Este ano vai ser diferente
- Rubem Amorese
Este vai ser o ano da contrição, do joelho dobrado e do coração quebrantado. Vai ser o ano em que buscarei me despir de todos os “poderes” que penso ter e dos recursos que amealhei na vida, como a educação, o dinheiro, a esperteza, a influência, os amigos poderosos, o prestígio, o cargo etc. Será o ano da mão estendida, que pede misericórdia, que se condói por si e pelos outros; da alma que chora e se assenta à mesa da comunhão para ser consolada.
Quero aprender quando admoestado. Quero um encontro sério com meus temores e fraquezas. Quero gente comum se metendo na minha vida; quero o último recurso do fraco: a oração.
Este ano serei menor. Se possível, o menor de todos.
Vou voltar para casa, mesmo que isso me custe o emprego ou me prejudique nos negócios. Vou me encontrar com minha esposa e ficar muito tempo com ela e com os meus filhos. Vou redescobrir a alegria de ouvir os meus pais, até que se cansem de falar. E se houver outros pais os ouvirei também.
Nesse tempo juntos, vamos renovar nossa aliança e retomar nossa amizade. Entre uma cambalhota e outra, vamos abrir a Palavra e lê-la juntos. Muito. Sobre ela, vamos falar de nós mesmos. De coisas íntimas e caras. De coisas sobre as quais já não falamos porque não interessam. Vamos nos confessar uns aos outros, abrindo-nos as vidas para que nelas entre luz do céu (eu pretendo chorar muito, já vou avisando). E vamos orar, contritos por não sermos o que nele poderíamos ser. Pediremos poder para matar esses gigantes.
Quero voltar para a minha igreja. Chega de proximidade de ano-luz. Já não quero essa armadura que vesti para tornar-me invulnerável ao ataque fraterno. Descobri que com ela fiz-me também impenetrável ao seu amor. Buscarei um retorno à amizade espiritual, com irmãos com quem possa abrir a minha alma. Sem medo de parecer menos homem por isso.
Quero tempo para aqueles que riam à toa comigo e se alegrem na singeleza de um corinho ou de uma boa pizza com guaraná (celebrados por nós como pão e vinho). Com eles, quero voltar a pisar em terra santa: tirar as sandálias ao encontrar-me com Deus no espaço de corações hospitaleiros, sinceros e amorosos.
Cantaremos juntos. Um cântico novo. Um canto de liberdade.
Senhor, este ano eu gostaria de ser “mais que vencedor”, um leão. Mesmo que, por olhos globalizados, eu seja visto como uma ovelha para o matadouro (Rm 8.36, 37).
Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/274/resolucoes-de-ano-novo