April 30, 2014

Fé, emoções e imaginação

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- Ricardo Barbosa

Um dos escritores que mais influenciaram o cristianismo no século 20 não foi um teólogo, nem um pastor ou missionário, não ocupou grandes púlpitos, não viajou pelo mundo afora pregando em grandes catedrais. Foi um professor universitário de literatura, tímido e que, até a sua conversão, aos 31 anos, fora um ateu convicto. Clive Staples Lewis (1898–1963), conhecido como C. S. Lewis, tornou-se um dos maiores pensadores do cristianismo moderno.

Uma pesquisa realizada há alguns anos entre os leitores da revista americana “Christianity Today” mostrou que, depois da Bíblia, o livro que mais influenciou suas vidas foi “Cristianismo Puro e Simples”, de C. S. Lewis. Uma das razões para a influência contínua dos seus livros entre os cristãos, na minha opinião, é a forma como ele relaciona a razão com a emoção e a imaginação na experiência da fé.

Para Lewis, se a razão era o meio natural para se compreender a verdade, a “imaginação era o meio que dava o seu significado”. A melhor forma de dar significado a conceitos ou palavras é estabelecer uma imagem clara para nos conectar com a verdade. Ele acreditava que a aceitação das coisas como elas se apresentam ao nosso intelecto revela uma fraqueza e um empobrecimento da compreensão da realidade.

Esse tema é retratado em “Surpreendido pela Alegria”, no qual ele narra sua experiência de conversão e descreve o crescente conflito entre a razão e a imaginação em sua formação: “Assim, tal era o estado da minha vida imaginativa; em contraste com ela, erguia-se a vida do intelecto. Os dois hemisférios da minha mente formavam acutíssimo contraste. De um lado, o mar salpicado de ilhas da poesia e do mito; de outro, um ‘racionalismo’ volúvel e raso. Praticamente tudo o que eu amava, cria ser imaginário; praticamente tudo o que eu cria ser real, julgava desagradável e inexpressivo…”. De um lado, “o mar salpicado de ilhas da poesia e do mito”; de outro, “um racionalismo volúvel e raso”. Foi sua impressionante capacidade de reconhecer o valor de ambos que contribuiu para a riqueza de sua obra.

Em seu livro “Cristianismo Puro e Simples”, ao falar sobre a relação entre a fé e as emoções, ele aborda o tema criando o seguinte cenário: “Um homem tem provas concretas de que aquela moça bonita é uma mentirosa, não sabe guardar segredos e, portanto, é alguém em quem não se deve confiar. Entretanto, no momento em que se vê a sós com ela, sua mente perde a fé no conhecimento que possui e ele pensa: ‘Quem sabe desta vez ela seja diferente’, e mais uma vez faz papel de bobo com ela, contando-lhe segredos que deveria guardar para si. Seus sentidos e emoções destruíram-lhe a fé em algo que ele sabia ser verdadeiro”.

O problema da fé não está na razão como meio para se compreender a verdade, mas na forma como respondemos a essa verdade emocionalmente. Para que a fé seja consistente, ela precisa conectar a razão com as emoções, e isso se faz por meio da imaginação. Ele reconhece que “não é a razão que me faz perder a fé: pelo contrário, minha fé é baseada na razão… A batalha se dá entre a fé e a razão, de um lado, e as emoções e a imaginação, de outro”.

A fé como expressão lógica da razão atrofia a alma num cristianismo árido. Contudo, a fé como expressão de sentimentos e emoções envolve a alma numa espécie de balão, levado por qualquer vento, para qualquer lugar. O uso da imaginação integra a razão com os sentimentos e oferece à fé um significado real, para um mundo real.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/fe-emocoes-e-imaginacao

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=eLqTZ07ja7g
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April 29, 2014

Onde está você?

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Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor Deus que andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim. Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando: Onde está você?

Gênesis 3: 8 e 9

É impressionante como nos escondemos de Deus quando ouvimos Seus passos. 

A humanidade vem se escondendo de Deus, para todos os lugares que olhamos percebemos este distanciamento seja através de noticiários, filmes ou comportamento de pessoas próximas.

Nos escondemos de Deus a todo instante de nossas vidas.

Podemos nos esconder quando estamos nos relacionando com outras pessoas, que acabam tomando o lugar de Deus ou mesmo no relacionamento com nós mesmos permitindo que o orgulho tome o lugar de Deus.

Escondemos de Deus nas ruas, na família e até na Igreja, são inúmeras as tentativas de nos escondermos da Presença de Deus.

Onde você tem se escondido?

Vamos refletir!

Você acha que Deus não sabia onde Adão e Eva estavam?

Lembrando que Deus conhece cada espaço do universo, todas as galáxias existentes, da mesma forma que, conhece também uma pequena formiga de um grande formigueiro.

Deus sabe até quantos fios de cabelo há na sua cabeça (Lucas 12:7). Ele sabe da sua vulnerabilidade e fraquezas, bem como, dos pensamentos que passam em sua mente.

Como Deus não saberia que Adão e Eva estavam escondidos entre as árvores do paraíso?

A grande questão é saber - por que Deus pergunta a Adão: Onde está você?

A pergunta: “Onde está você,” vai bem mais fundo do que o espaço físico que o casal estava.
 
Logicamente, Deus sabia que eles estavam detrás das árvores, Deus não necessita perguntar onde nós estamos - Ele é onipresente, Ele vê tudo em todas as dimensões.

A pergunta que Deus faz é direcionada para o interior de Adão.

"Onde está você” é a coisa mais profunda que Deus pode nos perguntar. 

Onde está seu medo? Onde está sua ansiedade? Onde está sua hipocrisia? Onde está sua intolerância? Onde está sua solidão? Onde está sua culpa?

Quando Deus pergunta, onde nós estamos, não tem o objetivo de nos acusar e expor nossas falhas, podemos lembrar-nos da mulher pega em adultério (João 8:4-11).

Os judeus que trouxeram-na a Jesus falaram que a lei ordenava que a mulher fosse apedrejada até a morte e  Jesus respondeu que "aquele que não tivesse pecado atirasse a 1a. pedra".

Todos, do mais velho para o mais novo, largaram as pedras e foram embora. 

Jesus falou para a mulher, onde estão os que te acusaram? Vá e não peques mais.

Podemos entender a pergunta de Deus desta maneira: Onde você está que não está perto de Mim, da Minha presença, para que Eu possa fazê-lo crescer, tirar suas roupas internas, rasgar seu coração fazendo-o sangrar de dor, mas também curá-lo de suas fraquezas, ou pelo menos libertá-lo de suas amarras que o prende?

“Onde nós estamos?” Onde estamos em Deus, onde estamos como Igreja, onde está nossa sinceridade?

Precisamos tirar as roupas de falsidade, da religiosidade, para que possamos partir rumo a Deus.

Pode ser muito dolorido partir para encontrar com Deus na correria do dia.

A natureza de Deus choca com a nossa, e no 1o. momento, ficamos machucados, mas depois crescemos.

A presença de Deus primeiro fere depois cura, mas não devemos temer tirar nossas roupas internas (falsidade, hipocrisia e orgulho) e ficarmos nus perante Ele, pois misericórdia e amor fazem parte da Natureza do Pai.
 
Ele jamais nos deixará perdidos se O buscarmos.

A Sua natureza de amor choca com a nossa natureza ególatra, mas devemos continuar a buscar sua verdade a respeito de nós mesmos, pois só quem sabe realmente quem somos é Aquele que tem o manual de nossa criação e propósito: Deus.
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April 28, 2014

O que vem depois da graça?

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- Ricardo Barbosa

Cresci ouvindo amigos de formação dispensacionalista afirmando que o tempo da lei passou e que agora vivemos o tempo da graça. Eles diziam que o Antigo Testamento, com suas leis e mandamentos, dera lugar ao Novo Testamento, em que tudo se resume no amor de Deus, um amor sem exigências, que nos aceita como somos; que o Deus justo e temível da antiga dispensação dera lugar ao Jesus manso e misericordioso da nova dispensação. Um tipo de evolucionismo divino.

O dispensacionalismo foi muito criticado e combatido. No entanto, o que vemos hoje é o seu reconhecimento, não apenas pelos que creem nas diferentes dispensações na história da salvação, mas, sobretudo, pelos cristãos pós-modernos, que rejeitam mandamentos, leis ou qualquer chamado à obediência. O que importa é o amor. É preciso sentir-se amado para então amar. É preciso sentir-se aceito para então obedecer. O problema é que nunca se sentem suficientemente amados ou aceitos.

No livro “Uma Força Medonha”, C. S. Lewis descreve um diálogo entre Ranson e Jane sobre casamento. Ela achava difícil confiar no marido porque sentia que já não o amava mais. Ranson então lhe diz: “A senhora não deixou de obedecer por falta de amor, mas perdeu o amor porque nunca tentou obedecer”. A relação entre o amor e a obediência é intensa e vital. Jesus também afirmou: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama” (Jo 14.21).

A ruptura que muitos cristãos fazem entre o Antigo e o Novo Testamento, entre lei e graça, entre mandamento e amor, compromete tragicamente a formação do caráter cristão. O processo que envolve o crescimento e o amadurecimento cristão requer obediência consciente e diligente. Uma passagem bíblica que expressa bem isto está em 2 Pedro 1.4-7: “[...] ele nos deu as suas grandes e preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina e fugissem da corrupção que há no mundo [...]. Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude, à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio [...]”.

As promessas foram cumpridas em Cristo. O propósito de Deus para o ser humano foi revelado. O caminho do crescimento espiritual foi escancarado com a vida, morte e ressurreição de Cristo. Maturidade cristã é tornar-se participante da natureza divina, revelada em Cristo. É por causa disso que devemos abandonar a corrupção que existe no mundo e nos entregar, deliberadamente, às virtudes, ao domínio próprio, à perseverança e a tudo o que nos leva a ser semelhantes a Cristo.

É possível fazer isto sozinho? Não. Jesus afirmou: “[...] sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). Somente a graça de Deus pode realizar isto em nós. Porém, se eu nada fizer, nada será feito. É aqui que a obediência e o amor se encontram na experiência da fé. Os mandamentos de Deus não são uma negação de sua graça e amor, são sua afirmação. É a obediência aos mandamentos que nos leva a experimentar o amor divino.

Pedro afirma que precisamos nos empenhar para acrescentar à nossa fé a virtude, o domínio próprio, a perseverança, a piedade, a fraternidade e o amor. Sou eu que tenho de me empenhar. A responsabilidade é minha. Ninguém fará isto por mim. Consigo fazer isto por conta própria? Não. Preciso da graça de Deus. Contudo, se eu não me esforçar para fazer, nada será feito.

A formação do caráter cristão requer uma experiência intensa e poderosa com a graça de Deus. Deus, em Cristo, nos revelou seu amor, cumprindo por meio dele todas as promessas. Fomos salvos, regenerados e transportados do império das trevas para o seu reino de amor, justiça e paz. O caminho foi trilhado por ele, ele é o primogênito da nova criação. Sua vida consistiu em fazer a vontade do Pai e realizar a sua obra.

A formação do caráter cristão requer a mesma obediência aos mandamentos de Deus. Um cristão passivo e apático jamais experimentará o real significado da graça divina e, mais cedo do que imagina, perceberá a fragilidade de seu amor por Deus. Não deixamos de obedecer a Deus por falta de amor, deixamos de amá-lo por não obedecer-lhe.

Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-que-vem-depois-da-graca
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April 22, 2014

Chove dentro de mim

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  Mais uma vez, está chovendo.
  Eu fico aqui e ouço
  as gotas de chuva caírem
  no quintal
  como se chovesse dentro da alma.


- Jonas Mekas
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April 21, 2014

Peneira

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“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos.”

Lucas 22:31-32

- Mario Fernandez

Em um determinando evento em que eu estava servindo, um homem comentou “nessa turma parece que todos têm histórias cabeludas para contar“. Confesso que, no momento, o comentário me soou antipático ou crítico, mas com graça e favor de Deus pude entendê-lo melhor. Ele estava comentando sobre o fato de todos nós termos sido duramente provados na vida, com perdas, dores, decepções, doenças, etc. Uma vida em novidade vai ser peneirada.

O que significa peneirar? Por que Satanás vai querer peneirar um discípulo? Soa aos meus ouvidos como algo doloroso, forçado. Peneirar, tecnicamente falando, é colocar alguma coisa à prova através de uma medida previamente definida mas não creio que isso seja fisicamente falando. Com base na intercessão que Jesus afirmou ter feito (que a fé não desfalecesse) deve ser algo de alma, algo relacionado à fé. Se assim for, poderia ser algo parecido com o que aconteceu no dia da crucificação, tendo Pedro sido provado ao dizerem que ele era seguidor de Jesus. Tem uma canção (já ficando antiga) que começa dizendo “cada vez que a minha fé é provada, Tu me dás a chance de crescer um pouco mais”. Isso para mim é peneira, como as “histórias cabeludas”.

Pensando por esta linha, tudo que potencialmente pode abalar a nossa fé pode ser encarado como peneiramento de Satanás: decepção com a liderança, enfermidade, crise financeira, falta de reconhecimento no ministério, traição, problemas amorosos, falsas amizades, desemprego, humilhação, fracassos – é uma lista interminável. Tudo isso causa feridas de alma, tira nosso foco, deixa-nos com o vigor comprometido e consequentemente nossa fé pode ser abalada. É natural, mas talvez seja justamente este o problema, pois devemos aprender a andar no sobrenatural, deixando o natural para trás. Ainda que nossa carne clame por um palavrão, devemos louvar. Ainda que nosso ego implore por uma “briguinha” devemos amar. Isso, meu querido leitor, é passar na peneira ileso.
Será que somente Jesus poderia ter intercedido por Pedro? Naquele momento e para aquela situação eu creio que sim, mas devemos admitir que hoje todos nós somos peneirados de alguma forma. Eu, pelo menos, me sinto frequentemente peneirado. MAS tenho pessoas que intercedem por mim e isso faz TODA A DIFERENÇA.

Há poucas semanas orei com uma pessoa que pediu ajuda pois sua carreira profissional estava desafiando sua paciência. Estabelecemos aliança entre nós, os líderes, no sentido de cobrir as vidas uns dos outros em oração. Ainda estamos muito longe da perfeição, mas temos feito algo.

Nosso desafio, meu querido, é descobrir quem está sendo peneirado e em que área, para rogar para que sua fé não desfaleça, agindo assim como verdadeiros imitadores de Jesus Cristo.

“Senhor, me perdoa por perder o foco no momento em que sou peneirado. Ensina-me a viver andando por fé e não permitindo que as provas sejam peneiras que me reprovem, mas ao contrário, que me fortalecem.”

Fonte: http://www.ichtus.com.br/dev/2014/04/21/novidade-de-vida-peneira/?utm_medium=email&utm_source=devocional&utm_campaign=dev-1520

April 18, 2014

A guerra espiritual, a Palavra de Deus e o dilema de Jó

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- pr. Ricardo Barbosa

Quando me convidaram para falar sobre o tema da Palavra de Deus e a guerra espiritual, minha primeira reação foi a de não aceitar. Não é um tema que tenho me dedicado ao estudo com o mesmo interesse que outros irmãos vem fazendo, pelo menos, não na mesma direção com que muitos tem trabalhado.

Minha primeira tentativa foi a de apresentar uma nova proposta de leitura bíblica, uma vez que considero que a grande guerra espiritual que enfrentamos hoje se dá dentro da própria igreja, e tem a ver com o analfabetismo bíblico e teológico que tem levado muitos a naufragar nas trevas da ignorância, da superstição e do chamado neo-paganismo.

Os reformadores acreditavam que a grande contribuição da igreja no final da idade média era o de libertar os homens da cegueira da ignorância, e conduzi-los, pela Palavra de Deus, à luz libertadora do evangelho de Jesus Cristo. Enviei meu texto para o Tito Paredes que teve o trabalho de traduzi-lo e enviá-lo aos redatores. No entanto, depois de conversar com alguns amigos, reconheci que o que havia enviado não correspondia ao tema que me foi proposto. Retornei à mesa para pensar numa nova tentativa. Considerando o tempo e a abrangência do tema que hoje extrapola até mesmo os limites da Bíblia, concluí que deveria abordá-lo dentro de um campo mais específico.

Foi aí que me lembrei de Jó.

A história de Jó é uma história de guerra espiritual que se dá, não apenas no íntimo, mas que também tem seus reflexos na teologia, nas estruturas e nas relações. É uma guerra onde o objetivo principal não é o de medir forças e ver quem tem mais poder, mas de nos transformar a fim de compreendermos com maior clareza os propósitos eternos de Deus. Não será uma abordagem voltada para a dimensão missionária da igreja, mas sim para o processo transformador que a luta espiritual desencadeia. É neste contexto que pretendo refletir sobre guerra espiritual vivenciada por Jó.

A forma como ele a enfrentou e as mudanças que ela trouxe sobre sua vida, teologia e relação com Deus e o próximo, serão o objetivo desta pequena reflexão.

O cenário da guerra

Os primeiros dois capítulos do livro de Jó definem o campo e os personagens deste conflito. Temos de um lado Deus que nos é apresentado como o Senhor soberano sobre tudo o que acontece na terra e no céu. As ações dos anjos e dos homens não lhe escapam aos olhos. Walter Wink afirma que "a fé no Israel primitivo, na verdade não tinha lugar para Satanás. Somente Deus era o Senhor e tudo o que acontecia, para o bem ou para o mal, era atribuído a Deus. "Eu mato, e eu faço viver; eu firo, e eu saro; diz o Senhor" .

Para o Velho Testamento, Deus sempre era a causa primeira e última de tudo o que acontecia no céu e na terra; ele assume total responsabilidade sobre o bem e o mal. Este é um conceito importante que veremos na forma como Jó enfrenta seu conflito espiritual.

De outro lado, temos o próprio Satanás, que se apresenta diante de Deus junto com os "filhos de Deus". Ele nos é apresentado como um acusador, expressão usada no Novo Testamento para definir seu papel. Ele levanta suspeitas quanto às motivações de Jó em ser tão íntegro e reto diante de Deus. Suas dúvidas colocam sob suspeita o testemunho de Deus e, consequentemente, as relações entre Deus e o homem. Ele não tem um poder próprio e não age independentemente de Deus. Suas ações, Deus assume como sendo suas próprias ações quando afirma que Satanás o havia "incitado contra ele (Jó), para o consumir sem causa" (Jó 2:3b). Satanás também reconhece isto ao dizer a Deus "estende, porém, a tua mão, toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema contra ti na tua face!" (Jó 2:5). Embora a maldade tenha sido proposta e executada por Satanás, ele próprio reconhece que é a mão de Deus, em última análise, a responsável pelas aflições de Jó. Satanás não é um ser autônomo, independente, com liberdade plena para agir e fazer o que lhe interessa.

Por fim temos Jó, aquele sobre quem Satanás levanta suas suspeitas e que, aos olhos de Deus, é um homem íntegro, reto, temente a Deus e que se desvia do mal. O alvo das acusações de Satanás é o homem em sua relação com Deus. Ele não duvida do que Deus afirma sobre seu servo Jó. Sua dúvida repousa sobre as motivações, as intenções secretas da devoção de Jó.

Estas suspeitas não comprometem apenas as intenções de Jó mas, sobretudo, a aliança que Deus estabelece com seu povo. A tese levantada é a de que ninguém adora e serve a Deus por nada. Por detrás de toda a retidão e integridade, o homem esconde sua verdadeira motivação que é a recompensa que espera receber de Deus. Satanás duvida que alguém possa amar a Deus sem esperar alguma retribuição. Se as suspeitas de Satanás forem confirmadas, ele encontra a justificação para sua própria queda.

O centro da guerra espiritual se dá na arena do conflito relacional e afetivo e não no do poder.

A estratégia de Satanás

Deus aposta no poder do amor, do relacionamento que existe por causa do afeto. Este é o poder que ele dispõe para enfrentar a aposta que Satanás propõe. Por natureza, é um poder frágil, cuja força está em cativar o coração e obter deste uma resposta igualmente afetiva e amorosa.

A guerra espiritual, na perspectiva de Jó, não é uma disputa de poder entre duas forças que se digladiam buscando provar quem é maior e o mais forte. Antes, é um conflito entre Deus, que ama gratuitamente e incondicionalmente e o acusador que usa todos os recursos possíveis para provar a impossibilidade deste amor. O que está em jogo na aposta entre Deus e Satanás é a relação de Jó com seu Senhor. Numa outra cena semelhante, a da tentação no deserto, o que está em jogo ali é também a mesma coisa. Quando Satanás se aproxima de Jesus para tentá-lo, a primeira pergunta foi: "se és Filho de Deus, manda…" A dúvida lançada não era em relação ao poder de Jesus de transformar pedras em pães ou saltar do alto do templo e ordenar aos anjos que lhe socorressem. A dúvida era em relação à voz que ele acabara de ouvir no Jordão dizendo: "este é o meu Filho amado em quem tenho o meu prazer". A preocupação de Satanás não está no poder de Jesus para transformar pedras ou dar qualquer show que demonstre sua habilidade em manipular as forças cósmicas; sua preocupação está em levantar suspeitas, colocar sob dúvidas e, por fim, arruinar a relação única que o Filho tem com o Pai.

Durante toda a vida e missão de Jesus, sua luta espiritual foi preservar o vínculo amoroso, afetivo e obediente que ele tinha em relação ao Pai. Seu último suspiro, depois de toda a vergonha e humilhação do Calvário, foi mais uma vez afirmar seu amor ao Pai dizendo: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito". Foi esta relação de amor e afeto que venceu o pecado, que trouxe o triunfo da cruz. A cruz é o triunfo do amor sobre o poder. A opção pelo poder é uma opção maligna. É por isto que Jó recusa o caminho tão comum e popular da guerra espiritual moderna, o do dualismo, que vê o mundo dividido entre dois grandes poderes, duas grandes forças que disputam o domínio e o controle dos homens e da história.

Recentemente, foi publicado no Brasil um livro sobre a batalha espiritual que define a batalha espiritual com os seguintes dizeres: "Há no mundo dois reinos em conflito, duas forças que se chocam em combate pelo destino eterno dos seres humanos, dois poderes em confronto: O poder das trevas contra o poder da luz". Para o editor, o mundo está literalmente dividido entre duas grandes forças, uma do bem e outra do mal, e que precisamos urgentemente optar por um lado, sacar as armas espirituais e partir para defender o ameaçado reino do Senhor Jesus.

Jó não vê o mundo assim. Para ele, o Senhor reina. Logo após ter sido violentamente afligido pelas catástrofes provocadas por Satanás, ele não diz: "O Senhor deu e Satanás tomou, agora devo amarrar e reivindicar o que me foi tirado"; pelo contrário, sua afirmação revela que, mesmo tendo sido Satanás o autor de toda a desgraça que sobreveio a ele e sua família, ele continua colocando Deus no centro de todos os acontecimentos ao declarar: "o Senhor deu, o Senhor tomou, bendito seja o nome do Senhor". Quando abraçamos o dualismo, a guerra espiritual transforma-se numa disputa de poder; temos que provar quem é mais forte, mais competente. Entramos na arena criada pelo próprio Satanás e passamos a lutar com suas armas. Optamos pelo poder, pelo domínio, e caímos na grande armadilha que ele nos preparou. Jesus, quando provocado, nunca se valeu do seu poder para se auto afirmar perante Satanás ou mesmo o mundo. Um dos ladrões que fora crucificado com ele disse-lhe: "Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também", no entanto, Jesus não precisou dar nenhuma prova do seu poder para mostrar que era de fato o Cristo de Deus, porque o seu poder fora definido na voz do Jordão.

Um dos perigos que a guerra espiritual trás é o de induzir-nos a usar as mesmas armas de Satanás, as armas do poder. O mundo não está dividido entre duas grandes forças. Por isto, como afirma C. S. Lewis, não há uma guerra espiritual mas sim, uma rebelião interna e o rebelde encontra-se sob controle. O poder que venceu o pecado foi o poder do amor, da encarnação, da entrega, da doação. Esta é a arma da nossa guerra. O que Satanás queria era mostrar que ninguém ama a Deus por nada, que ninguém busca e serve a Deus simplesmente por que Deus é Deus; que a integridade e retidão de Jó nada mais eram do que artifícios para conquistar os favores de Deus.

É importante notar que as armas de Deus não são as mesmas de Satanás. Enquanto Satanás se vale da violência, destruição, sofrimento e dor, mostrando seu arsenal poderoso, Deus se vale da aliança feita pelo seu nome. Esta compreensão dualista da guerra espiritual que tomou conta da igreja evangélica no Brasil e na América Latina tem causado outras conseqüências previsíveis como o surgimento da teologia da prosperidade e a ambição pelo poder político. Ambos são reflexos de uma mesma visão espiritual que coloca os crentes dentro da arena criada Satanás onde ele mesmo é quem distribui as armas. Na luta pelo poder, seja ela qual for, Satanás será sempre o vencedor.

As armas de Deus são outras, seu poder transforma a vida e a alma humana, nos livra das ambições do poder, nos tornam mais submissos e obedientes a ele e sua Palavra, mais comprometidos com o seu reino e sua justiça.

As transformações em Jó

Como já vimos, o drama de Jó reflete uma aposta que Deus e Satanás fizeram em relação às motivações secretas que levam-no a ser íntegro e reto. Deus aposta na resposta do amor, e Satanás na da retribuição como expressão do egoísmo. O sofrimento imposto a Jó é para provar de que lado ele vai ficar. Os amigos entram em cena e logo mostram que sua teologia reforça o argumento de Satanás. Para eles a lógica é simples: Deus abençoa o justo e pune o pecador, portanto, se Jó esta sofrendo, é porque pecou. Sendo assim, ele deveria reconhecer seu pecado, confessá-lo, a fim de receber de volta o que lhe havia sido tirado.

Noutras palavras, Jó deveria buscar a Deus, não por causa de Deus, mas por causa dele mesmo. Ele era a razão da sua fé e o objeto do seu amor. Jó, no princípio embora adepto desta teologia da retribuição, rejeita este argumento e reafirma sua inocência. Na sua luta espiritual, ele tem uma opção em três: reconhecer que seus amigos têm razão e que Deus é justo, o que o levaria a negar sua inocência e a buscar a Deus por causa de si mesmo; reconhecer que seus amigos têm razão e que ele é inocente, o que o levaria a negar a Deus, e reconhecer que Deus é justo e que ele é inocente, o que o levaria a negar a teologia dos amigos.

Jó opta pela última. Esta opção o leva a experimentar uma profunda transformação na sua linguagem que Gustavo Gutiérrez chama de "Linguagem Profética e a Linguagem da contemplação". A linguagem profética nasce da constatação que Jó teve de que há outros inocentes como ele no mundo, que sofrem a opressão daqueles que ambicionam o poder. Ele começa a falar para os pobres e sofredores com a linguagem de quem conhece a dor do inocente. A linguagem da contemplação nasce da revelação de Deus como Senhor livre e soberano, cujos atos e justiça não são determinados pelo homem, mas pela gratuidade do seu amor. Ao reconhecer a grandeza e majestade de Deus, Jó se curva e declara que agora seus olhos o vêem. O propósito da guerra espiritual na experiência de Jó não foi determinada pela sua capacidade de vencer as catástrofes, nem mostrar que o poder de Deus é maior que o de Satanás. O propósito foi o de render seu coração, transformar sua teologia (uma vez que ele pensava como seus amigos) e viver um encontro com Deus que transformou sua linguagem sobre Deus.

A derrota de Satanás não foi medida pelo poder, mas pela rendição ao amor gratuito e incondicional de Deus. Penso que esta foi também a guerra espiritual vivida por Pedro quando o próprio Senhor o chamou e disse: "Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo. Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos" (Lc. 22:31, 32). A resposta de Jesus a Satanás que reclamou o desejo de peneirar a Pedro não foi aquela clássica de nossas batalhas espirituais: "tá amarrado". Pelo contrário, Jesus disse apenas que iria orar por ele para que sua fé não desfalecesse. Era necessário que Pedro passasse pela peneira. Sua índole era por demais impulsiva. Suas armas de guerra precisavam ser neutralizadas para que pudesse humildemente confessar seu amor ao Senhor. Tudo o que Jesus queria era uma declaração de amor, e não a arrogância do poder. Pedro foi também transformado pelo poder do amor de Deus e experimentou uma nova linguagem para falar de Deus.

A guerra espiritual e o silêncio de Deus

A luta espiritual vivida por Jó, Jesus e Pedro, tem um elemento comum que é o silêncio de Deus. Parece-me que em todas elas Deus permite aquilo que Jesus afirma acerca de Pedro: deixar que Satanás o peneire. O Silêncio de Deus não é o silêncio da indiferença, mas o da oração e da intercessão. A resposta final deste silêncio é a afirmação de que, apesar do sofrimento imposto por Satanás, nosso coração continua sendo eternamente de Deus. A afirmação do amor que temos pelo Senhor é a resposta final de toda a luta espiritual. Não se trata de uma disputa de poder, de demonstrar quem é mais poderoso e domina o universo; esta tentação Jesus venceu no deserto. Deus não está preocupado em demonstrar seu domínio e soberania porque ele é de fato o Senhor absoluto e soberano e isto nunca foi colocado em disputa; sua glória ele não divide com ninguém, nem mesmo com Satanás.

A razão da guerra espiritual é demonstrar a quem nosso coração pertence. Diante desta finalidade, Deus se faz silencioso na espera de nossa resposta. Em algumas situações bíblicas onde Satanás impõe o sofrimento como instrumento de desmascaramento de nossas motivações mais secretas, vemos que Deus guarda o silêncio esperando nossa resposta. Foi assim com Jó, com Pedro e com o próprio Senhor. Também foi assim com Abraão quando leva seu filho Isaque para o altar do sacrifício. O papel de "acusador dos irmãos" mostra que Satanás desempenha um lugar importante no plano eterno de Deus: o de denunciar nossas máscaras e hipocrisias. É por isto que Jó, em momento algum de sua guerra espiritual, trata com Satanás, mas com Deus. Deus é seu advogado e justificador, é ele quem defende sua causa e é dele que Jó espera receber a absolvição.

Conclusão

A percepção da guera espiritual como uma disputa pelo poder de domínio e controle do homem, do mundo e da história acabou levando a igreja evangélica a optar pelas mesmas armas de Satanás, e perder o sentido mais profundo e verdadeiro da luta espiritual que é o de nos transformar, transformar nossos conceitos, valores e teologias que tentam enquadrar Deus nos esquemas malignos do poder.

Nosso chamado é para subir ao Calvário, para sofrer todas as implicações do amor e do serviço, e resistir todas as investidas malignas que tentam nos afastar do caminho para Jerusalém. A vitória espiritual é a resposta do amor incondicional e desinteressado a Deus e ao seu reino.

Enquanto permanecermos íntegros nas nossas motivações e desejos; enquanto permanecermos no caminho do discipulado e da cruz; enquanto permanecermos obedientes e submissos ao Senhor e sua Palavra, permaneceremos do lado de quem é e sempre será o vencedor.

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/guerra.htm
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April 16, 2014

Um começo

April 06, 2014

Pontes ou cercas?

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Dois irmãos que moravam em fazendas vizinhas, separadas apenas por um riacho, entraram em conflito. Foi a 1a. grande desavença em toda uma vida de trabalho lado a lado.

Mas agora tudo havia mudado. O que começou com um pequeno mal entendido, finalmente explodiu numa troca de palavras ríspidas, seguidas por semanas de total silêncio.

Numa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem à sua porta.

"Estou procurando trabalho. Sou carpinteiro. Talvez você tenha algum serviço para mim."

"Sim, disse o fazendeiro. Claro! Vê aquela fazenda ali, além do riacho? É do meu vizinho. Na realidade do meu irmão mais novo. Nós brigamos e não posso mais suportá-lo. Vê aquela pilha de madeira ali no celeiro? Pois use para construir uma cerca bem alta."

"Acho que entendo a situação, disse o carpinteiro. Mostre-me onde estão a pá e os pregos."

O irmão mais velho entregou o material e foi para a cidade.

O homem ficou ali cortando, medindo, trabalhando o dia inteiro.

Quando o fazendeiro chegou, não acreditou no que viu: em vez de cerca, uma ponte foi construída ali, ligando as duas margens do riacho.

Era um belo trabalho, mas o fazendeiro ficou enfurecido e falou:

"Você foi atrevido construindo essa ponte depois de tudo que lhe contei."

Mas as surpresas não pararam aí. Ao olhar novamente para a ponte viu o seu irmão se aproximando de braços abertos.

Por um instante permaneceu imóvel do seu lado do rio.

O irmão mais novo então falou:

"Você realmente foi muito amigo construindo esta ponte mesmo depois do que eu lhe disse."

De repente, num só impulso, o irmão mais velho correu na direção do outro e abraçaram-se, chorando no meio da ponte.

O carpinteiro que fez o trabalho, começou a fechar a sua caixa de ferramentas.

"Espere, fique conosco! Tenho outros trabalhos para você."

 E o carpinteiro respondeu:

 "Eu adoraria, mas tenho outras pontes a construir..."

Já pensou como as coisas seriam mais fáceis se parássemos de construir cercas e muros e passássemos a construir pontes com nossos familiares, amigos, colegas do trabalho e principalmente nossos inimigos...

Muitas vezes desistimos de quem amamos por causa de magoas e mal entendidos.

Vamos deixar isso de lado, ninguém é perfeito, mas alguém tem de dar o 1o. passo.

E você?

É construtor de pontes ou de cercas?
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April 05, 2014

Olhos para ver

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Chérie, como está?

Eu estou voltando a ter coragem (e vergonha na cara) rsrsrs para correr atrás daquilo que acredito. Siiiiim, ninguém vai bater na nossa porta para entregar nossos sonhos - é preciso se engajar e fazer o que precisa ser feito (a 1a. pessoa que precisa acreditar na gente é a gente mesmo - porque Deus sempre botou fé, mesmo antes da gente nascer).

Por essas e outras, tive de passar na região da av. São João (mó medo) rsrsrs, mas sabe que foi até educativo?

Ao longo da avenida, vi um monte de lojas horrorosas com móveis velhos: desde dormitório capelinha rsrsrs até aqueles pesadões de madeira maciça trabalhada, um mais lindo que o outro.

E então me dei conta que a vida tem disso: é feita de coisas boas e não tão boas, todas misturadas junto, e a beleza está no olhar de quem olha - ou seja, na capacidade de identificar o que tem valor daquilo que não tem.

Por isto chérie, não se incomode se tudo parece bagunçado ou não fizer sentido na sua vida. Preocupe-se em pinçar as coisas bonitas que aparecem pela frente e tente identificar beleza onde aparentemente existe caos.

Deus enxerga você, pérola de grande valor, mesmo quando os outros não tem olhos para ver.

Importa o olhar dEle.

E se ´filho de peixe, peixinho é´ - abra bem os seus olhos para ver o mundo e você mesmo como Ele vê ; )!

Bjs com carinho,

KT

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=j2xdQu5WH_A
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April 04, 2014

O tempo: aion, kronos e kairós

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Os gregos usavam pelo menos três palavras para designar tempo: aion, kairós e kronos.

Aion indicava o tempo de longo prazo, na verdade, de longuíssimo prazo, que o apóstolo usa quando diz que Jesus é Senhor não apenas neste século, ou era, isto é, aion, como também no vindouro. Kairós indicava um bloco de tempo, uma ocasião adequada ou uma oportunidade: o tempo das “águas de março que fecham o verão”, a estação da sua fruta predileta, o período da adolescência ou a hora certa de pedir a moça em casamento. Kronos é o tempo medido pelo relógio: segundos, minutos e horas.

Enquanto atravessamos o palco da história, somos convocados a responder a cada uma destas dimensões do tempo. O aion reclama nossa entrega e rendição, a admissão de nossa finitude. Diante do aion, a duração de nossas vidas é comparada a um vapor, a uma pequenina flor que pela manhã floresce e ao final da tarde voa no vento. O aion exige humildade: agradecer a Deus a oportunidade de entrar na existência e encarar a aventura de viver um privilégio, como gota que se alegra em participar do mar.

O kairós exige atenção e prontidão, pois tal é a oportunidade como um cometa que passa em velocidade atroz: quem piscou, perdeu o espetáculo. Não há espaço para protelação, procrastinação e displicência. O kairós exige sabedoria. O apóstolo Paulo recomenda remir o tempo, isto é, aproveitar a oportunidade para que não se ouça “não adianta mais, agora é tarde, passou o tempo, deixamos escapar o kairós”.

Kronos é o mais cruel. Na mitologia grega, incitado pela mãe Gaia (a terra), castrou o pai Urano (o céu) e se tornou o primeiro rei dos deuses. Seu reinado foi de prosperidade, mas viveu ameaçado pela profecia de que seria vencido por um dos seus filhos. Para que não se cumprisse este vaticínio, devorava os filhos assim que nasciam. Até que Zeus foi salvo pela mãe Réia e, tendo destronado o pai, o expulsou do Olimpo e libertou todos os irmãos. Talvez por isso Kronos seja visto como o tempo devorador, cruel, que corre sem parar nos empurrando para perto e cada vez mais perto da morte. Kronos é tempo com medida, e cada pessoa terá a sua, no mistério da economia divina. O que não é inesgotável reclama cuidado, recursos finitos implicam boa administração. Cada um tem sua fatia de segundos, minutos e horas, e ninguém sabe ao certo sua porção, ninguém é capaz de saber quando será seu último dia, viverá seu último segundo, consumirá seu último fôlego. E como advertiu Jesus, ninguém pode acrescentar um passo sequer ao seu limite de existência. Mas pode abreviar. Kronos exige responsabilidade. O poeta bíblico recomenda a oração: pedir a Deus que ensine a contar os dias, isto é, ensine a viver, concedendo coração sábio para o bom uso da medida de kairós: usar bem, não desperdiçar, desfrutar.

Os anos se vão, o passado fica para trás. “O tempo voa”, dizemos, “como passou rápido esse ano, já é Natal”.

Gratidão, sabedoria e responsabilidade, eis os desafios para o aproveitamento do tempo.

À sombra da eternidade, caminhamos gratos pelo privilégio de existir e viver. Na dança das oportunidades, caminhamos com sabedoria para colher cada fruto em sua estação própria.

Enquanto corre o tempo, vivemos. Enquanto nos empurra para o fim de nossa medida, vivemos.

Vencemos a morte vivendo. É melhor morrer vivendo que viver morrendo.

Que hoje seja tempo de Deus.

Tempo com Deus. Tempo para Deus. E vida para todos nós.

Amém. 
© 2007 Ed René Kivitz 
Fonte: http://www.ibab.com.br/ed071223.html

April 03, 2014

Um novo olhar sobre Jó

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Chérie, como está?

Bom, comecei a fazer devocional em cima do livro de Jó e está sendo bem elucidativo.

Sabe quando você pensa que sabe tudo sobre uma coisa e de repente é surpreendido? Estou com a sensação de que não se trata da vida de Jó mas da minha própria vida!

O cara é o rei da cocada preta, todo perfeitinho, de repente, vem uma catástrofe e leva embora tudo o que tem. Mas o formidável é que ele não chuta o pau da barraca nem reclama, que loucura...

Aí vem os amigos (da onça) rsrsrs. Por 7 dias eles fazem o que precisa ser feito: ficam do lado e não falam absolutamente nada porque pressentem que a dor do amigo é grande demais. A presepada acontece quando eles resolvem abrir a boca, afff....

Lição No. 1: nunca diga coisas das quais não sabe porque você não viveu (só quem passou pelo perrengue sabe a dor que é).

A coisa positiva das barbaridades é que Jó reage e coloca para fora os sentimentos de revolta e tristeza (e olha que ele vomita feio).

Bom, estou apenas começando (se você quiser me acompanhar nesta jornada, é bem vindo - boralá).

O que de bate-pronto está claro é que nem sempre as coisas ruins que acontecem no mundo são da vontade de Deus (são no máximo permitidas), que a gente não sabe e talvez nunca saiba o por quê delas acontecerem, mas que podemos crescer e ampliar nossa fé por meio destas adversidades.

Dias atrás estava refletindo sobre 3 versículos, espia só:
  • Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento (Mt 22: 37);
  • Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8: 28);
  • Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. (1 Co 2: 9).
Você percebeu que o mistério que interliga tudo é o amor que temos para com Deus?

Claro, não temos a capacidade de amar perfeito como Ele (eu pelo menos tenho muito toddynho pela frente) e talvez  uma imagem que possa ilustrar isto seja a de um bebê que segura na blusa da mãe enquanto mama, achando que são suas mãozinhas pequenas que seguram seu corpo ao dela.

Chérie, tudo o que a gente fizer é insuficiente porque quem sustenta e segura com mãos fortes é Deus!

Por isto, caso você esteja com a sensação de ser a versão revisitada de Jó na atualidade, saiba que alguma coisa boa está acontecendo agora mesmo e que lá na frente (também você veja, talvez não) a sua percepção se amplie e você cresça com tudo isto que está vivendo (isto é fé).

Bom, fico por aqui.

Bjs com carinho,

KT
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April 02, 2014

Uma pausa sobre arte

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Chérie, como está?

Hoje aconteceu uma coisa interessante (na verdade todo dia acontece, mas nem sempre a gente está receptivo para prestar atenção) rsrsrs.

Fui almoçar fora e na volta, estava um trânsito de irritar os nervos. Antes de pirar no corpinho, parei no meio do caminho e fui ver a exposição do David Bowie no MIS.

Caaaaara, que coisa bem montada (nessas horas dá gosto de ser brasileiro) rsrsrs!

Claro, a mostra do Kubrick estava mais legal, mas a do Bowie rola áudio wi-fi que é acionado de acordo com as salas que você visita (sem falar nas inúmeras vertentes criativas que o artista abraça: música, cinema, figurino)... mó legal ; )!

Uma coisa que me atrai não é tanto a produção em si, mas o que move um artista, quais suas referências (a cada dia me dou conta que os artistas tem muito mais a dizer do que os filósofos, sociólogos, psicólogos e afins... Porque enquanto a maioria de críticos se restringe a analisar o tempo, as consequências, possíveis causas blábláblá... o artista sempre está à frente - claro, mas é preciso ter sensibilidade para captar o aqui e agora e no que está por vir).

Outra coisa que também gosto é sentir a exposição no meu ritmo (às vezes passo batido, às vezes me detenho num detalhe e fico um tempão a observar) e comparar com a métrica dos outros (nem sempre o que o grande público gosta é aquilo que atrai o meu olhar, mas gosto de sentir os outros gostam) rsrsrs.

Em tempos atuais, a interação com o público chega até fazer parte da mostra (sim, o objetivo da arte é tirar o espectador da zona de conforto e gerar assombro) heheh.

Nossa, falei demais (rsrsrs).

Bjs,

KT
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April 01, 2014

As coisas loucas, fracas, vis e desprezíveis

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Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligente.

Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?

Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.

Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.

Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.

Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados.

Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele.

Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: - Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.
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