Crise: risco ou oportunidade?
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Chérie,
este artigo é bem interessante e a aplicação é válida para tudo na vida (casamento, trabalho, amizade)...
Por isto não se esqueça: quando o seu indicador apontar para o erro dos outros, haverão mais quatro dedos apontando para você mesmo.
Bjs,
KT
VIVA O CONFLITO!
O desencontro entre homem e mulher se deve em grande parte a um erro de perspectiva de ambas as partes. Em vez de canalizar suas energias para objetivos comuns, eles acabam se tornando inimigos por não reconhecer seus próprios erros e projetá-los no outro. Em seu livro “Minhas Razões, Tuas Razões”, Paulo Gaudêncio afirma que o homem é pior que um animal, pois “tropeça duas vezes no mesmo buraco. Qualquer bicho tropeça e conclui:“Epa, não vi o buraco”. O homem xinga a prefeitura. Não assume sua responsabilidade no tropeço e, por isto, continua tropeçando nos mesmos buracos”. Adão já começou colocando a culpa na mulher e, em última instância, no próprio Deus: “A mulher que me deste...”(Gênesis 3:2).
Cada um acusa interiormente o outro de seus fracassos, mas não tem coragem de expressar suas mágoas então se limita a jogar a poeira debaixo do tapete. Assim, o amor é aos poucos substituído por distanciamento. Para evitar brigas, o casal vai acumulando ressentimentos que se transformam numa verdadeira muralha. Em vez de acusar o outro, precisamos resgatar a capacidade de ouvi-lo e compartilhar nossas emoções, medos, desejos, frustrações, mágoas.
Não devemos fugir dos conflitos, mas encará-los como oportunidade de crescimento. Vivemos divididos por desejos ambivalentes que geram muita tensão. Somos desafiados diariamente a escolher entre a vida e a morte, o amor e o ódio, impulsos construtivos ou destrutivos. Qualquer escolha significa abrir mão de alguma coisa. Uma mulher pode desejar ao mesmo tempo ser protegida pelo marido e andar com as próprias pernas. O marido conscientemente promove a independência de sua esposa, mas no fundo anseia por mantê-la disponível para ele.
Ser manso não é ser privado de agressividade, mas ser capaz de canalizá-la para fins positivos. A agressividade é necessária para nos proteger, para colocar limites e não nos deixar invadir. Se não, ficamos acuados, vamos murchando até implodir através da depressão ou explodir como um vulcão. O medo é um aliado, pois sinaliza os perigos. Em vez de negá-lo ou deixar-se paralisar por ele, é preferível enxergá-lo como um desafio. Através do amor incondicional de Deus podemos superar o medo do fracasso e da rejeição para correr riscos razoáveis. Qualquer que seja o desfecho, sabemos que podemos encontrar em Deus estímulo, compreensão e consolo.
Em vez de jogar a culpa no outro, cada um precisa reconhecer a sua parte. Quando eu digo, por exemplo, que o outro não me deixa andar, é apenas um lado da situação. A verdade é sempre de mão dupla. O outro pode desejar manter a dependência, mas não vai conseguir se eu não permitir. Cada um precisa olhar dentro de si para ver o que o impede de andar. A única chance de aprimorar o relacionamento é cada um assumir a responsabilidade de mudar a si mesmo porque mudar o outro é impossível. Se eu mudar talvez o outro mude a partir da minha mudança como um móbile se mexe a partir do movimento que começa numa das peças. Esperar que o outro dê o primeiro passo pode me levar a desperdiçar uma vida inteira.
Na hora do conflito, não se trata de saber quem tem razão, mas quem vai ter a sabedoria de dar o primeiro passo rumo à transformação. Em vez de me especializar no erro do outro, enxergar minhas próprias dificuldades permite mobilizar os meus recursos internos para superá-las. Só o trabalho com a parte de mim que me irrita no outro pode me libertar. Esta perspectiva é estimulante porque deixo de me enxergar como vítima passiva e condenada a um destino do qual não tenho controle. Se o problema está em mim, é possível resolvê-lo. O erro está em viver no outro o que não sabemos viver em nós mesmos, em nos projetar no outro em vez de nos espelhar nele para nos enxergar melhor.
Só existe uma forma de ser inteiro: reconciliando-nos com a parte negada e reprimida que nos exaspera no outro. O caminho para conseguir ser inteiro é viável porque depende apenas da coragem de nos reconhecer, nos aceitar e nos assumir. Ouvir o outro, ponderar suas razões, levá-las em consideração em vez de querer ser o dono exclusivo da razão pode ser o diferencial entre o sucesso e o fracasso. Fracasso, não de um ou de outro, mas dos dois, pois num relacionamento ambos ganham ou perdem junto.
Isabelle Ludovico da Silva, psicóloga clínica com especialização em Terapia Familiar Sistêmica.
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