 21, 2010

    O peixe apodrece pela cabeça

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    - Sérgio D´Ávilla

    Qdo estive na Universidade Stanford em 2004/2005, um dos cursos mais interessantes me foi dado por Philip Zimbardo, um dos pais da Teoria da Janela Quebrada (se você descuidar dos pequenos crimes, abre caminho para crimes maiores).

    “O peixe apodrece pela cabeça”, ele costumava dizer. Se a cadeia de comando é corrupta, os que ocupam cargos menos graduados se sentem 'liberados' para agir ao largo da lei – mesma tese que o veterano jornalista Seymour Hersh, da revista New Yorker defende no livro que não por acaso batizou de Cadeia de Comando.

    Fonte: Revista da Folha, 12/11/06, ano 15, edição 744, pág. 6.

    November 20, 2010

    Crise: risco ou oportunidade?

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    Chérie,
    este artigo é bem interessante e a aplicação é válida para tudo na vida (casamento, trabalho, amizade)...
    Por isto não se esqueça: quando o seu indicador apontar para o erro dos outros, haverão mais quatro dedos apontando para você mesmo.
    Bjs,
    KT
    VIVA O CONFLITO!

    O desencontro entre homem e mulher se deve em grande parte a um erro de perspectiva de ambas as partes. Em vez de canalizar suas energias para objetivos comuns, eles acabam se tornando inimigos por não reconhecer seus próprios erros e projetá-los no outro. Em seu livro “Minhas Razões, Tuas Razões”, Paulo Gaudêncio afirma que o homem é pior que um animal, pois “tropeça duas vezes no mesmo buraco. Qualquer bicho tropeça e conclui:“Epa, não vi o buraco”. O homem xinga a prefeitura. Não assume sua responsabilidade no tropeço e, por isto, continua tropeçando nos mesmos buracos”. Adão já começou colocando a culpa na mulher e, em última instância, no próprio Deus: “A mulher que me deste...”(Gênesis 3:2).

    Cada um acusa interiormente o outro de seus fracassos, mas não tem coragem de expressar suas mágoas então se limita a jogar a poeira debaixo do tapete. Assim, o amor é aos poucos substituído por distanciamento. Para evitar brigas, o casal vai acumulando ressentimentos que se transformam numa verdadeira muralha. Em vez de acusar o outro, precisamos resgatar a capacidade de ouvi-lo e compartilhar nossas emoções, medos, desejos, frustrações, mágoas.

    Não devemos fugir dos conflitos, mas encará-los como oportunidade de crescimento. Vivemos divididos por desejos ambivalentes que geram muita tensão. Somos desafiados diariamente a escolher entre a vida e a morte, o amor e o ódio, impulsos construtivos ou destrutivos. Qualquer escolha significa abrir mão de alguma coisa. Uma mulher pode desejar ao mesmo tempo ser protegida pelo marido e andar com as próprias pernas. O marido conscientemente promove a independência de sua esposa, mas no fundo anseia por mantê-la disponível para ele.

    Ser manso não é ser privado de agressividade, mas ser capaz de canalizá-la para fins positivos. A agressividade é necessária para nos proteger, para colocar limites e não nos deixar invadir. Se não, ficamos acuados, vamos murchando até implodir através da depressão ou explodir como um vulcão. O medo é um aliado, pois sinaliza os perigos. Em vez de negá-lo ou deixar-se paralisar por ele, é preferível enxergá-lo como um desafio. Através do amor incondicional de Deus podemos superar o medo do fracasso e da rejeição para correr riscos razoáveis. Qualquer que seja o desfecho, sabemos que podemos encontrar em Deus estímulo, compreensão e consolo.

    Em vez de jogar a culpa no outro, cada um precisa reconhecer a sua parte. Quando eu digo, por exemplo, que o outro não me deixa andar, é apenas um lado da situação. A verdade é sempre de mão dupla. O outro pode desejar manter a dependência, mas não vai conseguir se eu não permitir. Cada um precisa olhar dentro de si para ver o que o impede de andar. A única chance de aprimorar o relacionamento é cada um assumir a responsabilidade de mudar a si mesmo porque mudar o outro é impossível. Se eu mudar talvez o outro mude a partir da minha mudança como um móbile se mexe a partir do movimento que começa numa das peças. Esperar que o outro dê o primeiro passo pode me levar a desperdiçar uma vida inteira.

    Na hora do conflito, não se trata de saber quem tem razão, mas quem vai ter a sabedoria de dar o primeiro passo rumo à transformação. Em vez de me especializar no erro do outro, enxergar minhas próprias dificuldades permite mobilizar os meus recursos internos para superá-las. Só o trabalho com a parte de mim que me irrita no outro pode me libertar. Esta perspectiva é estimulante porque deixo de me enxergar como vítima passiva e condenada a um destino do qual não tenho controle. Se o problema está em mim, é possível resolvê-lo. O erro está em viver no outro o que não sabemos viver em nós mesmos, em nos projetar no outro em vez de nos espelhar nele para nos enxergar melhor.

    Só existe uma forma de ser inteiro: reconciliando-nos com a parte negada e reprimida que nos exaspera no outro. O caminho para conseguir ser inteiro é viável porque depende apenas da coragem de nos reconhecer, nos aceitar e nos assumir. Ouvir o outro, ponderar suas razões, levá-las em consideração em vez de querer ser o dono exclusivo da razão pode ser o diferencial entre o sucesso e o fracasso. Fracasso, não de um ou de outro, mas dos dois, pois num relacionamento ambos ganham ou perdem junto.

    Isabelle Ludovico da Silva, psicóloga clínica com especialização em Terapia Familiar Sistêmica.

    November 17, 2010

    O absurdo e a esperança

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    João 20.14-16

    Quando Jesus ressuscitou da morte, apareceu à Maria, mas ela não percebeu com quem estava falando, pensou que fosse uma pessoa qualquer, um qualquer capaz de roubar o corpo de Jesus.

    Seu desespero e angústia forçaram seus sentidos a perceberem somente o absurdo. Se Jesus morreu, qualquer coisa absurda é possível, estamos reféns da estupidez da história, da ironia do destino. Passamos a conviver com teorias de conspiração. Não há esperança.

    Então Jesus a chama pelo nome. Docemente chama sua atenção para a realidade. É Ele mesmo ali. Estava escondido atrás das suas sensações de abandono. Estava ali o tempo todo, mesmo quando ela não percebia.

    Experiência parecida vivemos quando ouvimos uma mensagem que resume a nossa vida. Parece que alguém, além de nós, e às vezes mais que nós, nos conhece muito bem.

    É Jesus falando o nosso nome. É Ele dizendo que sabe o que sentimos, que conhece nossa história, que está por perto, ao nosso lado. A ressurreição traz a esperança. Quando tudo o que vemos é absurdo, ainda não vimos tudo.

    ©2010 Alexandre Robles

    November 16, 2010

    Coisa de 1o mundo

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    Hoje senti o maior orgulho de ser brasileira: utilizei a linha experimental da Paulista x Pinheiros (seg/sex das 9h/15h).

    A estação Paulista faz co-ligação com a linha verde (embora vc tenha de descer 3 lances de escada rolante a partir da rua da Consolação).

    As catracas são completamente diferentes das convencionais, têm portas transparentes impedindo que ‘espertinhos’ pulem a borboleta e não paguem a passagem.

    Já na própria estação, o passageiro não tem mais acesso à linha de trem; o vagão precisa estar na estação para então a porta de segurança se abrir e depois a porta do metrô (impedindo a ação de suicidas potenciais, presumo).

    Ah, não existe divisória entre os vagões, vc pode circular à vontade (se conseguir) rs...

    Sim, porque o melhor de tudo é a duração da viagem: vc não leva 5 minutos para chegar da Paulista até a Teodoro Sampaio (it´s cool)!!!

    Tomara que inaugurem logo a linha amarela!!!

    November 12, 2010

    Sofisma, dialética, retórica e idiota (o que representam e significam)

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    O sofisma consiste em construir um raciocínio aparentemente válido, mas falso partindo de fatos verossímeis levando a conclusões absurdas. O sofisma nos dá a ilusão de verdade e parece seguir a lógica.

    Os sofistas gregos como Protágoras do século 5 AC eram professores itinerantes que recebiam honorários por seus ensinamentos. Naquela época o termo era considerado altamente respeitoso.

    Outros, porém depois dele, transformaram a educação em ferramenta para uso da política. Pensavam menos na procura da verdade (dialética) e mais na arte da persuasão (retórica). Foram então criticados por Platão e Aristóteles por fazerem esse jogo de palavras e receberem por isso, passando então o termo sofisma a receber o seu significado atual.

    Da mesma forma o termo idiota era usado nas cidades-estados da Grécia antiga para designar pessoas centradas em seus interesses pessoais, ignorando os interesses da comunidade. Como, na época, na democracia ateniense, negar-se a participar da vida pública era considerado desonroso, os idiotas eram mal vistos pela população.

    Com o tempo, o termo idiota passou do significado de egoísta para designar o indivíduo estúpido.

    November 09, 2010

    O que te move?

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    Poucas pessoas atentam para aquilo que não é aparente. Mas quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir infelizmente é taxado de bobo...

    Por isto a importância de fazer parte de uma comunidade para compartilhar os mesmos valores, onde um pode ser encorajado pelo outro.

    Numa sociedade que valoriza o resultado a qualquer preço, que ninguém dá passagem para ninguém... céus! É isto que eu quero para mim?

    A vida é feita de milhões de pessoas e milhões de gestos. Escolha ser gentil. Escolha o respeito. Todo mundo agradece.

    Porque quem cede o lugar, também chega na hora (rs).

    November 08, 2010

    Escolha ser ético

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    A ÉTICA E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HOJE

    Mario Sergio Cortella
    Professor-Titular do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP

    Ressaltemos desde o início: a ética é uma questão absolutamente humana! Só se pode falar em ética quando se fala em humano, porque a ética tem um pressuposto: a possibilidade de escolha. A ética pressupõe a possibilidade de decisão, ética pressupõe a possibilidade de opção.

    É impossível falar em ética sem falar em liberdade. Quem não é livre não pode, evidentemente, ser julgado do ponto de vista da ética. Outros animais, ao menos nos parâmetros que utilizamos, agem de forma instintiva, não deliberada, sem uma consciência intencional. Cuidado. Há quem diga: “Eu queria ser livre como um pássaro”; lamento profundamente, pois pássaros não são livres, pássaros não podem não voar, pássaros não podem escolher para onde voam, pássaros são pássaros. Se você quiser ser livre, você tem de ser livre como um humano. Pensemos em algo que pode parecer extremamente horroroso: como disse Jean-Paul Sartre, nós somos condenados a ser livres.

    Da liberdade, vêm as três grandes questões éticas que orientam (mas também atormentam, instigam, provocam e desafiam) as nossa escolhas: Quero? Devo? Posso? Retomemos o cerne: o exercício da ética pressupõe a noção de liberdade. Existe alguém sobre quem eu possa dizer que não tem ética? É possível falar que tal pessoa “não tem ética”? Não, é impossível. Você pode dizer que ele não tem uma ética como a tua, você pode dizer que ele tem uma ética com a qual você não concorda, mas é impossível dizer que alguém não tem ética, porque ética é exatamente o modo como ele compreende aquelas três grandes questões da vida: devo, posso, quero?

    Tem coisa que eu devo mas não quero, tem coisa que eu quero mas não posso, tem coisa que eu posso mas não devo. Nessas questões, vivem os chamados dilemas éticos; todas e todos, sem exceção, temos dilemas éticos, sempre, o tempo todo: devo, posso, quero? Tem a ver com fidelidade na sua relação de casamento, tem a ver com a sua postura como motorista no trânsito; quando você pensa duas vezes se atravessa um sinal vermelho ou não, se você ocupa uma vaga quando vê à distância que alguém está dando sinal de que ele vai querer entrar; quando você vai fazer a sua declaração de Imposto de Renda; quando você vai corrigir provas de um aluno ou de um orientando seu; quando você vai cochilar depois do almoço, imaginando que tem uma pia de louça que talvez seja lavada por outra pessoa, e como você sabe que ela lava mesmo, e que se você não fizer o outro faz, você tem a grande questão ética que é: devo, posso, quero? Por exemplo, quando se fala em bioética: podemos lidar com clonagem? Podemos, sim. Devemos? Não sei. Queremos? Sim. Clonagem terapêutica, reprodutiva? É uma escolha. Posso eu fazer um transplante intervivos? Posso. Devo, quero? Tem coisa que eu devo, mas não quero; aliás, a área de Saúde, de Ciência e Medicina, é recheada desses dilemas éticos. Tem muita coisa que você quer, mas não pode, muita coisa que você deve, mas não quer.

    Na pesquisa, já imaginou? Por que montamos comitês de pesquisa, por que a gente faz um curso sobre ética na pesquisa? Porque isso é complicado, e se fosse uma coisa simples, a gente não precisava fazer curso, não precisava estudar, não precisava se juntar. É complicadíssimo, porque estamos mexendo com coisas que têm a ver com a nossa capacidade de existir. Quando se pensa especialmente no campo da ética, a relação com a liberdade traz sempre o tema da decisão, da escolha. Por que estou dizendo isso? Porque não dá para admitir uma mera repetição do que disseram muitos dos generais responsáveis pelo holocausto e demais atrocidades emanadas do nazismo dos anos de 1940. Exceto um que assumiu a responsabilidade, todos usaram o mesmo argumento em relação à razão de terem feito o que fizeram. Qual foi? “Eu estava apenas cumprindo ordens”. “Estava apenas cumprindo ordens”, isso me exime da responsabilidade? Estava apenas obedecendo... Essa é uma questão séria, sabe por quê? Porque “estava apenas cumprindo ordens” implica a necessidade de pensarmos se a liberdade tem lugar ou não.

    Ética tem a ver com liberdade, conhecimento tem a ver com liberdade, porque conhecimento tem a ver com ética. Por isso, se há algo que também é fundamental quando se fala em ciência, ética na pesquisa e produção do conhecimento, é a noção de integridade. A integridade é o cuidado para se manter inteiro, completo, transparente, verdadeiro, sem máscaras cínicas ou fissuras. Nessa hora, um perigo se avizinha: assumir- se individual ou coletivamente uma certa “esquizofrenia ética”. Ela desponta quando as pessoas se colocam não como inteiras, mas repartidas em funções que pareceriam externas a elas. Exemplos? “Eu por mim não faria isso, mas, como eu sou o responsável, tenho de fazê-lo”. Ora, eu não sou eu e uma função, eu sou uma inteireza, eu não sou eu e um professor, eu e um pesquisador, eu e um diretor, eu e um Secretário, eu sou um inteiro. “Eu por mim não faria”, então eu não faço!

    Cautela! Coloca-se um estilhaçamento da integridade: “Eu, por mim, não lhe reprovaria, mas como eu sou seu professor, eu tenho que reprovar”; “Eu, por mim, não lhe mandaria embora, mas como eu sou seu chefe...”; “Eu, por mim, não lhe suspenderia, mas como eu sou seu superior...”; “Eu, por mim, não faria isso, mas como eu sou o contador...”; “Eu, por mim, não faria isso, mas como eu sou o responsável pelo laboratório...”.: “Eu por mim não faria”, então eu não faço; “Eu por mim não lhe reprovaria”, então não reprovo. De novo: eu não sou eu e uma função, eu não sou eu e um pesquisador, eu e um chefe do laboratório, eu e um diretor de instituto, eu e um Secretário... O esboroamento da integridade pessoal e coletiva é a incapacidade de garantir que a “casa” fique inteira, e para compreender melhor a idéia de “casa íntegra”, vale fazer um breve passeio pelas palavras. Talvez as pessoas que estudaram um pouco de etimologia se lembrem que a palavra ética vem pra nós do grego ethos, mas ethos, em grego, até o século VI a. C., significava morada do humano, no sentido de caráter ou modo de vida habitual, ou seja, o nosso lugar. Ethos é aquilo que nos abriga, aquilo que nos dá identidade, aquilo que nos torna o que somos, porque a sua casa é o modo como você é, onde está a sua marca. Mais tarde, esse termo para designar também o espaço físico foi substituído por oikos. Aliás, o conhecimento mais valorizado na sociedade grega era o que cuidava das regras da casa, para a gente poder viver bem e para deixar a casa em ordem. Como o vocábulo nomos significa “regra” ou “norma”, passou-se a ter a oikos nomos (a economia) como a principal ciência. No entanto, a noção original de ethos não se perdeu, pois os latinos a traduziram pela expressão more, ou mor, que acabou gerando pra nós também uma dupla concepção; uma delas é “morada”, e a outra, que vai ser usada em latim, é o lugar onde você morava, o seu habitus. Olha só, a expressão “o hábito faz o monge” não tem a ver com a roupa dele, habitus; habitus é exatamente onde nós vivemos, o nosso lugar, a nossa habitação.

    Quando se pensa em ética e produção do conhecimento hoje, a grande questão é: como está a nossa possibilidade de sustentar a nossa integridade; essa integridade, como se coloca? A integridade da vida individual e coletiva, a integridade daquilo que é mais importante, porque uma casa, ethos, tal como colocamos, é aquela que precisa ficar inteira, é aquela que precisa ser preservada. Como está a morada do humano? Essa morada do humano desabriga alguém? Alguém está fora da casa, alguém está sem comer dentro dessa casa? Alguém está sem proteção à sua saúde, alguém está sem lazer dentro dessa casa? Essa morada do humano é inclusiva ou é exclusiva? Essa morada do humano lida com a noção de qualidade em ciência, ou lida com a noção de privilégio? Cuidado. Duas coisas que se confundem muito em ciência são qualidade e privilégio; qualidade tem a ver com quantidade total, qualidade é uma noção social, qualidade social só é representada por quantidade total. Qualidade sem quantidade não é qualidade, é privilégio. São Paulo é uma cidade em que se come muito bem, é verdade; quem come, quem come o quê? Qualidade sem quantidade total não é qualidade, é privilégio. Todas as vezes em que se discute essa temática, aparece a noção de uma qualidade restrita, e qualidade restrita, reforcemos, é privilégio. Nesse sentido, a grande questão volta: será que, na morada do humano, alguém está desabrigado? Será que essa casa está inteira, ela está em ordem nessa condição? Nessa nossa casa, quando a gente fala em cuidado, é o mesmo que falar em saúde; aliás, quando digo: “eu te saúdo”, ou, “queria fazer aqui uma saudação”, etimologicamente é a mesma coisa. Saudar é procurar espalhar a possibilidade de cuidado, de atenção, de proteção. Nossa casa, que casa é essa? Há nela saúde? A ética é a morada do humano; como essa casa é protegida? Qual é o lugar da ciência dentro dela? Qual é o papel que ela desempenha? Qual é a nossa tarefa nisso, para pensar exatamente aquelas três questões: posso, devo, quero?

    É claro que essas questões e suas respostas não são absolutas, elas não são fechadas, elas são históricas, sociais e culturais. A mesma pergunta não seria feita do mesmo modo há vinte anos; a grande questão no nosso país há cento e cinqüenta anos, a grande questão ética há cento e cinqüenta anos era se eu podia açoitar um escravo e depois cuidar dele, ou só açoitá-lo e deixá-lo pra ser cuidado pelos outros; se eu poderia extrair o dente de alguém, se é mais recomendável para o dentista que ele faça a extração ou que ele tente o tratamento. Há alguns anos, algumas décadas, uma discussão de natureza ética era algo que nem passaria pela cabeça de um dentista. A pessoa chegava ao seu consultório e dizia: “Eu quero que o senhor arranque todos os meus dentes”. Ele respondia: “Tá bom”; hoje, você tem outra questão. O mesmo vale em relação ao uso de contraceptivos ou à legalização do aborto consentido, ou ainda sobre a separação entre princípios religiosos e conduta científica. Quando se pensa na manutenção da integridade, do devo, posso e quero, a grande questão, junto com essa tríade, é se estamos dirigindo, como critério último, a proteção da morada do humano, da morada coletiva do humano. Afinal de contas, não somos humanos e humanas individualmente, pois só o somos coletivamente. Fala-se muito em vivência, quando referimos a vida humana; no entanto, o mais correto seria sempre dizer convivência, pois ser humano é ser junto. Desse modo, a noção de ethos, a noção de morada do humano, oferece um critério para responder ao posso, devo e quero, que é: protejo eu a morada ou desprotejo? Incluo ou excluo? Vitimo ou cuido?

    Em um livro delicioso e de complexa leitura, Ética da Libertação, Enrique Dussel escreve sobre um percurso da história da ética dentro do mundo. Começa exatamente mostrando o lugar que a reflexão ética ocupa na história humana, mas conclui com algo que alguns até achariam curioso, hoje: ele não aceita a noção do termo exclusão, ou falar em excluídos, porque acha que a noção de excluído é muito pequena e insuficiente. Dussel, ao pensar a Ética e os processos sociais, econômicos e culturais, trabalha com a noção de vítimas: as vítimas do sistema, as vítimas da estrutura. Pensa ele que, quando se fala em excluído, dá-se a impressão de que é uma coisa um pouco marginal, lateral, enquanto vitimação é uma idéia mais robusta e incisiva. A principal virtude ética nos nossos tempos, para poder manter a integridade e cuidar da casa, da morada do humano, é a incapacidade de desistir, é evitar o apodrecimento da esperança, é evitar aquilo que padre Antonio Vieira apontou, no começou de um de seus Sermões, da seguinte maneira: “O peixe apodrece pela cabeça”. Já viu um peixe apodrecer? Tal como algumas pessoas, ele apodrece da cabeça para o resto do corpo... Um olhar sobre a ética em ciência e na pesquisa tem uma finalidade: manter a nossa vitalidade, manter a nossa vitalidade ética, mostrar que nós estamos preocupadas e preocupados, que a gente não se conforma com a objetividade tacanha das coisas, que a gente não acha que as coisas são como são e não podem ser de outro modo, que a gente não se rende ao que parece ser imbatível.

    Ser humano é ser capaz de dizer não, ser humano é ser capaz de recusar o que parece não ter alternativa, ser humano é ser capaz de afastar o que parece sem saída. Ser humano é ser capaz de dizer não, e só quem é capaz de dizer não pode dizer sim; aí está a nossa liberdade. Tem gente que diz assim: “Ah, a minha liberdade acaba quando começa a do outro”; cuidado, a minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Liberdade, como saúde, tem de ser um conceito coletivo, a minha liberdade não acaba quando começa a do outro, a minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Se algum humano não for livre, ninguém é livre, se algum homem ou mulher não for livre da falta de trabalho, ninguém é livre; se algum homem ou mulher não for livre da falta de socorro, de saúde, ninguém é livre; se alguma criança não for livre da falta de escola, ninguém é livre; a minha liberdade não acaba quando começa a do outro, minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Ser humano é ser junto, e é em relação a isso que vale pensarmos nossa capacidade de dizer não a tudo que vitima e sermos capazes de proteger o que eleva a Vida. O vínculo da Ética com a Produção do Conhecimento está relacionado à capacidade deste de cuidar daquela, isto é, manter a integridade digna da vida coletiva. Ética é a possibilidade de recusar a falência da liberdade, a ética é a nossa capacidade de recusar a idéia de que alguns cabem na nossa casa, outros não cabem; alguns comem, outros não comem; alguns têm graça, outros têm desgraça.

    A ética é o exercício do nosso modo de perceber como é que nós existimos coletivamente, e então pensar com seriedade naquilo que François Rabelais vaticinou: “Conheço muitos que não puderam, quando deviam, porque não quiseram, quando podiam”.

    Quero? Devo? Posso?

    Fonte: http://www.apropucsp.org.br/revista/r27_r15.htm