Liberdade autoral
O QUE A ARTE ENSINA DE MELHOR
Por que a arte existe desde sempre e continuará a existir? O que ela ensina de fundamental? A resposta pode ser encontrada na história de Édouard Manet, o inventor da modernidade pictural e um dos mais célebres participantes do Salon des Refusés, a mostra destinada a abrigar as obras recusadas pelo renomado Salon de Paris.
A primeira das recusas foi em 1859, quando ele se apresentou com O Bebedor de Absinto. Foi a primeira de uma série. Almoço na Relva (1863) e Olympia (1865) que figuram entre as suas telas mais conhecidas, só foram exibidas no salão dos recusados.
Para fazer Almoço na Relva, ele se inspirou em um quadro de Ticiano, que havia representado duas musas banhando-se perto de dois homens de casaca. Manet colocou três dos quatro personagens sentados na grama, dois homens vestidos e, entre eles, uma mulher inteiramente nua olhando o espectador, exibindo-se e convidando-o a olhá-la. Mais que isso, revelando o voyeurismo que o espectador deseja encobrir.
A tela foi objeto de zombaria, injúria e cólera. Tendo sido qualificada de obscena e indecente, foi retirada da exposição.
Manet nunca se tomou por um mestre, mas reuniu em torno de si pintores totalmente independentes e diversos uns dos outros - os futuros impressionistas. Também recebeu vários escritores no seu ateliê, como Baudelaire, Zola e Mallarmé, que o apoiaram com textos memoráveis.
Em 1870 o impressionismo já tinha se firmado e Manet continuava à margem dos circuitos oficiais. Sua Olympia só entrou no Museu de Luxemburgo graças à intervenção de Monet, que defendeu a obra do amigo depois de sua morte.
A história de Manet mostra que o verdadeiro artista renuncia ao reconhecimento imediato para fazer valer um ponto de vista novo. Não quer fazer o que os predecessores já fizeram, insiste na originalidade.
O que a arte ensina de melhor é isso: resistir aos imperativos do sucesso e valorizar a própria singularidade. Em outras palavras, ensina a coragem de diferir e a ter a paciência necessária para se impor, o que não é pouco.
- Betty Milan
Fonte: Veja, edição 225, ano 44, número 28, pág. 104.
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